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Os Quatro
Cantos
Sagrados
Cartilha de Aprendizagem
de Saberes Tradicionais
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NÚCLEO SC
Os Quatro
Cantos
Sagrados
Cartilha de Aprendizagem
de Saberes Tradicionais
Organizadores
Daniel Timóteo Martins
Hyral Moreira
Florianópolis 2018
UFSC | SED SC | SECADI/MEC
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina
Expediente
Coordenadora da ASIE Maria Dorothea Post Darella Professores cursistas Aline Antunes Moreira
Núcleo SC Adailton Moreira
Celita Antunes
Supervisora Clarissa Melo Daniel Timóteo Martins
Fabrício Mil Homens Riella
Victoria Alvim Ismael de Souza
Formadoras
Tainá Lima Orsi Márcia Antunes
Colaboradora Ana Maria Ramo Gennis Martins Timóteo
Santiago Oliveira
Wendefly de Freitas e Silva
Orientador de Estudos Hyral Moreira
Diretor da Escola Richard Thibes Sarmiento
Projeto Gráfico e Tainá Dietrich Santiago
Diagramação da Fontoura Cacique Hyral Moreira
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Ore nhomboea kuery escola Whera Tupã Poty Dja pygua rogue-
rowya kowa’e mba’eapo. Koawa’e mba’eapo ma irundy mborai
regua.
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INTRODUÇÃO
É com enorme satisfação que estamos apresentando a cartilha
referente ao projeto Ação Saberes Indígenas na Escola. Nesta eta-
pa, trabalhamos com quatro cantos que nos informam um pouco
mais sobre o infinito universo dos saberes ancestrais Guarani.
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sores e alunos de cada disciplina trabalharam de acordo com
sua interpretação. Dessa maneira, a investigação dos saberes
indígenas presentes nos cantos aflorou de forma sublime e foi
traduzida em atividades propostas pelos professores, de acordo
com uma pedagogia indígena que remete a Paulo Freire e sua
Pedagogia do Oprimido.
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Estudando os cantos sagrados dessa maneira estamos não só
revitalizando esses saberes ancestrais Guarani como também
criando um trabalho que servirá de modelo de material didáti-
co para futuros professores desta e de outras escolas indígenas.
Esta cartilha aborda questões próprias da tradição Guarani e
também cria paralelos com os saberes científicos dos não indí-
genas. Nesse ponto, o objetivo desse trabalho é que os pontos
de partida para a abordagem dos conhecimentos científicos se-
jam os saberes indígenas. Há uma grande carência desse tipo
de material. Portanto, esta cartilha é uma tentativa de atender
à constante reclamação da educação indígena com relação à
utilização de livros didáticos convencionais, os quais, em sua
maioria, não fazem sentido algum dentro da visão Guarani.
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TRABALHANDO OS QUATRO CANTOS
Esta cartilha tem como característica fundamental a multidisci-
plinaridade. A partir dos quatro cantos, abre-se um rico leque
de possibilidades de abordagem pedagógica. Os cantos e textos
presentes neste livro podem ser trabalhados por todas as disci-
plinas, desde Ciências até Filosofia, inclusive simultaneamente.
Abaixo indicamos algumas direções que podem ser tomadas,
não excluindo outras que venham a surgir de acordo com a
criatividade.
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NHAMANDU MIRIM
Nhamandu mirim
Oguatá mavy
Nhande mopuã idjevy (2x)
Pawein djawya iavã (2x)
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MAMO ETEGUA
Mamo etegua
Nhanderu nhandetchy
Oetcha awã
Djadjerodjy djaporai
Djopiwei
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NHANDE KA’AGUYRE
Nhande ka’aguyre djareko vaekue
Yva’a porã nhandevy warã
Eta va’e kuery omokanhymba
Nhanderu mirim oedja vaekue
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NHANDE MBYA KUERY MA
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SUGESTÃO
DE TEMAS
IMPORTANTES
(CENTRAIS OU CHAVE)
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A cosmovisão do Guarani está ligada com a conexão entre a
terra, os seres Guarani e as divindades. Através do canto-dança,
conseguimos essa conexão.
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Yvyrupa (território Guarani)
O território Guarani se estende por quase toda a América do
Sul, em diversos países. Esse povo mítico e guerreiro ainda vive
e resiste em meio a tantas políticas de extermínio, implemen-
tadas pelos Estados através dos tempos com o intuito de con-
quistar nossos territórios. Nesse conceito de resistência, o povo
Guarani ainda consegue manter a sua voz, a sua língua, a sua
tradição, a sua espiritualidade e a sua cultura.
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O Nhandereko
O Nhandereko é o sistema de vida tradicional Guarani que en-
volve toda a relação com o meio sociopolítico, o território, a
cosmologia e a espiritualidade do ser Guarani. Nas aldeias, o
Guarani tem a sua vida tradicional, através dos ensinamentos
dos mais velhos e da Casa de Reza, o Opy. Ele consegue ter uma
educação mais espiritualizada e humanizada, mantendo assim
um contato e uma relação afetiva com as tradições, com os cos-
tumes e com a natureza.
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Nhande ka’aguyre
A mata para o Guarani é fonte de saúde e educação corporal, pois
ali está também localizada uma forma de educação tradicional:
o conhecimento sobre as ervas medicinais. Os Guarani sempre
tiveram esse tipo de conhecimento, pois é nele que estão os
segredos para a saúde do corpo. Muitas dessas ervas medicinais
ainda são cultivadas.
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Canto-dança: a música e a espiritualidade Guarani
O canto-dança para o Guarani é uma forma de expressão
corporal que envolve todos os sentidos do ser humano.
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Exercícios propostos
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TRABALHANDO
A CONTAÇÃO DE
HISTÓRIAS
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Parai, a história da índia branca
Uma noite o xeramoĩ da aldeia veio em sua casa fazer uma vi-
sita. Como era de costume, sentou na roda do fogo e pegou seu
petynguá: teve uma grande visão, disse a eles que a criança que
estavam esperando iria mudar a forma de ser Guarani e iria
trazer grandes mudanças. Ficaram todos assustados, mas, com
o passar do tempo, foram esquecendo.
Com o tempo, Parai soube que a sua vinda para a terra era para
avisar que iriam vir pessoas de outras raças e povos. Ela cres-
ceu e teve um filho chamado de Karai Popygua. Ele também era
branquinho como as águas dos rios, e também veio para mudar
a história dos Guarani.
A lenda do Avatchi
Parai, já uma senhora idosa, pediu para que ele a levasse para
a praia: lá ficaram rezando de madrugada. Acreditem vocês ou
não, eles ouviram um som alto de trovão, e, na água, através
das brumas, avistaram um barco. Nele vinha um índio que ela
esperava. Então se despediu de Popygua e entrou naquele barco,
rumo às estrelas, ou à Terra sem Males. Mas essa também é uma
outra história que contavam os mais velhos, alguns ainda sabem.
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Karaí e os segredos do sol
Essa história, inspirada no canto
Nhamandu Mirim, foi escrita por um
professor djuruá, da disciplina de Ci-
ências. Baseado em sua experiência
como professor de escola indígena
por cinco anos, ele tenta, através da
história, criar um paralelo entre o
conhecimento indígena e o conheci-
mento científico. Para isso, escreveu
um conto que tem como personagem
principal um índio Guarani:
Serviu-se de mate mais uma vez, a água já não estava tão quen-
te. Foi até a cozinha, com cuidado, para não fazer barulho,
colocou a chaleira sobre as brasas e carregou mais uma vez
seu petynguá. Voltando para o banquinho, Karaí se depara com
um pé de fumo, bem na sua frente. Observou suas largas fo-
lhas voltadas para o sol, como se o petym estivesse louvando o
pai dos seres vivos. E talvez o estivesse, pensou ironicamente.
Aquele pé de fumo o fez retomar seu pensamento sobre o calor
do sol, então, uma ideia veio como uma flecha e o encheu de
clareza. As plantas se alimentam da luz do sol! É claro! Por
isso elas não precisam andar por aí como os animais, por isso
aquela infinidade de folhas voltadas para o céu. Nhanderu fez
tudo perfeito, Ele não desperdiçaria todo esse calor, toda essa
energia. Criou as plantas para que elas se alimentassem dessa
luz e depois servissem de alimento, elas próprias, para outros
seres vivos que não conseguem fazer isso. Tudo aquilo que o
tcheramói dissera começava a fazer sentido.
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Como é o nosso
mundo Guarani
O mundo Guarani é regido pelo misticismo e envolvido pela
religiosidade. É um mundo onde tudo possui vida e grande va-
lor na natureza. A vida dos Guarani é vigiada pelos deuses das
quatros direções do mundo, porque para cada canto do univer-
so existe um deus tomando conta dos seres vivos e abençoando
cada passo dado na terra. Os deuses e os espíritos observam a
vida na Terra e nos protegem de todo mal. Em agradecimento a
eles pela proteção divina, o Guarani canta canções que chegam
até os espíritos, alegrando seus corações.
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Nas cerimônias sagradas, os rituais são feitos em favor dos deu-
ses em agradecimento pela boa colheita, pelo nascimento de
uma criança, pelo alimento de cada dia, pela vida, cada coisa
boa que acontece é um motivo para agradecer aos deuses. As-
sim, eles fornecem forças espirituais para a alma, para que o
povo Guarani enfrente com tranquilidade as lutas que são obri-
gados a enfrentar. Com seus poderes divinos, eles abençoam
cada ser da Terra. É importante que o povo Guarani agradeça
aos deuses com canções que venham do fundo da alma, que
cantem com toda força do coração para que a música se torne
uma forma de alimento oferecido aos deuses.
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Os grandes espíritos estão em todos os lugares olhando pelo
Guarani, observando seus atos na Terra, julgando seu compor-
tamento e cuidando para que os maus espíritos não tomem con-
ta de sua alma. Em cada lugar, em todos os momentos, há um
espírito guiando os passos de cada ser humano. Os espíritos
se fazem presentes em cada ser vivo que nos rodeia, estão nas
plantas, na água, nos raios de sol, na chuva, em todos os luga-
res. Por isso dizemos que tudo é sagrado. Até mesmo a terra faz
parte do nosso mundo sagrado.
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Mãe Terra cuidando dos seres vivos:
A terra como principal elemento sagrado
A terra é nossa verdadeira mãe, de onde tiramos o sustento. É
ela quem nos alimenta a todo o momento, não nos deixando pe-
recer. Somos gratos a ela pelo ar que respiramos, pela água que
bebemos, pela vida que ela nos fornece. Os jurua vêem nossa
mãe apenas como um pedaço de terra sem vida, mas nós con-
seguimos enxergar muito além, conseguimos ver sua alma, seu
espírito. Ela merece respeito, merece ser cuidada, ser amada e
receber o devido agradecimento pelo sustento que ela nos dá.
Exercícios de História:
a) Diga qual instrumento ela tem na mão e fale o que você sabe
sobre esse instrumento.
MAN RIM MI
DU NHA
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MAMO ETEGUA
Mamo etegua
Nhaderu Nhandetchy
Oetcha awã
Djadejerody djaporai
Djopiwei Djopiwei
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Exercícios de Artes:
Para cantar Mamo Etegua, os Guarani da aldeia de Biguaçu uti-
lizam instrumentos para acompanhar a música: rave, mbaraka,
mbaraka mirim e angu’apu. Que tal você desenhar esses instru-
mentos e comentar sobre cada um deles?
Pesquise uma história ou música com seus pais ou seus avós que
fale de Nhanderu ou Nhamandu Mirim e depois conte aos seus
colegas e ao seu professor na sala de aula o que você aprendeu.
Educação Corporal
Os cantos e as danças são uma forma de educação corporal que
usamos para fortalecer o corpo, a mente e o espírito. A partir
dessa concepção, nós Guarani conseguimos fazer disso uma re-
alidade em nosso meio, que vivenciamos no nosso cotidiano.
As pinturas, as brincadeiras, os jogos: tudo faz parte de um
mesmo sistema de aprendizagem que o Guarani utiliza para
interagir com as crianças e jovens.
a)
b)
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2. Uma pessoa fica na frente da sala e os outros alunos fi-
cam atrás. A pessoa que fica na frente cria a coreografia
ou os gestos, e os outros têm que acompanhar fazendo
os mesmos movimentos. Se alguém errar ou não fizer os
movimentos corretamente terá que cumprir alguns desa-
fios, tais como: imitar um macaco, imitar um galo, imi-
tar um sapo, pular dez vezes, contar uma piada ou girar
cinco vezes.
NHAMANDU MIRIM
Nhamandu mirim
Oguata mavy
Nhenemopuã edjevy
Pavei djavy`ai awã
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3. Recortar:
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ANOTAÇÕES:
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ANOTAÇÕES:
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ANOTAÇÕES:
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