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ANTONIO MANUEL DA ROCHA E MENEZES CORDEIRO- DA BOA FE NO DIREITO CIVIL 5 REIMPRESSAO) A MINHA MULHER Agesdeineatos scaémicos Ao Prof, Dower Jost oe Ouvens Arceiio; ho Prot Douror Cenve-Waemu Casas Aa Prof, Dower Ea Jas A Universidade de Lisbon ¢ 30 Dever Akad Ao inten vdiadose 2 quantr ely claboraio dete veo, es Avtauchdient ‘ow coegat,conebuieme para» Do Prot Dowtor Joko 0 Casto Mex: Lisboa, Ourbeo de 1983, MODO DE CITAR FE ABREVIATURAS As obras citam-se pelo autor, titulo, local de publicagio — quando se trae de artigos — data e pagina: nas referencias subsequentes, 0 titulo € abreviado omitese a data ou 0 local da publiagio, salvo quando se pretenda chamar 4 atengio para ces 05. ‘Os manuais © comentitios de uso corrente citam-se sempre de modo abreviado, As decisses judiciais ci os tibunais comuns de pr dda sun sede Consoante o contexto, os algarismas, sem indicasSo, reportam-se a pag nas ou datas ou, sendo em expoente, i edigSo ou a notas de roda As disposigdcslegais,nZo acompanhadas da fonte, correspondem a artigos do Cédigo Civil portuguts em vigor, aprovade pelo Decteto-Lei n." 47334, 14025 de Novembro de 1966, com alteragSessubsequentes, excepto se, da sequel ci, reselar com excepcio 0 se indique outeafonte, ina, citadas no origi dl respon indicagio do mode abreviade rmalizado e universl, as abrevi texdas io as de uso coreente. nas diversas literaturas juridieas da actualidade, com ppequenas adaptagSes para evitarsobreposigio. Delas die, de se isi alfibcica, abreviaeuras de revista, eneiclopl abreviaturas de tribunais ¢ abreviaturas diversas, 4). ABREVIATURAS DE REVISTAS, ENCICLOI LUDENCIA AS E RECOLHAS DE JURIS- AAMDNo: urs aces AcRU wal a Relais de Lata ape Amaro de Deca Cit ARDE as kK Aa fb eb Zage BVwGE Rach aed Solisopie nein des Bundebeiigerihs Bae Zeta fr ds gesame fete site Barc ~ Brueidngen es Beyeriien Obrsten Laeger Zien Deseher Nearae = Dewche Netar-Zeitehit = Distoarie rae & Dire Civile = Dawes Ree = Dace Ride Datos Siey Abreviateas ut Stvenct Verona Gris re Gada Era GRLs Grace Grits onuR Here HER pra Hws)RW azn se Thee des Res jas yw Re KUO evs er thee der Obe-App abe in oir Res Ziff ay lathe Alen de Ronda edit Gove dete se Sie {Onion ss Adres been der Reid Obohandigeries ven —Verchrmgett. Juche Ranian fir Sie ndcitulvericheang wa —Verrlangicio wu Zeit fir Wintel wd Barbee, Werpapemitedngen wast = Walmungvicg und Mire — Zeit or Zines 1 ADREVIATURAS DE TRIBUNAIS ‘CApp, dare o ch, trea imps) ea AG /tabeck ‘oG/poR octt oGHnZ, —Obeter Ghia ir de bite Zone ou Obani Rag — Resin RO —Reloio de Coie Rev = Rela de Evora Rid lags fe Laan Rix Rela de Litos RR — Relais de Pore ROHG — Rekhbehandligei scar — Supreme Col da Adminis Pics Sawa STA sn sn e 1s © ourmas ance aac at ALR nce DH BER Cis Come Cig Pel de 1886, Cig de Provera Ciel Cig de Propiedad Tusa vo BGO z0B ZcB/pvR 200 Cie Ct de 1807 — Dive ~ Einftrmpecete sm Bg = Breet spats — Bader then Geeta — Fesgsbe ou Finatsgerih, conforme 6 coment fret — Konkan = Metage — Minti Pate te vicerlhe Verge agclserdnng — Liven (a = Zivigetchr(€s RDA) ~ Zivlrsecontang INTRODUGKO 1. A boa f& no Direito civil L.A boa f& surge, com frequen fontes do Direito 3 sucessio testamentétia, com incidéncia decisiva no negécio juridico, nas obrigagées, na posse ¢ na constituigio de boa fé informa previs6es normativas © nomi da ordem privada. As figuras de ponta da cestlo-lhe associadas: a culpa na formagio dos contratos, 0 abuso do diteito, a modificagio das obrigagies por alteragio das circunstincias €.a complexidade do conteiido obrigacional. Insttutos antigos ¢ eria- pensamento juridico cristio tém-na como referéncia ias © 0 casamento putativo. Figuras f inesperado, incluem-na, a nive clecem: 2 morte presumida, a condi- imulagio, a acg2o pauliana, o entiquecimento sem catsa ca Tanto basta para ju Exte livro propde-se fazé-lo, em termos de Dircito. positive: pergunta pelas solugses concretas, promovidas, na order ci pela boa fé € oferece resposta. I, Com implicagées de toda a ordem, o tema da pesquisa anuncia-se complexo. A dificuldade pode set minorada com 0 antecipar de alguns dados: os vectores ios da boa fé, a sua lo no Cédigo e a terminologia que ela informa, o sentido da ida codificagio portugues, as coordenadas da Ciéncia do Direito ada, o lugar da boa fé na cultura juridica actual e o plano do tra~ balho, com as suas ra2bes. Sendo uma criasio do Dircito, a boa f€ nfo opera como um onceito comum. Em vio se procuraria, nas pdginas que seguem, Da bos fé no Di tuto: evitadas, em geral, pela metodo- tentativas desse géncro se face 20 alcance uz um estidio juscultural, manifesta uma Ciéncia do Direito ¢ exprime um modo de decidir proprio de certa o: licada em termos histd- longo de séculos, inflectida pelos germes cient dariam a cultura do Ocidente um cunho que conserva. No Direit isto traduziu-se pelo domfnio do pensamento sistematico consciente, fem progressio, até hoje. Para enquadrar ¢ conhecer esta sequéncia, explicando a situagio actual, vai apresentar-se uma interpretagio a da Histéria ¢ uma teoria da evolugio dos sistemas ¢ da sua io. A cientificidade da boa f, tratando-se da Ciencia do Dircito, corresponde 4 possbilidade efeeriva de, com ela, resolver questées con Hi que partir destas para determinar a regulagio em jogo. Em tal desempenho, vai propor-se, com ‘tina ¢, em especial, na jurisprudéncia, o regime actual da boa £&, nas suas aplicagSes variadas. A integracao da ese dos elementos c m 0 todo, storia da boa f& 6 do seu regime e este emana da ordem onde ic. Os trés vectores retratados enteclacam-se, progredindo em lado e presentes, por isso, -m o cerne préprio de cada uuma das trés partes que formam este escrito, pl é numa ordem sécio-juridica, obriga 4 los e ao isolar das traves materiais que © Dircito privado portugués € um Diceito codificado. fE tem, no Cédigo toma presenga multiple que, nio constituindo um dado exclusivo sobre o seu sentido ¢ natureza, apre~ $12 Inpodugio senta um relevo que recomenda o levantar-prévio das mengSes exis- tentes e a ordenacio terminolégica das consagragdes em jogo. Em apanhado geral, o Cédigo menciona a boa {8 nas disposigdes a 3.1 — 0 wos aue nf frem cntiis as principio idicamente atendiveis, 119.°—regresando © ausente deve ter the devolvidos os bens no estado istindo, /3, a ma £6, neste aso, no conhe- timento de que 0 auseate sobreviveu 4 dats ‘da morte ‘presumida; 179." —a anclaeio das decisSes da atsembleia geral duma asiociacio nfo prejudica os direitos q as deliberagies ancladas 26 responde pelas ob Cecio de bor ene ue io tena eo dade pueda 3 1 nos preliminares ¢ na formacio dos contratos, deve segundo 2s regras de boa f&; 239.—na integracio da ddecleagio negocial, h4 que seguir a vontade ‘ou os ditames da boa £8 quando outra sc) fesamente 0f limites impostos pela boa f Diteito das obrigagSes: 437.0/1—a resolugio ou modificagio do contrato por alteraglo das circunstancias tem lugar quando, entre outros requisto, a exigéncia de obrigagbes assumidas, afecte gravemente os principios da boa fé; 475.* —no enriquecimento sem cavsa, nfo hé lugar 2 resttugio se, a0 efectuar a prestag, o autor sabia que o efeito com ela Da boa no Diteto civil 1, ou se, agindo contra a boa fé, impedi a sua veri- rificando-se 0s pressupostos do agravamento da totes de coin higowade € bavide pr 756.*, 8) — no hd direito de retenci to compator de bea 0 compradot dole Wha pole Eat brs wendedor de boa {€; 894°)! —o comprador de bens alk , apenas, o§ danos emergentes sa volupotias; 901." So i ace ser indemnizado pelos fratos pendent, ‘indemizado segundo a regras do ent ‘=o possuidor de bos f pode levanta Imente © vicio causador da nulidade ou anulabilidade ou ‘cougido, sendo ainda, /2, da competéncia exclusiva dos tcibunais do Estado, 0 conhecimento’ da. boa fé, a qual, [J we presume; 1687.+/3—a anulabilidade da alienagio ou oneragio de ova, feita por um cdnjuge, apenas, quando devese leva consentimente de ambos, no pode ser ‘oposta a terceiro adquirente de boa fe, 17 <0 cOnjuge que, na constincia do matriménio entre, com opo a administragio dos bens do outro, responde, perante © propneticis, como possuidor de ma fé (!); 1877.»/1 —a anulagao de casamento ch ainda que contraido de por ambos os cénjuges, no exc Dresungso de pateenidade; 1902.+/1 —a fata de acordo dos pai, no exer. {cio do poder paternal, nio & oponivel a terceiro de boa fe: 1920," Css decsbes judiciais relativas a0 poder paternal nio podem ser invocadas contra terceiro de boa f&, enquanto nio se mostrar efectusdo o regito Direito das sucesBes: 2087.-/1 — tendo havido devolugio que seja tida como inexistente, por indignidade, fica o indigno equipsade a ssuidor de md fe; 2076.12 —~a acglo de petigio de heranga nfo pode Ser posta contra tereeiro de boa fé que rente, sendo ainda este, quando de bos do enriquecimento sem cause; 2077 sagio de nulidade ou de anulagio de testa Jegados de boa f, fica quice, para com o her este, 0 remanescente da heranga € equiparado, quanto a benfeitorias, 20 poss wvendo redugio por inoficiosidade, o dom: ia, a0 possuidor de boa IV, As referéncias express, hi gh {tas para locais onde a boa ou 2 mi remete para 0 1920, C contra tercero de boa i remete para © 184" esponde por obrigagdes assumidas rcitos de boa fé se, 3 extinglo, io *, Femete para o disposto sobre ‘modificagio do conirato por akeragao das cixcunstincias — 20 erro sobre a base do negécio apica-se determinado regime quando a DL 486/77, de 25 de Novembro, 10 82.*—revogou ot art. 737. a 182 7 § 12 Introd 2B pelo declarante em exto,afecte geave= remete para 0 272.°—nas obri- lar deve apie segundo os ditames da boa exigéncia das obrigagdes ass edo renunciado & preseiio, dos prestupostos em causa, entre oF doc © de terecito; 670.) remee pars 0 12 758.%, remete para ot direitos ¢ deveres do cxedor pignoraticio— 0 nomeadaments, a previsio do. art. 1273.%, (05 apontados, 1490.° remete para o regime do vaufruto — e 20 morador jo aplira, awim, guano a beaforian,o eying da pote de boa f& 2123.*, remete para o preceituado acerca da venda de bens alheios le bens nfo pertencentes 3 heranga aplica-se 0 regime refe- ido, que faz mengdes largas 3 boa fé. wlagHo, 20 tempo em que foram conetituidos oF rexpec= 291.°/3: £ considerado de boa fé 0 wercciro ad ‘da lera-se de boa & ia desculpdvel declaragio de ida por cours As sete definigdes de boa £6, constantes do Cédigo, andam todas fem tomo de estados de ciéncia ou de ignorincia da pessoa, quanto 2 certos factos. Nio so coincid ‘conhecimento ou ignorincia — —noutros em desconhecimento © 1648.91 —e nou wvés dum estudo parcelar das figuras em causa e, depois, mu da teorizagio dos resultados obtidos, € possivel aclarar se do mesmo conceito se trata ou se, pelo contrivio, hé flutuagSes, De qualquer forma, € presente uma primeira linh: fa da boa f@, esta tem a ver com estados relativos 3 pessoa de direitos. A boa f€ é subjectiva. Da boa f& subjectiva pode aproximar-se a cas leg: a ver com 9. Assim sucede sempre que a lei remeta ara ot pri 1 — regras — 227. /1 — ditames — 239.0 ¢ 272.°— ou limites da boa fé — 334.°— ou, simplesmente, mande 2s pessoas agir de boa fé —762.°/2. A boa fé surge, agora, como algo de exterior ao sujeito, que se the impse, E a boa fé objectiva, que a lei munca define. A contraposicio entre a boa £6 objectiva ¢ a subjectiva, 20 con- ttério do resultante de alguma li otra, entre boa fé fictico de mera igno- tra do art. 1260.9/1; 0 segundo, , Corn reflexos for desculpivel, como ocorre no iva, da boa ff isc da problemstica en revelar se mantem actualidade no Direito po marco fundam lo portugués. Preparado com cuidado, traduz a consagracio definitiva dos idos, dentro do romanismo, di § 12 Introdugio - 25 desenvolvimentos algumas anteci- a. A ocorréncia, num plano positi- ida como mera deslocacio de hoje, reconhecida como insatisfatéria, na sequéncia, wo tém uma existéncia auténoma que thes permi posigdes. A recepgio corresponde nfo a um mo mas & aprendizagem 2 jam subjacentes. Conel © processo de divulgacio, pode haver coincidéncias formais entre a ordem dadora ¢ a re mas € seguro que, na sua falta, a adopgio de modelos a viagem fanda- lade, através de tra sma de exporigio determinado seu contetido material, A ideia Direto, de um nifo 6, a prazo, indqua para com ‘oma Ontanno DF 26 Das boa fé no Direto civil contrétia, bastante comum ¢ radicada, de modo directo, no positi- vismo heckiano, cede perante a integrasio sistematica actual, perante ‘© relevo substantivo da linguagem ¢ perante um conhecimento efec= tivo do evoluir recente da dogmatica civil. Accitando e divulgando moldura pandectstica e redistribuindo, & sua luz, a matéria privada, Gunnens Mozuna foi levado a novos arranjos, & descoberta de Tacunas ¢ necessidades ocultas ¢ & interpretagio criativa de textos, nia aparéncia estiticos. O fenémeno documenta-se, por exemplo, pelas posigSes que assumiu a propésito da pressuposicio — logo retomada por J. G, Pisro Cosino — impossiveis, entio como hoje, & face da Cigncia Juridica francesa Apesar de retrocessos pendulares, a Cigncia Juridica alema ‘que, a0 cuidado de GurtitzRMe Monet, iniciou uma difusio prolon- gada no espaco portugués, caracteriza-se, em tragos largos, por pos- ‘ular um sistema que, operando redugSes centeais, mite desenvolvi- mentos periféricos, inovadores, tecidos face a problemas inesperados para o nicleo ii specifico de ser do Direito, que a breve trecho 38 portas a novos institutos ¢ a solugies mais aperfeigoadas, Através do ensino ministrado nas Faculdades, cada por GuILMERME MoneRa ¢ accite, pela sua ide técnico-cultural manifesta, por contemporsineos e suces- sores, 08 juristas portuguescs aprenderam a Cigncia evoluida a partic a © fendmeno intensificousse quando, gracas a tistas como MaNueL DE ANDRaDE, Vaz SeRna ¢ ANTUNES 1A, houve acesso directo 3 literatura alema, Uma elaboragio auténoma dos dados recebidos teve lugar, reforgada por PavLo Contac Gawvko Tettes. Este cenicio possibilitou a recepgio real que 0 legislador de 1966 veio rematar. MIL A recepgio da doutrina alema nio foi linear. Contea cla, jogaram manifestagdes normais de continuidade cultural, ricas em nais, com relevo para a exegese napolednica. . 0 Cédigo Ci cembora integrado, de modo decisivo, na Ciéncia do Dircito, originada por Saviony, acusa, assim, uma variedade de influéncias ni, juntavse a tradi¢Zo portuguesa do Direito comum e 0 pensa- mento francés, devendo acrescentar-se-the 0 figurino italiano, cle proprio fruto de contributos gauleses e germinicos ¢ de uma claboragio autGnoma assente em estudos romanisticos, Esta varie “810 Introd 27 dade, agravada, até certo ponto, pela multiplicidade de jusperitos que intervieram na sua claboragio, mas minorada nas revisGes suces- sivas efectuadas até 20 projecto final, actua, no entanto, mais a nf de institutos formais. © Dircito existe na sua Ciéncia, acessivel pela aprendizagem. No dom{nio cientifico, as correntes culturais {Bo reduidas a favor da téenica mas apurada, Mantéme, conto, fracturas, com reflexos na boa fé: a Parte geral do Cédigo ¢ 0 Dircito das obrigagdes ligam-se 4 Ciéncia alemi, enquanto o Direito das coisas manteve relagdes mais estreitas com as ideias trad a boa fé objectiva, em termos muito gerais, liga-se & primeira ¢ a subjectiva, & segunda, Na encruzilhada de contributos jusculturais variados, a boa f€ exprime a sintese complexa que, a0 Dict i portugués, di uma identidade. IV. Os bastidores que, numa aprendizagem prolongada por geracdes de juristas, possibilitaram a substancialidade da codificagao de 1966, nfo tiram, 2 esta, a sua importincia. Por ténucs que, 3 de alguns entendimentos jusmetodolégicos, se apresenten culos, entre a lei eo Dircito, existem. Em certas savas simagSes de ruptua, onde a jurisprud tas, concretizar solugdes ids de fontes. © Cédigo Ci de apoio na lei. De entre eles, a maioria coneeta-se objectiva: a culpa na formagio dos contratos, o abuso do direito ¢ a modificagio do contrato por alteragio das circunstincias; outros aspectos, como o da integragio dos contratos ¢ a execugio das obri- gagSes, renovados pelo legislador de 1966, ainda, & luz da boa () ‘Uma vez aprovado, um Cédigo novo toma-se 0 centro da acti vVidade juridica do sector. O entencler dos seus textos incita ao estudo da Cigncia que 0s corporiza; 0 aplicar dos sous preesitos torna-se a cfectivagio dessa Cigncia. A recepcio, iniciada com GumLHERME ‘Monstma, no ficou conclutda em 1966; (6) Confromtemae a nowages los plo Cg Civil de 1966, co Antunes Vana, Cidge Civil ce, 935.957. + grande reportese, de fet, 4 bor 1 28 Da be fé no Dirito evil fase nova no processo juscultural cujos frutos mais completos, jutisprudencial, comegaram a surgir nos dltimos cinco anos, ‘movimento que deve ser intensificado. O Céiigo Civil de 1966 nasceut sob 0 signo da boa £8 O seu aproveitamento pleno nfo deve tardar mais. V. A existéncia actual de movimentos poderosos de recepgio + que apenas 205 poucos vio ganhando uma perspectiva suficiente para se tornarem perceptiveis, contribui para enfragi se uma apreensio directa alargado do Ocidente. ado, para mais depois de 1966, por uma visio algni-Reno— mas que, por intensamente © encetou claboragies préprias, a acomp: particularidades locais nio devem ser esquecidas, sobrerudo quando ‘oportunidade de apontar sigio de esquemas alemies. Compete, parado, detectar as clivagens impedientes ¢ ocorréncia tn Norm in vie Foil es Evatt (9865 S15 Intoduio 29 3. Postulados juscientificos L.A Ciéncia do Dix existe na ordenagio social, de que nto, Mas nao se esgota na ordem, como dado: ua onticidade, aberta 20 ext sponivel para a comunicagio ¢ para a aprendizagem. A complexidade das situagées sociais, em que se (oF Coane, Die Avcegagmetadon ud ie Hemenet 1958), 2, Lanes, Ail wed Een er ures x0 Da boa fé no DI exprime, exige a sua redugio (18): asiste-se, pois, a um proceso de elevacio, com recurso 20s tragos tipicos mais caracteristicos © a um. reconduzir do conjunto la permite a verificagzo igGes encontradas ¢ a sua critica ("); pressupondo um é ido da ordem juridica, ela deve servir as Neste sentido entende-se, aqui, a dogmé~ € nfo num outro, algo difindido e fonte de confusses pelas indiscriminadas que possbilita, no qual dogmitica se identifica com axiomatismo ou conceptualismo, postulando uma dedusio ligica de proposigdes a partir de um micleo central, ¢ culminando na 1a captagio do materi 0 en Mirza Conpuno, sina uri aber ee Aynbtias do Dito do tabi, ep. ROA 1982, Probleme einer Degmatie de Arbcrh, RAM 1975, 514 $1 Innodgao 3 A dogmitica radica n wde do Dircito. ica global da ordem juridica dé lugar © tcor dos comportamentos, em fermos de Diteito, € comunicado aos sue as, por agora, podem ser entendidas como apoio dogmitico da decisio do caso —a norma do caso ( dea encontrar. Em qualquer hipétese, traduzem a abstraccio de acyes juridicamente relevantes, podendo, pelo alargar de pontos comuns (que as transcenda das em fungio de um as normas ¢ os principios dio lugar a0 Adianto-se jé que este compreende dois aspectos —o da exposigio Mevas-Conomse, Kaos dor Jit bat nach Dagmar 2 Da bos fé no D i € © do tcor decisério material — cindiveis, para efeitos de anslise, na linha de Heck, em sistema externo ¢ interno, mas com estreitas relagdes de dependéncia entre cles, de modo a constituir uma sintese ntica_ inseparave Expressio pensada da ordem juridica, a qual, por seu turno, se liga 3 ordem social, o sistema & possivel porque a sociedade — logo Nao é um mero conjunto resul~ Afasta-se, pois, uma visio 30 marcada, em que o sistema juridico surge como integrante do sistema social ): ele releva, n Recusa-se, também, um sistema como mero abstrafdo da ordem juridica, logo social, 8 te trodugio 3 no conduz ao sistema juridico — logo dogmitico — por nao comportar o material decidendo do caso concreto. Nem pretende fazé-lo, UL, © processo juscientfico € dito om exise (). A afirmagio, repetida, a no sr jf uma formula vazia, eadica em dois polos dstintos, sediados, um na prépria metodologia juridica em si, e outro, no nivel mais vasto do sentido das Cigncias Humanss. A metodologia juridica sofreu, neste séoulo, a faléncia do concep- tualismo — redugio do sistema a conceitos, com recurso simples & lisgica formal —o fracasso do positivismo legalista exegético — solu- so de casos concretos com recurso 3 lei como texto —e os Sbices da subsuncio — passagem mecinica, passiva, do facto para a previsio normnativa, de modo a integrar a premissa menor do silogismo judi- Cidrio. A critica 20 pensamento pressuposto mestes trés pontos é faci; a, alts, hf mais de meio século (#), em termos que nninguém contraditaris, Surpreende que, até hoje, se retome, a cada n¢io de colocagies histéricas, uma argumentasko Duas justifcagses para tal ia, as orientages conceptualistas, positive reapareceriam na. pritica jurisprudencial; carentes de autonomia existencial, as teses que as substituam necessi~ tam, para se afirmar, de partir da negativa, Estas razdes sio débeis. A sobrevivéncia pritica dos esquemas tio criticados no linear: dos sores em ex, 4 _Da boa fé no D lagui, a imagem da cr jolégico comum parte de a see ee, rr do espago ¢ dos quadros removidos de contetido, uma fraqueza expo- sitiva, no campo da reconstrusio. E porque, arvorada em percurso a0 conceptualismo decorre em moldes meta- es reais — chega, 20 termo, A Teoria do Dircito — como discurso etodologia — constitui uma segunda abstracgio perante a im esquema em que a primeira adver do sistema: aa otjece d objecto de inw «tno plano si Esta derivagio act légicos. A presenga ‘vel em qualquer sociedade, sua apre- ‘onalizar de um dominio, por alargado ¢ consensual que se apresente ( ideologicos tiverem safda juridica—n ucional —o Diseito pode termos reais, o problema pode dogmético, Hi, vas situagdes pontuais de Confrontos ideolgicos. puros, reduzidos a exp: pelo poder, com ou sem ligagio ‘0s blocos. Uma dogmtica dinimica deve ter capacidades de aderén- cia 4 realidade, enquanto © convergic de sociedades sécnicas reduz a 36 sistematica, por exempl permitir uma maleabi ter o essencial, lade acrescida de saidas, como forma de man- IV. A Ciéncia do Direito — num produto, ainda nio assumido, equivocidade abe aqui referir 0 seu processamento, mas, to 86, sublinhar os tragos mais salientes que enquadram o desen ‘vimento que segue, no qual, imanente, se encontra uma imagem mais ta, consideragzo do Dircito como modo de solucionar casos concretos, jf justifieada, co imprescindivel, do io dominio hermenéutico, jmento ¢ do circulo ou espiral ybrclevam as unidades pro gio, enquanto as concepg6es elas proprias, superagio do con- jonal, devem set com} das pelas estrucuras Juspadns ci, 108, tasan Taner Ribeiro, I (979) 7184 (3 3). $12 Darodusio 37 de um discurso sinépico, diigido a ponderar das consequenis da decisio, numa linha de «: para integrar préentendimento ¢ entendi~ © circulo hermenéutico gamento sobre a idade de solugio, a linguagem em todo, dizer o que é perguntado: Estas consideragies, evidentes, depois de de sno a ter presente, para a piles de aprendizagem mostra, a nivel no modelar do pré-entendimento, a interpretagio assume, de vez, o aspecto activo da comuni- 38 haa fé no Direito cist . cagio entre 0 sujcito © a fonte (M). © fendmeno do pré-entendi- mento jucidico nko se queda pelo apreender de textos: a deteogio dos problemas carecidos de regulago — que vsi, de si, com a prépria regulagio — 6, em grande parte, obra dos préjlgamentos do inté-- preteaplicador, As perspectivas desta in aprofundar 10 consideréveis.. Explicam a intuicio judi- cisl no encontrar, com deficiéncias de fundamentaggo, de solugdes acertadas ¢ permitem alargar as potencialidades sindicantes do sistema, Como se antevé, o relevo do pré-entendimento é maior face a fontes pouco expressivas, como as que remetam para a boa f ‘A unidade da previsio e da estatuigio normativas (") © a inseparabilidade das clissicas interpretagio ¢ aplicagio (**), no pro- cesso juridico decisério, conectam-se com o relevo do caso concreto € com a temitica do pré-entendimento. Face uma fonte, 0 sujcito dirige-he uma interrogagio real, em termos problemstivos, visando, com consciéncia ou sem ela, encontrar uma resposta para um cis0, ainda que hipotético. Interpretar & decidir esse caso. Tudo joga: © caso © a norma, o préentendimento de ambos, a vontade cons- tituinte, o cfrculo e a solugio. A descoberta de operagées diferenciadas pode ser meritéria como modo de, por redugdes excessivas, evitar empobrecimentos jusculturais do instrumentarium disponivel. Mas a fragmentagio obtida deve ser destruida por nova sintese, no processo 818 Inroduo 39 de conhecis riea, do que os ponder ca das proposgBesjurldicas, com raees jsmo, de Bextuam a Juskinc, foi rcanimada pelo psicolo~ no, 20 focar a necessidade de indagar 0 escop: legislador (*). Objectivada, a interpretagio teleolégica fins ¢ as ideias funda- actual, Pode, incide sobre dados pi — que averigua a de regras se. vai ropse como transpose igor daca portguens, Prope, pt 0 Da boa f& no Direito civil te-se, por fim, quc se o alicercar, nestes pressupostos, da Giéncia do Direito, aumenta o Ambito onde se move o intérprete- -aplicador — mavime, o juiz —isso dé-se antes a nivel de conscien-

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