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MICROBIOLOGIA

Marina Denise Araujo Orguin


Taxonomia e anatomia
funcional de células
procarióticas e eucarióticas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Diferenciar célula procarionte de eucarionte.


 Descrever as estruturas que compõem as células eucariontes e
procariontes.
 Listar as características evolutivas de cada linhagem celular.

Introdução
A célula é a menor unidade estrutural e funcional básica do ser vivo,
sendo considerada a menor porção de uma matéria viva. Ela é envolvida
por uma membrana celular e preenchida com uma solução aquosa
concentrada de substâncias químicas chamada citoplasma. De acordo
com as características de cada célula, podemos classificá-las em células
procariontes e eucariontes. Algumas estruturas estão presentes em
ambos os tipos celulares, como, por exemplo, a membrana plasmática
e o citoplasma. No entanto, outras estão presentes somente em um
tipo celular, e são essas estruturas que, quando estão presentes ou
ausentes, caracterizam uma célula como procarionte ou eucarionte.
Animais e plantas são inteiramente compostos por células eucarióticas.
Já no mundo microbiano, podemos observar os dois tipos celulares:
as bactérias e as arqueias são organismos procariotos, e os fungos,
protozoários e algas são organismos eucariotos.
Neste capítulo, você vai conhecer as diferenças entre as células quanto
à sua estrutura e função para os organismos, bem como vai aprender as
suas características evolutivas.
2 Taxonomia e anatomia funcional de células procarióticas e eucarióticas

Taxonomia: células procarióticas e eucarióticas


A taxonomia é a ciência da classificação dos seres vivos cujo objetivo é esta-
belecer relações entre um grupo e outro de microrganismos e diferenciá-los.
A taxonomia fornece uma referência comum para identificar os micro-or-
ganismos já identificados, sendo uma ferramenta básica necessária para os
cientistas, fornecendo uma linguagem universal de comunicação (TORTORA;
CASE; FUNKE, 2016).

Tipos celulares
A célula é considerada a menor unidade estrutural e funcional básica do ser
vivo. Possui a capacidade de autoduplicação, que é uma questão extrema-
mente importante para garantir a perpetuação da vida. Quando consideramos
uma célula, temos que lembrar que ela carrega consigo o material genético,
estrutura responsável pelas informações hereditárias daquele organismo,
chamado de ácido desoxirribonucleico (DNA). A molécula de DNA existe
em todo o ser vivo, desde a mais simples das bactérias até o mais complexo
animal. Todas as células vivas devem possuir o seu material genético, pois
é nele que estão contidas as informações necessárias para que a célula se
autorregule e tenha a capacidade de autoduplicação, sendo uma unidade
morfofuncional.
As células são envoltas por uma bicamada de fosfolipídios chamada
de membrana plasmática, na qual estão inseridas proteínas com diversas
funções e colesterol para auxiliar na fluidez da célula — essa estrutura
tem o papel de separar o espaço intracelular do extracelular. As células são
verdadeiras fábricas bioquímicas que usam os mesmos blocos construtores
para sintetizar suas biomoléculas (proteínas, lipídios, ácidos nucleicos e
carboidratos).
Outras características importantes das células são:

 hereditariedade: a molécula de DNA de fita dupla é responsável por


armazenar suas características;
 expressão gênica: dada por DNA, RNA e proteínas;
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 catalizadores biológicos: são dotadas de enzimas (proteínas);


 sistema autocatalíticos: interação entre ácidos nucleicos e proteínas.

As células são classificadas em dois grandes grupos: procariontes, no


qual estão as bactérias e as arqueobactérias, e eucariontes, no qual estão os
reinos Protista, Plantae, Animalia e Fungi. O primeiro grupo a surgir foi o das
bactérias, com uma estrutura mais simples. Após milhares de anos, surgiu o
grupo de arqueobactérias, que possuem características procariontes, mas ainda
simplificadas. Logo após o surgimento dos seres procariontes, veio o reino dos
eucariontes, que inclui os protistas, plantas, fungos e animais (TORTORA;
CASE; FUNKE, 2016).

Estruturas das células procariontes


e eucariontes
As células eucariontes são mais complexas quando comparadas às procarion-
tes. Como principal critério de diferenciação entre elas, há a presença de um
núcleo verdadeiro nos eucariontes, em que o material genético é envolvido
por uma membrana nuclear — essas células não possuem plasmídeos. Além
de o material genético estar separado do citoplasma por uma membrana
nuclear, a célula eucarionte distingue-se por possuir vários compartimentos
distintos separados por membranas. Cada um desses compartimentos tem
uma função específica para o metabolismo celular. Esses compartimentos
são as organelas, como o retículo endoplasmático, o complexo golgiense, a
mitocôndria e os cloroplastos. Essas células também possuem citoesqueleto
composto por filamentos e microtúbulos responsáveis pela sustentação e
resistência da célula. Além disso, possuem a capacidade de realizar endo-
citose e exocitose. Os microrganismos eucariontes são representados pelos
protozoários, algas, fungos, plantas e animais. Contudo, neste capítulo, o
foco estará em detalhar as estruturas que compõem as células bacterianas
(procariontes), como vemos na Figura 1.
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Figura 1. Célula eucariótica: todas as células eucarióticas possuem membrana nuclear, na


qual é armazenado o DNA; contudo, nem todas possuem todas as organelas demonstradas
nesta figura. Esse tipo celular não apresenta parede celular. As células eucariontes são
encontradas em fungos, algas, plantas e alguns protistas. Célula procarionte: não
possuem material genético limitado por um envoltório, ou seja, não possuem núcleo
nem mitocôndria. O material genético fica disposto ao longo do citoplasma. Esta baixa
complexidade celular pode ser encontrada nas bactérias e cianobactérias.

As células procariontes, ou mais especificamente as células bacterianas,


possuem estruturas fundamentais para a sua existência e estruturas acessó-
rias. As estruturas fundamentais que estão presentes em todas as bactérias
são: membrana citoplasmática, parede celular, nucleóide, citoplasma e ri-
bossomos. Já as estruturas acessórias estão presentes em algumas bactérias
e em outras não. Quando presentes, facilitam a colonização do hospedeiro.
São considerados acessórios: cápsula, fímbria, flagelo, pili, plasmídeos,
endosporos e adesinas. A seguir, veremos detalhes sobre cada uma dessas
partes e suas funções.

 Parede celular: protege a bactéria, confere-lhe rigidez e isola uma


célula das outras. Além disso, separa o ambiente externo do interno.
 Membrana plasmática: é a única membrana da célula procariótica
que assume a função de todas as membranas dos eucariotos. Algumas
enzimas responsáveis pela respiração celular estão ligadas a ela na
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face interna. Possui a função de síntese de ATP (energia), transporte de


elétrons (respiração/fotossíntese), segregação do cromossomo, síntese
de proteínas de membrana e síntese da parede celular. A membrana
possui uma dupla camada de fosfolipídeos permeável à água e flexível,
sendo também uma estrutura não muito forte e com capacidade de
rompimento. (Figura 2) Presente em várias bactérias, os hopanoides
presentes na membrana plasmática conferem maior rigidez e regulam
a permeabilidade. Na membrana, também estão inseridas proteínas de
transporte, as porinas. Faz a comunicação entre o exterior e o interior
celular, é muito comum nas bactérias e tem relação direta com a resis-
tência bacteriana aos antimicrobianos.

Figura 2. Constituição bacteriana: estão representadas as interações entre os fosfolipídios,


que são um dos principais componentes da membrana plasmática da célula, compondo a
bicamada fosfolipídica, e, em sequência, a membrana plasmática de uma bactéria.
Fonte: Acqua Expert (2019, documento on-line).

 Citoplasma: é constituído por 80% de água e 20% de proteínas e íons.


No citoplasma, estão presentes outras estruturas importantes, como
o DNA circular, os plasmídeos, ribossomos e inclusões. Contudo, as
células procariontes não possuem organelas (mitocôndrias, complexo
de Golgi, etc.) como as células eucariontes.
 DNA: em geral, as bactérias possuem somente um cromossomo circular
(<1 – 10 megabases) e plasmídeos (1 – 100 kilobases), contudo, os vibrios
apresentam 2 cromossomos.
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Algumas estruturas bacterianas são responsáveis por uma maior patogenicidade e


resistência à ação de fármacos. Dentre elas, podemos citar os plasmídeos, moléculas
circulares com dupla fita de DNA capazes de se reproduzir independentemente
do DNA cromossômico. Essas moléculas podem ser transferidas de uma bactéria
a outra carreando genes de resistência bacteriana. Leia mais sobre o assunto no
link a seguir.

https://qrgo.page.link/qYtK9

 Plasmídeos: não possuem a capacidade de codificar genes essenciais,


porém, podem conferir vantagens seletivas à bactéria. A replicação do
plasmídeo é independente do cromossomo e pode existir em números
variados.
 Ribossomos/polissomos: são proteínas solúveis. Polissomos são vários
ribossomos com a capacidade de traduzir uma molécula de mRNA
ao mesmo tempo, sendo possível, dessa forma, a produção de muitos
polipetídeos simultaneamente.
 Endosporo: presente somente em alguns gêneros de bactérias, é
considerado uma forma de resistência. A esporulação (Figura 3) é a
capacidade da bactéria de produzir esporo e confere alta resistência
ao calor, alta resistência à inativação química, dessecação, radiação,
ácidos, entre outros.
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Figura 3. Formação de endosporo por esporulação. Os esporos bacterianos são estruturas


altamente resistentes, dormentes (isto é, sem atividade metabólica) formadas em resposta a
condições ambientais adversas. Ajudam na sobrevivência dos organismos durante condições
ambientais adversas e não têm um papel na reprodução. Dois gêneros de bacilos Gram-
-positivos de interesse clínico são formadores de endosporo, os Bacillus sp. e Clostridium sp.
Fonte: Tortora, Case e Funke (2016, p. 93).

 Parede celular: na parte externa da membrana plasmática, está localizada


a parede celular (que você vê na Figura 4). Estrutura rígida, confere forma
e proteção à célula bacteriana. É constituída por polímeros complexos,
como ácido diaminopimérico (DPA), ácido murâmico, ácido teicóico,
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aminoácidos, glicídeos e lipídeos. A rigidez da parede se deve à presença


de uma macromolécula complexa, o peptídeoglicano. A classificação das
bactérias em gram-positivas e gram-negativas ocorre em função da sua
resposta à coloração de Gram, em que diferenças na composição e estrutura
da parede celular influenciam na cor das bactérias vistas ao microscópio.
Na parede celular, podem estar presentes outras estruturas importantes e
fatores de patogenicidade das bactérias. Os lipopolissacarídeos (LPS), por
exemplo, são moléculas que se encontram abundantemente na membrana
externa das bactérias gram-negativas, com exceção das espécies do gênero
Sphingomonas, as quais apresentam em seu lugar os glicoesfingolipídeos.
Em concentrações elevadas, os LPS podem induzir febre, aumentar a
frequência cardíaca, choque séptico e causar a morte. Essa endotoxina é
utilizada na fabricação da vacina tríplice viral (DPT). Algumas bactérias
possuem uma cápsula ao seu redor que tem como função evitar a fagocitose.

Além de todas essas estruturas citadas, as bactérias ainda possuem outras


que também lhe conferem alguma vantagem na colonização de um hospe-
deiro. O flagelo responsável pela motilidade bacteriana pode estar presente
em quantidades diferentes, variando de um a vários ao redor da célula, os
pilus ou fímbrias, que são apêndices proteicos mais curtos que os flagelos.
É responsável pela aderência de bactérias às superfícies e também capaz de
unir uma bactéria a outra (MADIGAN et al., 2016).

Figura 4. Célula procarionte.


Fonte: Levinson (2016, p. 5).
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Como exemplo de um microrganismo procarionte, podemos citar as bactérias do


gênero Klebsiella sp., que possuem uma cápsula proeminente que é responsável pela
aparência mucoide das colônias isoladas e pelo aumento da virulência dos microrga-
nismos in vivo. São frequentemente associadas a pneumonias, feridas, infecções dos
tecidos moles, assim como a infecções do trato gênito urinário (MURRAY; ROSENTHAL;
PFALLER, 2017).

Características evolutivas
das linhagens celulares
De acordo com a hipótese da evolução molecular, as primeiras células teriam
sido formadas nos mares primitivos a partir de aglomerados de moléculas
orgânicas, que, por sua vez teriam se originado das reações químicas, im-
pulsionadas por descargas elétricas e radiação UV, entre as moléculas que
compunham a atmosfera primitiva. As características celulares dos atuais
seres vivos e alguns experimentos nos fazem entender a forma pela qual as
células teriam evoluído. Uma das principais estruturas das células, a membrana
plasmática é responsável por controlar a entrada e saída das substâncias das
células, permitindo a manutenção do ambiente interno adequado a diversos
processos essenciais à vida. Sem ela, a célula perde sua estrutura e viabilidade.
Dessa forma, há um consenso de que o surgimento de sistemas químicos
que permitem isolar os meios interno e externo deve ter sido uma das etapas
fundamentais para o surgimento da vida. Experimentos mostram que essa
hipótese é possível, pois, em determinadas condições que simulam as condições
da Terra primitiva, podem ser formados aglomerados de moléculas orgânicas
que formam um sistema parcialmente isolado. Esses aglomerados teriam
dado origem aos seres vivos quando adquiriram a capacidade de regular suas
próprias reações e de se autoduplicar.
Não há um consenso sobre a forma pela qual as primeiras formas de vida
obtinham energia para a sua sobrevivência. Acredita-se que elas se alimentavam
de moléculas orgânicas do meio (hipótese heterotrófica), mas a hipótese de que
seriam capazes de produzir seu próprio alimento através da quimiossíntese
(hipótese autotrófica) também é considerada.
Em relação à organização celular, acredita-se que os primeiros seres
vivos eram unicelulares, procariontes, anaeróbios e com uma estrutura
bastante simples. A hipótese com maior aceitação para o surgimento de
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células eucariontes, células mais complexas, é a da endossimbiose, segundo


a qual organismos procariotos ancestrais, que não possuíam núcleo verda-
deiro, teriam, em um primeiro momento, desenvolvido um núcleo, envolto
por um sistema de endomembranas, através de invaginações da membrana
plasmática. A maior e mais proeminente organela das células eucarióticas é
o núcleo, que tem um diâmetro de aproximadamente 5 μm. O núcleo contém
a informação genética da célula, que, nos eucariotos, é organizada como
moléculas de DNA linear e não circular. No núcleo, ocorre a replicação do
DNA e da síntese do RNA mensageiro, mas a tradução de RNA em proteínas
ocorre nos ribossomos do citoplasma.
Em seguida, este eucarioto ancestral teria englobado uma bactéria ae-
róbia e estabelecido com elas uma relação simbiótica, ou seja, mutuamente
vantajosa. Enquanto a célula provia proteção do meio externo e nutrientes
à bactéria, esta última retribuía utilizando o oxigênio de forma positiva,
fornecendo energia à célula hospedeira através da respiração celular.
Dessa forma, ao longo do tempo, teriam se tornado um único organismo,
e essas bactérias aeróbias teriam dado origem às mitocôndrias. A mesma
hipótese explica a origem dos plastídios, que se acredita que eram pro-
cariontes fotossintetizantes que foram englobados por um ancestral das
células eucarióticas. No entanto, assume-se que as mitocôndrias tenham
surgido antes dos plastídios ao longo da evolução, já que todas as células
eucariontes têm mitocôndrias, mas nem todas têm plastídios (COOPER;
HAUSMAN, 2007).

Para complementar o seu estudo a respeito da importância do núcleo nas células


eucariontes, sua estrutura e funções, leia o livro A célula: uma abordagem molecular,
de Cooper e Hausman (2007, p. 321).
Taxonomia e anatomia funcional de células procarióticas e eucarióticas 11

ACQUA EXPERT. Do que são feitas as células das bactérias presentes no Lodo Ativado?
14 mar. 2019. Disponível em: https://acquaexpert.com.br/do-que-sao-feitas-as-celulas-
-do-lodo-ativado/. Acesso em: 19 set. 2019.
COOPER, G. M.; HAUSMAN, R. E. A célula: uma abordagem molecular. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
LEVINSON, W. Microbiologia médica e imunologia. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
MURRAY, P. R.; ROSENTHAL, K. S.; PFALLER, M. A. Microbiologia médica. 8. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2017.
TORTORA, G. J.; CASE, C. L.; FUNKE, B. R. Microbiologia.12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

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