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editorial Diretores da revista:

Começo escrevendo esse editorial com uma palavra Iorubá chamada Editor e diretor responsável:
ayo, que na tradução significa alegria. Por isso crianças nascidas em Júnior Porto
dias alegres entre a família o seu nome termina com ayo, como Ade-
bayo. Marginália nasceu em um momento de crise sanitária que assola Diretor de arte:
todo o mundo. No Brasil a situação é crítica, principalmente em gru- Andressa
pos que estão em situação de vulnerabilidade extrema, e o país marca
suas 500 mil mortes causada pela Covid-19. É um número desolador, Diretoria digital:
que nos preenche com um sentimento de luto. Mas como uma palavra Isabela e João Luiz
que significa alegria pode abrir esse editorial? Uma vez li que o amor
nos tempos de hoje é um dos maiores atos de resistência. A alegria Revisão:
em construir novas realidades e válvulas de escape de uma realida- Júnior Porto

ARTE SOBRE O MUSEU DA


de desoladora também. A revista surge como uma esperança de dias
melhores para nós estudantes de Psicologia. Não poderia trazer uma Designer:
referência mais contundente dentro de um país que mata indiscrimi- Andressa, Isabela, João Luiz e
LÍNGUA nadamente seu povo por determinação de cor, de credo, de classe e
região. O idioma Iorubá desde 2018 se tornou patrimônio imaterial
Maria Vitória

do Estado do Rio de Janeiro. Essa simbologia mostra como a língua Capa:


portuguesa imposta por seus colonizadores encontrou insurgências de Andressa
outras culturas e povos. Como o povo iorubá do reino de Ketu (atual
Benim) aos povos originários, que são uma multiplicidade cultural tão Ilustrações e arte:
rica, esquecida, violentada e que abrigam um tesouro imaterial sem Andressa e Letícia
precedente. Nosso editorial, nossa primeira edição – que Exú abra
caminhos para tantas outras – marca o nosso ponto mais importante Diagramação:
para a expressão de nossas subjetividades, a língua. Seja ela falada, João Luiz Pires
cantada, tocada em diferentes instrumentos e ritmos, em pinturas, dan-
ças, não importa. O editorial primeiro da Marginália abre portas para Sugestões de pauta:
as Cartografias da Língua. Espero que cada leitor possa compreender rmarginpália@gmail.com
a importância e o peso de algo que é tão inato para todos nós: FALAR.
Em um país que passou pelo extermínio continuado de seus povos ori- Redes Sociais: @revistamarginalia
ginários, desumanizou povos na diáspora de África, construiu barrei-
ras entre nós, impôs um sistema escravocrata, rebelou um dos piores
momentos de nossa história com o regime de exceção. Não sei quando
começou, mas tudo isso rebelou um outro idioma, ou o início ao que
hoje chamamos de português BRASIL. Da neurociência a língua gue-
to, dos sons das artes e corpos, descubra os caminhos da língua aqui.

Um agradecimento a Professora Mirela Ricarte, você nos insti-


gou em um trabalho de sua disciplina a criarmos novas perspec-
tivas. E nesta criação surgiram modificações insurgentes em to-
dos nós da Marginália. Isso é revolução pela educação. Você é
revolucionária. Um salve! Um axé! Um amém! Um muito obrigado!

Júnior Porto – Editor Chefe.


sumário
dossiê
cartografias da linguagem
“Vai Passar”
3
entrevista
Vladmir Félix

por Leticia goulart.


Professor doutor 13 Brasil, língua gueto
A linguagem na formação
do homem Autores: Júnior Costa
Entrevistador: Júnior Porto Rafaela Apolinário
18 Linguagem e outras transas
Autores: Isabela Duarte
Gabriela Ferreira

27
28 Quadro da língua
Exposição de obras de arte
31 Neurolinguística nos tempos
de hoje
Autores: Andressa Pereira
João Luiz Pires
38 A psicologia é linguagem?
Autores: Maria Vitória Rodrigues
Felipe Ripardo
41 O desenvolvimento do
aprendizado da língua em tem-
pos de pandemia
Autores: Elsiane Lara
Joelly Oliveira
43 Agradecimentos especiais
44 Referências

colaboraram nessa edição

Arte cedida pela artista (2021)


Andressa Pereira Isabela Duarte Joelly Oliveira Maria Vitória

Elsiane Lara Felipe Ripardo Júnior Costa Rafaela Apolinário


As diversas ondas de covid no Brasil
Uma homenagem às mais de 500
Gabriela Ferreira João Luiz Pires Júnior Porto mil mortes por covid no país.
Entrevista:
A LINGUAGEM NA
FORMAÇÃO DO HOMEM
Entrevistador: Júnior Porto
Fotografia: Nayron Barbosa
Passando por Caetano, insurgindo ideais com outros pensadores e seguindo pelo campo
antropológico das narrativas da esquisoanálise de Deleuze e Guatarri. A entrevista com o
Professor Doutor Vladmir Félix foi uma fruição potente que marca o encontro com o passado
para entendermos o presente e formularmos novas narrativas de vida e futuro para o homem
e o que seremos a partir da nossa própria língua.

- Através da língua falada e sobre a exis- vens e adultos, sobretudo que eu chamei de
tência de outras formas de expressões, psicopedagogia da linguagem corporal, de
aquela que denominamos nossa língua como o corpo que expressa essa linguagem
mãe, como Vladmir pode se apresentar? se constitui como dispositivo e ferramen-
ta da aprendizagem para jovens e adultos.
Eu posso dizer que a minha língua é uma
língua de matuto, patativamente pensando, - Dentre todos e muitos Vladmis que exis-
como o poeta Patativa do Assaré. Eu nas- tem em você e durante sua jornada, no
ci no sertão e no sertão é a linguagem do Brasil também existem diferentes línguas,
matuto. Eu sou Antônio Vladmir Félix da uma língua que se sobrepôs claramente
Silva, tenho 56 anos, e sou do sertão cen- sobre tantas outras inclusive sobre o pró-
tral do Quixadá, o coração do Ceará. Eu ve- prio português, e que se transformou e
nho de um contexto de cultura oral, onde a continua se transformando em regiões di-
maioria das pessoas realmente não sabiam ferentes, em guetos, em estados, em comu-
ler e nem escrever, e isso me constitui de nidade, como um organismo vivo. Como a
tal forma que me formei depois em alfabeti- gente pode definir o Brasil e a sua língua?
zador de jovens e adultos em função dessa
necessidade e das possibilidades que eu tive Primeiro cito Deleuze, que diz que não exis-
de aprender a ler e a escrever, e de ter feito te uma língua mãe, existe uma língua que
pedagogia. A partir disso, quando fiz peda- é roubada, uma língua que se impõe politi-
gogia tive uma experiência muito boa na al- camente, porque na nossa cultura existem
fabetização de jovens e adultos com a turma múltiplas línguas. Inclusive hoje com a exis-
Maria Preta em Assaré, e essa experiência tência de vários povos indígenas diversas
foi que me fez enviar projeto para fazer uma línguas e essas línguas também nos consti-
formação em Psicopedagogia Clínica na tuem. Só que infelizmente somos analfabe-
Argentina. Nesta formação que eu estudei tos no que diz respeito as línguas indígenas.
a psicopedagogia de aprendizagem de jo- E as vezes, estamos muito mais preocupa-
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dos em aprender a língua do outro, no caso diferença, se fala quais são as ferramentas gemônico. E a pessoa ao fazer isso ela está
a língua de quem nos colonizou do que a conceitos que a gente maneja para resistir e criando e dando vozes, e ela não está esqui-
nossa própria. A nossa própria querendo para lutar contra isso que nos agencia. Não zofrênica porque está fazendo isso, na ver-
dizer as anteriores a portuguesa, pois ela que a gente vá necessariamente conseguir dade ela está inventando uma multiplicidade
não é a nossa língua mãe como se coloca, na romper com tudo isso, mas a ideia é essa. de devires, de saídas. Quando cito no come-
verdade ela é a língua que se impôs as que E com base a pergunta inicial que foi feita, ço Caetano e quando ele diz “minha pátria
existiam. Então, nessa babilônia não dá pra essa relação entre esquizofrenia e esquizo- é minha língua”, porque o Pessoa sendo um,
gente saber qual foi a nossa primeira língua. análise. Isso tem tudo a ver com a pergun- ele é múltiplo ao criar vários estilos de escri-
Em segundo lugar, acho que podemos pen- ta feita com a linguagem, por que nós nos ta em diferentes modos de fazer poesia, de
sar com Viveiros de Castro. Ele diz que essa constituímos nessa linguagem, o próprio escrever a sua literatura. Não é só o Pessoa
nossa noção de nação é um eufemismo, por- Lacan no que diz respeito a concepção do que é assim, todos nós somos assim, temos
que o Brasil não é uma nação: a nação bra- inconsciente vai mostrar que o mesmo se a capacidade da multiplicidade. A partir dis-
sileira. Por que ele coloca isso e porque eu constitui como uma linguagem. Quando a so que vem a concepção da esquizoanálise.
concordo com isso? Como eu falei a pouco, gente diz aqui que o inconsciente se consti- Pensar a subjetividade como sócios, e esses
se existem vários povos indígenas então não tui como uma linguagem, não é no sentido sócios não está restrito ao reflexo da socie-
há povo brasileiro, existe uma ideologia do só lacaniano, é no sentido de que o Lacan dade e não ser como reflexo e sim com a
povo brasileiro que na verdade quando se constatou a realidade, e essa invenção da relação com esse “fora” que nos constitui.
fala a língua brasileira ou a língua portugue- linguagem que nos aproxima ou nos distan- E essa constituição tanto faz a gente estar
sa que se fala no Brasil, é uma tentativa tam- - Tomando a deixa, você é um estudioso de cia da natureza. Para os povos indígenas sujeitado ao que está posto, como também
bém de apagar os diversos idiomas que se Guatarri e Deleuze, eles construíram um aproxima, pois a cosmologia deles é de que nos possibilita modos de produzir saídas
fala no Brasil, como a língua que a gente usa conceito político, de fruição, filosófico e o animal que existe, as pedras, a água, tam- através da língua, que a Ronilk vai chamar
ainda referente a cultura Ioruba, a própria antropológico em cima da palavra esquizo- bém constitui viventes, também constituem de línguas que pedem passagem. O movi-
cultura indígena e suas palavras que usamos frenia, dando nome a esquizoanalise. Como os seres terranos. Estão todos neste espaço mento negro e o movimento transfeminista,
no nosso cotidiano. Às vezes, como algumas a esquizoanalise pode relacionar a lingua- e merecem respeito. Já do ponto de vista de em ambos podemos perceber como essa re-
violências que as cidades sofrem por terem gem com os nossos atravessamentos de quem se distanciou desse reconhecimento sistência por meio da linguagem se amplia,
nomes indígenas que tem de mudar a sua criação, construção, de mundo e de vida? acaba achando que a gente só se constitui a partir do deste movimento que reconhe-
escrita para poder ficar a uma que corres- como linguagem porque somos superiores ce a politização do corpo, a importância de
ponda ao que se possa ser traduzido para o É uma pergunta muito provocativa, porque ao rio, a floresta e aos outros animais. Com que meu corpo é político. E por ser político
inglês. E pensar o Brasil e definir o Brasil e ela faz a gente pensar a filosofia da diferen- essa complexidade, Guatarri observa o que ele pode se reinventar, onde pessoas trans
sua língua é difícil de responder uma coisa ça mesmo que seja a partir de Deleuze e ele chama de uma necessidade de uma éti- podem migrar de gênero, usam essa lingua-
sem pensar em uma outra pois aí temos de Guatarri, mas não restringindo ao pensa- ca ecosófica, uma ética que inclua também gem corporal para performar outro gênero.
pensar em Caetano Veloso, quando ele traz mento deles a diferença, pois é o contrário. nessas ecologias, uma ecologia relacionada Não podemos reduzir essa transição a uma
na perspectiva de Fernando Pessoa, que tem Eles mesmos quando criam esses conceitos, a outros viventes, não só o humano. A es- performance, mas sim a um reconhecimen-
seus heterônimos, o Brasil também é múl- a própria expressão esquizoanálise em um quizofrenia vai se caracterizar por essa ma- to de identidade. Ela se constitui nesse gê-
tiplo, tem muitas línguas que falam Brasil, capítulo do Ilha Deserta, os mesmos vão pe- neira de ouvir vozes, de falar línguas para nero, a partir do ponto de vista do desejo.
lembro agora do Africano Amadú que ele dir para a gente, se quisermos não usarmos, o nosso contexto chamadas de estranhas,
diz que: “tem um português brasileiro”; mas e se quisermos inventarmos um outro ter- que não são do ponto de vista racional do - Tem um texto onde se diz que a mãe do
o português brasileiro que ele conhece é o mo e utiliza-lo. E claro, inventar os nossos normal. No entanto quando a gente vai pen- Brasil é indígena, não é branca e nem por-
que se fala aqui em Parnaíba. Aqui temos os próprios termos, e é muito curioso porque sar, quando Deleuze e Guatarri vão criar o tuguesa, para você onde que a língua con-
sotaques e dialetos, e todos eles constituem eles são os autores que em Mil Platôs, já conceito e a concepção de esquizoanálise, segue ultrapassar essas barreiras de signos
essa multiplicidade que nomeamos de língua falam desse homem branco, heterossexual eles dizem que na arte as pessoas também e significados para nos dizer quem somos
portuguesa no Brasil, que tem pouco portu- e eurocêntrico que impôs para o mundo inventam línguas, por meio da arte a pessoa em um país que fala português, língua
guês no sentido de termos, sentidos, signifi- uma concepção de racionalidade hegemô- inventa uma língua para fazer um protesto, gueto, em diferentes universos e formas?
cados, embora é isso que é exigido de nós. nica. Então, quando se fala da filosofia da pra radicalizar e ser contra aquilo que é he-
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Eu penso que tem um elemento aí que eu nados espaços por exemplo. Para você, a essa opressão elas não ficam passivas. A - Você tem uma ligação com a arte muito
vim me aproximar dele aqui em Parnaíba, linguagem na proporção que ela liberta, própria história mostra isso, desde a consti- próxima, até mesmo por ser produções que
depois do doutorado em Cuba, bem bastan- ela também aprisiona e violenta corpos? tuição de quilombos, da própria resistência partem de momentos esquizos. E a arte pode
te depois, que é a questão da linguagem do indígena de não se assujeitar a escravidão, ser o encontro em diferentes formas, desde
hip-hop. Que envolve dança, o próprio rap e Tudo isso é mais complexo, pois não é só de inclusive se isolar na floresta para poder a pintura, escrita, dança, música. Como
a música, e também o grafite, que é também a linguagem, mas também a cultura como não ser encontrado, não ser civilizada por homem e alfabetizador, qual a importân-
uma língua escrita. Então, essa multiplicida- um todo, Alfredo Bose na Dialética da Na- esses homens considerados brancos, euro- cia da arte e sua relação com a linguagem?
de do hip-hop traduz bem isso que você está tureza vai trazer essa questão da etimologia peus e heterossexuais que queriam destruir
perguntando, no sentido dessa multiplicida- da palavra cultura que vem da mesma da a língua indígena e sua religião. Só que esses É tanta, que isso me lembra que os parâme-
de e de saídas que as populações encontram palavra colonizador/colonizar. A gente não corpos eles nunca foram passivos, mesmo tros curriculares vão falar de múltiplas lin-
para não se assujeitar a uma língua, como se pode esquecer já pensando na sua pergunta os que estavam em silencio estavam traman- guagens para incluir a arte neste contexto,
fosse uma única língua. Então nesse campo e sobre Fanon, de como se deu o proces- do como fugir, como organizar quilombos, pois durante um tempo ela ficou excluída
da multiplicidade é onde opera as diferentes so de colonização, no sentido de encontro, como produzir pela dança o protesto, como de ser uma das expressões como produção
saídas que a população encontra para afir- chegar em um território e invadi-lo, onde produzir pela capoeira a resistência, a luta. de subjetividade. Então, ela tem uma impor-
mar o seu idioma, a sua língua, a sua manei- no caso do Brasil há uma multiplicidade de Hoje quando a gente vê o rap podemos ver tância muito grande. A minha aproximação
ra de falar. Aí vamos ter a língua da periferia línguas e você impõe a língua portuguesa, a relação que ele tem com o repente, a re- com a mesma não significa que eu conheça
que fala em uma linguagem que muitas ve- inclusive para catequisar indígenas. E você lação com a capoeira, então não existe uma tanto da arte, foi muito mais uma necessi-
zes outros contextos não entendem, vamos apaga ou tenta apagar toda uma cultura dos única coisa que diga que se originou aqui dade. A precarização da vida por falta de
ter a língua do contexto rural, dos povos do povos africanos, trazidos para serem explo- ou ali, mas tem uma genealogia porque tem políticas de acesso me fez com que ao alfa-
campo, vamos ter as línguas – já entrando rados como mão de obra escrava e obriga to- uma história e é uma história de resistên- betizar, foi preciso que eu buscasse na arte
para o plural – dos povos indígenas (povos dos a falarem língua portuguesa. Isso já é a cia. Que hoje Achille Mbembe chama de mi- ferramentas que possibilitassem o uso em
da floresta), e vamos ter a linguagem dos primeira violência que é sofrida, que é com croinsurgências. Que são essas insurgências si na língua escrita. E uma das ferramen-
povos das águas. Ou seja, quando eu digo a língua, pois se destituíram as línguas des- que os povos periféricos e populações que tas primeiras que eu busquei foi a poesia
que essa linguagem, isso significa que essas ses povos. Todo o trabalho que é feito hoje, são consideradas marginais produzem para do Patativa do Assaré, porque o Patativa só
populações vão usar o vocabulário do seu principalmente em comunidades de terrei- continuar existindo. E como disse a Con- estudou seis meses e publicava livros. E eu
contexto, palavras que muitas vezes não é ros, ou a partir mesmo das próprias comu- ceição Evaristo “Eles combinaram de nos ia alfabetizar jovens e adultos que iriam es-
de domínio de quem não é daquele contex- nidades indígenas que tem acesso à universi- matar. E nós combinamos de não morrer.”. tudar seis meses a um ano para aprender
to. Não significa dizer que essas pessoas e dade e a escolarização, é uma tentativa para ler e escrever. A entrada que eu encontrei
tudo delas estejam reduzidos a esse lugar aqueles que são mais insurgentes, eles vão foi a arte, e eu tomei gosto por isso, gostei,
e contexto, o sentido que elas atribuem a retornar para suas comunidades para conti- e utilizava essas ferramentas em acompa-
vida delas passam por aquela relação, mas nuar defendo o que eles acreditam, que é o nhamentos psicopedagógicos, pensando a
não significa dizer que elas só possam ter não desaparecimento das línguas. A cultura intervenção clínica sempre através da arte,
acesso a isso e elas estejam irrestritas a isso. não está fora das instituições da violência, usando literatura, seja ela infantil, contando
como nada está fora deste processo e desses histórias, e por aí vai. E levando em conside-
- Em Pele Negra, Máscaras Brancas, Fa- agenciamentos. Neste sentido, como o pró- ração e em divergência em não só reconhe-
non dedica o primeiro capítulo de sua tese prio Paulo Freire diz, a educação pode ser cer arte como aquilo que é clássico ou o que
sobre a relação da língua e do negro, que libertadora, mas pode ser opressora. E den- o outro considera arte, porque é feito pelo o
quanto mais o homem assume e se apro- tro dessa educação, que faz parte da cultura artista, mas também, considerar que aquilo
xima da língua do colonizador, mais pró- também está a língua. Essa é uma marca de que você inventa é uma expressão artística
ximo do homem branco ele fica. No Brasil opressão, só que ao mesmo tempo, eu não que pode dentro de um determinado con-
existe essa distância entre a língua popu- vejo uma perspectiva tão dialética, como se texto ser reconhecido como arte. Um exem-
lar, regionalista, indígena, que em deter- fosse opressor versos oprimido. Do ponto plo disso é a própria história do Arthur
minados momentos separam mais do que de vista de classe é isso, mas do ponto de Bispo do Rosário, que com todo transtorno
aproximam, como a ocupação de determi- vista de subjetividade as pessoas que sofrem mental dele no Engenho de Dentro (hospi-
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tal psiquiátrico), ele organizava na sapateira vários calçados de uma maneira tão estética que
fazia com que o outro visse ali não uma sapateira e sim uma obra de arte. O que vai constituir a
obra de arte é exatamente a própria relação estética que você tem com o objeto. Neste sentido
a arte que a população de rua produz com alumínios mostram que eles também são artistas,
como também a poesia que eles produzem na rua para sobreviver também é arte. Como eu fiz
pesquisa com essa população eu tomei isso como objetos relacionais da arte, que é o conceito
da Lígia Clarck e que a Sueli Ronilk trabalha. Quando comecei a trabalhar com esses objetos,
eu não os chamava assim, pois não conhecia o conceito, mas depois que eu conheci eu percebi
que a primeira vez que eu trabalhei para alfabetizar jovens e adultos já fui utilizando a poesia
como objeto relacional da arte. E não era só a poesia produzida pelo Patativa, era também a
poesia produzida pelos próprios alfabetizandos, tanto é que na própria edição da experiência
com a turma Maria Preta, a própria que leve o nome da turma, recita a poesia dela. Uma po-
esia que ela produziu oralmente, creio que o primeiro verso diz assim “Mariana filha única
sem ter irmão nem irmã, sua mãe se chama Ana seu pai um Damião, porém criara essa filha
com uma grande estimação, quando foi um belo dia o capitão do navio chegando se apaixonou
por ela, rosa verde flor neve, se tu quer casar comigo”, é longo e eu não lembro todo. Mas é
muito interessante pois mostra a força da língua para resistir e para denunciar as violências.
- Para Vladmir, a linguagem faz parte do pro- do Nonato, podemos ver que as comunidades
cesso de criação do homem, ou seria o homem indígenas daquela região para se comunicar
o criador e transformador dessa linguagem? faziam sua arte na própria pedra. Quando
Olha, tudo depende das narrativas, se a nar- caçavam ou quando tinham uma relação com
rativa for indígena nós vamos escutar o David homem e com a mulher, tem desenhos de gê-
Kopenawa dizer que O Mama criou o huma- neros expresso, de afeto e tudo mais. Então,
no, os indígenas, e os alimentava de mel, para aquela linguagem escrita também que é pré-
que eles através dos sonhos se apropriassem -linguagem oral, talvez no caso ali não fosse
dos seus antepassados, da sua ancestralidade ainda, mas é essa linguagem que possibilitou
que já dominavam a linguagem. Nessa pers- também a invenção da linguagem oral, pen-
pectiva essa linguagem já existia e é passada sando na perspectiva da dialética da natureza
através dos sonhos que esses seres foram se de Hegel. O que faz com que a gente aprenda
apropriando da língua. Se a gente ver o que a falar oralmente foram gestos de escrituras
diz o antropólogo Terence McKenna, que pes- no ar. Que é a necessidade meterialístico his-
quisou nas comunidades da Amazônia envol- tórico dialético, ou seja, a pessoa tem a neces-
vendo Brasil, Venezuela, Colômbia e Peru, ele sidade de caçar, então, ela vai atuar naquele
vai mostrar que o que possibilitou o humano contexto. Até no dia que ele gritar, aprender
se apropriar da linguagem foi ele se alimentar a usar o fogo, perceber do ponto de vista eró-
de ervas que tinham poderes alucinógenos. tico a relação entre pessoas de uma tribo e de
Quando eles estavam em transe através destas outra, a invenção do amor que é por meio do
plantas, eles se comunicavam com forças supe- roubo do fogo nas lendas e narrativas. Não dá
riores a eles mesmos, o que fez com que a lin- pra saber primeiro quem veio, se o ovo ou a
guagem fosse inventada e aprendessem a falar. galinha o que dá pra gente saber é que a lin-
Na perspectiva mais aceitável, que mais domi- guagem constitui o humano e o humano inven-
namos e que tem a ver com a história aqui do tou a linguagem em algum momento, que foi
Piauí, mais especificamente em São Raimun- constituída por ela mesma.
9
dossiê

CARTOGRAFIAS
DA
L I N G UAG E M
Brasil língua gueto
13

Linguagem e outras transas


18

de Letícia
Quadro da língua
Goulart, 28
Arte em
colagem

Neurolinguística nos tempos de hoje


31

A psicologia é linguagem?
38

O desenvolvimento do aprendizado da língua em tempos de pandemia


41

12
dossiê “Culto” que as universidades, faculdades e tem como objetivo desumanizar, desmora-
bancas de concursos raramente permitem lizar e inferiorizar. Assim, fica muito mais
afastar-se dele. fácil manter o controle sobre as classes do-
BRASIL, A linguagem surge
da necessidade do ser
guísticas como presentes em qualquer lin-
guagem utilizada como algo absolutamente Além disso, os usuários da “língua minadas, afinal essa imagem negativa do do-
humano em expressar natural, longe de serem negativas (OLIVEI- culta” são associados sempre a “poder e minado deve ser principalmente acreditada
LÍNGUA seus pensamentos, ex- RA; SAMPAIO, 2019). A insistência de di- prestígio” dentro da sociedade, e são em sua
maioria representados por imagens de suces-
por eles, levando a submissão (OLIVEIRA;
SAMPAIO, 2019). Os grupos oprimidos dei-
ternalizar seus senti- vidir os grupos falantes de uma linguagem
GUETO
Autor: Júnior Costa
mentos e colocar para
fora os mais profun-
entre os “certos” e os “errados”, surge da
tentativa de dominação por parte das clas-
so e dominação, e por homens e mulheres
brancos heterossexuais cisgêneros. Homens
xam de ver a Língua como deles, e ficam
presos num ciclo de inexistência e impotên-
Rafaela apolinário
dos aspectos da sua ses no poder. Os grupos falantes “margina- negros, mulheres negras e LGBTQIA+ são cia. O rompimento dessa lógica cruel ocorre
existência. A forma lizados” são aqueles que fogem da “língua- associados a falta de conhecimento e domí- quando os grupos exclusos se apoderam da
como essas manifestações ocorrem variam -padrão”, adequando suas falas, palavras, nio linguísticos, colocando-os num lugar ne- Língua, mas não como o opressor deseja, e
de acordo com os interlocutores, lugares e termos e expressões ao seu cotidiano e re- gativo e impotente (OLIVEIRA; SAMPAIO, sim como eles próprios enquanto comunida-
tempos históricos. É digno de nota a padro- alidade. Mesmo assim, a opressão linguísti- 2019). Na contramão dessa triste realidade, de crê ser necessário utilizá-la.
nização da linguagem, para poder ser assim ca continua presente na sociedade, toman- a Doutora em Linguística Kassandra Muniz, Pensar no corpo negro como capaz de res-
usada por um grupo de pessoas, e servir do proporções esmagadoras nos usuários aborda as mudanças sofridas por uma Lín- significar uma linguagem, nos faz pensar o
de meio para comunicação entre eles. No da Língua. As opressões e imposições são gua como formas de agregar potência, po- seu papel na sociedade como um todo. Seria
Brasil, utilizamos principalmente a Língua vistas de forma clara quando ficamos cons- dendo fazer a realidade pessoal e social dos então esse corpo negro realmente ausente
Portuguesa para comunicar nossas ideias, trangidos ao “errar” uma palavra, ou des- indivíduos ser refletida através da linguagem de conteúdo como nos fez acreditar as tenta-
sentimentos e vivências. O Português é en- conhecer determinado termo ou expressão (MUNIZ, 2021). tivas de hegemonia da Língua, ou seria um
sinado nas escolas, e o usamos no dia-a-dia, usados numa conversa simples (OLIVEIRA; Um corpo negro e periférico é atravessado retrato da capacidade de um povo em resis-
seja para comprar pão ou falar com nossa SAMPAIO, 2019). Tão sufocante é o padrão por muitas situações que o forçam a desin- tir e transformar suas comunicações, mesmo
mãe. Mas, existem várias formas de ventar, criar, sobreviver, bater e apanhar en- constantemente atacados e silenciados (MU-
expressar a Língua Portuguesa, sen- quanto sujeito de sua fala. Assim, vemos nas NIZ, 2021). Ao observar as manifestações
do inclusive defendido por alguns a manifestações linguísticas dos corpos ne- artísticas da comunidade negra dentro do
divisão arbitraria entre o “Culto” gros, seja em saraus, shows de hip-hop, mú- cenário musical brasileiro, podemos perce-
e o “Coloquial”. Nessa divisão, se sicas de funk, slams e diversas outras formas ber as potências do corpo negro de forma
falamos “certo”, seremos associa- de expressão, os seus gritos de subversão ao bem clara. A exemplificar, temos um trecho
dos ao padrão culto, e se falamos “padrão” e ao “culto”. Usar a Língua dessa da música Gueto, composta por Iza, Pablo
“errado”, então estamos sendo co- forma toma mais força quando os usuários Bispo, Ruxell e Sérgio Santos, e interpretada
loquiais (OLIVEIRA; SAMPAIO, passam a se ver nas expressões e termos por IZA:
2019). usados (MUNIZ, 2021). O povo negro ao Fecha a rua lá no gueto, gueto
Apesar disso, os estudiosos se manifestar, de forma artística ou intelec- Vai ter samba lá no gueto, gueto
da área discordam dessas divisões, tual, sempre foi atrelado ao lado ruim, sendo Joga bola lá no gueto, gueto
e ainda colocam as variações lin- marginalizados. Ela é cria lá do gueto, gueto
Quando utilizamos o termo gueto para inti- Vixe, ela é fire, asfalto e praia
Eu vim do mar tular esse texto, buscamos lembrar a forma Desce a ladeira, é porta-bandeira
(2020), como esse termo foi usado para referenciar Mais tarde tem baile na quadra
de Letícia
Goulart, comunidades “minoritárias”, sempre no Vixe, ela é fire, sobe a fumaça
arte em colagem sentido de isolamento em relação aos gru- Então brota na base, tem festa na lage
pos “majoritários e dominantes”. Adicionar Com o grave batendo na caixa
na imagem dos excluídos fatores negativos, Sim, sim, sim, sim, sei o que tá reservado
13 14
pra mim palavras é o performar constante do corpo Obviamente, utilizar variações de mes e junções de palavras usadas para titular
Bling, bling, bling, bling, grife no meu cama- negro, permitindo sua resistência e existên- uma Língua para explanar suas próprias ex- as 13 faixas do álbum mostra as singulari-
rim, yeah cia (MUNIZ, 2021). periências e vivências enquanto excluído e dades dela enquanto interlocutora de uma
Sim, sim, sim, sim, mais um contrato pra O silenciamento usando a Língua para opri- minoria resulta em impactos na sociedade realidade. Na quinta faixa “Necomancia”,
mim mir afeta não somente as comunidades ne- como um todo, tanto no sentido de indiví- utiliza-se o termo neca e a palavra necro-
Bling, bling, bling, bling, mamã, eu tô no gras no Brasil, mas quaisquer variantes da duos para buscar compreender as necessi- mancia alterada, dando forma ao título da
plim, plim, yeah norma “culta”. Os sotaques do norte e nor- dades das comunidades exclusas, bem como música. Neca, no Pajubá, significa o órgão
Andando pelas ruas, ela sabe aonde vai dar, deste, as gírias do centro-oeste, as palavras no intuito de menosprezar as tais. Dentro sexual masculino, e a utilização desse termo
aiá e termos que somente usuários locais co- do movimento LGBTQIA+ vários artistas em junção a palavra necromancia advém do
Debaixo da sua trança tem história pra con- nhecem e dominam, diversas são as formas buscam defender a comunidade por meio da intuito de problematizar o endeusamento do
tar, aiá (IZA, 2021) de adequar a linguagem aos seus usuários. musicalidade, como: Pabllo Vittar, Liniker, falo. Necromancia é a prática de utilização
A música traz o gueto para o centro, na pers- Onde existir variações do “normal”, “pa- Gloria Groover, Pepita, Lia Clark, Urias, mística dos mortos para adivinhação e ob-
pectiva pessoal da cantora, enquanto mulher drão”, “certo” e “culto”, existirá preconcei- Jup do Bairro, Jaloo, Jhonny Hooker, Danny tenção de poderes sobrenaturais, assim a ne-
negra. O samba, o futebol, a praia e as fes- tos e discriminações, como no caso do Paju- Bond, Kika Boom, Majur, Potyguara, Linn comancia é a bruxaria, ou “byxaria” (byxa
tas na laje, são algumas das referências usa- bá, utilizado amplamente pela comunidade da Quebrada e outrxs . Dentre xs citadxs + bruxaria), feita contra o falocentrismo
das para trazer o ouvinte ao seu cotidiano, LGBTQIA+ (CRYSTAL, 1998). Este dialeto destacamos Linn da Quebrada, pela carga (LINN DA QUEBRADA, 2017; TORRES,
sendo possível para quem vivencia aquelas tem raízes na Língua Portuguesa e expres- de representatividade nos seus trabalhos 2019).
experiências sentir-se parte do conteúdo, e sões de origem africana, sendo difundido acerca dos corpos negros, transexuais, peri- Seja pela comunidade negra ou pela
não excluído. Indo além, quando ela abor- inicialmente nos terreiros de Candomblé e féricos e marginalizados dentro da socieda- comunidade LGBTQIA+, as manifestações
da questões como “grifes no meu camarim”, Umbanda, posteriormente foi utilizado pe- de heteronormativa (TORRES, 2019). linguísticas são representações da subjetivi-
“mais um contrato pra mim” e “mamã, eu las travestis como uma “linguagem secreta”, Linn Santos, conhecida pelo nome dade humana desses grupos, os gritos con-
tô no plim, plim”, nota-se a intenção de de- indecifrável para os demais e especialmente artístico Linn da Quebrada, busca por meio tra sistemas opressores. A linguagem pode
monstrar potência. Entende-se por esses tre- para os policiais. Depois, o Pajubá é assimi- da sua obra musical transmitir questiona- ser usada para separar toda uma sociedade,
chos a possibilidade do poder de compra, a lado pela comunidade LGBTQIA+, gerando mentos sobre as potencialidades dos corpos e deixar completamente de lado diversas co-
rentabilidade e sucesso financeiro atrelados aos usuários identificação linguística, sendo dissidentes, das feminilidades, das minorias munidades de falantes, colocando-os num
diretamente a imagem do gueto e de pessoas diferenciado do “culto” aceito pela socieda- e das normas impostas pelo dito “padrão”. lugar de marginalizados. O Pajubá, a lingua-
da comunidade negra brasileira, rompendo de na qual estão inseridos (JÚNIOR, 2018). Fazendo referências ao Pajubá em suas le- gem das comunidades negras, os sotaques
ao lugar de marginal e ausente de conteúdo. Podemos perceber de maneira sim- tras, a realidade pobre, exclusa, menorizada espalhados pelo Brasil, as expressões regio-
Também é retratado a versatilidade do cor- ples como a Língua Portuguesa sofre mo- e periférica são claramente expostas, bem nalizadas e singulares, todas essas modifi-
po negro em lidar com questões atravessa- dificações, em função das necessidades da como as relações da comunidade LGBT- cações e variações surgem da necessidade
das nele, gerando a partir das opressões a comunidade LGBTQIA+ de expressar suas QIA+ em relação a família, igreja e escola. humana em ser parte do que fala, de ver-se
potencialidade. A cantora IZA tem através vivências com a criação de novos vocábulos. Essas explanações e exposições são feitas através de suas próprias palavras (MUNIZ,
de si atravessado vivências relacionadas ao Os termos, palavras e expressões pertencen- sempre numa tentativa de chocar e provo- 2021). A ciência nos ensina que por meio dos
racismo e ao machismo. Mas, essas potên- tes ao Pajubá são organizados visando prio- car, usando e abusando das mais diversas sentidos e significados atribuímos explicação
cias e forças do corpo são exatamente com- rizar os membros da comunidade, causando variações linguísticas, seja na forma oral ou aos símbolos e signos, usando-os assim para
posições das linguagens usadas para produ- sentimentos de identificação e pertencimen- visual (TORRES, 2019). comunicação, sejam eles escritos, falados ou
zir conhecimentos. Quando ela traz a si uma to. Quando uma travesti diz: “Tenho um O álbum intitulado Pajubá foi lançado gesticulados (STERNENBERG, 2008). As
imagem de “cria lá do gueto”, está incorpo- babado pra te contar!”, não é apenas o uso no dia 06 de Outubro de 2017, por Linn da vivências e resistências transformam esses
rando suas percepções pessoais de gueto, e de uma gíria, ou do Pajubá, mas é acima de Quebrada, sendo repleto de singularidades processos psicológicos complexos em pro-
separando das concepções negativas e opres- tudo a utilização da linguagem pela qual ela linguísticas específicas da comunidade LGB- cessos humanos de força e potência, diante
soras criadas ao redor da palavra, gerando sente-se confortável e representada (TOR- TQIA+ (TORRES, 2019). A escolha dos no- de qualquer forma de preconceito.
uma potencialidade. Esse “gingar” com as RES, 2019).
“Não é a língua que nos oprime, mas o que fazemos com ela.”
15 16
(KASSANDRA MUNIZ, 2021)
dossiê

LINGUAGEM E OUTRAS
TRANSAS
Autores: Isabela Duarte e Gabriela Ferreira

O processo de formação do Brasil contou o Barroco brasileiro, que representava nas


com diversos povos, e consequentemente suas obras o drama e violência além de so-
línguas, os mais importantes durante essa frer grande influência religiosa, devido seus
formação foram os povos indígenas, afri- mecenas se tratarem dos jesuítas catequistas.
canos e europeus vindos de Portugal nesse Na literatura o barroco mantinha o caráter
evento. Essas diversas línguas formaram o religioso retratando o impasse do indivíduo
português brasileiro, ou apenas brasileiro, ao buscar o divino e querer o profano, teve
como idioma, mas durante esse processo dois estilos de escrita: o cultismo e o con-
de formação não ocorreu apenas a troca da ceptismo. O outro movimento foi o Neoclas-
língua propriamente dita, ocorre também sicismo que se popularizou principalmente
as trocas culturais para formação do nosso depois da Missão Artística Francesa, alguns
idioma como um todo, e mesmo assim ele anos antes do estabelecimento da família real
ainda tem diferenças impressas por fatores na colônia. O movimento propunha o renas-
regionais e socioeconômicos. Durante esse cimento da antiga corrente artística clássica,
processo vamos elencar algumas manifes- altamente influenciado pela arte greco-roma-
tações culturais que ajudaram nessa forma- na alinhado ao pensamento iluminista. Pri-
ção cultural que é a língua brasileira, dessa mava o realismo, harmonia e simplicidade
forma a língua ocorre de várias transas com imprimidos diretamente nas suas pinturas
sujeitos diferentes. Esses processos culturais e esculturas. Na literatura, o neoclassicismo
refletem um pouco alguns estereótipos so- tem destaque com o Arcadismo que mantém
bre corpos e culturas até hoje. os mesmos enfoques das artes plásticas e se
volta para o homem e abandona o divino,
Herança europeia por isso temos uma visão melhor das suas
Os povos europeus com a chegada na parte ambições passionais. Durante os tempos co-
sul do continente americano e a instalação loniais o gênero musical trazido pelos por-
das primeiras colônias utilizaram da arte tugueses foi a Modinha, apesar de não ser
para documentar e descrever o cotidiano, um estilo erudito, era um estilo bem simples
habitantes e ambiente. Aqui podemos identi- e tinha contato com saraus literários, taber-
ficar primeiro o Quinhentismo na literatura, nas e lares. A música geralmente era senti-
de caráter totalmente genérico sem valor po- mental, durante o império viria dar origem
de Letícia ético, era apenas documentos des- a um segundo gênero brasileiro que se tor-
Goulart, critivos ou de caráter catequista e nou bastante popular, o Choro, que trazia o
arte em colagem
relatos de viagem. Os movimentos mesmo caráter sentimental da modinha tam-
artísticos do tempo colonial foram bém, era conhecido por transmitir um certo
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sentimento de melancolia, de feição própria zação dos personagens. Junto ao realismo e mesma, focando principalmente nas músi- kikongo, kioko, umbundo vão moldar nos-
o gênero tinha grande foco no instrumen- naturalismo, na literatura temos o acréscimo cas para teatro. so vocabulário e deixar impressões como a
tal e usava do violão, cavaquinho e flauta. do Parnasianismo, que dessa vez era mais exemplo as palavras bunda, cafundó, fubá,
O choro com o tempo cresceu e começou a estético, seguindo mais o “arte pela arte”, Herança afro-brasileira e indigena muamba e miçanga. Os povos que trouxe-
englobar outros estilos dentro de si como a era dado importância a métrica, versação e ram essas palavras pro nosso vocabulário,
polca, valsa, samba e maxixe. palavras mais cultas. Contrariando os movi- Os povos africanos vindos para o brasil atra- eram enviados geralmente pro nordeste e
mentos anteriores que ainda primavam pela vés do processo violento que foi a escrava- dois estados do sudeste do Brasil, o que fa-
Durante a época do império a início tive- razão, no Simbolismo, iniciado em 1885, a tura, eram divididos em principalmente três cilitou essa popularização das palavras, já
mos o Romantismo, foi uma das primeiras realidade representada no movimento era grupos, os Sudaneses, Bantos e Guineanos- que durante colônia e império foram locais
correntes nacionais, teve grande incentivo subjetiva, primavam a cor através das pin- -Sudaneses Mulçumanos, cada grupo vinha de grande fluxo de pessoas e mercadorias
da coroa graças ao programa de tornar a celadas que nivelam a superfície de formas de uma região específica do continente afri- na época. O idioma pode ser encontrado em
colônia mais “civilizada”. As figuras repre- livre. Era uma mistura da percepção do ar- cano. Boa parte da cultura Afro brasileira outras manifestações como a congada e o
sentadas mudam o pouco, focando na fauna, tista com a intelectualidade, as suas compo- desenvolvida no país tem como raiz a cultu- jongo.
flora, e no indígena e na sua “reabilitação” sições literárias que detinham essas caracte- ra desses povos que se dividiam em grupos As pinturas corporais desses povos usam
como ser humano. Nessa época a popula- rísticas eram representadas pela atenção ao menores. de pigmentos naturais extraídos da seiva de
ção também viraria astros das produções subconsciente, misticismo da alma e uso de plantas, rochas vulcânica, argilas e outros.
artísticas. As obras da época têm um olhar objetos e suas características para atribuição A começar pela linguagem, os povos africa- A Pintura Corporal possui diversas formas e
mais sensível ao ser humano através do de- de perspectiva. Foi um movimento precur- nos ao chegarem no brasil além do nome finalidades e é aplicada em diferentes locais
senho e da forma no primeiro momento, no sor do expressionismo. ter sido roubado, a outra violência que foi do corpo, seus significados são plurais, pode
segundo momento as produções começam a acometida aos seus corpos foi sobre a sua representar uma posição social hierárquica,
focar nas cores. Nas produções textuais da Do quinhentismo aos movimentos musicais língua nativa. Muitos escravos foram joga- pode ser usada em festividades religiosas
época ocorre as mesmas mudanças, o indí- identificados durante o modernismo brasi- dos em locais onde não conseguiam trocar ou cotidianas, vai de acordo com cada um
gena passa a ser o herói, existe uma ênfase leiro temos um foco nas produções de mú- nenhum tipo de informação com outros e desses povos. Um exemplo de pintura corpo-
maior no indivíduo e nos seus sentimentos. sica erudita, que sofreram influência des- foram forçados a aprender o idioma do co- ral: no candomblé são usadas como forma
A escola se divide em três fases, a nacionalis- ses períodos. Suas formas eram utilizadas lonizador para sobreviver por mais alguns de ligar o indivíduo ao seu santo, essas pin-
ta, a egocêntrica e a libertária, o movimen- para conversão de indígenas e depois tinha poucos anos. Isso provocou uma perda lin- turas servem para lembrar-lhes do seu com-
to detinha um teor de fantasia, devaneio e participação de pessoas negras escraviza- guística desses povos. Vamos falar do iorubá promisso com a fé. As filhas de Gegê possui
utopia. Depois temos o Realismo focado no das nas suas orquestras de músicas durante e o seu uso no país por essas comunidades, uma cruz e sete barras verticais pintadas no
cotidiano das camadas menos abastadas da sua expansão, nesse tempo havia mais a im- apesar das perdas o idioma conseguiu so- braço. Entre os indígenas a pintura corporal
sociedade, também realiza a representação portação de partituras do que a produção breviver, e no Brasil é muito presente, comu- é uma prática bastante simbólica e significa-
da paisagem nas duas obras, seus heróis lite- própria. Durante o período classicista e o mente utilizada em rituais religiosos pelos tiva e é muito mais do que uma simples arte.
rários abandonaram a inocência e apresen- incentivo às artes da época, temos grande in- povos afro-brasileiros, como o candomblé e Feita com materiais naturais, como jenipa-
tavam falhas, comportamentos duvidosos, centivo a composição de músicas. Ao entrar- a umbanda. O idioma de origem nigero-con- po, urucum, carvão, é usada para distinguir
era exaltado a ciência e o coletivo deixando mos no romantismo temos a popularização golesa também fica expresso em outras ma- os integrantes da tribo de acordo com idade,
o individual de lado. O Naturalismo tinha das óperas que já contam com composições nifestações como na culinária, ao darmos os função, gênero e grupo social, também para
as mesmas características, inclusive a oposi- de temas nacionalistas, que no momento se- exemplos do acarajé, xinxim, vatapá etc. O representar a história e a cultura daquele
ção ao romantismo, mas este focava mais na guinte configurando uma fase nacionalista, idioma chegou a ser oficializado como patri- povo e em rituais. Os traços possuem signi-
representação da população rural nas suas mantém esse caráter, mas agora utiliza ele- mônio imaterial em 2018, no estado do Rio ficados diferentes, podendo expressar triste-
obras visuais. Seus textos tinham já uma lin- mentos folclóricos na sua composição com de Janeiro. Os idiomas dos grupos bantu, de za, alegria ou luto de acordo com cada etnia.
guagem mais coloquial, o comportamento mais frequência. Esse nacionalismo musical origem angola-congolesa, também se encon- Os indígenas da tribo Kediwéu, localizada
podia ser patológico e era ressaltado o sen- ocorre também no movimento chamado tra bastante no idioma brasileiro. As línguas no Mato Grosso do Sul, são bastante hábeis
sual e erótico, ocorria também a zoomorfi- nova música que reavaliava o significado da bantus que influiram no nosso idioma como e minuciosos em suas pinturas de rosto. Uti-
19 20
lizam traços finos e simétricos feitos com o fronteiras da colônia chamada de “terra de em uma roda e batem palmas, tocam ins- tam com saltos e agachamentos. É formada
auxílio de uma fina lasca de madeira. Entre santa Cruz.”. O boi entrava na cultura do trumentos, ela simula uma luta com golpes uma roda onde o chefe escolhe um oponen-
os Karajás, quando um integrante – menino afrobrasileiro nos objetos da casa, do tra- ágeis. Ela se divide em dois tipos, a capoei- te. A música é a percussão e o canto.
ou menina – chegava à puberdade recebiam balho de vaqueiro ao tanger a boiada. E ele ra regional é mais contemporânea e possui
o omarura, dois círculos pintados no rosto. fica impresso na cultura através das másca- outras artes marciais, a capoeira angola é a A herança musical deixada pelos africanos
Além de pinturas corporais, nas produções ras, esculturas e festividades, como o bumba mais tradicional, ela é mais lenta e os mo- e seus descendentes no brasil é muito vasta,
artesanais dos povos africanos temos o uso meu boi. vimento são mais furtivos. O Jongo surgiu já começa com a prática do Lundu pelos es-
de Máscaras com grande carga simbólica. Os povos indígenas tem muitos artefatos com os escravos produtores de açúcar no cravos recém chegados na colônia. A dança
Geralmente elas são usadas para represen- feitos com plumas, como uma forma de terreiro de terra batida em volta de uma fo- e canto em roda e percussão, aqui ocorre o
tar seres míticos, animais, personificações identidade de cada etnia e passam por um gueira, enquanto improvisam versos com os convite a se dançar no meio da roda através
de forças da natureza ou antepassados fa- processo que vai desde a caça das aves até sentidos trocados das palavras. Os escravos da umbigada, assim como o jongo, o lundu
zendo uma ponte entre o plano espiritual e a amarração, procedimentos realizados pe- se comunicavam assim e zombavam publica- vai ser o gênero e dança musical que vai dar
tangível. Podem ser usadas em ocasiões es- los homens. As plumas são usadas em pul- mente dos patrões. É feita uma roda onde origem a muitos outros.
peciais como nascimentos, funerais e outros. seiras, máscaras, colares e cocares. Utilizam um casal por vez realiza giros em sentido an-
As máscaras geralmente são feitas a partir os mais variados tamanhos e tipos de plu- ti-horário e se aproximando algumas vezes No século 19 temos o surgimento do Forró,
de materiais como marfim, couro, madeira, magem, juntando-as com outros materiais como se fossem dar uma “umbigada” um no trago pelos escravos africanos, inspirado to-
cerâmica e alguns metais como bronze. Na com madeiras e fibras vegetais. Durante o outro. O Maracatu representa religiões afri- talmente no modo de vida do povo do sertão
tradição dos Bantos a máscara e a vestimen- processo, as penas são tingidas e cortadas. canas, surgiu em Pernambuco, relaciona-se brasileiro, as músicas retiravam das alegrias
ta fazem a ponte entre planos, permitindo o A dança africana geralmente representa uma com o candomblé e com a congada, são dois as tristezas e “perrengues”. O gênero é rico
encontro de membros de uma mesma linha- manifestação religiosa, fazendo uma ligação tipos: o maracatu nação e o maracatu rural, por englobar os estilos do baião, xote e xa-
gem onde o ancestral e descendente habita com o mundo espiritual. Em comum essas o que muda entre os tipos são os seus per- xado. nas décadas de 70 e 80 o estilo sofreu
ao mesmo tempo, fazendo o vínculo entre danças ocorrem com a formação de círcu- sonagens. algumas mudanças que contribuíram na for-
o passado e o presente. Após ser vestida o los, fileiras ou semicírculos. Foram formas mação do gênero contemporâneo.
corpo perde individualidade e serve como antigas de dança dos povos escravizados, O Tambor de Crioula originário do Mara-
uma expressão viva de acordo com as von- que mostravam resistência, que ganharam nhão, vinda dos povos negros, com tambo- Linguagem contemporânea:
tades do ancestral que está coabitando a novos significados e roupagens por diver- res, canto e percussão. A dança é circular,
máscara. Ainda no artesanato, temos as Es- sos fatores. Algumas danças eram uma for- é praticado de forma livre e em reverencia a Com a República instaurada no país temos
culturas que podem ser feitas de qualquer ma de reafirmação da cultura ancestral ao São Benedito. Sua dança é de passos livres, em 1900 a chegada do Expressionismo, que
material. Geralmente são feitas em home- representar momentos diários da rotina nas com uma mulher no meio por vez, a vez é se desligava da beleza estética e focava na
nagem a divindades, o que é representado tribos africanas e ritos, outras eram para di- dada através da pungada, a mulher que re- subjetividade da obra, enaltece emoção aci-
pode variar de uma figura ou cena, e podem versão do grupo, mas continuava a ser uma cebe a pungada se dirige ao meio da roda e ma de tudo. No Brasil temos então a valori-
ser empregadas em qualquer lugar, pode autoafirmação como indivíduos. começa a requebrar em frente a percussão. zação do artista pela sua perspectiva, temá-
ser uma escultura desconexa como pode ser O Maculelê é uma dança praticada por pre- ticas de dor e sofrimento, junto as emoções
integrada a utensílios cotidianos. Trazendo A Congada mescla a religiosidade cristã com tos e caboclos, de origem baiana o maculelê as pinceladas se tornavam desconexas na
para o contexto do Brasil, temos máscaras as festas dos escravos, remonta a cultura é uma dança que absorveu elementos indíge- pintura, as cores eram contrastantes entre si
que representam a figura do boi, algo que africana ao simular a coroação dos reis dos nas africanos e europeus, ela possivelmente e havia um intelectualismo social por detrás
simboliza fortemente o processo de coloni- Congos. Na congada ocorre a identificação remonta danças do velho mundo de raiz asi- delas. A literatura Pré-modernista já predi-
zação do Brasil. Aqui temos a figura do boi de um santo como padroeiro além de outros ática e europeia. Seus movimentos simulam zia o rompimento com a academia, focava
e do homem africano que realizou as mes- santos que são considerados importantes uma luta tribal com o uso de bastões como na realidade brasileira em todos os âmbitos
mas funções desses animais, fizeram o ara- por terem origem africana e serem represen- arma, com golpes dados ao ritmo da música. sociais, políticos, históricos e econômicos.
do da terra, a produção do açúcar e do café, tados com peles escuras. A Capoeira criada A dança é inclusiva e não se limita a um gê-
o transporte do ouro e delimitou também as no século XVII, os capoeiristas se alinham nero protagonista, os passos de dança con- Em 1922 temos de fato A Semana de Arte
21 22
Formas (2019), sem uso de dégradé. O Cubismo já introdu-
de Letícia
Goulart, ziu o urbano e a indústria a suas obras, se
arte em colagem caracterizava pela presença impetuosa de
formas geométricas como cubos e cilindros.
O futurismo expressava velocidade, se rela-
ciona intimamente com as ideias de avanço
Moderna, é o marco oficial do Modernismo e progresso que trazia a industrialização. A
brasileiro, seus textos agora sim rompem de abstração abandonava de vez o uso de for-
vez com a academia com o abandono da es- mas convencionais e realistas e utilizava do
tética padronizada, através dos versos livres elementar para comunicação. O concretis-
e dos versos brancos primando a liberdade mo já usava figuras geométricas e outros ele-
de expressão. Ele se divide em três fases, a mentos para imprimir a ideia de movimento,
primeira heroica e destrutiva que estava lá o surrealismo e dadaísmo era uma arte sem
buscando novamente a identidade nacional, sentido aparente ou superficial, geralmente
foi a apreciação a cultura e ao folclore. Foi a representava o mundo dos sonhos e das fan-
fase mais radical do modernismo como todo, tasias.
carrega todas as características do pré-mo- Depois do contexto moderno nas artes plás-
dernismo, mas também usa dos elementos ticas, a corrente que vem depois dele pega
do sarcasmo e ironia com bastante fervor. A emprestado o mesmo nome, mas passando
segunda é a fase de geração de 30 ou conso- uma ideia de posterior e mais atual. O Pós-
lidação, foi até 1945, a fase é marcada pelo -modernismo nega o modernismo usando
equilíbrio e a racionalidade, uma literatura da ironia e do humor, acompanhando o mo-
mais crítica e revolucionária, nesse momen- vimento ela se adaptou aos novos veículos
to a poesia se destaca e crava um lugar seu. de comunicação. Também foi composto de
A última fase, conhecida como geração de diversos movimentos artísticos desde o seu
45, os escritos da época reuniram escritores início nos anos 60. Cada movimento tem
que tinham um foco mais objetivo e equili- em comum a ressalva da liberdade e des-
brado nas suas poesias. Então a liberdade de compromisso técnico. Dentro da literatura
uso de métrica, versos livres e brancos são o pós-modernismo conta com a ausência
postos de lado e novamente a métrica é de- de regras e valores evidenciados na mistura
marcada como caráter na literatura vigente. de multiplicidades dos estilos, realiza uma
O mesmo caráter de liberdade vale para as amálgama do que é real e palpável com o
artes plásticas. No modernismo é comum o fantasioso que não existe. A exemplo a pro-
uso de formas ou figuras deformadas aban- sa de realismo mágico. As crônicas são extre-
donando o realismo de outros movimentos, mamente ecléticas, tem humor, tem ironia,
as cores são livres, muitas obras têm a inten- tem ilusão, fragmentação e desconstrução.
ção de causar o estranhamento e o humor ir- As prosas psicológicas analisam mostras da
reverente, não existe um estilo único apenas vida do indivíduo pós moderno que vive no
a ideia de abandonar o estilo velho. cenário de globalização e bombardeamento
de informações. A vida é pautada nos valores
O Fauvismo utiliza das cores puras e formas narcisistas e efêmeros. Tudo é incerto, nada
mais simples, sem muita polidez de técnica, é constante e se pode gostar mais de uma
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coisa ao mesmo tempo, ou gostar de nada, minância de preto e branco. A Arte Urbana te brasileiro pelo fato de muitos gêneros mu- Na metade da década de 80 temos o rap en-
é a reflexão da liquidez de Bauman. O movi- consiste em qualquer representação artística sicais nacionais terem sua raiz nele, como o trando no cenário nacional, desta vez tendo
mento não tem nenhuma nova modalidade popular em espaço urbano. Pode ser pintu- Pagode, Samba de roda, Samba enredo, por origem em São Paulo. O gênero conhecido
de escrita, mas ocorre o uso de modelos já ra, grafite, cartazes, estêncil, auto colagem, ele se mesclar a outros gêneros como o rock, como ritmo e poesia, ao chegar no brasil ga-
conhecidos e adaptados a contemporanei- poema, estátuas vivas, intervenções ou apre- funk, reggae e também pelo fato de ser um nha a realidade dele nas suas rimas. O rap
dade. Junto a esses modelos temos a prosa sentações nesses espaços. Não se tem um dos gêneros musicais que embala uma das é comumente caracterizado como música de
regionalista, a poesia concreta, psicológica, estilo único, pois o propósito de cada mani- mais importantes manifestações culturais do protesto por muitas vezes ter de forma es-
marginal e social. festação artística deve ser preservado. Essa brasil, junto ao Axé. O axé music de origem cancarada críticas de viés político. O ritmo
A Arte Conceitual que surgiu durante a tran- arte não precisa de local, tempo e reconhe- vinda de Salvador na Bahia, tem grandes in- não pode se caracterizar comumente a um
sição dos dois movimentos usa vários obje- cimento determinado ela só necessita da rua fluências do reggae, merengue, forró, samba tipo pois a alma do rap fica por conta das
tos para a composição, não se limita apenas pois ela acontece nesses locais, geralmente é duro e ijexá e candomblé. O samba também rimas, mas notoriamente se vê influência do
a um tipo de arte. A Arte Cinética mescla uma linguagem de luta, denúncia e protesto contribui na formação de outro gênero mu- instrumental eletrônico em suas composi-
pintura e escultura, jogos de luzes e sobre a questões contemporâneas. A Arte Digital é sical brasileiro bastante conhecido e impor- ções, mas ocorre a sua mescla a estilos na-
luz para criar uma ilusão de ótica. o Hiper- qualquer arte produzida por meios digitais, tado internacionalmente, a Bossa Nova, que cionais como o samba e funk.
-realismo faz uma representação exagerada elas se dividem em diversas categorias como queria dizer “jeito novo de fazer as coisas”,
da realidade, utiliza de imagens fotográfica vídeos, animações, web arte, fotografia, mo- surgiu na década de 50 entres os jovens ca-
e imprime nelas contextos reais da era con- delagem, arte em três dimensões, arte frac- riocas de classe média. Da bossa nova surge
temporânea, mas que atravessam esse plano tal que utiliza de equações matemáticas. o movimento da MPB.
que é denominado de realidade. Na música contemporânea os gêneros artís-
O Pop Art, é uma interpretação em cima ticos que podem ser historicamente citados O Funk nasce nas comunidades, propria-
da cultura popular de massa para criticar durantes os movimentos literários, de pin- mente nos “bailes” o funk carioca, ainda um
seus padrões consumistas, usa de imagens turas e esculturas não exercem tanta influ- pouco distante do funk raiz conhecido po-
de anúncios, histórias em quadrinhos, re- ência na música nacional a ponto de vários pularmente, ele adquire essas características
vistas, fotografia, embalagens de alimento gêneros serem moldados sob a ótica da épo- ditas do gênero na década de 80. O funk so-
e outros, essa se tornou bem popular tendo ca. Pois muitos tem origem em comunidades freu preconceito desde o início por cantar a
se mantido no grafismo, design, histórias marginais a sociedade, de forma a barrarem realidade das favelas, falar sobre armas, sexo
em quadrinhos e moda. A Arte Povera está a sua interação nos locais onde estava acon- e drogas, os temas, a forma que eles eram
predominantemente presente na forma de tecendo essas trocas de ideias sobre visões e passados e sua origem não agradava as clas-
esculturas, instalação, performance e pintu- propósitos diferentes de arte. A exemplo da ses mais abastadas, de forma que margina-
ra, ela usa materiais orgânicos e recicláveis. produção desses povos tem o Samba. Nas- lizou mais ainda o gênero, seus produtores
O Minimalismo que usa do mínimo em es- cido nos morros do Rio de Janeiro, muito e seus ouvintes. O funk como forma de re-
paços, materiais, formas e cores, como mo- influenciado pelo maxixe, batuque, lundu, sistência continuou a ser tocado nas favelas
vimento político promove a redução dos ní- samba de roda, e todas de origem de povos e ganhou novas roupagens. Nos anos 2000
veis de consumo tendo apenas o necessário vindos de África e seus descendentes. O sam- começou a ganhar mais ouvintes de forma
funcional. ba é considerado um dos gêneros mais tipi- que começou a se popularizar e nos últimos
Op Art usa da ilusão de ótica para criar camente brasileiro, e isso pode se entender anos vem vencendo a resistência dos ouvin-
movimento nas obras, ela confunde a visão tanto pela energia do gênero como o estere- tes classe média e as barreiras linguísticas
humana fazendo com que ela produza movi- ótipo empregado ao próprio brasileiro pelos devido a rápida popularização pela internet
mentos em cima da imagem. Por isso a sensa- estrangeiros, a influência folclórica deixada e aplicativos sociais. Hoje o funk carioca se
ção de não estaticidade, ela utiliza de efeitos pelos povos que têm diferentes roupagens dissociou totalmente do gênero de origem,
ópticos e visuais apenas com elementos grá- e propósitos. Nesse caso o samba pode ser sendo assim, pode ser visto com um gênero
ficos como formas e linhas paralelas, predo- considerado como o gênero mais tipicamen- tipicamente brasileiro.
25 26
dossiê

QUADRO
QUADRO DA LÍNGUA Experienciação em arte das subjetividades
individuais em contextos linguísticos.

DA LÍNGUA Andarandei
não é o meu país
é uma sombra que pende
Torquato Neto, jornalista, poeta e mú- concreta
sico, e as três coisas ao mesmo tempo, do meu nariz
suas poesias se mesclam com elemen- em linha reta
tos musicais e jornalísticos, expressan- não é minha cidade
do a genialidade e força política de sua é um sistema que invento
obra.
me transforma
e que acrescento
à minha idade
nem é o nosso amor
é a memória que suja
(2018),
a história
de Letícia que enferruja
Goulart, o que passou
arte em colagem
não é você
nem sou mais eu
adeus meu bem
(adeus adeus)
você mudou
mudei também
adeus amor
adeus e vem

Jennyfer Emanuelly de Sousa Ferreira, A arte


foi a minha forma de expressão, compreensão e
escape desde que me entendo por gente. Quando
me vejo rodeada por pensamentos distorcidos,
sentimentos exagerados ou reações disfuncio-
nais, é na arte que me organizo, que entendo um
pouco das dimensões de ser e viver na Borderline.
Os acompanhamentos psicoterápico e psiquiá-
trico têm também me ajudado a compreender
melhor como posso usar a arte nessa busca por
uma vida mais funcional. É incrível ver sentimen-
tos que antes me impactavam tanto sendo ressig-
Observe! nificados pela beleza da arte e podendo impac-
tar outras pessoas de forma positiva.
28
Patativa do Assaré se chamava An-
tônio Gonçalves da Silva, mas es-
colheu o peudônimo com a jun-
ção do nome de um pássaro de
belo canto e com sua cidade natal.
Cearense da zona rural, pouco es-
tudou. Tinha de trabalhar na roça
para o sustento da família. Nas horas
vagas era poeta popular, composi-
tor, cantor e improvisador brasileiro.
Ganhou o Nordeste e o Brasil com sua
arte!

Gizelly de Castro, se considera arteira, é psi-


cóloga, educadora em saúde popular e atua
na Atenção Básica. Ela cria, produz, estuda
e pesquisa sobre a arte com a saúde, para
assim produzir novos modos de vida.

O dialeto pajubá tem raízes na Língua Por-


tuguesa e expressões de origem africana, Resistência, resiliência, potência, grandeza, essas são algumas das
sendo difundido inicialmente nos terreiros formas de expressar os sentimentos que os desenhos de Bruna
de Candomblé e Umbanda, posteriormente Bandeira buscam transmitir. Retratando comunidades excluídas
foi utilizado pelas travestis como uma “lin- do foco, ela mostra que o corpo preto é belo, merece ser amado e
guagem secreta”, indecifrável para os de- acima de tudo respeitado.
mais e especialmente para os policiais.
29 30
linguagem (verbal e não verbal). “Neuro” indica a
ideia fundamental de que todos os comportamentos
dossiê

nascem dos processos neurológicos da visão, audição,


NEUROLINGUÍSTICA
olfato, paladar, tato e sensação. Já a “Linguística”
induz que“Osujeito
as pessoas utilizam
é incompleto, imaturo, e ao mesmo atempo
linguagem para
múltiplo: social, histórico,

ordenar seus pensamentos e comportamentos para se


psicológico, psicanalítico, biológico, linguístico” (COUDRY, 1988, p. 67).
NOAM CHOMSKY,
comunicar com os outros.
Autores: Andressa Pereira e João Luiz Pires
A NEUROLINGUÍSTICA
O QUE É NEUROLINGUISTICA?
Neurolinguística se constitui como a ciência que procura descrever a re-
NOAM
lação CHOMSKY, A NEUROLINGUÍSTICA
entre a mente (neuro) E OS “Neuro”
e a linguagem (verbal e não verbal). ALIENS.
E OS ALIENS.
indica a ideia fundamental de que todos os comportamentos nascem dos “Antes de tudo, não existe isso de língua. Apenas há muitas formas de
““Antes deneurológicos
processos tudo, nãoda existe isso de
visão, audição, língua.
olfato, paladar,Apenas há
tato e sensação. falar que diferentes pessoas têm, que são mais ou menos similar uma a
muitas formas de
Já a “Linguística” falar
induz que que diferentes
as pessoas utilizam a pessoas têm,
linguagem para que
ordenar outra, e algumas delas podem ter prestígio entre elas” Noam Chomsky

seus pensamentos e comportamentos para se comunicar com os outros.


são mais ou menos similar uma a outra, e algumas
delas podem ter prestígio entre elas” Noam Chomsky
A linguística como Ciência tem seu mar- de encaixar um conjunto infinito de
co inicial com Noam Chomsky. Chomsky é expressões gramaticas é algo co-
um linguista, filósofo, sociólogo, cientista mum e único ao ser humano.
cognitivo, comentarista e ativista político
norte-americano, considerado o pai da lin- Basicamente, o que a teoria de gramáti-
guística moderna. Segundo ele, a linguagem ca universal diz é que se alíens existirem,
é uma propriedade da espécie humana que e entrassem em contato com a Terra, eles
varia pouco de cultura para cultura, e que achariam que o a espécie humana inteira
o ser humano tem um órgão da linguagem, fala a mesma língua, mas com sotaques di-
tal qual o órgão da visão e os demais. Sen- ferentes. E o motivo disso é que os alíens
do ela um sistema humano, cada linguagem provavelmente teriam uma linguagem com-
vem da relação do estado natural comum da pletamente diferente da humana, pois a
espécie (a linguagem humana tem a mesma
habilidade neurolinguística deles não teria,
estutura onde quer que pertença, como por
por exemplo, uma área de Broca (parte do
exemplo nossa capacidade de comunicação
cérebro responsável pela linguagem), ou um
por palavras, sons parecidos, etc) e a expe-
riência individual. O Centro da pesquisa de córtex cerebral, e a comunicação deles po-
Chomsky é a gramática universal,onde ele deria ser por meio de sexto sentido ou biolu-
explica que a gramática é gerativa, pois a mis- minescência. Talvez eles pudessem aprender
tura entre o estado natural e as experiências a se comunicar como uma pessoa, mas uma
permitem infinitas varações de lín- pessoa não poderia se comunicar como eles.
guas e culturas. Essa capacidade
31 32
LÍNGUA PIRAHÃ:
as contradições no
meio acadêmico
bre essa etnia, afirmando que tal proposição
de Everett é descabida e precipitada, uma vez
que ignora diversos fatores não apenas grama-
A etnia Pirahã ficou famosa por possuir ticais como também culturais. Um dos argu-
uma estrutura de linguagem com caracterís- mentos dele seria a ausência de auto encaixa-
ticas bastante peculiares, como um sistema mento, ou seja, limitação combinatória entre
fonético reduzido, a ausência de contagem sujeito, verbo e objeto, afirmando que isso era
numérica e de formas temporais, além dis- um reflexo do foco no presente exercido pela
so é uma língua extremamente tonal e com comunidade. Entretanto, Cilene Rodrigues
algumas controvérsias no meio acadêmico. observa que existe sim auto encaixamento
Tais povos tradicionais, situados na Amazo- dentro da língua e que isso não é o suficien-
nia, em mais de 300 anos de contato com o te para definir toda uma forma de pensar da
homem branco essa etnia nunca aprendeu a cultura que é transpassada por diversos ele-
falar português, ou qualquer outra língua, mentos culturais ignorados pelo pesquisador.
principalmente por essas diferenças na es- O que se pode notar nessa língua então, seria
trutura, com uma morfologia extremamente a sutileza dos processos combinatórios dela,
simples e uma sintaxe extremamente com- difíceis de serem rastreados e compreendidas,
plexa e atravessada de elementos culturais por ser uma língua difícil de ser aprendida.
fortíssimos, o que também levou a falha na Tais sutilezas podem ser encontradas em en-
tentativa de conversão desses povos por tonações na fala, uma vez que é uma língua
missionários. com poucos fonemas a comunicação muitas
Entre esses missionários estava Daniel L. vezes se dá nas sutilezas da entonação e como
Everett, americano e casado com uma mis- esses fonemas são utilizados, e isso por si só já
sionária, que após o contato com esses po- é uma estrutura combinatória complexa.
vos se tornou um linguista com o objetivo Portanto, é necessário entender os perigos
de estudar e tentar entender a estrutura lin- da proposta de Everett ao sugerir a diferença
guística Pirahã. Ele notou que essa estrutu- estrutural da linguagem Pirahã, uma vez que
ra era completamente diferente do padrão para ser possível tais diferenças estruturais a
do restante do mundo, e que segundo ele própria estrutura neurológica teria que ser di-
isso iria contra a teoria universalista de ferente, indicando uma limitação cerebral das
Chomsky. Porém a cientista neuro linguis- pessoas dessa comunidade, entretanto não
ta brasileira Cilene Rodrigues, discorda de existe comprovação empírica ou teórica dessa
Everett e propõe uma série de estudos so- diferença da formação do cérebro.
34
TRIBO HIMBA: cores e linguagem
Nos épicos "Odisseia" e "Ilíada", escritos pelo uma pessoa perceber o que a torna diferen-
grego Homero 800 anos antes de Cristo, por te. Isso mostra como a linguagem afeta a
exemplo, o poeta descreve o "mar vinho-es- forma como pensamos.
curo" em vez de, por exemplo, usar a palavra A Cientista Cognitiva Lera Boroditsky uma
verde ou azul. Somado a outros indícios, a vez disse: “A beleza da diversidade linguísti-
constatação leva estudiosos a acreditar que, ca é que ela revela para nós o quão genial e
como provavelmente não havia a palavra flexível a mente humana é. A mente humana
para se referir à cor, é possível que os anti- não inventou apenas um universo cognitivo,
gos simplesmente não a enxergassem. Ho- mas sete mil. Há sete mil idiomas falados
mero utiliza muitas páginas para descrever em todo o mundo [...] Agora quase tudo o
detalhes de vestimenta, armaduras, arsenal, que conhecemos sobre a mente e o cérebro
mas as suas referências para cores fogem da humano é geralmente baseado em estudos
nossa compreensão atual. Aço e ovelhas são de falantes em inglês americano, isso exclui
violeta, e mel é verde. Os gregos viviam num quase todos (falantes de outros idiomas). O
mundo bem pouco colorido. que conhecemos sobre a mente humana é
A maneira como percebemos uma cor pode incrivelmente limitado e preconceituoso, e
ser afetada pela língua que falamos, isso acon- nossa ciência precisa melhorar.” Se as co-
tece pois nem todas as línguas tem o mesmo res, um dos nossos campos sensoriais (vi-
número de cores básicas. Embora pensemos são) pode mudar tanto de uma cultura para
nas cores por categorias, na verdade elas são outra, o que mais há de diferente no mundo
um espectro de cor que partem do mesmo que nós, presos em nossas bolhas culturais,
princípio, então elas existem indepedente da desconhecemos e excluímos.
forma como as chamamos, porém essa termi- A Estrela (2018),
nologia influência em como as enxergamos. de Letícia
Goulart,
Tudo isso levou o pesquisador Jules Davidoff, arte em colagem
professor de neuropsicologia da Universida-
de de Londres, a conduzir um experimento
com a Tribo Himba, na Namíbia, cujo dialeto
não tem uma palavra para azul ou distinção
entre azul e verde. Os membros da comuni-
dade não conseguiam distinguir um quadra-
do azul em meio a onze quadrados verdes.
Os poucos que conseguiam levavam muito
tempo. Davidoff concluiu que, sem uma pala-
vra para designar uma cor, é mais difícil para

35
dossiê

A PSICOLOGIA
É LINGUAGEM?
Autores: Maria Vitória Rodrigues e Felipe Ripardo
“A dança me tirou daquela quase depressão, daquele buraco bravo que eu entrei. E parece que ela
juntou o esporte, essa energia física, com a arte” (Deborah Colker, dançarina brasileira de grande
prestígio usa a sua forma inquieta de ver o mundo para mostrar sua expressão da forma mais plena e
leve de comunicação” (Deborah Colker, 2017)

“A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as
mãos vazias. Mas - volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de
minha linguagem.” (uma grande escritora brasileira que conseguia expressar através dos seus textos a
sutileza de situações da realidade brasileira) (Clarice Lispector, 1998)
A linguagem terapêutica
da expressão subjetiva.
um processo pelo qual a linguagem se altera
Margarida Petter (2007) escreve “O interesse e psicologia se reitera para assegurar esses
pela linguagem é muito antigo, expresso por novos caminhos de manifestação do Eu.
mitos, lendas, cantos, rituais ou por trabalhos Dentro de um contexto de vivências diferen-
eruditos que buscam conhecer essa capacida- tes a psicologia alavancou-se para criar mo-
de humana.”. Para que possamos nos atentar dos de desenvolvimento onde coubesse cada
que não é de agora que a linguagem expres- uma delas. Onde o paciente saísse da zona
sa as coisas mais importantes da individuali- de não-lugar para um local de entendimento
dade de cada pessoa e desperta em diversos de si, de reconhecimento e descoberta de um
campos a necessidade do seu estudo aprofun- Eu que palavra nenhuma codificaria, surgin-
dado. Dentro dessa noção a psicologia se en- do terapias alternativas, como a fotografia,
caixa em um papel muito importante de en- escrita, jogos, dança e outras modos, onde a
tender a linguagem e o desenvolvimento dela fala não demonstra o indizível, a expressão
no decorrer de cada subjetividade existente. do elo subjetivo da linguagem ecoa todas
Já que se trata não só de linguagens descri- as necessidades de uma comunicação nova
tas por signos linguísticos, mas de expressão, para demonstrar como o sujeito se expressa.
sentimento, vivência, cultura e Cada uma delas faz o ponto de vista extraor-
Colo D’água necessidades que vão além de dinário de qualquer um surgir, na arteterapia
(2019),
de Letícia padrões ou regras. Criou-se as- utiliza-se da arte e cria-se novos espaços de
Goulart, sim um novo sentido de expres- entendimento do indivíduo e a fotografia é
arte em colagem são onde a fala já não é suficiente um desses meios para chegar a compreensão
para demonstrar subjetividades emocional.
e o entendimento delas cabe em
38
A fotografia como linguagem.
A comunicação fotográfica é um recurso da de “Eu sou meu próprio lar” que demonstra
terapia que vem sendo utilizado a modo de o impacto de uma terapia de expressão indi-
fazer as pessoas mostrarem seus pontos de vidual. Ela destaca como as mulheres sofrem
vista, conseguindo descrever sentimentos, com padrões, violências físicas e psicológicas
emoções, convicções tão fortes, capturando e várias outras questões que marcam a vida
a visão de mundo daquela pessoa que a utili- de muitas outras e que por isso se sentir bem
za. Com significados que somente uma ima- consigo, trabalhando com abordagens tera-
gem demonstra e cria, os mesmos momentos pêuticas de autoconhecimento fazem muita
podem ser vistos de formas diferentes por diferença para gerar esse lugar de encontro
pessoas que o veem e a mesma imagem pode com o ser em si consciente.
criar significados totalmente diferentes com
Fotografia: Maria
o passar dos anos. Fazendo a terapia criar Vitória
um novo molde, um no qual a relação do Arte em Colagem:
terapeuta e paciente se torna mais significa- Andressa Pereira
(2021)
tiva, trazendo grandes avanços do processo
psicológico. A psicóloga e fotografia Bruna
Bardi criou em 2018 um projeto intitulado
Instagram arte dos corpos de Bruna Bardi

Experiência de uma mãe Estes processos terapêuticos são importantes para o


desenvolvimento de crianças e adultos que são atra-
sobre a importância de vessados por condições onde a língua falada não é su-
ficiente. Como é o caso de algumas crianças com es-
entender a linguagem pectro autista, muitas são completamente não-verbais
não-verbal. e com isso suas diferentes linguagens se tornam algo
indispensável. Entrevistamos a mãe de duas crianças
gêmeas com espectro autista, chamada Roziane Gomes Freire, ela conta que a maior dificulda-
de no processo de criação é a falta de verbalização, pois se torna difícil em algumas situações,
como por exemplo quando seus filhos estão sentindo dores e não conseguem expressar do que
se trata ou onde seria. Com isso ela e sua família tiveram que aprender a lidar com a linguagem
deles de outra forma, identificando através do comportamento e/ou choro deles qual a deman-
da necessária naquele momento. Segundo ela para cada situação há uma causa específica a ser
interpretada através disso. A terapia foi algo que ajudou muito nesse processo de entendimento
e na forma de comunicação deles, conseguindo avanços mesmo que aos poucos. Uma forma de
trabalho terapêutico que eles utilizam com os dois é a linguagem com figuras. Todo pequeno
passo do processo se torna importante, pois os dois tem suas personalidades, formas de sub-
jetivação e de entendimento únicos, tratando de cada situação a maneira que eles conseguem
expressar. Sua vivência e de sua família é um exemplo de que a linguagem vai além da fala, é
amor, é cuidado e atenção, tentando fazer um mundo melhor para eles e mostrar para as pes-
soas que o autismo é algo que deve ser aceito com naturalidade.
39
dossiê ou ainda estão fechados, com isso privando o Como já citado, Vygotsky (Que é bielorrusso
contato das crianças com o mundo externo e e foi o psicólogo pioneiro nos estudos desen-
só permitindo interações interfamiliares den- volvimento intelectual infantil) o homem é um
tro de casa. Então, a comunicação ficou res- ser que se forma em contato com a sociedade.
trita as mesmas pessoas do ambiente em que A primeira infância, período que corresponde
a criança se encontra e além de aulas online, aos seis primeiros anos de vida da criança, é
o passatempo se expandiu ainda mais a meios a base para todas as aprendizagens humanas.
eletrônicos, como computadores, celulares, te- É importante lembrar que existe uma idade

O DESENVOLVIMENTO levisão e internet.

"Na ausência do outro, o


na qual a criança tem que adquirir linguagem.
Porque, passando desse período ela pode ter
dificuldades em aprender e dominar o sistema
DO APRENDIZADO DA homem não se constrói linguístico, em comparação a uma criança que
se desenvolveu “normalmente”. Por isso a im-
homem". portância de colocar a linguagem em ação por
LÍNGUA EM TEMPOS (VYGOTSKY, L. S. 2002, p. 235).”.
meio da comunicação, seja a fala ou comunica-
ção alternativa para ocorrer o desenvolvimen-

DE PANDEMIA (2019),
to por completo. Dessa maneira, o isolamento
social – medida adotada para combater a pro-
pagação do vírus da COVID-19 – pode trazer
Autores: Elsiane Lara e Joelly Oliveira de Letícia
“A linguagem é, assim, polissêmica: requer interpretação com base em Goulart, alguns prejuízos no desenvolvimento da fala e
arte em colagem linguagem das crianças submetidas a ficar em
fatores linguísticos e extralinguísticos. Para entender o que o outro diz,
não basta entender suas palavras, mas também seu pensamento e suas mo- casa devido à pandemia. Isso ocorre especial-
tivações.” (VYGOTSKY, Lev Semionovitch) mente pela ausência de estímulos ambientais e
sociais a que estavam antes expostas.
Aprendizagem, segundo a psicologia moder- A pandemia da COVID-19 trouxe grandes Além disso, outro fator que afetou o desen-
na, é a aquisição de uma técnica qualquer, ou impactos na vida da população mundial em volvimento do aprendizado da língua foi o au-
seja, mudança nas respostas de um organismo geral. Contudo, algumas consequências des- mento da exposição às telas. Esses dispositi-
ao ambiente, que melhore tais respostas com ta ainda não estão em pauta no momento e vos eletrônicos não interagem, e a criança fica
vistas à conservação e ao desenvolvimento podem acarretar certos entraves futuramente. passiva assistindo. Por conseguinte, não são
do próprio organismo. Já a Língua de acordo Uma destas questões envolve o universo infan- recomendadas para crianças de até 2 anos. O
com Saussure é um “conjunto dos costumes til e como seres humanos em desenvolvimento indicado por médicos e especialistas, é que
linguísticos que permitem a um sujeito com- físico e mental tem se comportado e absolvido crianças de 2 a 5 anos podem usar as telas
preender e fazer-se compreender” (Cours de fatos diante de tal situação. virtuais até uma hora por dia e crianças de
linguistique générale, 1916, p. 114). O desen- 6 a 10 anos podem usar telas de 1 a 2 horas
volvimento da linguagem é um processo que Alguns psicólogos do século passado, como por dia. Mas, a realidade é outra. Em muitas
envolve fatores internos, orgânicos, genéticos Vygotsky e Wallon, afirmam que somos seres famílias os pais ou responsáveis precisam tra-
e também depende da interação com o meio sociais e dependentes da cultura e do meio balhar (online ou virtualmente) e por conta da
social, com outros seres falantes para ser com- para nos atualizarmos e desenvolvermos. Po- pandemia não tem com quem deixar os filhos.
pleto. rém, para se evitar a disseminação do vírus Então, recorrem às telas como forma de entre-
em questão, desde março de 2020 são cotadas tenimento infantil.
medidas de isolamento social e lockdown . Es-
colas e ambientes de lazer em geral estiveram
41 42
artista convidada referências
As ilustrações desta edição foram cedidas REDES SOCIAIS:
bibliográficas
ilustremente pela artista Letícia Gulart. A ar- Instagram: - BRASIL LÍNGUA GUETO
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