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do capitalismo contemporâneo
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Rafael da Silva Barbosa, Mestrando em Desenvolvimento Econômico da Unicamp. Bolsista Capes. E-
mail: rafael.econ@gmail.com
** Mestrando em Desenvolvimento Econômico da Unicamp. Bolsista CNPq. E-mail: danielpereirasam-
paio@gmail.com
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ARGUMENTUM, Vitória, v. 2, n. 2, p.288-293, jul./dez. 2010
O Capital fictício: expansão e limites do capitalismo contemporâneo
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Daniel Pereira Sampaio; Rafael da Silva Barbosa
do valor: o capitalista adianta dinheiro dem ser assumidas pelo capital portador
para produzir a mercadoria com o obje- de juros. As formas de capital bancário,
tivo de sair com mais dinheiro ao final capital acionário e dívida pública foram
do processo, ou seja, o circuito D-M-D', desenvolvidas por Marx, além disso, os
ante o circuito M-D-M’. Necessita, dessa autores incluem a forma de derivativos.
forma, daquela mercadoria que gera va- Os derivativos sempre existiram como
lor – força de trabalho – que uma é mer- forma de proteção contra os riscos, po-
cadoria intermediária do processo pro- rém, a novidade é a multiplicação dos
dutivo neste circuito, mas fundamental, derivativos e a sua expansão com a des-
porque é ela que gera valor. O capitalis- regulamentação no “*...+ cassino financei-
ta, de posse dos meios de produção, ro internacional *...+” (p.43).
compra a força de trabalho pagando-lhe
o valor da reprodução, da força de traba- As representações concretas da hipertro-
lho, extraindo no processo produtivo a fia do capital fictício e sua crise não po-
mais-valia. dem ser compreendidas como processos
separados no tempo, pois a fase de libe-
O capital assume diversas formas no seu ralização dos mercados conduzida pelos
processo de valorização. O capital indus- Estados Unidos (EUA) e Inglaterra na
trial é aquele produtor de mercadorias, o década de 1970, embora fundamental
capital comercial é responsável pela dis- para o entendimento da questão, é mais
tribuição de mercadorias e o capital por- um fator a somar naquele movimento. O
tador de juros tem a propriedade de adi- período no qual se constituíram as con-
antar dinheiro, sendo a “*...+ forma mais dições de gestação para acumulação fi-
reificada, mais fetichista do capital *...+” nanceira foi na década de 1950 nos EUA
(p.30). O excedente, produzido pelo capi- e 1960 na Europa, quando ocorreu “*...+ a
tal industrial, é transferido de forma in- centralização dos lucros não reinvestidos
tra e intersetorial devido às diferentes em instituições e das poupanças das fa-
composições orgânicas e apropriação da mílias com o objetivo de valorizá-los sob
mais valia produzida pelo capital indus- a forma de aplicação em ativos financei-
trial. Este processo ocorre no exercício ros (divisas, obrigações e ações)” (p.53).
que Marx resolve sobre a transformação É devido a isto, que se deu a retirada das
do valor em preços de produção, que amarras ao capital financeiro na década
culmina com a igualação das taxas de de 1970, quando a acumulação financeira
lucro do capital industrial, comercial e ganha dimensão gigantesca, pois já se
portador de juros. tinha previamente uma massa de capital
acumulada presa, ávida por valorização.
A categoria fundamental que os autores O “*...+ ovo da serpente estava sendo ges-
elucidam para explicar a crise atual é do tado mesmo quando era o capital produ-
capital fictício, forma desenvolvida do tor de mercadorias que estava no co-
capital portador de juros. Não há em mando da dinâmica capitalista” (p.54).
Marx, uma definição clara de capital fic-
tício, mas aparecem as formas que po-
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Nesse sentido entre os fatos que tiveram mente com a desintermediação, não ca-
fortes implicações na acumulação finan- bendo mais aos bancos a função de fazer
ceira, destaca-se o caso estadunidense. a ponte entre os agentes ofertantes (em-
As famílias de maior poder aquisitivo prestador) e demandantes (tomador) de
deste país realizaram aplicações de suas recursos e, em seguida, a desregulamenta-
rendas em seguros de vida, possibilitan- ção, num momento em que se faz uma
do a formação de fundos de pensão em reestruturação financeira do setor e não
regime de capitalização. Outra questão se recria instrumentos de controle, dan-
foi a mudança no recebimento dos salá- do assim, margem ao imaginário dos
rios dos trabalhadores, onde passaram a agentes atuantes nesse seguimento, pos-
ser realizados via sistema bancário, inje- sibilitando o surgimento gigantesco de
tando uma liquidez considerável no âm- inovações financeiras e a descompartimen-
bito do setor financeiro. Além dos me- talização, que significa a criação de um
canismos de acumulação criados nas dé- mercado único para os produtos finan-
cadas de 1950 e 1960, citados anterior- ceiros. O que antes era separado em mer-
mente, no pós-1970 cabe destacar: a reci- cados de crédito de curto prazo (finance),
clagem dos petrodólares que assumiu a mercado de crédito de longo prazo (fun-
forma de empréstimos aos países do Ter- ding), mercado de câmbio para cada pa-
ceiro Mundo; e a amplitude que tomou o ís, obedecendo ao regulamento dos res-
mercado de títulos da dívida pública nos pectivos, entre outros tipos de mercados,
países centrais. O mercado de títulos pú- agora se unificam em um só mercado.
blicos foi bastante funcional tanto aos Ademais, talvez o marco maior para as
Estados que enfrentavam um período de atuais arbitragens financeiras, tenha sido
baixo crescimento e inflação elevada, o fim da conversibilidade dólar-ouro,
como para as instituições que centraliza- representando a retirada de uma das a-
vam a poupança das empresas e das fa- marras mais importantes do capital, pois
mílias. Não obstante, garantia um fôlego os americanos não tiveram limites para
maior aos Estados que naquele momento suas emissões em dólares, não tendo
mantinham os gastos com o sistema de mais lastro em ouro ou em qualquer ou-
proteção social - que foram construídos tra mercadoria.
após a Segunda Guerra Mundial - ao
mesmo tempo em que se ampliou a Frente a isto, é que se entenderá com
magnitude desse mercado, representan- maior clareza as mudanças no compor-
do uma esfera atrativa de valorização tamento dos agentes. O maior retrato
financeira. disto é a propalada condução da empre-
sa embasada na governança corporativa,
Ressalta-se que este foi um dos fatores na qual, acredita-se que somente o acio-
que contribuiu para predominância con- nista deva ter mais poderes sobre a em-
temporânea do capital portador de juros presa em detrimento das demais partes
e o desenvolvimento do capital fictício. interessadas (trabalhadores, fornecedo-
Outro fator de suma importância foi a res, a cidade em que está instalada, entre
liberalização dos mercados: primeira- outros). A gestão da empresa sob a lógica
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