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TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS

Vimos que os processos de tratamento térmico não alteram a composição química do


aço, ou seja, o material inicia o tratamento com 0,6% de carbono e termina com 0,6% de
carbono Entretanto, às vezes, é necessário submeter o aço a modificações parciais em sua
composição química para melhorar as propriedades de sua superfície. Essas modificações são
obtidas por meio de tratamento termoquímico.
São processos que visam à adição (Por difusão) de carbono, nitrogênio ou boro na
superfície do aço. Como a difusão desses elementos nos aços só é significativa em altas
temperaturas (500 a 1000 ºC), o tratamento é denominado termoquímico.
O objetivo principal é aumentar a dureza e a resistência ao desgaste da superfície ao
mesmo tempo em que o núcleo do material se mantém dúctil.
Os processos utilizados são:
 Cementação;
 Nitretação;
 Cianetação;
 Carbonitretação;
 Boretação.

Fatores de influencia no controle dos processos termoquímicos são:


 Potencial do meio: (Sólido, líquido ou gasoso), em que a peça está imersa que é o
fornecedor do elemento químico (Carbono, Nitrogênio e Boro);
 Capacidade da peça em absorver este elemento químico: Isto esta relacionada com a
solubilidade e a difusão do elemento químico no aço.

Cementação
O processo clássico de endurecimento superficial é a cementação, o qual corresponde ao
enriquecimento superficial de carbono de certos aços (geralmente aços de baixo C), aquecidos
convenientemente em contato com substâncias.
Este tratamento é muito antigo, os romanos já o praticavam e consiste na introdução de
carbono na superfície do aço, modo que este, depois de convenientemente temperado,
apresente uma superfície mais dura.
É necessário que o aço seja aquecido a uma temperatura em que a solução de carbono
no ferro seja fácil. Para isso, a temperatura deve ser superior à da zona crítica (900 a 950ºC).

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A profundidade de penetração do carbono depende da temperatura e do tempo.

Considerações gerais sobre a cementação


Na cementação qualquer que seja o processo adotado, deve-se no início levar em
consideração os seguintes pontos:
 Para produzir uma combinação de uma superfície dura com um núcleo tenaz, deve-se
partir, em princípio, de um aço de baixo carbono.
 A operação deve ser realizada a uma temperatura que coloque o aço no estado
austenítico, geralmente entre 900ºC e 950ºC.
 Prefere-se na cementação, aços de granulação fina, por sua melhor tenacidade tanto
na superfície endurecida como no núcleo, apesar de ser conhecida a melhor capacidade de
endurecimento dos aços de granulação grosseira.
 Deve-se procurar evitar uma linha nítida de demarcação entre a camada cementada e
o núcleo, isto é, a distribuição do carbono ou gradiente de carbono da superfície ao centro deve
ser suave, evitando-se bruscas quedas de carbono. O melhor gradiente ou o mais suave
obtém-se aparentemente com resfriamentos mais rápidos.

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Cementação sólida
Nesse tipo de cementação, a peça é colocada em uma caixa de aço contendo substâncias
ricas em carbono. As misturas mais usadas apresentam carvão de madeira, aglomerado com
cerca de 5% a 20% de uma substância ativadora, por meio de óleo comum ou óleo de linhaça.
Em seguida, a peça é levada ao forno, a uma temperatura em torno de 930°C, durante o
tempo necessário para obtenção da camada desejada. Depois, submete-se a peça à têmpera para
que ela adquira dureza.

Vantagens
 Pode utilizar uma grande variedade de fornos e não precisa de atmosfera controlada;
 É econômica para pequenos lotes de peças, ou peças muito grandes;
 Não exigem muita experiência do operador.
Desvantagens
 Não é indicada para camadas finas que devem ser controladas dentro de uma
tolerância estreita;
 Difícil controle de carbono na superfície e, portanto, no interior da peça;
 As taxas de aquecimento e resfriamento são mais lentas devido à inércia térmica da
caixa e do material de cementação;
Profundidade da camada cementada
 Varia de 0,6 a 6,0mm dependendo das condições de tempo e temperatura
empregadas (Essa profundidade, na prática, é medida através da dureza).
 Considera-se Camada Cementada Efetiva a região com dureza maior que 50HRC,
 Existe ainda a Camada Cementada Total, que é definida como a região onde houve
aumento do teor de carbono.

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Cementação gasosa
Consiste em se colocar a peça a ser cementada em um forno com atmosfera de potencial
de carbono controlado. Os gases normalmente utilizados são: gás natural (normalmente
utilizado), propano, butano, e metano.
Vantagens:
 O gás é protetor, devido à impossibilidade de oxidação;
 Apresenta maior velocidade de penetração do carbono;
 A camada cementada apresenta uma espessura e teor de carbono mais uniforme;
 As deformações no material sob cementação são reduzidas, eliminando-se a operação
de retificação;
 Possibilita a têmpera direta, sem reaquecimento após a cementação, evitando o
aumento excessivo do grão.
Desvantagens:
 A instalação é muito onerosa, exigindo também aparelhagem complexa de controle e
de segurança, o que ocasiona a necessidade de pessoal mais habilitado;
 O controle não é somente das temperaturas, como é praticamente o caso da
cementação sólida, mas igualmente da constância da mistura carburizante gasosa.

Cementação líquida
Nesse processo são utilizados sais fundidos, ricos em carbono, principalmente os sais à
base de cianeto e de carbonato. A temperatura deve ser de 930°C a 950°C. Nessa
temperatura, os sais se tornam líquidos, pois se fundem por volta de 650°C.
Em seguida, as peças preaquecidas a 400ºC são mergulhadas em banho fundido. A função
do preaquecimento é a de eliminar água e evitar choque térmico. A peça deve ser resfriada em
salmoura com 10 a 15% de cloreto de sódio, ou em óleo de têmpera.
C o m p o s i ç ã o d e b a n h o s d e S a l p a r a
C e m e n t a ç ã o L í q u i d a
Composição do banho %
Camada de pequena Camada de grande
Constituintes
espessura Baixa espessura Alta temperatura
temperatura (840 a 900 ºC) (900 a 955 ºC)
Cianeto de sódio 10 a 23 6 a 16
Cloreto de bário 0 a 40 30 a 55
Outros sais alcalinos 0 a 10 0 a 10
Cloreto de potássio 0 a 25 0 a 20
Cloreto de sódio 20 a 40 0 a 20
Carbonato de sódio 30 máx. 30 máx.
Cianato de sódio 1,0 máx. 0,5 máx.

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Nitretação
É um tratamento termoquímico em que se promove enriquecimento superficial
com nitrogênio, usando-se de um ambiente nitrogenoso à determinada temperatura, buscando
o aumento da dureza do aço até certa profundidade. O objetivo é difundir o nitrogênio, para
isso, um cúbico de corpo centrado é melhor para a difusão, portanto, temperaturas abaixo de
720°C são ideais. A nitretação tem menos empenamento em relação à cementação, porem, a
camada é mais fina, chega a 0,3µm. Não há necessidade de qualquer tratamento térmico
posterior a nitretação, o que também contribui para reduzir ao mínimo as probabilidades de
empenamento ou distorção das peças.
A nitretação é realizada com os seguintes objetivos:
 Obtenção de elevada dureza superficial;
 Aumento da resistência do desgaste e da resistência à escoriação;
 Aumento da resistência à fadiga;
 Melhora da resistência à corrosão;
 Melhora da resistência superficial ao calor, até temperaturas correspondentes às de
nitretação.
Nitretação a gás
Este processo consiste em submeter às peças a serem nitretadas à ação de um meio
gasoso contendo nitrogênio, geralmente amônia. A temperatura conveniente para o trabalho é
de 500ºC a 530ºC, e sua duração varia de quarenta a noventa horas.

Decorrido o tempo de aquecimento no forno, as peças são retiradas e resfriadas ao ar.


Os aços para nitretação a gás são aços ligados contendo alumínio, cromo vanádio e
molibdênio. Esses aços devem antes da nitretação serem submetidos a um tratamento térmico
de têmpera e revenido.

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A nitretação a gás é, entretanto, um processo lento. O gráfico da dá um exemplo típico de
profundidade da camada versus tempo. Tempos usuais na prática variam de 48 a 72 h.

Valores típicos de dureza estão na faixa de 55 a 70 HRC em camadas de 0,15 a 0,5 mm.
Nitretação liquida (Nitretação em Banho de Sal)
Trata-se de um processo de nitretação que permite, em tempo muito mais curto que a
nitretação gasosa, obter superfícies muito resistentes ao desgaste, sem tendência ao
engripamento, de alto limite de fadiga e elevada resistência à corrosão atmosférica.
Ao contrário da nitretação a gás que exige aços especiais para a obtenção de melhores
resultados, a nitretação líquida pode ser realizada em aços comuns, de baixo carbono, como
por exemplo, SAE 1015.
A faixa de temperatura é aproximadamente a mesma que é utilizada na nitretação a gás,
ou seja, entre 500 a 560ºC. A nitretação líquida ó também conhecida com o nome de
"nitretação tenaz".
Um banho comercial típico para nitretação líquida é constituído de uma mistura de sais de
sódio e potássio, os primeiros de 60% a 70% em peso da mistura total e os segundos de 30 a
40%.
Em resumo, a "Nitretação em Banho de Sal" caracteriza-se pelos seguintes pontos básicos:
 Utilização de um banho de sal constituído essencialmente de cianeto e cianato de
potássio ou sódio;
 A temperatura de tratamento varia de 500oC a 560oC;
 O tempo normal de operação é de duas horas;
 Os aços que podem ser submetidos à "nitretação em banho de sal" são tanto aços
carbono comuns, de baixo carbono como aços-liga especiais;
 Depois do tratamento, resfria-se ao ar, ou mais rapidamente em salmoura, com o
objetivo de manter o nitrogênio em solução, garantindo-se assim o alto limite de fadiga. É
preciso cuidado, entretanto, para evitar empenamento das peças;
 Além de aços comuns ou especiais, entre os quais os inoxidáveis, os Ferros Fundidos
também podem ser submetidos à "nitretação em banho de sal".
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Nitretação por Plasma
O tratamento superficial de nitretação é realizado pela indústria principalmente pelos
processos convencionais de Nitretação Gasosa e Nitretação Líquida em Banho de Sais. A
Nitretação sob Plasma é um processo mais recente, introduzido no Brasil nos últimos 10 anos,
que devido sua versatilidade no controle microestrutural da superfície nitretada, baixo custo de
operação e adequação a legislação ambiental, vem fazendo que este processo assuma uma
posição de destaque dentre os tratamentos superficiais atuais.
A maior vantagem da nitretação por plasma é a possibilidade de controlar a metalurgia da
camada nitretada. Para um mesmo aço, este processo permite variar o tipo de nitreto formado
na camada de compostos e até mesmo impedir a formação desta camada. Para isto, deve se
controlar precisamente: a composição da mistura gasosa, a temperatura e o tempo de
nitretação. O controle da profundidade de nitretação é realizado pelo controle da temperatura e
do tempo de processo.
Além das vantagens metalúrgicas e de processo oferecidas pela Nitretação por Plasma, é
importante salientar que esta tecnologia encontra-se plenamente adequada às novas
exigências ambientais requisitadas pela norma ISO 14.000.
Cianetação
Também chamada de carbonitretação líquida consiste no aquecimento do aço a uma
temperatura acima da crítica, em um banho adequado de sal cianeto fundido, ocorrendo
absorção simultânea na superfície do aço de carbono e nitrogênio. O resfriamento posterior em
óleo água ou salmoura produz uma camada superficial dura, de alta resistência ao desgaste. A
camada cianetada contém menos carbono e mais nitrogênio do que as camadas cementadas
por via líquida. Devido à sua maior eficiência e custo mais baixo, usa-se cianeto de sódio, de
preferência ao de potássio.
A faixa de temperaturas de operação dos banhos de cianetação varia de 760 a 870ºC. As
temperaturas mais baixas diminuem as probabilidades de empenamento durante a têmpera
subsequente; as temperaturas mais elevadas contribuem para maior velocidade de penetração,
além de produzir um núcleo completamente endurecido após a têmpera. O tempo de imersão
no banho varia de 30 minutos à uma hora, com espessura da camada cianetada variando
geralmente de 0,10 a 0,30 mm.
A cianetação é aplicada mais comumente nos aços-carbono com baixo teor de carbono;
quando se deseja rapidamente uma camada com dureza e resistência ao desgaste
satisfatórias. A camada cianetada compõe-se de duas zonas distintas: uma, mais externa,
martensítica; outra, mais interna, bainítica, apresentando teores mais baixos de carbono.

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Carbonitretação
Também conhecido como cianetação seca, cianetação a gás ou nitrocarbonetação, é um
processo de introduzir carbono e nitrogênio no aço a partir de uma mistura gasosa apropriado.
O carbono provém de um gás rico em carbono e o nitrogênio a partir da amônia. É um
processo misto da cementação a gás e a nitretação a gás, realizado em temperaturas
intermediárias entre estes dois processos 700 a 900ºC.
O objetivo da carbonitretação é formar no aço uma camada resistente ao desgaste, com
profundidades de 0,07 a 0,70 mm. Por empregar temperaturas menores que a cementação
gasosa, produz uma menor distorção que este processo.
Por conter nitrogênio, a resistência ao amolecimento pela temperatura é maior em peça
carbonitretadas que nas cementadas a gás. Também a resistência à fadiga e ao impacto são
maiores em peças carbonitretadas do que nas cementadas a gás. Em contrapartida a
profundidade de camada endurecida é menor que na cementação.
A vantagem da carbonitretação em relação à cianetação a gás é que esta é mais limpa.
Assim, em peças com formas intrincadas ou com pequenos furos a operação de retirada do sal
da cianetação é difícil, e aí a carbonitretação é mais indicada. Os tempos de carbonitretação
para os aços carbono e baixa liga variam de 30 minutos até um máximo de 6 horas.
Boretação
Por este método, introduz-se na superfície do aço, por difusão, o boro, formando-se em
boreto de ferro com dureza Vickers de 1.700 a 2.000;
Processo de desenvolvimento relativamente recente emprega, normalmente, um meio
sólido de um granulado composto de carboneto de boro B 4C e de um ativador, fluoreto duplo de
boro e potássio. Carboneto de boro fornece o metal para a boretação, enquanto o ativador
facilita e acelera a formação da camada superficial dura e garante sua uniformidade;
Podem ser tratados aços-carbono comuns e aços-liga, de baixo e alto teor de carbono,
assim como ferro fundido comum e ferro fundido nodular.
O Tratamento é levado a efeito em fornos que permitam controle rigoroso de temperatura,
sendo as peças colocadas em caixas (de aço resistente ao calor) envoltas pelo granulado de
boretação;
A temperatura de tratamento varia de 800 a 1050ºC. Sendo 900ºC é a mais comum, O
tempo depende da espessura desejada da camada boretada; A alta dureza superficial da
camada boretada induz uma excelente resistência ao desgaste ao material; O aço boretado é
usualmente temperado e revenido.

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