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Nos últimos anos estudos sobre resiliência que tem levado em conta a análise de
condições multifatoriais para chegar a conclusões do por que algumas pessoas
sucumbem a situações de adversidade, e outras não, mostram o equívoco de análises
que se baseiam somente em características individuais como fatores de
enfrentamento e superação de situações de tensão. Levar em conta também os
fatores comunitários, culturais, ambientais e genéticos facilita a abordagem nos
estudos sobre resiliência, bem como a intervenção como promoção de possibili dades
de enfrentamento (coping), tirando das costas do indivíd uo a responsabilidade única
pelo sucesso ou insucesso na superação das situações de adversidade.
Rutter (RUTTER, 2007 p. 494) aponta que os genes não operam em apenas um
caminho, situando quatro pontos dessa questão: primeiro, os genes que afetam E
(meio ambiente) podem não ser os mesmos que fornecem o principal efeito sobre o
transtorno principal; e o G (fatores genéticos) que carrega o risco de P (fenótipo
psicológico) pode não ser o mesmo G que cria a susceptibilidade para E (meio
ambiente); segundo, o efeito precisa estar somente (ou principalmente) no ambiente
de criação; terceiro, existem algumas circunstâncias em que pode haver transmissão
intergeracional de experiências adversas maternas, um efeito que servirá para simular
a transmissão genética; e quarto, assume-se que a interação gene-meio ambiente
passiva (considerada puramente genética) envolve riscos ambientais que afetam todas
as crianças da mesma forma.
Futuras pesquisas sobre resiliência com bases biológicas terão o desafio de tentar
relacionar a plasticidade neural a fenômenos particulares de comportamento,
tentando encontrar associações entre comportamentos e alterações específicas nos
processos neurais, provocadas por fosforilação e expressão de genes. Para isso, é de
suma importância que as investigações sobre os correlatos e determinantes
de adaptação resiliente comecem a incorporar métodos de genética molecular e
neurobiológicos em suas ferramentas de medição predominantemente psicológicas.
Por exemplo, postular se algumas das dificuldades apresentadas por pessoas que
sofreram adversidades significativas em suas vidas são irreversíveis, ou se existem
períodos sensíveis particulares, quando é mais provável que a plasticidade neural e
comportamental ocorra. Embora o debate continue em torno da veracidade dos
modelos da intereção gene-meio ambiente, e futuros estudos são necessários antes
que essas hipóteses possam ser definitivamente confirmadas, existem fortes
indicações de uma associação direta entre variações genéticas e consequências na
saúde mental (KIM-COHEN & GOLD, on line, p. 4).
Por fim, é necessário lembrar que não há garantias de que mesmo crianças de lares
amorosos irão desenvolver resiliência de forma tranqüila. Certas crianças podem
nascer com uma grande capacidade para resiliência, em oposição a outros jovens que,
mesmo quando providos de amor, uma boa educação e atividades comunitárias,
podem debater-se com situações típicas de adversidade. Por exemplo, crianças
defrontadas com problemas como depressão, ansiedade e dificuldades para
aprendizagem, todos com uma forte base biológica (genética), travarão uma grande
luta para se tornarem resilientes. Não é que biologia seja destino, mas ela tem uma
grande influência no desenvolvimento da criança.
BIBLIOGRAFIA
BROOKS, R., GOLDSTEIN, S. Nurturing resiliente in our children, McGraw Hill, NY, 2003;