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Um Roteiro Iconográfico
Organizado e Comentado
por
Nydia Licia
Coleção Aplauso
Coordenador Geral Rubens Ewald Filho
Segundo o catalão Gaudí, não se deve erguer monumentos aos artistas porque
eles já o fizeram com suas obras. De fato, muitos artistas são imortalizados e
reverenciados diariamente por meio de suas obras eternas.
José Serra
Governador do Estado de São Paulo
São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente a nos-
sos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que
concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Desenvolveram-se temas como a
construção dos personagens interpretados, a análise, a história, a importância e
a atualidade de alguns dos personagens vividos pelos biografados. Foram exami-
nados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as
possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença
entre esses veículos e a expressão de suas linguagens.
É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com
os leitores de todo o Brasil.
Hubert Alquéres
Diretor-presidente da
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
O artesão Sérgio Cardoso, dono do espaço, não faz nem os cenários nem
os figurinos, mas dirige e fabrica medalhas e candeias. Aventura-se em
Pirandello, em Suassuna, em Noel Coward e vê encantos num musical
de Vicente Catalano. Não teme o boulevard, dirige um Vestido de Noiva
exemplar e, num exercício de poesia, oferece à sua companheira uma
comovente direção em Chá e Simpatia, de Robert Anderson. Entre di-
reções e atuações, são quase vinte espetáculos. Fará alguns mais, longe
do Bela Vista.
Amigo de longa data, Rubens sabia que possuo vasto acervo fotográfico
da vida e da carreira de Sérgio e achou que um lançamento desse porte
não poderia prescindir da figura de um dos maiores atores de teatro do
Brasil.
Nydia Licia
Mas como foi que um bacharel de direito, de repente, resolveu ser ator?
A
lguma influência da família? Não. O pai, Francisco da Silva Mattos
Cardoso, português de nascimento, era gerente do Banco Ul-
tramarino. A mãe, Maria Esther da Fonseca Mattos Cardoso, 15
S
ó em 1945 voltou a participar de um espetáculo teatral. O Teatro
Universitário do Rio de Janeiro levou no Teatro Municipal a peça
Romeu e Julieta de Shakespeare e ele viveu o papel de Teobaldo.
Foi dirigido por Esther Leão, diretora portuguesa e professora de voz,
famosa na época. Nada de muita importância até então. Nada que fizesse
prever o estrondoso sucesso de Hamlet, apenas três anos mais tarde.
18
T
rabalhava na Sidney Ross Raymundo Ma-
galhães Jr., autor teatral e tradutor de
todos os textos americanos de sucesso.
Num artigo escrito alguns anos mais tarde, conta
como ficou espantado quando aquele mocinho
muito quieto perguntou-lhe se teria uma cópia
de sua peça Carlota Joaquina, pois gostaria de
ler o texto cuja encenação assistira no teatro,
mas não o encontrara em nenhuma livraria.
Começaram então a conversar sobre arte, teatro
e literatura, e Magalhães Jr. admirou-se com a
cultura do jovem colega e a profundidade de
suas observações. Em 1953, numa prova de con-
fiança, lhe entregaria um texto seu, A Canção
Dentro do Pão, para dirigir; e foi com ele que
Sérgio fez sua estréia como diretor.
L
ogo após a estréia de Hamlet, seu mundo virou de cabeça para
baixo. Só pensava em ser ator; não mais um diplomata e, muito
menos, um advogado. No entanto, essa carreira brilhante surgiu
de um equívoco, de um diálogo apressado e mal-compreendido, que
manteve com Paschoal Carlos Magno, em 1947. Mas por que contar, em
terceira pessoa, uma saborosa história que o próprio Sérgio escreveu,
anos mais tarde, para apresentá-la no palco?
Mas três semanas depois, num Dia de Reis, 6 de Janeiro, estreei como
Hamlet. Já no dia 7 tudo era bem diferente... Nunca houve uma carreira
de advogado ou de diplomata mais curta do que a minha: durou exata-
mente três semanas. Eu sempre quisera ser ator. Tinha agora a prova de
que podia ser ator. Não demorou muito para chegar à conclusão de que
devia ser ator. E conjugando esses três verbos – querer, poder e dever –
sou ator até hoje, com a graça de Deus”.
(Rio de Janeiro, 1972)
D
iante dessa declaração, que nega tudo o que havia escrito an-
tes, paira a dúvida: teria ele sempre desejado, em seu íntimo,
24 ser ator (então por que não procurou companhias profissionais?)
ou foi levado ao palco realmente por acaso? Não podemos esquecer que
os padres sempre usaram o teatro como arma de catequese e, se influên-
cia houve nesse sentido, concretizou-se durante o ensino em escolas
religiosas. Seu interesse pelo teatro teria então se iniciado na escola.
P
aschoal procurou aproveitar, ao máximo, o sucesso.
Chegou a cogitar na transformação do grupo
em uma companhia profissional. Pretendia levar
o espetáculo a todo o Brasil, mas conseguiu apresentá-lo
apenas em Niterói, Campinas, Santos e São Paulo. A reação
das várias platéias foi idêntica. Os jovens atores saíram
consagrados: Maria Fernanda, Bárbara Heliodora, Sérgio
Britto, Pernambuco de Oliveira, Nilson Penna, Luís Linha-
res, Wilson Grey prosseguiram em suas carreiras com su-
cesso. Em São Paulo, Bárbara seria substituída por Cacilda
Becker, que já pertencera ao Teatro do Estudante e, na
época, trabalhava em Rádio.
E
strearam no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro com uma nova
montagem do Hamlet, dirigida pelo mesmo Hoffmann Harnisch,
aproveitando a imensa repercussão do espetáculo do TEB. Nova-
mente a peça lotou o teatro. A eles juntou-se um jovem diretor italiano,
há pouco chegado no Brasil: Ruggero Jacobbi, que dirigiu o segundo
grande sucesso da carreira de Sérgio: Arlequim – Servidor de Dois Amos,
de Carlo Goldoni.
O
seu Arlequim era, em tudo, uma cria-
ção oposta à do soturno príncipe da
Dinamarca. Nesse mesmo ano foi con-
vidado pelo Serviço Nacional de Teatro a par-
ticipar de um espetáculo beneficente, dirigido
por Dulcina de Moraes, uma das maiores atrizes
e diretoras da época.
D
edicou-se também ao teatro infantil, em Simbita e o Dragão,
que Lúcia Benedetti escreveu especialmente para ele - Simbita
era seu apelido de infância - mais uma vez desenhou cenários
e figurinos. Criou uma figura infantil que se comunicava de tal maneira
com as crianças que era difícil crer fosse aquela a sua primeira experiên-
cia no gênero.
Q
36 uando a terceira peça, Tragédia em Nova York, de Maxwell
Anderson, não atingiu o mesmo sucesso das anteriores e a di-
reção do Serviço Nacional de Teatro, que havia se comprometido
a ceder-lhe o teatro por mais três meses, voltou atrás em sua promessa,
Sérgio não teve outra saída a não ser desmanchar a Companhia. Ficou
com as dívidas e uma terrível sensação de fracasso.
N
inguém no Rio de Janeiro lhe estendeu a mão. Foi de São Paulo
que chegou a ajuda inesperada. Franco Zampari, diretor do
Teatro Brasileiro de Comédia, que há longos anos acompanhava
o movimento teatral no Brasil, propôs assumir o pagamento de todas as
dívidas do Teatro dos Doze e contratar Sérgio por dois anos, descontando
uma parcela do ordenado mensal até liquidar a dívida toda. Sérgio, feliz
por não dever mais nada no Rio e por participar do Elenco Permanente
do TBC, mais feliz ainda ficou ao saber que Ruggero Jacobbi também
iria para São Paulo, contratado como diretor, tanto no Teatro como na
Companhia Cinematográfica Vera Cruz.
Quando eu morrer,
os vermes hão de vir fartar-se em minha boca
e, chiando de prazer,
saciarão sua fome louca
em meus lábios e minha língua,
fervilhando de gozo, morderão...
Depois, meu coração
será também servido
nesta bacanal
sem que eu solte um único gemido.
Mas, quando tudo afinal 39
estiver terminado,
quando, fartos de mim,
tiverem todos partido,
só, completamente só
enfim,
quase de novo transformado em pó,
quase de novo nada,
descansarei na eternidade,
levando como prova da passagem por aqui,
como sinal de que vivi,
minha boca escancarada
numa larga gargalhada...
Aqui teria que se igualar a outros colegas, também talentosos, mas redu-
zidos a um quase anonimato pela línea assumida pela direção do Teatro,
que só ressaltava os nomes dos diretores e da primeira atriz.
A galeria de tipos que apresentou nos três anos que passou no TBC é
impressionante, principalmente se lembrarmos que ele só tinha vinte e
poucos anos. 41
V
inte e três de novembro de 1949. A estréia de O Mentiroso, de
Carlo Goldoni, traduzido e dirigido por Ruggero Jacobbi, foi o
primeiro passo. Interpretando um texto de Commedia dell’Arte,
cercado de todos os cuidados existentes em uma companhia profissio-
nal, dirigida por um empresário competente e sem preocupações finan-
ceiras, Sérgio pôde dedicar-se apenas à sua interpretação. E o fez de
maneira primorosa.
Ator clássico por excelência, estava à vontade nos trajes elegantes que
o cenógrafo Aldo Calvo criou para a peça, e no cenário mágico que
parecia flutuar a cada mudança de cena, rodopiando sobre dois palcos
giratórios. O público sempre exigente das estréias do TBC ovacionou
sua entrada em cena. Até hoje, quem assistiu à peça considera-a uma
das mais perfeitas já apresentadas pela Companhia e a maior direção
de Ruggero Jacobbi. A presença forte de Sérgio alavancou o elenco.
Ele sempre exigia o máximo de si mesmo e com isso obrigava os outros
atores a aprimorar suas interpretações.
Mais uma vez Sérgio saiu-se bem. Havia só quatro atores em cena: Sér-
gio, Cacilda Becker, Carlos Vergueiro e eu. A claustrofóbica encenação
atingiu em cheio a platéia com um impacto incomum. ”Sérgio surge
agora, mostrando nova faceta de seu pujante temperamento” (Nicanor
Miranda) “Garcin inexcedível” (Guilherme de Almeida )
A
companhava a montagem de Entre Quatro Paredes um ato de
Checov, Pedido de Casamento, também dirigida por Celi, com
Cacilda, Waldemar Wey e Sérgio. Uma farsa leve, que desanu-
viava o ambiente pesado da peça anterior. Sérgio, que adorava papéis
caricatos, criou um personagem cheio de tiques, muito engraçado.
N
a controversa montagem de A Ronda dos Malandros, de John
Gay, cujo texto inspirou Bertold Brecht a escrever A Ópera dos
Três Vinténs - mas cuja temporada no TBC não passou de duas
semanas -, viveu o Capitão Mac Heath, chefe do bando de ladrões de
Soho. A direção foi de Ruggero Jacobbi.
E
m O Anjo de Pedra, de Tennessee Williams, Sérgio aparecia ape-
nas na última cena da peça, interpretando um caixeiro viajante.
Era um papel propositadamente pequeno, pois, ao mesmo tempo,
trabalhava como assistente de direção de Luciano Salce. Sempre que pos-
sível, procurava estar próximo dos diretores e absorver conhecimentos
de direção.
P
oucos meses mais tarde, a Companhia do Teatro Italiano, dirigida
por Luigi Squarzina e tendo como intérprete principal Vittorio
Gassman, levou no Teatro Municipal a mesma peça. Crítica e pú-
blico foram unânimes em afirmar que o espetáculo do TBC nada ficou a
dever ao dos italianos.
O
Dr. Franco Zampari, num gesto senhoril, entregou a chave do
camarim a Sérgio, dizendo que, em qualquer momento em
que quisesse voltar para São Paulo, só haveria de entrar no
teatro, pendurar o paletó e dizer: “Voltei para trabalhar”.
“Dizem que alguém só se realiza na vida depois que faz três coisas: tem
um filho, planta uma árvore e escreve um livro. Árvores, já plantei mui-
tas. Livro, o que já escrevi talvez desse para publicar um volumezinho
de uma dezena de páginas... Mas, mesmo que eu morasse no deserto do
Saara e fosse analfabeto, analfabeto de não saber nem assinar o nome
em X, bastaria Sylvia, para que eu me sentisse plenamente realizado.
Sylvia é tudo para mim. Ótima filha, ótima estudante. Gente”.
A
Companhia Dramática Nacional lhe oferecia o papel de prota-
gonista nas três peças a serem apresentadas e a possibilidade
de dirigir uma delas. Além disso, tratava-se de um repertório
exclusivamente brasileiro, o que por si só teria sido suficiente para Sérgio
aceitar o convite.
O
s três textos eram de autoria de Nelson Rodrigues, Guilherme
de Figueiredo e Raymundo Magalhães Jr. e os três diretores
seriam, respectivamente, José Maria Monteiro, Bibi Ferreira e
Sérgio Cardoso.
E
m contrapartida, A Raposa e as Uvas, de Guilherme Figueiredo,
dirigida por Bibi Ferreira, cenário e figurinos de Anísio Medeiros,
foi aplaudida de pé no Teatro Municipal, numa das maiores ova-
ções já ouvidas num teatro de prosa.
Com
R
ecebeu o Prêmio de Melhor Ator Cômico de 1954 da Prefeitura
do Distrito Federal. Guilherme de Figueiredo escrevera inicial-
mente A Raposa e as Uvas para Procópio Ferreira que, entusias-
mado, a incluiu em seu repertório e convidou Sérgio para criar cenário
e figurinos. Chegou a iniciar os ensaios, mas, insatisfeito com o elenco,
desistiu de montá-la e a cedeu a Sérgio.
Em São Paulo, Villaret seria substituído por Manoel Durães e, numa única
apresentação na TV, por Procópio Ferreira.
Como Napoleão,
em Romance,
pela TV Record
E
m 1954, Adolfo Celi
convidou Sérgio para
participar, no TBC, de
um espetáculo em home-
nagem ao IV Centenário da
Cidade de São Paulo: Leonor
de Mendonça, de Gonçal-
ves Dias. Viveu o papel do
Alcoforado.
T
Com Rita Cléos
ambém no ano do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo, a
colônia italiana ofereceu um espetáculo: A Filha de Yorio, tragé-
dia pastoral de Gabriele D’Annunzio. Dirigida por Ruggero Jaco-
bbi e com numeroso elenco encabeçado por Cacilda Becker, Sérgio, eu,
Leonardo Villar, Dina Lisboa e mais vinte atores, foi apresentada durante
alguns dias no Teatro de Cultura Artística. Sérgio viveu o papel de Aligi.
Só existem fotos de ensaio.
C
om a Companhia Cacilda Becker apresentou-se na TV Record, no
Teatro Royal, em várias adaptações de contos e novelas dirigidos
por Ruggero Jacobbi.
T
ambém em 1954 foi fundada a Companhia Nydia Licia - Sérgio
Cardoso, que iniciou suas atividades no Teatro Leopoldo Fróes,
apresentando O Lampião, drama de Rachel de Queiroz, com cená-
rios e figurinos de Aldemir Martins, músicas folclóricas selecionadas pelo
cineasta Lima Barreto, direção do próprio Sérgio, que interpretava o pa-
pel principal. Com Araçary de Oliveira, Rubens de Falco, Leonardo Villar,
Carlos Zara. Para muitas pessoas foi essa a maior interpretação de Sérgio,
apesar da estréia ter sido bastante tumultuada na parte técnica.
Detalhe de Ziembinsky, na noite de estréia, maquiando Sérgio para o papel de Virgulino Ferreira
Com
Ara
Com Zaide Rassel, Leonardo Villar, Nydia Licia, Nieta Junqueira e Carlos Zara
S
ão dele os objetos de cena: coroas, cintos, medalhas em couro cru,
enfeitados com metal e pedras incrustadas. Essa era sua higiene
mental. À noite, depois dos ensaios, ficava trabalhando, enquanto
a cabeça fervilhava de idéias novas, de marcações a serem realizadas
no dia seguinte. Alguns exemplares hoje estão no Museu de Teatro em
Belém do Pará.
N
c
C
Na remontagem do espetáculo,
com Tarcísio Meira substituindo
Carlos Zara
O
Comício, comédia de Abílio Pe-
reira de Almeida, o autor pau-
lista de maior sucesso, estava
sendo escrita para Jaime Costa. Sérgio
decidiu levá-la e convidou o velho ator
para o papel do “demagogo candidato
preparando sua eleição para a gover-
nança do Estado“ (Abílio). Sérgio, irreco-
nhecível na caracterização do velho sírio, “a fisionomia, a máscara que
compõe, e na qual quase não o reconhecemos, revela logo o ator de
grande imaginação“. (Décio de Almeida Prado)
U
m admirador, ex-“gerarca” fascista, deu a Sérgio um presente
inusitado: a máscara mortuária de Pirandello, que havia trazi-
do da Itália ao mudar-se para o Brasil, após a II Guerra.
T
rês Anjos sem Asas, de Albert Husson,
com cenário de Clovis Garcia. Comédia
francesa, não foi elogiada pela crítica.
U
ma Cama para
Três, de Claude
Magnier, dire-
ção e cenário de Sérgio,
com Vera Nunes e Carlos
Zara, é um vaudeville
sem maiores pretensões,
mas bastante engraçado,
enfocando, como sugere
o título, um triângulo
amoroso.
S
érgio seguiu para Recife para participar, como convidado especi-
al, do Primeiro Congresso Brasileiro de Teatros do Estudante, or-
ganizado pelo Ministro Paschoal Carlos Magno onde, com a
presença do ator, foi feito o Julgamento da personagem Hamlet, com
participação de Juiz, Promotor, Advogado de Defesa e Jurados. Quem
assumiu a defesa foi o Dr. Evandro Lins e Silva e a acusação, o Dr. Carlos
de Araújo Lima.
N
ovamente na TV Record, a Companhia Nydia Licia - Sérgio Car-
doso apresentou, durante nove meses, o Grande Teatro
Mercedes Benz, com adaptações, sempre ao vivo, de peças, con-
tos e romances. Direção de Sérgio, Nydia e Wanda Kosmo.
E
m Nu com Violino, de Noel Coward, uma sátira à arte moderna, o
protagonista tem oportunidade de exibir seu histrionismo cos-
mopolita, atendendo telefonemas em 8 línguas diferentes. Desafio
de que Sérgio gostava muito.
Com Marina Freire, Rita Cléos, Ruthinéa de Moraes, Raimundo Duprat e Emanuele Corinardi
V
ê-se abaixo a espada que o ator português Eduardo Brazão, gran-
de intérprete de Hamlet, mandou fosse entregue, após sua
morte, ao ator brasileiro que mais admirava: Procópio Ferreira.
Procópio, por sua vez, a entregou a Sérgio, declarando, de público, con-
siderá-lo o maior ator de sua geração. Sérgio e Procópio, não obstante a
diferença de idade, sentiam grande respeito e admiração um pelo outro.
Que se transformou numa sólida amizade.
V
oltou a Salvador, a convite do Teatro da Universidade Federal
da Bahia, para interpretar Calígula, de Albert Camus, sob dire-
ção de Eros Martins Gonçalves, mas adoeceu gravemente tendo
de ser hospitalizado, e o espetáculo foi interrompido. Remontou-o mais
tarde em São Paulo, colaborando com a SAJE - Sociedade de Auxílio à
Juventude Estudantil.
E
m 1962, Cacilda Becker e Walmor Chagas o trouxeram de volta a
São Paulo para trabalharem juntos em dois espetáculos: A Ter-
ceira Pessoa, de Andrew Rosenthal, no Teatro Cacilda Becker, e A
Visita da Velha Senhora, de Friedrich Dürrenmatt, uma grande montagem
apresentada no Teatro Record, cujo palco era bem mais amplo. No elenco de
A Visita da Velha Senhora
A
inda se apresentou, no Teatro da Aliança Francesa, com um
belíssimo espetáculo-solo, em que viveu 25 personagens dife-
rentes: O Resto é Silêncio, direção e texto de sua autoria, reunin-
do sonetos e uma coletânea de monólogos de Shakespeare, ilustrados
com projeções de slides, confeccionados pelo Serviço de Documentação
da Universidade de São Paulo. Figurinos de época, acessórios, máscaras,
assinados por Sérgio. Tudo especialmente criado para o espetáculo. Foi
em homenagem ao quarto centenário do nascimento do poeta. Narra-
ção gravada por Sônia Oiticica, músicas extraídas da obra de Purcell e
Elgar, conterrâneos de Shakespeare; e solo de alaúde, por Maria Lívia
San Marco.
A
pós certa relutância, aceita o convite de Cassiano, mas com a
condição de que, se não ficasse satisfeito com o resultado, o
personagem seria suprimido e ele sairia da novela. Na época,
havia certa prevenção por parte dos atores de teatro em se apresentarem
em um tipo de trabalho que consideravam inferior. Além do mais, os
textos originais eram mexicanos e aqui eram traduzidos e adaptados, o
que colaborava para torná-los pouco verossímeis. O adaptador foi Wal- 131
E
várias homenagens de cidades do Interior do Estado, faixas,
estatuetas e placas de prata. Após os últimos cinco anos, em que
nada em teatro parecia ter dado certo, o reencontro com o suces-
so e a popularidade do começo de sua carreira foi-lhe proporcionado
justamente pela Televisão.
O
Preço de uma Vida, original cubano, dirigido por Henrique
Martins, ofereceu-lhe a possibilidade de criar um tipo mons-
truoso: o Dr. Valcour, cego de um olho e corcunda. Foi o pri-
meiro a usar uma lente de contato completamente branca, que causava
uma impressão terrível no vídeo, mas despertou o maior entusiasmo no
público telespectador. Sérgio havia se transformado em ídolo do grande
público; sua popularidade aumentava em nível nacional. Contracenava na
ocasião com uma jovem estreante, aluna de colégio. Era Nívea Maria.
V
eio em seguida Somos Todos Irmãos, adaptação de Benedito
Ruy Barbosa do livro A Vingança do Judeu, de R.W. Rochester,
dirigido por Wanda Kosmo, que teve grande aceitação. A atriz
Rosamaria Murtinho foi seu par. Para a nova criação usava lentes de
contato azuis, que modificavam inteiramente sua expressão.
O
Anjo e o Vagabundo foi a primeira novela brasileira que ele
protagonizou. De autoria de Benedito Ruy Barbosa, foi dirigida
por Geraldo Vietri e Wanda Kosmo. Trabalhou novamente com
Rosamaria Murtinho, vivendo o papel de um médico que se transforma
em mendigo. Outro sucesso. Paixão Proibida, de Janete Clair, novamente
reuniu Sérgio e Rosamaria, dirigidos por Geraldo Vietri.
S
érgio então voltou para a TV Tupi, onde o aguardava um persona-
gem que seria o seu maior sucesso: Antônio Maria.
P
aschoal Carlos Magno contou que um dia, ao sair com Sérgio,
uma senhora que passava pela rua se aproximou deles e, emocio-
nada, chamando-o Antônio pediu-lhe um autógrafo. Sérgio gen-
tilmente – como atendia a todos os fãs – assinou: “Antonio Maria”. E
acrescentou com um sorriso irônico e meio triste: “Ex-Sérgio Cardoso”.
A novela se tornou o maior êxito de Sérgio, não somente no Brasil, mas
até em Portugal. Condecorado com o título de Oficial da Ordem do In-
fante Dom Henrique, foi convidado a ir a Lisboa onde foi recebido pelo
Primeiro-Ministro Marcelo Caetano.
A
TV Globo convidou Sérgio para A Cabana do Pai Tomás,
adaptada por Hedy Maia do romance de Harriet B. Stowe. Sér-gio
que sempre quisera interpretar um negro, aceitou. Iniciaram-se
as gravações, mas o prédio, na Rua Sebastião Pereira, pegou fogo e todos
os cenários se queimaram. Por isso, foi preciso transferir-se para o Rio
de Janeiro. Sérgio trabalhou incessantemente, chegando até a dormir
no estúdio.
S
ua participação no filme Ângela, como um maestro regente, aca-
bou sendo eliminada na montagem final.
E
sboço do retrato de Hamlet, rea-
lizado pelo pintor Manuel
Constantino, no Rio de Janeiro.
O quadro ficou exposto na galeria do
Teatro Bela Vista e, após a morte de
Sérgio, foi entregue a Paschoal Carlos
Magno que o colocou na Aldeia de Ar-
cozelo, uma espécie de pousada para
estudantes de teatro. Agora está no
Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
D
urante sua curta carreira, que durou apenas 24 anos, ele foi
ator de teatro, cinema e televisão, diretor, produtor, cenógra-
fo, figurinista, aderecista, iluminador, tradutor, professor de
maquiagem, autor de textos para televisão, escritor de textos teatrais,
conferencista.
T
emos uma adaptação teatral de Brás Cubas, de Machado de As-
sis, inacabada; e uma grande quantidade de adaptações para TV,
entre as quais Hamlet, em formato de telenovela, e Os Incon-
fidentes, e vários teleteatros: A Marquesa de Santos, Lady Hamilton,
Obsessão, Iracema, de José de Alencar, e muitos outros.
Sérgio Cardoso viveu com uma intensidade além das forças humanas,
multiplicando-se em personagens e dando a cada uma parcelas de vidas
tiradas de seu próprio coração.
Não espanta que esse tenha esgotado tão cedo as suas energias. A notícia
de sua morte foi surpreendente para tantos amigos e admiradores. Teve,
no entanto, a lógica de um fim previsível em quem dava à sua arte tão
alta contribuição de inteligência e amor.
Austragésilo de Athayde
152
Nydia
149
Pude acompanhá-lo em outras ocasiões, vê-lo ao final de outros espetá-
culos e gravações, com o mesmo brilho nos olhos. Nesses momentos, ele
era uma pessoa especial, diferente.
Sylvia
(18/8/2002)
Anterior a 1945
Vítima do Dever (O escrivão)
Diretor: Pe. Moutinho
Colégio Santo Inácio
1945
Romeu e Julieta, de Shakespeare (Teobaldo)
Diretora: Esther Leão 155
Teatro Universitário
1948
Hamlet, Príncipe da Dinamarca, de Shakespeare (Hamlet)
Diretor: Hoffmann Harnisch
Teatro do Estudante do Brasil
1949
Hamlet, Príncipe da Dinamarca, de Shakespeare (Hamlet)
Diretor: Hoffmann Harnisch
Cenógrafo e Figurinista: Sérgio Cardoso
Teatro dos Doze
1950
Simbita e o Dragão, de Lúcia Benedetti (Simbita)
Produção: Raul Roulien
Secretaria da Educação e Cultura do Estado de São Paulo
1951
Seis Personagens à Procura de um Autor, de Pirandello (o Pai)
Diretor: Adolfo Celi
Teatro Brasileiro de Comédia
158 1954
Um Personagem no Ar e Romance
Produção, direção e interpretação: Sérgio Cardoso
Televisão Record de São Paulo
1955
O Homem da Flor na Boca, de Pirandello (homem da flor na boca)
Diretor: Ziembinski
Pen Club do Rio de Janeiro
Tv Tupi de São Paulo
1956
Hamlet, Príncipe da Dinamarca, de Shakespeare (Hamlet)
Diretor: Sérgio Cardoso
Companhia Nydia Licia - Sérgio Cardoso
1958
O Casamento Suspeitoso, de Ariano Suassuna (Cancão)
Diretor: Hermilo Borba Filho
Companhia Nydia Licia - Sérgio Cardoso
160
Uma Cama para Três, Claude Magnier (Cláudio Masure)
Diretor e Cenógrafo: Sérgio Cardoso
Companhia Nydia Licia - Sérgio Cardoso
1959
Nu, com Violino, de Noel Coward (Sebastien)
Diretor: Sérgio Cardoso
Companhia Nydia Licia - Sérgio Cardoso
1960
Quando as Paredes Falam, de Ferenc Molnar (Turay)
Companhia Nydia Licia - Sérgio Cardoso
1961 161
Um Estranho Bate à Porta
Diretor: Sérgio Cardoso
Companhia Morineau
1962
Os Caminhos da Medicina (Personagens diversos)
Televisão Excelsior de São Paulo
1964
Gog e Magog, de Mac Dougall e Ted Allan (Júlio e Davi)
Diretor: Alberto D’Aversa
Teatro Brasileiro de Comédia
1966
Calúnia, de Talma de Oliveira (Guilherme)
Diretora: Wanda Kosmo
162
Televisão Tupi de São Paulo
1967
A Madona de Cedro, filme (O Sacristão)
Diretor: Carlos Coimbra
1970
Os Herdeiros, filme (Chefe político da época getulista)
Diretor: Cacá Diegues
Argumento: Arnaldo Jabor
Produtores: Luis Carlos Barreto e Jarbas Barbosa
Roteiro: Davi Neves
1972
O Primeiro Amor, de Walter Negrão (Professor Luciano)
Diretor: Régis Cardoso
Rede Globo de Televisão
A presente obra conta com diversas fotos, grande parte de autoria identificada e, desta forma,
devidamente creditada. Contudo, a despeito dos enormes esforços de pesquisa empreendidos,
uma parte das fotografias ora disponibilizadas não é de autoria conhecida de seus organizadores,
fazendo parte do acervo pessoal do biografado. Qualquer informação neste sentido será bem-
vinda, por meio de contato com a editora desta obra (livros@imprensaoficial.com.br/ Grande
São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109 / Demais localidades 0800 0123 401), para que a autoria das
fotografias porventura identificadas seja devidamente creditada.
Série Cinema
Bastidores – Um Outro Lado do Cinema
Elaine Guerini
Série Crônicas
Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças
Maria Lúcia Dahl
Série Dança
Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal
Sérgio Rodrigo Reis
Série Perfil
Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo
Tania Carvalho
Arllete Montenegro – Fé, Amor e Emoção
Alfredo Sternheim
Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros
Rogério Menezes
Bete Mendes – O Cão e a Rosa
Rogério Menezes
Betty Faria – Rebelde por Natureza
Tania Carvalho
Carla Camurati – Luz Natural
Carlos Alberto Mattos
Celso Nunes – Sem Amarras
Eliana Rocha
Cleyde Yaconis – Dama Discreta
Vilmar Ledesma
David Cardoso – Persistência e Paixão
Alfredo Sternheim
Denise Del Vecchio – Memórias da Lua
Tuna Dwek
Elisabeth Hartmann – A Sarah dos Pampas
Reinaldo Braga
Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida
Maria Leticia
Etty Fraser – Virada Pra Lua
Vilmar Ledesma
Ewerton de Castro – Minha Vida na Arte: Memória e Poética
Reni Cardoso
Geórgia Gomide – Uma Atriz Brasileira
Eliana Pace
Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar
Sérgio Roveri
Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema
Maria Angela de Jesus
Ilka Soares – A Bela da Tela
Wagner de Assis
Especial
Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso
Wagner de Assis
Beatriz Segall – Além das Aparências
Nilu Lebert
Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos
Tania Carvalho
Cinema da Boca – Dicionário de Diretores
Alfredo Sternheim
Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira
Antonio Gilberto
Eva Todor – O Teatro de Minha Vida
Maria Angela de Jesus
Eva Wilma – Arte e Vida
Edla van Steen
Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira
Álvaro Moya
Lembranças de Hollywood
Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim
Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida
Warde Marx
Licia, Nydia
Sérgio Cardoso : imagens de sua arte / um roteiro icono
gráfico organizado por Nydia Licia – São Paulo : Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo, 2004.
180p. : il. (Coleção aplauso. Série especial / Coordenador
geral Rubens Ewald Filho)
ISBN 85.7060.2510
CDD – 792.09881