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(Organizadores)
1ª edição
Xinguara-PA, 2021
© Bruno Silva & Anna Coelho (Organizadores) 2021.
ISBN 978-65-993583-4-0
CDU 355.233.1:93/94
E59
Apresentação 7
PARTE 1
ENSINO DE HISTÓRIA: NARRATIVAS, REVISIONISMOS E
NEGACIONISMOS
Capítulo 1
História, narrativa e ensino: um campo de disputas 16
Erinaldo Cavalcanti
Capítulo 2
A prática docente frente ao uso da Internet ou De como ensinar
História diante dos revisionismos negacionistas 31
Alisson Lião
PARTE 2
MEMÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA NA AMAZÔNIA
Capítulo 3
Memórias do autoritarismo e o ensino de História: dramaturgia,
teatro e literatura em perspectiva 48
Arcângelo da Silva Ferreira & Heraldo Márcio Galvão Júnior
Capítulo 4
Jacundá digital: memória, cidade e Ensino de História 78
Dulcirene Valente Neta & Anna Carolina de Abreu Coelho
Capítulo 5
A Guerrilha do Araguaia entre a História e o ensino no Sul e
Sudeste do Pará: algumas considerações 97
Henildes S. Almeida Junior & Andrey Minin Martin
PARTE 3
O ENSINO DE HISTÓRIA EM PERSPECTIVA: TEORIAS E MÉTODOS
Capítulo 6
O ensino de História na 7ª Conferência Internacional Americana (1933) 116
Alexandre Guilherme da Cruz Alves Junior
Capítulo 7
A disciplina Estudos Amazônicos no contexto paraense:
o que deve conter na discussão regional? 138
Davison Hugo Rocha Alves
PARTE 4
HISTÓRIA LOCAL NO ENSINO DE HISTÓRIA
Capítulo 8
Ensino de História no Ensino Fundamental I na cidade de Xinguara/
PA: entre desafios, perspectivas docentes e manuais didáticos 158
Candida Lisboa Belmiro
Capítulo 9
Reflexões sobre a trajetória do ensino de História para os povos
indígenas 185
Ronny Pyterson Romano dos Santos
PARTE 5
ENSINO DE HISTÓRIA E TECNOLOGIAS
Capítulo 10
Ensino de História e Cinema: a Lei 13.006/14 e suas
possibilidades para a Educação Básica 204
Marcelino A. da Silva Assis & Andrey Minin Martin
Capítulo 11
Ensino de história: pelas ondas do rádio nas décadas de 1930 e
1940 ao uso de podcast na atualidade 225
Valéria Moraes
APRESENTAÇÃO
O
projeto de organização do presente livro digital nasceu das
nossas reflexões a respeito dos desdobramentos da pandemia
de Covid-19, que se alastrou pelo mundo no ano de 2020.
Foi pensando no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ensino
de História da UNIFESSPA, o PROFHISTÓRIA. Diante da situação
alarmante que atacou o país e, especialmente, a região amazônica,
em março do ano passado precisamos interromper o curso presencial
bem como todas as atividades referentes ao Programa. Foi um começo
desanimador. Era nossa primeira turma, com 14 alunos matriculados,
com disciplinas preparadas e uma recepção com evento que reuniria
docentes e discentes de diferentes instituições e instâncias acadêmicas.
A pandemia parou a terra; nosso mestrado também ficou paralisado.
O que faríamos dali para a frente?
Reuniões e mais reuniões para buscar uma saída. Nossos dis-
centes, todos professores do Ensino Básico em diferentes instituições
do norte do país, nos apoiaram, desde o momento inicial, na busca por
uma saída que mantivesse o contato entre nós, docentes do Programa, e
todos eles. Em maio de 2020, após muito diálogo – com apoio primor-
dial da Pró-Reitoria de Pesquisa da UNIFESSPA (PROPIT) – voltamos
ao trabalho no mestrado, em sistema de ensino remoto. Em uma estru-
tura pensada para atender da melhor maneira possível as demandas dos
nossos discentes, nos deparamos, enfim, com mais um desafio imposto
pela pandemia, ou seja, ministrar disciplinas, avaliações e o desenvol-
vimento de dissertações usando tecnologias e metodologias que, geral-
mente, nunca foram prioritários na lida do ensino de História, muito
embora não fossem desconhecidos de parte considerável dos profissio-
nais, principalmente dos docentes do Ensino Básico.
Frente aos desafios diariamente enfrentados pelos nossos mes-
trandos e por nós mesmos na academia, ou seja, o uso do livro didático, a
questão da Base Comum, a utilização das tecnologias, o debate a respeito
Os organizadores
Erinaldo Cavalcanti2
I
maginemos a seguinte cena: um/a professor/a entra na sala de aula e
começa a explicar o conteúdo programado de sua disciplina. Poucos
minutos depois, um/a aluno/a questiona o professor e diz que viu
em seu celular um vídeo cuja narrativa é diferente da apresentada por
ele. Esse é um cenário cada vez mais comum nas escolas da Educação
Básica. O artigo tem como objetivo analisar alguns dos procedimentos
metodológicos pelos quais a narrativa histórica é produzida como uma
opção para enfrentar as diferentes disputas narrativas sobre o passado
ensinado em sala de aula.
Sabemos que o passado se tornou um instrumento de disputa e
objeto de uma verdadeira “guerra de narrativas” como destaca Chris-
thian Laville (1999). Sabemos que nossos alunos atualmente têm aces-
so a diferentes ferramentas que oferecem diferentes narrativas sobre o
passado. Com o aumento do acesso a plataformas, site e aplicativos de
interação, os alunos começam a consumir um grande e diversificado
número de narrativas sobre o passado histórico. Nesse sentido, parece
que as disputas narrativas em sala de aula também passam pela disputa
sobre quais passados acessam e, sobretudo, como são validados e re-
conhecidos como legítimos e confiáveis. Assim, parece-me que focar
a atenção na narrativa, como foco de análise no ensino de História, é
1
Este texto é uma versão alterada do artigo originalmente publicado em espanhol: Historia,
narrativa y enseñanza: um campo de disputas. Revista Iber — Didáctica de las Ciencias So-
ciales, Geografía e Historia, n. 101, p. 69-74, 2020.
2
Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em História (UNIFESSPA)
Há uma significativa produção acadêmica que tematiza o livro didático como ferramenta de
3
trabalho docente na sala de aula. Sugere a leitura de Abud (2007); Miranda e Luca (2004) e
Oliveira e Stamatto (2007).
Há uma vasta e importante quantidade de referências sobre o PNLD como objeto de reflexão
4
para se problematizar o livro didático de História. Nesse sentido, sugere-se a obra produzida
e organizada por Rocha, Reznik e Magalhães (2017), Caimi (2018) e Munakata (2012).
Considerações finais
ABUD, Kátia Maria. A história de cada dia: saber escolar e saber aca-
dêmico na sala de aula. In: MONTEIRO, Ana Maria; GASPARELLO,
Arlette Medeiros; MAGALHÃES, Marcelo de Souza (Org.) Ensino de
história: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
CAIMI, Flávia Eloisa. Sob nova direção: O PNLD e seus desafios fren-
te aos novos contextos político-educativos emergentes. Revista História
Hoje, v. 7, nº 14, p. 21–40, 2018.
Alisson Lião1
R
ecentemente, durante aula em uma turma do Ensino Médio,
introduzi o tema da Shoah. Na ocasião, em meio aos debates,
um aluno se manifestou destacando que a posição apresentada
por mim ia de encontro a outras fontes de conhecimento; a saber, no
caso em questão, uma página da internet a qual ele teria acesso – Me-
tapedia –, que deslocava a temática em tela para uma outra linha in-
terpretativa. Ou seja, de que haveria exageros no que tange aos dados
sobre a Shoah e quanto ao papel dos nazistas no genocídio.
Diante do apresentado – e ao verificar as informações e perce-
ber que a fala do meu aluno possuía respaldo; ou seja, o site realmen-
te existia –, um conjunto de questões me vieram à cabeça: primeiro,
como a assim chamada História do Tempo Presente nos coloco face
a face com um campo metodológico que se propõe a dar a história
novos caminhos e abordagens para os problemas do nosso tempo, que
faz referência a uma espécie de passado que é atual ou que se atuali-
za. Desta feita, o regime de historicidade do tempo presente possui
dimensões particulares, por exemplo: as tensões de curto prazo, ex-
periências ainda vivas, apontando um sentindo de tempo provisório;
com sujeitos ainda vivos e ativos; produções de fontes históricas em
formação (DELGADO; FERREIRA, 2013).
1
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de História, PROFHISTÓRIA/UNI-
FESSPA.
Introdução à História da Internet. Cadernos do Tempo Presente. Edição número 04, 2011.
Disponível em: http://www.seer.ufs.br/index.php/tempo/article/view/2721/2374. Acesso em
28/06/2016 às 16 horas e 14 minutos. (SILVA, 2017).
4
Para mais informações sobre o significativo crescimento das plataformas digitais:
https://veja.abril.com.br/educacao/pandemia-transforma-plurall-na-maior-plataforma-
de-ensino-digital-do-pais/. Acesso em: 09/07/2020 às 18 horas e 40 minutos.
5
Há, sim diferenças estruturais entre as formas de apresentação (RÜSEN 2007a) leigas
(quer exclusivamente narrativas, quer anedóticas) e as formas de apresentação acadêmicas
[complexas, que buscam fazer sentido do passado como história por meio da intelecção e de
um conjunto de protocolos intersubjetivamente regulados pela crítica (RÜSEN 2001; 2007b)];
(MALERBA, 2014, p.43).
6
Esse é um movimento que no Brasil, possivelmente, tem em seu maior expoente de alcance
digital o professor da UNICAMP Leandro Karnal.
Considerações finais
Referências
SCHURSTER, Karl. Ver e não ver: por uma história do Tempo Presente.
Rio de Janeiro: Revista Eletrônica Boletim do Tempo, ano 04, nº 09, 2009.
[ISSN 1981-3384].
É
consenso que o historiador e o professor de história trabalham
com múltiplas temporalidades (RÜSEN, 2001) e isso torna-se
mais amplo quando estes se prestam a analisar fontes artísticas
como a dramaturgia, o teatro e a literatura. Tais produções culturais,
além de poderem revelar a ótica de seu autor em relação às discussões
estéticas de seu tempo, sua visão de mundo, de sociedade, conflitos po-
lítico-sociais, costumes, economia e cultura, podem indicar a maneira
pela qual as memórias foram construídas e cristalizadas, seja em obras
inéditas ou adaptações. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é for-
necer subsídios sobre o uso da dramaturgia, do teatro e da literatura no
ensino de história a partir de discussões sobre a memória. Nesta em-
preitada, a temática do autoritarismo e da ditadura, tão em voga atual-
mente nas mídias e nas redes sociais, ganha relevo na medida em que
se faz necessário, tanto em âmbito acadêmico quanto no ensino básico,
discutir conceitos e preconceitos que avultam em diversas esferas.
Segundo Circe Bittencourt (2008), assim como os historiadores
das universidades, os professores de história do ensino básico também
se defrontam com conceitos e categorias. Para ambos, uma das tarefas
Docente efetivo da Universidade do Estado do Amazonas.
1
3.2 “[...] sem a memória dos outros eu não poderia escrever” (HATOUM,
2017, 71)
narrativas, por si só, já sugere essa implícita percepção de Hatoum sobre o saber histórico.
Saber que, também, se faz entre fissuras, fragmentos e silêncios deixados no tempo.
8
Jornal do Comércio. “Um ano de governo Jorge Teixeira”. Manaus – quinta-feira, 15 de abril de
1976, p.1.
No Amazonas, na sua capital, isto é permanente. Testemunho histórico desta continuidade pode
9
Isto parece uma ironia barata. Contudo, não é. Pois torna-se um indício significativo da acep-
12
ção de história do escritor amazonense. Esse pequeno fragmento localiza Hatoum como um
contundente crítico da história como mestra da vida, por exemplo, elucidando que, sua nar-
rativa se aproxima da perspectiva da história vista de baixo. Daí ele, elucidar o Outro, este
anônimo da História oficial. Nessa medida, não deixando de considerar que literatura almeja
a verossimilhança e, a história, a busca da verdade, é possível dizer que a obra de Hatoum é
profusa para se pensar e fazer um saber relativo à perspectiva da história social da cultura.
Portanto, não sem sentido, Mundo, através do narrador Lavo (Cinzas do Norte), e, por exten-
são, do escritor-criador, Milton Hatoum, tem um propósito ao ironizar as peculiaridades da
personagem Heródoto: sugerir uma ferrenha crítica a história laudatória.
Referências
GALVÃO JÚNIOR, Heraldo Márcio. Quem não pode morder, não mos-
tra os dentes: modernistas e antropofágicos entre São Paulo e Belém do
Pará nos anos 1920. Tese (Doutorado em História). Belém: UFPA, 2020.
HATOUM, Milton. Dois irmãos. São Paulo : Companhia das Letras, 2006.
A
fim de dar continuidade às reflexões propostas pela discente
do Mestrado Profissional em Ensino de História-Profhistória,
Dulcirene Valente Neta, optamos por explorar a temática e re-
gistrar nossas discussões através deste artigo de forma que alguns pon-
tos, antes apresentados por meio de uma comunicação no XII Encontro
de História da Anpuh-PA, foram ampliados e reorganizados.
4
O parágrafo aborda de forma geral o teor de depoimentos colhidos na feitura da monografia
de conclusão de curso de graduação em História de Dulcirene Valente Neta intitulada “A
Terra da Intromissão: Experiências Sociais na remoção da cidade de Jacundá (1980-1990)”.
Considerações finais
5
As especificações sobre o Laboratório de Games Educativos (LAGE) da Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Pará podem ser encontradas na página: https://lage.unifesspa.edu.br
O
processo brasileiro de abertura política, ocorrido no início da
década de 1980, representou um dos momentos mais signi-
ficativos na democracia contemporânea, e marcou um duplo
movimento: o findar de um dos períodos mais emblemáticos de nossa
história e o início de um revisionismo que marca as trincheiras de deba-
tes políticos e sociais em diferentes espaços na atualidade.
E dentre a miríade de eventos latentes ocorridos na ditadura
miliar , a Guerrilha do Araguaia ainda suscita debates e interpretações,
3
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de História PROFHISTÓRIA/UNI-
FESSPA.
2
Docente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
3
Na atualidade, podemos encontrar uma diversidade de terminologias utilizadas para desig-
nar este período histórico, de acordo com as concepções e posicionamentos historiográficos
adotados. Neste trabalho utilizaremos Ditadura Militar, entendendo e concordando com as
outras utilizações adotadas por autores usados nesta pesquisa. Para saber mais ver: FICO,
Carlos. Ditadura Militar Brasileira: aproximações teóricas e historiográficas. Revista Tempo e
Argumento. Florianópolis, vol. 9, n⁰ 20, 2017.
7
Ainda durante a primeira campanha, ocorrida em 1972, ao regressarem do Sudeste em di-
reção as bases no Araguaia, souberam da presença de militares à sua espera. Chegaram até
Anápolis-GO e retornaram ao Sudeste, não voltando mais a região.
Devemos ressaltar que algumas iniciativas foram criadas ao longo de seu desenvolvimento
11
para atender estas demais, tais como o projeto Estante Amazônica, de 1996, que lançaria,
dentre outros materiais, obras como “História do Pará”, de Gerald Prost.
Coelho, Luana Guedes e Márcia Pimentel, dentre outros, a editora produziu coleção em qua-
tro volumes dedica a questões regionais e de estudos amazônicos.
Referências
O
uso de fontes históricas e suas possibilidades como instru-
mento de produção de conhecimento histórico na Educação
Básica tem sido objeto de importantes reflexões e discussões
teórico-metodológicas entre historiadores e professores de história
atualmente. Grosso modo, estas pesquisas convergem para a necessi-
dade de superação da incorporação de fontes históricas como meras
ilustrações reforçadoras de uma determinada narrativa histórica.
Seja presentes em livros didáticos, seja através do cotejamento e
seleção individual de docentes, a utilização de fontes históricas em sala
de aula impõe-se como um recurso didático inerente ao próprio ensino
da História, devendo ser instrumentalizadas como espaço para a refle-
xão e construção de sentidos. Como muito bem salienta Saviani (2006,
p. 29 – 30) “As fontes históricas não são a fonte da história, ou seja, não
é delas que brota e flui a história. Elas, enquanto registros, enquanto tes-
temunhos dos atos históricos, são a fonte do nosso conhecimento histó-
rico, isto é, é delas que brota, é nelas que se apoia o conhecimento que
produzimos a respeito da história”.
Nesse sentido, a utilização didática de fontes históricas como
reforçadoras de uma determinada narrativa historiográfica não só em-
pobreceria as reflexões e questionamentos possíveis, que poderiam des-
Docente de História da América na Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) e coordena-
1
tino-americanas, empreendidas por interesses locais e internacionais, mas lançar luzes às di-
ferentes estratégias de resistência de grupos sociais, assim como de estados, observados de
modo plural, e com suas próprias contradições e objetivos.
8
Vale ressaltar no Brasil os trabalhos de Gerson Moura e Pedro Tota que, sem minimizar a
influência direta e indireta do governo dos Estados Unidos nos assuntos internos de seus
vizinhos, ampliaram o espoco de análise, demonstrando espaços para a negociação e resistên-
cia dos países latino-americanos frente as pretensões norte-americanas. Ver: MOURA, Ger-
son. Estados Unidos e América Latina. São Paulo: Contexto, 1990. TOTA, Antônio Pedro. O
imperialismo sedutor. A americanização do Brasil na época da Segunda Grande Guerra. São
Paulo: Cia das Letras, 1990.
Em julho de 1928, em artigo intitulado Our Foreign Policy: a Democratic View, publicado na
9
Foreign Affairs, Franklin D. Roosevelt faz uma revisão da política externa norte-americana em
geral, e das relações interamericanas em particular, onde assume sua visão wilsoniana. Para
Roosevelt, a política externa norte-americana teria tido curtos períodos de má administração ao
longo de sua história, mas o suficiente para gerar ressentimentos pelo mundo. Cf. ROOSEVELT,
Franklin Delano. Our Foreign Policy: a Democratic View. Foreign Affairs. New York: Council Of
Foreing Relations, July, 1928.
No original: “The revising of old assumptions and attitudes became the order of the Day. As
10
Americans under Roosevelt began to reassess their evaluations of winners and losers, now
that old-time winners seemed to have thrown the entire system into disarray and despair,
traditionally poverty-stricken groups within the United States itself and indeed within the
entire American hemisphere came in for reevaluation”
ral de los pueblos, mediante la revision de los textos de enseñanza que se utilizan en los diver-
sos países.”
New York: Verso, 1983. HOBSBAWM, E.; RANGER, T. (Org.). A invenção das tradições. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
Cué, Vapor Cué, el recuerdo de Cerro Corá, Ytororó, etc, la representación és la de um Pueblo
de heróis que consintió el sacríficio último para preservar su identidade. És la história de uma
nación que se superó em la derrota”.
BLACK, George. Good Neighbor: How the United States Wrote The His-
tory of Central America and The Caribbean. New York: Pantheon, 1988.
FEJES, Fred. Imperialism, Media, and Good Neighbor: New Deal Foreign
Policy and United States Shortwave Broadcasting to Latin America.
New Jersey, Ablex, 1986.
RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa (tomo I). Campinas, São Paulo: Pa-
pirus, 1994.
N
o dia 6 de outubro de 2020 participei do I Seminário de Egressos
do Programa de Pós-Graduação em História Social (PPGHS),
promovido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
entre os dias 5 a 7 de outubro de 2020 na modalidade on-line. Durante o
referido evento, apresentei algumas reflexões sobre a disciplina Estudos
Amazônicos, elas desenvolvidas durante o ano de 2016 nesta universi-
dade carioca2. A professora Helenice Rocha (UERJ/FFP) durante suas
argumentações sobre a disciplina regional, fez-me a seguinte pergunta:
o que deve conter na disciplina Estudos Amazônicos? O presente artigo
é uma resposta a seguinte indagação desenvolvida durante este evento
ocorrido em formato on-line.
O objeto de pesquisa do mestrado realizado no Programa de
Pós-Graduação em História Social da Faculdade de Formação de Pro-
fessores (FFP) foi a história das disciplinas escolares. Havia no contexto
do início do século XXI um campo de pesquisa em construção no esta-
do do Pará, sobre a história das disciplinas escolares regionais. A linha
de pesquisa que a dissertação estava inserida, dentro deste programa
de pós-graduação, é a denominada Ensino de História e Historiografia.
1
Docente da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).
2
A dissertação defendida em fevereiro de 2016 foi denominada de Contando a História do
Pará: a história da disciplina Estudos Amazônicos e os livros didáticos (1990-2000).
do estado do Pará criado em 1980. Sobre isto ver, Costa; Oliveira; Nascimento (2020).
da borracha aos dias atuais (2015). A edição que foi apresentada na escrita da dissertação de
mestrado em 2016 é análise da primeira edição publicada no ano 2000.
8
Como exemplo, o historiador francês Marc Bloch no livro “História e Historiadores” (1995)
o texto foi publicado em 1937, ele destina um capítulo para debater necessidade de reno-
vação do ensino histórico, ele fez parte de edição do 9º ano, da revista de Analles d’histoire
économique et sociale. O historiador francês Fernand Braudel no livro Combates pela His-
tória (1989) também nesta mesma perspectiva nos diz que o pesquisador tanto o professor
tem que o compromisso com a objetividade, com a sua utilidade e a natureza epistemológica
(social) do conhecimento a ser construído.
9
Podemos ter como exemplo o caso do Estado do Pará, a grade curricular do curso de História
da Universidade Federal do Pará (UFPA) que desde 1989 já incluía disciplinas como História
da Amazônia I, História da Amazônia II e a História da Amazônia III. Recentemente, no ano
de 2006 a criação do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia (PPHIST/
UFPA) que desenvolveram teses e dissertações no que se refere ao contexto amazônico e até
mesmo pan-amazônico.
10
Segundo as reflexões apresentadas por Gabriel Barros (2016) percebemos que em alguns mu-
nicípios do Estado do Pará a disciplina Estudos Amazônicos fica sobre a tutela do diretor da
escola, ela acaba servindo como moeda de troca para que os professores que concordem com
a diretriz determinada consigam a carga horária desta disciplina.
dos livros didáticos a serem usados na disciplina Estudos Amazônicos durante o final dos
anos 1990 e início dos anos 2000.
12
O professor Gerard Prost foi um pesquisador-bolsista do Museu paraense Emílio Goeldi
(MPEG).
13
O grupo de professores de História da Seduc do Estado do Pará são os seguintes: Maria de
Fátima, José de Ribamar, Edilena Silva e William Junior.
14
Percebemos que esta perspectiva abordada na capa dos livros da disciplina História do Pará
(1998), produzido pelo historiador, evidenciam essa lógica de ocupação da região amazônica.
Os professores de História demarcam a civilização temporal a partir destes momentos. A
Amazônia dos rios como o passado e o processo de conquista representando pela entrada da
cidade de Cametá, a partir da obra de Alexandre Rodrigues Ferreira, a tela foi publicada em
1897, e a civilização da estrada com a abertura da transamazônica, a vista aérea retirada de
edição publicado na revista VEJA em 1970 para demarcar o nosso tempo presente.
A perspectiva abordada pelos dois autores de História da Amazônia, tem como pano de fun-
15
do a relação sociedade e natureza, pode ser visualizada na capa dos materiais didáticos produ-
zidos por Loureiro (2000). A capa do primeiro volume evidencia a região amazônica a partir
da floresta e dos rios para entender as peculiaridades da natureza. A capa do segundo volume
apresenta uma pintura corporal feita no corpo de uma criança indígena, ela quer demarcar ao
longo de sua narrativa a crítica ao modelo de desenvolvimento, que teve perdas e danos tanto
para a floresta amazônica como para as sociedades indígenas.
prefeito de Belém, senador e governador do Estado do Pará. No período de 1995 a 2002 ele foi
governador do Estado do Pará pelo PSDB.
Considerações finais
Referências
O
presente artigo é parte da Monografia2, pesquisa realizada com
o objetivo analisar o Ensino de História no Ensino Fundamen-
tal I na cidade de Xinguara/PA, tomando como objeto de refle-
xões o livro didático de História, as narrativas dos professores, as fun-
damentações legais, os planos de ensino municipal desta disciplina etc.
Ao abordar o Ensino de História em âmbito geral da educação Básica
se faz necessário analisar o Ensino de História no Ensino Fundamental
menor, ou seja, o ensino fundamental I na rede pública do Município de
Xinguara, pois sabe-se que, a educação básica é um processo que se ini-
cia com a educação infantil, ensino fundamental I e II, ao ensino Médio.
E o Ensino de História faz parte desse desenvolvimento educacional;
e de acordo com Fonseca (2012), as políticas públicas que envolvem o
currículo de História vêm ganhando força, provocando mudanças cir-
cunstanciais no campo do ensino e aprendizagem.
Para compreendermos como está sendo desenvolvido o ensino nas
escolas de ensino fundamental I na cidade de Xinguara, em específico na
área de História, foi realizado um levantamento sobre a educação no mu-
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de História PROFHISTÓRIA/UNI-
FESSPA.
2
Orientada pela Profa. Ma. Lucilvana Ferreira Barros no Curso de História - Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará - UNIFESSPA.
6
Professora: M.S.M. Formada em Pedagogia, especialização em Psicopedagogia, trabalho há
30 anos na educação com as séries iniciais, sempre 1º ano.
7
Professora: M.G.S. Formada em Matemática pela a UEPA e “fiz uma complementação em
Pedagogia pela COMPAC, trabalho atualmente com o 4º Ano e com o 2º Ano. Estou há 20
anos na Educação”.
8
Professora: N.F.A. Formada em Letras, “tenho 22 anos de trabalho”.
9
Professora: D.A.P. “Sou pedagoga também sou formada em Letras, trabalho há 30 anos na
educação no ensino fundamental menor e maior”.
10
Professora: I.S.S.R. “Tenho 25 anos de trabalho na educação, trabalho com o 5º Ano, sou
formada em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia”.
Outro exemplo:
Na maioria das vezes a gente usa mesmo é o livro, o
livro didático do aluno e aí explica as aulas e usa os
mapas, o que a gente acha necessário e recurso que a
gente encontra na escola. Professor polivalente não é
fácil, porque você tem que ter um pouco de domínio
em todas as disciplinas e a gente tenta fazer o possível
(P,5, I.S.S.R. 2018).
E
2 – Esse planejamento anual é feito assim, junta todos
os professores em uma determinada escola e cada um
fica com uma disciplina e ai vai discutindo os assuntos
E
O livro didático, eu penso que ele deveria ser um livro
que fosse mais a realidade da gente, eu utilizo, como
eu utilizo ele, eu utilizo ele mais como eu falei, eu faço
muita pesquisa e vou me adequando a ele, porque ele
vem muito fora da nossa realidade e ele não é suficiente,
o professor que ficar preso só no livro didático é uma
pena por que ele não é suficiente para que a gente
possa tá trabalhando não só a História como as outras
disciplinas (P3, N.F.A., 2018).
As professoras P2 e P3 afirmam que gostariam que os livros didá-
ticos trouxessem mais a realidade local, assim iria contribui de forma mais
eficaz com o trabalho docente; devido aos conteúdos apresentarem outra
realidade, os alunos não conseguem aprofundar seus conhecimentos, nessa
perspectiva pode ser observada uma angústia por parte das docentes para
tentar suprir as lacunas deixadas pelos textos didáticos, acontece que esta
disciplina exige do professor habilidades específicas, as quais, a partir da
pesquisa realizada, não podem ser cobradas. O que indica como necessário
investimento em políticas públicas direcionadas a formações continuadas
para os professores (as) nas diferentes áreas de conhecimento.
Estas observações nos remetem mais uma vez ao autor Mu-
nakata (2007), no que se refere às reflexões acerca dos livros escolares e
professores; segundo o autor, os professores são acusados de não terem
formação adequada, mas devemos levar em consideração, a partir das
entrevistas realizadas, outras demandas da realidade docente na educa-
ção básica: má infraestrutura das escolas, carga horária alta de trabalho,
desvalorização da profissão docente, etc. o que se torna, de certa manei-
ra, inviável um trabalho mais profícuo em sala de aula. Assim, o livro
E
A gente pede para o aluno fazer a leitura do livro, cada
um ler um trechinho e a gente discute, faz o debate
sobre o assunto daquele dia, do tema da aula e assim
responde as atividades. Talvez não, mas também
como a gente não tem tanto tempo e o tempo é muito
corrido, por que tem muita intervenção na sala de aula,
então talvez os conteúdos não sejam suficientes, mas é
o que a gente pode fazer, que o tempo é muito pouco
para trabalhar todos os conteúdos, e ainda a gente não
consegue nem ver o conteúdo que tem no livro para
chegar ao final, as vezes fica sem a gente poder chegar
ao final do livro (P,5, I.S.S.R., 2018).
E
É como eu falei também, isso aí é mais através das
pesquisas, através da arte que a gente vai trabalhar a
pintura né, nós vamos trabalhar e a gente vai fazendo,
trabalhando de forma interdisciplinar de história com
as outras disciplinas, através do teatro, através das
pesquisas que a gente pede para que eles possam tá
fazendo, das entrevistas, através também das imagens
da leitura de imagens, então tudo isso é trabalhada,
todas essas culturas que faz parte da nossa História
(P3, N.F.A., 2018).
Considerações finais
Referências
O
Ensino de História tem sido alvo de investigação nos últimos anos,
mediante a criação de conceitos, problematização do seu currí-
culo, análise do seu percurso histórico e tensões que acabam por
moldar a disciplina em diversas temporalidades. As discussões historiográ-
ficas levantadas ao longo do texto são principalmente de autores que escre-
vem posteriormente à década de 1980, período no qual as discussões ga-
nham proporções significativas devido ao crescimento do ensino superior,
exemplo da difusão de programas de pós-graduação. No campo da História
da Educação, destacam-se práticas desenvolvidas pelos docentes, relações
entre matérias e alunos, legislações e posicionamentos coletivos aguçam a
curiosidade de pesquisadores em simpósios, monografias e encontros.
Pensar o universo escolar e suas práticas docentes é compreen-
der as especificidades, tensões e rupturas dentro da própria construção
do currículo. Em se tratando da disciplina de História, o currículo tem
se tornado um local de disputa, fazendo com que governantes, institui-
ções e setores da sociedade enxerguem nele o poder de moldar uma so-
ciedade, construir uma identidade nacional, solidificação de mitos fun-
dacionais e propagação de ideologias. Ainda acerca da visão do Estado
sobre a disciplina destacamos:
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de História PROFHISTÓRIA/UNI-
FESSPA.
todologia e conteúdo se torne específico para o indígena, porém pensamos que a partir das
barreiras estruturais encontradas na prática docente, principalmente quando envolve povos
indígenas gera uma cultura específica já que a própria língua, cultura e currículo escolar se
tornam empecilhos no andamento do processo, fazendo com que escolas e docentes criem
uma cultura específica para a prática educacional.
Considerações finais
A
relação entre cinema e história é quase tão antiga quanto a
própria construção científica da disciplina. Desde as primei-
ras experiências gestadas em fins do século XIX pensadores
tem se debruçado a analisar suas implicações dentro da sociedade. Dos
primeiros textos de Matuszewski (1898) e sua concepção das obras cine-
matográficas enquanto registo histórico até a renovação de análise pro-
duzida pela terceira geração dos Annales, com relação a fontes, objetos
e métodos, as produções audiovisuais se tornaram importante recurso
didático para o gestar de experiências sobre história.
E neste contexto, dentre as muitas transformações e possibi-
lidades gestadas entre este objeto de estudo e o ensino de história,
a aprovação da lei 13.006/14 e a obrigatoriedade de exibição de fil-
mes nas escolas abrem novas possibilidades para (re) pensar suas
relações com a aprendizagem de conteúdos históricos e o lugar no
cinema nacional neste processo.
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de História PROFHISTÓRIA/UNI-
FESSPA.
2
Docente da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
Cf. LENHARO, Alcir. Nazismo: o triunfo da vontade. São Paulo: Ática, 1986.
4
Contudo, foi a partir dos anos 1980 que o debate sobre o cinema
como recurso pedagógico ganhou força no Brasil, influenciado princi-
palmente pela historiografia francesa. Com relação ao ensino de Histó-
ria surgiram artigos, livros, revistas acadêmicas e orientações pedagó-
gicas que abordam sobre procedimentos metodológicos pertinentes ao
uso das obras cinematográficas em sala de aula. As novas possibilidades
abertas agora, gestando uma formação de docentes ligados a este debate,
Considerações finais
Referências
Ensino de história:
pelas ondas do rádio nas décadas de 1930
e 1940 ao uso de podcast na atualidade
Valéria Moraes1
O
limiar do século XX vislumbrou o surgimento de novas con-
junturas no campo historiográfico em suas diversas esferas, na
escrita, na transmissão, discursos, nas bases legislativas e até
no senso comum, situação que se expandiu no século XXI. O Ensino
de História passou por essa gama de mudanças e intensificou-se nas
últimas décadas com o advento e popularização de computadores fi-
xos e portáteis, tablet’s, smartphones, Ambientes Virtuais de Aprendi-
zagem (AVAs), lousas digitais, projetores multimídia, para citar alguns
exemplos de novos artefatos que fazem parte de um conjunto maior que
denominamos de Novas Tecnologias Digitais de Informação e Comuni-
cação (NTDICs) e sua inserção no ensino escolar nas múltiplas áreas do
conhecimento científico.
A historiografia nos revela que o ensino de História no/do
Brasil se constituiu concatenado à jactância de feitos heroicos e seus
respectivos representantes, caracterizando-se por uma pedagogia na-
cionalista voltado para a uma educação elitista. Nas décadas de 1930 e
1940, período em que o líder estadista era Getúlio Vargas, e um proje-
to de golpear definitivamente as oligarquias que doravante ocupavam
o topo do poder se arrojou, esse nacionalismo nas “veias” educacio-
nais históricas mostrou-se varicoso.
1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ensino de História PROFHISTÓRIA/
UNIFESSPA.