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Eraserhead é o primeiro longa-metragem de David Lynch e uma de suas primeiras

parcerias com o designer de som Alan Splet. A dupla traduz de maneira sonora a
atmosfera de mal-estar na vida comum de moradores de bairros decadentes de grandes
cidades (como o protagonista Henry Spencer), com um rumor incessante, seja de sons
industriais (sirenes, máquinas etc), seja do som da ventania em sequências no quarto do
protagonista, além do uso em vários momentos de música preexistente de órgão de Fats
Waller, suave demais para esse ambiente, como observa Chion (em livro sobre Lynch
de 1992), promovendo um contraste perturbador. Com pouquíssimos diálogos, o filme
também já revela o gosto do diretor por canções: em meio à crise no casamento com
Mary X, Henry Spencer sonha que dentro de seu aquecedor há um pequeno palco, onde
uma sorridente moça de estilo anos 50 e rosto deformado não só dança ao som da
música de Fats Waller como também canta a peça de irônico título “In Heaven”
(composta por Peter Ivers). Para Chion, nasce aí um conceito musical lynchiano: a
sensação dos solos de voz e de instrumento como desnudos, “tiritando no vazio”.
Quanto a outro elemento visual e sonoro essencial, o bebê-monstro de Henry e Mary, o
modo como foi criado é um segredo guardado por Lynch a sete chaves.

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