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O pensamento complexo

O pensamento complexo: desafios


emergentes para a educação on-line

Maristela Midlej Silva de Araújo


Secretaria de Educação do Estado da Bahia, Núcleo de Tecnologia Educacional

Introdução nologias – mídias de massa – que se baseavam na


comunicação de um para todos, o computador trouxe
Atualização permanente é o ponto-chave da so- a novidade do dispositivo comunicacional, que tor-
ciedade contemporânea. Nesse contexto, destaca-se nou possível a comunicação todos-todos, a qual, se-
a importância da emergência de ensino na modalida- gundo Lévy (1996), caracteriza a criação de um espa-
de não-presencial, mediado pelas tecnologias, para ço virtual de vivência entre humanos e informação e,
suprir o número restrito de vagas na rede de ensino, ainda, o permanente estado de mudança dessas infor-
assim como as necessidades individuais e sociais do mações em virtude da atualização e da intervenção
mundo do trabalho. Passamos por um momento his- dos usuários/aprendentes.
tórico, no Brasil e no mundo, em que muitos concei- Nesse contexto de evolução das tecnologias di-
tos e práticas precisam ser revistos, principalmente gitais, surge a educação on-line. Segundo Moran
em relação à educação a distância (EAD), devendo- (2003), pode-se definir educação on-line como o
se isso às transformações vividas na sociedade, desen- conjunto de ações de ensino-aprendizagem desenvol-
cadeadas também com a utilização das tecnologias vidas com o emprego de meios telemáticos, como a
nos últimos tempos, à concepção de conhecimento Internet, e o uso de todos os seus dispositivos infor-
originada com as descobertas científicas do século macionais e comunicacionais. A EAD é um conceito
passado, e, fundamentalmente, ao que agora se en- mais amplo que o de educação on-line. Um curso por
tende ser a educação. correspondência, por exemplo, é a distância, mas não
O uso da tecnologia na EAD, passadas já três on-line. Ainda segundo o autor, a educação on-line
gerações, caracterizadas pelo uso de material impres- está em sua fase inicial, e sua interferência se fará
so, rádio e TV, chega hoje à quarta com o uso do com- notar cada vez mais em todos os níveis de ensino.
putador conectado à Internet, como afirmam Preti Com o avanço da telemática, a rapidez de comunica-
(2000) e Nunes (2004). Em oposição às primeiras tec- ção por redes e a facilidade próxima de ver-nos e

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interagir a distância, a educação on-line ocupará um mente, o desenvolvimento do pensamento autônomo,


espaço central na pedagogia nos próximos anos. com a conseqüente autoformação participativa.
Hoje, vivenciamos a transformação propiciada Na procura de respostas às referidas inquietações,
pela revolução tecnológica, com todas as interfaces fomos em busca de novos referenciais que caracteri-
disponíveis na Internet que permitem a interatividade zam o atual processo de construção das ciências, ten-
entre os pares, o compartilhamento e a colaboração tando identificar quais as teorias do conhecimento e
na elaboração de saberes. Ainda assim, há experiên- da aprendizagem que têm correspondências com os
cias em EAD na formação de profissionais que, ape- princípios e critérios presentes nessas teorias, assim
sar de utilizar ambientes on-line de aprendizagem, como propor estratégias pedagógicas para a ressigni-
ainda demonstram que a modalidade acontece presa ficação das práticas educativas.
aos conceitos de currículo e outras que marcaram a
pedagogia num determinado momento histórico, va- Em busca de novas bases teórico-metodológicas
lorizado por numa visão instrucionista, esvaziando de
sentidos e significados a utilização das tecnologias Concordando com Moraes (1996), compreende-
na educação. mos que o grande problema da educação está no mo-
É dessa forma que estamos preparando o indiví- delo de ciência, predominante num certo momento
duo para ter acesso às redes de comunicação, ao co- histórico, nas teorias da aprendizagem que o funda-
nhecimento disponível? Como desenvolver autono- mentam e que influenciam a prática pedagógica. Se-
mia, colaboração, criticidade e interatividade a partir gundo a referida autora,
desses novos suportes? Nesse sentido, cabe-nos re-
fletir sobre o conceito de educação que permeia os Acreditamos na existência de um diálogo interativo
projetos e cursos de EAD que estão em andamento: é entre o modelo da ciência, as teorias da aprendizagem utili-
a velha educação bancária tão propagada há décadas, zadas e as atividades pedagógicas desenvolvidas. Na práti-
ou é uma outra educação que vai formar cidadãos mais ca do professor, encontram-se subjacentes modelos de edu-
participativos em seu entorno? cação e de escola fundamentados em determinadas teorias
Em minha caminhada de trabalho na formação do conhecimento. Ao mesmo tempo que a educação é in-
de professores para/com o uso da tecnologia na edu- fluenciada pelo paradigma da ciência, aquela também o de-
cação, percebo que já não há mais tempo nem espaço termina. O modelo de ciência que explica a nossa relação
para modelos instrucionistas, cientificamente defasa- com a natureza, com a própria vida, esclarece, também, a
dos, simplificadores e mutiladores dos processos de maneira como aprendemos e compreendemos o mundo,
construção do conhecimento e da própria dinâmica mostrando que o indivíduo ensina e constrói o conhecimen-
da vida, já tão fortemente criticados pelas diversas to, a partir de como compreende a realização desses pro-
correntes pedagógicas. cessos. (p. 59)
Hoje, no Brasil, praticamente todas as instituições
universitárias passaram a estabelecer programas espe- Assim, nos últimos séculos, a escola elaborou o
ciais de formação de profissionais na modalidade a dis- modo de educar o homem enfocando seus aspectos
tância. Nesse sentido, urge investigar como a tecnolo- lógico-formais, de memorização, mantendo a ritua-
gia pode ser aproveitada no campo do currículo em lística linear, com base na percepção equivocada de
cursos de EAD levando em consideração uma pers- “transmissão de conhecimento”. Esse pressuposto tem
pectiva da aprendizagem colaborativa, o desenvolvi- sido a base para a formulação das práticas curricula-
mento da interatividade, uma abordagem de ensino- res de ensino-aprendizagem, absolutizando apenas a
aprendizagem em rede, tendo professor e aluno como razão e a experimentação, omitindo processos carac-
sujeitos ativos do processo de conhecimento e, final- terísticos da humanidade, como a emoção, as suas

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subjetividades, assim como operando por seleção de crever experiências, para colaborar na síntese do es-
dados significativos e rejeição de dados não signifi- tudo feito sobre uma temática, abrir um tema, ou quan-
cativos, do se processa de forma dialogada com o grupo, com
perguntas que provoquem reflexões, com diálogos,
[...] separa (distingue ou disjunta); une (associa, identifi- debates, com a participação de todos –, mas ela sozi-
ca); hierarquiza (o principal, o secundário) e centraliza (em nha não dá conta do atendimento das diversas neces-
função de um núcleo de noções-chave). Estas operações, sidades e dos desejos de todos os alunos. Moraes
que se utilizam da lógica, são de fato comandadas por prin- (2004a) afirma que no cotidiano da sala de aula, a
cípios “supralógicos” de organização do pensamento ou maioria dos educadores está habituada a perceber e a
paradigmas, princípios ocultos que governam nossa visão interpretar o mundo e o processo de construção de
das coisas e do mundo sem que tenhamos consciência dis- conhecimento a partir da visão da física clássica. Esta
so. (Morin, 2005, p. 10) compreende a realidade visível como sendo estrutu-
rada, estável, e a maioria dos acontecimentos como
Os cursos on-line, oferecidos via Internet, po- sendo previsível, predeterminada e a racionalidade
dem reproduzir o mesmo modelo de educação que como o estado da mente mais utilizável para a cons-
vem sendo criticado pelas diversas correntes pedagó- trução do conhecimento técnico-científico. Esse de-
gicas, apenas se travestindo de inovadores. Esses cur- terminismo manifesta-se nas práticas educativas, ao
sos vêm arquitetando ambientes que privilegiam os deixar prevalecer o valor da homogeneidade sobre a
aspectos informativos e instrutivos, em detrimento de singularidade, da objetividade sobre a intersubjetivi-
aspectos construtivos, criativos, reflexivos e coope- dade, bem como da uniformização sobre a diferen-
rativos relacionados aos processos de aprendizagem ciação.
e de desenvolvimento humano. Em geral, apresen- As concepções vigentes de educação sinalizam
tam modelos tutoriais de ensino que direcionam as cada vez mais a urgência de buscar não apenas novas
interações entre alunos e professores a partir de estra- bases teórico-metodológicas para além das visões da
tégias preestabelecidas, de processos rígidos que trans- ciência clássica que subsidiem uma transformação nas
mitem conteúdos mediante uma metodologia condu- práticas pedagógicas, mas a construção de um pensa-
tivista, que favorecem a memorização de informações mento educacional mais sintonizado com as exigên-
isoladas. Esses trabalhos vêm sendo planejados a partir cias dos novos tempos. O momento atual propicia ao
de enfoque centralizado, sem considerar o contexto, docente a revisão de seus procedimentos, da sua ma-
sem envolvimento por parte dos alunos, voltado para neira de ensinar e aprender.
o atendimento de uma massa amorfa, homogeneizada, Para a perspectiva deste trabalho, considero bá-
desconsiderando as diferenças. A atuação dos alunos sico o texto de Moraes (2004a) Pensamento eco-sis-
restringe-se apenas a virar páginas eletrônicas e a res- têmico: educação, aprendizagem e cidadania no sé-
ponder exercícios mecânicos, sem maior compreen- culo XXI. A autora, assim como Morin (1998, 2003,
são do que está sendo estudado. 2005), Maturana e Varela (2001), entre muitos ou-
De modo geral, esses trabalhos sustentam-se em tros, mostra que existem, subjacentes às raízes dos
aulas expositivas.1 Sabemos que essa metodologia é pensamentos quântico e biológico, sementes episte-
importante e essencial – quando é utilizada para des- mológicas estruturantes do paradigma educacional
emergente (complexo ou sistêmico) capazes de fun-
damentar os processos interativos, reflexivos e
colaborativos que emergem nos ambientes de apren-
1
Disponibilizam o conteúdo em forma de slides produzidos dizagem, presenciais ou virtuais, pela óptica da cons-
em editores eletrônicos de apresentações. trução do conhecimento.

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A aprendizagem em ambientes on-line O princípio da incerteza combateu a noção de cau-


pela ótica do pensamento complexo sa/efeito da ciência clássica, questionando também a
estabilidade do mundo, a determinação, a previsibilida-
Para Moraes (2004a), os pressupostos epistemo- de dos fenômenos e o controle dos processos, assim como
lógicos presentes nas teorias quânticas e biológicas, a causalidade linear como sendo a única explicação pos-
como complexidade, causalidade linear, incerteza, sível da realidade. A “causalidade linear explica que a
intersubjetividade, indeterminância, auto-organização, cada fenômeno observado corresponde uma causa e que
dialogicidade, interatividade, autonomia, entre outros, os efeitos são correspondentes às causas anteriores, cons-
combatem fortemente o modelo tradicional, linear, de tituindo-se assim, em uma visão reducionista e
construção de conhecimento, em que o professor é simplificadora da ciência” (Moraes, 2004b, p. 27).
quem fala e o aluno escuta e copia para reproduzir na Apesar de a descoberta do princípio da incerteza
prova o que foi dito. Tal modelo é alimentado pelas ser de extrema importância para a evolução da ciên-
teorias instrucionistas. Em contrapartida, as teorias cia e com conseqüências significativas para nossas
quânticas e biológicas oferecem pistas que talvez pos- vidas, a ciência moderna, desde o início do século, já
sam ser bem compreendidas e exploradas pelos edu- havia sofrido os abalos das teorias da relatividade de
cadores para ressignificação das suas práticas peda- Einstein. Essa teoria explica que o mundo não con-
gógicas. Apoiada nas discussões entre físicos e siste de objetos isolados, mas de uma rede de interco-
biólogos, a referida autora traz contribuições signifi- nexões dinâmicas caracterizadoras dos mais diferen-
cativas para repensar a educação neste novo século. tes processos de movimentos, de mudanças, dos mais
Heisenberg, citado por Moraes (2004a), afirma diferentes fluxos de energia. Para o físico italiano
que, com seu princípio da incerteza, revelou a impos- Marcello Cini, citado por Pretto (1997, p. 3), o que
sibilidade de prever a reação de um elétron num de- vemos hoje, olhando a evolução da ciência, é uma
terminado experimento, pois ela depende do obser- grande mudança de concepção:
vador, que, ao medir um objeto, perturba a situação,
interfere no estado da onda/partícula em que o elé- [...] passou-se, em vez disso, a uma concepção de mundo
tron se apresenta. Ele ensina que não é possível pre- em que, em vez de se tentar reduzir tudo à ordem, regulari-
ver o que realmente acontece a cada experimento, mas dade e continuidade, emergem categorias e perspectivas
apenas prever a média da probabilidade das reações. completamente opostas. Estudam-se a desordem, a irregu-
Isso demonstra que é impossível separar sujeito do laridade, os fenômenos que não se repetem, em vez de ten-
objeto, pois ambos só existem a partir de suas rela- tar unificar fenômenos muito diferentes pela explicação
ções e conexões, o que deu origem à intersubjetivida- resultante de uma única lei fundamental. A individualidade
de, que nega a objetividade como critério da cientifi- começa a ser reconhecida, por exemplo, no fato de que sis-
cidade. Isso significa que tanto um como outro, sujeito temas estruturalmente idênticos podem revelar comporta-
e objetos, não desaparecem, mas ambos precisam es- mentos radicalmente diferentes, ocasionados apenas por
tar relacionados para serem compreendidos; portan- pequeníssimas diferenças que, até então, todos considera-
to, precisam estar contextualizados. No dizer de vam como sendo não essenciais.
Moraes (2004b, p. 26), “a contextualização acontece
quando se consegue ir além, ampliar o foco e quando A causalidade linear fundamenta a racionalida-
se percebe que sistemas estão inseridos dentro de ou- de cartesiana e, ao mesmo tempo, indica a existência
tros sistemas mais abrangentes, como totalidades/par- de um único caminho, de uma única metodologia, de
tes que se encontram enredadas”, visão condizente uma única maneira de realizar algo. A causalidade
com o padrão em rede como sendo o padrão da vida, recursiva, originada nas descobertas da física quântica,
proposto por Capra (1996) e Maturana e Valera (2001). traduz a existência de uma dinâmica não linear, ou

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seja, de uma dinâmica complexa, implicando um pen- gundo a autora, é essa recursividade que acaba com a
samento aberto ao inesperado, ao desconhecido, ao idéia de causa e efeito, haja vista que tudo que é pro-
acaso, pressupondo que não existe nem início nem duzido retorna sobre aquilo que o produziu, de ma-
fim, que cada final é sempre um novo começo e cada neira cíclica, em função do processo de auto-organi-
início emerge de um final anterior e “o movimento zação, em que ele é auto-organizador e autoprodutor.
cresce em espiral” (Moraes, 2004b, p. 30). O terceiro princípio mencionado por Morin é o
Em relação à educação, a dinâmica não linear hologramático. A idéia do holograma vai além do re-
vem de encontro as práticas pedagógicas tão criticadas ducionismo que só vê as partes e do holismo que só
da escola instrucionista e autoritária, reprodutora do vê o todo. Em um holograma, a parte está no todo,
conhecimento processado de maneira linear, próprias mas o todo está na parte. Esse processo ocorre nos
da “educação bancária” (Freire, 1987). Esse pensa- mundos físico, biológico e sociológico. Para o autor,
mento linear não combina com a aprendizagem cola- sabe-se que “o adquirido no conhecimento das partes
borativa, interativa, com cooperações mútuas, descon- volta-se para o todo. O que se aprende sobre as quali-
sidera as subjetividades, aspectos fundantes da dades emergentes do todo, tudo que não existe sem
abordagem complexa. organização, volta-se sobre as partes” (2005, p. 75).
Para ajudar a pensar a complexidade, Morin Dessa forma, o conhecimento pode ser enriquecido
(2005) reconhece três princípios. O primeiro é o de- das partes pelo todo e do todo pelas partes, num úni-
nominado dialógico, que nos permite manter a duali- co movimento produtor de conhecimentos. Portanto,
dade no seio da dualidade. Ele associa dois termos ao a própria idéia hologramática está associada à idéia
mesmo tempo complementares e antagônicos. É a recursiva, que, em parte, está ligada à idéia dialógica.
capacidade que uma ação tem de associar-se a outra Esse princípio hologramático é um dos aspectos
de maneira complementar, concorrente ou antagôni- fundamentais do pensamento complexo e exige nos-
ca. O segundo princípio é o da recursão organizacio- sa maior atenção, como educadores, em função de
nal. Um processo recursivo é um processo em que os possíveis desdobramentos na área educacional. Por-
produtos e os efeitos são ao mesmo tempo causas e tanto, julgamos necessário perceber que a capacida-
produtores do que os produz. Para Morin, a idéia re- de de auto-organização dos sistemas faz com que de-
cursiva é “uma ruptura com a idéia linear de causa/ terminada totalidade surja com propriedades e
efeito, de produto/produtor, de estrutura/superestru- qualidades diferentes, nem sempre semelhantes ao
tura, já que tudo que é produzido volta-se sobre o que sistema que lhe deu origem, razão pela qual, em sua
o produz, num ciclo ele mesmo autoconstitutivo, auto- descrição, podemos dizer que o todo não pode ser sim-
organizador e autoprodutor” (2005, p. 74). plesmente reduzido à soma de suas partes ou de seus
Como exemplo, podemos citar as influências de componentes (Morin, 2005).
um indivíduo sobre a sociedade ou da educação so- Essa capacidade de auto-organizar-se, de auto-
bre o aprendiz. Sabemos que a sociedade produz o produzir-se, indica que um sistema não é apenas uma
indivíduo, que também produz a sociedade, sendo que unidade global, mas uma unidade complexa, múlti-
esta retroage sobre os indivíduos por meio de lingua- pla, uma totalidade em que cada uma das partes não
gens, cultura, hábitos e crenças. Para Moraes (2004a, se encontra perdida nem fundida no todo, mas possui
p. 122), o mesmo ocorre com o sistema educacional, identidade e funcionalidade próprias, o que, por sua
que produz determinado tipo de aprendiz, que, por vez, é diferente da identidade ou da funcionalidade
sua vez, como sujeito aprendente também influencia, do todo.
pelas interações recorrentes, a evolução e o desen- Nesse mesmo sentido, para a compreensão desse
volvimento da própria educação em função de suas novo paradigma, caracterizado pelo pensamento com-
relações retroativas sobre o sistema educacional. Se- plexo, é de fundamental importância conhecer a feno-

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menologia da auto-organização, que tomou grande sociais quanto teóricas. Para Santos, trata-se de lidar
impulso com a teoria das estruturas dissipativas, ex- hoje com uma
plicada no livro de Ilya Prigogine em parceria com
Isabelle Stengers, A nova aliança: metamorfose da [...] nova concepção da matéria e da natureza que propõe,
ciência (1997). Nesse texto, os autores afirmam que uma concepção dificilmente compaginável com a que herda-
não há mais situações progressivamente mais ordena- mos da física clássica. Em vez de eternidade, a história; em
das a partir de um momento em que ocorre a “bifurca- vez do determinismo, a imprevisibilidade; em vez do meca-
ção”, e assim todo sistema se organiza em um outro nicismo, a interpenetração, a espontaneidade e a auto-organi-
nível. Segundo eles, uma organização viva vai da es- zação; em vez da reversibilidade, a irreversibilidade e a evo-
tabilidade para a instabilidade, da ordem para desor- lução; em vez da ordem, a desordem, em vez da necessidade,
dem, do ser para o vir-a-ser, traduzindo a presença da a criatividade e o acidente. (Santos, B. S., 2003, p. 48)
quietude no movimento como duas condições com-
plementares presentes na organização viva. Assim, as Ainda segundo o autor, essa substituição, essa
perturbações em um sistema são a chave para o cres- desconstrução e superposição não são um fenômeno
cimento da ordem, pois todo sistema aberto funciona isolado, ocorrendo nas diversas áreas do conhecimen-
às margens da estabilidade e sua evolução depende de to, num movimento transdisciplinar e tem não só em
flutuações de energia que, em determinados momen- Prigogine, mas em Maturana e Varela, entre outros,
tos, desencadeiam reações espontâneas. Essa estabili- exemplos dessa nova óptica sobre espaço, tempo, na-
dade, para ser recuperada, necessita da energia que é tureza, sociedade, homem.
retirada do meio pelos processos de auto-organização A fenomenologia biológica (Maturana & Varela,
que provocam mudanças em sua estrutura. Isso seria 2001) também contribuiu para rever o paradigma tra-
uma forma de explicar, por exemplo, o surgimento da dicional de ciência, descobrindo que nada de fora
vida nos planetas, em que “as configurações da natu- determina o que acontece na estrutura do sistema vivo
reza interagem com o ambiente local, consumindo e que o ambiente não determina o comportamento do
energia dele proveniente e fazendo retornar a ele os indivíduo, apenas pode catalisar processos, mas o que
subprodutos dessa utilização de energia” (Fróis, 2004). ocorre depende da estrutura do sujeito em sua relação
Em O fim das certezas, Prigogine mostra que o com o objeto. Eles explicam que isso ocorre em fun-
enigma contemporâneo reside no fato de que a nature- ção do acoplamento estrutural, que pode ser entendi-
za quase sempre opera fora do âmbito da previsibili- do como um conjunto de mudanças que o meio pro-
dade, uma vez que é um sistema dinâmico; assim, as voca na estrutura de um determinado organismo e
leis da natureza adquirem, então, um significado novo: vice-versa, numa relação circular. Ou seja, um orga-
não tratam mais das certezas, mas sim de probabilida- nismo é sempre fonte de resposta para o meio onde se
des (Prigogine, 1996, p. 159). A teoria de Prigogine encontra. Quando influenciado, muda; mudado, res-
traz a noção de tempo irreversível, contestando a abor- ponde, provocando também mudanças no meio que o
dagem da física clássica newtoniana, em que os fenô- influenciou. Em contrapartida, eles revelam também
menos eram tratados como reversíveis. Prigogine vin- que os sistemas vivos, em função de sua autopoiese,2
cula “a irreversibilidade a uma nova formulação,
probabilista, das leis da natureza” (idem, p. 193). As-
sim, passado e futuro passam a ser relativos. 2
Autopoiese é a teoria que explica que, para existir, todo ser
O sociólogo português Boaventura de Souza San- vivo depende de contínuas mudanças estruturais, pelas quais ele
tos alerta que estamos passando por uma crise: a cri- conserva sua organização mediante processos que envolvem a
se do modelo da racionalidade científica, resultado capacidade de auto-regeneração, de autoprodução, de automanu-
de uma pluralidade de condições, segundo ele, tanto tenção da vida (Maturana & Varela, 2001, p. 52-61).

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apresentam tendência ao aumento da diferenciação e preestabelecido, mas, sim, relacional, indeterminado,


não da homogeneização, a partir de suas relações com espontâneo, criativo e novo.
um ambiente mutável. O sistema vivo, pela necessi- Assim, percebe-se que o atual modo de ensinar
dade que tem de dar respostas às mudanças no meio, não dá conta das novas evidências acerca da subjeti-
diante dos desafios impostos pelo ambiente, vai trans- vidade humana. Já temos embasamento suficiente para
formando-se, auto-organizando-se para poder perma- legitimar uma transformação no ensino, sabendo que
necer dinamicamente adaptado ao ambiente em que não se aprende linearmente, mas mobilizando todas
vive. as diversas dimensões do ser humano para facilitar a
Articulando essas idéias com a educação, Moraes reconfiguração do conhecimento ao ser incorporado
(2004b, p. 33) traz uma reflexão para aqueles que pelos alunos, e descobrir e atribuir sentido próprio às
querem ressignificar suas práticas pedagógicas. Para informações provenientes quer dos professores e dos
ela, “se reconheço e assumo a possibilidade de a edu- textos quer dos diálogos estabelecidos nas salas de
cação incentivar e promover a diferenciação, ao in- aula. É desse processo que surge um conhecimento
vés da homogeneização, precisamos também assumir que permite ao aprendiz sobreviver e transcender, a
a possibilidade de se fazer ajustes reguladores em partir de uma relação dialética entre o saber e o fazer
nossas práticas pedagógicas e em nossas propostas que se realiza a partir da participação de outras di-
curriculares, o que também implica abertura e flexi- mensões humanas, entre elas a sensorial, a intuitiva,
bilidade em nosso modo de ser e em nossa maneira a emocional e a racional, dimensões essas que sabe-
de fazer e avaliar as nossas ações”. mos não dicotomizadas nem hierarquizadas, mas com-
Na visão de Moraes (2004b, p. 34), essas teorias plementares (Moraes, 2004a, p. 204).
desvelam o caráter complexo do conhecimento e da No planejamento curricular, a forma de organi-
aprendizagem e revelam alguns parâmetros, princí- zação linear e apenas transmissiva, ainda hegemôni-
pios e valores significativos que podem servir para a ca, indica que os temas só podem ser trabalhados se-
reconfiguração de um novo cenário epistemológico, qüencialmente, seguindo um único caminho. Apesar
que vem sendo chamado de Paradigma Educacional do reconhecimento que possa haver, em certos casos,
Emergente, Ecossistêmico ou Complexo. Ela acredi- como alguma etapa que precisa ser cumprida antes
ta que tais princípios e valores podem ser indutores de outra, isso não se pode constituir em uma regra
de práticas pedagógicas mais dinâmicas, integrado- fechada ou um único caminho preestabelecido.
ras, complexas e holísticas, que requerem, por sua vez, Nesse sentido, Moraes (2004a, p. 201) alerta que
maior entendimento conceitual em relação ao conhe- a nova física e a nova biologia sinalizam em outra
cimento, à aprendizagem e à complexidade envolvi- direção, apontando para um conhecimento em rede
da nos processos educacionais. no qual teorias e conceitos estão interconectados, no
Para Edgar Morin (2005), complexidade signifi- qual não há mais conceitos hierarquizados, não há
ca uma tessitura comum que coloca como insepara- disciplina mais importante do que outra. Nós, seres
velmente associados o indivíduo e o meio, o sujeito e humanos, não funcionamos de forma fragmentada
o objeto, a ordem e a desordem, o professor e o aluno nem apenas linearmente nos processos de construção
e os demais tecidos que regem os acontecimentos, as do saber, mas também de maneira inter e transdisci-
ações e as tramas da vida. Para o autor, “complexo é plinar em relação ao conhecimento, isso como exi-
aquilo que é tecido em conjunto”. Esse enfoque traz gência intrínseca e operacional do nosso próprio or-
consigo a visão de que o conhecimento é construído a ganismo, e não como uma circunstância aleatória
partir de intercâmbios nutridores entre sujeitos e ob- qualquer. É um processo dinâmico, articulado e auto-
jeto, mediante diálogos, interações, transformações e organizador, em que a emoção influencia o raciocí-
enriquecimentos mútuos, em que nada é linear ou nio e pode mudar uma rota pré-programada, em que a

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ação, que produz o conhecimento, resulta não só da mento se relacionam, um supõe o outro, mas um não
história de vida do indivíduo, mas também do coleti- se reduz ao outro, a informação só adquire significa-
vo. Então, pode-se dizer que todo o conhecimento é do num contexto humano, pois o sentido está no in-
reconstrução do conhecimento. Essa concepção re- térprete e não na informação em si. A esse processo de
mete a uma metodologia na qual os alunos terão de atribuição de significado às informações denomina-se
dialogar com os conhecimentos, requerendo dos do- conhecimento. Ainda para a autora, esse processo não
centes a otimização de condições nas suas práticas acontece individualmente, produz-se na relação do
pedagógicas que enfatizem esse modo de aprender. sujeito com o mundo; portanto, nas interações entre
Nessa perspectiva, assumindo o conceito de aprendi- sujeitos.
zagem como reconstrução, inspiro-me em Marques: Os cursos a distância que se utilizam de ambien-
tes on-line tendem a seguir, no processo ensino-apren-
[...] aprendizagem é processo vital, autoformativo do gê- dizagem, a lógica “bancária” e linear de transmissão
nero e do sujeito individuado pela cultura e singularizado de conteúdos. Assim sendo, encontram-se páginas na
pela auto-expressividade, que assim se configuram histo- web com conteúdos seqüenciais que, em alguns ca-
ricamente em reciprocidades, na autonomia do pensar e sos, oferecem um hipertexto fechado no qual o aluno
nas co-responsabilidades da ação. [...] Ao se entrelaçarem não tem a possibilidade de participar e intervir nem
os processos da socialização, da individuação e da singu- se perder na Internet. Silva (2001, p. 195) alerta que
larização do sujeito, os homens aprendem uns dos outros, deve ser incluído um mecanismo que ajude o usuá-
constituem-se em sujeitos sociais concretos da aprendiza- rio/aprendiz a não se perder, mas que ao mesmo tem-
gem e adquirem, como pessoas, as competências que os po não o impeça de perder-se. Assim, nesse jogo de
tornam capazes de linguagem e ação para tomarem parte perder-se e não se perder chama a atenção para o cui-
nos processos do entendimento compartilhado e neles afir- dado com uma sinalética que facilita os dados e enre-
marem sua própria identidade. Constitui-se, em suma, na dos disponibilizados pelo professor. Ao mesmo tem-
aprendizagem a humanidade e se constituem os homens e po, chama a atenção para o cuidado com a informação
seus grupos, pela ação comunicativa e na hermenêutica satisfatória ao entendimento de cada aluno sobre o
reconstrutiva das tradições, de face aos desafios dos sem- que o professor propõe, não o impedindo de, ao aden-
pre novos tempos e no imperativo da emancipação huma- trar os caminhos propostos, experimentar o labirinto,
na. (Marques, 1995, p. 15-16) o pensamento complexo que trabalha no acaso e na
incerteza, e aí aprender e não ser suprimido. A web
Dessa forma, o conhecimento não pode ser con- pressupõe uma estrutura hipertextual e usa a idéia de
siderado algo que se transmite, que basta a percepção rede, definida por Lévy como
pela exposição do professor. Galeffi (2003) alerta que
não é por meio de conteúdos e repetições autorizadas [...] um hipertexto, um conjunto de nós ligados por cone-
que se poderá alcançar uma educação humana trans- xões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens gráfi-
disciplinar, que tem como princípio diretor a arte de cos ou partes de gráficos, seqüências sonoras, documen-
aprender a ser-sendo, pois “vivemos no conhecimen- tos complexos que podem ser eles mesmos hipertextos.
to e conhecemos no viver” (Maturana & Varela, 2001). Os itens de informação não são ligados linearmente, como
Essa proposição deve ser realçada especialmente a em uma corda de nós, mas cada um deles, ou a maioria,
partir do advento da Internet, que traz à tona o equí- estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Na-
voco dos conceitos da educação moderna tão cristali- vegar em hipertexto significa poder desenhar um percur-
zados, em que se acredita que, ao repassar informa- so em uma rede que pode ser tão complicada quanto pos-
ções, se está educando. Nesse mesmo sentido, Bonilla sível, pois cada nó pode ter, por sua vez, uma rede inteira.
(2005, p. 18-19) sinaliza que informação e conheci- (Lévy, 1996, p. 33)

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O pensamento complexo

Pensar em práticas pedagógicas baseadas no sen- cursivos, em que o presente está permeado pelo pas-
tido de redes significa superar a tradicional visão de sado e pelo futuro. O passado condiciona tanto o que
educação centrada na hierarquia e na verticalidade, o homem faz no presente quanto suas projeções para
na perspectiva do programa preestabelecido, da frag- o futuro. A dinâmica mental percorre simultaneamente
mentação, da centralidade e da linearidade. No dizer os três tempos. Portanto, a aprendizagem dá-se em
de Serpa (2003), assim como em um labirinto, cada um anel recursivo e ascendente. Não há apenas uma
acontecimento está fundado em uma decisão que gera forma de aprender.
uma nova situação inusitada, a qual, por sua vez, pro- Machado (1999, apud Santos, A., 2003, p. 28) ofe-
voca a necessidade de novas decisões independentes rece uma sistematização para compreender e lidar com
da anterior, sem que haja necessariamente engessa- a complexidade do processo cognitivo: compreender é
mento do caminho já percorrido. apreender o significado; apreender o significado de um
objeto ou de um acontecimento é vê-lo em suas rela-
Implicações pedagógicas ções com outros objetos ou acontecimentos; os signifi-
cados constituem, pois, feixes de relações; as relações
As tecnologias digitais oferecem cada vez mais entretecem-se, articulam-se em teias, em redes, são
uma infinidade de informações, mas estas somente construídas social e individualmente e estão em per-
são úteis às pessoas que conseguem dar-lhes sentido, manente estado de atualização; em ambos os níveis –
selecionando aquilo que lhes interessa. Informação individual e social –, a idéia de conhecer assemelha-se
não é sinônimo de conhecimento e, em demasia, leva à de enredar.
à dispersão. As informações só tomam sentido quan- Nesse sentido, Bonilla e Picanço (2005) trazem
do se transformam em um instrumento de interlocu- uma concepção de currículo em rede para o desen-
ção, de diálogo (interior) multifacético e multidimen- volvimento de cursos, com uma perspectiva não-
sional, “ao passar por uma teia de relações” (Capra, linear de educação, a partir do seu imbricamento com
1996). Somente após esse processo podemos dizer que as tecnologias em uso. Nesses cursos, baseados em
o sujeito compreendeu. Além disso, as tecnologias mapas que vão sendo cartografados no decorrer da
digitais oferecem várias possibilidades de comunica- experiência, há constante reorientação de processos
ção e de diferentes linguagens (visual, auditiva etc.) metodológicos. Assim, os sujeitos envolvidos no pro-
para que um professor possa usar, a fim de atender cesso têm liberdade de escolha de seus próprios per-
aos mais variados estilos de aprendizagem. cursos de aprendizagem, de acordo com seus interes-
Para Palloff e Pratt (2004), a utilização de uma ses, em constante interação com seus pares, com as
variedade de atividades é, então, a melhor maneira de máquinas e com os diversos objetos de aprendizagem.
garantir a permanência dos alunos, pois cada um é Dessa forma, precisamos romper a tão comum
um ser indiviso, com diferentes formas de resolver hierarquização de disciplinas e conceitos e a falsa idéia
problemas, algo fundamental a ser pensado na elabo- de a aprendizagem ser considerada um processo úni-
ração de propostas para cursos on-line, pois na maio- co, quando na realidade, em cada um, podem ser iden-
ria dos casos o aluno lê um texto, faz exercícios e tificados muitos processos, que segundo Galeffi
envia-os para o professor que confirma (ou não) suas (2003) é a polilógica, um educar pelas diferenças. Ele
respostas, assinalando os erros como deficiência do ainda sinaliza que só se aprende o que se mostra ne-
processo ensino-aprendizagem. Akiko Santos (2003, cessário em seu evento.
p. 28) observa, com Morin, que a construção do co- É mais uma vez Moraes (2004a) que nos alerta
nhecimento não se faz somente pelos canais lin- que o conhecimento/construção é conseqüência de
güísticos e por ordenamento lógico-matemático em conhecimentos anteriores que o aprendiz possui. Isso
progressão. Há também movimentos retroativos e re- tudo é trabalhado em função das informações e dos

Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007 523


Maristela Midlej Silva de Araújo

dados que a realidade oferece e que, ao serem proces- que se auto-organizam pela complexidade dos pro-
sados pelo indivíduo, se transformam em estratégias cessos instituídos e instituintes, das relações socio-
de ação que dão origem a novos fatos, e que, por sua técnicas estabelecidas pelos sujeitos no processo de
vez, são incorporados à realidade, modificando-a. aprendizagem – professores, estudantes, técnicos e
Tudo se vai complementando, se vai auto-organizando comunidade externa – com os artefatos materiais e
e se expressando pela conduta que se manifesta como informacionais. Espaços onde seres humanos e obje-
resultado do conhecimento construído pelo sujeito tos técnicos se implicam, se transformam e se afe-
aprendiz em rede de significados, incluindo aqui sua tam, produzindo assim modos de ser, de pensar e de
história de vida e da cultura em que vive. viver que vêm desafiando os processos de ensino-
De certa forma, podemos aqui acrescentar que aprendizagem legitimados pela lógica cartesiana e
esse ato de criação do conhecimento é a autopoiese racionalista de conhecer.
(autofazer-se), ou seja, o momento criativo do pro- Auto-organização, por sua vez, implica autono-
cesso de auto-organização que, para Maturana e Varela mia, que é também uma característica importante dos
(2001), significa a capacidade que todo ser vivo pos- sistemas vivos, gerada por tudo aquilo que a organi-
sui de autotransformar-se continuamente. É quando o zação internaliza ou armazena em sua estrutura a par-
sistema é capaz de se autoproduzir. Para tanto, interage tir de processos autopoiéticos. Energia, matéria e in-
com o meio exterior, de onde extrai energia, matéria formação armazenadas são movimentos que permitem
e informação, elementos constituintes de sua dinâmi- ao sistema o desenvolvimento de sua autonomia de
ca organizacional. Essa teoria revela que cada orga- ser e de existir. Mas, para sermos autônomos, preci-
nismo tem a capacidade intrínseca de auto-organizar- samos interagir com o meio exterior do qual somos
se, e essa potencialidade está presente em todo o dependentes, o que indica, de acordo com o pensa-
universo e em todo ser vivente. mento de Morin (1998), que a autonomia é sempre
Nesse mesmo sentido, concordando com Morin relativa e complexa, pois é a capacidade de relacio-
(2005), que destaca que os sistemas não são consti- narmos com o que está ao redor, é a capacidade de
tuídos apenas de partes ou de elementos constituin- auto-organização em relação ao entorno.
tes, mas também de ações e interações entre unidades A autonomia, repensada a partir de um pensa-
complexas, acreditamos que é o conjunto de intera- mento ecológico e das teorias da auto-organização e
ções, de relações estabelecidas que caracteriza a or- da complexidade, apresenta, assim, caráter dinâmico
ganização de uma comunidade de aprendizagem. e processual, implicando sua indissociabilidade da
Conhecer e aprender, no entendimento de idéia de dependência ecológica em relação ao meio.
Maturana e Varela, implica procedimentos de inter- Um pensamento ecológico seria, para Moraes (2004b,
pretação, criação e auto-organização por parte do p. 39), “um pensamento relacional, dialógico, indi-
aprendiz. Situações de desequilíbrios, de desafios fa- cando que tudo que existe co-existe e que nada existe
cilitam o desenvolvimento da aprendizagem, pois re- fora de suas conexões e relações”. Isso se refere não
querem estados de auto-organização recorrentes. As- apenas à ecologia natural, mas também à sociedade e
sim, o conhecimento e a aprendizagem são processos aos indivíduos, e implica a interdependência existen-
de construção recursivos e interpretativos desenvol- te entre diferentes domínios da natureza, incluindo as
vidos por sujeitos ativos em sua interação com o mun- relações que ocorrem entre educadores e educandos,
do e com a realidade que os cerca. indivíduos e contextos diversos.
Com base em Edméa Santos (2003) e Moraes Trazendo essas idéias para a aprendizagem em
(2004a) e apoiada em Maturana e Varela (2001), re- ambientes on-line, é preciso pensar em estratégias
conhecemos as comunidades de aprendizagem que se pedagógicas que potencializem autonomia, interação,
formam no espaço virtual como organizações vivas, colaboração e comunicação, pois é mediada pelo com-

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O pensamento complexo

putador ou pela Internet, não tendo a presença física pode ser manipulada por qualquer um e ainda assim
do professor e dos colegas. Embora a modalidade a estar imediatamente presente para todos. Essa orga-
distância permita a organização autônoma dos estu- nização e forma de produzir conhecimento não seria
dantes, que é sempre relativa, não se deve esquecer possível, a não ser em ambiente informatizado, ba-
de que nela há planejamento e sistematização de suas seado em redes hipertextuais.
ações: selecionam-se os conteúdos, orienta-se o pros- Nesse sentido, precisamos propor uma educação
seguimento dos estudos e propõem-se atividades para on-line em que a aprendizagem não seja concebida
que os estudantes resolvam problemas. Assim, autono- na lógica apenas da transmissão, pelo estudo de obje-
mia não deve ser confundida com autodidatismo, pois tos dados, mas como objetos dando-se, vivos, a partir
um autodidata é o estudante que seleciona os conteú- das interações no ambiente virtual. Para tal, Silva
dos e não conta com uma proposta pedagógica para o (2001) sugere fundamentos básicos para a produção
estudo nem com a colaboração de outros sujeitos. e gestão de práticas pedagógicas interativas: a) parti-
A relação entre educador e educando e entre edu- cipação-intervenção: participar não é apenas respon-
candos deve ser, então, de trocas e interações, tendo der “sim” ou “não”, significa modificar a mensagem;
como meta o crescimento em conjunto. Concordando b) bidirecionalidade-hibridação: a comunicação é a
com Galeffi (2003), precisa-se anunciar na aprendi- produção conjunta da emissão e da recepção, é co-
zagem autônoma uma tensão educativa que se funda criação; os dois pólos codificam e decodificam;
na ação aprendente e, com essa ação, ser desenvolvi- c) permutabilidade-potencialidade: a comunicação su-
da uma atitude aprendente radical. O professor, nessa põe múltiplas redes articulatórias de conexões e li-
relação, não se contenta mais em ser um transmissor berdade de trocas, associações e significações.
de informações, um conselheiro, mas sim um profes- Ao propor esses fundamentos, o autor refere-se
sor que atua disponibilizando possibilidades de múl- à possibilidade de modificação da tradição da sala de
tiplas experiências, de múltiplas expressões, um “ne- aula presencial baseada no baixo nível de participa-
gociador das diferenças” (Pretto, 2003a, p. 18) e dos ção oral dos alunos, na ênfase em atividades solitá-
processos de aprendizagens, mesmo porque não é rias, na aprendizagem mecânica de conhecimento
possível ensinar tudo a todos. O ponto-chave não re- factual como principal objetivo do ensino, enfim, na
side em saber se a aprendizagem deve conceber prio- distribuição do conhecimento. Refere-se também à
ridade aos conteúdos, mas sim assegurar que seja sig- sala de aula a distância, seja ela com uso de mídias de
nificativa. massa (televisão, rádio) ou de mídias digitais (Inter-
Para Moraes (2005, p. 200), nos ambientes vir- net), que mantêm barreiras intransponíveis entre a
tuais de aprendizagem a aprendizagem, embora seja produção e a recepção da comunicação e do conheci-
individual, é também influenciada pelos processos de mento.
natureza coletiva, pautados nas conversações entre
indivíduos que compartilham o mesmo espaço vir- Desafios emergentes
tual. Nessa nova ambiência, aparece a definição de
sujeito coletivo da aprendizagem (Lévy, 1996), fun- Silva (2001, p. 158) enfoca a interatividade como
damento para que se compreenda a aprendizagem perspectiva de modificação da comunicação em sala
colaborativa. Esse sujeito acontece quando todos os de aula, da ação pedagógica do professor, a partir do
membros da comunidade participam da criação e da movimento contemporâneo das tecnologias hipertex-
manutenção da comunicação. Assim, o debate dirige- tuais, esclarecendo que isso não significa meramente
se para a construção progressiva de uma rede de ar- uma nova tecnificação da sala de aula, mas o atendi-
gumentação e documentação sempre presente simul- mento das exigências da formação do sujeito do nos-
taneamente e atualizada para toda a comunidade, que so tempo. E acredita que é dessa forma que se poderá

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Maristela Midlej Silva de Araújo

enfrentar o descompasso evidente entre o modelo de line. Adotar a mesma abordagem para todos os alu-
comunicação emergente e o modelo hegemônico que nos não funciona.
subjaz à instituição escolar, que é a transmissão. As- Schoeder (1993, apud Palloff & Pratt, 2004, p. 53)
sim como ele, não tenho a ingenuidade de achar que aponta para o fato de que entender como os alunos
apenas modificando a comunicação em sala de aula a aprendem e o lugar que ocupam no processo pode
crise da educação que assombra diversos países será ajudar os professores a elaborar ambientes de apren-
solucionada, pois tal crise não se resume às mazelas dizagem que atendam melhor às necessidades dos alu-
do modelo comunicacional arborescente que ainda nos. Ensinar tendo como base o modelo expositivo
prevalece nela. Entretanto, o autor crê que, ao modi- não dá conta de todas as preferências de aprendiza-
ficar esse modelo da árvore, promoverá as bases da gem.
comunicação livre e plural – a participação, a É mais uma vez Silva (2001) que alerta que, ao
bidirecionalidade e a multiplicidade de conexões. Isso propor o diálogo, a confrontação coletiva do conhe-
significa dar abertura para a expressão e a ação dos cimento, o professor deve levar em conta o mapea-
atores diretamente envolvidos com a sala de aula – mento das diferenças. Dessa forma, ele não elimina
professores e alunos –, e talvez aí encontremos for- as diferenças em favor de uma unidade, não dilui as
mas de reação e de reinvenção da educação e da pró- diversidades numa única identidade. Ele atenta para
pria sociedade. o “novo modo de interação” das culturas e respeita a
O professor, ao romper a prevalência da trans- “pluralidade de vozes” que compõe a sala de aula e
missão e “converter-se em formulador de problemas, as motiva à participação, à co-criação. Ou seja, o
provocador de interrogações, coordenador de equi- professor, mesmo estando adiante dos seus alunos
pes de trabalho, sistematizador de experiências e me- no que concerne a conhecimentos específicos, não os
mória viva de uma educação que, em lugar de afer- transmite, não os oferece a distância; ele os propõe,
rar-se ao passado, valoriza e possibilita o diálogo entre modelando-os como espaços conceituais onde os alu-
culturas e gerações” (Barbero, 1998, apud Silva, 2001, nos podem construir seus próprios mapas e conduzir
p. 158), abre possibilidades para uma prática docente suas explorações, considerando os conteúdos como
em que se possa partilhar entre aquele que ensina e ponto de partida e não como ponto de chegada no
aquele que aprende, num processo de produção de processo de construção de conhecimento.
sentido que torna o aprendiz capaz de construir seu Essa concepção de interação na sala de aula su-
próprio percurso de aprendizagem. põe estados potenciais do conhecimento arquitetados
O autor chama a atenção de que o professor pode pelo professor, estruturados também como caminhos
oferecer as disposições e proposições específicas para e espaços a percorrer, como dados flexíveis, que exi-
um determinado aluno e/ou um determinado grupo. gem a participação do aluno na construção do conhe-
A sala de aula, tal como a sociedade, não é um aglo- cimento, não só individualmente, mas também de for-
merado amorfo de pessoas. Nela, o interesse do alu- ma coletiva, não mais na postura de ser passivo, que
no é personalizado e manifesta-se individualmente e apenas olha, ouve, copia e presta conta. O aluno ago-
em grupo. O design de um documento será lido por ra cria, modifica, constrói, aumenta, recorta, cola, e,
muitos; por isso, precisa ser dotado de um perfil que assim, torna-se co-autor.
contemple os diferentes interesses da comunidade de A imersão e a navegação realizadas pelo aluno
usuários. Assim, independentemente da abordagem que já traz consigo seus conhecimentos prévios sobre
ou do modelo de ensino que o professor adote, o fun- o assunto podem resultar em conexões não previstas
damental é reconhecer as diferenças de estilos de pelo professor ou que este não achou importante con-
aprendizagem que existem e que devem ser levadas templar naquele espaço. No dizer de Silva, se tais
em consideração na sala de aula, presencial ou on- conexões implicam redesenhar ou aumentar a dispo-

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O pensamento complexo

sição arquitetada, e o professor, a partir do diálogo Diante do exposto, ao sintonizar-se com os fun-
aberto, decide modificá-la, está configurada a co- damentos da interatividade e a lógica comunicacional
autoria no ensino e na aprendizagem. hipertextual e multimidiática acelerada pela presença
Em ambientes on-line fundamentados na pers- das TIC, o professor percebe que o conhecimento não
pectiva da interatividade, os conteúdos (design e co- está mais centrado no seu discurso e, propondo-o, aten-
municação dialógica) do curso são construídos num ta para certos cuidados na interlocução, redimensio-
processo de parceria de autoria e co-autoria de senti- nando sua autoria, na perspectiva da participação ati-
dos, em que os autores criam e socializam seus sabe- va dos aprendizes, numa união de emissão-recepção,
res de várias formas: softwares, interfaces, hipertextos, potencializando a dialogicidade, a colaboração e a
mídias diversas. Esses ambientes precisam ser obras autonomia.
abertas, e, pelo potencial disponibilizado pelas inter- Reconhecemos, a partir de discussões trazidas por
faces das tecnologias da informação e comunicação Moraes (2004), Morin (1998, 2003, 2005), Maturana
(TIC), devem permitir liberdade de imersão, navega- e Varela (2001), Silva (2001) e outros teóricos aqui
ção, exploração e conversação, em que todos os par- discutidos, que, subjacentes às raízes do pensamento
ticipantes possam “contribuir no seu design e na sua complexo, emergem sementes teórico-metodológicas
dinâmica curricular” (Santos, E., 2003, p. 225). capazes de fundamentar o processo de construção do
A autora ainda alerta que apenas criar um site e conhecimento e o desenvolvimento da aprendizagem,
disponibilizá-lo no ciberespaço, por mais que ele seja combatendo intensamente o modelo causal tradicio-
hipertextual, não é suficiente, é necessário que ele seja nal que alimenta as práticas instrucionistas.
interativo. Para que a interatividade com o conteúdo Pretto (2003b) alerta que o uso das TIC na edu-
e com seus autores possa ser efetiva, pode-se criar cação, seja ela presencial ou a distância, é objeto de
interfaces síncronas e assíncronas. Como exemplo das estudos e experimentos em praticamente todo o mun-
primeiras tem-se os chats ou salas de bate-papo, que do, sendo visível certo descaso quanto à sua verda-
possibilitam aos participantes a comunicação em tem- deira eficácia. Já é quase consensual a idéia de que a
po real com aqueles que estiverem conectados num incorporação dos computadores na educação não pode
ambiente on-line de aprendizagem, permitindo a tro- ser mera repetição dos cursos tradicionais ou aulas,
ca de saberes, sentidos, desejos, dúvidas a qualquer se ela estiver ainda centrada na superada e tradicio-
tempo/espaço naquele momento. Em relação às in- nal concepção das tecnologias educacionais associa-
terfaces assíncronas, pode-se contar com os fóruns, das às práticas de instruções programadas de algu-
que permitem a comunicação, a construção coletiva mas décadas atrás, tão conhecidas dos educadores.
dos conhecimentos, neles há imbricamento entre re-
cepção e emissão, e a mensagem pode circular e ser Considerações finais
comentada por todos os sujeitos envolvidos no pro-
cesso de aprendizagem; as listas de discussão, que O pensamento complexo, originado das teorias
possuem as mesmas características do fórum, em que quânticas e biológicas, pressupõe a necessidade de
todos podem comunicar-se com todos, diferindo da- conceber o sistema educacional como redes autopoié-
quele porque as mensagens são socializadas pelo cor- ticas, como estruturas dissipadoras de energia, auto-
reio eletrônico, não requerendo um ambiente especí- organizadoras, que aceitam o desconhecido, que aco-
fico no ciberespaço para enviá-las e recebê-las; os lhem o inesperado, o imprevisível e se auto-organizam
blogs, que, além de permitir comunicação síncrona e a partir de suas interações. Essa mudança de enfoque
assíncrona, agregam em seu formato hipertextual uma requer o desenvolvimento de práticas pedagógicas,
infinidade de linguagens e formas de expressão (idem, de posturas e atitudes coerentes com essa linha de
p. 226). pensamento.

Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007 527


Maristela Midlej Silva de Araújo

Com as considerações sobre os aspectos funda- LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensa-
mentais dessas teorias desenvolvidas pelos autores mento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 1996.
referendados no decorrer deste texto, queremos sa- MARQUES, Mário Osório. A aprendizagem na mediação social
lientar que esses novos referenciais teóricos nos ofe- do aprendido e da docência. Ijuí: UNIJUÍ, 1995.
recem pistas significativas para o entendimento do MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J. A árvore do
processo de construção do conhecimento. É um pen- conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São
samento que dá maior ênfase ao contexto, propõe Paulo: Palas Athena, 2001.
maior abertura, estando sempre em processo de cons- MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente:
trução e reconstrução. implicações na formação do professor e nas práticas pedagógicas.
Tentamos destacar aqui alguns pontos significa- Em Aberto, Brasília, ano 16, n. 70, p. 57-69, abr./jun. 1996.
tivos para o desenvolvimento de ambientes para a edu- . Tecendo a rede, mas com que paradigma? In:
cação on-line, compreendidos como sistemas autopoi- MORAES, Maria Cândida (Org.). Educação a distância: funda-

éticos, como organizações vivas, a partir das relações mentos e práticas. Campinas: UNICAMP/NIED, 2002.

de cooperação e colaboração que se firmam entre seus . Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem

componentes. Propomos um ambiente que seja mais e cidadania no século XXI. Petrópolis: Vozes, 2004a.

comunicacional (Silva, 2001), com maior autonomia . Pressupostos teóricos do sentirpensar. In: MORAES,

dos estudantes, práticas que contemplem os diferen- Maria Cândida; TORRE, Saturnino de la. SentirPensar: funda-

tes estilos de aprendizagem e outras que estimulem a mentos e estratégias para reencantar a educação. Petrópolis: Vo-

construção individual e coletiva do conhecimento. zes, 2004b.

Nossa prática pedagógica, assim como os ensinamen- . Educação a distância e a ressignificação dos para-

tos advindos de nossas pesquisas, comprova que não digmas educacionais: fundamentos teóricos e epistemológicos.

será possível fazer uma educação on-line com base na Revista da FAEEBA/Universidade Estadual da Bahia, Departamen-
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mesma perspectiva da aula convencional, uma vez que
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Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 36 set./dez. 2007 529


Resumos/Abstracts/Resumens

use of technology and the concepts of


knowledge and of education implied in
this process. Reflecting upon this
articulation, the present study
discusses complex thinking and the
epistemological proposals found in
quantum and biological theories,
which indicate a transformation of the
instructional model of learning. It
simultaneously proposes elements for
rethinking the currently dominant form
Maristela Midlej Silva de Araújo of education still based on the
O pensamento complexo: desafios principles of classical science, which
emergentes para a educação on-line are strongly criticized by various
No Brasil e no mundo os investimentos pedagogical tendencies.
em educação on-line crescem cada dia Key words: complex thinking; on-line
mais. Nesse sentido, justifica a necessi- education; pedagogical practice
dade de investigações que sinalizem El pensamiento complejo: desafíos
caminhos para práticas pedagógicas emergentes para la educación on-line
coerentes com as necessidades atuais En Brasil y en el mundo las
de formação e com os princípios que inversiones en educación on-line
articulam a relação entre o uso da tec- crecen cada día más. En este sentido
nologia, as concepções de conhecimen- se justifica la necesidad de
to e de educação implicadas nesse pro- investigaciones que señalan caminos
cesso. Procurando refletir sobre essa para prácticas pedagógicas
articulação, este trabalho traz discus- coherentes con las necesidades
sões acerca do pensamento complexo, actuales de formación y con los
dos pressupostos epistemológicos pre- principios que articulan la relación
sentes nas teorias quânticas e biológi- entre el uso de la tecnología, las
cas, as quais apontam para a transfor- concepciones de conocimiento y de
mação do modelo instrucionista de educación implicadas en este proceso.
aprendizagem, ao mesmo tempo em Buscando reflejar sobre esta
que propõem elementos para repensar articulación, este trabajo trae
a educação vigente ainda fundamenta- discusiones a respecto del
da nos princípios da ciência clássica, pensamiento complejo, de las
tão fortemente criticada pelas diversas suposiciones epistemológicas
correntes pedagógicas. presentes en las teorías cuánticas y
Palavras-chave: pensamento complexo; biológicas, las cuales apuntan para la
educação on-line; prática pedagógica transformación del modelo
Complex thinking: emerging instruccionista de aprendizaje, al
challenges for on-line education mismo tiempo que proponen elementos
Investments in on-line education are para repensar la educación vigente
increasing significantly in Brazil and todavía fundamentada en los
throughout the world. This justifies the principios de la ciencia clásica, tan
need for studies that identify fuertemente criticada por las diversas
pedagogical practices that are corrientes pedagógicas.
coherent with current needs for Palabras claves: pensamiento
education and with the principles that complejo; educación on-line; práctica
articulate the relationship between the pedagógica

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