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OPINIÃO

A cidadania e as três leis de Newton


14 de julho de 2021, 13h40 Imprimir Enviar

Por Fernando Procópio Palazzo

 Ouvir: Fernando P 0:00

O Estado de Direito tem como característica marcante a sua sujeição às normas


legais. Será nas leis que o Estado encontrará os fundamentos para a sua
existência e os limites para a execução de todas as suas ações. A legitimidade
para o exercício dessas ações será outorgada pelos indivíduos que compõem o
corpo social, por meio de um conjunto de direitos que lhes são assegurados LEIA TAMBÉM
através daquilo que se convencionou como sendo cidadania. Toda a
DIRETO DA CORTE
conformação estatal perpassará, pois, pela convergência de vontades para a
STJ chega a quase 920 mil decisões
definição dos rumos a serem seguidos. Em contrapartida, encontra-se na física
desde o início do trabalho remoto
o regramento de fenômenos naturais que independem de qualquer criação
humana, mas, sim, são objeto apenas de identificação e catalogação sem perder CONFUSÃO ENTRE INSTITUTOS
a sua essência ôntica. Requisito da confissão para ANPP é
desnecessário, diz promotor
Não obstante as leis de Direito e as
leis da física possuírem origem e MAIS UM POUQUINHO
fundamentos antagônicos, é possível TJ-SP prorroga sistema escalonado de
encontrar pontos de interseção entre trabalho presencial X
elas, de modo que o ser humano,
OPINIÃO Leia mais
ainda que senhor das suas vontades,
ao optar por determinada ação irá Opinião: Controle judicial das
recair nas consequências e decisões do Cade: o RE nº 1.083.955
delimitações estabelecidas pelas
normas naturais. Facebook Twitter

Sobre o conceito de cidadania, revela-se importante entender que a sua origem


Linkedin RSS
remonta à Antiguidade Clássica, em que os gregos e os romanos traçaram as
primeiras linhas sobre o estabelecimento de um vínculo entre o homem livre e
a cidade. Na ágora ateniense debatiam-se questões relacionadas à pólis,
enquanto que o fórum era o centro da vida pública romana. Ainda que de
forma incipiente e com restrições segmentárias, o processo de participação do
indivíduo na conformação da comunidade da qual faz parte é deflagrado e vem
somente a ascender nos séculos vindouros. Com a Revolução Francesa, em
1789, alcança-se a compreensão moderna de cidadania, sobretudo com a
proclamação dos Droit de L'Homme et du Citoyen (Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão). À época sobejavam pensamentos que buscavam
assegurar o efetivo pertencimento do indivíduo à comunidade, mediante o
estabelecimento de direitos e deveres a serem seguidos.
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Nesse contexto de um brevíssimo arcabouço histórico, emerge com nitidez a Receba R$ 0,…

relação do Estado com a cidadania, entendida essa como um conceito


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normativo, e não descritivo. Vale dizer, o conjunto de direitos e deveres que
são atribuídos a um cidadão decorre da regulamentação de pactos originários
da vontade social. -10%
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Essas premissas têm o objetivo de evidenciar a importância da participação dos


indivíduos na criação da ordem política, sobretudo diante da sua importância R$ …

como conquista histórica no respeito à democracia. A razão de ser do Estado é


respeitar e atender aos propósitos almejados pela vontade dos cidadãos.
-12%
Máscara 3m N…
Nesse panorama, a Constituição Federal de 1988 assentou em seu artigo 1º,
inciso II, a "cidadania" como um dos seus princípios fundamentais. Com isso R$ …

já se observa o estabelecimento de um pilar indissociável para a conformação


do Estado brasileiro e, ao mesmo, uma convocação de todos para participarem
do processo político. Máscara N95 P…

À luz do ideário de cidadania, o Estado possui um compromisso ético-político R$ …

perante a comunidade. No Brasil, no entanto, vicejam inúmeros exemplos de


um descompasso nesse propósito. Ao longo de toda a história política do país
não foram poucos os exemplos de promulgação de leis, emendas, medidas e
diversos ato normativos com nomenclaturas específicas que causaram
assombro na população e não demonstraram qualquer correspondência com os
anseios constitucionais e com o progresso da sociedade brasileira. Em uma
feição quase que solipsista, os representantes do povo atuam de forma
dissociada e traçam rumos que aparentam um contínuo estado de retrocesso e
desesperança.

Recentemente a Câmara dos Deputados aprovou, por expressiva maioria (408


votos favoráveis), um conjunto de medidas que desidratam a importante Lei de
X
Improbidade Administrativa. Projetos direcionados a modificar o Código de
Processo Penal com um robusto tolhimento das atividades do Ministério Leia mais

Público, a PEC da Impunidade, na qual se propõe restringir drasticamente as


punições aos parlamentares, obscuras reformas eleitorais, leis e medidas
ambientais promovidas sob o intento de "passar a boiada" e tantos outros
constituem um pacote de medidas que em nada coincidem com a vontade da
população.

É bem verdade que tais processos são, infelizmente, cíclicos e atemporais no


Brasil. Não se trata de um fenômeno inédito, mas, sim, de algo que urge ser
interrompido. A sociedade é convocada a enfrentar a inércia governamental na
definição de regras que promovam um progresso coletivo e inibam a
perpetuação de sistemas espúrios e corruptos de poder.

No plano da física, Isaac Newton, escreveu em 1687 "Os Princípios


Matemáticos da Filosofia Natural". Na renomada obra apresentou três leis que
versam sobre o comportamento estático e dinâmico dos corpos materiais.

Sobre a inércia, a primeira lei prescreve justamente que: "Todo corpo continua
em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a
menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre
ele". Aplicando tal conceito ao cenário brasileiro, percebe-se que o "corpo
parlamentar" apenas irá sair do seu estado de desconexão com a sociedade e
mudar quando for forçado a adotar medidas que efetivamente concorram para
o bem-estar de todos.

O escritor Lima Barreto, ao contemplar os eventos que culminaram com a


proclamação da República, afirmou que "o Brasil não tem povo, tem público".
É tempo, pois, do povo deixar a condição de figurante e, sim, na melhor
acepção newtoniana, ser uma força cidadã que repele os maus propósitos e
impele a construção de uma sociedade justa e equilibrada. Essa força positiva
será a mola propulsora para eliminar o descomprometimento governamental
em todas as esferas.

Nesse mesmo espírito, apresenta-se pertinente a segunda lei de Newton quando


afirma que "a mudança do estado de movimento é diretamente proporcional à
força imprimida, e é produzida na direção de linha reta na qual aquela força é
aplicada". Todo movimento racionalmente municiado, despido de paixões
ideológicas e intelectualmente refletido irá direcionar os rumos que os
representantes do povo devem tomar. As casas legislativas hão de respeitar e
caminhar sobre os preceitos éticos e fidedignos que a sociedade passar a lhes
exigir. A mudança será proporcional à força motora imprimida pelo povo. Tal
desiderato será alcançado com uma contínua fiscalização, uma constante
participação popular por intermédio de audiências públicas, cobranças,
peticionamentos, convocação ao debate, pela imprensa livre e, sobretudo, pelo
voto consciente.

Por fim, a terceira lei de Newton aduz que "em toda ação há sempre uma
reação". Toda ação antidemocrática requer uma imediata resposta. A
democracia é um valor inestimável e que não pode ser solapado por discursos
pueris e tendenciosos. Em uma cidadania multifacetária é necessário responder
a todo movimento que compromete o que é justo e lícito. Em todos os campos
X
sociais e jurídicos, toda ação corrompida deve ser alvo de uma reação justa. O
governo foi feito para o povo, e não o contrário. Friedrich Nietzche, em sua Leia mais

clássica obra "Humano, demasiado humano", assevera que "governo nada é


senão um órgão do povo, e não um providente e venerável 'acima' que se
relaciona a um 'abaixo' habituado à modéstia". A cidadania é uma conquista
histórica de alto preço, que não pode simplesmente cair em uma rotina que a
cada dia que passa parece elastecer a tolerância ao absurdo. Erige-se premente
uma constante atuação participativa e deliberativa.
Em uma sociedade cada vez mais difusa e complexa, revela-se imprescindível
uma sinergia entre a voz dos cidadãos e a de seus representantes. Tal qual
ocorre no mundo fenomênico, toda ação ou inação produzirá um resultado.
Seguindo as premissas ensinadas por Isaac Newton, torna-se imprescindível
romper com a inércia governamental com uma força imbuída de valores justos
e equilibrados, de modo a proporcionar a necessária reação democrática que o
país tanto necessita. Competirá, portanto, a uma pujante sociedade buscar o
progresso comum, perseverar, reagir e se posicionar em prol dos valores da
justiça, da solidariedade e do bem comum de todos.

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Fernando Procópio Palazzo é advogado, mestrando em Criminologia pela Erasmus


Universiteit Rotterdam e especialista em Direito Penal e Criminologia pelo Instituto de
Criminologia e Política Criminal.

Revista Consultor Jurídico, 14 de julho de 2021, 13h40

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COMENTÁRIOS DE LEITORES
1 comentário

TEXTO PROFUNDO
X
Voluntária (Administrador)

14 de julho de 2021, 18h44 Leia mais

O texto, com profundidade, abarca as relações do Poder e a democracia. Parabéns ao


autor.

Comentários encerrados em 22/07/2021.

A seção de comentários de cada texto é encerrada 7 dias após a data da sua publicação.
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