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ACOMPANHAMENTO DE IDOSOS E SUAS FAMÍLIAS POR ALUNOS


DO CURSO DE MEDICINA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À
SAÚDE.

Ana Carolina Mignot Rocha1


Euclides Colaço Melo dos Passos2
Antônio Carlos Gouvêa Amaral Gurgel3
João Lúcio Bernardes Noronha4
José Maurício Nogueira Freitas5
Leandro Vilela Lacerda Ferreira6
Maria Vitória Silveira7

Resumo
A ampliação do tempo de vida foi uma grande conquista para a humanidade.
Anteriormente, alcançar a velhice era um privilégio de poucos e agora é um
processo que ocorre em todo o mundo apesar de não se distribuir de forma
equitativa. Tal conquista veio com um desafio, não basta apenas envelhecer,
mas passar por tal processo com qualidade de vida. A despeito de tal
resultado, verificam-se carências de cuidados de longa duração, decorrentes
do aumento de pessoas com doenças crônicas e incapacitantes. Como parte
das atividades da disciplina de Práticas na Comunidade dos alunos do
segundo ano do curso de medicina da Pontifícia Universidade Católica –
Minas Gerais, foi proposto o acompanhamento de um idoso e sua família por
cada grupo de cinco alunos que frequentam as Estratégias de Saúde da
Família que recebem alunos no município, com objetivo de elaborar um
projeto terapêutico singular para ajudar nos cuidados da família
acompanhada, a fim de melhorar a qualidade de vida dos residentes do
domicílio, e descrever a percepção dos acadêmicos quanto ao idoso e seu
cuidado. Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva exploratória com relato
de caso. Participarão desta pesquisa os acadêmicos do curso de medicina da
PUC Minas, campus Poços de Caldas, os tutores dos alunos nas unidades de
saúde, a equipe de saúde da família da Estratégia de Saúde da Família, um
idoso selecionado de forma randômica por agrupamento e sua família. Critério
de inclusão é idoso ser residente na referida área adscrita da Estratégia de
Saúde da Família do município. Exclusão são idosos ou familiares que não
queiram participar. Avaliação das informações coletadas com o idoso e sua
família e nos prontuários da unidade de saúde da família.

Palavras-chaves: Atenção Primária à Saúde; Idoso; estudantes de medicina.


Abstract
The extension of life span was a great achievement for humanity. Previously,
reaching old age was a privilege of a few and now it is a process that occurs
worldwide, although it is not distributed equally. This achievement came with a
challenge, it is not enough just to grow old, but to go through such a process
with quality of life. Despite this result, there is a lack of long-term care, resulting
from the increase in people with chronic and disabling diseases. As part of the
activities of the discipline of Practices in the Community of students in the
second year of the medical course at the Pontifical Catholic University - Minas
Gerais, it was proposed to accompany an elderly person and his family for
each group of five students attending the Health Strategies of the Families that
receive students in the municipality, with the objective of developing a unique
therapeutic project to help in the care of the accompanied family, in order to
improve the quality of life of the residents of the household, and describe the
students’ perception of the elderly and their care. This is an exploratory
descriptive research with a case report. Participants in this research will be the
students of the medical course at PUC Minas, Poços de Caldas campus, the
tutors of students in the health units, the family health team of the Family
Health Strategy, an elderly person randomly selected by group and their family.
Inclusion criterion is that the elderly person is a resident of the area mentioned
in the Family Health Strategy of the municipality. Exclusion is elderly or family
members who do not want to participate. Evaluation of the information
collected with the elderly and their family and in the medical records of the
family health unit.
Keywords: Primary Health Care; Elderly; medical students.

1
Curso de medicina – Pontifícia Universidade Católica – nacamignot@hotmail.com
2
Curso de medicina – Pontifícia Universidade Católica – quidocolaco@gmail.com
3
Curso de medicina – Pontifícia Universidade Católica – carlinhos-amaral2010@hotmail.com
4
Curso de medicina – Pontifícia Universidade Católica – jluciobnoronha@hotmail.com
5
Curso de medicina – Pontifícia Universidade Católica – zemauricio22@hotmail.com
6
Curso de medicina – Pontifícia Universidade Católica – leandrovlf@hotmail.com
7
Curso de medicina – Pontifícia Universidade Católica – silveiramv10@gmail.com
1 INTRODUÇÃO

A ampliação do tempo de vida foi uma grande conquista para a


humanidade. Anteriormente, alcançar a velhice era um privilégio de poucos e
agora é um processo que ocorre em todo o mundo apesar de não se distribuir
de forma equitativa. Tal conquista veio com um desafio, não basta apenas
envelhecer, mas passar por tal processo com qualidade de vida. 1

O efeito cumulativo da diminuição da mortalidade e da natalidade resulta


em progressivo envelhecimento da população. O aumento da expectativa de
vida, que se tem verificado em paralelo, espelha a melhoria do nível de saúde
nas últimas décadas. A despeito de tal resultado, verificam-se carências de
cuidados de longa duração e paliativos, decorrentes do aumento de pessoas
com doenças crônicas e incapacitantes. Neste contexto surgem novas
necessidades sociais e de saúde, que requerem respostas novas e
diversificadas que venham a satisfazer o incremento esperado da procura por
parte de pessoas idosas com dependência funcional, de pacientes com
patologias crônicas múltiplas e de pessoas com doença incurável em estágio
avançado e em fase final de vida.2

No cenário nacional teve-se primeiramente o surgimento da Política


Nacional da Saúde do Idoso (PNSI), na qual fica claro a quem a política
atende e, qual a finalidade, segundo:Art. 1º” A política nacional do idoso tem
por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para
promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”;Art.
“2º Considera- se idoso, para os efeitos desta lei, a pessoa maior de sessenta
anos de idade” (Lei n° 8.842, de 4 de janeiro de 1994). Com o decorrer dos
anos, de modo a garantir esses direitos, foi estabelecido: A Lei n° 10741, de 1
de outubro de 2003 Art. 1°” É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a
regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos”.

Nessa mesma década ainda houve a implantação da Política Nacional de


Saúde do Idoso (PNSI) pela portaria n° 2.528 de 19 de outubro de 2006, cuja
finalidade era promover autonomia e independência do idoso através de
medidas coletivas e individuais no âmbito da saúde, sempre dentro dos
princípios e diretrizes do SUS.3,45,6

O contexto da Estratégia de Saúde da Família (ESF) engloba o trabalho


dos profissionais de saúde voltado para uma assistência integral e contínua de
todos os membros de uma família vinculada à ESF, ou seja, é um cuidado que
abrange indivíduos de todas as faixas etárias, inclusive a faixa de idosos, que
é uma população em crescimento. Portanto, é importante atuar de forma a
conhecer a mudança do perfil epidemiológico, as principais características dos
idosos, alertar a comunidade sobre os fatores de risco a que são expostos no
domicílio e fora dele, identificar formas de intervenção para sua eliminação ou
minimização, além da importância da manutenção do idoso na rotina familiar e
na vida em comunidade com o intuito de preservar a parte física e emocional.7

1.1 Contexto atual: Atenção Primária à Saúde e Pandemia


A APS tem destaque no enfrentamento de epidemias como a dengue,
ou em pandemias como da COVID-19, no acompanhamento longitudinal, e na
promoção e prevenção à saúde em tempos de incertezas tão grandes. Uma
APS que exerça suas competências de maneira efetiva é imprescindível para
o êxito de toda a rede de saúde

A Colaboração da APS junto aos serviços de urgência e emergência é


crucial, otimizando o atendimento e a parceria com os equipamentos de saúde
dos demais níveis assistenciais. Também são necessárias ações de educação
em saúde para formar uma rede protetora eficaz que garanta segurança e
qualidade, especialmente em uma demanda comunitária. Em contextos de
epidemias (como a Dengue, a Zika) ou em Pandemias (como a situação da
COVID-19) apoiar as comunidades, em sua organização, no fornecimento de
informações de qualidade e manter o direito a saúde faz da APS parceiro
fundamental nestes contextos8,9.

Nesse sentido, Médicos de Família e demais profissionais de saúde da


APS devem redobrar seus esforços evitando descompensação de doenças
crônicas, mantendo orientações terapêuticas pontuais ou usando tecnologia
de atendimento remoto (plataformas virtuais, telefone etc), resguardadas as
recomendações do código de ética médica10.
1.2 Pandemia da COVID-19
No dia 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
foi alertada sobre vários casos de pneumonia em Wuhan, na China. Era uma
nova cepa de coronavírus que ainda não havia sido identificada em seres
humanos. Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde
declarou estado de Emergência em Saúde Pública pelo novo Coronavirus
(Sars-Cov-2), após reconhecimento da pandemia da doença (COVID-19),
causando grande impacto sanitário, econômico e social em praticamente
todos os países do mundo (OPAS, 2020).11

Cidades como Poços de Caldas adotaram medidas de distanciamento


social e restrição de acesso físico aos estabelecimentos de saúde, com base
nas recomendações sanitárias Internacionais e de Sociedades Médicas de
Especialidades Renomadas.1213

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral


Realizar o acompanhamento de idosos e suas famílias durante o
semestre letivo com foco na saúde do idoso.

2.2 Objetivos específicos


Elaborar junto à equipe de ESF um projeto terapêutico singular para ajudar
nos cuidados ao idosos.
Descrever a percepção dos acadêmicos quanto ao idoso e seu cuidado.

3 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva-exploratória com a


elaboração de relatos de casos. A fase descritiva visa descrever a situação.
Para isso, é feita análise do objeto de estudo. Já a fase exploratória procura
explorar uma situação ou problema, de modo a fornecer informações para
uma ação mais precisa, propondo uma estratégia de ação - no caso o Projeto
terapêutico Singular(PTS).14
Elas visam uma maior proximidade com o tema, que pode ser
construído com base em hipóteses ou intuições.

3.1 Participantes

Acadêmicos do curso de medicina da PUC Minas, Campus Poços de


Caldas, os preceptores dos alunos na unidade de saúde, e funcionários da
equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF).

3.2 Dinâmica de trabalho

Inicialmente fora proposto que cada grupo de alunos receberia a ficha/


prontuário de um paciente idoso (selecionado de forma randômica por
agrupamento) e de sua família. Durante o período letivo, os grupos de 5
alunos iriam acompanhar o idoso e sua família, através de: visitas
domiciliares; análise de prontuário; coleta de dados referentes a sua saúde;
estrutura familiar; aplicação de escalas específicas de avaliação geriátrica e
familiar.

As informações obtidas, somadas as percepções extraídas no decorrer


da pesquisa auxiliariam na construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS)
daquele idoso e sua família.

Todavia, devido ao atual contexto de Pandemia da COVID-19 e com o


consequente isolamento e distanciamento social os estágios dos estudantes
nas Unidades Básicas de Saúde(UBS) tiveram de ser reestruturados. Para a
realização do acompanhamento dos idosos a proposta se baseia na utilização
do teleatendimento.

3.3 Teleatendimento

O mundo encontra-se em permanente evolução e, cada vez mais, a sua


configuração é representada pelos avanços tecnológicos. Os diferentes
setores são chamados a se adaptar a novos parâmetros trazidos pelas
revoluções tecnológicas. Nesse contexto, a área da saúde também está sendo
transformada, e absorve o potencial dos conhecimentos atuais para inovar na
relação médico-paciente.15
Nesse sentido, emergem novas maneiras de exercer a medicina, que
modificam aquilo que se entendia anteriormente como cuidar. Em meio aos
novos métodos de aproveitamento das oportunidades advindas do surgimento
das tecnologias atuais, está a telemedicina. Tal modelo de atendimento
médico é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a
possibilidade de cuidados médicos, em lugares em que a distância é um fator
crítico, pelos profissionais da saúde, utilizando-se das tecnologias de
informação e comunicação para a troca de informações válidas para o
diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças, para a pesquisa e avaliação
e para a educação permanente dos profissionais de saúde, no interesse de
propiciar a saúde individual e coletiva.15

A coordenação do cuidado é parte dos quatro atributos essenciais da


Atenção Primária (STARFIELD, 2002), sendo uma ação que possibilita que os
pacientes tenham acesso de forma oportuna ao sistema de saúde em seus
diversos níveis, de acordo com a necessidade. Ademais, a educação em
saúde também é atributo da APS, e no atual cenário de pandemia é tão
importante quanto o cuidado complexo, pois é na habilidade de informação e
promoção do cuidado no território que estão direcionadas as possibilidades de
sucesso no menor índice de transmissão da doença no caso da COVID-19,
por transmitir de forma íntima a importância das medidas preventivas. Nesse
sentido, o cuidado centrado na pessoa e na particularidade do território faz da
APS o lugar competente para o atendimento como verdadeira linha de frente,
realizando triagem àqueles que necessitam de suporte secundário ou não e
dando suporte na presença de sintomatologia leve e com necessidade de
auxílio mínimo.11

Levando em consideração a situação mundialmente vivida devido à


pandemia do vírus SARS-Cov-2, torna-se necessária a discussão referente a
um cenário médico que permita o acesso da população aos serviços de saúde
e que ao mesmo tempo preserve as recomendações da OMS referentes ao
distanciamento social. Nesse sentido, percebe-se a telemedicina como a mais
adequada opção para o alcance de um contexto que contemple duas
necessidades públicas, atualmente incompatíveis. 15

Além disso, através deste estudo, compreende-se a telemedicina para


além de prática essencial para a atual situação pandêmica. Ela surge como
uma ferramenta para a democratização do acesso à saúde, por meio da
ampliação do alcance dos cuidados médicos, principalmente em áreas rurais e
com menores recursos.15

Com efeito, conclui-se que a telemedicina consiste em uma via


significativa para a garantia do direito humano à saúde. É, possível, com a
utilização dessa notável ferramenta, melhorar a qualidade de vida da
sociedade civil, principalmente em um momento tão singular e delicado como
o que está sendo vivenciado.15

No atual cenário mundial, a busca por soluções para novas


necessidades e novos problemas somente pode ser obtida pela produção de
novos saberes associada ao desenvolvimento e à reorganização do modo de
se aplicar os recursos estruturais, materiais, financeiros, processuais e
humanos disponíveis no momento apropriado. Desta forma, a combinação do
conhecimento adquirido com a tecnologia desenvolvida até um dado momento
histórico é o disparador de algo novo, nos aproximando do conceito
empreendedor de inovar, intimamente relacionado com a necessidade e a
oportunidade geradas por algum fenômeno, bem como a criatividade e a
inventividade humana, uma vez que inovar no contexto apresentado é fazer
chegar a um indivíduo ou população a solução de seu problema e
necessidade, conhecido no meio empresarial como as dores do cliente.16

3.4 Instrumentos de avaliação

As escalas utilizadas são classicamente conhecidas pelos mais


diversos estudos sobre envelhecimento em vários cenários de práticas de
saúde.17,18

O teste que avalia o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20


(IVCF-20) é utilizado para identificar rapidamente o idoso de risco, que
necessita de uma dependência funcional, onde a atenção deve ser totalmente
maximizada, pois ele possui alto risco de ter um declínio na sua atividade
motora e funcional (MORAES et al, 2016). O IVCF nada mais é que uma
metodologia de reconhecimento rápido em que o idoso é o alvo, para avaliar
se é necessário intervenções para proporcionar melhorias da saúde, e através
dele
é aplicado um questionário que visa identificar através de uma pontuação, se o
paciente é frágil (LINS et al, 2019).20,21

A avaliação de Atividade de Vida Diária (AVD), como a escala de Katz, é


um instrumento que avalia habilidades simples, mas necessárias para se viver
de maneira independente. Ela foi criada para avaliação dos resultados dos
tratamentos em idosos e para planejarmos ações perante o prognostico futuro
nos doentes crônicos (VERAS RP., et al, 2006). É formado por seis itens que
medem o desempenho do indivíduo nas atividades de autocuidado,
obedecendo uma hierarquia de complexidade: alimentação, controle de
esfíncteres, transferência, higiene pessoal, capacidade para se vestir e tomar
banho, tendo em vista uma base em funções primárias biopsicossociais.
Ademais, levando em consideração as funções avaliadas pela seleção, é
realizada uma classificação em oito grupos, divididos em A, B, C, D, E, F, G e
outro, que se referem ao grau de independência ou dependência de cada
pessoa para a realização de suas funções. Os participantes que são
classificados no Grupo A são independentes para todas as atividades; no grupo
B, são independentes para todas as atividades menos uma; no grupo C, são
independentes para todas as atividades menos a de banho e mais uma outra;
no grupo D, são independentes para todas as atividades menos banho, vestir-
se e mais outra; no grupo E, são independentes para todas as atividades
menos banho, vestir-se, ir ao banheiro e mais ainda outra; no já no grupo F,
são independentes para todas as atividades menos banho, vestir-se, ir ao
banheiro, transferência e mais uma outra; no grupo G, são dependentes para
todas as atividades; e como outro grupo, dependente em pelo menos mais de
uma ou duas funções, mas que não se encaixa em C, D, E, e F (HERDEMAN,
et al, 1998).

Quando falamos de Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD’s), a


escala utilizada foi a de Lawton. Esse teste avalia as atividades instrumentais
de vida, medindo o nível de dependência que o indivíduo testado possui para a
realização de certas atividades diárias. São essas atividades a capacidade de
utilizar telefone, ir a locais distantes utilizando um planejamento especial, fazer
compras, preparar refeições, arrumar a casa, realizar trabalhos domésticos,
lavar e passar roupas, tomar remédios na dose e horários corretos e
cuidar das
próprias finanças, e pedindo respostas entre realizar sem ajuda, realizar com
ajuda parcial e não conseguir realizar sem ajuda (MARRA, et al, 2007).

Para avaliação do estresse e sobrecarga dos cuidadores foi escolhida a


Escala de Zarit. Esse teste é constituído por 7 perguntas, e diante de cada
questão feita pelo examinador, o entrevistado deve indicar a frequência que se
ocorre os fatos que foram perguntados. As opções que a pessoa tem para
responder são: nunca (1 ponto), quase nunca (2 pontos), às vezes (3 pontos),
frequentemente (4 pontos) e quase sempre (5 pontos). Depois é feita uma
somatória, onde o valor máximo é de 35 pontos. Um resultado de até 14 pontos
indica estresse leve, de 15 a 21 pontos é apontado um estresse moderado, e
acima de 22 pontos é indicativo de um estresse grave. 22 Para um melhor
entendimento da dinâmica e organização familiares serão usadas ferramentas
de avaliação familiar: o Genograma e o Círculo Familiar.

O Genograma Familiar é um instrumento de avaliação familiar que


consiste num sistema de colheita e registo de dados e que integra a história
biomédica e a história psicossocial do Idoso e sua família.23 O Círculo
Familiar é um método que permite ao paciente consciencializar, visualizando,
alguns dos seus sentimentos e emoções, bem como os níveis de
proximidade ou distanciamento afetivo, relacionados com o seu estar na sua
família.24

Após a realização de todas essas escalas e o acompanhamento dos


idosos em questão, a equipe irá desenvolver um Projeto Terapêutico Singular
(PTS), que consiste em um conjunto de propostas de condutas terapêuticas
articuladas para um indivíduo, uma família ou um grupo que resulta da
discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar com apoio matricial, se
esse for necessário.

3.5 Critérios de inclusão

Pessoa Idosa residente na área adscrita da equipe da ESF e por ela


acompanhado.

3.6 Critérios de exclusão


Recusa do idoso ou de seus familiares em participar do estudo.
4 RESULTADOS

4.1 Relato de caso:

O paciente índice acompanhado pelo grupo foi MJB, sexo feminino, 73


anos. Inicialmente os dados foram coletados por meio do prontuário da
paciente. A mesma tem registro de acompanhamento desde 2007. No
período avaliado, MJB possuía maior regularidade de frequência na unidade
de saúde, enquanto seu marido procurava atendimento apenas para
demandas pontuais.

A idosa acompanhada apresenta diversas comorbidades, dentre elas,


obesidade grau 2, Hipertensão Arterial Sistêmica, hipotireoidismo,
dislipidemia, incontinência urinária e varizes de membros inferiores. Em
relação a Hipertensão Arterial Sistêmica, esta foi diagnosticada no ano de
2009 com aferições de pressão arterial acima de 140x90 mmHg, e então
iniciou o tratamento medicamentoso que foi alterado diversas vezes devido a
descompensações sequentes da pressão sanguínea. Seu hipotireoidismo
durante todo acompanhamento não estabilizou em valores ideias, sendo que
segundo relatos da paciente os medicamentos não eram administrados de
maneira correta. No que diz respeito à dislipidemia da paciente alcançou
valores muito acima da referência desejada, mesmo com o tratamento
medicamentoso baseado na ingestão de estatinas, os índices de colesterol
não diminuíram. Por fim, suas varizes em membros inferiores são relatadas
no prontuário juntamente a realizações de duas varicectomias em 2012 para
melhora clínica. Ademais, ela realizou uma herniorrafia inguinal à direita no
ano de 2012.

MJB é casada com AB, sexo masculino, 74 anos. Em relação a seu


esposo, apesar de possuir diversas comorbidades, o sr AB não fazia
acompanhamento regular. Segundo dados colhidos através do prontuário do
mesmo, com o passar dos anos e o surgimento de novas patologias, ele
passou a fazer acompanhamentos regulares, enquanto dona MJB se
ausentou dos atendimentos para cuidar e acompanhar seu marido.
AB também apresenta diversas comorbidades, sendo elas,
Hipertensão Arterial Sistêmica, sobrepeso, Diabetes Mellitus tipo 2 e
incontinência urinária.

O primeiro registro de hipertensão no prontuário foi em 2009 com


uma PA de 160x100 mmHg. O paciente apresentava um IMC de 28, ou seja,
encontrava- se na faixa de sobrepeso. Quanto ao diabetes não há registros
da data do diagnóstico, porém o primeiro registro foi em 2011 com uma
glicemia em jejum de 325mg/dl, que segundo a SBD o valor de referência da
glicemia de jejum é ate 100mg/dl. Em 2017, AB se tornou dependente de
cadeiras de rodas, devido à realização de duas amputações de membros
inferiores, a primeira no membro inferior esquerdo em março e a segunda no
membro inferior direito em dezembro do mesmo ano.

O casal possui três filhos que atualmente não residem junto a eles.
MJB toma conta das atividades de casa e a parte financeira é administrada
por uma filha.

No IVCF-20 realizado com a paciente MJB, ela relatou lapsos de


memória, sentimento de tristeza nos últimos tempos, devido à problemas
pessoais, e que ela perdeu o interesse em algumas atividades que antes eram
prazerosas. Além disso, relatou também dificuldade em realizar o manuseio
de pequenos objetos. Em relação aos outros tópicos do questionário, ela disse
não possuir dificuldades para executar tais tarefas. Contabilizados os pontos
na escala, o valor encontrado foi 8. Tal resultado indica que a paciente é
potencialmente frágil e, portanto, demanda maiores cuidados pela equipe
multidisciplinar da UBS.

No teste de Katz aplicado verificou-se o resultado negativo para quase


todas atividades do teste, exceto para o controle esfincteriano, classificando-
a como pertencente ao grupo B. Já no teste de Lawton, as respostas em
relação às finanças e remédios foram totalmente dependentes de terceiros, a
em relação a arrumar a casa foi parcialmente dependente e todas as outras
foram sem dependência.
Já na escala de Zarit, foi evidenciado que ser cuidadora acaba
acarretando um grande estresse em MJB, prejudicando a execução de
tarefas e até mesmo sua qualidade de vida. Diante de 7 perguntas, onde o
valor total é de 35 pontos, MJB obteve um score de 31 pontos, o que indica
um estresse do cuidador grave. Em relação ao genograma familiar, foram
coletados os dados genealógicos e a partir deles obtivemos as seguintes
informações:

Após a coleta dos dados e acompanhamento dos idosos em questão, o


PTS desenvolvido pela equipe ficou da seguinte maneira:

PLANILHA - FAMÍLIA MJB e AB


INTERVENÇÃO SISTEMÁTICA
NOVEMBRO 2020
COMPONENTES SITUAÇÃO CURTO PRAZO CUM MÉDI CUMP
PRIM O RIME
DE SAUDE ENTO PRAZ NTO
DAS O DAS
META META
S S
-Família -Moram -Compreender
constituída sozinhos melhor os laços
-Ambos existentes entre
por AB, 74 necessitam de os membros da
anos, MJB 73 cuidados, família
anos devido a -Estabelecer
comorbidades contato com
-São distantes familiares para
da maioria auxiliar no
cuidado
dos familiares -Reunião familiar
-MJB é
cuidadora de
AB
-AB, 74 anos -Diabetes -Reunião com os
profissionais
-HAS da
UBS para
-MMII amputados discutir questões

como
independência
para tomar seus
medicamentos
-MJB, 73 anos -Dislipidemia -Tratamento para -Realizar
estresse plano de
-Hipotireoidismo cuidadora
do cuidador
-Obesidade -Consulta com
psicólogo
-Varizes -Conversa com
farmacêutico do
Hipertrigliceridemi NASF
a
para explicar
-Depressão
doses e horários
de
remédios
-Consulta com a
nutricionista do
NASF

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acompanhamento do casal de idosos que são o foco central


desse trabalho, evidenciou que MJB é parcialmente frágil, com base em
resultados de algumas escalas que foram aplicadas no decorrer desse
estudo. Outro problema identificado, é que o papel de cuidadora causa
grande estresse em MJB, e isso faz com que haja uma piora do
prognóstico de suas comorbidades, e pode até mesmo ser um agravante
para a fragilidade da idosa.
Por fim, é necessário que haja um suporte psicológico para MJB e
uma maior atenção acerca da sua medicação. Outro ponto que pode ser
citado é que AB precisa de maior independência, pois isso irá ajudar para
que não haja uma sobrecarga no papel de cuidadora exercida por MJB.

Conclusão

A partir do presente trabalho pudemos concluir que o


acompanhamento dos idosos em questão agregou ao grupo muito
conhecimento, não só patológico pelas comorbidades apresentadas e
estudadas, mas também um conhecimento social das barreiras que eles têm
que enfrentar todos os dias para fazerem atividades que por nós, jovens,
seriam julgadas simples e fúteis. Além disso é importante frizar o quanto
pudemos ajudá-los durante esse período, formulando um plano de cuidado
além do presente projeto terapêutico singular.
Referências

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Brasil: a construção de um modelo de cuidado. Ciênc. saúde coletiva,
23(6):1929 – 1936, junho 2018.

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Mattos. Cuidados paliativos na atenção primária à saúde., volume 1,
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[4] Brasil, lei 10.741 de out de 2003. dispõe sobre o estatuto do idoso e dá
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/ L10.741.htm>.

[5] Jorge Alexandre Silvestre and Milton Menezes da Costa Neto.


Abordagem do idoso em programas de saúde da família. Cad. Saúde
Pública, 19(3):839 – 847, junho 2003.

[6] Caderno de Atenção Básica n°19 - Envelhecimento e Saúde da Pessoa


Idosa. 2006.

[7] Jorge Alexandre Silvestre and Milton Menezes da Costa Neto.


Abordagem do idoso em programas de saúde da família. Cad. Saúde
Pública, 19(3):839 – 847, junho 2003.

[8] Rachel Esteves Soeiro, Rubens Bedrikow, Bruna Daniele de Souza


Ramalho, Ana Júlia Schmidt Niederauer, Clarissa Vasconcellos de
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Freitas, and Giuliano Dimarzio. Atenção Primária à Saúde e a pandemia
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