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Terra

Justiça
Cidadania

Ano V No 18 Ago/Set 2006

Política
Governo e movimentos sociais
aprimoram diálogo Pág
Pág.. 14

Proseando
Valter Bianchini fala sobre a importância
da Agricultura Familiar Pág
Pág.. 03

JOSÉ GOMES
DA SILVA
Há dez anos morria um homem para quem
mesmo a pior reforma agrária é capaz de
proporcionar casa, comida e trabalho
COMEÇO DE CONVERSA

EDITORIAL
Índice
Editorial ................................ 2
Proseando ............................ 3
Homenagem ao nosso patrono Regional ............................... 5
Cultura .................................. 8
José Gomes da Silva lutou até o fim pela Reforma Agrária. Na véspera de Ciência e Tecnologia .......... 9
sua morte, no dia 13 de fevereiro de 1996, participou de um debate organiza- Reportagem de Capa ....... 10
do pela Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania, em São Paulo. Nacional ............................. 13
Na época, ele comentou a situação do Pontal do Paranapanema: “O Pontal Política ............................... 14
surpreende o Brasil inteiro por mostrar que mesmo aqui, perto de três univer- Opinião ............................... 15
sidades, na área mais desenvolvida do país, onde se esperava que houvesse
uma agricultura patronal capitalista, nós temos problemas como estes.” Curtas ................................. 16
A Reforma Agrária, portanto, continuava uma questão ainda não supera- Agenda ............................... 18
da no Brasil, não só nos rincões, nas áreas ainda de fronteira aberta para a Destaque ............................ 19
agricultura, mas também em regiões desenvolvidas e populosas. Para José
Gomes, o Brasil havia perdido duas oportunidades de fazê-la: a primeira, quan-
do da criação do Estatuto da Terra; a segunda, no governo Sarney, quando foi
elaborado o primeiro Plano Nacional de Reforma Agrária. Ele foi o protago-
Fale Conosco
nista de ambos os processos, mas sempre esbarrou nas pressões contrárias à Tire suas dúvidas, envie comen-
tários, críticas e sugestões para:
democratização do acesso à terra. Em meados dos anos 90, acreditava estar
diante de outra grande oportunidade. Na época, a opinião pública, pela pri- Fundação Instituto de Terras
meira vez, era favorável à Reforma Agrária. Mas José Gomes não pôde conti- do Estado de São Paulo
nuar esta luta. Felizmente, porém, o seu exemplo continua incentivando cam- "José Gomes da Silva"
poneses, intelectuais, agentes públicos e cidadãos que acreditam na bandeira Av. Brigadeiro Luís Antônio, 554
Bela Vista CEP 01318-000
da Reforma Agrária. São Paulo - SP - Brasil
Naquele mesmo evento em que debateu a questão agrária em São Paulo, Fone/Fax: (11) 3293-3300
José Gomes comentou a vinculação do Itesp à Secretaria da Justiça e da E-mail: itesp@itesp.sp.gov.br
Defesa da Cidadania, o que considerava “uma novidade extremamente posi-
tiva”. É bom saber que ele achava que esta instituição, que adotaria o seu Ouvidoria
Fone: (11) 3293-3309
nome, estava no caminho certo. 0800-77 33 173
e-mail: ouvidoria@itesp.sp.gov.br
Tibério Leonardo Guitton Visite nossa página e leia, diariamen-
Assessor Especial do Governador
te, as principais notícias sobre a ques-
Respondendo pelo Expediente
tão agrária:
www.itesp.sp.gov.br

Itesp - Fundação Instituto de Terras do


Terra
Estado de São Paulo "José Gomes da Silva"
Justiça
Cidadania Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania

Fatos da Terra é a revista da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo "José Gomes da Silva" - Itesp, vinculada à
Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania.
Jornalista Responsável: Helton Lucinda Ribeiro - Mtb 27.002 Reportagens: Helton Lucinda Ribeiro, Regina Bonomo e
Ana Carolina Garcia Foto Capa: Arquivo Itesp Diagramação e Editoração Eletrônica: Renato Oliveira da Silva
Contracapa: Renato Oliveira da Silva
Conselho Editorial: Tibério Leonardo Guitton, Luiz Roberto de Paula, Jorge Miranda Ribeiro, Afonso Curitiba Amaral, Jurandir
Vieira Góis, Milton Ramos da Silva, Gabriel Veiga, Anselmo Gomiero, Maria Celina Figueiredo, Antônio Alonso, Marco Antônio
Silva e Helton Lucinda Ribeiro

Av. Brigadeiro Luís Antônio, 554 - 7º andar - Bela Vista - CEP 01318-000 - São Paulo - SP Telefone: (11) 3293-3393
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Tiragem: 3.000 exemplares Ctp, Impressão e Acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
É permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
PROSEANDO: Valter Bianchini

A força da
Agricultura Familiar
uas notícias importantes para a agricul-

D tura familiar marcaram os meses de julho


e agosto. Uma delas foi o anúncio de um
novo volume recorde de recursos para o Plano Sa-
fra 2006/2007: R$ 10 bilhões. Esse dinheiro estará
Divulgação SAF

disponível para agricultores por meio das linhas de


crédito do Pronaf (Programa Nacional de Fortale-
cimento da Agricultura Familiar).
A outra foi o sancionamento, no dia 24 de julho,
da Lei 11.326, que estabelece a Política Nacional de
Agricultura Familiar e Empreendimentos Familia-
res Rurais. A lei define os conceitos de agricultura
familiar e de agricultor familiar e prevê a descentra-
lização — com a participação de municípios, esta-
dos, governo federal e produtores rurais — no de-
senvolvimento e gestão dos programas agrários.
Para falar sobre esses temas, Fatos da Terra con-
vidou o engenheiro agrônomo Valter Bianchini, se-
cretário de Agricultura Familiar do Ministério do
Desenvolvimento Agrário. É a SAF a secretaria res-
ponsável pela coordenação de programas que vão
do acesso a crédito ao apoio à comercialização. Nesta
entrevista, Bianchini também falou sobre a impor-
tância da agricultura familiar e analisou as políticas
de assistência técnica voltadas a este segmento. En-
tre outras coisas, ela aposta na ampliação da parti-
cipação da agricultura familiar na economia em re-
lação aos dados do último Censo Agropecuário.

Existem vários indicadores que apontam para a importância nós tínhamos mais de quatro milhões de estabelecimen-
da agricultura familiar no Brasil hoje, como sua participação tos da agricultura familiar e uma participação do valor
no PIB, na geração de empregos, etc. Na sua opinião, qual é a bruto da produção agrícola em torno de 37%. Dados
tendência de longo prazo para a agricultura familiar? Aumen- atualizados para o PIB brasileiro e para o PIB do
tar essa participação na economia? agronegócio apontam que, hoje, a agricultura familiar res-
Sim. A tendência é que a agricultura familiar possa au- ponde por 10% do PIB geral e em torno de 1/3 do PIB do
mentar sua participação na economia. Os dados do Cen- agronegócio. São marcas importantes. Como o governo
so são muito antigos, ainda de 95/96, e apontavam que atual, nestes últimos quatro anos, fez aumentar muito o

F A T O S D A T E R R A 18 3
PROSEANDO: Valter Bianchini

apoio à agricultura familiar, seja nos atuais R$ 10 bilhões e já são utilizados, mas com a lei, agora tornam-se conso-
disponíveis pelo Pronaf, seja em políticas importantes lidados como o próprio Pronaf, o programa de
como a do reestabelecimento da estrutura de assistência cooperativismo, a agroindústria familiar, os programas de
técnica e extensão rural (ATER), no qual os frutos da pes- educação, entre outros. Agora, temos mais clara a respon-
quisa estão sendo colocados cada vez mais a um número sabilidade de fazer o que determina a lei e traçar uma po-
maior de agricultores familiares; seja em programas im- lítica de apoio à agricultura familiar. Neste sentido, esta
portantes como agroindústria familiar, biodiesel, turismo institucionalização consolida os atuais instrumentos e cria
rural, Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Segu- base para traçarmos outros instrumentos que dêem a esta
ro da Agricultura Familiar (Seaf). É um conjunto de ins- política da agricultura familiar um fortalecimento deste
trumentos que fortalecem uma política para a agricultura importante setor para o governo brasileiro.
familiar, gerando maior produção e maior agregação de va-
lor e renda. A continuidade desta política de fortalecimento
vem se expressando e vai se expressar ainda mais numa O Plano Safra 2006/2007 conta com R$ 10 bilhões, um novo
tendência de aumentar o percentual de participação da recorde. Segundo dados da SAF, o governo tem conseguido me-
agricultura familiar no PIB da agricultura e o PIB do agro- lhorar a relação entre o que é anunciado e o que é efetivamen-
negócio. Fortalecer a agricultura familiar significa indica- te acessado pelos produtores, chegando próximo a 80% atu-
dores de que o rural brasileiro está se fortalecendo em um almente. Qual a expectativa para este novo Plano Safra?
conjunto de atividades. No primeiro Plano Safra do governo do presidente Lula,
nós saímos de um índice de aproveitamento entre o anun-
ciado e o disponibilizado que era de 50% para mais de
O governo sancionou recentemente a Lei 11.326, ou Lei da Agri-
90% . Dos R$ 5,4 bilhões
cultura Familiar. Quais os anunciados na safra
impactos desta lei para a Dodora Teixeira
2003/2004, nós aplica-
formulação de políticas mos cerca de R$ 4,6 bi-
públicas para o setor? lhões. Depois, na safra
Primeiro, esta lei traça 2004/2005, dos R$ 7 bi-
critérios, hoje utilizados lhões anunciados, aplica-
no Pronaf e que conso- mos aproximadamente
lidam este segmento im- R$ 6,3 bilhões. Já na sa-
portante da agricultura, fra 2005/2006, o índice
que é agricultura famili- caiu para 80% , dos R$ 9
ar. Com esta lei, temos bilhões anunciados, va-
o reconhecimento desta mos fechar em aproxima-
atividade por meio de damente R$ 7,5 bilhões
critérios como o que es- (os dados ainda não fo-
tabelece em quatro ram fechados). Nesta
módulos fiscais o tama- atual safra (2006/2007),
nho da área, a predomi- dos R$ 10 bilhões anun-
nância da renda origina- ciados, temos a expecta-
da da agricultura, o limi- tiva de voltarmos a apli-
te de até dois emprega- car algo em torno de
dos permanentes, a ges- 90%, ou seja, pelo menos
tão de negócios, entre R$ 9 bilhões, o que é um
outros. Mas, mais im- número expressivo, bene-
portante que isso, é que ficiando um amplo con-
a lei estabelece diretri- junto de agricultores. Es-
zes, indicadores para que tamos lançando nesta sa-
se possa formular uma fra o Pronaf Comerciali-
política de apoio e for- zação, para apoiar instru-
talecimento da agricul- mentos melhores para
tura familiar. Muitos dos “A Lei da Agricultura Familiar traça critérios que
comercialização da safra.
instrumentos já existem consolidam este segmento”
Estamos fortalecendo a

4 ITESP
PROSEANDO: Valter Bianchini

ação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e, adota a nomenclatura ATER (Assistência Técnica e Extensão
para a próxima safra, deve vir uma política de equivalência Rural), o Incra trabalha com um programa denominado ATES
entre o valor financiado e um certo preço de referência para
(Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária). Por
um conjunto de produtos agrícolas. Todos estes instrumen-
que a diferenciação?
tos que o governo vem adotando fazem com que sejamos
Estamos fazendo um esforço grande para integrar estas duas
otimistas em um novo ciclo para esta safra 2006/2007.
formas de assistência técnica em uma única do Ministério
do Desenvolvimento Agrário. Este é o nosso objetivo:
Qual a sua avaliação sobre as políticas de assistência técnica e avançarmos para um programa nacional de assistência
extensão rural oferecidas à agricultura familiar no Brasil? técnica que procure articular não somente as ações de
A respeito das políticas de as- ATER da Secretaria de Agri-
sistência técnica e extensão cultura Familiar e das ATES
rural, estamos em um bom dos assentamentos, mas tam-
ano nesta safra 2006/2007, bém as ações de assistência
em que conseguimos ampliar técnica dos ministérios da
significativamente os recur- “É necessário um Agricultura e do Meio Am-
biente. É necessário um pro-
sos para a assistência técni-
ca. O governo federal apro-
programa que grama que construa uma ar-
vou um adicional de R$ 50
milhões para assistência téc-
construa uma ticulação da ATER oficial
pública e a não-pública e a
nica e extensão rural que, so- articulação da ATER ATER dos assentamentos,
mados aos R$ 62 milhões já otimizando as ações de assis-
assegurados no orçamento, oficial pública e não- tência técnica de forma inte-
grada. Hoje, o Incra possui
totalizarão R$ 112 milhões.
Estes valores estão sendo
pública e a ATER dos um programa voltado para os
aplicados em convênio com
as empresas públicas de assis-
assentamentos” assentamentos, mas a políti-
ca do MDA é cada vez mais
tência técnica (Emater) e as articular as duas formas de
organizações não-governa- assistência e buscar uma
mentais. O crescimento foi otimização com as ATER de
muito expressivo nestes últi- outros ministérios.
mos três anos, em que saímos de um recurso de cerca de
R$ 3 milhões . É um bom momento. Os estados têm fei-
to esforços por meio da abertura de concursos na grande Em parceria com a SAF, o Itesp tem realizado importantes pro-
maioria das Emater, além de um fortalecimento das gramas de capacitação, financiados com recursos do Pronaf.
ONGs e cooperativas que atuam com assistência técni- Já foram concluídos dois: um de capacitação em agroecologia
ca. Ampliou-se de uma maneira expressiva e melhorou a e outro de capacitação em comercialização; estamos com ou-
qualidade da assistência. Ao lado disso, tem crescido a tros dois em andamento, um voltado à organização das comu-
presença da extensão universitária e das escolas nidades, com ênfase em questões de gênero, e outro para
agrotécnicas. Há um conjunto de instrumentos fortale- capacitação em ATER dos nossos técnicos. Como o sr. avalia
cendo as nossas ações. as parcerias com os Estados em ações desse tipo? Seria pos-
Além disso, a Embrapa tem um orçamento importan- sível ampliá-las?
te, este ano totalizando mais de R$ 1 bilhão, para que, Para nós, uma entidade como o Itesp, que faz um trabalho
por meio de seus centros de pesquisa, nesta articula- importante junto aos assentamentos e com o público
ção com assistência técnica, possamos cada vez mais quilombola, tem um papel muito importante na nossa ação
levar os frutos das pesquisas da Embrapa e dos insti- de assistência técnica no Estado. A nossa parceria com o
tutos estaduais de pesquisa para os nossos agriculto- Itesp já vem de muito tempo e tem estabelecido impor-
res familiares. tantes acordos. Nossa intenção, ainda este ano, é avan-
çarmos com estas ações que estão em andamento e dar-
mos continuidade a este importante trabalho que o Itesp
Existem, atualmente, concepções diferentes de assistência téc- faz no campo da assistência técnica aos assentados e à
nica no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Enquanto a SAF própria política de agricultura familiar.

F A T O S D A T E R R A 18 5
REGIONAL

Mais 28 municípios
querem regularização fundiária
Fotos: Dodora Teixeira
arece que quando a gen-

“P te fica velho, a gente volta


a ser criança, porque co-
meça a sonhar.” O sonho de Maria
Conceição Queiroz, moradora da
Vila Aparecida, em Capão Bonito,
era ter um documento legítimo de
propriedade de sua casa. Por isso a
emoção ao receber o título de domí-
nio, fruto do Programa Minha Terra,
executado pelo Itesp em parceria Gumercindo de
Oliveira
com a prefeitura local. Santos,
Os resultados expressivos alcança- morador de
dos têm chamado a atenção da socie- Itapirapuã
dade. Em junho, foram assinados 28 Paulista
novos convênios para trabalhos que beneficiado
serão realizados até 2007. Ao todo, pelo Programa
Minha Terra
estão previstos os cadastros de 53.901
imóveis, parte dos quais poderá ser
titulada.
Criado em 2003 para sistematizar
os esforços de regularização fundiária ce de Desenvolvimento Humano). do de propriedade, o cidadão pode
do Governo do Estado, o Programa Entre os 28 novos conveniados, es- utilizar o imóvel como garantia para
Minha Terra atende prioritariamente tão Bom Sucesso de Itararé, que tem a obtenção de financiamentos. Não
aos municípios de menor IDH (Índi- IDH de 0,69, e Itapirapuã Paulista, só para a produção agrícola, no caso
que tem o menor índice do Estado dos posseiros rurais, como também
de São Paulo, 0,65. para algum investimento na área ur-
Maria Conceição Queiroz, de Também assinaram convênios bana, como a reforma da casa.
Capão Bonito: sonho realizado
Campina do Monte Alegre, Apiaí, “Isso também é desenvolvimento
Taquarivaí, Nova Campina, Buri, econômico. O pedreiro trabalha, o
Itararé, Iaras, Guapiara, Itaporanga, eletricista trabalha e o carpinteiro
Itu, Piedade, Araçariguama, Pilar do trabalha, e isso é geração de empre-
Sul, Chavantes, Presidente Epitácio, go”, comentou o prefeito Clóvis
Platina, Piquerobi, Ribeirão dos Ín- Vieira Mendes, de Registro, onde o
dios, Tarabai, Teodoro Sampaio, Itesp entregou 93 títulos no começo
Campos do Jordão, Jambeiro, Pa- do ano.
riquera-Açu, Registro e Sete Barras. Em 2003, o Programa Minha Ter-
Para esses municípios, eliminar a ra possibilitou a entrega de 1.014 tí-
indefinição dominial, ou seja, a in- tulos de domínio. No ano seguinte,
certeza em relação à propriedade da foram 4.633, um recorde! Em 2005,
terra, é um grande incentivo ao de- foram expedidos 2.212 documentos.
senvolvimento. A meta para este ano é a entrega de
De posse de um documento váli- outros 5 mil títulos.

6 ITESP
REGIONAL

Estudo fundiário ajuda a preservar


patrimônio ambiental
ois contratos foram firmados sa da Secretaria do Meio Ambiente, conservação do Estado de São Paulo”,

D entre o Itesp e o Instituto Flo-


restal (IF) para possibilitar o
aumento do controle e da preserva-
ção ambiental dos parques estaduais
para o Instituto Florestal, “conhecer
a malha fundiária do Parque consti-
tui etapa fundamental para aperfei-
çoar as ações de gestão e proteção do
declara a Assessoria de Imprensa.
Outro objetivo do Instituto Flo-
restal é utilizar o material cartográfico
que será elaborado pelo Itesp para es-
da Serra do Mar e de Jacupiranga. patrimônio ambiental dessa impor- tudar a possibilidade de mudanças nos
Para alcançar estes objetivos, serão tante unidade de conservação que limites do parque.
realizados levantamentos detalhados abrange cerca de 40% da área total “Os equipamentos que foram utili-
da malha fundiária dos dois parques. das unidades de conservação de pro- zados para fazer a delimitação do Par-
O Parque Estadual da Serra do teção integral do Estado ”. que Estadual de Jacupiranga não são
Mar, com 315 mil hectares, ocupa O contrato entre as duas entidades tão precisos quanto os que o Itesp utili-
boa parte do litoral paulista, numa para a execução dos trabalhos na Ser- za hoje em dia. Rever os limites da área
área que vai do município de Pedro ra do Mar foi assinado no dia 1º de fe- é importante até para sabermos o que é
de Toledo, no Vale do Ribeira, até vereiro, com o valor de R$ mesmo parque”, esclarece o diretor ad-
Cunha, no Vale do Paraíba. No total, 1.642.380,00. A previsão de conclu- junto de Recursos Fundiários do Itesp,
o território do parque abrange 22 são dos estudos é de 12 meses. Gabriel Veiga.
municípios. Ambos os contratos de Já no Parque Estadual de Jacupiran- Com os limites sendo revistos, áre-
trabalho firmados entre Itesp e Insti- ga, o prazo de conclusão é de 60 dias a as com pouca quantidade de mata e
tuto Florestal prevêem a aplicação partir da assinatura do contrato, que o- muito populosas poderão ser excluí-
dos laudos de identificação fundiária correu no dia 13 de julho, na sede do das da reserva. Outras, com pouca ou
dos ocupantes. Itesp, com o valor de R$ 88.412,00. nenhuma ocupação e maior quanti-
No parque da Serra do Mar, os tra- Estima-se que, dentro dos 150 mil dade de vegetação, poderão ser inclu-
balhos pretendem identificar todas as hectares do Parque Estadual de Jacupi- ídas, ajudando a preservar a mata e
áreas ocupadas, reconhecer as unida- ranga, existam cerca de 2 mil unidades possibilitando a regularização destas
des de conservação, verificar a porção ocupadas. “Esse contrato tem por objeto áreas.
que cada município possui dentro do a aplicação de laudos
parque e as porções particulares e as de identificação
pertencentes a órgãos públicos, como, fundiária em Parque Estadual
por exemplo, linhas de força e áreas áreas ocupa- de Jacupiranga
utilizadas pela Sabesp. das, que sub- Parque Estadual
A definição dessas questões permi- sidiarão as da Serra do Mar
tirá ao Instituto Florestal rever os li- tomadas
mites da unidade de conservação e de de-
definir limites de uso das áreas parti-
culares. Como muitas das ocupações
são anteriores à criação do parque, o
estudo da malha fundiária feito pelo
Itesp também servirá de subsídio para cisões visando à re-
o IF tomar conhecimento de ações de solução de conflitos de uso
desapropriação indireta que existam e e ocupação do solo, que põem
definir quem deve e quem não deve em risco a conservação do pa-
ser indenizado. trimônio ambiental abrangido
Segundo a Assessoria de Impren- pela segunda maior unidade de

F A T O S D A T E R R A 18 7
REGIONAL

Itesp faz diagnóstico


da aplicação de crédito no Pontal
o segundo semestre de 2004, A renda da grande maioria dos com a agência bancária”, as informa-

N o Itesp assumiu, em contrato


com o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra),
compromisso de fazer uma pesquisa
assentados varia de um a três salári-
os mínimos, segundo a pesquisa, e é
formada exclusivamente pelo traba-
lho desenvolvido no lote, seguida
ções foram divergentes: os assentados
consideram fácil o relacionamento
com os bancos, embora os créditos
não sejam liberados na época certa.
junto aos assentados para obter um pelos que somam essa renda a pen- Também consideram regular o trata-
diagnóstico mais preciso da aplica- sões e aposentadorias. mento recebido pelo banco e estão sa-
ção dos créditos destinados à refor- Quanto ao crédito propriamente, tisfeitos com o atendimento bancário.
ma agrária e dos entraves ao acesso a pesquisa revela que cerca de 90% Para aproveitar os resultados obti-
a esses recursos pelo agricultor as- dos assentados nunca tinham toma- dos, Rossi sugere que sejam feitas
sentado. O objetivo é aperfeiçoar as do crédito agrícola antes de torna- reuniões entre técnicos e assentados
atividades de assistência técnica e rem-se beneficiários. Esta constata- “para falar dos pontos negativos e
extensão rural (Ater) prestadas aos ção, alerta o relatório, aponta para a positivos da pesquisa e tentar melho-
assentados. necessidade de acompanhar e quali- rar o relacionamento entre ambos”.
A pesquisa contou com assessora- ficar melhor o agricultor assentado, pa- O diretor de Políticas de Desenvol-
mento do professor Luiz Antonio ra minimizar suas dificuldades quanto vimento do Itesp, Afonso Curitiba
Barone, sociólogo da Faculdade de à aplicação do crédito tomado. Amaral, é da mesma opinião. “Pre-
Ciências e Tecnologia da Universida- Outra constatação é quanto ao cisamos divulgá-la, pois tem um gran-
de do Estado de São Paulo (Unesp) escoamento da produção que, se- de potencial de discussões”, afirma
de Presidente Prudente e foi execu- gundo os assentados, ocorre de ma- Amaral. E conclui “esse trabalho
tada entre os meses de junho a se- neira inadequada; 1.751 pesquisados dará mais condição aos profissionais
tembro de 2005 por técnicos do Itesp, disseram arcar com os custos de en- da instituição para fazer um projeto
coordenados por Antonio Carlos trega do produto, outros 1.177 re- de crédito mais adequado e também
Rossi, responsável técnico do escri- passam sua produção a atravessado- dará um norte ao governo na elabo-
tório do Itesp de Presidente Bernar- res, refletindo a “necessidade de li- ração das políticas públicas voltadas
des. O trabalho resultou num exten- nhas de financiamento para facilitar aos assentados”.
so levantamento da aplicação dos a comercialização
créditos pelos assentados na região da produção”, con- Helton Lucinda Ribeiro
do Pontal do Paranapanema. Os clui o relatório.
questionários foram aplicados em Para os assenta-
60 assentamentos de Mirante do Pa- dos questionados, a
ranapanema, Teodoro Sampaio, assistência técnica
Euclides da Cunha e Sandovalina, prestada pelo Itesp é
totalizando 2.439 lotes. adequada, mas ocor-
Dentre os resultados obtidos, a re de maneira desi-
pesquisa revela, por exemplo, que o gual durante as fases
número de pessoas que trabalham no de produção, apon-
lote quase sempre é menor que três, tando deficiência na
com raros casos de cinco ou mais fase de compra de
pessoas. Quanto à residência, o nú- insumos e na comer-
mero de moradores está entre duas e cialização do produ-
Pesquisa apontou necessidade de linha de
cinco pessoas, registrando um só caso to final. crédito para facilitar escoamento da produção
de 13 pessoas vivendo num único lote. No quesito “trato
8 ITESP
CULTURA

oficinas
Projeto leva
culturais aos quilombolas
esde o início deste ano, a Secretaria da Cul- Em agosto, estas mesmas comunidades recebe-

D tura, em parceria com o Itesp e a Secretaria


da Justiça e da Defesa da Cidadania, vem
executando o Projeto Quilombos Vivos em comuni-
dades quilombolas em três regiões do Estado de
ram a oficina de Leitura, juntamente com 300 livros,
estante e computador, para criarem uma biblioteca,
que deverá ser administrada pelos próprios mem-
bros dos quilombos, num espaço comunitário.
São Paulo: Sudoeste, Vale do Ribeira e Litoral Norte. No Vale do Ribeira, foram as comunidades de
Estas regiões foram escolhidas por abrigarem comu- Cangume, Porto Velho, Pilões e Maria Rosa, todas
nidades remanescentes de quilombos já reconheci- de Iporanga, além de São Pedro e André Lopes, de
das pelo Estado. O projeto prevê um ciclo de ofici- Eldorado, que receberam a oficina de Leitura. No
nas culturais com te- curso, aprenderam a or-
mas da cultura africa- Helton Lucinda Ribeiro
ganizar uma biblioteca
na, teatro, biblioteca, comunitária, além de ve-
leitura e música. rem as várias formas de
Segundo Leandro comunicação. “O objeti-
da Silva Rosa, sociólo- vo desta capacitação é
go e coordenador do fazer com que o número
projeto junto à Secre- de leitores nas comuni-
taria da Cultura, serão dades aumente, pois as-
dados quatro módulos sim todos poderão ter
de cultura e cidadania uma outra visão de
aos quilombos. O pri- mundo diferente daque-
meiro foi sobre histó- la restrita à televisão”,
ria e cultura dos po- explica Washington
vos africanos, seguido Lopes Góes, do Núcleo
Oficina realizada na região de Sorocaba:
das oficinas de teatro. Cultural Força Ativa, res-
resgate da cultura e da auto-estima
Depois serão as bibli- ponsável pela
otecas e a importân- capacitação. Em setem-
cia da leitura, finalizando com música. Cerca de 300 bro estas mesmas comunidades receberão a Oficina
livros, uma estante e um computador estão sendo Modular, em que foi escolhida a música para o
distribuídos para cada uma das 21 comunidades re- aprendizado. Nesta próxima oficina os membros das
conhecidas. comunidades terão noções das manifestações cultu-
Em julho, as comunidades de Camburi, Caçando- rais e religiosas, como o Jongo e o Maracatu, além
ca e Fazenda da Caixa, todas de Ubatuba, recebe- de aprenderem a construir um atabaque.
ram a oficina de Cultura Africana, onde aprenderam No mês anterior, jovens destas comunidades do
a história do continente africano, o processo de co- Vale do Ribeira, Sudoeste e de Ubatuba fizeram a
lonização sofrido e o tráfico de escravos, responsá- oficina de Teatro com a companhia de teatro 7Cêni-
vel pela vinda forçada de negros ao país e, com co, dos atores Wolney de Assis e Fagner Pavan. Nas
eles, um pouco de sua cultura. O objetivo desta ofi- atividades, os alunos aprenderam expressão corpo-
cina é resgatar esta história e os seus costumes, ral, a trabalhar a voz e a criatividade usando sempre
musicalidade, dança e outras manifestações como temas a realidade das comunidades, suas his-
trazidas pelos negros escravizados que até hoje pre- tórias ou algo conflitante, como a possibilidade da
sentes, influenciando a cultura brasileira, e possibili- construção de uma barragem para a geração de
tar a permanência das tradições. energia elétrica, e o direito à terra onde vivem.

F A T O S D A T E R R A 18 9
CAPA

O fazendeiro que lutou


Ao longo de uma vida dedicada à democratização do acesso à terra, José Gomes da Silva elabor

uitos foram os camponeses trajetória intelectual e política que Não só devido à pressão dos grupos

M que dedicaram suas vidas à


causa da Reforma Agrária
Já raros são os casos de pessoas como
faria dele uma das maiores autorida-
des brasileiras no tema. Estudou a
fundo a questão agrária e conheceu
contrários à Reforma Agrária, mas
também com o endurecimento do re-
gime militar a partir do mandato do
José Gomes da Silva, um fazendeiro experiências em outros países, dentre general Emílio Garrastazu Médici
bem-sucedido que deixou uma marca as quais a da Itália o impressionou (1969-1974).
indelével na luta pela democratização profundamente. Nem por isso, um defensor sincero
do acesso à terra no Brasil. Logo após o golpe militar, em 1964, da Reforma Agrária se daria por ven-
José Gomes, falecido em 1996, le- José Gomes coordena a elaboração cido. “A coisa mais marcante no Zé
vou a bandeira da Reforma Agrária de uma proposta de reforma agrária Gomes, desde os primeiros contatos
(ele escrevia assim mesmo, com letras que é apresentada ao governo Cas- que tive com ele, na época em que
maiúsculas) aos mais diferentes go- tello Branco. Surpreendentemente, a ele escreveu o Estatuto da Terra, foi
vernos e projetos políticos, desde o proposta é aceita e a partir dela é ela- a sua persistência em busca da Re-
do general Castello Branco, em 1964, borada a Lei 4.504/64, o Estatuto da forma Agrária. Ele nunca desistiu”,
passando por José Sarney, até o Go- Terra, ainda em vigor. conta Roberto Arnt Sant´Ana, 67
verno Paralelo do PT em 1990 (ex- Um dos avanços introduzidos pelo anos, ex-superintendente do Incra e
periência de formulação de propostas Estatuto da Terra foi uma categori- ex-delegado do antigo Mirad (Minis-
alternativas para o país). zação do latifúndio que se dava não tério da Reforma Agrária e do De-
A ligação do engenheiro agrônomo só pelo critério da produtividade, senvolvimento) em São Paulo.
de Ribeirão Preto com a Reforma Agrá- mas também pela extensão. O limite
ria remonta ao governo Carvalho Pin- estabelecido era de 600 módulos ru- ABRA
to (1959-1963), em São Paulo. José rais. Além disso, o pagamento de in- A constatação de que a defesa da
Gomes, ao lado de Plínio de Arruda denizações nas desapropriações de Reforma Agrária não encontrava
Sampaio, participou do projeto de terras seria feito em título públicos. eco na esfera governamental levou
“Revisão Agrária”, que resultou nas Promulgada em novembro de 64, José Gomes a buscar o caminho da
primeiras experiências de assenta- no entanto, aquela lei estava fadada organização da sociedade civil. Ele
mentos rurais do Estado. a não sair do papel. próprio narra o episódio
A partir daí, inicia uma da criação da Associação
Brasileira de Reforma
Agrária em um artigo
publicado na revista da
entidade, em 1996, ano
de seu falecimento: “Foi
numa viagem de volta
de Araçatuba onde fora
assistir a inauguração
de um Centro de Trei-
namento para Traba-
lhadores Rurais, que
um grupo de dirigentes
sindicais e estudiosos
da questão agrária co-
meçou a especular so-
bre a necessidade de
contar com uma enti-
dade independente,

10 ITESP
u pela Reforma Agrária
aborou o Estatuto da Terra, o primeiro PNRA e criou o órgão antecessor do Itesp em São Paulo

desligada do governo, que atuasse taduais à Reforma Agrária, consoli- cação à causa da reforma agrária, José
como núcleo de pressão pela Refor- dada com a Lei 4.957/85, que esta- Gomes valorizava muito as pessoas e
ma Agrária. A idéia era manter a belece a base legal da política agrária se preocupava com os funcionários
chama acesa (procurando compen- paulista. dos órgãos que dirigiu. João Carlos
sar as frustrações produzidas pelas Corsini, analista de desenvolvimento
iniciativas oficiais) e abrir caminhos, 1o PNRA agrário do Itesp, recorda uma história
tentando explorar fissuras que a des- Em 1985, José Gomes é convida- que exemplifica essa preocupação.
favorável correlação de forças pudes- do a assumir a presidência do Incra Em agosto de 1983, um grupo de fun-
se apresentar.” no governo Sarney e coordena a ela- cionários voltava, em uma perua Kom-
Congregando militantes da Refor- boração do Plano Nacional de Refor- bi, da área onde estava sendo criado
ma Agrária, tanto do meio acadêmi- ma Agrária. O atual diretor adjunto o assentamento Pirituba. Estavam
co, como o atual ministro da Agricul- de Formação, Pesquisa e Promoção no veículo o então diretor do IAF,
tura Luís Carlos Guedes Pinto, quan- Institucional do Itesp, Jorge Miranda José Eli da Veiga, o procurador do Es-
to dos movimentos sociais e organi- Ribeiro, trabalhava na Diretoria de tado Juvenal Boller de Souza Filho, o
zações de trabalhadores, a ABRA, na Cadastro e Tributação do Incra na agrônomo Zeke Beze Jr., o motorista
avaliação feita por José Gomes em época, comandada por Carlos de Lo- Abílio e o próprio Corsini.
96, conseguiu manter a “chama ace- rena, também já falecido. Lorena, a- Próximo a Capão Bonito, houve
sa”. E mantém até hoje, com sua re- migo pessoal de José Gomes, foi ou- um acidente e a Kombi capotou. Fe-
vista, a primeira publicação especi- tro expoente da causa agrária e, sob lizmente, ninguém se feriu com gra-
alizada dedicada ao tema no Brasil. sua gestão, importantes mudanças vidade. Mesmo assim, José Gomes
foram implementadas no sistema de fez questão de visitar um por um dos
O embrião do Itesp cadastro de imóveis rurais. envolvidos no acidente.
Nos anos 70, José Gomes presta Esse período também foi acompanha- Quem trabalhou com ele o tem
consultoria a organizações interna- do por outro amigo de José Gomes: Ro- como referência muito forte, não só
cionais, como o BID (Banco Inter- berto Sant´Ana, integrante da equipe de profissional, mas também de ser
americano de Desenvolvimento) e criada para formular o PNRA. Sant´- humano. “Fui um felizardo em fazer
OEA (Organização dos Estados A- Ana conta que a proposta era eleger re- parte da equipe do José Gomes”, con-
mericanos). Essa experiência conso- giões prioritárias para a Reforma Agrá- ta Mário Antônio de Moraes Biral,
lida sua reputação como autoridade ria em cada Estado. A meta nacional 64 anos, hoje diretor da Ceasa de
na questão agrária. era assentar 1,4 milhão de famílias. Campinas. Os dois trabalharam jun-
Com o processo de redemocratiza- Mas, uma vez entregue o PNRA, o tos na CATI (Coordenadoria de As-
ção do Brasil nos anos 80, ele volta a governo decidiu que a região prioritá- sistência Técnica Integral) em 1968.
ocupar altos cargos governamentais, ria seria... o Brasil todo! “E quando a Na época, a instituição havia acaba-
como o de secretário de Agricultura prioridade é o país inteiro, então não do de ser criada, reunindo departa-
do governo Franco Montoro, em 1983. existe prioridade”, resume Sant´Ana. mentos da Secretaria da Agricultura.
Embora tenha permanecido pouco De fato, o resultado daquela detur- José Gomes era responsável pela área
tempo à frente da pasta, devido a um pação na proposta do grupo de José de socioeconomia do Departamento
enfarte sofrido em agosto daquele Gomes foi o assentamento de pouco de Extensão Rural.
mesmo ano, José Gomes deu uma mais de 82 mil famílias. Frustrado, ele Para Biral, além da sólida forma-
contribuição decisiva para a política fez um desabafo no livro Caindo por ção técnica que já tinha feito de José
agrária do Estado: criou o Instituto Terra, em que disseca as articulações Gomes uma autoridade reconhecida
de Assuntos Fundiários (IAF), em- políticas que barraram o Programa. na área de pesquisa com soja, ele pos-
brião do que viria a ser a Fundação suía uma ampla visão social. “Foi um
Instituto de Terras. Com aquela ex- O humanista grande aprendizado trabalhar com
periência, iniciava-se uma política Muitos dos que trabalharam com ele, porque a formação do agrônomo
de destinação de terras públicas es- ele se lembram de que, além da dedi- é muito tecnicista. E o José Gomes

F A T O S D A T E R R A 18 11
CAPA

ensinava que era necessário adaptar dadania contra a Miséria, a Fome e prendia a uma única cultura. “Nós
a tecnologia às condições sociais.” pela Vida, comandada pelo sociólo- dizíamos que os ovos não podiam es-
Biral também fez parte da equipe go Herbert de Souza, o Betinho. Seu tar em uma única cesta. Quando a
coordenada por José Gomes que for- legado está presente também no laranja estava em baixa no merca-
mulou o programa para a agricultura Consea (Conselho Nacional de Se- do, ele tinha café. Quando o café
no Governo Paralelo do PT em 1990. gurança Alimentar e Nutricional), estava em baixa, tinha a laranja ou
Ele explica que o que movia aquela encarregado de articular governo e a cana”, explica.
iniciativa era a idéia de sair da críti- sociedade civil na formulação de José Gomes nunca foi um homem
ca pura e simples e oferecer alterna- diretrizes na área de alimentação e apenas de discurso. Fez de sua vida
tivas ao governo. nutrição. também um exemplo. Plínio de Ar-
Uma das grandes contribuições do ruda Sampaio, em artigo publicado
programa foi a proposta para a área O fazendeiro na revista da ABRA em 1996, relata
de segurança alimentar, um conceito José Gomes muitas vezes foi ques-
que, após a decepção com o PNRA,
que ainda era novidade no Brasil. A tionado se o fato de ser um fazendei-
ele “voltou para a sua Santana do
proposta acabou subsidiando a cam- ro bem-sucedido não era contraditó-
Baguaçu, na terra roxa de São Paulo,
panha Ação da Ci- rio com sua luta pela Reforma
e pôs-se a cuidar do seu café, da sua
Agrária. Ele sempre respondia que,
cana, da laranja, do limão. Plantou
acima de tudo, era um profissio-
um seringal atrás mesmo da casa dos
nal da terra. E, como tal, via na
empregados, para que as mulheres
filho
De pai para
estrutura fundiária brasileira
destes aí pudessem trabalhar e ter
um entrave ao desenvolvimen-
uma fonte de renda delas mesmas.”
to do país. A forma como ad- E aquela semente também planta-
fa ze n da s qu e legou ministrava suas quatro fazen-
da por ele no Estado de São Paulo,
Além das sé G om es
ir os , Jo das sempre foi coerente com
quando colaborou com o Governo
aos seus herde o ge n e da Re-
it iu seus ideais, como relata seu
Montoro, vingou e deu frutos: 126
também transm fi lh o, Jo sé Gra-
S eu amigo Mário Biral: assentamentos estaduais, onde mais
forma Agrária. do s ex po en tes
é u m “Nunca vi uma fazenda tão
de 6 mil famílias assentadas possuem
ziano da Silva, to rn o da qu es-
te em bem dirigida quanto a fazenda
“casa, comida e trabalho”. O órgão
atuais do deba l.
Brasi Santana do Baguaçu, em Pi-
que nasceu como um modesto insti-
tão agrária no n om o formado
ei ro ag rô rassununga. Foi um verdadei-
tuto, o IAF, cresceu, tornou-se uma
Engenh z m estrado
19 72 , fe ro laboratório para experiên-
fundação com mais de 700 funcioná-
pela USP em io lo gia Rural
ia e S oc cias sobre como viabilizar o
rios e leva hoje o seu nome: Funda-
em Econom si da de , dou-
n iv er homem no campo.” Biralção Instituto de Terras do Estado de
pela mesma U ia pe la U ni-
om conta que José Gomes não se
São Paulo “José Gomes da Silva”.
torado em econ do n a m esma
u to ra
camp e pós- do da
lo In st it uto de Estudos
área pe da de
a, da Universi PUBLICAÇÕES DE JOSÉ GOMES DA SILVA
América Latin
de Londr es .
creveu cerca de
José Graziano es la e A Reforma Agrária no Brasil: frustração camponesa ou instrumento
livr os so br e economia agríco de desenvolvimento? Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1971.
20 a. É
ze n as de ar ti gos sobre o tem
de
r do Instituto de
professor titula amp desde
Decálogo da contra-reforma. Campinas, 1986.
om ia da U n ic
Econ re -
or especial da P
1991. Foi assess ica no governo Caindo por Terra: crises da Reforma Agrária
a da R ep ú bl na Nova República. São Paulo: Busca Vida, 1987.
sidênci de nou o Progra-
an do co or
Lula, qu regi-
Hoje, é diretor
ma Fome Zero. do da s Nações
Buraco negro: a Reforma Agrária na
O (F u n Constituinte. São Paulo: Paz e Terra, 1989.
onal da FA li-
n id as pa ra a Agricultura e A
U
mentação). A Reforma Agrária brasileira na virada
do milênio. Campinas: Abra, 1996.

12 ITESP
NACIONAL

Plano Safra tem R$ 10 bilhões


para a Agricultura Familiar
Programa Nacional de For- as dívidas dos produtores. 1998 e 2005, foram assentadas mais

O talecimento da Agricultura
Familiar (Pronaf) completa
dez anos com um recorde de recursos
Em São Paulo, de acordo com a 2.700 famílias no Estado, que se be-
Superintendência do Banco do Brasil, neficiaram com os créditos de inves-
os assentamentos contrataram, entre timento de acesso facilitado. E, por
anunciados para a safra 2006/2007: 1995 e 2005, financiamentos agríco- fim, a partir de 1999, surgem obstá-
R$ 10 bilhões. A meta do Ministério las da ordem de R$ 143 milhões. culos à contratação de investimentos
do Desenvolvimento Agrário é che- Até 1998, os recursos foram dis- para custeio, como as exigências de
gar a dois milhões de contra- garantias reais.
tos, incluindo no sistema Ubirajara Machado
A partir do ano 2000, o
produtivo brasileiro mais de acesso ao financiamento
um milhão de novas famíli- de custeio vem aumentan-
as. Só para o Estado de São do pela criação de uma li-
Paulo serão R$ 500 milhões. nha exclusiva para os be-
De acordo com o coorde- neficiários da Reforma
nador geral de financiamen- Agrária, o Grupo A/C.
tos da SAF, João Luiz Gua- Os recursos são originári-
dagnin, o governo tem con- os do Orçamento Geral
seguido melhorar a relação da União e, portanto, não
entre o que é disponibiliza- trazem riscos financeiros
do e o que é efetivamente aos bancos que operam a
acessado pelos agricultores. linha. Atualmente, cada
“Até 2002, ficávamos em produtor assentado pode
50% do anunciado. Hoje, realizar até seis operações
Guadagnin, da SAF: relação entre o que é anunciado
estamos com mais de 80% e o que é acessado melhorou em safras consecutivas.
do anunciado.” Se, para o custeio, foi
Ele explica que a melhora criado um mecanismo de
se deve a um aprimoramento na re- ponibilizados pelo Programa de Cré- acesso para os agricultores assen-
lação com os agentes financeiros e dito Especial da Reforma Agrária tados, ainda há grandes dificulda-
com os órgãos de assistência técnica (Procera). Por esta linha de crédito, des para as contratações de inves-
nos Estados. Mas destaca que, no foram realizadas operações de cus- timentos que não sejam restritos à
caso de São Paulo, ainda é preciso teio da safra agrícola em valores pró- Reforma Agrária (Grupo A), que
avançar bastante, sobretudo no aces- ximos a R$ 45 milhões e cerca de são contratados numa única opera-
so aos Grupos C, D e E. R$ 13 milhões em investimentos na ção. Mesmo tendo sido dada uma
“Já os assentamentos estão bem estruturação produtiva dos lotes. segunda oportunidade para a con-
melhor assistidos. A ação do Itesp é tratação do Grupo A, esta está res-
boa”, comenta. Para Guadagnin, o Pronaf os em custeio e investimento trita aos Projetos de Assentamento
problema maior dos assentamentos Esta inversão ocorreu basicamen- elencados pelo Programa de Recu-
paulistas está ligado ao acesso grupal te por três motivos: O limite de con- peração de Assentamentos (PRA)
a crédito, por meio de cooperativas. tratação em investimento de amplo do INCRA.
Para resolver esse tipo de proble- acesso aumentou gradativamente de (Para mais informações sobre as
ma, o governo pretende regula- R$ 9,5 mil em 1998 para R$ 18 mil linhas de crédito do Pronaf, acesse o
mentar uma lei que individualize (Grupo A) em 2005. No período de sítio www.pronaf.gov.br)

F A T O S D A T E R R A 18 13
POLÍTICA

Governo e sociedade civil


aprimoram diálogo no Pontal
postando no diálogo como flitos é condição indispensável para Com os R$ 4 milhões já disponí-

A caminho para a solução dos

do Paranapanema, a Secretaria da Jus-


a retomada de investimentos no Pon-
conflitos fundiários no Pontal tal do Paranapanema.
O Itesp vem negociando com a-
tiça e da Defesa da Cidadania adotou, gropecuaristas interessados em se
veis, o Itesp deve priorizar a arreca-
dação de duas fazendas, uma em
Presidente Venceslau e outra em
Presidente Epitácio. O compromisso
a partir de junho, uma prática de antecipar a uma decisão judicial e do órgão federal é de que, tão logo
reuniões mensais com movimentos ceder desde já as terras ao Estado, essa primeira parcela seja utilizada,
sociais que atuam na região. mediante a indenização de benfei- novos recursos serão liberados.
Essa abertura de Para a UDR, também
um canal permanente Dodora Teixeira
é necessário o aprimora-
de diálogo foi resulta- mento dos mecanismos
do de encontro reali- legais que possibilitam
zado no dia 3 de ju- a cessão de parte das
nho. Em um único fazendas para a refor-
dia, a secretária da ma agrária em troca da
Justiça, Eunice Pru- regularização do res-
dente, reuniu-se com tante. Outra proposta
prefeitos da região, lí- é a alteração da Lei
deres de diversas enti- Estadual 11.600/03,
dades que represen- que dispõe sobre a re-
tam os sem-terra, re- gularização de áreas de
presentantes de as- até 500 hectares na re-
sentamentos, peque- gião. Na avaliação da
nos produtores rurais, entidade, a lei obriga o
lideranças da União agricultor a reconhe-
Democrática Rura- Reunião com movimentos sociais em Teodoro Sampaio cer que a terra é devo-
lista (UDR), além do luta, sem que haja de-
Incra e o Itesp. cisão judicial transita-
"O Brasil não vai chegar ao desen- torias. A expectativa é de que acor- da em julgado.
volvimento se não resolver a questão dos sejam fechados rapidamente com Eunice Prudente enfatizou a im-
da terra", disse Eunice Prudente. Foi a disponibilidade de recursos repas- portância do diálogo também com
consensual entre os participantes do sados pelo Incra. as entidades patronais e disse que
encontro a opinião manifestada pelo Na reunião realizada em junho, alterações na lei ou outras medidas
prefeito de Teodoro Sampaio, Ade- o órgão federal anunciou a libera- possíveis para a superação dos en-
mir Infante: "Existe terra para arre- ção de R$ 28 milhões, dos quais traves apontados serão estudadas.
cadar e existem recursos suficientes. R$ 4 milhões já estão disponíveis. Já como desdobramento das reu-
Então, vamos em frente!". A grande novidade é que o dinheiro niões periódicas com os movimentos
está sendo repassado integralmente sociais, a Secretaria da Justiça viabi-
Negociações em moeda corrente. lizou uma audiência com o presiden-
Para os movimentos sociais, a re- Até então, 70% dos recursos desti- te do Tribunal de Justiça de São
forma agrária proporciona desenvol- nados à arrecadação de terras eram re- Paulo, Celso Limongi, no dia 18 de
vimento, emprego, renda, cidadania passados em Títulos da Dívida Agrá- julho. A Secretaria e o TJ propuse-
e inclusão social. A UDR, por sua ria (TDA). Além disso, os acordos se- ram a inclusão dos juízes no diálogo
vez, defende que a solução dos con- rão fechados diretamente pelo Itesp. das questões agrárias.

14 ITESP
OPINIÃO: Luís Eduardo Batista e Anna Volochko

Saúde da População Negra


egundo dados do Relatório de ximadamente 134.344 óbitos em mulhe- sentados evidenciam isso. Eles tam-

S Desenvolvimento Humano
2005, os negros (pretos e pardos)
e as negras (pretas e pardas), juntamen-
te com os indígenas (mulheres e ho-
res adultas (10-64 anos) no Brasil
(208,17/100 mil mulheres). A taxa de
mortalidade das mulheres pretas (284,36/
100 mil) supera a das brancas (184,67/
bém indicam a necessidade de políti-
cas de saúde direcionadas a este gru-
po populacional.

mens) têm menor escolaridade e renda, 100 mil) e das pardas (145,11/100 mil). Exemplo Paulista
estão nos piores postos de trabalho; suas Quando analisamos a mortalidade das A Secretaria Estadual de Saúde de
residências têm menor acesso a sanea- mulheres adultas (10-64 anos) residen- São Paulo vem realizando várias ações
mento básico e eles têm maior necessi- tes na região Sudeste do Brasil, segundo para promover a eqüidade racial em saú-
dade de serviços públicos de saúde. a cor, constatamos que a taxa de mortali- de e transformar os estudos produzidos
Quando observamos a esperança de vida dade das mulheres pretas é de 369,78/100 pela academia e movimentos sociais em
ao nascer, as mulheres vivem mais do mil mulheres pretas; que a taxa de mor- políticas públicas. Destacam-se:
que os homens. Contudo, as mulheres talidade das mulheres brancas é de - Investimentos (Qualis/PSF) para
negras e as mulheres indígenas vivem 204,30/100 mil mulheres brancas e a taxa os municípios que possuem comuni-
menos que as mulheres brancas. O mes- de mortalidade das mulheres pardas é de dades remanescentes de quilombos;
mo acontece com os homens. 173,96/100 mil mulheres pardas. - Treinamento de profissionais para
Minha proposta aqui é mostrar que as Quando se analisa a taxa de mor- melhorar a qualidade de informações
desigualdades raciais dialogam com a for- talidade segundo o grupo de causas de do SUS quanto a coleta, processamen-
ma como se adoece/morre e, num segun- doenças infecciosas e parasitárias, pre- to e análise do quesito cor;
do momento, mostrar a necessidade de dominando aids e tuberculose, a taxa - Criação do Comitê Técnico Saú-
se pensar políticas públicas diferenciadas. de mortalidade das mulheres pretas de da População Negra do Estado de
por HIV é de 12,29/100 mil, contra São Paulo.
O estudo da mortalidade como 5,45 das mulheres brancas e 5,41 das Essas contribuições pretendem pro-
demarcador de desigualdades pardas. Por tuberculose, a taxa de mor- mover a eqüidade em saúde da popu-
As estatísticas de mortalidade são talidade dentre as mulheres pretas é lação negra e combater o racismo e a
utilizadas para avaliar a situação da de 5,27, contra 2,22 das mulheres par- discriminação nas instituições e servi-
população e desenvolver políticas pú- das e 1,33 das mulheres brancas. ços do Sistema Único de Saúde. Em
blicas de saúde. Na análise dos dados A mortalidade das mulheres pretas por parceria com movimentos sociais,
de mortalidade, apontam-se as causas transtornos mentais é 4,5 vezes maior ONGs do movimento negro e demais
de morte que assolam a população, quando comparado às mulheres brancas. setores do governo, a Secretaria come-
discutem-se os dados segundo idade, As mulheres pretas também apresen- ça a dar resposta às necessidades da
sexo e grupo social ou frações de clas- tam um excesso de mortalidade por do- população negra no campo da saúde,
se, mas não se discutem as diferentes enças isquêmicas do coração, cerebrovas- mas para chegar à eqüidade racial no
construções socioculturais existentes culares, insuficiência cardíaca, hiperten- SUS ainda há um longo caminho a ser
na sociedade e seus reflexos no perfil são, doenças hipertensivas e cardiopatias. percorrido.
da mortalidade. Por exemplo, não se Quando observamos as mortes por gra-
contempla a raça/cor como categoria videz, parto e puerpério entre mulheres
de análise e apenas em 1996 se inse- de 10 a 49 anos, constatamos que a taxa Luís E. Batista é sociólogo, Doutor em
riu a variável raça/cor nos atestados de mortalidade das mulheres pretas é de Sociologia, Pesquisador do Instituto de Saúde /
de óbito e de nascidos vivos. 4,9, das mulheres pardas é de 2,11 e den- SES-SP, Assessor Técnico da CCD/SES-SP,
No estudo “Mortalidade da popula- tre as brancas a taxa é de 1,82. coordenador do Comitê Técnico Saúde da Po-
ção Negra Adulta no Brasil”, realizado Concluindo, há uma forte relação pulação Negra do Estado de S. Paulo e repre-
em parceria com Anna Volochko, entre as desigualdades raciais, a exclu- sentante da Secretaria da Saúde no Conselho
Carlos Eugênio de Carvalho Ferreira são social vivenciada pelos negros, a for- de Participação e Desenvolvimento da Comu-
e Vanessa Martins e que foi publicado ma como mulheres e homens são nidade Negra do Estado de S. Paulo.
no livro Saúde da População Negra no construídos socialmente e o processo Anna Volochko é médica, Doutora em
Brasil (Fernanda Lopes – org.), cons- saúde, doença e morte. Saúde Pública e Pesquisadora do Instituto de
tatou-se que em 2000 ocorreram apro- Os dados de mortalidade aqui apre- Saúde/SES-SP.

F A T O S D A T E R R A 18 15
CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Pesquisa da Esalq avalia


assentamentos do Estado
m projeto de pesquisa financiado pela Fapesp da pesquisa teve sua própria dinâmica de execução.

U (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de


São Paulo), na modalidade de políticas públicas,
possibilitou a uma equipe supervisionada pelo professor
Gerd Sparovek, da Escola Superior de Agricultura Luiz
O Anexo A consiste num Banco de Dados com infor-
mações gerais dos projetos de assentamentos seleciona-
dos para a pesquisa. Para auxiliar na busca das informa-
ções, foi elaborado um Atlas Rural de São Paulo (Anexo
de Queiróz (Esalq/USP), fazer uma pesquisa que resultou H), com detalhes da inserção dos projetos de assenta-
no relatório intitulado Avaliação das terras do Estado de mento no contexto socioeconômico local.
São Paulo visando o apoio de decisões ligadas à Agricultura No Anexo B estão os resultados da pesquisa de avalia-
Familiar. A pesquisa teve como parceiros a Fundação ção do impacto ambiental feita em oito assentamentos,
Itesp e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma apresentando a evolução do uso da terra nas fases antes,
Agrária (Incra) e está dividida num relatório e um Atlas durante e depois de instalados, para avaliar sua interfe-
Rural de São Paulo. rência na preservação dos recursos florestais nativos.
Após longo período de análise pela Fapesp de sua via- A percepção dos assentados em relação aos proble-
bilidade técnica, o projeto teve início em 2003 para ser mas ambientais é o tema da pesquisa que resultou no
executado ao longo de dois anos. Anexo C do relatório. Trata-se de uma pesquisa por
O relatório enviado às instituições parceiras está em amostragem feita em forma de questionários. Na elabo-
forma de anexos, que são capítulos nos quais são apre- ração dos questionários, foi levado em conta o histórico
sentados os resultados das linhas de pesquisa desenvolvi- dos assentados, para que numa próxima etapa do proje-
das separadamente. Apesar de integrada uma a outra, ca- to seja analisada uma possível relação entre a percepção
ambiental e o perfil dos agricultores.
Os Anexos D, E e F mostram os relatórios
Dodora Teixeira
descritivos das atividades desenvolvidas si-
multaneamente por três alunos, em projetos
de iniciação científica, relativas a avaliação
de impacto ambiental dos assentamentos e o
cultivo de cana-de-açúcar em áreas reforma-
das. E, por fim, o Anexo G são artigos apre-
sentados em encontros científicos.
Com algumas exceções, este relatório con-
sistiu em atender às demandas acordadas com
as instituições parceiras.
No início do ano, o professor Gerd Sparo-
veck apresentou, num workshop feito na
sede do Itesp, os dados resultantes da pes-
quisa aos técnicos da casa e repassou as ba-
ses do banco de dados às duas instituições
parceiras. O professor Gerd pretende hos-
pedá-las num sítio ligado à Esalq e aos par-
ceiros. E, se conseguir financiamento, pre-
tende também publicar os resultados da
Equipe da Esalq apresenta resultados da pesquisa na sede do Itesp pesquisa em livro.

16 ITESP
CURTAS

Itesp e CATI assinam convênio


O Itesp e a CATI (Coordenadoria de Assistência Téc- Técni- Regina Bonomo

nica Integral) aproveitaram o Dia do Agricultor, 28 de cos do


julho, para reafirmar parceria entre as instituições e assi- Itesp já fo-
nar o convênio para o Programa Estadual de Microba- ram capa-
cias Hidrográficas, que será estendido também aos mu- citados
nicípios onde existem assentamentos rurais. A cerimô- para atuar
nia foi realizada no auditório da CATI em Campinas. no âmbito
O programa de Microbacias Hidrográficas é uma pro- do progra-
posta do Governo do Estado de São Paulo, com o apoio ma. Eles
do Banco Mundial, para enfrentar os problemas de de- passaram
gradação dos recursos naturais de forma global e integra- por um Solenidade do Dia do Agricultor, em Campinas
da. Funciona por meio de implantação de sistemas de curso com
produção agropecuária que possibilitem o aumento do noções bá-
bem-estar das populações rurais, com melhoria de renda sicas para a elaboração do PIP (Projeto Individual de
e de produtividade, garantindo ainda a qualidade e a Propriedade). Dividido em dois módulos, um teórico e
quantidade de águas. outro prático, o curso foi ministrado por técnicos do
Itesp e da CATI.

Itesp participa de evento sobre geoinformação


O Itesp esteve presente no evento GEOBrasil 2006, Segundo ela, seu comparecimento ao evento é muito
em julho, representado pela servidora Márcia Cristina importante, pois, além de divulgar o nome e o trabalho
Marini, que apresentou um trabalho sobre o uso de do Itesp, “posso conhecer as tendências tecnológicas e
metodologias rápidas com GPS para georrefe- participar de discussões sobre assuntos como
renciamento de imóveis rurais. O trabalho foi desenvol- georrefrenciamento, cadastro rural e urbano,
vido por alunos da Unesp em parceria com o Itesp. mapeamento, entre outros relacionados ao meu dia-a-
Georreferenciamento é uma das principais ferramentas dia de trabalho”.
utilizadas pelo Itesp nos trabalhos de regularização fun- O evento, realizado entre os dias 18 e 20 de julho no
diária. Márcia é analista de desenvolvimento fundiário Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, é vol-
da diretoria adjunta de Recursos Fundiários do Itesp em tado ao mercado de geotecnologias e visa à integração
Presidente Prudente. entre indústria e usuários.

Biodiesel pode ser alternativa para assentados


Com o objetivo de desenvolver social e economica- à concessão do selo Combustível Social. Além de definir
mente os assentamentos do Estado, a Secretaria da Jus- as atribuições dos envolvidos, o protocolo de intenções
tiça e da Defesa da Cidadania, a Secretaria da Agricul- estabelece medidas para garantir o sucesso do projeto,
tura e Abastecimento e a empresa Biocapital Consulto- como melhores opções logísticas para a entrega de
ria Empresarial e Participações S/A assinaram protocolo grãos, estimativa do número de famílias beneficiadas e
de intenções para o plantio de oleaginosas, matéria-pri- definição de modelo de compra de sementes junto à
ma na produção de biodiesel. CATI.
A Secretaria da Agricultura ficou responsável por fo- O documento esclarece ainda que todas as partes en-
mentar a produção, a Secretaria da Justiça, por meio do volvidas reconhecem saber da importância da inclusão
Itesp, de prestar assistência técnica desde o preparo do social pela agricultura familiar para a geração de empre-
solo até o plantio, colheita e armazenamento. E a Bioca- gos e o desenvolvimento do mercado nacional de
pital, de adotar os critérios e procedimentos necessários biodiesel.

F A T O S D A T E R R A 18 17
CURTAS

Vale do Ribeira tem audiência pública


A Secretária da Justiça e da Defe- Justiça, a audiência contou com a Saúde e Meio Ambiente; do procu-
sa da Cidadania, Eunice Prudente, participação de Tibério Leonardo rador do Estado Alexandre Moura
reuniu no dia 19 de agosto, em El- Guitton, assessor especial do gover- de Souza e de Rodrigo Antunes,
dorado, um grande número de Regina Bonomo
promotor de Justiça e de Cida-
gestores públicos para a primeira dania de Eldorado.
Audiência Pública do Grupo Aproveitando a ida ao Vale
Gestor Quilombos. A audiência do Ribeira, a secretária, acom-
aconteceu no Centro Comunitá- panhada das autoridades pre-
rio de Eldorado, em São Paulo. sentes, visitou a nova balsa de
A proposta é que estas reuni- travessia do rio Ribeira de
ões ocorram periodicamente co- Iguape para as comunidades
mo meio de informar às comuni- de São Pedro e Ivaporunduva,
dades quilombolas e demais in- também em Eldorado. A balsa
teressados sobre o andamento foi construída pelo Itesp e pre-
das ações do Programa de Coo- feitura. A comitiva conheceu
peração Técnica e Ação Con- As comunidades apresentaram suas
ainda o Centro de Visitantes
junta do Grupo Gestor Quilom- reivindicações de Ivaporunduva, construído
bos, do Governo do Estado, e pelo Itesp, que recebeu recen-
ouvir as reivindicações das lideran- nador respondendo pelo Itesp, do temente recursos da Petrobrás para a
ças das comunidades quilombolas prefeito de Eldorado, Elói Fouquet, compra de equipamentos, e a Escola
locais. e de representantes das secretarias Maria Antonia Chules Princesa, na
Coordenada pela secretária da da Cultura; Juventude; Educação; comunidade de André Lopes.

AGENDA

ACONTECEU

4 a 6 de agosto

IV Agrifam - Feira da Agricultura Familiar e do Trabalho Rural


Dodora Teixeira
A quarta edição da Agrifam (Feira do evento foi a fabri-
da Agricultura Familiar e do Trabalho cação de doces pela
Rural), em Agudos, atraiu 470 carava- Bemacla, agroindús-
nas e 32 mil visitantes . O evento con- tria do assentamento
ta com o apoio do Itesp, que esteve Reunidas, de Promis-
presente com estande institucional e são. As assentadas
uma barraca na praça de alimentação Bernadete, Clarinda e
da feira, onde foram comercializados Erenice, proprietárias
produtos dos assentamentos. da Bemacla, fabrica-
No estande institucional, foram ram os doces no protó-
comercializados, entre outros produ- tipo de agroindústria
tos, doces, artesanatos e até ostras artesanal localizado
frescas do quilombo Mandira, de no Itetresp (Instituto Estande do Itesp no evento
Cananéia. Também fizeram suces- de Treinamento de
so as buchas vegetais da Eco Bu- Trabalhadores Rurais), onde é reali- Nacional de Crédito Fundiário, pro-
chas, agroindústria do assenta- zada a feira. ferida por Antônio Carlos de Seta, e
mento Che Guevara, de Mirante O Itesp também foi responsável sobre Legislação da Agroindústria,
do Paranapanema. Outra atração por duas palestras: sobre o Programa proferida por Ovanyr Vinício Renesto.
Fotos: Dodora Teixeira
DESTAQUE

Feira encerra sobre “Licitação solidária e compras


públicas”. Segundo ele, há poucas
Programa de Capacitação oportunidades para a participação
dos pequenos produtores nas com-
em Comercialização pras feitas pelo poder público. Mas,
embora sejam necessárias mudanças
na legislação, a organização dos pro-
roduzir com qualidade o Seminário dutores já pode garantir bons resulta-

“P produtor sabe. Às vezes,


o que ele não sabe é ven-
der.” A afirmação, do produtor rural
Além de uma programação de pa-
lestras, o Seminário abriu espaço pa-
ra painéis e relatos orais de experi-
dos. O exemplo é o quilombo Ivapo-
runduva, que ganhou uma licitação
para o fornecimento de banana à
assentado Edvaldo José Previatto, de ências de comercialização dos pro- prefeitura de Suzano.
Andradina, resume a importância do dutores. Eles demonstraram como a Os próprios assentados apresenta-
Programa de Capacitação em Comer- organização das comunidades e a ca- ram alternativas de comercialização.
cialização e Agroindústria Familiar, pacitação em comercialização propi- É o caso do entreposto conhecido
desenvolvido pelo Itesp em parceria ciaram um incremento na geração como “Ceasinha”, criado pelos pro-
com o Ministério do Desenvolvimen- de renda. “Eu vendia mandioca de dutores do assentamento Ipanema,
to Agrário. Encerrado com o Seminário porta em porta. Passei a vender a de Iperó. “Por que os assentamentos
de Comercialização e Feira da Agricul- mandioca descascada e congelada, o que produzem mandioca não mon-
tura Familiar, realizados de 11 a 13 de que aumentou as vendas. Já tenho tam uma agroindústria de farinha?
agosto, o programa teve justamente o três freezers. Meus planos, agora, são Venderia quando quisesse, quando o
objetivo de oferecer aos produtores fer- comprar um empacotador a vácuo, preço estivesse melhor”, sugeriu o
ramentas para sua inserção competiti- um veículo e um sistema de irriga- assentado Carlos Aparecido Dellai.
va no mercado. ção”, contou Humberto Couto, do Ao final do evento, produtores e
Além dos objetivos alcançados no assentamento Santa Carmem, de técnicos fizeram uma avaliação posi-
seminário, a feira foi um sucesso de Mirante do Paranapanema. tiva do programa e sugeriram sua
público. A grande variedade de pro- Temas como legislação, agregação continuidade. Uma das propostas é
dutos, distribuídos em 20 estandes, e de valor, alternativas de comercializa- a realização de feiras regionais da
a boa qualidade se aliaram à locali- ção e economia solidária foram abor- agricultura familiar.
zação privilegiada: segundo a admi- dados nas palestras. Para falar sobre
nistração do Parque da Água Bran- economia solidária, por exemplo, o se-
ca, cerca de 40 mil pessoas visitam o minário contou com a participação de
local aos finais de semana. Os orga- Paul Singer, responsável por uma se-
nizadores estimam o volume de ven- cretaria nacional dedicada ao tema
das em R$ 25 mil, aproximadamen- no âmbito do Ministério do Trabalho
te. Mas destacam que o mais impor- e Emprego. Singer explicou que o
tante foi a divulgação dos produtos princípio da economia solidária é a
da reforma agrária e a experiência ajuda mútua, em que todos são iguais,
de comercialização oferecida aos sem patrões e empregados.
participantes. Márcio Automare, do Itesp, falou

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