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A TEORIA PÓS-COLONIAL: UMA INTRODUÇÃO

Os estudos pós-coloniais são resultados de contextos históricos específicos. O pós-


colonialismo é um termo usado para indicar mudanças políticas, como a
independência das colônias europeias, sobretudo na África e na Ásia. Essas
metamorfoses acarretam a formação de novas identidades nacionais e culturais.
Dessa maneira, o termo pós-colonialismo enquadra aspectos históricos e teóricos.

Ao trabalharmos como o aspecto histórico destacamos o declínio do imperialismo


britânico e francês. Acerca dos aspectos históricos, estão relacionados a formação
dos novos movimentos sociais e culturais, nesse aspecto, os conceitos de
identidade, raça e etnicidade, linguagem e poder, estabelecidos e outsiders, são
recorrentes.

Muitas vezes o termo pós-colonialismo é usado para descrever a cultura


influenciada pelo processo imperial desde os primórdios da colonização até a
contemporaneidade. Corriqueiramente este termo é ignorado ou não entendido
como é descrito acima, porque certos grupos que saíram do colonialismo têm como
preocupação primária o nacionalismo cultural e econômico e não querem sacrificar
a especificidade de suas preocupações ao termo geral “pós-colonialismo” (Souza,
1986; Adam & Tiffin, 1991).

O prefixo “pós” na expressão pós-colonial não indica simplesmente um “depois” no


sentido cronológico; trata-se de uma operação de reconfiguração do campo
discursivo, no qual as relações hierárquicas ganham significado (Hall, 1997).
Colonial, por sua vez, vai além do colonialismo e alude a situações de opressão
diversas, definidas a partir de fronteiras de gênero, étnicas ou raciais.

Delimitar o campo teórico preciso no qual se inserem os estudos pós-coloniais não é


tarefa fácil. Talvez não seja nem mesmo uma tarefa possível, haja vista que esses
estudos buscam precisamente explorar as fronteiras, produzir, conforme quer
Bhabha (1994), uma reflexão para além da teoria. Não obstante, não é difícil
reconhecer a relação próxima entre os estudos pós-coloniais e pelo menos três
correntes ou escolas contemporâneas.

A primeira é o pós-estruturalismo e, sobretudo, os trabalhos de Jacques Derrida e


Michel Foucault, com quem os estudos pós-coloniais aprenderam a reconhecer o
caráter discursivo do social. A recepção do pós-estruturalismo, contudo, não é a
mesma que fazem autores como Lyotard e outros expoentes da corrente pós-
moderna, segunda referência importante para os estudos pós-coloniais que
destacamos. A rigor, a abertura para o pós-modernismo varia muito, conforme a
abordagem que se tome. Em última instância destacamos os Estudos Culturais,
sobretudo em sua versão britânica desenvolvida principalmente no Birmingham
University’s Centre for Contemporary Studies (Appiah, 1992; Gilroy, 1993, p. 107).

A crítica pós-colonialista atua como uma abordagem alternativa que busca


compreender o imperialismo e suas influências, como um fenômeno mundial e
localizado. Esta abordagem envolve: um constante questionamento sobre as
relações entre a cultura e o imperialismo para a compreensão da política e da
cultura na era da descolonização; o autoquestionamento do crítico, porque
questiona as estruturas do saber; engajamento do crítico, pois sua preocupação
deve girar em torno da criação de um contexto favorável aos marginalizados e aos
oprimidos, para a recuperação da história, da voz e para a abertura das discussões
acadêmicas para todos; uma desconfiança sobre a possível institucionalização da
disciplina e a apropriação da mesma pela crítica ocidental, neutralizando a sua
mensagem de resistência (Parry, 1987).

Uma obra que merece destaque no que diz respeito a trajetória dos pressupostos
filosóficos da crítica pós-colonial é White Mythologies: Writing History and the West
(1990), de Robert Young. A obra parte de certas linhas filosóficas de Hegel e Sartre,
além de reunir a contribuição de críticos como Spivak e Bhabha.

Há de se destacar, no campo do pós-estruturalismo e do desconstrucionismo, que


as obras Orientalismo (1978) e Cultura e imperialismo (1993), de Edward Said, In
Other Worlds (1987) e The Post-Colonial Critic (1990), de Gayatri Spivak, como
também Nation and Narration (1990), de Homi Bhabha, alteraram a configuração da
questão referente à crítica exclusivamente eurocêntrica, formulando teorias para a
análise do relacionamento imperialismo/cultura e mostrando os caminhos para uma
literatura e estudos literários pós-coloniais autônomos.

O clássico Orientalismo de Edward Said (1978) é considerado o “manifesto de


fundação” do pós-colonialismo (Conrad e Randeria, 2002, p. 22). No livro, Said dá
contornos a uma perspectiva que começara a ser delineada nos esforços pioneiros
desenvolvidos pelo psiquiatra de Martinica Frantz Fanon, quando buscou descrever
o mundo moderno visto pela perspectiva do negro e do colonizado. O orientalismo
de que fala Said caracteriza uma maneira particular de percepção da história
moderna e tem como ponto de partida o estabelecimento a priori de uma distinção
binária entre Ocidente e Oriente, na qual o Ocidente definirá o que se entende por
Oriente.

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