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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

PECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

EAD – ENSINO E APRENDIZADO À DISTÂNCIA

eST-103
HIGIENE DO TRABALHO – PARTE A

ALUNO

SÃO PAULO, 2011


ii

EPUSP/PECE
DIRETOR DA EPUSP
JOSÉ ROBERTO CARDOSO

COORDENADOR GERAL DO PECE


SÉRGIO MÉDICI DE ESTON

EQUIPE DE TRABALHO

CCD – COORDENADOR DO CURSO À DISTÂNCIA


SÉRGIO MÉDICI DE ESTON

VICE - COORDENADOR DO CURSO À DISTÂNCIA


WILSON SHIGUEMASA IRAMINA

PP – PROFESSOR PRESENCIAL
SÉRGIO MÉDICI DE ESTON
MARIO LUIZ FANTAZZINI

CPD – CONVERSORES PRESENCIAL PARA DISTÂNCIA


DIEGO DIEGUES FRANCISCA
FELIPE BAFFI DE CARVALHO
LUAN LINHARES PARENTE
MARCELO SIMÕES VÁLIO
PEDRO MARGUTTI DE ALMEIDA
PLÍNIO HIDEKI KURATA
THAMMIRIS MOHAMAD EL HAJJ

FILMAGEM E EDIÇÃO
FELIPE BAFFI DE CARVALHO
MARCELO SIMÕES VÁLIO
PLÍNIO HIDEKI KURATA

IMAD – INSTRUTORES MULTIMÍDIA À DISTÂNCIA


DIEGO DIEGUES FRANCISCA
PEDRO MARGUTTI DE ALMEIDA

CIMEAD – CONSULTORIA EM INFORMÁTICA, MULTIMÍDIA E EAD


CARLOS CÉSAR TANAKA
JORGE MÉDICI DE ESTON
SHINTARO FURUMOTO

GESTÃO TÉCNICA
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APOIO ADMINISTRATIVO
NEUSA GRASSI DE FRANCESCO
VICENTE TUCCI FILHO

“Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou
processo, sem a prévia autorização de todos aqueles que possuem os direitos autorais sobre este
documento.”
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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO AO MUNDO OCUPACIONAL. ...........................................1


1.1 PREVENÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO ................................................................2
1.1.1 O INÍCIO .................................................................................................................2
1.1.2 OS ANOS 60...........................................................................................................5
1.1.3 CONTRIBUIÇÕES EXÓGENAS À PREVENÇÃO OCUPACIONAL .......................7
1.1.4 O PREVENCIONISMO NO BRASIL .......................................................................9
1.1.5 O “NASCIMENTO” DAS PROFISSÕES OCUPACIONAIS...................................10
1.1.6 ALGUNS MARCOS HISTÓRICOS E LEGISLATIVOS NO BRASIL. LEGISLAÇÃO
ATUAL E AS NORMAS REGULAMENTADORAS (NRS)..............................................11
1.2 O PROFISSIONAL OCUPACIONAL E AS LEGISLAÇÕES A CONHECER .............12
1.3 SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL (SGSSO)
(BS 8800 E OHSAS 18001).............................................................................................13
1.4 TESTES .....................................................................................................................15
CAPÍTULO 2. HIGIENE OCUPACIONAL – ASPECTOS HISTÓRICOS ..........................18
2.1 HISTÓRIA E CONCEITO...........................................................................................19
2.1.1 EVENTOS HISTÓRICOS EM SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL............21
2.1.2 OUTROS PONTOS HISTÓRICOS DE DESENVOLVIMENTO DA HIGIENE
INDUSTRIAL..................................................................................................................23
2.2 DESENVOLVIMENTOS NA AVALIAÇÃO .................................................................24
2.3. PADRÕES E CRITÉRIOS ........................................................................................24
2.4 CONTROLE ...............................................................................................................25
2.5 OUTROS ASPECTOS ...............................................................................................26
2.6 FORMAÇÃO, EDUCAÇÃO E ASSOCIAÇÕES. ........................................................26
2.7 TESTES .....................................................................................................................27
CAPÍTULO 3. SITUANDO A HIGIENE OCUPACIONAL..................................................29
3.1 ESTABELECENDO CONCEITOS INICIAIS E DEFINIÇÕES....................................30
3.1.1 CONCEITUAÇÃO GERAL ....................................................................................30
3.1.2 DETALHANDO ASPECTOS BÁSICOS ................................................................32
3.2 ÁREAS DE INTERAÇÃO DA HIGIENE OCUPACIONAL. .........................................33
3.2.1 MEDICINA OCUPACIONAL. ................................................................................33
3.2.2 ÁREA DE GESTÃO AMBIENTAL. ........................................................................33
3.2.3 ERGONOMIA........................................................................................................33
3.3 POR QUE É FUNDAMENTAL AGIR SOBRE O AMBIENTE?...................................34
3.4 CONCEITOS DA HIGIENE EM ALGUMAS REFERÊNCIAS ....................................35
3.5 O CONCEITO DO LIMITE DE TOLERÂNCIA / LIMITE DE EXPOSIÇÃO.................35
3.5.1 EXERCÍCIO DE CONSTRUÇÃO DO CONCEITO................................................35
3.6 INTRODUÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS ................................................................37
3.7 MEDIDAS GENÉRICAS DE CONTROLE DE AGENTES AMBIENTAIS...................38
3.7.1 MEDIDAS RELATIVAS AO AMBIENTE ...............................................................39
3.7.2 MEDIDAS RELATIVAS AO PESSOAL .................................................................43
3.8 ENTIDADES E ASSOCIAÇÕES DA ÁREA ...............................................................44
3.9 ATUAÇÃO DO HIGIENISTA OCUPACIONAL...........................................................44
3.10 O HIGIENISTA E AS QUESTÕES TÉCNICO-LEGAIS ...........................................45
3.11 A HIGIENE OCUPACIONAL, SUAS “ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO” E AS
FORMAÇÕES PROFISSIONAIS.....................................................................................45
3.12 TEXTO COMPLEMENTAR......................................................................................47
3.13 TESTES ...................................................................................................................50
CAPÍTULO 4. O CORPO HUMANO. ................................................................................52
4.1 A CIÊNCIA DO CORPO HUMANO ...........................................................................53
4.1.1 A CÉLULA.............................................................................................................53
4.1.2 ROTAS DE ENTRADA..........................................................................................54
4.1.3 SISTEMAS INTERNOS ........................................................................................59
4.1.4 ROTAS DE SAÍDA ................................................................................................60

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

4.2 TESTES (1)................................................................................................................62


4.3 A NATUREZA DO PROBLEMA.................................................................................66
4.3.1 DANO CELULAR ..................................................................................................66
4.3.2 SISTEMAS INTERNOS ........................................................................................69
4.3.3 ROTAS DE SAÍDA ................................................................................................71
4.3.4 PERÍODO DE LATÊNCIA E DOENÇA OCUPACIONAL ......................................72
4.3.5 EFEITOS AGUDOS E CRÔNICOS ......................................................................73
4.4 CASOS REAIS - O ACIDENTE DE BHOPAL ............................................................74
4.5 TESTES (2)................................................................................................................75
4.6 LIMITES DE TOLERÂNCIA .......................................................................................76
4.6.1 DETERMINAÇÃO DO RISCO ASSOCIADO A SUBSTÂNCIAS ..........................76
4.7 FATORES IMFLUENTES ..........................................................................................81
4.7.1 TOXICIDADE ........................................................................................................81
4.7.2 CONCENTRAÇÃO................................................................................................82
4.7.3 TEMPO DE EXPOSIÇÃO .....................................................................................82
4.7.4 SUSCETIBILIDADE INDIVIDUAL .........................................................................83
4.8 TIPOS DE LIMITES DE TOLERÂNCIA .....................................................................83
4.8.1 LIMITES DE TOLERÂNCIA SEGUNDO A ACGIH ...............................................84
4.8.2 NORMAS CANADENSES.....................................................................................86
4.8.3 NORMAS BRASILEIRAS......................................................................................87
4.8.4 COMPARAÇÃO ENTRE AS NORMAS BRASILEIRAS E AS SUGESTÕES DA
ACGIH............................................................................................................................95
4.9 METODOLOGIAS DE MEDIÇÃO ............................................................................100
4.9.1 MEDIÇÕES NO INDIVÍDUO ...............................................................................100
4.10 AÇÕES CORRETIVAS ..........................................................................................102
4.11 ESTUDO DIRIGIDO...............................................................................................102
4.12 TESTES (3)............................................................................................................104
4.13 CASOS REAIS.......................................................................................................107
4.13.1 A CIÊNCIA DAS RESINAS ...............................................................................107
4.13.2 A NATUREZA DO PROBLEMA ........................................................................109
4.13.3 LIMITES DE TOLERÂNCIA ..............................................................................111
4.13.4 METODOLOGIA DE MEDIÇÃO........................................................................112
4.13.5 RESULTADOS..................................................................................................113
4.13.6 AÇÕES CORRETIVAS .....................................................................................114
4.14 TESTES (4)............................................................................................................115
CAPÍTULO 5. CONCEITOS BÁSICOS DE ESTATÍSTICA EM HIGIENE ......................117
5.1 A CIÊNCIA DO TRATAMENTO DE DADOS ...........................................................118
5.1.1 MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL ..............................................................118
5.1.2 DISPERSÃO .......................................................................................................121
5.2 TESTES (1)..............................................................................................................128
5.3 A NATUREZA DO PROBLEMA...............................................................................132
5.3.1 VALORES MEDIDOS .........................................................................................132
5.3.2 ERROS ...............................................................................................................133
5.3.3 PARÂMETROS OPERACIONAIS.......................................................................134
5.3.4 ESPECIFICAÇÕES DE DESEMPENHO ............................................................137
5.4 CASOS REAIS E EXEMPLOS ................................................................................138
5.4.1 DISTRIBUIÇÃO LOG NORMAL..........................................................................138
5.4.2 EXEMPLO OCUPACIONAL 1 – SILICOSE EM MINAS DE OURO....................139
5.4.3 EXEMPLO OCUPACIONAL 2 – SILICOSE EM PEDREIRAS ............................141
5.4.4 EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA MÉDIA GEOMÉTRICA....................................143
5.4.5 EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA MÉDIA HARMÔNICA ......................................143
5.5 LIMITES ADMISSÍVEIS ...........................................................................................144
5.5.1 O QUE SIGNIFICAM OS VALORES NUMÉRICOS............................................144
5.5.2 EXEMPLO DE CÁLCULO DA EXPOSIÇÃO MÉDIA ..........................................145
5.5.3 EXEMPLO DE EFEITOS ADITIVOS...................................................................146

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

5.6 METODOLOGIAS DE MEDIÇÃO ............................................................................147


5.6.1 SELEÇÃO DO LOCAL DE AMOSTRAGEM .......................................................148
5.6.2 ESTRATÉGIA DE AMOSTRAGEM ....................................................................148
5.6.3 METODOLOGIA DE AMOSTRAGEM ................................................................151
5.6.4 FREQÜÊNCIA DE AMOSTRAGEM....................................................................151
5.6.5 EXECUÇÃO DA AMOSTRAGEM .......................................................................151
5.6.6 TRANSPORTE E CUIDADOS COM AS AMOSTRAS ........................................151
5.6.7 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS......................................................................151
5.6.8 ANÁLISE DAS AMOSTRAS ...............................................................................151
5.6.9 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .......................................................................152
5.7 TESTES (2)..............................................................................................................155
5.8 EXERCÍCIOS...........................................................................................................160
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................161

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO AO MUNDO OCUPACIONAL.

OBJETIVOS DO ESTUDO

A higiene ocupacional faz parte das disciplinas chamadas “prevencionistas”, e está


inserida num contexto maior, que é o da preservação da segurança e da saúde no mundo
do trabalho.
O capítulo dá um histórico sintético da evolução da prevenção através dos tempos,
até os dias de hoje, incluindo aspectos históricos e marcos legislativos do Brasil.
Procura situar a pessoa não inserida no meio ocupacional, que pode ter sido
atraída para o curso diretamente de uma área não necessariamente correlata, e que tem
todo um contexto a conhecer.
Ao terminar o capitulo você estará apto a:

• Identificar aspectos evolutivos da questão ocupacional;


• Entender o contexto onde se insere o higienista ocupacional;
• Identificar as modernas escolas de prevenção;
• Reconhecer os principais marcos históricos, profissionais e legislativos
ocupacionais no Brasil.

Nota: O conteúdo deste capítulo foi extraído das notas de aula do professor Mário
Fantazzini.

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

1.1 PREVENÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO


1.1.1 O INÍCIO
O problema dos acidentes e doenças ocupacionais não é um problema recente;
pelo contrário, tem acompanhado o desenvolvimento das atividades do homem através
dos séculos. Assim, o homem primitivo teve sua integridade física ameaçada e sua
capacidade produtiva diminuída pelos acidentes próprios da caça, da pesca e da guerra,
atividades que eram as mais importantes de sua época.
Mais tarde, o caçador que habitava as cavernas, transformou-se em artesão e
passou a trabalhar em minas e com os metais, gerando as primeiras doenças do
trabalho, provocadas pelos próprios materiais utilizados na sua atividade laboral.
As primeiras referências escritas, relacionadas com estes problemas, encontram-se
num papiro Egípcio, que data de 2360 a.C., o chamado Papiro Seller II, e que dizem:
“Eu jamais vi ferreiros em embaixadas e fundidores em missões. O que eu vejo
sempre é o operário em seu trabalho; ele se consome nas goelas de seus fornos. O
pedreiro exposto a todos os ventos, enquanto a doença o espreita, constrói sem
agasalho, seus dois braços se gastam no trabalho; seus alimentos vivem misturados com
os detritos, ele se come a si mesmo, porque só tem como pão os seus dedos. O barbeiro
cansa os seus braços para encher o ventre. O tecelão vive encolhido, joelho ao
estômago, ele não respira. As lavadeiras sobre as bordas do rio são vizinhas do
crocodilo. O tintureiro fede a morrinha do peixe; seus olhos são abatidos de fadiga, suas
mãos não param e suas vestes vivem em desalinho”.
Em 460 a.C., Hipócrates, considerado o pai da medicina, também fala dos
acidentes e doenças do trabalho.
Quatro séculos mais tarde, Plínio (23-79 d.C.), após visitar alguns locais de
trabalho, principalmente galerias de minas, descreve impressionado o aspecto dos
trabalhadores expostos ao chumbo, ao mercúrio e às poeiras. Menciona então a iniciativa
dos escravos em utilizarem à frente do rosto, à guisa de máscaras, panos ou membranas
(de bexiga de carneiro) para atenuar a inalação de poeiras.
Em 1556, um ano após a sua morte, Georg Bauer, mais conhecido pelo seu nome
latino de Georgius Agricola, publica em latim seu livro De Re Metallica. Após estudar
diversos aspectos relacionados à extração de metais argentíferos e auríferos e à sua
fundição, dedica o último capítulo aos acidentes do trabalho e às doenças mais comuns
entre os mineiros. Agricola dá destaque especial à chamada “asma dos mineiros”,
provocada por poeiras que descreveu como “corrosivas”. A descrição dos sintomas e a
evolução da doença fazem lembrar a silicose. Segundo as observações de Agricola, em
algumas regiões extrativas, as mulheres chegavam a casarem-se sete vezes, roubadas
que eram de seus maridos, pela morte prematura encontrada na ocupação que exerciam.
Onze anos mais tarde, surge a publicação de Paracelso (Aureolus Theophrastus
Bombastus von Hohenheim): “Dos Ofícios e das Doenças da Montanha”. Seu autor
nasceu e viveu durante muitos anos em um centro mineiro da Boêmia, e são numerosas
as suas observações relacionando métodos de trabalho ou substâncias manuseadas com
doenças, sendo de destacar-se, por exemplo, que, em relação à intoxicação pelo
mercúrio, os principais sintomas dessa doença profissional encontram-se ali assinalados,
bem como da silicose.

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

Em 1700, era publicada em Módena, na Itália, a primeira edição do livro DE


MORBIS ARTIFICUM DIATRIBA, escrito pelo médico Bernadino Ramazzini (1633 -
1714). Nesta obra fundamental que lhe valeu o epíteto de “Pai da Medicina do Trabalho”,
Ramazzini descreve com rara sensibilidade e grande erudição literária, doenças que
ocorrem em trabalhadores de mais de cinqüenta ocupações. Às perguntas Hipócraticas,
fundamentais na anamnese, propõe Ramazzini que se acrescente mais uma: QUAL É A
SUA OCUPAÇÃO?
A partir do séc. XVIII, profundas alterações tecnológicas são iniciadas pela
humanidade, e sua importância é de tal magnitude que foi chamada de Revolução
Industrial. São inventados a máquina a vapor (James Watts - 1781) e o regulador
automático de velocidade (1785), inventos estes que deram ao homem a independência
das fontes localizadas de energia (rios) e o uso de uma nova forma controlável (de
energia), de baixo custo e abundante.
A organização das primeiras indústrias foi uma tragédia para as classes
trabalhadoras, dadas as condições subumanas nas quais se desenvolviam as atividades
fabris. Os acidentes do trabalho e as doenças provocadas pelas substâncias e ambientes
do trabalho geravam grande número de doentes e mutilados.
As primitivas máquinas de fiação e tecelagem necessitavam de força motriz para
acioná-las, e esta foi encontrada na energia hidráulica; daí o nome de “mill”, pelo qual,
até hoje, são conhecidas as fiações nos países de língua inglesa. A descoberta da
máquina a vapor, porém, veio permitir a instalação de fábricas em quaisquer lugares e,
muito naturalmente, as grandes cidades, onde era abundante a mão de obra. Assim,
galpões, estábulos, velhos armazéns eram rapidamente transformados em "fábricas",
colocando-se, no seu interior, o maior número possível de máquinas de fiação e
tecelagem.
Como mulheres e crianças podiam cuidar das máquinas e receber menos que os
homens, deram-lhes trabalho, enquanto o homem ficava em casa, freqüentemente sem
poder trabalhar. A princípio, os donos de fábricas compravam o trabalho das crianças
pobres, nos orfanatos; mais tarde, como os salários do pai operário e da mãe operária
não eram suficientes para manter a família, também as crianças que tinham casa foram
obrigadas a trabalhar nas fábricas e minas. Intermediários inescrupulosos percorriam as
grandes cidades inglesas, arrebanhando crianças, que lhes eram vendidas por pais
miseráveis, e revendidas a £ 5 (Libras Esterlinas) por cabeça, aos empregadores que,
ansiosos por obter um suprimento inesgotável de mão-de-obra barata, se comprometiam
a aceitar uma criança débil mental para cada 12 crianças sadias.
A improvisação das fábricas e a mão-de-obra constituída principalmente por
crianças e mulheres resultaram em problemas ocupacionais extremamente sérios. Os
acidentes do trabalho eram numerosos, e provocados por máquinas sem qualquer
proteção, movidas por correias expostas, e as mortes, principalmente de crianças, eram
muito freqüentes. Inexistindo limites de horas de trabalho, homens, mulheres e crianças
iniciavam suas atividades pela madrugada, abandonando-as somente ao cair da noite;
em muitos casos continuava mesmo durante a noite, em fábricas parcamente iluminadas
por bicos de gás. As atividades profissionais eram executadas em ambientes fechados,
onde a ventilação era precaríssima. Não é, pois, de estranhar-se que doenças de toda a
ordem disseminassem entre os trabalhadores, especialmente entre as crianças
(principalmente as infecto-contagiosas, como o tifo europeu, que era chamado de “febre

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

das fábricas”, cuja disseminação era facilitada pelas más condições do ambiente de
trabalho e pela grande concentração e promiscuidade dos trabalhadores).
Tal dramática situação dos trabalhadores não poderia deixar indiferente à opinião
pública, e por essa razão criou-se, no parlamento britânico, sob direção de sir Robert
Peel, uma comissão de inquérito que, após longa e tenaz luta, conseguiu que em 1802
fosse aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores: a “Lei de Saúde e Moral dos
Aprendizes”, que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho
noturno, obrigava os empregadores a lavar as paredes das fábricas duas vezes por ano,
e tornava obrigatória a ventilação destas.
Em 1830, quando as condições de trabalho das crianças ainda se mostravam
péssimas, a despeito dos diversos documentos legais, o proprietário de uma fábrica
inglesa, que se sentia perturbado diante das péssimas condições de trabalho dos seus
pequenos trabalhadores, procurou Robert Baker, famoso médico inglês, pedindo-lhe
conselhos sobre a melhor forma de proteger a saúde dos mesmos. Baker dedicava parte
do seu tempo a visitar fábricas e tomar conhecimento das relações entre trabalho e
doença, o que levou o governo britânico, quatro anos mais tarde, a nomeá-lo Inspetor
Médico de Fábricas. Assim, diante do pedido do empregador inglês, aconselhou-o a
contratar um médico da localidade em que funcionava a fábrica de modo a visitar
diariamente o local de trabalho e estudar a sua possível influência sobre a saúde dos
pequenos operários, que deveriam ser afastados de suas atividades profissionais tão
logo fosse notado que estas estivessem prejudicando a sua saúde. Surgia, assim, o
primeiro serviço médico industrial em todo o mundo.
Em 1831, uma comissão parlamentar de inquérito, sob a chefia de Michael Saddler,
elaborou um cuidadoso relatório, que concluía da seguinte maneira: “Diante desta
Comissão desfilou longa procissão de trabalhadores - homens e mulheres, meninos e
meninas. Abobalhados, doentes, deformados, degradados na sua qualidade humana,
cada um deles era clara evidência de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade
do homem para com o homem, uma impiedosa condenação daqueles legisladores que,
quando em suas mãos detinham poder imenso, abandonaram os fracos à rapacidade dos
fortes”. O impacto deste relatório sobre a opinião pública foi tremendo, e assim, em 1833,
foi baixado o Factory Act, que deve ser considerada como a primeira legislação
realmente eficiente no campo da proteção ao trabalhador. Aplicava-se a todas as
empresas têxteis onde se usasse força hidráulica ou a vapor; proibia o trabalho noturno
aos menores de 18 anos e restringia as horas de trabalho destes, a 12 por dia e 69 por
semana; as fábricas precisavam ter escolas, que deviam ser freqüentadas por todos os
trabalhadores menores de 13 anos; a idade mínima para o trabalho era de 9 anos, e um
médico devia atestar que o desenvolvimento físico da criança correspondesse à sua
idade cronológica.
Até a primeira guerra mundial, perdurou esta situação com alguns intentos isolados
para controlar os acidentes e doenças ocupacionais, sendo que a conflagração marcou o
início dos primeiros intentos científicos de proteção ao trabalhador, estudando-se as
doenças dos trabalhadores, as condições ambientais, a distribuição assim como o
desenho das máquinas e equipamentos, as proteções necessárias para evitar acidentes
e incapacidades, etc.
Este movimento prevencionista consegue a sua maturidade durante a segunda
guerra mundial, quando os países em luta compreenderam que o vencedor seria aquele

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

que tivesse uma melhor capacidade industrial, e para isto, conseguisse manter um maior
número de trabalhadores em produção ativa.
Como pudemos ver, o prevencionismo evoluiu lentamente através dos tempos,
caracterizando-se, inicialmente, por ações eminentemente médicas. Mesmo quando as
primeiras leis de amparo à infortunística foram decretadas, o seu objetivo foi restrito à
reparação dos danos causados pelo trabalho; surgiu toda uma legislação social de
“reparação” de danos (lesões). Dessa forma, o seguro social (Previdência Social)
realizava e realiza ações assegurando o risco de acidentes, ou melhor dizendo, o risco
de lesões.
Por outro lado, já no nosso século, iniciaram-se as ações complementares e
necessariamente básicas do prevencionismo, ou seja, era óbvio, como ainda hoje nos é,
que além de se reparar os danos causados pelos acidentes, era necessário evitar a sua
ocorrência.

1.1.2 OS ANOS 60
A preocupação com todos os tipos de acidentes e as considerações econômicas.

O avanço da prevenção nos anos de guerra aperfeiçoou ao máximo a


prevenção “operacional” dos riscos, desenvolvendo-se as aplicações de
engenharia básica, como a proteção de máquinas, de incêndios, dos riscos
elétricos, etc., ou seja, toda a prevenção de acidentes que hoje chamaríamos de
tradicional (não se deixe enganar pelo nome - todas essas atividades são
fundamentais na prevenção). Essa época também impulsionou muito a Higiene
Ocupacional, observe-se.

Até aí, a preocupação era limitada à prevenção dos acidentes-tipo, ou


acidentes pessoais, ou simplesmente acidentes, pois não havendo lesão, não
existia o conceito (do ponto de vista legal, também não existe o acidente sem
acidentado).

Surgiram então, teorias que foram e ainda são importantes, mostrando que ao
se fechar os olhos para os acidentes sem lesão (apenas com danos materiais),
perdem-se em prevenção, pois o que é realmente aleatório deste fato chamado
acidente é o seu resultado (só lesão, só dano material, só dano econômico ou
qualquer combinação destes).

O acidente não é aleatório na sua chance de ocorrer, pois persistindo riscos,


ele ocorrerá.

O acidente é, porém, aleatório no momento de sua ocorrência e na tipologia


dos danos conseqüentes.

A vantagem em se estudar todos os tipos de acidentes era justamente poder


detectar um maior espectro de riscos, e assim aperfeiçoar a prevenção.

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

As teorias buscavam também, com razão, seduzir o empresário para a


prevenção, mostrando que as perdas materiais e econômicas dos acidentes eram
muito maiores do que se imaginava e que sua redução era possível. Mais ainda, tal
redução passava pela tecnologia da Engenharia de Segurança, aliada à nova visão
que as teorias planejavam adicionar.

As duas principais teorias surgidas na década foram:

Quadro 1.1. Controle de Danos.

• Controle de Danos - Em 1966, o norte americano Frank Bird Jr. concluiu um

estudo de 90.000 acidentes (75.000 com danos à propriedade), ocorridos em

uma empresa metalúrgica durante 7 anos, e que serviram de base para sua

teoria chamada “Controle de Danos”. Um programa de Controle de Danos

requer a identificação, registro e análise de todos os acidentes com danos à

propriedade, cujos custos devem ser determinados e cuja análise deve

desencadear ações preventivas. O programa tinha uma vertente forte na

mudança de cultura (ou seja, acidentes sem lesionados passariam a ser

considerados acidentes), além de provisões para o levantamento dos custos

(essencialmente, os custos de manutenção e reparos causados por

acidentes, normalmente diluídos e irreconhecíveis na contabilidade das

empresas). Como não havia a informatização, os controles eram feitos por

etiquetas apostas aos itens a sofrer manutenção, ou através do uso da letra

“A” nas ordens de serviço, para posterior controle (manual) dos custos. Pode

agora parecer simples ou até bisonho, mas foi uma revolução para os

pensamentos da época. É claro que o programa previa todas as outras

ferramentas da prevenção tradicional.

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

Controle Total de Perdas - Partindo também da premissa de que os acidentes que


resultam em danos às instalações, equipamentos e materiais têm as mesmas
causas básicas que aqueles que resultaram em lesões, o canadense John A.
Fletcher propôs, em 1970, o estabelecimento de “Programas de Controle Total de
Perdas”. Desde já se observa que permanece grande o apelo desta denominação e
de seus objetivos nos dias de hoje. Esta teoria, que deve ser mostrada com
detalhe nos cursos de engenharia de segurança, pode ser resumida como segue:
Segundo a proposta de Fletcher, o PCP deve ser idealizado de modo a eliminar
todas as fontes de interrupção de um processo de produção, querem elas resultem
de lesão, dano à propriedade, incêndio, explosão, roubo, vandalismo, sabotagem,
poluição ambiental, doença ocupacional ou defeito do produto. Trata-se de uma
visão mais abrangente do conceito de “perda” de Bird. Os passos de implantação
previam: o levantamento do perfil dos programas de prevenção existentes, a
definição de prioridades e a elaboração de planos de ação (usando-se as
ferramentas tradicionais da prevenção). Particularmente interessante é o
levantamento dos perfis de prevenção, baseado em perguntas chave, com um
sistema de pontos. Tratava-se do embrião dos sistemas de auditoria de segurança,
levantando deficiências a serem sanadas nos planos de ação.

1.1.3 CONTRIBUIÇÕES EXÓGENAS À PREVENÇÃO OCUPACIONAL


1.1.3.1 TECNOLOGIAS DE PREVENÇÃO: TÉCNICAS DE ANÁLISE DE RISCOS
As técnicas estruturadas de análise de riscos, ou “Técnicas de Análise de Riscos”,
como agora as conhecemos, têm sua origem em duas grandes vertentes: a área de
processos (indústrias de processo) e a militar/bélico/aeroespacial (onde se configurou a
disciplina “Engenharia de Segurança de Sistemas”).
Ao final da segunda grande guerra, nascia uma indústria de armas mais
sofisticadas, os mísseis. Em todas as áreas militares norte-americanas (aeronáutica,
marinha, exército) já surgiam técnicas embrionárias de análise de riscos, visando reduzir
a ocorrência de acidentes operacionais catastróficos, por uma ação antes dos mesmos,
ou seja, preventiva. Essas técnicas foram se fortalecendo e se desenvolvendo dentro da
indústria de mísseis, de forma a serem desenvolvidos sistemas mais seguros, com
menos falhas e riscos de operação. Esse movimento foi se configurando numa disciplina
que se consolidou com a corrida aeroespacial (que tinha a necessidade de alta
confiabilidade, erro “zero”), chamada Engenharia de Segurança de Sistemas. A maioria
das técnicas atuais provém desta área. Muitas delas surgiram como resposta a riscos
inadmissíveis no desenvolvimento de sistemas, ou a catástrofes concretas. A APR
(Análise Preliminar de Riscos), por exemplo, foi desenvolvida e tornada obrigatória após
os acidentes com o sistema de mísseis Atlas. As árvores de falhas, pelos riscos de um
lançamento não autorizado dos mísseis Minuteman.
Na área de processos, a busca por plantas mais seguras foi alavancada e
consolidada por acidentes sérios, como Flixborough, Seveso, Bhopal. As técnicas mais
importantes que daí surgiu foram o HAZOP (Estudo de riscos e operabilidade) e o What If
(Técnica E SE...).
É importante observar que as técnicas, especialmente as de segurança de
sistemas, foram gradualmente passando para a área “civil” de riscos já nos anos

o
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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

sessenta. Os primeiros artigos em revistas de segurança do trabalho foram


provavelmente os de Recht, em 1966, na “National Safety News” norte-americana. A
forma mais técnica e estruturada de se analisar riscos, a maior objetividade e a
sistematização eram fatos novos no mundo prevencionista, e, aos poucos, as técnicas se
disseminaram nas empresas. Elas também geraram variantes mais simples ou
adaptações que podem ser identificadas em estudos ocupacionais, como a ART (análise
de riscos no trabalho) e a própria “Árvore de Causas”, uma aplicação ocupacional da
técnica SR (Série de Riscos).
Observe-se que na Segurança de Sistemas há mais de 20 técnicas disponíveis,
algumas muito específicas (ver referências bibliográficas, Willie Hammer).

1.1.3.2 ANÁLISE DE RISCOS E GERÊNCIA DE RISCOS


É necessário relatar que a gerência de riscos não possui uma conceituação
universalmente aceita. Sem alongar demasiadamente o tema, observamos
essencialmente que a linha que temos seguido é a da consideração ampla dos vários
processos da gerência de riscos, como abaixo descritos, devidamente municiados pelas
técnicas de análise de riscos. Os processos básicos são:

• Identificação de riscos;
• Análise de riscos;
• Avaliação de riscos;
• Tratamento de riscos.
• prevenção • eliminação
• redução
• financiamento • retenção (auto adoção ou auto-seguro)
• transferência (através ou não de seguro )

As técnicas subsidiam todos os processos, pois em forma geral não só identificam


os riscos, analisam suas causas e efeitos, avalia quantitativamente os mesmos, como
também geram medidas de prevenção e controle e permitem (nas técnicas quantitativas)
estabelecer estudos de custo-benefício quanto a investimentos de controle e de
financiamento (discussão de taxas de seguro frente à probabilidade de ocorrência dos
danos, por exemplo).

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

1.1.4 O PREVENCIONISMO NO BRASIL


Embora em menores proporções, não seria despropósito afirmar que o período
vivido pelo Brasil, basicamente Rio de Janeiro e São Paulo, de 1880 a 1920, guarda
grande similitude com o período da “Revolução Industrial” da Inglaterra de cem anos
antes. Nos seus aspectos positivos, mas também na repetição dos problemas
desencadeados pela industrialização.
De acordo com o relatório de Dean, “as condições de trabalho eram duríssimas,
muitas estruturas que abrigavam as máquinas não haviam sido originalmente destinadas
a essa finalidade, além de mal iluminadas e mal ventiladas não dispunham de instalações
sanitárias. As máquinas se amontoavam ao lado umas das outras e suas correias e
engrenagens giravam sem proteção alguma”. Os acidentes se amiudavam porque os
trabalhadores cansados, que trabalhavam às vezes, além do horário sem aumento de
salário ou trabalhavam aos domingos, eram multados por indolência ou pelos erros
cometidos, se fossem adultos, ou surrados, se fossem crianças.
Cita-se exemplo de cardadores da indústria têxtil que trabalhavam 16 horas por dia,
das 5 às 22 horas, com uma hora para a refeição, e nos domingos, até às 15 horas.
Os primeiros passos do prevencionismo brasileiro tiveram origens reais nos
primeiros anos da década de 1930, depois da criação do ministério do trabalho. Desta
década datam as primeiras tentativas para despertar os responsáveis pelo
desenvolvimento industrial do Brasil, autoridades, empresários e trabalhadores, para a
prevenção dos acidentes e doenças do trabalho.
O país contava desde 1919 com uma lei de acidentes do trabalho, a qual foi
reformulada em 1934, mas apesar da reformulação, ambas as leis foram deficientes no
aspecto prevencionista, preocupando-se de preferência com a compensação ao
acidentado, ou seja, atuava uma vez que o acidente acontecia.
Em abril de 1938, foi apresentado um projeto de lei, para modificar a parte que se
referia aos acidentes do trabalho do Decreto nº. 22.872, de criação do Instituto dos
Marítimos. Nesse anteprojeto, posteriormente transformado no Decreto lei número 3.700
de 9 de outubro de 1941, foi incluído um capítulo dedicado à prevenção de acidentes do
trabalho.
Em 1943 o Governo resolveu estender às outras classes operárias as medidas de
proteção ao trabalho; nesse ano o ministro do trabalho, Sr. Marcondes Filho, lançou as
bases da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho, que até hoje vem
se desenvolvendo.
Junto com o desenvolvimento progressivo da legislação foram aparecendo diversas
entidades, algumas de origem privada e outras de caráter oficial, tendo por objetivo o
ensino, divulgação e pesquisas no âmbito da segurança, higiene e medicina do trabalho.
A primeira destas entidades no nosso meio foi a ABPA (Associação Brasileira para
a Prevenção de Acidentes) fundada em 21 de maio de 1941, constituindo-se numa das
primeiras organizações desse tipo na América do Sul.
A entidade nacional de maior importância e responsabilidade na área é a
FUNDACENTRO, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho.

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

1.1.5 O “NASCIMENTO” DAS PROFISSÕES OCUPACIONAIS


O fim dos anos 60 e início da década de 70 foram marcados por grande
crescimento industrial e econômico. Falava-se no “milagre brasileiro”, e as taxas de
crescimento eram de até 10% ao ano.
Isto, naturalmente, quer dizer também que não havia formação profissional que
suprisse adequadamente trabalhadores devidamente treinados, não só para as tarefas
requeridas, mas também para a prevenção. Somando isso a um crescimento
relativamente desordenado das empresas, o resultado só poderia ser um: muitos
acidentes. A evolução dos índices oficiais pode ser observada na Tabela 1.1.

Tabela 1.1. Evolução dos índices oficiais de % de acidentados


ANO % ACIDENTADOS
1968 12,60
1969 14,57
1970 16,75
1971 17,61
1972 18,47
1973 14,82
1974 15,57
1975 14,74
1976 11,67
1977 9,73
1978 8,46
1979 7,11
1980 6,16
1981 5,20

Em 1972, quase 1/5 da força de trabalho formal (inscrita na previdência) havia se


acidentado. Considerando-se ainda:

• a grande quantidade de trabalho informal;


• que o índice é médio, ou seja, para as atividades de alto risco as cifras seriam
ainda mais altas;
• e a eventual sub-notificação de acidentes;
... pode-se perceber o quanto calamitosa era a situação.
Tratava-se não apenas de um grande holocausto de vítimas fatais, mutilados e
alijados da sociedade produtiva, mas também uma sangria imensa do PIB, pelas horas
não produtivas, perdas econômicas e recursos de previdência desviados
necessariamente para fazer frente a indenizações e pensões. Um grande drama
humano, mas também uma perda de riqueza do país, que poderia estar sendo dirigida a
outras prioridades.
Era necessário fazer-se algo, e depressa. Assim, foram virtualmente “criadas”
novas categorias ocupacionais, para, em caráter emergencial, passar a atuar na reversão
da situação. As novas profissões foram:

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

• O Engenheiro de Segurança;
• O Médico do Trabalho;
• O Enfermeiro do Trabalho;
• O Auxiliar de Enfermagem do Trabalho; e
• O Técnico de Segurança do Trabalho (então chamado Supervisor de
Segurança do Trabalho).
Observe-se que naqueles tempos, não havia formação de segurança no País. Os
que a tinham, haviam estudado no exterior ou eram autodidatas. A preocupação com a
segurança havia, mas era restrita às CIPAs. O Sistema SENAI também sempre teve
preocupação de formar com segurança os aprendizes, e as empresas, especialmente as
estrangeiras aqui radicadas, com honrosas exceções locais, também tinham cuidados
oriundos das matrizes.
A criação veio decretada, a partir da Portaria 3237, de 1972, dentro do que se
chamou de PNVT - Plano Nacional de Valorização do Trabalhador.
Tal era a urgência, que as profissões foram criadas no âmbito do Ministério do
Trabalho, que outorgava a profissão, o que perdurou até os anos 80, quando passaram
para a esfera do Ministério da Educação. O então “Supervisor de Segurança”, nos
primeiros tempos, poderia formar-se apenas com o ginásio, atualmente conhecido como
ensino fundamental, sendo exigido posteriormente o 2o grau (atualmente ensino médio).

1.1.6 ALGUNS MARCOS HISTÓRICOS E LEGISLATIVOS NO BRASIL. LEGISLAÇÃO


ATUAL E AS NORMAS REGULAMENTADORAS (NRS)
Os marcos históricos e legislativos podem ser apresentados cronologicamente da
seguinte forma:
• 1917 - primeira greve geral operária em São Paulo;
• 1919 - primeira Lei de Seguros de Acidentes do Trabalho;
• 1923 - caixas de aposentadorias e pensões;
• 1930 - criação do Ministério do Trabalho (Getúlio Vargas);
• 1933 - transformação das caixas em Institutos (IAPC, IAPI, etc.);
• 1943 - promulgação da CLT;
• 1960 - lei orgânica da previdência social (centralização dos institutos);
• 1966 - INPS;
• 1966 - criação da Fundacentro, que só iria operar em 1969;
• 1967 - estatização e monopólio do seguro acidente de trabalho (SAT), que era
privado. Havia a tarifação individual;
• 1972 - Plano Nacional de Valorização do Trabalhador / SESMTs obrigatórios /
criação dos profissionais ocupacionais;
• 1976 - taxação fixa do SAT (1, 2 ou 3% da folha de salários);
• 1977 - alteração do cap. V, título II da CLT. (lei 6514);
• 1978 - regulamentação da Lei 6514 e criação das Normas Regulamentadoras –
NR’s.
As Normas Regulamentadoras foram criadas a partir das alterações da lei 6514,
com novidades conceituais (por exemplo, os Limites de Tolerância), e com o intuito de
consolidar toda uma legislação fragmentada e esparsa, uma miríade de portarias, que
existia até então.

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

Houve um esforço de revisão e de ordenação, dentro de um formato que vem se


mantendo até aqui. Atualmente existem 33 Normas Regulamentadoras básicas.

As normas versam sobre todos os tópicos de segurança, higiene e medicina do


trabalho. A Tabela 1.2. apresenta uma listagem de algumas das NR’s, com os
respectivos comentários.
Tabela 1.2. Comentários sobre algumas das Normas Regulamentadoras

NR CARACTERÍSTICAS E OBSERVAÇÕES
• define atribuições da SSST, DRTs , dá definições e
1 - Disposições Gerais
obrigações de empregadores e trabalhadores.
• para novos estabelecimentos;
2 - Inspeção Prévia
• define o CAI - Certificado de Aprovação de Instalações.
• a partir de risco grave e iminente;
3 - Embargo ou Interdição • pode ser pedido pela DRT, DTM, fiscais ou entidades
sindicais.
4 - Serviços Especializados • define os quadros dos profissionais ocupacionais, a partir
em Engenharia de do grau de risco e número de trabalhadores.
Segurança e em Medicina
do Trabalho
• uma das normas mais modificadas e de gestação lenta na
5 - CIPA
instância da CTPP (“NR 0”).
• juntamente com o PPRA (NR-9), inaugurou a era dos
7- Programa de Controle
Programas Ocupacionais, atividades permanentes a serem
Médico de Saúde
desenvolvidas pelas empresas.
Ocupacional
• é um Programa de Higiene Ocupacional , a ser
9 - Programa de desenvolvido permanentemente. Incluiu novos conceitos na
Prevenção de Riscos legislação. Exige novas abordagens de controle pela
Ambientais inspeção do trabalho. Impulsionou a criação de outros
programas.
• uma das mais extensas, com 14 anexos abordando todas
15 – Atividades e as situações ambientais da insalubridade. Introduziu, ao
Operações Insalubres regulamentar a lei 6514, os Limites de Tolerância, reduzindo
em muito a insalubridade apenas qualitativa.
• outra norma de importância nas empresas, define a
periculosidade e as áreas de risco, assim como aqueles que
16 - Atividades e deverão perceber o adicional. Originalmente apenas para
Operações Perigosas inflamáveis e explosivos, ganhou inclusões de eletricidade e
radiações ionizantes. Em conjunto com a NR-15, uma das
principais causas de questões trabalhistas.
• ganhou reformulação nos anos 90 para abrigar a questão
17 - Ergonomia
das lesões por esforços repetitivos, hoje chamados DORT.
• segue a linha de programas ocupacionais na construção
18 - PCMAT
civil.

1.2 O PROFISSIONAL OCUPACIONAL E AS LEGISLAÇÕES A CONHECER


O higienista se move num contexto técnico-legal. Deve conhecer várias legislações,
com graus diferenciados de aprofundamento e especificidade:

o
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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

Quadro 1.2.

TRABALHISTA

É a que mais deve saber. Essencialmente, as Normas Regulamentadoras, mas

também na própria CLT há pontos que o dia -a - dia irá requerer atenção. As portarias

da SSST (Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho), que alteram as NR’s,

devem ser conhecidas na íntegra. Possui acesso pela Internet.

PREVIDENCIÁRIA

É a segunda mais importante, pois se relaciona (muitas vezes mal) com a


trabalhista. Define os eventos resultantes dos acidentes, as prestações econômicas
derivadas e, especialmente, a questão das aposentadorias especiais e dos laudos a
serem emitidos para tal. Em alguns casos, pode ser uma das tarefas preponderantes do
profissional. Devem-se esperar grandes necessidades de envolvimento.

AMBIENTAL
A legislação ambiental não pode passar despercebida, pois há vários pontos de
interseção. Lembrar que o ruído da empresa, após ser um problema ocupacional, escapa
aos limites da planta e vai ser um problema ambiental (por exemplo).

NÍVEIS LEGISLATIVOS
Em todos os campos, deve-se estar atento não apenas à legislação federal, mas
também às estaduais e municipais. Atenção, por exemplo em São Paulo, com a “lei do
PSIU” - Programa de Silêncio Urbano”.

1.3 SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL (SGSSO)


(BS 8800 E OHSAS 18001)
Os sistemas de gestão se mostraram forma eficiente de se implementar idéias, ou,
melhor dizendo, novos valores culturais às culturas empresariais.

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

Assim fazendo, permite-se que ações efetivas venham a ocorrer, mudanças se


operem e o projeto corporativo enunciado se realize.
Tal tem ocorrido com os sistemas de gestão da qualidade (sistema 9000) e, mais
recentemente, com os sistemas de gestão da qualidade ambiental (sistema 14000).
Assim, para realizar adequadamente a qualidade, que não é obrigação legal, mas
sim fator de competitividade por requisitos mercadológicos e exigência de clientes, as
empresas estabelecem sistemas de gestão.
Eles permitem que todos na empresa possuam um repertório comum, atribuições,
competências e responsabilidades, e que o novo valor cultural seja efetivamente
incorporado.

Um cliente que deseje um produto ou serviço de qualidade, não precisa vir


visitar seu exportador, pois sabe que o mesmo possui um sistema verificável de
gestão, normalizado, que avaliza as propriedades desejadas e garante seus
requisitos. Assim, o cliente exige tal característica de seus fornecedores. Como
resultado do sistema de gestão, a qualidade efetivamente se instala e permeia
pela organização.

Hoje, um passo além nessa cadeia de exigências de clientes (e o cliente é


soberano), é a certificação ambiental.
Assim, o cliente comprará meu produto, mas quer estar certo ( os seus acionistas
querem saber) de que meu sistema produtivo não agride o meio-ambiente; isto pode ser
evidenciado porque eu possuo um sistema de gestão de qualidade ambiental.
Assim, a venda de qualquer produto ou serviço pode estar sendo crescentemente
condicionada a aspectos que inicialmente não aparentam ser essenciais à produção,
como a gestão ambiental. Isto já é uma realidade.
Um terceiro nível nesta questão é a demanda por sistemas de gestão de segurança
e saúde ocupacional (SGSSO).

Os motivos que alicerçam a implementação estratégica dos SGSSO nas


empresas, podem ser:
• atendimento a clientes importadores, que passarão a exigir o
conhecimento de como seu fornecedor gerencia a saúde e segurança de seus
trabalhadores
• obter, no horizonte da privatização do seguro - acidente, indicadores de
excelência que permitam negociar taxas mais favoráveis que as empresas
“comuns” com os futuros operadores. Observar que neste caso, pela primeira
vez de forma explícita, a prevenção “se paga” e a atividade prevencionista
mostra evidente relação favorável de custo - benefício. Este pode ser um dos
motivos mais fortes.
• por valorizar os sistemas de gestão, desejando agregar a questão
ocupacional ( o que se faz facilmente nas empresas que já possuem outros
sistemas de gestão)
• para melhorar o seu desempenho em segurança e saúde de forma
eficiente e definitiva

Os sistemas de gestão possuem características poderosas que irão permitir a


efetiva implementação dos melhores padrões ocupacionais.

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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

1.4 TESTES
1. Quando e onde foram escritas as primeiras referências relacionadas aos
problemas dos acidentes e doenças ocupacionais?
a) 1720 a.C, Índia
b) 1230 a.C, China
c) 1450 a.C, Grécia
d) 2360 a.C, Egito
e) n.d.a.

Feedback: item 1.1.1., terceiro parágrafo

2. Quem é o “Pai da Medicina do Trabalho”?


a) Hipócrates
b) Ramazzini

o
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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

c) Agricola
d) Paracelso
e) n.d.a.

Feedback: item 1.1.1., nono parágrafo

3. Qual o livro que delegou o título de “Pai da Medicina do Trabalho” ao seu autor?
a) De Re Metallica
b) De Morbis Artificium Diatriba
c) Dos Ofícios e das Doenças das Montanhas
d) Acidentes e Doenças Ocupacionais
e) n.d.a.

Feedback: item 1.1.1., nono parágrafo

4. Qual item não se encontrava na “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”?


a) proibição do trabalho para menores de 14 anos
b) lavagem das paredes duas vezes por ano pelos empregadores
c) limite de 12 horas de trabalho diário
d) proibição do trabalho noturno
e) n.d.a.

Feedback: item 1.1.1., 14º parágrafo

5. Qual item não se aplica ao “Factory Act” de 1833?


a) primeira legislação eficiente no campo da proteção ao trabalhador
b) idade mínima para o trabalho era de 9 anos
c) escolas nas próprias fábricas que deveriam ser freqüentadas por todos
trabalhadores menores de 13 anos
d) limite de 10 horas de trabalho diário
e) n.d.a.

Feedback: item 1.1.1., 16º parágrafo


.
6. As teorias “Controle Total de Perdas” e “Controle de Danos” surgiram a partir de
qual década do século XX?
a) a partir da década de 30, durante a 1a Guerra Mundial;
b) a partir da década de 40;
b) a partir da década de 50, após 2a Guerra Mundial;
d) a partir da década de 60;

o
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Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional.

e) a partir da década de 70;

Feedback: item 1.1.2.

7. Considere as informações abaixo sobre as “Técnicas de Análise de Riscos”:


I – Tem origem em duas grandes vertentes: área de processos e a
militar/bélico/aeroespacial;
II – A maioria das técnicas atuais provém da área chamada de “Engenharia de
Segurança de Sistemas”, consolidada com a corrida aeroespacial;
III – Essas técnicas se intensificaram após a 2a Grande Guerra, com o surgimento
das indústrias dos mísseis;
IV - A busca por plantas mais seguras foi alavancada e consolidada por acidentes
sérios, como Flixborough, Seveso e Bhopal;
Com base nas informações acima, qual alternativa é a correta?
a) apenas I e III são verdadeiras;
b) apenas III é incorreta;
c) apenas I e IV são verdadeiras;
d) apenas II é incorreta;
e) Todas são verdadeiras

Feedback: item 1.1.3.1.

8. Qual é a legislação que o Higienista mais deve ter conhecimento?


a) Ambiental
b) Judicial
c) Trabalhista
d) Previdenciária
e) Níveis Legislativos

Feedback: item 1.2., segundo parágrafo

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Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

CAPÍTULO 2. HIGIENE OCUPACIONAL – ASPECTOS HISTÓRICOS

OBJETIVOS DO ESTUDO

Este capítulo situa a evolução da HO como disciplina ocupacional e dá sua


conceituação básica. Reposiciona a evolução da prevenção dentro da visão da disciplina.
Relata pontualmente a evolução dos meios de avaliação e controle dos riscos ambientais.
Apresentam dados informativos complementares.
Ao terminar este capítulo você deverá estar apto a:

• Situar e descrever o surgimento da HO;


• Enunciar e dar características básicas dos objetivos da HO; e
• Enunciar o conceito de atuação da HO.

Nota: O conteúdo deste capítulo foi extraído das notas de aula do professor Mário
Fantazzini.

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Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

2.1 HISTÓRIA E CONCEITO


Vamos deixar a conceituação da Higiene Ocupacional para o final. Deixemos que o
leitor mesmo construa sua conceituação, a partir deste resumo do interessante texto de
Vernon Rose [Capítulo I do White Book da AIHA].
A identificação da origem da prática da higiene industrial é difícil, ou impossível.
Como antigos cronistas de riscos ocupacionais e medidas de controle, que podem ser
considerados fundadores, temos:

• Agricola, em 1556, descreveu as doenças e acidentes na mineração, fundição e


refino de metais, com medidas de controle, incluindo ventilação;
• Plinius Secundus (Plínio, o Velho), antes ainda, no século I, escreveu que os
fundidores envolviam as faces com bexigas de animais, para não inalar as
poeiras fatais;
• Outros que, (apenas) identificaram os problemas, merecem menção, como
Hipócrates (séc. IV a.C.), com as primeiras menções de doenças ocupacionais
(intoxicações por chumbo);
• Também deve ser lembrado o trabalho de Bernardino Ramazzini (1713), um
tratado completo de doenças ocupacionais.

Entretanto, o reconhecimento de um vínculo causal entre os riscos dos


ambientes de trabalho e as doenças foi o passo fundamental no desenvolvimento
da prática da Higiene Industrial.

As observações médicas, de Hipócrates a Ramazzini e estendendo-se ao século


XX, da relação entre trabalho e doença, são os fundamentos da profissão.
Mas, o reconhecimento de riscos sem a intervenção e o controle, isto é, sem
a prevenção da doença, não qualifica um indivíduo como um higienista industrial.

As leis reativas ao desastre ocupacional da revolução industrial trataram de tentar


disciplinar o combate aos novos perigos ocupacionais. O Factory Act de 1864 requeria o
uso de ventilação diluidora para reduzir os contaminantes, e o de 1878 especificava o
uso de ventiladores para exaustão.
O divisor de águas para higiene e a medicina industrial veio com o Factory Act
britânico de 1901, que iniciou a regulamentação das ocupações perigosas.
As regulamentações criaram ímpeto para a investigação dos riscos dos locais de
trabalho e fiscalização de medidas de controle.
Tem sido sugerido, também, que a higiene industrial não emergiu como um campo
individualizado de atuação até que as avaliações quantitativas do ambiente tornaram-se
disponíveis.
Nos Estados Unidos destaca-se, em 1910, a Dra. Alice Hamilton como pioneira no
campo da doença ocupacional, campo que era totalmente inexplorado até então. O seu
trabalho individual, que compreendia não só o reconhecimento da doença, mas a
avaliação e o controle dos agentes causadores deveriam ser considerados como o início
da prática da higiene industrial nos EUA.

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Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

Deve ser observado que muitos dos praticantes iniciais de higiene industrial
eram médicos, que não estavam interessados apenas na diagnose e tratamento da
doença, mas também no controle dos riscos, para prevenir casos futuros. Esses
médicos trabalhavam com engenheiros e outros cientistas interessados em saúde
pública e riscos ambientais. Dessa forma, iniciaram um processo incubado desde
Hipócrates, visando deliberadamente modificar os ambientes de trabalho com o
objetivo de prevenir doenças ocupacionais.

Se entendermos a filosofia básica da profissão - a proteção da saúde e do bem


estar de trabalhadores através da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos
riscos oriundos do ambiente de trabalho - podemos imaginar como sua presença
permeou através da História...
Começou quando uma pessoa reconheceu um risco e tomou providências não só
para si, mas também para os companheiros. Esta é a origem e a essência da profissão
de higiene industrial.
Nota:
[Como tônica deste texto, é importante acompanhar o desenvolvimento nos EUA,
pois coincide basicamente com o desenvolvimento da própria Higiene Ocupacional, não
só em termos de progresso, mas também como atuação técnico-legal e das organizações
públicas. Isto não retira méritos de outros países, especialmente europeus, mas,
principalmente nas primeiras décadas do século, o desenvolvimento nos EUA é uma
medida boa do andamento global da disciplina].

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Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

2.1.1 Eventos Históricos em Segurança e Saúde Ocupacional


DATAÇÃO CONDIÇÃO OU EVENTO
• Os Australopitecus usavam pedras como ferramentas e armas.
1 M AC Havia cortes e lesões oculares. Os caçadores de Bisões contraíam
antraz.
• O homem Neolítico iniciou a produção de alimentos e a revolução
urbana na Mesopotâmia. Ao final da idade da pedra, havia a confecção
10 K AC
de ferramentas de pedra, chifre, ossos e marfim; fabricação de
cerâmicas e de tecidos. Inicia-se a história das ocupações.
• Idade do bronze e do cobre. Os artesãos de metais são libertados
5 K AC da produção de alimentos. Há uma especialidade que surge: a
metalurgia.
• Hipócrates cuida da saúde de cidadãos, mas não de trabalhadores;
370 AC todavia, identifica o envenenamento por chumbo de mineiros e
metalúrgicos.
• Plínio, o Velho, identifica o uso de bexigas de animais para evitar a
50
inalação de poeiras e fumos.
• Galen visita uma mina de cobre, mas suas discussões sobre saúde
200
pública não incluem doenças de trabalhadores.
• Não existe nenhuma discussão documentada sobre doenças
Idade Média
ocupacionais.
• Ellenborg reconhece que os vapores de alguns metais eram
1473 perigosos e descreve os sintomas de envenenamento ocupacional por
mercúrio e chumbo, com sugestões de medidas preventivas.
• No livro De Re Metallica, Georgius Agricola descreve a mineração,
fusão e refino de metais, com doenças e acidentes correntes e meios
de prevenção, incluindo a necessidade de ventilação;
1500 • Paracelso (1567) descreve as doenças respiratórias entre os
mineiros com uma precisa descrição do envenenamento pelo mercúrio.
Lembrado como o pai da toxicologia, diz: “Todas as substâncias são
venenos... é a dose que os diferencia entre venenos e remédios”.
1665 • Em Ídria, a jornada dos mineiros de mercúrio é reduzida.
• Bernardino Ramazzini, pai da medicina ocupacional, publica De
Morbis Artificum Diatriba (Doenças dos Artífices) e descreve as
1700
doenças (com excelente precisão) e “precauções”. Introduz na
anamnese médica a pergunta: “Qual é a sua ocupação?”.
• Percival Lott descreve o câncer ocupacional entre os limpadores de
chaminé na Inglaterra, identificando a fuligem e a falta de higiene como
causa do câncer escrotal. O resultado foi a Lei dos Limpadores de
1775 Chaminé de 1788;
• Os trabalhadores de chaminés alemães não apresentavam casos
de câncer escrotal. Suas roupas eram melhor ajustadas ao corpo do
que os colegas ingleses, e tinham escopo de EPIs.
• Charles Thackrah é autor do primeiro livro sobre doenças
ocupacionais na Inglaterra. Suas observações sobre doenças e
1830 prevenção ajudam na criação de legislação ocupacional. A inspeção
médica e a compensação assistencial do Estado foram estabelecidas
em 1897.
• Alice Hamilton investiga várias ocupações perigosas e causa
tremenda influência nas primeiras leis ocupacionais nos Estados
1900’s
Unidos. Em 1919 ela se torna a primeira mulher em Harvard e escreve
“Explorando as Ocupações Perigosas”.

o
eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
22
Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

• Início de legislação compensatória federal e no estado de


1902 – 1911 Washington. Em 1948 todos os estados cobriam as doenças
ocupacionais. Massachusetts designa inspetores de saúde.
1911 • Primeira conferência nacional sobre doenças industriais nos EUA.
• O congresso cria taxa proibitiva para o uso de fósforo branco na
1912
fabricação de fósforos.
• Organiza-se o National Safety Council. New York e Ohio
1913
estabelecem os primeiros grupos (agências) de Higiene Estaduais.
• O serviço nacional de saúde pública (USPHS) organiza a divisão de
1914
Higiene Industrial.
1922 • Harvard estabelece graduação em higiene industrial.
• O Bureau of Mines conduz pesquisa toxicológica de solventes,
1928-1932
vapores e gases.
• A lei Walsh-Healy exige de fornecedores do Governo medidas de
1936
higiene e segurança industrial.
• Forma-se a ACGIH, então chamada National Conference of
1938
Governmental Industrial Hygienists.
• Forma-se a AIHA (American Industrial Hygiene Association). A ASA
(American Standards Association, hoje ANSI) e a ACGIH preparam a
1939
primeira lista de “Concentrações Máximas Permissíveis” (MACs) para
substâncias químicas na indústria.
1941-1945 • Expandem-se os programas de higiene industrial nos estados.
1941 • O Bureau of Mines é autorizado a inspecionar minas.
• O American Board of Industrial Hygiene (ABIH) é organizado pela
1960
AIHA e pela ACGIH.
• OSHA - Occupational Safety and Health Act - lei maior de
1970
prevenção, é promulgada.

o
eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
23
Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

2.1.2 Outros pontos históricos de desenvolvimento da higiene industrial


• Um estudo de trabalhadores siderúrgicos mostrou a incidência de câncer de rim
nos trabalhadores de coqueria. A denominação Coal Tar Pitch Volatiles (CTPV)
foi criada para envolver o risco a ser controlado. O excesso de mortalidade dos
coqueiristas levou à criação de lei específica para fornos de coque;

Quadro 2.1. Amianto

• O segundo maior estudo epidemiológico focou-se no amianto, cujos

dados de doenças começaram a se acumular a partir de 1906. Em 1938

a USPHS estudou trabalhadores de tecelagens de asbestos e

recomendou um limite tentativa para a indústria têxtil de 5 milhões de

partículas por pé cúbico, com amostragem através de impinger. Um

limite da OSHA só veio em 1971 (provisório) e 1972 (definitivo), após

estudos na Inglaterra, desde 1940, sobre cânceres bronquiais em

porcentagem acima da população em geral.

Hoje em dia, os esforços da Higiene Ocupacional nos EUA são guiados pela
consideração dos riscos (hazards), mais do que pelas doenças.

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eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
24
Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

2.2 DESENVOLVIMENTOS NA AVALIAÇÃO


• No início, o que havia era a avaliação qualitativa por identificação pelos sentidos
(visão, olfato, paladar). A transição para uma ciência, todavia, requeria algo
mais;
• Em 1917, Harvard desenvolveu um dos primeiros métodos, que era o tubo
detector colorimétrico (dispositivo de indicação colorimétrica) para a avaliação
ambiental de monóxido de carbono;
• Em 1922, Greenber e Smith desenvolveram o impinger. Em 1938, Littlefield e
Schrenk modificaram o projeto e desenvolveram o impinger miniaturizado
(midget impinger). Com uso de bombas manuais, os impingers criaram as
primeiras avaliações ambientais de zona respiratória;
• O filtro de membrana para a avaliação de partículas foi usado pela primeira vez
em 1953, permitindo a avaliação em massa/volume, e não em contagem de
partículas;
• Em 1970 houve uma revolução na avaliação, com o desenvolvimento, pelo
NIOSH, do tubo de carvão ativo. Também foi dado suporte financeiro para o
desenvolvimento da bomba de amostragem pessoal a baterias;
• Em 1973 Palme desenvolveu um monitor passivo para dióxido de nitrogênio;
• Começou e desenvolveu-se em paralelo à amostragem, a aplicação de química
analítica à saúde ocupacional. Nos anos 30, artigos descreviam o uso de
cromatografia gasosa para vapores orgânicos;
• Hoje, os higienistas usam absorção atômica, plasma, cromatografia líquida e
outros métodos sofisticados em sua instrumentação.

2.3. PADRÕES E CRITÉRIOS


Quadro 2.2.

• Em 1929, vários higienistas do USPHS recomendaram valores máximos

para poeira de quartzo, baseados em estudos na indústria de granito de

Vermont;

• Em 1939, a primeira lista de valores permissíveis (MACs) é divulgada

pela ACGIH e ASA(ANSI). Essa lista é publicada em obras médicas e

tem 140 substâncias, possuindo também as razões dos valores

adotados;

• Em 1947, a ACGIH inicia a publicação das listas. Em 1948, a

denominação passa a ser a atual, TLVs.

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25
Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

2.4 CONTROLE
• O controle dos riscos necessita da abordagem tecnológica, ou seja, medidas de
engenharia, complementadas por outras administrativas e pessoais;
• O conceito de controle na fonte, no ambiente (trajetória) e no trabalhador foi
introduzido pela primeira vez, de forma abrangente, por Ulrich Ellenborg, em
1473;
• A história da ventilação industrial e da proteção respiratória é de particular
interesse para os higienistas.
• Agricola, em 1561, enfatizou a necessidade de ventilação das minas incluindo
ilustrações de dispositivos para forçar o ar terra abaixo;
• O primeiro projeto de ventilação registrado foi o de D’Arcet no início dos 1800.
Havia um captor em uma fornalha, ligado a uma chaminé alta que tinha uma
forte tiragem (vazão por diferença natural de densidade);
• A lei inglesa das fábricas de 1864 exigia ventilação “suficiente”, mas só em
1867 os inspetores tiveram poder de exigir ventiladores e outros meios
mecânicos;
• Em 1951 a ACGIH publica a primeira edição do “Industrial Ventilation”, a "bíblia"
da ventilação industrial de controle para a higiene ocupacional. Sua importância
nunca poderá ser devidamente enfatizada;
• Quanto à proteção respiratória, nota-se desde Leonardo da Vinci (1452-1519),
com a recomendação de tecidos umedecidos contra os agentes químicos de
guerra;
• Nos 1800, a compreensão das separações entre partículas e gases permitiu
avanços. Em 1814 desenvolveu-se o precursor do filtro de partículas dentro de
um invólucro rígido. A propriedade de adsorção de vapores do carvão ativo foi
descoberta em 1854 e quase imediatamente utilizada em respiradores;
• O maior avanço nos respiradores foi, claro, conseguido na área bélica, devido
aos agentes químicos da 1a Guerra. A pesquisa de máscaras militares foi
intensa, não só de gases como de poeiras tóxicas usados nos campos de
batalha;
• Dentro do controle legal, em 1936, o USPHS recomendava que “todo grande
estado industrial” deveria ter pelo menos um higienista industrial coordenador,
com um salário anual de 6.000 dólares. As qualificações mínimas desse
especialista deveriam ser: graduação em engenharia química, dois anos de
trabalho em higiene industrial, 3 anos de experiência, e, além de um
conhecimento bem abrangente técnico e científico, “a habilidade de estabelecer
contatos com os executivos das fábricas, conseguir sua cooperação, além dos
mestres e supervisores; tato; iniciativa; bom julgamento e bom endereçamento
de questões técnico-administrativas”.

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Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

2.5 OUTROS ASPECTOS


A segunda guerra mundial proveu significativo ímpeto para os programas de
higiene (pois era necessário manter a capacidade produtiva da indústria, que era dirigida
às armas, e operada por grande porcentagem de mulheres). Em 1946, havia 52
programas operando em 41 estados.
Em 1970, com a passagem do Occupational Health and Safety Act (OSHA), como
marco legal, foi também criada a OSHA, onde o "A" final é Administration, dentro do
Departamento do Trabalho, e o NIOSH, dentro do Departamento de Saúde e Serviços
Públicos. Para a OSHA foi a responsabilidade de criar padrões, e o NIOSH o de realizar
pesquisas e recomendar padrões à OSHA.
Os primeiros padrões adotados pela OSHA foram os Walsh-Healey existentes, que
incluíam os TLVs da ACGIH de 1968, menos as 21 substâncias para as quais a ANSI já
tinha padrões. Estes limites são conhecidos por PELs (permissible exposure limit).
Deve-se observar que a OSHA andou perdendo batalhas na Corte Suprema, por
não ser aceito seu arrazoado para a redução de certos limites em termos de custo-
benefício e redução de risco. Isto ocorreu com o benzeno em 1978 ao passar de 10 para
1 ppm.
Os riscos aceitáveis pela Corte Suprema, para morte ao nível de certo PEL, são a
sua redução até que produza um risco de 1 para 1000 durante a vida laboral, para
substâncias químicas, sendo este o nível-objetivo atual.(uma discussão detalhada deste
aspecto existe no documento original citado)

2.6 FORMAÇÃO, EDUCAÇÃO E ASSOCIAÇÕES.


• Embora o primeiro curso de higiene industrial tenha sido lecionado no MIT, a
Harvard University é reconhecida como tendo desenvolvido, em 1922, o
primeiro programa educacional e de pesquisa para uma graduação avançada
em higiene industrial.
• ACGIH - fundada em 1938, com 76 higienistas de 24 estados. Em 1996 possuía
5400 membros.
• A AIHA foi formada em 1939. Havia 160 membros em 1940, e mais de 13.000
em 1996. Possui 93 seções locais nos EUA e em 3 outros países. A revista
(AIHA Journal) apareceu em 1946.
• IOHA - International Occupational Hygiene Association, é uma associação de
associações, da qual faz parte a:
• ABHO - Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais. Fundada em 1995,
congrega os higienistas ocupacionais no país.

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Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

2.7 TESTES
1. Qual foi o divisor de águas para a Higiene e a Medicina Industrial?
a) Factory Act de 1864
b) O livro De Morbis Artificium Diatriba, de Ramazzini
c) Factory Act de 1901
d) Publicações de Agricola
e) n.d.a.

Feedback: item 2.1, sétimo parágrafo

2. Qual alternativa não faz parte da filosofia básica do Higienista Ocupacional?


a) testar riscos
b) reconhecer riscos
c) avaliar riscos
d) antecipar riscos
e) controlar riscos

Feedback: item 2.1, 12º parágrafo

3. Considere as informações abaixo:


I – Hoje em dia, os esforços da Higiene Ocupacional nos EUA são guiados pela
consideração dos riscos, mais do que pelas doenças.
II – Os estudos com relação ao efeito do amianto começaram apenas na década de
50.
III – Câncer de pulmão era a maior causa de mortalidade dentre os coqueiristas.
Qual a alternativa correta?
a) apenas III é verdadeira
b) apenas I é verdadeira
c) apenas II e III são verdadeiras
d) apenas II é verdadeira
e) todas são verdadeiras

Feedback:
I. VERDADEIRO: item 2.1.2., logo após o quadro 2.1.
II. FALSO: Quadro 2.1 (a partir de 1906)
III. FALSO: item 2.1.2., primeiro parágrafo (Câncer de rim)

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Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos

4. Qual foi o equipamento que causou uma revolução na avaliação de problemas


ocupacionais?
a) monitor passivo para dióxido de nitrogênio, desenvolvido por Palme.
b) impinger, desenvolvido por Greenber e Smith.
c) tubo de carvão ativo, desenvolvido pelo NIOSH.
d) impinger miniaturizado, desenvolvido por Littlefield e Schrenk.
e) tubo detector colorimétrico, desenvolvido em Harvard.

Feedback: item 2.2.

5. Qual a relação de riscos aceitáveis pela Corte para a morte ao nível de certo PEL
(permissible exposure limit), durante a vida laboral, para substâncias químicas?
a) 1 para 10
b) 1 para 100
c) 1 para 500
d) 1 para 1000
e) 1 para 10000

Feedback: item 2.5., último parágrafo

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29
Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

CAPÍTULO 3. SITUANDO A HIGIENE OCUPACIONAL.

OBJETIVOS DO ESTUDO

Este capítulo apresenta a conceituação geral da higiene ocupacional e sua forma


de atuação. As etapas de trabalho são detalhadamente explicadas e exemplificadas.
Apresenta os objetivos finais da ação da HO, assim como as principais áreas de
interação da disciplina dentro do universo ocupacional. Dá definições formais da HO, o
conceito de limite de exposição a um agente ambiental e fala das formas de atuação do
higienista ocupacional.
Ao fim do capítulo você estará apto a:

• Conceituar a higiene ocupacional;


• Discorrer sobre as etapas de trabalho da disciplina;
• Reconhecer os agentes ambientais;
• Identificar as áreas de interação e de atuação do higienista ocupacional;
• Enunciar o conceito de limite de exposição a um agente ambiental.

Nota: O conteúdo deste capítulo foi extraído das notas de aula do professor Mário
Fantazzini.

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.1 ESTABELECENDO CONCEITOS INICIAIS E DEFINIÇÕES


3.1.1 CONCEITUAÇÃO GERAL
Vimos o histórico dos acidentes e doenças, sua percepção e prevenção através dos
tempos; vimos também um histórico específico da higiene ocupacional. Está na hora de
estabelecermos alguns pontos. A higiene ocupacional:
• Visa à prevenção da doença ocupacional, através da antecipação,
reconhecimento, avaliação e o controle dos agentes ambientais (esta é a
definição básica atual, havendo variantes), outras definições serão discutidas
mais adiante;
• "Prevenção da doença" deve ser entendida com um sentido mais amplo, pois a
ação deve estar dirigida à prevenção e ao controle das exposições
inadequadas a agentes ambientais (um estágio anterior às alterações de saúde
e à doença instalada);
• Em senso amplo, a atuação da higiene ocupacional prevê uma intervenção
deliberada no ambiente de trabalho, como forma de prevenção da doença.
Sua ação no ambiente é complementada pela atuação da medicina ocupacional,
cujo foco está predominantemente no indivíduo;
• Os agentes ambientais que a higiene ocupacional tradicionalmente considera
são os chamados agentes físicos, químicos e biológicos. Esta consideração
pode ser ampliada, levando em conta outros fatores de stress ocupacional,
como aqueles considerados na Ergonomia, por exemplo (que também podem
causar desconforto e doenças). É evidente que as duas disciplinas se
interfaceiam e sua interação deve ser sinergética antes que antagônica...;
• Os agentes físicos são em última análise alguma forma de energia, liberada
pelas condições dos processos e equipamentos, e que exploram o trabalhador;
sua denominação habitual: Ruído, Vibrações, Calor / Frio (interações térmicas),
Radiações Ionizantes e não Ionizantes, Pressões Anormais;
• Os agentes químicos, mais que por sua característica individual, mas sim por
sua dimensão físico-química, são classificados: gases, vapores,
aerodispersóides (estes últimos são subdivididos ainda em poeiras, fumos,
névoas, neblinas, fibras); podemos entender os agentes químicos como todas
as substâncias puras, compostos ou produtos (misturas) que podem entrar em
contato com o organismo por uma multiplicidade de vias, expondo o trabalhador.
Cada caso tem sua toxicologia específica, sendo também possível agrupá-los
em famílias químicas, quando de importância toxicológica (hidrocarbonetos
aromáticos, por exemplo);
• As “vias de ingresso” ou de contato com o organismo, consideradas
tradicionalmente são a via respiratória (inalação), cutânea (através da pele
intacta) e digestiva (ingestão). A inalação é a de maior importância industrial,
seguida da via dérmica. Estes conceitos serão desenvolvidos plenamente mais
adiante, em conjunto com outras vias atualmente consideradas;
• Os agentes biológicos são representados por todas as classes de
microorganismos patogênicos (algumas vezes adicionados de organismos mais
complexos, como insetos e animais peçonhentos): vírus, bactérias, fungos.

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31
Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

Notar que merecem uma ação bem diversa em relação a dos outros agentes, e
que muitas formas de controle serão específicas;
• Para bem realizar a antecipação, o reconhecimento, a avaliação e o controle
dos agentes ambientais são necessárias múltiplas ciências, tecnologias e
especialidades. Para a avaliação e o controle, é importante a engenharia; na
avaliação, também se exige o domínio dos recursos instrumentais de laboratório
(química analítica); no entendimento da interação dos agentes com o
organismo, a bioquímica, toxicologia e a medicina. A compreensão da
exposição do trabalhador (este termo é fundamental) a certo agente passa pelas
características físicas e/ou químicas dos agentes e o uso dessas ciências
básicas...;
• O reconhecimento é um alerta; a adequada avaliação deve levar a uma
decisão de tolerabilidade; os riscos intoleráveis devem sofrer uma ação de
controle;
• Para se conhecer sobre a intolerabilidade, valores de referência devem existir.
É o conceito dos limites de exposição (legalmente, limites de tolerância);
• O objetivo último da atuação em higiene ocupacional, uma vez que nem
sempre se pode eliminar os riscos dos ambientes de trabalho, é o de se reduzir
a exposição média de longo prazo (parâmetro recomendado de comparação)
de todos os trabalhadores, a todos os agentes ambientais, a valores abaixo do
nível de ação. Veja que começaram a surgir outros conceitos, que devem ser
definidos há seu tempo. Uma exposição estatisticamente definida, a um
processo razoavelmente estável, e que é avaliada e considerada abaixo do nível
de ação, é um objetivo básico na higiene (todavia, todas as exposições devam
ser mantidas tão baixas quanto razoavelmente exeqüível);
• Nem todos os agentes são medidos apenas por sua ação de longo prazo,
sendo também importante as exposições agudas (curto prazo). Pode-se
perceber que devem variar aqui os objetivos e formas de avaliação da
exposição.

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eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.1.2 DETALHANDO ASPECTOS BÁSICOS


3.1.2.1 Antecipar é...
• Trabalhar com equipes de projeto, modificações ou ampliações (ou pelo menos
analisando em momentos adequados o resultado desse trabalho), visando à
detecção precoce de fatores de risco ligados a agentes ambientais, adotando
opções de projeto que favoreçam a sua eliminação ou controle;
• Estabelecer uma "polícia de fronteira" na empresa, rastreando e analisando
todo novo produto químico a ser utilizado (isso inclui as amostras de
vendedores);
• Ditar normativas preventivas para evitar exposições inadvertidas a agentes
ambientais causadas pela má seleção de produtos, materiais e equipamentos,
para compradores, projetistas e contratadores de serviços. Por exemplo, um
dispositivo para espantar roedores de galerias de cabos elétricos parece ótimo,
mas é necessário saber que é um emissor de ultra-som.

3.1.2.2 Reconhecer é...


• Conhecer de novo! Isso significa que se deve ter conhecimento prévio dos
agentes do ambiente de trabalho, ou seja, saber reconhecer os riscos presentes
nos processos, materiais, operações associadas, manutenção, subprodutos,
rejeitos, produto final, insumos,...
• Estudar o processo, atividades e operações associadas e processos auxiliares,
não apenas com os dados existentes na empresa (e inquirindo os técnicos,
projetistas, operadores...), mas também conhecendo a literatura ocupacional
específica a respeito deles, pois mesmo os técnicos dos processos podem
desconhecer os riscos ambientais que os mesmos produzem. Podem omitir
frequentemente, detalhes que não julgam importantes para o higienista,
justamente ligados a um risco. O solícito técnico da máquina empacotadora de
leite longa vida pode lhe dar uma explicação precisa e detalhada do seu
funcionamento, omitindo que a caixinha é selada por radiofreqüência...;
• Transitar e observar incessantemente pelo local de trabalho (não se faz higiene
sem ir a campo), observando o que lhe é mostrado e o que não é. Andar "atrás"
das coisas, em subsolos, casas de máquinas, porões de serviço pode ser
bastante instrutivo e revelador de riscos ambientais (cuidado com os riscos de
acidentes nesses locais).

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.1.2.3 Avaliar é...


• Em forma simples, avaliar é poder emitir um juízo de tolerabilidade sobre uma
exposição a um agente ambiental. Atualmente, a avaliação está inserida dentro
de um processo que se convenciona chamar de Estratégia de Amostragem, o
que é, evidentemente, muito mais que avaliar no sentido instrumental.
• O juízo de tolerabilidade é dado pela comparação da informação de exposição
ambiental (que pode ter vários graus de confiabilidade) com um critério
adequado. O critério é genericamente denominado de "limite de exposição
ambiental", ou limite de exposição (Legalmente falando, "limite de tolerância".
Este conceito será detalhado adiante).

3.1.2.4 Controlar é...


• Adotar medidas de engenharia sobre as fontes e trajetória do agente, atuando
sobre os equipamentos e realizando ações específicas de controle, como
projetos de ventilação industrial;
• Intervir sobre operações, reorientando-as para procedimentos que possam
eliminar ou reduzir a exposição;
• Definir ações de controle no indivíduo, o que inclui, é claro, mas não está
limitado à proteção individual;
• Serão dados mais à frente os elementos gerais de ações de controle em higiene
ocupacional. Em cada matéria, serão dadas ações específicas de controle.

3.2 ÁREAS DE INTERAÇÃO DA HIGIENE OCUPACIONAL.


3.2.1 Medicina ocupacional.
Interação evidente e mais forte, não há como desempenhar qualquer das
disciplinas sem dialogar com o profissional da outra.

3.2.2 Área de gestão ambiental.


Interação importante, pois os mesmos agentes podem extrapolar o âmbito
ocupacional (ambientes onde há trabalhadores expostos), tornando-se um problema de
meio ambiente e comunidade (Exemplos: ruído, contaminantes presentes em resíduos e
emissões).

3.2.3 Ergonomia
Como também é eminentemente multidisciplinar, a ergonomia apresenta várias
interações, pois os mesmos agentes ambientais que significam risco na higiene serão
fatores de desconforto na ergonomia (ruído, calor, iluminação). Não se deseja aqui limitar
a ergonomia à questão do conforto, pois há muitas inadequações ergonômicas que
geram doenças, mas os exemplos dados evidenciam a interdisciplinaridade que existe.

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.3 POR QUE É FUNDAMENTAL AGIR SOBRE O AMBIENTE?


Observe o esquema a seguir. O que fará parar o círculo vicioso ambiente -
exposição - doença?

Quadro 3.1.

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.4 CONCEITOS DA HIGIENE EM ALGUMAS REFERÊNCIAS


• Higiene Ocupacional, Higiene Industrial, Higiene do Trabalho - Os termos são
considerados homônimos, enquanto exprimem a ação da disciplina. Atualmente
se usa Higiene Ocupacional.
• Definição da American Industrial Hygiene Association, que se encontra citada
na Enciclopédia de Segurança e Saúde Ocupacional, da OIT: "Ciência e Arte
devotada ao reconhecimento, avaliação de controle dos fatores e estressores
ambientais, presentes ou oriundos do local de trabalho, os quais podem causar
doença, degradação da saúde ou bem estar, ou desconforto significativo e
ineficiência entre os trabalhadores ou cidadãos de uma comunidade". O autor
do verbete na Enciclopédia, C. M. Berry, diz ainda que atualmente a definição
não descreva adequadamente a disciplina, e que é importante adicionar o termo
"antecipação", como vimos atrás. Expõe ainda que a preocupação deva se
estender à família do trabalhador, citando os casos do berílio e dos asbestos.
• A definição do American Board of Industrial Hygiene é semelhante: "Ciência e
prática devotada à antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos
fatores e estressores ambientais presentes ou oriundos do local de trabalho que
podem causar doença, degradação da saúde ou do bem estar, ou desconforto
significativo entre trabalhadores e podem ainda impactar a comunidade em
geral" (atenção: ambas são traduções livres; convém sempre ler os originais,
até porque há muito de instrutivo nessas leituras para o higienista).

3.5 O CONCEITO DO LIMITE DE TOLERÂNCIA / LIMITE DE EXPOSIÇÃO


3.5.1 Exercício de construção do CONCEITO
Vamos por aproximações sucessivas, e ao mesmo tempo discutindo e construindo
o conceito, com aspectos associados:
• um valor abaixo do qual não haverá doenças ? (seria muito grosseiro e
pretensioso);
• um valor abaixo do qual há razoável segurança contra o desencadeamento das
doenças causadas por um agente ambiental? (melhorou, mas ainda falta muito);
• Um valor abaixo do qual há razoável segurança para a maioria dos expostos
contra o desencadeamento de doenças causadas por um agente ambiental
(esta adição é fundamental);
• Vamos intercalar aqui a definição da ACGIH (American Conference of
Governmental Industrial Hygienists - veja também o item sobre Associações e
Entidades em Higiene Ocupacional):..."Os limites de exposição referem-se a
concentrações de substâncias químicas dispersas no ar (assim como a
intensidades de agentes físicos de natureza acústica, eletromagnética,
ergonômica, mecânica e térmica) e representam condições às quais se
acredita a maioria dos trabalhadores possa estar exposta, repetidamente,
dia após dia, sem sofrer efeitos adversos à saúde." ;
• A definição acima é completa, mas não diz tudo (porque há muitas
considerações associadas, que não cabem numa definição...). Dessa forma, é
preciso alertar para:

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36
Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

• A "maioria" implica numa "minoria", ou seja, pessoas que não estarão


necessariamente protegidas ao nível do LE ou mesmo abaixo do mesmo,
podem ser pessoas hipersuscetíveis pela própria natureza da variabilidade
individual (todo critério tem um ponto de corte; até recentemente, o LE para
ruído da ACGIH pretendia a proteção de 90% dos expostos), ou por fatores de
hipersusceptibilidade específica, como é o caso dos albinos em relação à
radiação ultravioleta;
• É preciso conhecer quais os efeitos que o LE pretende evitar. Muitas vezes,
não se evitarão todos os efeitos. No caso do ruído, trata-se apenas da perda
auditiva induzida, embora se saiba que há outros efeitos à saúde. Muitas
vezes, é difícil modelizar tais efeitos para fins de um limite, pois há grande
variabilidade individual; outras vezes, simplesmente não há relação dose -
resposta, como no caso de carcinogênicos ( o LE para asbestos pode protegê-lo
da fibrose pulmonar, mas não dos cânceres, cuja relação é estocástica, uma
chance dependente do nível de exposição - já fica aqui a mensagem para evitar
toda exposição ao dito cujo);
• É preciso conhecer qual a base de tempo do LE, sobre o qual se estabelece a
média ponderada de exposição (esta já é uma questão de avaliação); pode ser
de 6 minutos, como ocorre com radiofreqüência, uma hora para exposição ao
calor, e mais freqüentemente 8 horas, ou a jornada, para a maioria dos casos;
• É preciso lembrar que o limite de exposição representa a melhor abordagem
disponível, dentro de certos critérios, a respeito do conhecimento acerca do
agente ambiental, em termos correntes, ou seja, é um conceito sujeito a
contínua evolução, mas apenas o que se conhece na atualidade de sua
emissão. Freqüentemente os LE são rebaixados, e raramente aumentados (ou
seja, houve alguma superestimação do risco);
• Os LE no contexto técnico-legal são chamados de Limites de Tolerância e são
abordados na LEI 6514/77 e nas Normas Regulamentadoras (NR’s). É claro
que, neste caso, muitas considerações técnicas complementares não podem
ser enunciadas. O uso do LT está associado à caracterização ou não da
insalubridade associada a um agente ambiental e ao pagamento do respectivo
adicional.

o
eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
37
Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

1
3.6 INTRODUÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS
Esta seção apresenta os Limites de Exposição (TLVs) para a exposição
ocupacional a agentes físicos de natureza acústica, eletromagnética, ergonômica,
mecânica e térmica. Assim como outros TLVs, estes limites para agentes físicos
fornecem um guia de dos níveis de exposição e das condições sob as quais, acredita-se,
quase todos os trabalhadores saudáveis possam estar repetidamente expostos,
diariamente, sem sofrer efeitos adversos à saúde.
Os órgãos-alvos e os efeitos à saúde dos agentes físicos variam grandemente em
função da natureza desses agentes; assim, os TLVs não são simples números, mas sim
uma integração dos parâmetros medidos do agente, seus efeitos em trabalhadores, ou
ambos. Devido aos muitos tipos de agentes físicos, é utilizada uma variedade de
disciplinas científicas, de técnicas de detecção e de instrumentação. Portanto é
especialmente importante que os TLVs para agentes físicos sejam aplicados apenas por
indivíduos adequadamente treinados e experientes nas correspondentes técnicas de
avaliação e medição. Dada a inevitável complexidade de alguns destes TLVs, a
Documentação mais recente dos TLVs para Agentes Físicos deve ser consultada quando
eles forem aplicados.
Por causa das grandes variações na susceptibilidade individual, a exposição de um
indivíduo aos níveis estabelecidos como TLV, ou mesmo abaixo desses níveis pode
resultar em distúrbio, agravamento de condições pré-existentes, ou mesmo,
ocasionalmente, em danos físicos. Certos indivíduos podem também ser hipersuscetíveis
ou incomumente reativos a certos agentes físicos do local de trabalho devido a uma
variedade de fatores tais como: predisposição genética, idade, hábitos pessoais (fumo,
álcool, ou outras drogas), medicação, ou exposições prévias ou concomitantes. Tais
trabalhadores podem não estar adequadamente protegidos dos efeitos adversos
decorrentes das exposições a certos agentes físicos em nível ou mesmo abaixo do limite
de exposição. Um médico do trabalho deve avaliar a extensão da proteção adicional
requerida para tais trabalhadores.
Os limites de exposição são baseados em informações disponíveis da experiência
industrial, estudos experimentais com animais e seres humanos, e quando possível, da
combinação dos três, como citado em suas respectivas documentações.
Como todos os TLVs, estes limites destinam-se ao uso na prática de higiene
ocupacional e deveriam ser interpretados e aplicados apenas por pessoa treinada na
disciplina. Eles não se destinam ao uso, ou por modificação para o uso: 1) na avaliação e
controle dos níveis de agentes físicos na comunidade ou 2) como prova ou refutação de
uma incapacidade física existente.

1
Texto extraído do livreto da ACGIH

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.7 MEDIDAS GENÉRICAS DE CONTROLE DE AGENTES AMBIENTAIS


A prática tem demonstrado a efetividade de uma série de medidas que, em
conjunto ou individualmente, podem ser de serventia na redução dos riscos ao que estão
expostos os trabalhadores. Podem ser separadas em duas classes distintas: medidas
relativas ao ambiente, nas quais o controle dos agentes é feito nas fontes (máquinas,
processos, produtos, operações) e na trajetória desses agentes até o trabalhador; e
medidas relativas ao trabalhador que é o receptor involuntário desses agentes.

Quadro 3.2. Medidas Relativas ao Ambiente.

As medidas relativas ao Ambiente são: a) Substituição do Produto Tóxico ou

Nocivo; b) Mudança ou Alteração do Processo ou Operação; c) Encerramento ou

Enclausuramento da Operação; d) Segregação da Operação ou Processo; e) Ventilação

Geral Diluidora; f) Ventilação Local Exaustora; g) Manutenção.

Quadro 3.3. Medidas Relativas ao Pessoal.

As medidas relativas ao Pessoal são:

a) Equipamento de Proteção Individual;

b) Educação e Treinamento;

c) Controle Médico;

d) Limitação de Exposição.

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eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.7.1 Medidas Relativas ao Ambiente


3.7.1.1 Substituição do Produto Tóxico ou Nocivo
A substituição de um material tóxico não é sempre possível; entretanto, quando o é,
representa a maneira mais segura de eliminar ou reduzir um risco.
Entre os numerosos exemplos que podem ser citados no emprego deste método,
está a troca do chumbo por óxido de titânio e zircônio, e por sais de zinco, em esmaltes
vitrificados e pinturas. Como é sabido, o chumbo era usado como constituinte em
esmaltes vitrificados, e tendo a propriedade de solubilizar-se em soluções cítricas
(limonada) ou acéticas (vinagre), teve de ser substituído na fabricação de artigos de louça
para uso doméstico. Nas pinturas, a substituição teve de dar-se notadamente na
fabricação de brinquedos e tintas domiciliares.
Também é um bom exemplo a substituição do quartzo granulado que é usado na
limpeza de peças metálicas, em jato sob pressão, por granalha de aço, o que reduz de
forma considerável o risco de silicoses (quando não se tratam de peças fundidas em
areia, é bom frisar).
De maneira análoga, foram substituídos os sais de mercúrio, usados no tratamento
dos pelos de animais, na fabricação de chapéus de feltro, por uma mistura de água
oxigenada e sulfato de sódio.

3.7.1.2 Mudança ou Alteração do Processo ou Operação


Uma mudança de processos oferece em geral oportunidades para a melhoria das
condições de trabalho. Naturalmente, a maioria das mudanças ou alterações é feita no
sentido da redução de custos e aumento de produção, e só ocasionalmente favorecem o
ambiente. Entretanto, deve o profissional de segurança saber tirar partido dessas
mudanças, orientando-as de maneira a conseguir também os seus objetivos e lutando
por alterações específicas que visem o ambiente de trabalho. Entre as operações, cujos
riscos essas medidas eliminam ou reduzem significativamente, podemos citar as
seguintes:
• utilização de pintura por imersão ao invés de pintura a pistola;
• processos úmidos no lugar de operações “a seco”, para o controle de
suspensões de partículas;
• mecanização e automatização de processos, como o ensacamento de pós e a
mecanização do empastamento de placas de baterias.

3.7.1.3 Encerramento ou Enclausuramento da Operação


Esta medida, como se auto-explica através da designação, consiste no
confinamento da operação, objetivando-se, assim, impedir a dispersão do contaminante
por todo o ambiente de trabalho. Como exemplo, pode-se citar: as câmaras de
jateamento abrasivo, e o manuseio de solventes altamente tóxicos.
Quando o operador não está incluído no enclausuramento, e só tem acesso à
operação através de aberturas especiais, temos as chamadas “Glove Boxes” (caixas com
luvas). As caixas, que envolvem a operação, são de materiais transparentes ou dotados
de visores, e as aberturas de manuseio “vestem” luvas impermeáveis no operador,
isolando totalmente o processo. São exemplos: o esmerilhado e gravação de cristais,
caixas de jateamento abrasivo, certos processos da indústria química.

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.7.1.4 Segregação da Operação ou Processo


A segregação ou isolamento é particularmente útil para operações limitadas que
requerem um número reduzido de trabalhadores, ou onde o controle por qualquer outro
método é muito dificultoso. A tarefa é isolada do restante das operações e, portanto, a
maioria dos trabalhadores não é exposta ao risco específico; aqueles que realmente
estão envolvidos na operação receberão proteção individual especial e/ou coletiva,
tornada economicamente viável pela própria ação de segregação.
A segregação pode ser feita no espaço ou no tempo. Segregação no espaço
significa isolar o processo à distância; segregação no tempo significa executar uma tarefa
fora do horário normal, reduzindo igualmente o número de expostos.
Exemplos: Setores de jateamento de areia na indústria em geral e na construção
naval (segregação no espaço); manutenção e reparos que envolvem altos riscos
(segregação no tempo).

3.7.1.5 Ventilação Geral Diluidora


O propósito que se tem em vista, ao instalar-se um sistema de ventilação geral em
um ambiente de trabalho, é o de rebaixar a concentração de contaminantes ambientais a
níveis aceitáveis mediante a introdução de grandes volumes de ar, efetuando-se a
diluição dos mesmos. Deve-se lembrar que não se recomenda o seu uso nos casos em
que o contaminante é disperso próximo à zona respiratória do trabalhador, pois seu efeito
é nulo do ponto de vista da Higiene Industrial.
A renovação do ar pode-se dar positivamente (insuflamento) ou negativamente
(exaustão), e a decisão deve basear-se na possibilidade de que haja escape de ar
contaminado a outros recintos adjacentes.
O volume de ar envolvido deve relacionar-se com o volume de contaminante
gerado na unidade de tempo, e não como se costuma fazer na ventilação de conforto, no
volume do recinto (trocas de ar por hora). Em geral aqueles volumes são bastante
superiores, podendo causar estranheza a profissionais das áreas de ventilação e ar
condicionado, normalmente não envolvido em higiene industrial.
Do ponto de vista econômico, a ventilação geral apresenta o inconveniente de
requerer volumes de ar muito altos, quando se trata de diluir contaminantes de alta
toxicidade; assim, para diluirmos os vapores produzidos por um kg de benzeno a valores
aceitáveis, são necessários milhares de m3 de ar; se o mesmo tivesse que ser feito para
a nafta solvente, seriam necessárias apenas poucas centenas de m3 de ar.
Outras aplicações da Ventilação Geral Diluidora, em Higiene Industrial, estão
relacionadas principalmente com calor.

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.7.1.6 Ventilação Local Exaustora.


A ventilação local exaustora é dos sistemas mais eficazes para se prevenir a
contaminação do ar na indústria. O princípio em que se baseia é o de capturar o
contaminante no seu ponto de origem (ato contínuo à sua geração), antes que o mesmo
atinja a zona respiratória do trabalhador, usando para isto, a menor quantidade de ar
possível. O contaminante assim capturado é levado por tubulações ao exterior, ou ao
sistema de coleta do contaminante. Um sistema de ventilação local exaustora
compreende várias partes básicas. A primeira delas é a tomada de ar ou captor, que
deve ter a forma mais adequada de adaptação à máquina ou processo que gera o
contaminante. Em geral se desconhecem características intrínsecas de sistemas de
sucção, tais como a de que as Superfícies Isométricas de captura têm seu poder
drasticamente reduzido ao afastar-nos da boca da tubulação. Assim, para uma boca
cilíndrica, a uma distância da mesma igual ao seu diâmetro, a velocidade do ar
ingressante é de apenas 7% da velocidade na boca. Do exposto se deduz que a tomada
de ar deve estar tão acercada quanto possível da fonte de produção de contaminante.
A parte seguinte do sistema compõe-se das tubulações ou condutos, através dos
quais circula o ar aspirado. A velocidade do ar nos mesmos deve ser calculada de modo
que o contaminante não se deposite no seu interior por sedimentação.
Quando o contaminante é tóxico e a sua dispersão na atmosfera pode contaminar
outras áreas de trabalho ou a vizinhança, ou, ainda, quando o mesmo possuir alto valor
intrínseco, o sistema deve incluir um dispositivo de coleta, localizado num ponto do
sistema antes que o ar evacuado seja lançado na atmosfera. Os sistemas existentes de
uso mais generalizado são os ciclones, câmaras de sedimentação, filtro de mangas,
precipitadores eletrostáticos, processos úmidos, lavadores, entre outros, e seu uso e
escolha dependem de parâmetros como: granulometria do material, vazão a manipular,
molhabilidade, toxicidade, explosividade, ação corrosiva do contaminante, etc.
Outro elemento constituinte dos sistemas de ventilação é, obviamente, o ventilador,
o qual é colocado em geral, mas não necessariamente, após o sistema coletor. A razão
dessa forma de instalação, é que desse modo todo o sistema se encontrará em pressão
negativa, evitando a fuga de ar contaminado ou semi-contaminado à atmosfera. Esse
arranjo também é favorável, quando o contaminante tem ação erosiva ou corrosiva, o que
poderia diminuir sensivelmente a vida útil do ventilador.
Logo depois de instalados, os sistemas de ventilação devem ser verificados quanto
à operação, observando-se as especificações de projeto, como, vazões, velocidades nos
dutos, pressões negativas, entre outras. Os parâmetros de operação devem ser
verificados periodicamente como medida usual de manutenção.

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.7.1.7 Manutenção
Rigorosamente, não se pode considerar este como um método de prevenção no
sentido estrito da palavra, mas constitui parte e complemento especialmente importante
de qualquer dos anteriores, não só quando se trata dos equipamentos de controle de
riscos ambientais, mas também de equipamentos e instalações em geral na empresa.
É freqüente, devido ao pouco conhecimento do industrial de seus problemas
ambientais, que a ação das medidas adotadas se esterilize com o tempo, por falta de
uma manutenção adequada. Programas e cronogramas de manutenção devem ser
seguidos à risca, respeitando-se os prazos propostos pelos fabricantes e projetistas de
equipamentos.

3.7.1.8 Ordem e Limpeza


Boas condições de ordem e limpeza, e asseio geral ocupam uma posição chave
num sistema de proteção ocupacional. Basicamente, é mais uma ferramenta a
adicionarem-se aquelas já listadas na prevenção de dispersão de contaminantes
perigosos.
O pó em bancadas, parapeitos, rodapés e chão, sedimentado nas horas calmas e
ao longo do tempo, pode prontamente ser redispersado na atmosfera do recinto pelo
trânsito de pessoas e equipamentos, vibrações e correntes aleatórias. O asseio é sempre
importante; onde há materiais tóxicos, é primordial. A limpeza imediata de quaisquer
derramamentos de produtos tóxicos é importante medida de controle. Um programa de
limpeza periódica, usando-se aspiração a vácuo, seja por aspiradores industriais, seja
por linhas de vácuo, é o único meio realmente efetivo, para se remover pó e partículas da
área de trabalho. Nunca o pó deve ser soprado, com bicos de ar comprimido, para
“efeito” de limpeza. Nos casos de pós de sílica, chumbo e compostos de mercúrio, estas
são medidas essenciais. Igualmente, no uso, manuseio e estocagem de solventes, o
asseio deve incluir limpeza imediata de respingos ou vazamentos, por pessoal que use
equipamentos de proteção pessoal, e o material empregado, como, panos, trapos, papel
absorvente, devem ser dispostos em recipientes herméticos e removidos diariamente da
planta.
É impossível manter-se um programa efetivo de saúde ocupacional, sem que se
assuma a constante preocupação com os aspectos totais de ordem e limpeza.

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.7.2 Medidas Relativas ao Pessoal


3.7.2.1 Equipamento de Proteção Individual
Os equipamentos de proteção individual devem ser sempre considerados como
uma segunda linha de defesa, após criteriosas considerações sobre todas as possíveis
medidas de controle relativas ao ambiente, que possam eventualmente ser tomadas e
aplicadas prioritariamente.
Entretanto, há situações especiais, como já foi notado, nas quais as medidas de
controles ambientais são inaplicáveis total ou parcialmente; nesses casos, a única forma
de proteger o pessoal será dotá-lo de equipamentos de proteção individual.
O uso correto dos EPIs, por parte dos trabalhadores, assim como as limitações de
proteção que eles oferecem, são aspectos que o pessoal deve conhecer através de
treinamento específico, coordenado pelo Engenheiro de Segurança.

3.7.2.2 Educação e Treinamento


As ações de educação e treinamento, principalmente aquelas dirigidas à Segurança
e Higiene do Trabalho, devem ter lugar sempre independentemente da utilização de
outras medidas de controle, sendo na realidade importante complementação a qualquer
uma. Tais ações, que devem ser conduzidas e coordenadas pelo Engenheiro de
Segurança da empresa, devem incluir, entre outros itens, a conscientização do
trabalhador, quanto aos riscos inerentes às operações, aos riscos ambientais, e às
formas operacionais adequadas que garantam a efetividade das medidas de controle
adotadas, além do treinamento em procedimentos de emergência, noções de primeiros
socorros e medidas de urgência adequadas a cada ambiente de trabalho específico, que
serão desenvolvidas com a participação do médico do trabalho.

3.7.2.3 Controle Médico


Exames médicos pré-admissionais e periódicos constituem medidas fundamentais,
de caráter permanente e se situam entre as principais atividades dos serviços médicos de
empresa. Os exames pré-admissionais apresentam características importantíssimas de
seleção ocupacional, podendo se comparar aspectos desejados e não desejados. De
acordo com a função ou atividade específica do trabalhador na empresa, cotejam-se
aspectos operacionais, de compleição, de habilidade e de destreza, de atenção e
percepção, de susceptibilidade individual, alergênicos, etc., com os requerimentos e os
fatores de risco de tais funções ou atividades. As características devem ser ditadas pelo
médico, assessorado de dados técnicos específicos.
Os exames médicos periódicos dos trabalhadores possibilitam, além de um controle
de saúde geral do pessoal, a detecção de fatores que podem levar a uma doença
profissional, assim como serão uma forma de avaliar a efetividade dos métodos de
controle empregados. Outros exames importantes são aqueles necessários à mudança
de função; ao retorno ao trabalho após tempo dilatado de afastamento e o exame
demissional.

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.7.2.4 Limitação da Exposição


A redução dos períodos de trabalho torna-se importante medida de controle onde
todas as outras medidas possíveis forem inefetivas, impraticáveis (técnica, física ou
economicamente) ou insuficientes no controle de um agente, por não se lograr, desse
modo, a eliminação ou redução do risco a níveis seguros. Assim, a limitação de
exposição ao risco, dentro de critérios técnicos bem definidos, pode tornar-se uma
solução efetiva e econômica em muitos casos críticos.
São exemplos típicos desse procedimento, o controle de exposições ao calor
intenso, a pressões anormais, ao ruído e às radiações ionizantes.

3.8 ENTIDADES E ASSOCIAÇÕES DA ÁREA


Destacam-se as associações higienistas estrangeiras, como a ACGIH (American
Conference of Governmental Industrial Hygienists) e a AIHA (American Industrial
Hygiene Association), uma internacional , a IOHA (International Occupational Hygiene
Association), que é uma associação de associações, e nacionalmente, a ABHO
(Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais).
As entidades a se destacar são o NIOSH (National Institute of Occupational Safety
and Health) norte-americano, governamental, e seu homólogo nacional (conceitualmente
falando), que é a Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho). Também são especialmente importantes as entidades do
Canadá, França e Espanha (neste último caso, pela maior facilidade quanto ao idioma).

3.9 ATUAÇÃO DO HIGIENISTA OCUPACIONAL


As diferentes oportunidades de atuação do higienista ocupacional podem ser
enumeradas:
• Nas empresas, exercendo a sua função básica e fundamental na Higiene
Ocupacional, desenvolvendo programas de prevenção segundo normativas
corporativas (quando existem...), ou o PPRA da NR-9 (obrigação legal). O
desenvolvimento de um programa de higiene ocupacional completo e adequado
é tarefa técnica absorvente e exigirá dedicação exclusiva, muito estudo, e
também empenho, criatividade e diplomacia na obtenção de apoio e recursos
dentro da empresa;
• Em órgãos públicos e entidades da área, na pesquisa e desenvolvimento, como
na Fundacentro, ou na área de Saúde, ou ainda nos órgãos de fiscalização
como as Delegacias Regionais do Trabalho;
• No assessoramento de entidades de classe, patronais ou de trabalhadores, em
questões ocupacionais (sindicatos, federações ou confederações);
• Na docência de temas ocupacionais ligados à higiene, na formação de
profissionais ocupacionais (cursos abertos ou do sistema educacional formal);
• Quando engenheiros de segurança ou médicos do trabalho, na área pericial
ocupacional, gerando laudos e pareceres em questões judiciais trabalhistas ou
providenciárias (laudos de insalubridade).

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.10 O HIGIENISTA E AS QUESTÕES TÉCNICO-LEGAIS


Quadro 3.4. Insira aqui as Questões Técnico – Legais do Higienista

O profissional ocupacional estará mais que muitos outros técnicos, sempre

atuando num contexto técnico-legal. Os dois grandes ambientes, inter-relacionados,

mas não necessariamente coerentes do ponto de vista das determinações e critérios,

são o trabalhista e o previdenciário. As ações adequadas do ponto de vista técnico

sempre serão subsídios ao atendimento legal, mas, ao contrário, o simples atendimento

legal não implica necessariamente numa adequação total da ação técnica de prevenção

e controle das exposições ocupacionais. A lei, é claro, pede o mínimo, nem sempre o

suficiente, e muitas vezes não foca as causas ou privilegia a prevenção. É bom lembrar.

3.11 A HIGIENE OCUPACIONAL, SUAS “ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO” E AS


FORMAÇÕES PROFISSIONAIS.
Esta questão pode ser colocada sob vários ângulos ou formas de subdivisão de
atuação:
• A higiene de campo, ou tudo o que significa o reconhecimento e a avaliação da
exposição ocupacional, ou seja, o domínio de equipamentos de campo e as
metodologias de amostragem;
• A higiene analítica, ou seja, o trabalho de química analítica associado ao
condicionamento e análise de amostras de campo. São várias as técnicas e
equipamentos necessários dado à multiplicidade de substâncias puras,
compostos e produtos a serem analisados. Desde a simples gravimetria
(pesagem) até o uso de cromatografia gasosa e líquida, espectrofotometria,
plasmas acoplados, difratometria de raios X, serão necessários, com aplicação
específica em higiene ocupacional. As metodologias para isso são em sua
maioria conhecidas e na área é importante o trabalho do NIOSH norte-
americano, que as padronizou. Muitas vezes, é necessário desenvolver novas
metodologias analíticas, quando não há uma referência anterior para um dado
agente;
• A higiene do controle, que é frequentemente a ação direta de tecnologia de
engenharia, na ventilação industrial, nas alterações de processos, na criação de

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

dispositivos que reduzam a exposição aos agentes ambientais. Especialmente


importante é a ação de controle de ruído, que requer especialidade em
engenharia mecânica e acústica aplicada;
• Além disso, a Higiene é suficientemente ampla para requerer dedicação e
especialidades profissionais diferenciadas quanto aos distintos agentes
ambientais:
• Os agentes físicos estarão mais bem compreendidos e gerenciados pelos
profissionais da engenharia e da física; somente a área de radiações ionizantes,
por exemplo, requer aprofundamento e qualificação própria (normatizados pela
CNEN); as radiações não ionizantes representam um campo vasto que requer
conhecimentos de eletromagnetismo, campos e conceitos afins; o ruído e as
vibrações terão na física e na engenharia mecânica melhor suporte e
compreensão;
• Os agentes químicos, por sua vez, eram melhor compreendidos e gerenciados
(antecipação, reconhecimento, avaliação e controle) por químicos e
engenheiros químicos.
É claro que não se exclui que outros profissionais venham a atuar com eficiência e
eficácia nos temas comentados, superando as deficiências de suas formações básicas
com estudo e inteligência; todavia, na hora de atuar haverá uma natural aproximação de
cada um com os temas de maior facilidade de familiaridade.
Por fim, mas não por último, é fundamental lembrar de toda a área de interface que
existe entre a higiene e os efeitos à saúde dos expostos (afinal, a higiene ocupacional é a
ação abrangente sobre a situação de trabalho, para a prevenção da doença
ocupacional). Estes higienistas especiais, capazes de dialogar com as questões
biológicas, serão os toxicologistas, farmacêuticos, bioquímicos, biólogos e médicos.
Tudo para lembrar que, se a disciplina nasceu e se desenvolveu requerendo
recursos multiprofissionais e especialidades; é natural que essas especificidades se
reflitam na atuação dos higienistas. Eles deverão ser generalistas e capazes de assumir
a lida cotidiana das questões básicas, mas deverão ter a humildade e a percepção para
buscar especialidades quando requeridas (especialmente no controle dos riscos).

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.12 TEXTO COMPLEMENTAR *

O QUE É HIGIENE OCUPACIONAL?

Esta ciência trata da saúde do trabalhador, e utiliza estratégias para avaliação da


exposição a contaminantes atmosféricos que oferecem riscos ocupacionais. Sendo assim
tão específica, os higienistas não deveriam, por exemplo, objetivar unicamente a
caracterização de insalubridade ou o estabelecimento de benefícios sociais. Estes são
detalhes legais necessários, mas não específicos da higiene.
O método de trabalho Ocupacional inclui as seguintes etapas: antecipação do risco,
a identificação de riscos potenciais antes que venham a tornar-se um risco real;
identificação do risco, com estabelecimento da relação dose-resposta; avaliação da
exposição com caracterização do risco; e controle dos mesmos, com implantação de
mecanismos corretivos ou prevencionistas.
É preciso considerar que o progresso gerado pelo trabalho nem sempre precisa
estar associado com prejuízo para a saúde do trabalhador, pois os riscos ocupacionais
podem e devem ser controlados pela atividade do higienista ocupacional, quase sempre
através da implantação de programas prevencionistas de natureza Multidisciplinar.
Portanto, a importância do higienista ultrapassa os limites do ambiente de trabalho,
sendo que suas ações reduzem impactos ao meio-ambiente em geral.
O ideal seria que houvesse antecipação dos riscos, como objetivo de identificar as
fontes dos mesmos, a fim de evitá-los antes que os locais de trabalho fossem
construídos, os equipamentos instalados e os processos operacionais planejados.
Porém, como não vivemos em um mundo ideal, os riscos existem. A identificação dos
mesmos é etapa fundamental da metodologia de trabalho, e compreende o
reconhecimento de riscos de natureza física, química ou biológica. Em alguns casos,
existem “riscos escondidos”, que também devem ser criteriosamente investigados.
O reconhecimento dos riscos requer, pelo menos, dois tipos básicos de ação: a
coleta de informações e a visita ao local de trabalho, embora nem sempre o
conhecimento dos efeitos nocivos de um agente de risco seja suficiente para o
estabelecimento de ações posteriores. Por exemplo: “tóxico” nem sempre oferece risco,
cujo grau depende das condições da exposição, como o tipo de equipamento, a fonte dos
contaminantes, o estabelecimento dos valores máximos de concentração, as
propriedades dos materiais, a descrição das tarefas dos trabalhadores expostos, o tempo
e a tipologia da exposição etc.
Já a avaliação da exposição determina se a ação preventiva é necessária, se as
medidas de controle são eficientes, se certo agente causa risco e qual a dose realmente
recebida pelo trabalhador. As principais propriedades a serem avaliadas dependem,
como já visto, do tipo de agente, como a sua capacidade toxicológica e as suas
características físico-químicas.

*
O artigo de Berenice Goelzer, “Estratégia para avaliação da exposição ocupacional a contaminantes
atmosféricos nos ambientes de trabalho” – Programa de Saúde Ocupacional Organização Mundial de Saúde
adaptado para a ABHO e revisado por José Manoel Osvaldo Gana Soto.

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

O grau de exposição é determinado a partir da concentração do agente no ar, da


duração da exposição e da possibilidade de entrada no organismo (via respiratória, pele,
ingestão).
Reconhecido o agente prejudicial e avaliado o grau de exposição, é necessário
interpretar os resultados com base em normas ou regulamentos adotados, como os
“limites de exposição ocupacional”, também denominados “limites de tolerância” ou
“concentrações máximas permitidas”.
Os limites de exposição ocupacional podem ser expressos por “concentração
média ponderada em função do tempo” (muitas vezes inadequado) ou por “limites para
exposições curtas”. Quinze minutos de exposição podem ser fatais, pelo risco oferecido
por um determinado agente, e insignificante para outro tipo de agente. Mas a
concentração de teto é um limite que não deve ser ultrapassado nunca. A estratégia de
amostragem é pouco fundamental para que se obtenha resultado adequado de análise
(cf. artigo “Como escolher laboratório de higiene ocupacional”, publicado no ABHO
Atualidades Julho-Agosto 2000, disponível também no site www.abho.com.br).
O controle de riscos depende, portanto, do trabalho multidisciplinar, incluindo as
medidas ambientais de engenharia. Uma medida de engenharia pode alterar
permanentemente o ambiente de trabalho, a maquinaria e os equipamentos, que devem
ser adequados na qualidade e na quantidade.
A referência ao trabalho multidisciplinar é justificada pelo fato de haver necessidade
de trabalho de equipe integrado. Pelo menos 20 especialidades são indicadas pela
ACGIH. Afinal, além do método de trabalho adotado pelo higienista, a manutenção da
saúde do trabalhador requer outras medidas, partes integrantes das estratégias de
controle, e que incluem medidas administrativas, como limitação do tempo de exposição
a agentes de alto risco, rotação de trabalhadores, educação ambiental de EPIs, sendo
que estes são a última opção para o controle.
Monitoração ambiental também é estratégia de controle, assim como exames
médicos periódicos, planejamento de descarte de resíduos industriais etc.
É certo que a multiplicidade dos fatores de risco exige planejamento minucioso da
atuação da “equipe de higiene ocupacional”, pois atividades isoladas (ex.: avaliação de
um contaminante atmosférico ou um projeto para ventilação industrial) são um lado de
ação, mas é preciso considerar os múltiplos aspectos que envolvem a saúde de uma
coletividade.

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eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

HIGIENE OCUPACIONAL, INDUSTRIAL OU DO TRABALHO?

Os termos acima coexistem, havendo alguma dificuldade para o estabelecimento


de adequada denominação. Observe:
Higiene Industrial pode ser definida como a que “visa antecipar e reconhecer
situações potencialmente perigosas e aplicar medidas de controle de engenharia, antes
que agressões sérias à saúde do trabalhador sejam observadas” (Frank Patty, 1948).
Também pode ser definida segundo critérios da ACGIH, como “a ciência e a arte
devotada ao reconhecimento, avaliação e controle dos fatores ambientais e estresse
originados do ou no local de trabalho, que podem causar doença, comprometimento à
saúde e bem-estar, ou significante desconforto e ineficiência entre os trabalhadores, ou
membros de uma comunidade”.
A denominação Higiene Industrial recebe influência de autores americanos,
enquanto que Higiene do Trabalho tem sido menos usual. Para a Língua Portuguesa,
Higiene Ocupacional tem sido a denominação mais adequada, e também aceita pela
OMS - Organização Mundial de Saúde.

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eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

3.13 TESTES
1. O texto sobre a conceituação e evolução da higiene ocupacional, de Vernon
Rose, expõe que:
a) a ação da higiene está baseada no reconhecimento da doença associada ao
trabalho e ao acionamento do médico.
b) a ação da higiene reside numa alteração deliberada do ambiente de trabalho
visando a prevenção da doença.
c) a ação da higiene reside no tratamento das doenças do trabalho e de saúde
pública.
d) n.d.a.

Feedback: item 3.1.1.

2. Assinale abaixo quais as afirmações são consistentes com o conceito de limite


de exposição (mais de uma alternativa pode ser correta):
a) é um valor que assegura a inexistência de efeitos nocivos à saúde.
b) é um valor que protege a maioria dos expostos.
c) é um valor que protege de todos os efeitos causados por um agente ambiental.
d) é um valor absoluto e imutável.
e) é um valor para exposições repetitivas e cotidianas. Não se aplica às exposições
eventuais ou não freqüentes (uma vez por ano, ou a cada 2 meses).
f) há pessoas que podem não estar protegidas mesmo abaixo do LE.
g) há efeitos que não podem ser evitados por um LE.
h) é um valor também aplicável para as populações não ocupacionais
(comunidade).
i) é um valor aplicável para pessoas dos 18 aos 65 anos.

Feedback: item 3.5.1.

3. Qual o conceito correto do Limite de Tolerância / Limite de Exposição?


a) um valor abaixo do qual não haverá doenças.
b) um valor abaixo do qual há razoável segurança contra o desencadeamento das
doenças causadas por um agente ambiental.
c) um valor abaixo do qual 20% dos trabalhadores não terá doenças
d) um valor abaixo do qual a maioria dos trabalhadores possa estar exposta,
repetidamente, dia após dia, sem sofrer efeitos adversos à saúde.
e) um valor abaixo do qual 50% dos trabalhadores não terá doenças.

Feedback: item 3.5.1.

4. Qual alternativa não se aplica às Medidas de Controle relativas ao Ambiente?

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Capítulo 3. Situando a Higiene Ocupacional.

a) Ventilação Geral Diluidora.


b) Manutenção.
c) Substituição do Produto Tóxico ou Nocivo.
d) Encerramento ou Enclausuramento da Operação.
e) Controle Médico.

Feedback: item 3.7.1. (Controle médico é relativo ao pessoal)

5. Qual alternativa não se aplica às Medidas de Controle relativas ao Pessoal?


a) Limitação de Exposição
b) Ordem e Limpeza
c) Equipamento de Proteção Individual
d) Educação e Treinamento
e) Controle Médico

Feedback: item 3.7.2. (Ordem e limpeza é relativo ao ambiente)

6. Qual dessas instituições não é uma entidade norte-americana?


a) ACGIH
b) AIHA
c) NIOSH
d) ABHO
e) MSHA

Feedback:
ACGIH: American Conference of Governmental Industrial Hygienists
AIHA: American Industrial Hygiene Association
NIOSH: National Institute for Occupational Safety and Health
ABHO: Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais
IOHA: International Occupational Hygiene Association
MSHA: Mine Safety and Health Administration.

7. Qual das alternativas abaixo não faz parte da área de atuação do Higienista
Ocupacional?
a) tratamento de doenças ocupacionais
b) em empresas, desenvolvendo programas de prevenção;
c) assessoramento de entidades de classe, patronais ou de trabalhadores, em
questões ocupacionais;
d) docência de temas ocupacionais ligados à higiene e na formação de
profissionais ocupacionais;
e) em empresas, desenvolvendo programas de prevenção segundo normativas
corporativas.
Feedback: item 3.9.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

CAPÍTULO 4. O CORPO HUMANO.

OBJETIVOS DO ESTUDO
A fim de se compreender os efeitos de substâncias potencialmente perigosas faz-
se necessário um conhecimento básico do funcionamento do corpo humano.
Este capítulo abordará de modo sucinto a fisiologia humana e os modos pelos
quais o corpo humano pode ser afetado por substâncias (agentes químicos) e agentes
físicos. Serão discutidos riscos à saúde nos locais de trabalho e as doenças que podem
causar. Estas serão analisadas com maior detalhe em outros capítulos.

Ao terminar este capítulo você deverá estar apto a:


• Descrever os três principais sistemas do corpo que podem ser afetados por
substâncias potencialmente perigosas: rotas de entrada, sistemas internos e
rotas de saída;
• Reconhecer as formas pelas quais substâncias tóxicas podem estar sendo
liberadas nos locais de trabalho;
• Explicar os quatro principais modos pelos quais agentes físicos e químicos
podem penetrar ou atuar sobre o corpo humano;
• Descrever como materiais perigosos interferem com os sistemas internos do
corpo e podem causar danos;
• Explicar como o sistema de defesa do corpo age ao contra-atacar as
substâncias tóxicas;
• Definir as seguintes siglas em português (e inglês): LT (em inglês “TLV”), LTmp
(“TLV-TWA”), LTce (“TLV-STEL”), LTvt (“TLV-C”), LTma; e
• Distinguir os dois tipos principais de curva-dose resposta e sua influência na
determinação das concentrações aceitáveis.
Nota: O conteúdo deste capítulo foi extraído do livro a ser publicado pelo professor
Sérgio Médici de Eston.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.1 A CIÊNCIA DO CORPO HUMANO


Substâncias ou compostos químicos existentes no local de trabalho podem gerar
doenças no corpo humano nos seguintes locais:
• nas células localizadas em qualquer parte do corpo;
• nas rotas de entrada - na inalação (pulmões), na absorção (pele) e na ingestão
(intestinos);
• nos sistemas internos - circulatório, nervoso central e reprodutivo;
• nas rotas de saída - no fígado, nos rins e na bexiga.

4.1.1 a célula
A célula é o tijolo fundamental da vida. É uma pequena estrutura, em geral com
diâmetro inferior a 25 μm, e, portanto muito pequena para ser vista pelo olho humano.
Formas muito simples de vida, como amebas e bactérias, são compostas de uma única
célula. Todavia o corpo é formado por trilhões de células, cada especializada em uma
função particular.

Quadro 4.1. Exemplo 1

As células sangüíneas denominadas de glóbulos vermelhos transportam oxigênio

enquanto que as denominadas de glóbulos brancos produzem anticorpos que auxiliam

na defesa contra infecções. As células nervosas geram e conduzem impulsos elétricos

que controlam nossos movimentos e pensamentos. As células hepáticas (do fígado)

contêm enzimas que podem remover ou desintoxicar os venenos de certas substâncias.

Cada órgão ou tecido do corpo humano é constituído de bilhões de células de um


tipo similar, sendo cada célula uma estrutura viva que se reproduz por subdivisão. Assim
cada célula deve ser capaz de receber nutrientes, e convertê-los em uma forma mais
utilizável.
Apesar de as células serem especializadas para efetuar uma ampla variedade de
funções do corpo, a estrutura básica é similar para todas elas. A figura 4.1. ilustra as 3
partes principais que são:
• o núcleo - composto do material genético denominado DNA;
• o citoplasma - contendo estruturas específicas que dão a cada célula suas
características particulares;
• a membrana - que regula a entrada de compostos e nutrientes do sangue e a
eliminação de produtos indesejáveis.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

Figura 4.1. As 3 principais partes de uma célula.

4.1.2 rotas de entrada


Existem quatro rotas de entrada no corpo humano para as substâncias tóxicas.
Estas rotas são as seguintes:
• inalação - através do processo de respiração;
• absorção - através da pele;
• ingestão - através da boca, ao se inserir sólidos ou líquidos;
• injeção.

4.1.2.1 Inalação
A inalação é uma das formas mais comuns pelas quais substâncias perigosas
entram no corpo humano e os problemas de poluição atmosférica colocaram em
evidência a necessidade de se ter mais informações básicas sobre os pulmões.
Os pulmões podem ser divididos nas seguintes áreas principais (figura 4.2):
• sistema respiratório;
• estrutura e tecidos conectivos;
• macrófagos alveolares;

Figura 4.2. Componentes do pulmão.


O sistema respiratório de um adulto sentado e ao final de uma serena expiração
ainda contém cerca de 3 a 4 litros de ar. O gás está distribuído entre as vias e os
alvéolos, e nestes últimos é onde ocorre a troca gasosa com o sangue. Em volume, cerca
de 95% deste gás está contido nos alvéolos.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

As vias respiratórias podem por sua vez ser subdivididas nas partes superior e
inferior. O trato respiratório superior engloba o nariz, os sinus paranasais, a boca, a
faringe e a laringe. Eles desempenham três importantes funções:
• fazer com que o ar inspirado tenha uma temperatura próxima da do corpo
humano (~37°C), seja aquecendo-o ou resfriando-o;
• fazer com que a umidade do ar inspirado chegue próximo à saturação;
• remover algumas das partículas suspensas e alguns dos gases contaminantes
existentes.
O desenho das vias do trato inferior permite que o ar inspirado seja distribuído aos
alvéolos de modo homogêneo e a um baixo custo energético. Iniciando-se na bifurcação
da traquéia, estas vias se subdividem dicotomicamente. Os pulmões humanos podem
conter até 17 subdivisões de vias puramente condutivas, as menores sendo conhecidas
como bronquíolos terminais. A partir dos bronquíolos terminais existem várias gerações
de vias de transição, denominadas de bronquíolos respiratórios, ou seja, vias em cujas
paredes existem alvéolos.
Estima-se que existam centenas de milhões de alvéolos num pulmão adulto,
configurando uma superfície de troca por difusão de cerca de 70 m2. O caminho
atravessado pelo oxigênio (O2) e pelo gás carbônico (CO2) é extremamente curto, pois da
fase gasosa alveolar até a molécula de hemoglobina a distância varia de menos de 1
micrômetro até cerca de 4 micrômetros. Esta distância é percorrida em cerca de 0,3
segundos.

Quadro 4.2. Exemplo 2

O símbolo μm surgirá freqüentemente neste texto e se refere a um micrômetro. O

símbolo μ é um prefixo associado neste caso ao símbolo m (de metro). Os mais

comuns prefixos do sistema internacional de unidades estão na tabela 4.1.

Tabela 4.1. Prefixos do sistema internacional de unidades


Fator de multiplicação Prefixo Símbolo

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Capítulo 4. O Corpo Humano

1 000 000 000 = 109 Giga G


1 000 000 = 106 Mega M
1 000 = 103 kilo k
0,001 = 10-3 mili m
0,000 001 = 10-6 Micro μ
0,000 000 001 = 10-9 Nano n
0,000 000 000 001 = 10-12 Pico p
O comprimento de onda da luz verde é de 555 nm (nanômetros) e a unidade de
radiação é pCi (picoCurie). Notemos que se deve usar um espaço para separar termos
de dígitos e que 1 litro equivale exatamente a 1 000 cm3 (1L = 1 000 cm3).
A região do sistema respiratório que poderá ser afetada por gases ou partículas
poluidoras depende de vários fatores tais como:
• concentração do contaminante;
• propriedades físicas e químicas do contaminante;
• padrão de respiração (lenta ou rápida, pela boca ou nariz);
• presença ou não de doença pulmonar. Num pulmão doente as anormalidades
funcionais e estruturais tendem a estar distribuídas de modo não homogêneo e,
portanto, a exposição deste pulmão tende também a ocorrer de uma forma
heterogênea.
O pulmão é uma estrutura elástica e dois fatores contribuem para este
comportamento elástico:
a. forças de superfície que atuam nas interfaces ar-líquido dos alvéolos;
b. forças elásticas decorrentes da presença de 3 proteínas fibrosas - colágeno,
elastina e reticulina - sendo o colágeno a proteína mais abundante.
Os macrófagos alveolares são como “absorvedores móveis” que limpam os
alvéolos de partículas insolúveis. As principais funções dos macrófagos são a fagocitose
e a digestão, sendo esta última efetuada com o auxílio de um complexo sistema de
enzimas que ficam armazenadas em cápsulas membranosas dentro do citoplasma
celular.
Uma partícula que se deposite num alvéolo será removida num período curto de
tempo por fagocitose. O meio-tempo de remoção da maioria das partículas que são
retiradas é de cerca de 24 horas. Para as partículas que penetram as paredes alveolares
o tempo de remoção aumenta bastante e varia entre 90 e 360 dias. A persistência de
partículas no pulmão pode decorrer de seu aprisionamento em tecido inflamado ou
remoção através dos sistemas linfático e circulatório. Qualquer demora de remoção
implica em maior potencial de dano para os pulmões.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.1.2.2 Absorção
A absorção pela pele é outra forma comum de entrada de substâncias tóxicas. A
pele pode ser considerada o maior órgão do corpo e sua extensa superfície pode entrar
em contato direto com substâncias nocivas.
A pele protege os órgãos internos do ambiente externo, sendo sua camada exterior
composta de células mortas e endurecidas que são resistentes aos contatos do dia a dia.
Ela contém múltiplas estruturas que participam ativamente de uma série de mecanismos
do corpo, tais como:
• glândulas sudoríparas, que ajudam a resfriar o corpo quando o ambiente é
muito quente;
• glândulas sebáceas, que produzem óleos que repelem a água;
• uma rede de vasos capilares sangüíneos que tem papel chave no controle da
temperatura corporal. Estes capilares se expandem no calor, ajudando na perda
por radiação pelo ar, contraindo-se no frio de modo a conservar calor no corpo;
• uma camada protetora de óleos e proteínas que ajudam a impedir ou diminuir a
penetração de substâncias prejudiciais. Certos solventes usados na fabricação
de tintas podem facilmente penetrar na pele, atingir a corrente sangüínea e
alcançar outros órgãos. Evitando-se estes solventes, a superfície da pele pode
ser considerada como praticamente impermeável.
Assim a pele é um eficiente meio de proteção contra batidas (trauma), secagem,
bactérias, penetração de água, luz ultravioleta, substâncias nocivas, etc. Se a pele é
penetrada, as células brancas do sangue têm a capacidade de envolver bactérias e as
destruir. Após a penetração de um antígeno no organismo o sistema imunológico reage
produzindo anticorpos para neutralizar o efeito.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.1.2.3 Ingestão
Uma terceira e importante via de entrada de substâncias tóxicas ocorre através da
boca e do trato digestivo. O trato digestivo é um tubo contínuo que se inicia na boca e
termina no ânus, como ilustrado na figura 4.3.

Figura 4.3. Trato digestivo.

Os órgãos do sistema digestivo permitem os processos de ingestão, digestão e


absorção da comida. A maior parte da digestão e da absorção de comida e água ocorre
no intestino delgado, enquanto que o intestino grosso em geral absorve vitaminas e sais.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.1.2.4 Injeção
Substâncias nocivas podem penetrar no corpo humano através de injeção. Por
exemplo, trabalhadores de hospitais operando com seringas contaminadas podem
acidentalmente injetar vírus em seu próprio corpo.
O processo de imunização envolve a deliberada injeção de antígenos no corpo, de
modo que o sistema imunológico reaja produzindo anticorpos que neutralizem a invasão
e protejam o organismo da suscetibilidade de uma futura invasão pelo mesmo agente.

4.1.3 Sistemas Internos


4.1.3.1 Sistema Circulatório
O sistema circulatório em geral não está em contato direto com materiais nocivos
como estão a pele, os pulmões e o sistema digestivo. Todavia após uma substância
prejudicial ter atingido a corrente sangüínea, ela pode ser transportada a qualquer parte
do corpo.
O centro do sistema circulatório é o coração. Ele bombeia sangue através de uma
extensa rede de vasos sangüíneos, os quais se ramificam como uma árvore e são cada
vez menores. Os vasos sangüíneos se ramificam com tal densidade que não existe célula
no corpo que esteja a mais do que alguns milímetros de algum vaso ou capilar. A figura
4.4. ilustra o sistema circulatório.

Figura 4.4. Sistema circulatório.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.1.3.2 Sistema Nervoso


Para nos mantermos vivos precisamos respirar continuamente, o coração precisa
bombear sem parar e todos os demais órgãos precisam funcionar. Além disso, nós
pensamos e respondemos a estímulos emocionais. Todas estas funções, executadas
pelo cérebro e pelo corpo, são controladas pelo sistema nervoso.
Este sistema pode também ser afetado por compostos químicos e estas ações
reflexas e automáticas podem sofrer interferências. O sistema nervoso central é bastante
complexo e como o próprio nome diz é o centro de controle. A espinha interliga o cérebro
ao sistema nervoso e uma parte deste, que se estende às zonas mais externas, é
chamada de sistema nervoso periférico.

Quadro 4.3. Exemplo 3

Os metais mercúrio e chumbo podem afetar o sistema nervoso e causar uma

ampla gama de problemas que vão desde alterações incontroláveis de humor até a

morte. Outros compostos químicos são produzidos naturalmente pelo corpo e não têm

origem numa fonte externa. A fadiga muscular deriva da produção de ácido láctico.

4.1.3.3 Sistema Reprodutivo


Os sistemas reprodutivos no homem e na mulher são respectivamente os testículos
e os ovários. Estes órgãos produzem as células que permitem nossa reprodução e
devido às suas funções ativas e altamente especializada, são particularmente sensíveis a
doenças e danos causados por substâncias nocivas.

4.1.4 Rotas de Saída


Alguns órgãos têm a capacidade de desintoxicar o corpo de certos compostos e os
expelir. Todavia seu funcionamento pode ser prejudicado por substâncias existentes em
quantidades excessivas no local de trabalho.

4.1.4.1 O Fígado
O fígado pode ser considerado a fábrica química do corpo. Suas células contêm
enzimas que podem converter certas substâncias tóxicas em formas e compostos mais
fáceis de serem manipulados pelo corpo.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.1.4.2 Os Rins
Os rins agem como uma espécie de filtro para todas as substâncias do sangue.
Estão localizados nas costas, logo abaixo da cavidade torácica. Cada um tem cerca de
12 cm de comprimento por 5 cm de largura, com mais de um milhão de pequenos filtros.
Cada filtro limpa o sangue, removendo um grupo de impurezas que são depositadas na
urina. A urina passa então por pequenos dutos chamados de túbulos que compõem o
sistema tubular renal. Neste sistema são monitorados o nível de ácido e a quantidade de
água no corpo, deixando-os em equilíbrio. Dos túbulos a urina passa pela ureter e desta
à bexiga, a qual controla a sua saída do corpo. A figura 4.5. ilustra os rins, a uretra e a
bexiga.

URETER

Figura 4.5. Os rins, que compõem um sofisticado


sistema de disposição de rejeitos.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.2 TESTES (1)


1. Dentre os mecanismos de defesa disponíveis para o corpo humano, para que ele
possa impedir a sua destruição pelo ambiente tem-se:
a) a pele
b) corpúsculos brancos do sangue
c) anticorpos
d) secreções sebáceas
e) todas as alternativas

Feedback: Todas estão corretas.


a) item 4.1.2.2 (absorção)
b) e c) item 4.1.1, quadro 4.1.
d) item 4.1.2.2 (absorção)

2. As trocas de gás carbônico e oxigênio, no sistema respiratório, ocorrem:


a) nos brônquios
b) nos bronquíolos
c) nos alvéolos
d) no segmento brônquio-pulmonar
e) nas células de poeira muito fina

Feedback: item 4.1.2.1, terceiro parágrafo: Estima-se que existam


centenas de milhões de alvéolos num pulmão adulto, configurando
uma superfície de troca por difusão de cerca de 70 m2.

3. Exercícios vigorosos causarão a fadiga muscular que decorre primordialmente


de:
a) uso e falta de ATP
b) acumulação de ADP
c) acumulação de dióxido de carbono
d) acumulação de ácido láctico
e) um desequilíbrio entre sódio e potássio

Feedback: item 4.1.3.2, quadro 4.3.

4. Uma célula tem um diâmetro de 0,025 mm. Seu diâmetro em micrômetros é:


a) 2,5
b) 25
c) 250
d) 25 000
e) n.d.a.

Feedback: 1 mm = 1000 micrômetros Æ 0,025mm * 1000 = 25


micrômetros

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Capítulo 4. O Corpo Humano

5. Uma célula tem um diâmetro de 0,025 mm. Seu diâmetro em nanômetros é:


a) 2,5
b) 25
c) 250
d) 25 000
e) n.d.a.

Feedback: 1 mm = 1.000.000 nanômetros Æ 0,025 mm * 1.000.000 =


25.000 nanômetros

6. Durante a obtenção de uma amostra de contaminante do ar foi utilizada uma


bomba aspiradora operando durante 8 horas com uma vazão de 2 litros por minuto.
O volume da amostra é de:
a) 0,096 m3
b) 0,96 m3
c) 9,6 m3
d) 96 m3
e) n.d.a.

Feedback: 2 litros / min * 60 min / hora = 120 litros / hora * 8 horas = 960
litros
1 m3 = 1000 litros Æ 960 litros = 0,96 m3

7. Um solvente se evaporou numa sala, gerando 51,3 litros de vapor. A sala tem
dimensões de 12 x 10 x 8 m3. Assumindo que não tenham ocorrido alterações do ar
da sala, a concentração do contaminante na sala em partes por milhão é mais
próxima de:
a) 1
b) 5
c) 50
d) 100
e) 500

Feedback: 12 x 10 x 8 = 960 m3 = 960.000 litros


Concentração em PPM = 51,3 / 960.000 * 1.000.000 = 53,44 ppm

8. Um laboratório emite um relatório indicando uma concentração de contaminante


de 95 microgramas por litro (95 μg/L). Isto é equivalente a:
a) 9,5 mg/ m3
b) 95 mg/ m3
c) 0,95 mg/ m3
d) 950 mg/ m3
e) 9 500 mg/ m3

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Capítulo 4. O Corpo Humano

Feedback: 1 micrograma = 0,001 mg -> 1000 litros = 1 m3


95 microgramas por litro = 0,095 mg / litro = 95 mg / m3

9. Chips de silício têm sido desenvolvidos para serem implantados no corpo


humano e liberarem quantidades pequenas de medicamentos nos horários
corretos. Por exemplo, num chip do tamanho de uma moeda de 10 centavos,
podem existir 34 reservatórios de 25 nL (nanolitros), cada um podendo conter
sólidos, líquidos ou gel. Um nanolitro corresponde a:
a) 10-5 mm3
b) 10-3 cm3
c) 10-6 mm3
d) 10-9 m3
e) 10-3 mm3

Feedback: 1 nanolitro = 10-9 litros


1cm3 = 1000 * 10-6 litros = 10-3 litros
1 mm3 = 1000 * 10-9 litros = 10-6 litros
1 nanolitro = 10-9 litros = 10-3 * 10-6 litros = 10-3 mm3

10. Qual dessas afirmações é incorreta com relação ao Sistema Respiratório


Humano?
a) Após uma expiração, o sistema respiratório ainda contém cerca de 3 a 4 litros de
ar.
b) O trato respiratório superior é responsável por fazer com que a umidade do ar
inspirado chegue próximo à saturação.
c) Os brônquios, bronquíolos e alvéolos são componentes do pulmão.
d) Cerca de 95% do gás está distribuído entre as vias respiratórias.
e) O desenho das vias do trato inferior permite que o ar inspirado seja distribuído
aos alvéolos de modo homogêneo e a um baixo custo energético.

Feedback: item 4.1.2.1: Em volume, cerca de 95% deste gás está contido
nos alvéolos.
11. Considere as informações abaixo sobre a pele:
I – A pele é um eficiente meio de proteção apenas contra penetração de água e
batidas (trauma);
II – Contêm múltiplas estruturas, como glândulas sudoríparas e sebáceas;
III – A absorção pela pele não é uma forma comum de entrada de substâncias
tóxicas;
IV – Possui uma camada protetora de óleos e proteínas que ajudam a impedir ou
diminuir a penetração de substâncias prejudiciais.
Qual a opção correta?
a) apenas II e IV são verdadeiras.
b) apenas I e III são verdadeiras.
c) apenas I é verdadeira.
d) apenas I e IV são verdadeiras.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

e) todas as afirmações são verdadeiras.

Feedback:
I. Falso: item 4.1.2.2.: a pele é um eficiente meio de proteção contra batidas
(trauma), secagem, bactérias, penetração de água, luz ultravioleta,
substâncias nocivas, etc
II. Verdadeiro: item 4.1.2.2.
glândulas sudoríparas, que ajudam a resfriar o corpo quando o ambiente é
muito quente;
glândulas sebáceas, que produzem óleos que repelem a água;
III. Falso: Item 4.1.2.2.: A absorção pela pele é outra forma comum de
entrada de substâncias tóxicas
IV. Verdadeiro: item 4.1.2.2.: uma camada protetora de óleos e
proteínas que ajudam a impedir ou diminuir a penetração de
substâncias prejudiciais.
12. Com relação ao sistema circulatório, indique qual a alternativa correta:
a) ele não transporta substâncias nocivas ao organismo.
b) não existe célula no corpo que esteja a mais do que alguns milímetros de algum
vaso ou capilar.
c) o centro do sistema circulatório são os vasos sangüíneos.
d) os vasos sangüíneos possuem praticamente o mesmo tamanho em toda sua
extensão.
e) é a parte que está em contato mais direto com agentes nocivos.

Feedback: Item 4.1.3.1.

13. Por que o fígado é importante?


a) possui mais de um milhão de pequenos filtros.
b) facilita a manipulação de substâncias tóxicas pelo organismo através de
enzimas.
c) se localiza nas costas, abaixo da cavidade torácica.
d) responsável por limpar o sangue, depositando suas impurezas na urina.
e) serve como filtro para todas as substâncias do sangue

Feedback: item 4.1.4.1.

o
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66
Capítulo 4. O Corpo Humano

.
4.3 A NATUREZA DO PROBLEMA
4.3.1 Dano celular
A substância DNA é complexa e especial porque contém uma espécie de marca
registrada que caracteriza a reprodução e a especialização da célula. Danos ao DNA
causam crescimento anormal ou funcionamento defeituoso e muitos compostos químicos
e agentes físicos podem originar estes danos. Outros compostos são apenas suspeitos
de causar danos ao DNA. Estes agentes e compostos são classificados em
carcinogênicos, mutagênicos ou teratogênicos. Outros agentes podem por sua vez
causar uma ampla variedade de problemas de saúde e segurança quando a exposição a
eles não é controlada.

4.3.1.1 Carcinogênicos
São denominados de carcinogênicos as substâncias ou agentes físicos que podem
causar câncer em seres humanos. No Canadá, cerca de 40% da população terá uma ou
outra forma de câncer, que é a segunda causa de morte atrás apenas de doenças do
coração e ataques cardíacos.
A maioria dos tipos de câncer causa crescimento anormal da célula, o que no final
acaba causando danos às células e aos órgãos. Na célula, o DNA, que controla o
crescimento, inicialmente causa um crescimento anormal e fora de controle. As células
formam então um tumor maligno em expansão, o qual depois se espalha por outras
partes do corpo, podendo finalmente levar à morte. Alguns compostos encontrados nos
locais de trabalho têm a habilidade de alterar a estrutura do DNA e são chamados de
carcinogênicos.
Um câncer não se desenvolve usualmente após apenas uma exposição a um
agente carcinogênico. Em geral, decorre-se um tempo entre 10 a 30 anos para que o
câncer se desenvolva, mas existem casos de menos tempo. Portanto, é possível que o
processo da doença já se tenha iniciado após a exposição ao carcinogênico e que o
trabalhador não tenha consciência disto.

4.3.1.2 Mutagênicos e Teratogênicos


Existem substâncias ou agentes físicos que podem causar modificações em uma
ou mais características hereditárias pela modificação dos genes. A radiação ionizante é
um exemplo de agente mutagênico.
Existem substâncias capazes de causar alterações em fetos em desenvolvimento
no útero. A droga talidomida é um exemplo de agente teratogênico.

4.3.1.3 Rotas de entrada


A maioria dos poluentes aéreos adentra o corpo através do sistema respiratório,
isto é, quando inspiramos um gás ou uma poeira tóxica. Outras substâncias tóxicas
podem penetrar no corpo por absorção pela pele, por ingestão ou por meio de injeção.

o
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67
Capítulo 4. O Corpo Humano

4.3.1.4 Inalação
A granulometria mais perigosa para partículas inaladas é de 0,5 a 7 μm, pois nesta
faixa elas são pequenas demais para serem vistas e conseguem burlar os sistemas de
defesas atingindo o pulmão. Uma vez no pulmão, estas pequeninas partículas podem
causar grandes danos nos alvéolos. Forma-se uma carapaça impermeável à troca de
oxigênio, iniciando-se o processo de doença, com severa diminuição da habilidade de
respirar e do fôlego. Estas doenças apresentam nomes específicos como asbestose,
silicose e CWP (“coal workers pneumoconiosis” ou pneumoconiose dos trabalhadores de
carvão). O termo geral pneumoconiose se refere às doenças pulmonares geradas por
material particulado, já que “pneumo” refere-se a ar e “conio” a partículas.
Gases, vapores, névoas, neblinas e fumos podem entrar na corrente sangüínea
através dos pulmões. Além disso, fumos de solda, névoas ácidas ou gases de exaustão
de caminhões podem estimular as defesas pulmonares, forçando produção de grandes
quantidades de muco e catarro e gerando uma situação de invalidez conhecida como
bronquite crônica. As mesmas substâncias podem destruir os delicados sacos de ar do
pulmão causando enfisema.
Devido ao fato de os pulmões terem um contato tão íntimo com tantos poluentes
nos locais de trabalho, eles são os alvos principais dos carcinogênicos ocupacionais. A
tabela 4.2. apresenta materiais e agentes que causam ou são suspeitos de causar câncer
pulmonar.

Tabela 4.2. Substâncias e agentes que poderiam causar ou causam câncer.


acrilonitrilo arsênico asbesto (amianto)
benzopirene berílio éter diclorometil
cádmio cromo fumaça de cigarro
Emissões de forno de coque minério de hematita radiação ionizante
Óleo isopropil pó de couro gás mostarda
níquel gás radônio cloreto de vinila

4.3.1.5 Absorção
Uma substância pode ser absorvida pela pele e ser transportada para outra parte
do corpo, ou pode causar dano no próprio ponto de entrada na pele. Doenças da pele
representam entre 50% e 75% de todos os pedidos de indenização por doenças
ocupacionais no Canadá.
A dermatite é uma inflamação da pele que pode ser causada por centenas de
substâncias existentes nos locais de trabalho, tais como tintas, solventes, resinas epóxi,
ácidos, materiais cáusticos e metais. Ela se apresenta como um vermelhão, ou como
coceira, ou como descascamento da pele. Existem dois tipos de dermatite:
a) dermatite de irritação primária (dermatite de contato);

b) dermatite de sensibilização (dermatite alérgica).


A dermatite de irritação primária é causada por fricção, calor ou frio, álcalis, gases
irritantes e vapores. Um rápido contato com estes agentes em alta concentração ou
contatos repetidos e prolongados a baixas concentrações podem causar inflamação da
pele.

o
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68
Capítulo 4. O Corpo Humano

Alguns exemplos de causadores de dermatite de contato são: acrílicos,


formaldeído, poliuretano, cromatos, níquel, resinas epóxi e tiuranos.
Por outro lado, a dermatite de sensibilização decorre de uma reação alérgica a uma
dada substância. A sensibilização pode resultar de contatos prolongados ou repetidos, se
estabelecendo em geral entre 10 a 30 dias.
Depois que um local da pele foi sensibilizado, mesmo uma pequena exposição
pode produzir reações severas. Substâncias como solventes orgânicos, usados na
fabricação de tintas, ácido crômico e resinas epóxi podem produzir tanto dermatite
primária como de sensibilização. Fabricantes de plástico, de resinas e de portas,
trabalhadores de refinarias e fazendeiros são comumente expostos a sensibilizadores.
Algumas substâncias e agentes têm sido associados a câncer de pele e alguns
destes sob suspeita são: asfalto, óleo de xisto, arsênico, benzopirene, luz ultravioleta,
raios X, piche, alcatrão, fuligem, antraceno, creosoto e óleos de ferramentas de corte.

4.3.1.6 Ingestão
Uma terceira e importante via de entrada para substâncias tóxicas é a boca e o
trato digestivo. Materiais tóxicos podem atingir o estômago quando sólidos ou líquidos
são ingeridos, quando cigarros são fumados em áreas empoeiradas, quando não se tem
refeitórios asseados, quando os trabalhadores não lavam as mãos antes de comer ou
fumar, ou quando comida é deixada sem ser embrulhada num local com poeira.
Pó de chumbo, oriundo do esmagamento de baterias ou de impressão por linotipo,
é facilmente ingerido e pode causar sérios danos à saúde. Depois de engolidas, as
substâncias tóxicas entram no trato digestivo de onde podem penetrar na corrente
sangüínea e se deslocar para o fígado. Este e os rins tentam remover os venenos e
torná-los menos danosos, mas nem sempre são bem sucedidos.

4.3.1.7 Injeção
Usuários de drogas são susceptíveis a doenças pelo fato de utilizarem a mesma
seringa. Todavia a entrada no corpo pode ocorrer também através de uma ferida
perfurante. Um trabalhador que pise num prego saindo de uma tábua pode perfurar a
sola do pé e originar um envenenamento do sangue. A princípio, a perfuração pode
parecer pequena, mas se não tratada, uma semana depois a infecção pode causar
inchaço, febre e dores, com afastamento do trabalho e custos de indenização.
Por isso, os trabalhadores devem ser encorajados a relatar todo e qualquer
acidente, não importa quão pequeno, de modo que possam ser tratados com um anti-
séptico. Mesmo uma farpa sob a unha pode causar uma infecção. O uso comum de
agulhas é mais um problema social enquanto que uma ferida perfurante é um problema
de segurança, mas esta última tem ligações com a higiene ocupacional.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.3.2 Sistemas Internos


4.3.2.1 Sistema Circulatório
Alimentos e oxigênio alcançam todas as células do corpo através dos capilares,
mas pela mesma via também se deslocam substâncias tóxicas do ambiente de trabalho.
O oxigênio é carregado por uma proteína chamada hemoglobina, existente nas
hemácias (células vermelhas) do sangue. O oxigênio se liga fortemente à hemoglobina,
mas infelizmente o monóxido de carbono também. Na realidade, o monóxido de carbono
se liga à hemoglobina cerca de 200 a 300 vezes mais facilmente que o oxigênio e, em
altas concentrações, pode ser mortal. Isto porque ele sobrecarrega a hemoglobina dos
glóbulos vermelhos e substitui o oxigênio necessário à sobrevivência das células. Mesmo
repetidas exposições a baixas concentrações de monóxido de carbono podem gerar
sérios efeitos no coração e sistema nervoso central.
O monóxido de carbono é um produto perigoso e facilmente encontrável nos locais
de trabalho, pois é produzido nos motores à combustão de caminhões, ônibus e
máquinas diversas. Todavia existem outros compostos químicos que agem de modo
similar.
O corpo humano produz continuamente glóbulos vermelhos nas estreitas cavidades
dentro dos ossos. Por outro lado, muitas substâncias tóxicas atacam diretamente as
células do sangue. O benzeno, por exemplo, que é usado na indústria de borracha, pode
interferir neste processo formativo e causar anemia que é uma deficiência de ferro. A
tabela 4.3. apresenta algumas substâncias que podem causar anemia.

Tabela 4.3. Algumas substâncias que podem causar anemia.


Gás arsênico benzeno tolueno compostos de
Cobre chumbo selênio mercúrio
Estibina berílio gálio

4.3.2.2 Sistema Nervoso


A maioria dos danos causados ao sistema nervoso central é permanente, apesar
de que algumas vezes danos ao sistema nervoso periférico podem ser reversíveis.
Exposição a pesticidas e metais, como chumbo e mercúrio, pode gerar interferência nos
impulsos nervosos, ocasionando tremores e perdas de reflexos e sensações.
O cérebro é uma parte complexa e vital do corpo humano, requerendo um
constante afluxo de oxigênio. Algumas substâncias tóxicas afetam o sistema nervoso
central e interrompem o fluxo de oxigênio, com os primeiros sintomas sendo tontura e
sonolência.
As operações do sistema nervoso são muito complexas e balanceadas num
equilíbrio sutil, e a tabela 4.4. apresenta diversas substâncias que podem afetar estas
operações.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

Tabela 4.4. Compostos químicos que afetam o sistema nervoso.


DEPRESSÃO DO ENVENENAMENTO DANO CEREBRAL DESORDENS
SISTEMA DO CÉREBRO PELA FALTA DE FUNCIONAIS DOS
NERVOSO OXIGÊNIO NERVOS
CENTRAL
Acetatos Dissulfeto de Gases asfixiantes Pesticidas com
carbono organofosfatos
Álcoois Cianeto de Monóxido de Metais pesados
hidrogênio carbono
Bromatos Sulfeto de Mercúrio
hidrogênio
Cloratos Arsina Chumbo
Éteres Estibina Manganês
Quetonas Arsênio

4.3.2.3 Sistema Reprodutivo


Qualquer dano às células de reprodução pode levar a conseqüências desastrosas.
Podem resultar deformidades no bebê ou o embrião pode ser tão danificado que não
sobreviva e seja abortado. Alguns compostos químicos causam aborto ou defeitos de
nascença por atacarem o material genético da célula ou dos sistemas que controlam
suas funções. Danos similares podem estar associados com câncer e, portanto
substâncias que geram câncer freqüentemente são a causa de defeitos e abortos.

Quadro 4.4. Exemplo 4

Enfermeiras e mulheres anestesistas são mais susceptíveis a abortos deste tipo

por causa de sua exposição aos gases anestesiantes. Homens expostos a chumbo ou

ao pesticida dibromocloropropano (DBCP) apresentam menor número de

espermatozóides e podem ser menos férteis.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.3.3 Rotas de saída


4.3.3.1 O Fígado
As células que compõem o fígado contêm enzimas que convertem certas
substâncias tóxicas em formas mais facilmente manuseáveis pelo corpo. Mas o próprio
fígado pode ser danificado no processo se for forçado a mexer com substâncias que o
sobrecarreguem.
O fígado pode ficar inflamado, gerando uma condição denominada de hepatite.
Esta doença pode ser gerada por um vírus ou por compostos como álcool, tetracloreto de
carbono e outros hidrocarbonetos clorados tais como os usados nas indústrias de
lavagem a seco. Repetidos surtos de hepatite podem levar a cicatrizes hepáticas e a uma
doença denominada de cirrose do fígado. De modo genérico, isto significa que não
existem suficientes células normais do fígado para operar a desintoxicação dos
compostos do corpo.
O cloreto de vinila, uma substância usada na produção de plásticos, tem sido
associado com uma rara e mortal forma de câncer do fígado chamada de angiosarcoma.
A tabela 4.5. apresenta alguns compostos encontrados nas indústrias e suspeitos ou
conhecidos por causar danos ao fígado.
Tabela 4.5. Substâncias e compostos associados a danos ao fígado.
antimônio acrilonitrilo dicloreto etilideno
arsina benzeno hidrazina
berílio tetrabrometo de carbono álcool metílico
cádmio tetracloreto de carbono cloreto metílico
cobre benzeno clorado metil dianilina
Irídio clorofórmio naftaleno
manganês cresol fenol
níquel DDT piridina
Fósforo dimetil sulfato estireno
selênio dioxane tetracloroetileno
Álcool etílico epichlorohydrin tolueno
Tricloroetilino tricloroetano etileno clorohidrino
bismuto 3-cloropropileno glicol

4.3.3.2 Rins e Bexiga


Como os rins agem como filtros para todas as substâncias do sangue, podem ser
seriamente afetados por substâncias tóxicas que circulem pelo organismo. Desordens
dos rins podem conduzir a altas ou baixas pressões sangüíneas, que por sua vez podem
sobrecarregar o coração e até produzir sua falha.
O mau funcionamento dos rins pode também atrapalhar o delicado equilíbrio
químico, conduzindo a mais danos ao corpo. De modo similar ao fato de que os pulmões
são vulneráveis a substâncias nocivas porque é uma rota principal de entrada, os rins e
bexiga são vulneráveis porque são umas das principais rotas de saída. Algumas
substâncias e compostos suspeitos de causar danos renais estão na tabela 4.6.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.3.4 Período de latência e doença ocupacional

O período de latência é o intervalo de tempo entre a exposição a um material


potencialmente nocivo e o eventual desenvolvimento da doença. Para diversas situações
de risco ocupacional o período de latência pode ser muito grande, variando de 10 a mais
de 20 anos. Em alguns casos, pode atingir até mesmo trinta ou quarenta anos. O período
de latência nada tem a ver com o tempo de exposição a uma dada substância, mas se
refere ao tempo decorrido entre a primeira exposição e a manifestação da doença.
O período de latência é um parâmetro importante para o trabalhador, pois um
indivíduo exposto a uma substância altamente perigosa pode não sentir nada durante a
fase de exposição. Todavia os efeitos podem se manifestar alguns anos mais tarde.
Assim, a exposição à radiação ionizante ou ao asbesto causa poucos sintomas durante a
exposição. Mas em longo prazo sabe-se que os efeitos são mortais.
O caso do asbesto é um exemplo de erros em estudos científicos sobre o período
de latência e a incidência da doença. Para se caracterizar com clareza doenças que se
manifestam muitos anos após a exposição, os pesquisadores devem analisar não só as
atuais equipes de trabalho, mas também os indivíduos que estiveram expostos no
passado.
Finalmente devemos observar que um ambiente sem doenças não significa um
ambiente seguro e livre de riscos. Situações de risco no presente poderão produzir
problemas de saúde no futuro. Similarmente, o que é visto como doença hoje pode ser
um reflexo das condições ocupacionais décadas antes.

Tabela 4.6. Algumas substâncias, compostos e agentes suspeitos de causar danos aos
rins.
Chumbo naftaleno mercúrio
Tetracloreto de carbono cádmio tetracloroetano
Cromatos monóxido de carbono cobre
Vapores de gasolina urânio arsênio
Berílio bismuto terebintina
Ácido oxálico arsina iodo
Fluoreto de sódio dissulfeto de carbono calor intenso
Choques de alta voltagem vibrações perdas de sangue

o
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73
Capítulo 4. O Corpo Humano

4.3.5 Efeitos agudos e crônicos


Situações de risco ocupacional podem produzir efeitos agudos ou crônicos. Um
efeito agudo é aquele que ocorre logo após a exposição ao agente de risco. O
envenenamento por monóxido de carbono pode provocar uma perda de consciência
quase instantânea, ou seja, uma reação aguda. Se o paciente receber oxigênio, os
efeitos à saúde podem desaparecer ou diminuir assim que o contaminante for removido.
Efeitos agudos podem provocar a morte, mas em geral são tratáveis se contra-
atacados rapidamente. São repentinos e dramáticos, resultantes da ação direta do
material perigoso sobre as células do corpo.
Mais perigosos são os efeitos crônicos de substâncias tóxicas. Efeitos crônicos
podem não surgir por um longo tempo, como anos ou décadas, enquanto o contaminante
se acumula no corpo até atingir um nível crítico que dispara um efeito adverso.
Freqüentemente não são tratáveis porque a doença só fica evidente depois que severos
danos ocorreram a órgãos, sistemas ou tecidos. Exemplos de efeitos crônicos incluem
envenenamento por mercúrio, asbestose, câncer de pulmão decorrente do cigarro,
cicatrizes pulmonares devido à poeira de sílica e perda de audição por ruídos excessivos.
Poluentes ambientais podem gerar efeitos agudos e crônicos, em geral, altas doses
causam efeitos agudos. Para um mesmo material, os efeitos agudos usualmente são
muito diferentes dos efeitos crônicos e a tabela 4.7. fornece alguns exemplos.
Em resumo, efeitos agudos podem ocorrer em intervalos de segundos, minutos ou
horas, enquanto que efeitos crônicos tendem a ocorrer após meses, anos ou mesmo
décadas.

Tabela 4.7. Efeitos agudos e crônicos de materiais perigosos existentes nos ambientes.
SITUAÇÃO DE EFEITO AGUDO EFEITO CRÔNICO
RISCO
irritação dos olhos e garganta, bronquite crônica e
Névoas de ácidos umedecimento dos olhos, tosse, enfisema
dor de garganta, dor no peito
moderada irritação respiratória, asbestose, câncer do
Asbesto
tosse, espirros pulmão
tonturas, dores de cabeça, Pode contribuir para
Monóxido de carbono confusão mental; em doses muito paradas cardíacas (ataques
altas, desmaio e morte do coração)
euforia, sensação de torpor danos aos rins e fígado;
Tricloroetileno alcoólico, dormência, tonturas possivelmente câncer de
fígado
enrijecimento de juntas, artrite, tendinite, doença
Vibrações
formigamento dos dedos brancos

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.4 CASOS REAIS - O ACIDENTE DE BHOPAL


Caracterizando um dos piores acidentes industriais já ocorridos, cerca de 40
toneladas de metil isocianato vazaram da usina da Union Carbide localizada na Índia.
Vazaram também no mesmo dia 2 de dezembro de 1984, mais cerca de 25
toneladas de outros gases letais para a atmosfera. Mais de 4 000 pessoas morreram, e o
número de pessoas afetadas é estimado entre 200 000 (pelo governo) e 500 000
(ativistas locais).
Foram criadas 17 cortes especiais para agilizar os processos de indenização. Dos
615 000 processos de morte e danos físicos, cerca de 6 000 ou 1%, tinham sido
decididos em março de 1994. Apenas U$ 3,1 milhões dos U$470 milhões do acordo de
1989, firmado entre a Union Carbide e o governo indiano, tinham sido pagos. Muitas
pessoas tiveram seus pedidos de indenização recusados porque não tinham os
documentos necessários para provar que eram vítimas do desastre.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.5 TESTES (2)


1. Agentes podem ser:
a) carcinogênicos, mutagênicos, teratogênicos.
b) mutagênicos, teratogênicos, epidêmicos.
c) teratogênicos, epidêmicos, carcinogênicos.
d) epidêmicos, carcinogênicos, autógenos.
e) carcinogênicos, autógenos, teratogênicos.

Feedback: item 4.3.1.

2. Dermatites podem ser:


a) de irritação primária, de irritação secundária, de contato ou alérgica.
b) de irritação primária ou contato.
c) de irritação secundária ou de contato.
d) de contato ou de sensibilização.
e) n.d.a.

Feedback: item 4.3.1.5, segundo parágrafo

3. Na hepatite o fígado:
a) endurece devido a um vírus.
b) encolhe devido a certas substâncias.
c) inflama devido a compostos ou vírus.
d) sangra e definha devido à morte celular.
e) esfarela devido à falta de oxigênio.

Feedback: item 4.3.3.1, segundo parágrafo

4. O período de latência:
a) vai de segundos a horas.
b) vai de minutos a dias.
c) vai de horas a semanas.
d) vai de dias a meses.
e) vai de dias a anos.

Feedback: p.71, item 4.3.4., primeiro parágrafo

5. Efeitos agudos e crônicos:


a) ocorrem sempre juntos.
b) ocorrem sempre separados.
c) podem ocorrer juntos ou separados.
d) o agudo sempre ocorre depois do crônico.
e) o crônico sempre ocorre depois do agudo.
Feedback: item 4.3.5., p.72.
o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.6 LIMITES DE TOLERÂNCIA


4.6.1 determinação do risco associado a substâncias
Os riscos da exposição a contaminantes podem ser caracterizados de 3 modos
diferentes:
• via testes em animais;
• via testes em seres humanos;
• via testes de mutagenicidade.

4.6.1.1 Testes em Animais


De longe o método mais comum de definir limites de tolerância para humanos é
através de testes em animais. Apesar de existir sempre uma incerteza ao se extrapolar
resultados com animais para seres humanos, os cientistas hoje em dia usam animais de
laboratório para obter dados básicos de toxicidade.
Num teste toxicológico deste tipo, uma população de animais é exposta ao
contaminante em estudo, durante um período de tempo que dura a maior parte ou toda a
vida do animal. Ratos, camundongos e hamsters são os mais utilizados porque são
pequenos, facilmente manuseáveis, baratos e tem vida média curta. Normalmente
centenas de animais são usados em estudos, sendo guardados sob condições
controladas e observados quanto a sinais de efeitos agudos ou crônicos ao longo do
tempo. São comparados com outros animais que não foram expostos ao contaminante e
são denominados de controles.
Normalmente apenas um composto químico é analisado de cada vez, com
subgrupos da colônia de animais recebendo diferentes doses, de modo que se possa
estudar a correlação entre concentração e efeito. Se uma resposta a uma dada
concentração é obtida, é possível se estimar os efeitos para concentrações maiores e
menores, confirmar os resultados com novos experimentos, e deste modo validar a
conclusão de que o composto em estudo é realmente o causador do efeito observado.
Pesquisadores podem estimar os efeitos de doses ainda menores do composto
químico, que são típicas de exposições ambientais. Estes métodos de estimação
consideram o fato de que se uma exposição afetar apenas 0,01% da população, então
apenas um animal de laboratório em 10 000 seria afetado e, provavelmente, este não se
destacaria num experimento com muito menos de 10 000 animais. Para se chegar a
limites de exposição de baixas doses usa-se a extrapolação, devendo-se, além disso,
considerar o problema de quão próximos os resultados para animais são dos resultados
para os seres humanos.
Atualmente dois métodos são mais comumente usados para se estimar limites
aceitáveis de toxicidade para seres humanos.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

MÉTODO 1
Assume-se que existe um valor limite inferior, ou seja, um valor de concentração ou
dose de exposição abaixo do qual não ocorre efeitos adversos à saúde. Em outras
palavras, o corpo humano tolera esta concentração ou dose, pois abaixo deste valor as
funções corporais normais anulam a toxicidade do contaminante. A mais alta
concentração da substância que não produz efeitos danosos à saúde dos animais é
dividida por um fator de segurança. Por exemplo, se 10 ppm de uma substância não
causou efeitos em animais, mas 50 ppm causam então 10 ppm é dividido por um fator de
segurança de 10, 100 ou 1 000, de modo a se obter um limite de tolerância para pessoas.
A escolha do fator de segurança é algo controverso e depende da qualidade dos
animais de teste. Um fator de 10 é usado se estão disponíveis bons dados quantitativos
de exposição humana. Um fator de 100 é usado quando se tem dados de testes de longo
período e estudos extensos com animais. Um fator de 1000 é adequado quando os
dados com animais são poucos ou inadequados. Estes fatores de segurança são
arbitrários e são julgamentos científicos tanto quanto estimativas.
MÉTODO 2
Nesta metodologia, para se relacionar dados de animais com valores para seres
humanos, extrapola-se as altas exposições dadas para animais para as baixas
exposições mais típicas de contaminantes ambientais, onde se assume não existir valor
limite inferior. Ou seja, qualquer dose gera dano à saúde.
Este método é usado, por exemplo, quando se analisa possíveis carcinogênicos.
Assim, se uma dose de 100 ppm de uma substância causa câncer do fígado em 10% dos
animais, enquanto que uma dose de 50 ppm causa o dano em 1% dos animais, então se
pode estimar que uma dose de 1 ppm cause danos em 0,000 01% dos animais.
Neste método deve-se frisar que a extrapolação é teórica, assumindo-se que
mesmo a menor dose de uma toxina pode causar danos. Ou seja, não existe risco zero e
o risco varia com o nível de exposição.
Com poucas exceções, produtos químicos conhecidos por causarem câncer em
seres humanos também causam câncer em pelo menos uma espécie de animal de teste.
Isto não prova necessariamente que estudos com animais podem ser usados para prever
os efeitos nos indivíduos. Apesar deste senão, estudos com animais é o processo mais
comum e aceito de se definir limites aceitáveis para seres humanos. Por uma razão muito
simples: não existe outro método melhor disponível.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.6.1.2 Testes em Seres Humanos.


Não existe dificuldade para se observar os efeitos diretos de produtos químicos
suspeitos sobre indivíduos. Raras vezes, porém, pessoas têm sido deliberadamente
expostas a produtos tóxicos e, a menos que isto tenha ocorrido de modo inadvertido, elas
não devem ser usadas como cobaias.

Quadro 4.5. Exemplo 5

Os gases mostarda e cloro foram usados na primeira grande guerra, com efeitos

devastadores. O agente laranja foi utilizado na guerra do Vietnã com efeitos terríveis

sobre a saúde. Criminosos condenados à morte têm sido executados em alguns

estados americanos e canadenses com o gás cianeto de hidrogênio.

Pesquisadores epidemiológicos examinam grupos separados de pessoas que


tenham sido expostas a diferentes quantidades de agentes ambientais suspeitos.
Diferenças entre a incidência de efeitos danosos à saúde na população sendo estudada
podem sugerir uma relação entre um dado contaminante e seus efeitos adversos.
Infelizmente, estudos epidemiológicos têm limitada sensibilidade, não oferecendo
estimativas de risco a menos que o efeito de um contaminante seja grande. Eles também
não demonstram uma relação de causa e efeito, além da dificuldade de caracterizar o
efeito de um dado contaminante, quando uma população está na realidade exposta a
muitas possíveis substâncias suspeitas.
Quando se trabalha com séries históricas, existe uma grande falta de dados sobre
a incidência de todas as doenças ocupacionais. A silicose, por exemplo, resulta de uma
exposição cumulativa a um agente nocivo à saúde, não existindo um momento preciso no
qual o efeito possa ser medido. Os efeitos nocivos de muitos agentes são cumulativos,
sendo difícil se detectar um suspeito que parece inócuo no curto prazo, mas oferece
riscos no longo prazo. Um típico exemplo são os baixos níveis de radiação encontrados
em certos tipos de minas.
Quando um trabalhador começa a mostrar sintomas de enfermidade, algumas
vezes decorre-se um tempo antes que os sintomas sejam associados a uma dada
doença.

o
eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
79
Capítulo 4. O Corpo Humano

Quadro 4.6. Exemplo 6

A pneumoconiose dos trabalhadores de minas de carvão, conhecida como CWP -

“coal workers pneumoconiosis” ou “black lung” (pulmões pretos), esteve em evidência

por muitos anos, antes que as sociedades médicas americanas e a indústria de carvão

a reconhecessem como uma doença distinta e causada pela poeira de carvão. Um

tempo de reação semelhante também ocorreu nas indústrias canadenses, onde

mineiros expostos à poeira das minas de fluorita da Newfoundland estavam

desenvolvendo silicose e carcinoma nos pulmões.

Mesmo depois de uma doença ocupacional ter sido reconhecida e suas causas
estabelecidas, casos individuais podem ainda ser difíceis de diagnosticar. Assim, cerca
da metade das reclamações relativas à indenização por “pulmões pretos” nos Estados
Unidos tem sido rejeitada principalmente por causa de um teste de raios X que tem sido
considerado não confiável.
Outros fatores complicadores do reconhecimento de agentes ocupacionais
suspeitos são, por exemplo, o cigarro e a multiplicidade de causas de uma doença. O
cigarro pode ser a causa de uma série de efeitos similares a aqueles que a doença gera,
enquanto que certa enfermidade pode ter várias origens e apenas uma delas estar
associada ao local de trabalho.
Em resumo, não se tem uma estrutura aceitável de trabalho para coletarem dados a
serem analisados adequadamente nem se têm facilidades para sua obtenção. Por outro
lado, estudos de animais em laboratório são em geral mais úteis para quantificar
estimativas de riscos, podendo algumas vezes permitir o estabelecimento de relações
causais.

4.6.1.3 Testes Mutagênicos


Um mutágeno é uma substância que pode causar alterações genéticas numa
célula, ou seja, em seus genes e cromossomos. A mutação pode fazer com que a célula
perca ou adquira certa característica, ou aumente ou diminua sua habilidade em competir
com outras células. Pode também fazer com que a célula passe a requerer nutrientes
adicionais ou cresça sem limites. A maioria das mutações é danosa.
As mutações podem ocorrer em células somáticas ou em células de reprodução.
Células somáticas são aquelas que formam os tecidos e os órgãos do corpo, e mutações
nestas células podem causar câncer e outros tipos de doenças. Todavia, o dano genético
normalmente não se transfere para a próxima geração.
Células de reprodução incluem os espermatozóides no homem e os óvulos na
mulher. Mutações nestas células podem ser transferidas para a próxima geração.

o
eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
80
Capítulo 4. O Corpo Humano

A importância de se detectar um mutágeno é dupla. Primeiro, porque ele é danoso


por si só. Em segundo lugar, porque a maioria dos carcinogênicos conhecidos também é
mutágeno. Muitos pesquisadores, usando muito empirismo, consideram que se um
produto químico é um mutágeno, existe boa probabilidade de ser também carcinogênico.
Um bom número de testes laboratoriais, relativamente rápidos, pode ser executado
para se determinar se um composto químico é um mutágeno. Estes testes são mais
simples que testes em animais e, portanto pode-se analisar um grande número de
produtos quanto à carcinocidade. Para efetuar estes testes, são usadas células de
mamíferos ou bactérias, pois certos tipos destas são especialmente sensíveis aos
produtos químicos que causam mutagênese. Estas células são expostas a várias
concentrações do produto suspeito e as alterações celulares são observadas em função
do tempo. Se determinadas alterações são bem caracterizadas e função da dose de
exposição, então o produto químico é considerado um mutágeno neste sistema de testes.

Quadro 4.7. Exemplo 7

Um dos mais importantes teste de mutagênese foi desenvolvido pelo bioquímico

Bruce Ames e colaboradores da Universidade da Califórnia. No teste de Ames,

bactérias Salmonella tifimurium são expostas ao composto químico. Originalmente

estas bactérias são dependentes de certos nutrientes, mas se o composto for um

mutágeno as bactérias são modificadas de modo a não mais precisar deste nutriente. A

habilidade química de induzir esta mutagênese indica que o composto provavelmente é

um mutágeno, mas nem todos os carcinogênicos conhecidos são mutágenos no teste

de Ames. Como exemplo, o clorofórmio não é um mutágeno no teste, mas é

carcinogênico em ratos e camundongos e, provavelmente, em seres humanos. A

correlação entre mutagenicidade e carcinocidade não é perfeita.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.7 FATORES IMFLUENTES

De modo geral quatro fatores têm influência em como uma substância tóxica afeta
um indivíduo. São eles:
• toxicidade;
• concentração;
• tempo de exposição;
• susceptibilidade individual.

4.7.1 Toxicidade
Um importante ponto a lembrar é que qualquer substância pode se tornar tóxica se
a dose for aumentada acima dos limites de tolerância do corpo. Assim, o próprio oxigênio
tão essencial à vida na proporção de 21%, pode se tornar tóxico se puro (100%). Por
conseqüência, a intensidade da dose e o tempo de exposição associados a um produto
tóxico ou a um agente físico, podem determinar a severidade do dano.
Duas diferentes substâncias podem causar danos distintos, apesar de
apresentarem a mesma concentração e ter-se o mesmo tempo de exposição. Esta
diferença de efeitos é denominada de toxicidade, que é normalmente expressa por
quanto da substância mata 50% dos animais expostos. Esta quantidade pode ser
representada pela sigla DL50 ou CL50, indicando dose letal a 50% ou concentração letal a
50%. Em inglês as correspondentes siglas são LD50 ou LC50 (“lethal dose e lethal
concentration”).

CL50 - Concentração letal

Refere-se a um método de medição da habilidade de um material de causar


envenenamento quando é inalado por animais de teste. Ou seja, é a concentração da
substância dispersa no ar que mata 50% dos animais de teste. As unidades usadas são
ppm para gases e mg/m3 para poeiras, fumos e névoas. Quanto menor o CL50, mais
tóxico o produto.
Os testes em geral são conduzidos num intervalo de tempo de 4 horas e a CL50
para um produto varia em função da espécie animal e do tempo de exposição. Portanto,
estas informações devem acompanhar o valor apresentado.

DL50 - Dose letal

Refere-se a um método de quantificar a habilidade de um produto de causar o


envenenamento quando é engolido por animais de teste, ou quando é absorvido pela
pele do animal. Ou seja, é a dose única que mata 50% dos animais testados. É expressa
na unidade de miligrama de substância teste por kg de massa do animal, isto é, mg/kg.
Quanto menor o valor da dose letal, maior a toxicidade.
A DL50 para uma substância varia com a espécie animal, com a rota de entrada e
com o tempo de exposição e, portanto, estas informações devem acompanhar o valor
indicado.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.7.2 Concentração

A concentração pode ser expressa em muitas unidades, tais como partes por
milhão (ppm), partes por bilhão (ppb), em miligramas por metro cúbico (mg/m3), etc. Uma
pequena concentração de uma substância altamente tóxica pode gerar muitos danos à
saúde, enquanto que uma alta concentração de outra substância pouco tóxica pode
causar pequenos efeitos na saúde humana.

Quadro 4.8. Exemplo 8

O monóxido de carbono (CO) é altamente tóxico, sendo seu limite de tolerância

legal de alguns ppm. Pequeníssimas concentrações podem causar grandes efeitos

maléficos e mesmo a morte. Já o dióxido de carbono (CO2), mesmo em concentrações

bem maiores, gera poucos efeitos à saúde. Cada substância é única nos seus efeitos à

saúde, existindo uma enorme variação das concentrações que podem ser toleradas

pelo homem.

4.7.3 Tempo de Exposição


O tempo durante o qual uma pessoa fica exposta a um produto químico ou a um
agente físico como ruído ou radiação influencia o efeito na saúde do corpo humano. No
caso do cigarro, o câncer de pulmão ou garganta surge em fumantes com de cerca de 20
ou mais anos de hábito. Indivíduos que trabalham em ambientes empoeirados, em geral
não apresentam efeitos nos primeiros anos, mas eventualmente, as defesas naturais do
corpo não resistem à longa exposição e várias formas de pneumoconioses surgem em
função do tipo de poeira.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.7.4 Suscetibilidade Individual


Todas as pessoas são diferentes, e fatores como suscetibilidade, carga genética e
estado geral de saúde são importantes. Nem todo indivíduo exposto no trabalho a
substâncias carcinogênicas desenvolverá câncer. É impossível prever quem
desenvolverá e quem não desenvolverá a doença e, portanto, todos os conhecidos
carcinogênicos e produtos tóxicos devem ser efetivamente controlados.
É impossível viver uma vida sem riscos. Pesquisadores avaliam os efeitos
decorrentes dos poluentes ambientais, de modo a estimar os riscos à saúde humana. Se
os riscos forem pequenos, pouco se tem a fazer para a remoção dos contaminantes. Se
os riscos forem altos, existe um forte ímpeto para se diminuir o perigo. Apesar de o
indivíduo comum não saber estimar os riscos de um dado poluente, pesquisadores,
cientistas e médicos sabem. Suas estimativas, contudo não são fáceis de serem feitas,
nem são exatas. As estimativas se assentam em hipóteses e renomados cientistas
podem estar em desacordo sobre elas. Avaliar riscos à saúde significa estimar a
probabilidade de que a exposição a um poluente causará um dado efeito adverso.
Portanto o conceito de risco envolve estimar a probabilidade de ocorrência de um dado
efeito associado ao seu grau de severidade.

4.8 TIPOS DE LIMITES DE TOLERÂNCIA


O pequeno livreto americano, cujo título em inglês é “2003 TLV’s and BEI’s
Threshold Limit Values for Chemical Substances and Physical Agents and Biological
Exposure Indices“, contém uma grande quantidade de informações sobre o que se
consideram limites seguros para uma ampla gama de agentes químicos e físicos. Ele é
publicado pela ACGIH - “American Conference of Governmental Industrial Hygienists”,
sendo atualizado anualmente. Os valores apresentados são definidos por consenso num
grupo de especialistas que analisam todas as pesquisas disponíveis sobre a substância
ou agente físico. A ACGIH afirma que os valores numéricos devem ser considerados
como recomendações do que seja um limite seguro de exposição. Qualquer pessoa
estudando higiene do trabalho deveria ter seu exemplar deste livreto, para o qual existe
tradução em português feita pela ABHO - Associação Brasileira de Higienistas
Ocupacionais.
As recomendações apresentadas se baseiam no conceito de limite de tolerância
(LT) para cada agente químico ou físico. A correspondente sigla em inglês é TLV
(“threshold limit value”).
Um agente químico é um composto químico sólido aerodisperso (como poeira), um
líquido ou um gás, enquanto o agente físico é calor, frio, ruído, vibrações e radiações.
Com base na experiência e em experimentos, são calculados níveis de concentração que
servem de referência para o estabelecimento do limite de exposição.
Os conceitos associados aos LT serão introduzidos através dos agentes químicos
em geral e, posteriormente em cada capítulo, serão detalhados os LT para cada agente
físico ou químico em particular.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.8.1 Limites de Tolerância segundo a ACGIH


Os limites de tolerância para os agentes químicos se referem à concentração de
substâncias dispersas no ar, representando condições sob as quais se acredita que
quase todos os trabalhadores podem repetidamente ser expostos, dia após dia, sem
nenhum efeito adverso.
Existem três categorias de limites de tolerância especificados pela ACGIH:

• limites de tolerância média ponderada;


• limites de tolerância curta exposição;
• limites de tolerância valores teto.

A sigla correspondente da ACGIH é TLV-TWA (“threshold limit value-time weighted


average”) define um limite para turnos diários de 8 horas ou 40 horas semanais, para o
qual todos os trabalhadores podem ser expostos durante toda sua vida útil sem
ocorrência de efeitos adversos. As siglas da ACGIH como TLV-TWA são marcas
registradas e de seu uso exclusivo.
Alguns períodos de exposição acima do LTmp são permitidos, desde que sejam
compensados por períodos de exposição abaixo do limite. O quanto é permitido estar
acima do limite depende da magnitude do LT para cada substância, sendo listados os
fatores aplicáveis a cada caso.

4.8.1.1 Limite de Tolerância Curta Exposição - LTce


A sigla correspondente da ACGIH é TLV-STEL (“threshold limit value - short term
exposure limit”) representa a concentração às quais trabalhadores podem ser expostos
continuamente por breves períodos sem sofrer os seguintes efeitos:
• irritação;
• dano crônico ou irreversível de tecidos;
• narcose em grau suficiente para afetar o trabalho em termos de eficiência ou
segurança.
O limite de curta exposição (LTce) não é um limite independente mas
complementa o limite média ponderada (LTmp) quando existem reconhecidos danos de
uma substância cujos efeitos tóxicos são primariamente de natureza crônica. Os LTce
são recomendados apenas quando efeitos tóxicos foram relatados com relação a altas
exposições de curta duração com pessoas ou animais.
As regras básicas associadas a uma exposição acima do LTmp e até o LTce são:
• uma exposição até ao LTce não deve exceder 15 minutos de duração;
• deve decorrer pelo menos 1 hora entre cada exposição até o Ltce;
• não se pode ter mais de 4 exposições ao LTce por dia;
• a exposição ao LTce deve sempre respeitar o LTmp.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.8.1.2 Limite de Tolerância Valor Teto - LTvt


A sigla correspondente da ACGIH é TLV-C (“threshold limit value-ceiling”) e
representa a concentração que não deve ser nunca excedida, mesmo instantaneamente,
durante o tempo de trabalho.
A prática usual na higiene do trabalho, se não for factível monitoramento
instantâneo, é a avaliação do LTvt via uma amostragem por 15 minutos, exceto para
substâncias que possam causar irritação imediata numa breve exposição.
Para algumas substâncias como gases irritantes, apenas uma categoria de limite
de tolerância pode ser relevante. Para outras substâncias, dois tipos de limite podem ser
aplicáveis e relevantes em função das ações fisiológicas. É importante frisar que se um
dos limites aplicáveis for excedido, assume-se que existirá um potencial perigo
decorrente da substância em questão.
A comissão responsável pelos agentes químicos é de opinião de que os LT
baseados em irritação física não devem ser considerados menos restritivos do que
aqueles baseados em desabilitação física. Isto porque existe crescente corpo de
evidências que a irritação física pode iniciar; promover ou acelerar danos físicos através
da interação com outros agentes químicos ou biológicos.

4.8.1.3 Distinção entre Limites Média Ponderada (LTmp) e Valor Teto (LTvt)
Os valores da média ponderada permitem a superação do limite de tolerância,
desde que esta seja compensada por adequada exposição abaixo do limite durante o
turno 8 horas de trabalho. Em alguns casos específicos, pode ser possível se calcular a
concentração média numa semana (40 horas) em vez de num dia.
A relação entre o LTmp e as suas permissíveis superações decorre de regras
empíricas que em certos casos podem não ser aplicáveis.
O quanto um limite de tolerância pode ser superado num breve período de tempo,
sem causar danos à saúde, depende de vários fatores:
• da natureza do contaminante;
• se concentrações muito altas, mesmo em curto tempo, causam envenenamento
agudo;
• se os efeitos são cumulativos;
• a freqüência com que as altas concentrações ocorrem;
• a duração da superação.
Todos estes fatores devem ser levados em consideração quando se define se uma
condição perigosa existe, e se deve se admitir superações do limite de tolerância.
A concentração média ponderada se apresenta como o meio mais prático e
satisfatório de se monitorar contaminantes do ar quanto aos limites de tolerância. Apesar
disto, existem certas substâncias para as quais ela não é adequada. São substâncias
que têm ação rápida e cujos limites de tolerância são mais apropriadamente definidos em
função deste tipo de resposta. Estas substâncias são mais bem controladas por um limite
tipo valor teto que não deve ser nunca excedido.
Está implícito nestas definições que os modos de amostragem para se verificar
compatibilidade com as normas são diferentes em cada caso. Uma única e breve
amostragem, aplicável ao LTvt, não é adequada ao LTmp. Para este último, faz-se

o
eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
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Capítulo 4. O Corpo Humano

necessário certo número de amostras que permitam o cálculo da média relativa a um


ciclo de serviço ou a um turno.
Enquanto o valor teto caracteriza um limite definitivo, o qual a concentração da
substância não deve superar nunca, a média ponderada requer um valor superior
associado, que define uma faixa acima do limite que pode ser penetrada sob certas
condições.

4.8.1.4 Limites Superáveis Condicionalmente


Os limites superáveis condicionalmente, chamados de “excursion limits” pela
ACGIH, não existem para a maioria das substâncias para as quais existem limites de
tolerância média ponderada. Isto se deve à falta de suficientes dados toxicológicos, mas
mesmo assim estas superações do limite de tolerância devem ser controladas no turno
de 8 horas mesmo que o LTmp esteja sendo respeitado.
Os limites de superação condicional, aplicáveis aos LTmp que não possuem LTce,
devem ser determinados de acordo com as seguintes recomendações:
• pode ocorrer exposição à mais de 3 vezes o valor numérico do LTmp, mas no
máximo por até 30 minutos num dia de trabalho (8 horas);
• sob nenhuma hipótese deve-se superar o valor de 5 vezes o LTmp, mesmo não
sendo excedido o LTmp;
• quando um LTce estiver definido, este valor tem precedência sobre o limite
superável condicionalmente, seja ele mais ou menos restritivo.

4.8.2 Normas Canadenses


Na província de Ontário, Canadá, a legislação indica que a publicação da ACGIH
deve ser usada como guia quando não existirem normas disponíveis sobre saúde e
higiene ocupacional.
Todavia o governo de Ontário tem uma série de publicações que indicam as
máximas concentrações permissíveis para vários agentes químicos presentes nos locais
de trabalho. Estes valores devem ser seguidos e têm precedência sobre qualquer outro
valor limite.
A principal publicação, semelhante ao livreto da ACGIH, se denomina “Regulations
respecting control of exposure to biological or chemical agents - made under the
Occupational and Safety Act”. É uma publicação semelhante à da ACGIH com seus
TLV’s, mas não inclui agentes físicos. Comparando-se as duas publicações percebe-se
que existem umas diferenças de terminologia, pois Ontário introduz o termo valor de
exposição (“exposure value - EV”), de modo a se distinguir os valores canadenses dos
americanos. A tabela 4.8. apresenta uma comparação de nomenclatura entre a ACGIH e
a província de Ontário.
Além da publicação acima citada, a província de Ontário publica textos específicos
sobre mais de uma dezena de diferentes substâncias encontradas na indústria. Estas
substâncias devem ser rigorosamente controladas, pois são alvo de intensa
preocupação. Como elas foram designadas como requerendo especial atenção, são
denominadas de substâncias designadas (“designated substances”). Um exemplo de
substância designada que tem sua própria publicação é o asbesto.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

Tabela 4.8. Comparação de nomenclaturas quanto a limites de tolerância. A ACGIH usa


o termo TLV - “threshold limit value” (valor limite) enquanto Ontário usa EV - “exposure
value” (valor de exposição).
Sigla na Sigla em Definição canadense
ACGIH Ontário
valor de exposição média temporal
TLV-TWA TWAEV ponderada: a concentração diária média, de
um agente químico ou biológico
aerodisperso, existente no local de trabalho
valor de exposição curto tempo: a máxima
TLV-STEL STEV concentração, de um agente biológico ou
químico aerodisperso, à qual um trabalhador
pode ser exposto durante 15 minutos
valor de exposição teto: a máxima
TLV-C CEV concentração, de um agente químico ou
biológico aerodisperso, à qual um
trabalhador pode ser exposto em qualquer
tempo

4.8.3 Normas Brasileiras


A terminologia oficial no Brasil é “Limite de Tolerância – LT”, pois os valores
decorrem de evidências e hipóteses de que se têm concentrações limites que o corpo
tolera sem que ocorram danos à saúde. Uma denominação equivalente seria limite
admissível.
A Portaria 3 214, de 8/junho/78, aprovou as Normas Regulamentadoras (NR)
associadas ao Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, e relativas à
Segurança e Medicina do Trabalho. Foram aprovadas 29 NRs, sendo a NR-15 relativa à
“Atividades e Operações Insalubres”. Os 14 anexos da NR-15 são cada um específico
para um agente físico, químico ou biológico, como relacionado a seguir (Segurança e
medicina do trabalho, 2004):

• Anexo 1 – LT para ruído contínuo ou intermitente;


• Anexo 2 – LT para ruído de impacto;
• Anexo 3 – LT para exposição ao calor;
• Anexo 5 – LT para radiações ionizantes;
• Anexo 6 – trabalho em condições hiperbáricas;
• Anexo 7 – radiações não ionizantes;
• Anexo 8 – vibrações (do corpo humano);
• Anexo 9 – frio;
• Anexo 10 – umidade;
• Anexo 11 – agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por LT;
• Anexo 12 – LT para poeiras minerais;
• Anexo 13 – agentes químicos (exceto os constantes dos anexos 11 e 12);
• Anexo 14 – agentes biológicos.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

Na NR-15 destacamos os seguintes subitens:


15.1 – “São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem:
15.1.1. – acima dos LT previstos nos anexos 1,2 3, 5, 11 e 12.
15.1.3. – nas atividades mencionadas nos anexos 6, 13 e 14.
15.1.4 – comprovadas através de aludo de inspeção do local de trabalho,
constantes dos anexos 7, 8, 9 e 10.”.
15.1.5 – “Entende-se por Limite de Tolerância para fins da norma NR-15, a
concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a
natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à
saúde do trabalhador, durante sua vida laboral”.

Agentes químicos como gases, líquidos e poeiras, têm um tipo de LT, com
características que são diferentes, por exemplo, dos LT para ruído, calor ou radiação
ionizante. Neste capítulo apresentaremos os conceitos básicos de limite de tolerância
para agentes químicos, e nos capítulos relativos a ruído, calor ou radiação ionizante
serão detalhados os correspondentes LT.
Diferentemente da ACGIH, no Brasil temos apenas dois tipos de limite de tolerância
para agentes químicos. Estes limites são válidos para jornadas de trabalho de 48 horas
semanais, para absorção por via respiratória e na presença de oxigênio com teor no
mínimo de 18%. Os dois limites legais no Brasil são o limite de tolerância valor teto (LTvt)
e o limite de tolerância média aritmética (Ltma).

4.8.3.1 Limite de Tolerância Valor Teto – LTvt


É um valor que não pode ser ultrapassado em momento algum da jornada de
trabalho, existindo apenas para alguns agentes químicos. Em outras palavras, o LTvt
será considerado excedido se a qualquer instante a concentração do agente químico for
superior a ele:

Cj > LTvt (qualquer instante) (1)

onde:

Cj = concentração do agente químico no local de trabalho, num instante qualquer j

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.8.3.2 Limite de Tolerância Média Aritmética - LTma


Neste caso, a média aritmética das medidas de concentração do agente químico
não pode ser superior ao valor do LTma. A determinação da concentração média do
agente químico, feita por meio de amostragem instantânea ou não, deverá conter pelos
menos 10 amostragens para cada ponto ao nível respiratório do trabalhador. Entre cada
amostragem deve existir um intervalo de pelo menos 20 minutos.
Deste modo o LTma será considerado excedido quando a média aritmética das
medidas for superior ao seu valor numérico, ou seja:

(2)

onde:

= concentração média aritmética das concentrações medidas Cj

A aplicação do LTma requer adicionalmente que se imponha certos limites aos


valores individuais medidos (Cj), de modo que mesmo sendo a média aritmética não
superior ao LTma, também não se tenha um valor individual acima de um dado valor
máximo (Vmax).
Este valor máximo é função do valor numérico do LTma, sendo obtido através do
chamado fator de desvio (FD), conforme a expressão (3):

Vmax = LTma x FD (3)

Os valores de FD e LTma são resumidos nas tabelas (4.9) e (4.10).

Tabela 4.9. Valores do fator de desvio FD em função do valor do LTma


(extraído do Quadro 2 do Anexo 11, NR-15).
LTma (ppm ou mg/m3) FD
0a1 3
1 a 10 2
10 a 100 1,5
100 a 1 000 1,25
Acima de 1 000 1,1

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Capítulo 4. O Corpo Humano

Tabela 4.10. Limites de tolerância média aritmética (LTma) para alguns agentes químicos
(extraída do Quadro 1, Anexo 11, NR-15). Quando existe LTvt assinalado na 2a. coluna,
este é o LT aplicável.
Absorção pela LTma (para até 48 horas semanais) Grau de insalubridade
Agentes químicos LTvt pele também ppm mg/m3
Acetaldeído 78 140 máximo
Acetato de cellosolve Sim 78 420 médio
Acetileno asfixiante simples
Acetona 780 1870 mínimo
Ácido acético 8 20 médio
Ácido cianídrico Sim 8 9 máximo
Ácido clorídrico + 4 5,5 máximo
Álcool n-butílico + Sim 40 115 máximo
Amônia 20 14 médio
Anilina Sim 4 15 máximo
Bromo 0,08 0,6 máximo
Chumbo 0,1 máximo
Cloreto de vinila + 156 398 máximo
Dióxido de carbono 3900 7020 mínimo
Dióxido de enxofre 4 10 máximo
Dióxido de nitrogênio + 4 7 máximo
Estireno 78 328 médio
Fenol Sim 4 15 máximo
gás sullfídrico 8 12 máximo
Metano asfixiante simples
Monóxido de carbono 39 43 máximo
Óxido de etileno 39 70 máximo
Óxido nítrico (NO) 20 23 máximo
Óxido nitroso (N20) asfixiante simples
Tolueno (toluol) Sim 78 290 médio

Para se analisar se as condições de trabalho com uma substância estão de acordo


com o limite de tolerância, devemos seguir o seguinte programa:

• existe LT na legislação brasileira?;


• se existir, tem-se LTma ou tem-se LTvt?;
• se existir LTvt → nunca pode ser ultrapassado, em momento algum;
• se existir LTma, procurar o FD e calcular Vmax → analisar então tanto para
valor máximo como para média ponderada;
• se não existir LT na legislação brasileira, recomenda-se como boa prática
analisar os valores da ACGIH., que são anualmente revistos. A NR-15 tem
valores antigos e não revistos anualmente.

Quadro 4.9. Obter o LT para a amônia, especificando seu tipo. Caso seja
necessário, calcule o Vmax.

SOLUÇÃO: Da tabela 4.10, obtemos: LTma = 20 ppm.

Com a tabela 4.9: FD = 1,5. Portanto: Vmax = 1,5 x 20 = 30 ppm

Quadro 4.10. Na tabela 4.10 identificar substâncias cujo LT seja de valor teto e
calcular o Vmax.

o
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91
Capítulo 4. O Corpo Humano

Solução:
Obtemos as substâncias
Ácido clorídrico – LTvt = 4 ppm
Álcool n-butílico – LTvt = 40 ppm
Dióxido de nitrogênio – LTvt = 4 ppm
Para o caso do LT ser valor teto (indicado pelo sinal + na 2a. coluna), este se aplica
e não o LTma. Portanto não tem sentido falar em Vmax neste caso. As substâncias que
tem LTvt são aquelas que em geral tem ação muito rápida, não sendo adequado analisar
os efeitos em 8 horas.

Os conceitos associados a LTma e LTvt podem ser visualizados graficamente,


como mostrado nas figuras 4.6.a, b e c.

LTma

Figura 4.6.a.
Para o caso de LTma, os valores medidos devem fornecer uma média inferior a
este limite. Na figura, apesar da concentração ser sempre inferior a Vmax, fica claro que
a média das concentrações no tempo é superior ao valor do LTma. Portanto o LT teria
sido excedido.

LTma

Figura 4.6.b.
Neste caso o LT foi excedido, pois apesar na concentração média ser inferior ao
valor do LTma, num dado momento a concentração superou o valor máximo permitido
(Vmax).

o
eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
92
Capítulo 4. O Corpo Humano

LTma

Figura 4.6.c.
Neste caso o LT não foi excedido, pois nem a média aritmética das concentrações
supera o valor LTma, nem, em nenhum momento, a concentração supera o valor Vmax.

Quadro 4.11. Ao se avaliar a concentração de amônia em um local de trabalho,


verifica-se que os trabalhadores ficaram expostos 2 horas a 10 ppm e 6 horas a 25 ppm.
O limite de tolerância foi ultrapassado?

SOLUÇÃO: Para a amônia, da tabela 4.10 obtivemos: LTma = 20 ppm.

Com a tabela 4.9: FD = 1,5. Portanto: Vmax = 1,5 x 20 = 30 ppm.

A concentração média nas 8 horas é dada pela média aritmética ponderada:

C(média) = (2 x 10 + 6 x 25) / 8 = 21,25 ppm.

Portanto, apesar de nenhum valor superar Vmax, a média foi superior a 20 ppm,

tendo sido excedido o LT.

o
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93
Capítulo 4. O Corpo Humano

Quadro 4.12. Ao se avaliar a concentração de dióxido de carbono gasoso,


encontram-se os valores da tabela. O limite de tolerância foi ultrapassado?

SOLUÇÃO: Para o CO2, da tabela 4.10 obtemos: LTma = 3 900 ppm.

Com a tabela 4.9: FD = 1,1. Portanto: Vmax = 1,1 x 3 900 = 4 290 ppm.

A concentração média é dada pela média aritmética:

C(média) = (5 x 4.000 + 2 x 3.800 + 3.700 + 3.900 + 4.100) / 10 = 3.930 ppm.

Apesar de nenhum valor superar Vmax, a média foi superior a 3.900 ppm, tendo

sido excedido o LT.

o
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94
Capítulo 4. O Corpo Humano

Quadro 4.13. Ao se avaliar a concentração de chumbo numa usina de tratamento


de minérios, encontram-se os valores abaixo. O limite de tolerância foi ultrapassado?

SOLUÇÃO: Para o chumbo, da tabela 4.10 obtemos: LTma = 0,1 mg/m3.

Com a tabela 4.9: FD = 3. Portanto: Vmax = 3 x 0,1 = 0,3 mg/m3

A concentração média é dada pela média aritmética:

C(média) = (5 x 1 + 5 x 0,5) / 10 = 0,75 mg/m3.

A média supera LTma e vários valores individuais superam o Vmax., portanto foi

excedido o LT.

Se procurarmos o LT no livreto da ACGIH de 2003, encontraremos para o

chumbo o valor de 0,05 mg/m3. Isto porque constantemente a ACGIH incorporam-se

novos e mais restritivos valores, decorrentes das mais recentes pesquisas. A ACGIH

publica anualmente valores cientificamente “mais atuais”, algumas vezes mais

restritivos e outras vezes incorporando novas substâncias.

o
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95
Capítulo 4. O Corpo Humano

4.8.4 Comparação entre as Normas Brasileiras e as sugestões da ACGIH


4.8.4.1 Conceituação
Existem diversas diferenças entre valores e conceitos contidos nas normas
brasileiras e da ACGIH. Apesar da ACGIH não ser um órgão americano com poder de
legislação e normatização, seus valores são de alta credibilidade científica e são usados
como base em grande número de países. A consulta aos valores por ela publicados é
sempre recomendada e os nomes TLV-TWA, TLV-C e TLV-STEL são marcas registradas
dela.
Quanto aos valores de TLV-TWA (LTmp), eles são definidos para turno diário de 8
horas ou 40 horas semanais, enquanto o LTma se refere a 48 horas semanais. Assim,
muitas vezes o fato do valor brasileiro ser mais restritivo decorre apenas de uma
multiplicação pelo quociente (40/48).
Nos Estados Unidos e no Canadá existe o limite de tolerância TLV-STEL, que não
existe no Brasil e que traduzimos por limite de tolerância de curta exposição (LTce). É o
valor até o qual você pode ficar exposto acima do TLV-TWA, por breve período, sem
ocorrer: irritação, dano irreversível ou narcose que afete a segurança.
O TLV-STEL não é isolado, vem sempre associado ao TLV-TWA, e o suplementa
quando existem efeitos agudos associados a substâncias que em geral geram efeitos
crônicos. Para a maioria das substâncias não existem dados para definir TLV-STEL.
O TLV-C corresponde ao LTvt, sendo adequado a substâncias que tem ação muito
rápida, tornando a média ponderada em 8 horas um parâmetro inadequado. O LTvt
nunca pode ser superado e é independente da LTma.
A tabela 4.11 apresenta algumas comparações entre limites de tolerância segundo
a ACGIH e a NR-15 (Anexo 11).
Tabela 4.11. Limites de tolerância – TLV e LTma.
SUBSTÂNCIA USA (40 h) (**) Brasil (48 h) TLV-STEL (***)
ACGIH – TLV-TWA NR 15 - LTma só ACGIH
amônia 25 ppm 20 ppm (14 mg/m3) 35 ppm*
cloro 0,5 ppm 0,8 ppm 1 ppm
CO2 5 000 ppm 3 900 ppm 30 000 ppm
H2S 10 ppm 8 ppm 15 ppm
tricloroetileno 50 ppm 275 (1480 mg/m3) 100 ppm
Pb (*) 0,05 mg/m3 0,1 mg/m3 -
3 3
CO 0,02 mg/m 39 ppm (43 mg/m ) -
benzeno 0,5 ppm (+) 2,5 ppm
(*) elemento e compostos inorgânicos.
(**) valores para 2003 da ACGIH.
(***) no Brasil não existe este limite, seria Ltce.
(+) foi retirado da NR-15, existindo norma específica para benzeno, com metodologia
complexa de avaliação.

o
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96
Capítulo 4. O Corpo Humano

4.8.4.2 Visualização Gráfica de LTvt e TLV-C


Consideremos o butanol (ácido n-butílico). Para 2001 seus LT são: LTvt = 40 ppm e
TLV-C = 50 ppm.
O valor mais restritivo no Brasil decorre da relação de número de horas semanais,
tendo-se:
(40 h semanais para ACGIH / 48 h semanais no Brasil) x 50 ppm para ACGIH = 41,7 ppm
Ou seja, o valor corrigido é praticamente igual ao adotado legalmente no Brasil.
A figura 4.7. ilustra o caso em que os LTvt e TLV-C não foram excedidos nem no
Brasil nem para a ACGIH, para turno de 8 horas. Em nenhum instante estes limites
poderiam ser ultrapassados.

Figura 4.7. O LTvt não foi excedido nem o TLV-C.

4.8.4.3 Visualização Gráfica do TLV-TWA (LTmp) sem existência de TLV-STEL


(LTce).
Na figura 4.8.a. o TLV-TWA (LTmp) foi superado em alguns momentos mas a
média no tempo foi inferior ao valor limite. Como não se superou o valor de 3 vezes o
LTmp, as superações podem ser em qualquer número e por qualquer tempo, desde que
seja mantida uma média inferior ao LTmp.

Figura 4.8.a. O TLV-TWA (LTmp) não foi superado.

o
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97
Capítulo 4. O Corpo Humano

Figura 4.8.b. O valor de [3 x TLV-TWA] foi superado mas num


tempo total inferior a 30 minutos e [5 x TLV-TWA] nunca foi
superado.
Na figura 4.8.b. a concentração da substância superou o valor de 3 vezes o TLV-
TWA mas num tempo total inferior a 30 minutos. O valor de 5 vezes o TLV-TWA nunca foi
superado e se a média em 8 horas for inferior ao TLV-TWA, então o limite de tolerância
não terá sido excedido.
Na figura 4.8.c. o LTma (Brasil) e o TLV-TWA (LTmp da ACGIH) são iguais, mas
ambos foram excedidos. O LTma foi excedido porque o maior fator de desvio de acordo
com a tabela 4.8. é 3 e a concentração superou 3 vezes o LTma. Já o TLV-TWA (LTmp)
foi superado porque a concentração superou o valor de 3 vezes o TLV-TWA por mais de
30 minutos. Se a superação tivesse sido de 20 minutos, segundo a ACGIH, o limite não
teria sido excedido.

Figura 4.8.c. Ambos os limites de tolerância, do Brasil (LTma)


e da ACGIH (TLV-TWA = LTmp), foram excedidos. Os valores
numéricos são iguais (LTma = TLV-TWA).

o
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98
Capítulo 4. O Corpo Humano

4.8.4.4 Visualização gráfica do TLV-TWA (LTmp) com existência de TLV-STEL


(LTce)
Quando existe o TLV-STEL (LTce), ele complementa o TLVA-TWA, permitindo que
o valor do TLV-TWA seja superado em até 4 vezes num dia, por períodos não superiores
a 15 minutos e espaçados de no mínimo 60 minutos. Na figura 4.9. a concentração atinge
valores entre TLV-TWA (LTmp) e TLV-STEL (LTce) por 4 vezes, todas num intervalo
inferior a 15 minutos e espaçadas por mais de 60 minutos. Como o TLV-STEL nunca foi
excedido, se a concentração média nas 8 horas for inferior ao TLV-TWA (LTmp), então o
limite não terá sido excedido.

Figura 4.9. O TLV-TWA (LTmp) com TLV-STEL (LTce) não foi


superado.

o
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99
Capítulo 4. O Corpo Humano

4.8.4.5 O Caso do Berílio


Até 1996 o limite de tolerância indicado pela ACGIH para o berílio era um TLV-TWA
(LTmp) de 2 μg/m3. Além disso, havia a notação A2, indicando ser um suspeito
carcinogênico humano. A figura 4.10 ilustra uma possível variação da concentração sem
que seja excedido o limite de tolerância do berílio.

Figura 4.10. Superou-se o valor de 3 x LTmp, mas por apenas 25


minutos, ou seja, tempo inferior a 30 minutos. Superou-se o valor do
LTmp por 105 minutos mas estando abaixo de 3 x LTmp, mas isto
poderia ter sido compensado por valores abaixo deste limite, dando
uma média inferior a 2 μg/m3 . Neste caso o limite de tolerância não
teria sido excedido.

A partir de 1997, a ACGIH alterou o LT relativo ao berílio, mantendo um TLV-TWA


de 2 μg/m3, mas com um associado TLV-STEL de 10 μg/m3. Este novo limite de
tolerância se mantém até 2001, com a notação A1, indicando ser confirmado como
carcinogênico humano. Com este novo limite, a situação da figura 4.10 levaria a ter-se
excedido o LT, pois entre os 2 valores de 2 e 10 μg/m3 a concentração por duas vezes se
manteve por tempo acima de 15 minutos.
A alteração do tipo de limite de tolerância tornou uma situação antes admissível
numa situação não mais adequada. Este fato é uma tendência geral, com os valores de
limite de tolerância se tornando mais restritivos à medida que se dispõe de mais estudos
e dados toxicológicos.
O limite de tolerância para o berílio não existe na NR-15 (até 2004).

o
eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
100
Capítulo 4. O Corpo Humano

4.9 METODOLOGIAS DE MEDIÇÃO


A medicina desenvolveu vários métodos para detectar mudanças no corpo humano
e que permitem rastreá-las até o local de trabalho.

4.9.1 Medições no indivíduo


Algumas das mais importantes técnicas para se medir efeitos à saúde relacionados
com o ambiente de trabalho incluem as seguintes:
• espirometria;
• raios X;
• análise de excreções;
• testes de dosagem corporal;
• audiometria.

4.9.1.1 Espirometria
Uma simples medição de espirometria envolve a determinação de quanto ar se
consegue expelir dos pulmões. Os resultados obtidos antes da contratação podem ser
comparados com testes efetuados periodicamente enquanto o trabalhador continuar na
empresa. Estes testes são também conhecidos como testes de funcionamento pulmonar
ou de capacitação pulmonar.
Certas doenças ocupacionais podem paulatinamente reduzir a capacidade de
funcionamento dos pulmões e o teste de espirometria pode ajudar a identificar esta
redução. A asbestose, a silicose e a pneumoconiose de carvão podem levar a um
funcionamento bem restrito dos pulmões, enquanto o cigarro em geral conduz a uma
obstrução pulmonar.
Os testes de capacitação pulmonar são usados para se avaliar o enfraquecimento
dos pulmões, mas o enfraquecimento não implica necessariamente em incapacitação. O
enfraquecimento é definido como a redução das funções pulmonares em comparação
com valores normais, enquanto que a incapacitação é a impossibilidade de um indivíduo
desempenhar suas atividades usuais.
A avaliação da incapacitação é muito mais difícil quando a pessoa tem um passado
de fumante, devendo-se sempre considerar também o estilo de vida que ela tem. Devido
ao fato de que existem poucos conhecimentos sobre a história deste tipo de doença e
sua evolução, não se pode demonstrar cientificamente o momento exato em que a
pessoa deve ser retirada da exposição. Os problemas de diagnóstico podem ser
diminuídos por uma cuidadosa interpretação da história do trabalhador. Isto ajuda a se
recomendar a retirada do serviço ou mesmo se ele deve pedir indenização.
Existem continuados problemas para se estimar a incidência destas doenças por
causa da não uniformidade dos relatórios e a rápida rotatividade da força de trabalho.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.9.1.2 Raios X
É comum que trabalhadores que já trabalharam em ambientes com poeiras, mas
não o fazem mais, sejam solicitados a realizar exame de raios X dos pulmões com certa
regularidade. O motivo é que certos tipos de pneumoconioses continuam a se
desenvolver mesmo na ausência de fontes de material particulado.

4.9.1.3 Excreções
Metais pesados como mercúrio, podem ser detectados mesmo em pequenas
quantidades na urina. Esta detecção indica que o indivíduo está ou esteve exposto, e que
ações devem ser tomadas. Várias outras substâncias podem ser detectadas pelo mesmo
método.

4.9.1.4 Teste de Dosagem Corporal


O teste de dosagem corporal mais comum é o de sangue. Metais pesados como
mercúrio e chumbo, podem aparecer no sangue de um indivíduo muito exposto a estes
contaminantes. Outras partes do corpo que podem ser utilizadas para testes são os
tecidos, fluidos e soros.

4.9.1.5 Audiometria
Com o tempo as pessoas diminuem sua habilidade de ouvir. A causa pode ser o
natural envelhecimento humano ou um nível excessivo de ruído no local de trabalho.
Exames periódicos da habilidade auditiva podem identificar as pessoas sob situação de
risco quanto a ruído, podendo-se tomar então medidas para eliminar ou reduzir
sensivelmente o problema.

4.9.1.6 Resumo dos métodos


Todos estes métodos medem diretamente a quantidade da carga ambiental
(“environmental stress”) recebida pelo corpo. Nestes métodos são analisados elementos
como fluidos, excreções, tecidos, cabelo e ar expirado, usando-se técnicas específicas
de análise para quantificar o agente afetando o corpo.
Estes métodos de medição direta são efetuados por profissionais de medicina,
enquanto a engenharia se preocupa mais com medições indiretas, tais como a
quantificação do ar que é inalada. Os efeitos do ar inalado ou dos contaminantes na
pessoa são mais do campo da medicina ocupacional. Nos capítulos seguintes serão
estudadas algumas das medições indiretas e sua correlação com os efeitos decorrentes.

o
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102
Capítulo 4. O Corpo Humano

4.10 AÇÕES CORRETIVAS


O capítulo 4 é orientado ao corpo humano e qualquer ação corretiva no corpo em si
não pertence ao campo da engenharia, mas sim da medicina.
Os engenheiros estão preocupados com o mini-ambiente, ou seja, com o ambiente
imediato em torno do trabalhador, mas não devem tentar nenhuma ação corretiva no
próprio trabalhador. Todavia isto não foi sempre assim e os exemplos a seguir ilustram
isto.
Em certa época, muitas das minas de ouro deliberadamente dispersavam pó de
alumínio ou óxido N de polivinil piridina, de modo que os trabalhadores os respirassem
enquanto trocassem de roupa nos vestiários. Isto era considerado uma medida
preventiva contra os efeitos nocivos do pó de sílica, pois algumas pessoas afirmavam
que a inalação de pó muito fino em quantidades controladas diminuía a incidência de
silicose. Outras pessoas eram totalmente cépticas quanto a isso e a idéia de contra-
atacar os efeitos de um tipo de pó com outro pó é no mínimo estranha. Esta prática foi
interrompida e a questão da eficiência ou não do pó de alumínio nunca foi resolvida.
Muitos empregadores dão tabletes de sal para trabalhadores que estão locados em
ambientes muito quentes. O raciocínio é que o corpo perdendo muito sal pelo suor
necessita de reposição. Hoje não se recomenda tabletes de sal, mas comida um pouco
mais salgada, pois a ingestão direta de sal pode causar efeitos colaterais sérios. Em
suma, a reposição de sais no organismo não é um processo tão simples.

4.11 ESTUDO DIRIGIDO


Estudos dirigidos complementam o texto do capítulo. A pesquisa para a obtenção
das respostas deve envolver outros textos, enciclopédias, notícias de jornal, etc. É
necessário sempre citar as fontes de obtenção dos dados ao final. Quando se solicita a
definição de um conceito ou elemento, esta definição deve ser dada com 5 a 10 linhas.

a) No final do livreto de TLV´s e BEI’s da ACGIH de 2001, existe uma lista de novos
agentes que estão sendo estudados, mas para os quais a ACGIH ainda não definiu os
limites de tolerância. Leia-os e os reescrevam a seguir, indicando quais têm algo a ver
com sua vida diária.
b) Definir DNA, RNA, ATP (trifosfafo de adenosina), vírus e bactéria.
c) Conceituar e exemplificar o que são metais pesados. Apresentar um ou mais casos
reais de contaminação por metal pesado descrito na literatura.
d) Conceituar ergonomia e dar exemplos de problemas ergonômicos da tecnologia
atual.
e) No Manual Atlas de Legislação – Segurança e Medicina do Trabalho, 57ª edição,
2005, estão compiladas as Normas Regulamentadoras (NR) aprovadas pela Portaria
No. 3 214 de 8 de junho de 1978. A que se refere a NR-15? A que se refere cada um
de seus anexos?

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

A ACGIH tem uma extensa publicação que está associada com o livreto de limites
de tolerância. Esta publicação se denomina “Documentation of the Threshold Limit Values
and Biological Exposure Indices” e apresenta a documentação científica e os dados das
fontes da literatura que serviram de subsídio para a definição do limite de tolerância. Para
melhor entendimento dos limites de tolerância, é aconselhável ler esta documentação
que no total se compõe de vários volumes. As documentações para os agentes químicos,
cianeto de hidrogênio e monóxido de carbono, exemplificam os tipos de documentos
usados para se chegar a um consenso de limite de tolerância, devendo ser lidas com
atenção.

o
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104
Capítulo 4. O Corpo Humano

4.12 TESTES (3)


1. Neuromiastenia é:
a) uma desordem cerebral
b) uma fraqueza muscular
c) uma disfunção renal
d) uma falta de coordenação
e) uma arritmia emocional

Feedback: é uma fraqueza muscular, que também pode ser conhecida como
Síndrome da Fadiga Crônica.

2. Qual das seguintes é uma dimensão grosseiramente incorreta:


a) diâmetro de célula animal: 10 μm
b) comprimento de embrião humano com 1 mês de crescimento: 5 mm
c) espessura da parede celular: 10 nm
d) espessura da camada epidérmica humana: 25 μm
e) menor grão de poeira visível a olha nu: 25 nm

Feedback: a menor partícula visível a olho nu tem de 50 a 100 μm.

3. O limite de tolerância curta exposição (LTce) é definido como a máxima


concentração à qual trabalhadores podem ser expostos:
a) por um período de até 30 minutos por não mais de 4 vezes por dia, com pelo
menos 30 minutos entre cada exposição
b) por um período de até 15 minutos por não mais de 6 vezes por dia, com pelo
menos 45 minutos entre cada exposição
c) por um período de até 60 minutos por não mais de 2 vezes por dia, com pelo
menos 120 minutos entre cada exposição
d) por um período de até 15 minutos por não mais de 4 vezes por dia, com pelo
menos 60 minutos entre cada exposição
e) por um período de até 15 minutos por não mais de 4 vezes por dia, com pelo
menos 15 minutos entre cada exposição

Feedback: item 4.8.1.1., terceiro parágrafo

4. O limite de tolerância para poeira é 5 mg/m3 e tem uma designação associada de


valor teto. Isto significa que:
a) 5 mg/m3 não pode ser excedido nunca
b) se o maior valor de 3 amostras colhidas a intervalos de 10 minutos for inferior a 5
mg/m3, então o limite foi respeitado
c) o fator de superação condicional é 2
d) a absorção cutânea é importante
e) a média geométrica anual da poluição atmosférica fica abaixo de 5 mg/m3
Feedback: item 4.8.1.2., primeiro parágrafo

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Capítulo 4. O Corpo Humano

5. Num turno de 8 horas, um monômero de vinil cloreto contaminou uma amostra


de ar colhida numa vazão de 20 cm3 por minuto, fornecendo 200 μg do composto. A
concentração média temporal ponderada era:
a) 21 mg/m3
b) 0,21 mg/m3
c) 210 mg/m3
d) 21 μg/m3
e) 0,21 g/m3

Feedback: 20 cm3 por minuto = 1200 cm3 por hora = 9600 cm3 por dia (8
horas)
Concentração = 200 μg / 9600 cm3 = 0,021 μg / cm3 = 21 mg / m3

6. Um soldador, trabalhando com aço galvanizado, fica exposto a uma


concentração atmosférica de 6,4 mg/m3 de fumos de óxido de zinco. Quando não
está soldando, fica exposto a um nível de fundo de 0,8 mg/m3 de fumos do mesmo
tipo. Se o tempo de soldagem é de 3 horas em um turno de 8 horas, então a
concentração média ponderada no turno é:
a) 4,3 mg/m3
b) 3,6 mg/m3
c) 2,9 mg/m3
d) 1,8 mg/m3
e) 0,9 mg/m3

Feedback: (3 * 6,4 + 5*0,8) / 8 = 2,9 mg/m3

7. A massa de particulado coletada por um amostrador, operando com uma vazão


de 10 L/min por 100 minutos, foi de 10 mg. O material particulado continha 10% de
diborane. O limite de tolerância deste composto é de 0,1 mg/m3.
a) a concentração foi de 10 vezes o LT
b) a concentração igualou o LT
c) a concentração foi um décimo do LT
d) a concentração foi de um centésimo do LT
e) a concentração foi metade do LT

Feedback: 10 L/min por 100 minutos = 1000 Litros.


Concentração = 10mg / 1000 litros = 0,01 mg/L = 10mg/m3
10% de diborane = 1mg/m3 de diborane
LT = 0,1 mg/m3. Portanto, a concentração que é 1mg/m3 de diborane, está 10x
acima do LT.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

8. Um amostrador de ar opera com taxa de 2 L/min e é usado para amostrar fumos


de solda num período de 50 minutos. Na análise laboratorial, obteve-se na amostra
0,70 mg de ferro. Se o LT para fumos de ferro é de 5 mg/m3 então a concentração
de fumos ferrosos na atmosfera amostrada é:
a) 0,14 x LT
b) 0,7 x LT
c) 1,4 x LT
d) 2,8 x LT
e) 3,5 x LT

Feedback: 2 L/min por 50 min = 100 litros.


Ferro = 0,7mg Æ 0,7mg / 100litros Æ concentração = 0,007 mg/L = 7mg/m3
Portanto esta concentração está 7/5 = 1,4xLT

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.13 CASOS REAIS


O caso apresentado a seguir foi publicado na revista “Applied Occupational and
Environmental Hygiene” (England e Carlton, 1999). Seu resumo é apresentado numa
forma similar à utilizada nos capítulos deste livro. Ou seja, se utiliza os itens: a ciência, a
natureza do problema, limites admissíveis, metodologias de medição e ações corretivas,
permitindo que se perceba a complexidade associada à definição de limite de tolerância.

4.13.1 A ciência das resinas


Muitas indústrias utilizam tintas e base para tintas para proteção das superfícies
contra a corrosão. A aplicação destes produtos pode ser de várias formas, sendo comum
o borrifamento de material pulverizado (“sprays”), com as aplicações em geral utilizando
revólver com ar comprimido.
Algumas destas tintas de base contêm cromato de estrôncio enquanto outras não o
contêm este cromato. Exemplos sem cromato são os produtos comerciais Aeroglaze
9741 e Aeroglaze 8743, usados na força aérea americana e que têm basicamente a
mesma composição, tendo, todavia diferentes pigmentos que dão cores diferentes aos
produtos quando aplicados.
Os produtos que contêm cromato de estrôncio são realmente inibidores da
corrosão, sendo na verdade uma tinta à base de uma resina epóxi.
Os produtos que não contêm o cromato de estrôncio, são também à base de resina
epóxi e do ponto de vista da corrosão, não são inibidores desta, não sendo realmente
uma base anticorrosiva. Quando a base originalmente aplicada à superfície estiver
intacta, não é necessário aplicar nova camada anticorrosiva (contendo cromato), mas
apenas esta resina epóxi sem cromato. Esta última tem as seguintes características:
a) não é realmente inibidora da corrosão;
b) é mais um produto “adesivo”, cujo objetivo é dar aderência e fixação a uma
cobertura de poliuretano na superfície.
A resina epóxi aderente é constituída de 2 componentes:
1) Um componente epóxi: contém compostos epóxi e composto solvente
(principalmente acetato de n-butil);
2) Um componente endurecedor: contém agentes endurecedores (poliaminas) e
composto solvente (n-butanol).
O uso destas tintas e bases centradas em epóxi se deve a características
importantes que incluem durabilidade, resistência mecânica, aderência, flexibilidade e
resistência à corrosão. Estas características decorrem das reações químicas que
acontecem quando os dois componentes são misturados. Quando juntos, os grupos
epóxi e amino reagem com o grupo amino permitindo o encadeamento (polimerização)
dos monômeros e oligômeros epóxi. Um monômero é uma única molécula ou composto
reativo enquanto que um oligômero é um conjunto de moléculas contendo monômeros
que reagiram entre si (é um pré-polímero).
Os solventes são transportadores e diluidores dos compostos da resina, fornecendo
o meio no qual a polimerização ocorre. Portanto, os solventes permitem que a reação
entre os compostos, epóxi e amino se desenvolvam apropriadamente. Depois

o
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108
Capítulo 4. O Corpo Humano

da formação dos polímeros os produtos finais endurecem, num processo também


denominado de cura.
A partir do etileno (C2H4), que foi usado no início em aplicações de iluminação,
pode-se obter a molécula do óxido de etileno, que contém um átomo de oxigênio, como
ilustra a figura 4.11. O óxido de etileno, um monômero, quando encadeado com outros
monômeros (polímero), fornece as resinas de base epóxi. Ou seja, uma resina epóxi é na
verdade formada por um polímero de óxido de etileno, conforme ilustra a figura 4.12.
O óxido de etileno é um gás altamente inflamável e com alta afinidade com água.
Todavia seus polímeros são sólidos devido à grande massa molecular. Os limites inferior
e superior de explosividade do óxido de etileno são respectivamente 2,7% e 28,6%, com
o pico de força ocorrendo para 6,52%.
A massa molecular do óxido é de 44 g, ou seja, um mol de óxido de etileno tem 44
gramas e contém um “grupo epóxi”. As moléculas de uma resina epóxi são polímeros
(contêm vários monômeros), portanto têm massa molecular bem maior.

Figura 4.11. Molécula do etileno e do óxido de etileno (base das resinas epóxi).
Um anel epóxi é o triângulo de 2 carbonos e um oxigênio. A ligação de vários
anéis, pela retirada de 1 hidrogênio, forma um polímero.

Figura 4.12. Polímero linear com 4 anéis de epóxi. Polímeros maiores podem
se expandir tridimensionalmente e por outros átomos.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.13.2 A natureza do problema


A força aérea americana utiliza tinta anticorrosiva à base de epóxi com cromato de
estrôncio, aplicado na forma pulverizada. Apesar de bom inibidor da corrosão, o cromato
de estrôncio é um suspeito carcinogênico. O Departamento de Higiene da força aérea
mediu elevados níveis de cromato nas diversas instalações onde são feitas as aplicações
do produto.
Um esforço foi feito para substituir a resina com cromato por outra resina sem
cromato, tal qual o Aeroglaze 9741. A resina sem cromato, que tem características de
aderência, é conhecida como “tie-coat” e foi analisada pela seção de higiene industrial da
força aérea em 3 instalações militares onde se tem controle de corrosão: Nellis, Sioux
City e Randolph. O estudo visava medir a concentração deste produto nos locais de
trabalho e o grau de exposição dos trabalhadores ao mesmo.
Os componentes da resina epóxi aderente (REA) apresentam potencial de gerar
condições não seguras de trabalho, gerando insalubridade por inalação, ingestão ou
contato. A inalação ocorre com vapores ou partículas (aerossóis), que ficam na atmosfera
nos locais de pulverização.
A resina epóxi representa uma condição de exposição não segura quando no
estado não endurecido, ou seja, enquanto não ocorre a completa reação entre os grupos
epóxi e amino. O óxido de epóxi (epóxido) é o grupo mais reativo da molécula de resina
epóxi, gerando a situação mais perigosa para a saúde. Após a reação com a amina
torna-se inativo. Grupos epóxi livre, parcialmente reagidos ou totalmente reagidos podem
existir nos aerossóis ou nas camadas da REA em fase de endurecimento nas superfícies.
Os aerossóis podem penetrar no corpo por inalação e causar problemas de saúde aos
trabalhadores.
Os principais dados toxicológicos dos componentes da resina epóxi aderente (REA)
são resumidos a seguir.
4.13.2.1 Componentes Epóxi (monômeros, oligômeros).
A literatura indica que os grupos epóxi da resina são tumorígenos, mutágenos,
irritantes primários e alteram o sistema respiratório. Dependendo do monômero ou
oligômero, diferentes órgãos e sistemas são afetados tais como rins, pulmões e sangue.
Os dados mutagênicos vêm de testes bacteriológicos, enquanto que experimentos
em animais fornecem informações sobre os efeitos tumorígenos, os irritantes e sobre o
sistema respiratório. Dados epidemiológicos humanos indicam associação com doenças
do fígado.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.13.2.2 Componentes Amino


Dentre os componentes amino (contêm grupo NH2 ou NH3) destacam-se um fenol, um
trietileno tetramina e um polietileno poliamina.

4.13.2.2.1 Composto 2, 4, 6 tris-fenol.


Representa um perigo à saúde, no estado não reagido, sendo sua principal rota de
entrada a inalação de partículas na forma de aerossol. A exposição acarreta irritação
severa dos olhos e pele sendo moderadamente tóxico por ingestão ou contato de pele. É
difícil se estimar a porcentagem não reagida durante o processo de endurecimento.

4.13.2.2.2 Composto Trietilenotetramina


Sua principal rota de entrada é a inalação de aerossóis, provocando a irritação de
mucosas, dos olhos e da pele. Ele é um agente sensibilizador da pele e um mutagênico,
sendo moderadamente tóxico por inalação e contato de pele.

4.13.2.2.3 Componente Polietileno Poliamina (polímero)


Não existem informações toxicológicas sobre ele, sendo os perigos à saúde
analisados através de deduções a partir das massas moleculares dos principais
constituintes: amina alifática, metilmetacrilato e bisfenol. A inexistência de informação
toxicológica decorre de sua especificidade e do seu recente desenvolvimento
tecnológico.
Existem evidências indicando que pode ser tumorígeno ou mutagênico, sendo
irritante dos olhos e da pele.

4.13.2.3 Solventes (grupos epóxi e amino)

4.13.2.3.1 N-butanol (álcool N-butil)


A principal forma de exposição é pela inalação de aerossóis ou de vapores da
evaporação do aerossol. Está associado à irritação dos olhos e deficiências auditivas. Em
altas concentrações causa tonturas e dores de cabeça.
4.13.2.3.2 N-butil-acetato
A exposição ocorre via aerossóis e vapores, podendo causar dores de cabeça e
tonturas e afetar olhos, nariz e pele.

4.13.2.4 Outros Componentes da Resina Epóxi Aderente

4.13.2.4.1 Epicloridrina
É um irritante da pele, olhos e trato respiratório, um sensibilizador da pele e um
suspeito carcinogênico.
4.13.2.4.2 Bisfenol
É um irritante da pele e afeta o sistema reprodutivo.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.13.2.4.3 Cromatos e Metais


Não são listados pelos fabricantes, mas podem existir em pequenas quantidades.

4.13.3 Limites de Tolerância


A tabela 4.12 indica os limites de tolerância disponíveis na literatura. Da sua análise
conclui-se que dos compostos de interesse neste estudo poucos têm limite explicitado na
literatura. Apresenta-se então um método para se derivar o limite de tolerância para uma
resina epóxi aderente (sem cromato), a partir do limite de tolerância do óxido de etileno e
das massas moleculares deste óxido e do polímero que forma a resina. Este método foi
também usado para derivar outros limites de tolerância para as aminas.
Este método deriva o limite de tolerância para a resina epóxi com as seguintes
etapas:
1. explicitação do limite de tolerância do óxido de etileno em função do equivalente-
grama do grupo epóxi;
2. transformação do limite acima para a resina e seus grupos epóxi.

Tabela 4.12. Limites de tolerância para componentes da resina epóxi aderente [2-ACGIH]
COMPONENTE LIMITE DE TOLERÂNCIA OBSERVAÇÕES
não existe TLV-TWA da ACGIH;
não existe PEL – permissible exposure
grupo epóxi não existe (*) limit da OSHA – Occupational Health
and Safety Administration;
não existe OEL – occupational exposure
limit da força aérea.
2,4,6,tris-fenol não existe
Trietilenotetramina não existe
polietileno não existe
poliamina
TLV-C = 152 mg/m3 “skin notation”(**)
n-butanol (vapor) PEL = 300 mg/m3 (8
horas)
n-butil-acetato TLV-TWA = 713 mg/m3
TLV-STEL = 950 mg/m3
Epicloridrina TLV-TWA = 7,6 mg/m3 “skin notation”(**)
Bisfenol não existe
Cromo TLV-TWA = 0,5 mg/m3
Cromato de TLV-TWA = 0,000 5
estrôncio mg/m3
Ferro TLV-TWA = 1 mg/m3
(*) nem para esta resina específica nem para resinas epóxi em geral.
(**) para a ACGIH, indica que a rota de entrada pela pele e mucosas é significante.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

A massa molecular do óxido de etileno é:


4 + 2 x 12 + 16 = 44 gramas
Esta massa molecular contém um grupo epoxi, ou seja, 44 gramas de óxido de
etileno (OEt) contém 1 mol do grupo epóxi (1 epóxi-equivalente). O LTmp do óxido de
etileno é 1,8 mg/m3, e em termos de epóxi equivalente (EEq) podemos escrever:

LTmp (OEt) = [ 1,8 mg/m3 ] x [ 1 epóxi-equivalente / 44 g ]

LTmp (OEt) = [ 4,09 x 10-5 ] x [ EEq(OEt) / m3 ]

Na resina epóxi aderente (REA) tem-se grupos epóxi (polímeros) com massa
molecular de 190 gramas, de modo que para ela podemos escrever:

LTmp(REA) = [ 4,09 x 10-5 ] x [ EEq(REA) / m3 ] = [ 4,09 x 10-5 ] x [ 190 g / m3 ]


LTmp (REA) = [4,09 x 10-5] x [ 190 x 103 mg / m3 ]

LTmp (REA) = 7,8mg/m3

Este limite pode ser usado então para comparação com as concentrações medidas
nos locais de trabalho.
A divisão da massa molecular 190 g pela massa 44 g nos dá uma indicação do
número de grupos epóxi no polímero da resina, no caso 4,3. O número fracionário é
comum em polímeros epóxi, significando na realidade 4 grupos epóxi e alguns outros
componentes como amina.

4.13.4 Metodologia de medição


Da literatura se obtêm as seguintes informações sobre metodologias de
amostragem e análise.

4.13.4.1 Resinas Epoxi


Não existem métodos de amostragem e análise para grupos e compostos epoxi,
nem pela NIOSH – “National Institute for Occupational Safety and Health” nem pela
OSHA.
Existe descrito na literatura um método de 1987 para aerossóis, que foi adaptado
para tirar partido dos avanços da química analítica. A idéia central é a inibição da reação
entre compostos epóxi e amino na partícula em dispersão no ar. Os grupos epoxi livres,
não reagidos, ficam preservados e podem ser medidos por cromatografia de íons. No
borbulhador para coleta (“impinger”), o fluido usado foi o dimetil formamide, que sendo
tóxico impediu a amostragem junto à zona respiratória. Foram, portanto, coletadas
apenas amostras de área de trabalho.
Não existem métodos para amostragem e análise do bisfenol, mas para a
epicloridrina foi usada a metodologia NIOSH 1010.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.13.4.2 Aminas
Para os vapores do 2,4,6 tris fenol não existem metodologias de amostragem e
análise da NIOSH ou da OSHA. A coleta do material foi feita em tubos de sílica gel, e sua
presença qualitativa foi feita para as amostras do ar. As concentrações das amidas nos
aerossóis foram feitas a partir das concentrações dos grupos epóxi não reagidos.

4.13.4.3 Solventes
Para o vapor de N-butanol foi usada a metodologia NIOSH 1401 e para o vapor de
N-butil-acetato foi usada a norma NIOSH 1450.
Todavia não existe metodologia aceitável para se medir a concentração dos
solventes na fase aerossol.

4.13.4.4 Metais
Amostrou-se na fase aerossol os seguintes metais: Cr, Al, Sb, As, Ba, Be, Bo, Cd,
Co, Cu, Pb, Mg, Mn, Mb, Ni, K, Se, Ag, Va e Zn, com a metodologia NIOSH 7 300.
O aerossol foi coletado com filtro de 37 mm de diâmetro, montado de forma paralela
ao corpo do trabalhador.

4.13.5 Resultados
Para o grupo epóxi mediu-se uma concentração de 0,288 miliequivalentes de
grupos epóxi livres por metro cúbico de uma dada área de operação.
Portanto pode-se escrever para a concentração média da resina epóxi aderente:

C (REA) = 0,288 x 10-3 EEq / m3

Portanto:

C (REA) = 0,288 x 10-3 x 190 x 103 mg / m3

C (REA) = 54,7 mg / m3

Deste modo para esta área a concentração excedeu o limite de tolerância que fora
estimado em 7,8 mg/m3.
A tabela 4.13 resume alguns dos resultados.

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Capítulo 4. O Corpo Humano

Tabela 4.13. Resumo dos resultados das medições. Valores em mg/m3.


EXPOSIÇÃO A VOLÁTEIS → TODOS ABAIXO DOS LTmp
Produtos Nellis Sioux City Randolph LTmp observaçõe
s
N-butanol 0,35 0,57 0,37 300
N-butil- 3,5 6,6 5,26 713
acetato
Metais → todos abaixo menos ferro
Ferro --- ---- 1,77 1,0 (*)
COMPOSTO EPOXI → NUM LOCAL EXCEDEU-SE O LTmp
resina epóxi ---- 0,82 54,7 7,8 (**)
AMINAS → POR ESTIMATIVA TÊM-SE ALTAS CONCENTRAÇÕES,
MAS NÃO EXISTEM LTmp
(*) devido à pigmentação vermelha do produto comercial
(**) a grande diferença entre os 2 locais pode decorrer do fato das amostras de Sioux
City terem demorado mais para serem analisadas, pois não havia laboratórios
próximos. Assim podem ter ocorrido reações na solução antes da análise. Também
o fato de em Randolph ser visualmente perceptível haver muito mais aerossóis na
atmosfera, devido a características da operação, poderia levar a uma maior
concentração de epóxi no ar.

4.13.6 Ações Corretivas


Devido aos componentes voláteis da resina epóxi, as operações de pintura devem
ser efetuadas num local aprovado para o borrifamento. Este local deve ser mantido sob
pressão negativa, para manter os aerossóis (partículas) dentro da área especificada, e
com ventilação que evite explosões.
Para a seleção dos protetores respiratórios deve-se analisar cada componente
químico:
• os solventes (acetato de n-butil e butanol) são vapores orgânicos e eficazmente
removidos do ar por carvão ativado;
• para as concentrações medidas, um cartucho para vapores orgânicos forneceria
proteção adequada;
• a equipe técnica de pesquisadores da 3M informou que o cartucho para vapores
orgânicos também removeria os radicais amino presentes, devido aos tipos de
estruturas químicas;
• os operadores deverão usar no mínimo, respiradores de meia face com
purificadores de ar com cartucho para voláteis orgânicos.

Como os aerossóis podem causar irritação nos olhos, devem ser utilizados óculos
fechados e vedados. Como pode ocorrer absorção pela epiderme é importante o uso de
luvas apropriadas. Fabricantes de luvas indicaram como adequadas as de borracha (butil,
nitritol ou neoprene), para evitar contato com o acetato de n-butil e butanol.
Do ponto de vista ocupacional, o “tie coat” (resina sem cromato) é um adequado
substituto para as bases de tinta que usam composto epóxi com cromatos. Esta
substituição reduziria bastante a exposição dos trabalhadores da indústria a cromatos.

o
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Capítulo 4. O Corpo Humano

4.14 TESTES (4)


1. Qual a alternativa correta com relação ao período de latência?
a) o período de latência é de no máximo 10 anos.
b) não é um parâmetro importante para o trabalhador, pois ele pode não sentir
efeito durante a fase de exposição.
c) está diretamente relacionado ao tempo de exposição a uma dada substância.
d) o período de latência máximo é de 20 anos.
e) é o tempo decorrido entre a primeira exposição e a manifestação da doença.

Feedback: item 4.3.4, primeiro parágrafo

2. Qual desses fatores não influi em como uma substância tóxica afeta o indivíduo?
a) susceptibilidade individual
b) concentração
c) toxicidade
d) massa específica (densidade)
e) tempo de exposição

Feedback: item 4.7

3. Quais as mais importantes técnicas para se medir efeitos à saúde relacionados


com o ambiente de trabalho?

a) espirometria e audiometria
b) somente raios X
c) análises de excreções, espirometria e raios X
d) somente teste de dosagem corporal
e) espirometria, raios X, análise de excreções, testes de dosagem corporal e
audiometria

Feedback: item 4.9.1

4. Qual técnica envolve a determinação de quanto ar se consegue expelir dos


pulmões?

a) raios X
b) espirometria
c) dosagem corporal
d) audiometria
e) n.d.a

Feedback: Item 4.9.1.1, primeiro parágrafo

5. Assinale a alternativa correta:

o
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116
Capítulo 4. O Corpo Humano

Os métodos de medição direta são efetuados por profissionais de ______________,


enquanto a _______________ se preocupa mais com medições indiretas, tais como a
quantificação do ar que é inalada.

a)engenharia/ medicina
b) engenharia/ psicologia
c)psicologia/ engenharia
d)medicina/ engenharia
e)medicina/ psicologia

Feedback: Item 4.9.1.6, segundo parágrafo

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

CAPÍTULO 5. CONCEITOS BÁSICOS DE ESTATÍSTICA EM HIGIENE

OBJETIVOS DO ESTUDO
Neste capítulo são abordados a coleta e o tratamento de dados associados a
condições perigosas nos ambientes de trabalho. São dados exemplos e apresentadas
diversas teorias de amostragem e medição. O tratamento de dados decorrentes de
grandezas medidas envolve o uso de ferramentas estatísticas. Como os dados podem
ser interpretados de várias formas, a apresentação dos valores medidos deve seguir
rígidas definições de modo que outras pessoas possam tentar extrair o mesmo
significado dos mesmos resultados. Se não apresentados adequadamente, pode-se
chegar a conclusões errôneas e a resultados paradoxais. Em geral não é necessário
apresentar em detalhe os aspectos estatísticos, mas certos conceitos básicos são
essenciais e devem ser aprendidos. Existem muitos bons livros sobre estatística e as
simples ferramentas aqui apresentadas estão bem estabelecidas, testadas ao longo do
tempo e largamente conhecidas.
Ao terminar este capítulo você deverá estar apto a:
• Distinguir entre os 2 tipos de medidas estatísticas;
• Definir os termos: média, moda, mediana, domínio, variância, desvio padrão;
• Estabelecer os objetivos de agrupar dados obtidos por amostragem aleatória;
• Estabelecer os objetivos do uso de distribuições de freqüência acumulada e de
porcentagem acumulada, sendo capaz de calcular como cada distribuição é
derivada da distribuição de freqüência;
• Distinguir formas de curvas em termos de assimetria e valores extremos;
• Construir histogramas para apropriada representação de dados experimentais;
• Entender a importância das distribuições log-normais na natureza e obter
curvas de freqüências log-normais a partir de dados de medições;
• Descrever os problemas associados às medições em qualquer experimento;
• Explicar como são obtidos os limites de tolerância para contaminantes e
descrever as diferentes classificações destes limites; e
• Explicar como estratégias de medição e métodos de medida são obtidos.
Nota: O conteúdo deste capítulo foi extraído do livro a ser publicado pelo professor Sérgio
Médici de Eston.

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118
Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.1 A CIÊNCIA DO TRATAMENTO DE DADOS


A análise estatística de dados pode ser efetuada observando-se duas
características:
• onde se concentra a maioria dos valores (tendência central);
• como os valores se espalham e se distribuem (dispersão).

5.1.1 Medidas de tendência central


Existem vários parâmetros estatísticos utilizados para se caracterizar a tendência
central. Alguns destes parâmetros, como a média, a mediana e a moda, são “pontos
centrais” ao redor dos quais os dados podem ser considerados como se distribuindo.

A. MÉDIA
Existem vários tipos de média, como a aritmética, a geométrica, a harmônica e a
ponderada, cada uma útil em uma situação específica. Quando não adjetivada estamos
sempre nos referindo à média aritmética.
A média aritmética é obtida pela adição dos valores individuais e dividindo-se a
soma pelo número de valores adicionados. Ela indica onde os valores do grupo
considerado estão “centrados”, e este valor central também se denomina de valor médio.

Quadro 5.1. Os filtros usados para se coletar material particulado são pesados
numa balança e as massas de poeira são obtidas depois de se subtrair a massa do filtro
inicialmente limpo. Numa amostragem se obteve os seguintes 9 valores numa usina de
beneficiamento de minério: 11,33, 11,27, 11,38, 11,30, 11,29, 11,30, 11,34, 11,31 e 11,32
mg. Determinar a média dos valores.

SOLUÇÃO: Se você efetuar a conta com uma calculadora poderá obter um resultado

do tipo:

Dependendo da calculadora usada você pode ter obtido até mais algarismos do

que os 8 apresentados, tendo-se uma seqüência de “5” e um “6 “no final. O número de

algarismos “5” depende da sua calculadora mas na engenharia e na estatística, o

número de algarismos significativos da resposta não pode ser maior que o número de

algarismos significativos dos dados de entrada. Portanto, a resposta correta em

termos de significado de engenharia é: 11,32 mg.

Portanto: média aritmética = 11,32 mg

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

B. Mediana
Se os valores de um grupo de dados forem ordenados em ordem crescente, a
mediana será o valor do meio, ou seja, aquele valor para o qual metade dos dados está
acima e metade abaixo.

Quadro 5.2. Determinar a mediana dos dados do Quadro 5.1.

SOLUÇÃO: Ordenando os dados em ordem ascendente temos:

11,27; 11, 29; 11,30; 11,30; 11,31; 11,32; 11,33; 11,34; 11,38;

O quinto valor, 11,31 mg, é a mediana, pois tem-se quatro valores antes e quatro

valores depois dele.

Portanto: mediana = 11,31 mg

Se o número de valores for ímpar, a mediana sempre coincidirá com um deles. Se o


número de valores for par, a mediana cairá entre dois dos valores, sendo definida pela
média dos dois valores centrais. Portanto, com estas definições cada grupo de dados terá
apenas uma única média e uma única mediana.

C. MODA
A moda de um grupo de dados é o valor que se apresenta com a maior freqüência.
Alguns grupos de dados podem ter apenas uma moda enquanto outros podem ter duas
ou mais modas. Quando se tem apenas uma moda diz-se que o conjunto de dados é
unimodal e quando se tem mais de uma moda se diz que o conjunto é multimodal.

Quadro 5.3. Determinar a moda do Quadro 5.1.

SOLUÇÃO: Neste grupo o valor 11,30 aparece duas vezes e todos os outros

apenas uma vez.

Portanto a moda é: moda = 11,30 mg.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Quadro 5.4. Determinar a moda do seguinte conjunto de dados: {5, 2, 4, 12, 10,
12, 5, 8}.

SOLUÇÃO: Neste conjunto aparecem duas vezes o valor 5 e o valor 12, enquanto
todos os outros surgem apenas uma vez. Portanto temos um conjunto bimodal com as
modas 5 e 12.

D. OUTRAS MÉDIAS
A média aritmética é adequada para quando se supõe que os dados tenham uma
variação linear. Quando os dados têm uma variação exponencial ou logarítmica, a média
geométrica é mais adequada para representar o conjunto.
Quando os dados têm a ver com taxas de variação temporal, por exemplo,
velocidades, a média harmônica pode ser a mais adequada.
Finalmente a média ponderada, efetuada quando os dados têm pesos no cálculo da
média, pode ser útil, por exemplo, na pesquisa de depósitos minerais. Exemplos destas
médias são dados nos itens 5.3.4. e 5.3.5.

Quadro 5.5. Determinar a “média” do conjunto: 2, 4, 8.

SOLUÇÃO: Se considerarmos a média aritmética, teremos: 4,7. Todavia a média

geométrica será:

{ 2 x 4 x 8 } 1/3 = 4

Portanto: MA = 4,7 MG = 4

Se soubermos que os dados não têm uma relação linear, mas sim uma relação de
forma exponencial, a média geométrica será uma melhor representante do conjunto de
dados.
Um exemplo de média geométrica surge quando se estuda ruído, pois o espectro
tem o ponto central de cada intervalo de freqüência dado pela média geométrica dos
extremos, ou seja, a raiz quadrada do produto do limite maior pelo limite menor. Isto
porque a unidade decibel é definida por um logaritmo, ou seja, tem embutida uma
variação exponencial.
Outro exemplo surge em normas de poluição do ar que usam, na definição dos
limites ambientais legais, a média geométrica anual da concentração de material
particulado. A razão é que muitos modelos de dispersão de poluentes se baseiam numa
distribuição gaussiana (exponencial).

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.1.2 Dispersão
A média dos números 3, 4 e 5 é 4, que é a mesma média dos números 1, 4 e 7.
Todavia, os conjuntos são claramente diferentes e esta diferença está relacionada à
dispersão dos dados. Para se caracterizar esta dispersão existem alguns parâmetros
como o intervalo de variação, a variância e o desvio padrão.

A. AMPLITUDE (DOMÍNIO DE VARIAÇÃO)


A amplitude de uma distribuição (“range”) é simplesmente a diferença entre o maior
e o menor valor observado.

Quadro 5.6. Calcular o domínio de variação do quadro 5.1.

SOLUÇÃO: O maior valor é 11,38 mg, e o menor valor é 11,27 mg. Portanto a

amplitude é:

11,38 – 11,27 = 0,11 mg amplitude = 0,11 mg

B. VARIÂNCIA
Ela indica a “quantidade de dispersão” dos valores individuais de um conjunto com
relação à média do conjunto. Um dos modos de se calcular a variância é:
• quadrar a diferença entre a média e cada valor individual;
• adicionar as diferenças quadráticas;
• dividir esta soma pelo número de valores somados.

A variância da população, representada por σ2 é definida como a média dos


quadrados das diferenças dos valores em relação a sua média.

∑ (x i − x) 2
σ 2 ( x) = i =1

Esta expressão é válida para calcular a variância da população. Na prática, como


os dados utilizados representam apenas a amostra e não toda a população, a expressão
utilizada substitui o valor de n no denominador, por (n-1).

∑ (x i − x) 2
σ 2 ( x) = i =1

n −1

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Quadro 5.7. Calcular a variância para os valores do exemplo 5.1.

SOLUÇÃO: O primeiro passo é quadrar as diferenças e neste caso

precisamos usar uma maior precisão para a média, caso contrário a variância

poderá apresentar grandes erros. Portanto, no cálculo da variância usamos 8

dígitos para a média (ou às vezes até mais). A tabela 5.1 apresenta os cálculos

básicos.

Tabela 5.1. Etapas numéricas para cálculo da variância


Diferença (= valor – média) Quadrado da diferença Valor do quadrado da
diferença
11,33 – 11,315 556 = ( 0,014 444 ) 2 0,21 x 10 -3
11,27 – 11,315 556 = ( - 0,045 556 ) 2 2,07 x 10 –3
11,38 – 11,315 556 = ( 0,064 444 ) 2 4,15 x 10 –3
11,30 – 11,315 556 = ( - 0,015 556 ) 2 0,24 x 10 –3
11,29 – 11,315 556 = ( - 0,025 556 ) 2 0,65 x 10 –3
11,30 – 11,315 556 = ( - 0,015 556 0,24 x 10 –3
11,34 – 11,315 556 = ( 0,024 444 ) 2 0,60 x 10 –3
11,31 – 11,315 556 = ( - 0,005 556 ) 2 0,03 x 10 –3
11,32 – 11,315 556 = ( 0,004 444 ) 2 0,02 x 10 -3

Segundo passo: adição dos quadrados das diferenças


Soma dos quadrados = 8,21 x 10 –3
–3
Terceiro passo: divisão pelo número de valores -1 (amostra): = : [ 8,21 x 10 ]/8 =
0,001 mg2

Portanto a variância do conjunto é 0,0009 mg2.


V = 0,001 mg2

C. DESVIO PADRÃO
O desvio padrão é um “resumo” de quão dispersos os dados estão em torno da
média. Um dos modos de se computar o desvio padrão é:
• quadrar a diferença entre a média e cada valor individual;
• adicionar as diferenças quadráticas;
• dividir esta soma pelo número de valores somados;
• extrair a raiz quadrada do resultado anterior.

Pela seqüência acima se percebe que o desvio padrão é a raiz quadrada da


variância, dando, portanto as mesmas informações da dispersão dos dados ao redor da
média. Todavia, sua magnitude se aproxima mais dos desvios individuais e tem a mesma
unidade dos valores individuais. Por causa destas características é mais usado que a
variância.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Quadro 5.8. Calcular o desvio padrão dos dados do exemplo 5.1.

SOLUÇÃO: Do exemplo 5.7. a variância é 0,001 mg2. Portanto, o desvio padrão

será a raiz deste valor.

dp = [ 0,001 ] ½

Portanto: dp = 0,032 mg

Este valor é bem representativo dos desvios individuais, já que a magnitude dos
desvios individuais vai de 0,004 a 0,06 mg (vide 2ª coluna do exemplo 5.7).

D. QUARTIS E PERCENTIS

Um grupo de dados pode ser dividido em partes iguais. A divisão mais simples é
em duas partes, a parte superior e a parte inferior. O ponto na escala que divide o
conjunto deste modo é a mediana. Quando a mediana cai num intervalo, seu valor é
interpolado para se determinar o ponto exato onde ela recai. A mediana pode ser também
obtida da curva de distribuição cumulativa, pois corresponde ao ponto na curva para o
qual se tem 50%.
Se um conjunto é dividido em três partes, a denominação usada é de tercis. Em
quatro partes fala-se em quartis e em 100 partes fala-se em percentis.

E. AGRUPAMENTO DE DADOS
Muitas vezes pode ser desejável apresentar um conjunto de dados em termos de
eventos ocorrendo em vários intervalos adjacentes. Estes números especificam a
distribuição dos dados, sendo o mais completo resumo de valores quantitativos obtidos
para um parâmetro. A distribuição pode mostrar quais partes do grupo estão associadas
a que valores, ou ainda, que proporção está associada a um dado sub-domínio da gama
de valores que a medida quantitativa pode ter. Além disso, as contagens, proporções ou
porcentagens podem ser acumuladas adicionando-se sucessivamente, para cada
quantidade, todas as quantidades que a precedem.

Exemplo: Obter a curva de distribuição para os 100 valores de emissão diária de


óxidos de enxofre, obtidos por medições em uma chaminé de indústria. A tabela
apresenta estes valores em ordem crescente e na unidade de kg/dia.

Tabela 5.2. Valores de emissão diária de SO2 obtidas em chaminé industrial. Valores em
kg/dia.
66 81 88 93 97 100 102 106 112 119
71 83 89 93 98 100 102 107 112 119
71 83 89 95 98 100 102 107 113 121
72 84 89 95 98 100 102 107 113 122
73 85 90 96 98 100 103 108 114 123
74 85 91 96 98 100 103 110 114 126
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

76 85 92 96 99 100 103 110 115 126


77 86 92 97 99 101 104 111 117 127
80 86 92 97 99 101 105 111 118 130
81 88 92 97 99 101 106 112 118 136

SOLUÇÃO: Podemos agrupar os dados em classes ou intervalos, de amplitude 10 kg,


conforme a tabela 5.3. a seguir.

Tabela 5.3. Classificação dos dados e freqüências das classes.


N° da classe limites freqüência Freqüência relativa (%)
1 60 ≤ – ≤ 69 1 1 devido ao
2 70 ≤ – ≤ 79 7 7 número de
3 80 ≤ – ≤ 89 16 16 amostras ser
4 90 ≤ – ≤ 99 26 26 exatamente 100,
a freqüência
5 100 ≤ – ≤ 109 25 25
absoluta coincide
6 110 ≤ – ≤ 119 17 17 com a freqüência
7 120 ≤ – ≤ 129 6 6 relativa
8 130 ≤ - ≤ 139 2 2

Os valores podem agora ser apresentados numa forma denominada de histograma,


no qual as barras indicam os números ou proporções em cada classe de intervalo. As
classes indicadas nas abscissas podem ser definidas tanto pelos seus extremos como
pelos seus pontos médios, enquanto que as freqüências são indicadas nas ordenadas. O
histograma das emissões de óxidos de enxofre é apresentado a seguir na figura 5.1.
freqüência relativa (%)

30 26 25
25
20 16 17

15
10 7 6
5 1 2

0
65 75 85 95 105 115 125 135
pontos médios dos intervalos

Figura 5.1. Histograma de barras para as emissões diárias de dióxido de enxofre


(kg/dia). O intervalo [60,69] é representado pelo “ponto médio” 65 e assim por diante.

Outra possibilidade de apresentação gráfica para uma distribuição é utilizando-se


pontos. Cada ponto se referirá ao meio de um intervalo e ao valor (ou proporção) que
correspondente a este intervalo.
Finalmente, os pontos são unidos ou como uma poligonal ou por uma curva suave,
como na figura 5.2. As emissões da chaminé representadas por uma distribuição por
pontos unidos por uma curva suave são apresentadas a seguir. Da análise da curva
suave, percebe-se que é possível ajustar ao conjunto de dados uma curva normal ou

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

gaussiana. Pode-se calcular também a média e o desvio padrão deste conjunto de dados
e inseri-los na figura.

freqüência relativa (%) 30


25
20
15
10
5
0
60 70 80 90 100 110 120 130 140
emissões de SOx (kg/dia)

Figura 5.2. União de pontos por curva suave.

F. GRÁFICOS DE BARRAS E DISTRIBUIÇÕES ΣDE FREQÜÊNCIA


A apresentação gráfica de conjuntos de dados pode ser utilizada para resumir e
clarificar os resultados de pesquisas. Os seguintes procedimentos são em geral adotados
quando se constroem gráficos de barras ou distribuições de freqüências:
• mais por tradição e para eliminar confusão, os valores ou intervalos são
apresentados nas abscissas (eixo horizontal), enquanto que as porcentagens ou
freqüências são apresentadas nas ordenadas (eixo vertical);
• todo gráfico deve conter título, grandezas dos eixos e respectivas unidades,
além de valores numéricos;
• o comprimento do eixo vertical deve ser da ordem de 75 a 80% do comprimento
do eixo horizontal. Isto padroniza o desenho de gráficos e diminui a
possibilidade de confusões.

G. FORMAS DE CURVAS
Como se podem associar curvas à relação entre freqüência e tamanho de
intervalos pode-se associar nomes às diversas formas de curvas para se dar uma
descrição geral da distribuição.
Algumas distribuições são simétricas, com um eixo de simetria central vertical que
divide a curva em duas metades iguais. Estas curvas simétricas contêm o mesmo
número de valores na direção dos dois extremos, ou seja, a mesma proporção de valores
altos e baixos.
Outras curvas são assimétricas, apresentando mais valores numa direção do que
na outra. Existem muitos tipos de distribuições assimétricas e quando a assimetria
decorre de uma maior concentração de valores se estendendo numa dada direção, a
curva pode ter uma espécie de “cauda”. A posição e orientação desta cauda, onde
poucos valores extremos se concentram, determinam o tipo de assimetria da curva. A
figura 5.3. apresenta alguns tipos de assimetrias.
Mesmo curvas simétricas podem ter ampla variação, dependendo, por exemplo, de
quanto são “pontiagudas” ou “achatadas”. Na estatística o termo relativo a esta variação
de forma se denomina curtose. As curvas bem altas ou pontiagudas são ditas com

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

leptocurtose, enquanto que as mais achatadas têm platicurtose. As intermediárias são


ditas com mesocurtose. A forma geral de uma curva pode ser muito importante e indicar
uma série de conclusões.

Figura 5.3. Formas de simetrias e assimetrias para curvas de distribuição. a) unimodal


simétrica (curva normal ou de Gauss); b) bimodal simétrica; c) unimodal assimétrica,
com cauda à direita (assimetria positiva); d) unimodal assimétrica, com cauda à
esquerda (assimetria negativa).

Exemplo:
Há alguns anos um famoso pesquisador, Jay Gould, recebeu de seu médico uma
informação seca que dizia: “Você está com uma forma mortal de câncer, sua expectativa
de vida é de 3 meses!”. Gould ficou paralisado por cerca de 3 dias, triste com um final de
vida em torno de 40 anos e no auge da produção científica.
Após a paralisação inicial, procurou analisar as informações dadas. Em primeiro
lugar, ficou curioso de como o médico podia prever com tanta exatidão o seu tempo de
vida. Descobriu que o que a ciência dispunha era, na verdade, de uma curva de
freqüência de tempos de vida restante e que esta curva era unimodal e bastante
assimétrica positivamente. A figura 5.4. ilustra esta curva, cuja moda era 3 meses.
Ao analisar sua curva de expectativa de vida, percebeu que suas emoções
poderiam ser completamente modificadas se soubesse de que lado da moda ele estaria.
Como bom pesquisador, levantou as características daqueles que estavam no lado direito
da moda, o lado extenso da cauda. Se estivesse suficientemente do lado direito, poderia
o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

ter ainda 20 ou 30 anos de vida, ou até mais. Para quem estava com quarenta anos e
tinha três meses de vida, viver até os setenta era uma grande notícia.
Cada uma das seguintes características tendia a levar o doente para o lado da
assimetria positiva:
• ser relativamente jovem (menos de 60 anos);
• ter detectado a doença nos estágios iniciais;
• não ser fumante;
• não ter casos da doença na família;
• ter um passado de saúde;
• praticar esportes regularmente;
• ter uma alimentação sadia;
• ter uma atividade intelectual forte e criativa;
• ter muita vontade de viver;
• seguir os procedimentos médicos recomendados sem falhas;
• ter um organismo bem receptivo aos remédios ministrados;
• etc.

Figura 5.4. Curva assimétrica de expectativa de vida.

Jay Gould percebeu que tinha todas as características favoráveis e que, portanto,
suas chances de estar na ponta da calda, bem à direita, eram boas. Quando ele escreveu
o artigo contando o caso acima, já tinha tido uma sobrevida de 15 anos (!), e dizia que
sua existência dependia do fato de não seguir uma curva de Gauss, mas sim uma
assimétrica. Em 1999, sua sobrevida chegava quase há vinte anos!!!

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.2 TESTES (1)


1. Quando um número ímpar de valores está disposto em ordem crescente, a
mediana é:
a) o valor com a maior freqüência
b) o valor central
c) a média dos dois valores centrais
d) a média dos valores maior e menor
e) não pode ser determinada sem informações adicionais

Feedback: item 5.1.1, subitem B (mediana), primeiro parágrafo

2. Quando um número par de valores está arranjado em ordem crescente, a


mediana é:
a) o valor de maior freqüência
b) o valor central
c) a média dos dois valores centrais
d) a média dos valores máximo e mínimo
e) impossível determinar

Feedback: item 5.1.1, subitem B (mediana), segundo parágrafo

3. O valor associado ao qüinquagésimo percentil é:


a) a média
b) a mediana
c) a moda
d) o domínio de variação de um quartil
e) a média geométrica

Feedback: item 5.1.2, subitem D(quartis e percentis), primeiro parágrafo

4. O valor medido que ocorre com mais freqüência é:


a) a média
b) a mediana
c) a moda
d) a média harmônica
e) uma média ponderada das freqüências

Feedback: item 5.1.1, subitem C (moda), primeiro parágrafo

5. O parâmetro seguinte é em geral a medida mais útil da dispersão:


a) domínio de variação
b) desvio padrão
c) variância
d) curtose
e) os três primeiros são igualmente úteis e usados

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Feedback: item 5.1.2, subitem C(desvio padrão), segundo parágrafo

6. A medida de dispersão que reflete apenas os dois valores mais extremos da


distribuição é:
a) o desvio padrão
b) o domínio de variação
c) a variância
d) a curtose
e) n.d.a.

Feedback: item 5.1.2.1., subitem A(amplitude), primeiro parágrafo

7. A medida de dispersão, definida como a soma dos desvios com relação à média
dividida pelo número N de valores é:
a) o domínio
b) o desvio médio
c) o desvio padrão
d) o quadrado da variância
e) n.d.a.

Feedback: o desvio médio é a média dos desvios em relação a média.

8. O domínio dos valores seguintes { 8, 26, 10, 36, 4, 15 } é:


a) 40
b) 36
c) 32
d) 28
e) 15

Feedback: domínio é a diferença entre o maior e o menor valor, ou seja,


36 – 4 = 32

9. O desvio padrão do conjunto (população) { 2, 6, 10 } é:


a) 4,00
b) 1,63
c) 16
d) 3,27
e) 2,73

Feedback:
Média = (2+6+10)/3 = 6
Diferenças da média com cada valor ao quadrado:
1. (6-2)^2 = 16
2. (6-6)^2 = 0
3 (6-10)^2 = 16
Somatória das diferenças = 32

o
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32/3 = 10,67.
Próxima etapa é a raiz quadrada de 16 = 3,27.

10. A variância dos valores do conjunto (população) { 2, 5, 8, 11 } é:


a) 11,25
b) 15,00
c) 214
d) 26,00
e) 12,25

Feedback:
1. Média = 6,5
2. (6,5-2)^2 = 20,25
(6,5-5)^2 = 2,25
(6,5-8)^2 = 2,25
(6,5-11)^2 = 20,25
3. 20,25 + 2,25 + 2,25 + 20,25 = 45
4. 45 / 4 = 11,25

11. A medida de dispersão que não tem a mesma unidade que os valores medidos
é:
a) o desvio padrão
b) a variância
c) o domínio
d) As alternativas a) e b) estão corretas.
e) n.d.a.

Feedback: no caso da variância, elevamos ao quadrado a diferença dos


valores com a média, e não extraímos a raiz quadrada em seguida,
portanto a unidade não é a mesma que os valores medidos.

12. Se a média e a mediana são iguais então se sabe que:


a) a distribuição é simétrica
b) a distribuição é assimétrica
c) a distribuição é normal
d) a moda está no centro da distribuição
e) a curva é anormal

Feedback: item 5.1.2, figura 5.3

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

13. Se a média e a mediana são diferentes, então se sabe que:


a) a distribuição é simétrica
b) a distribuição é assimétrica
c) a distribuição é normal
d) existem pelo menos duas modas
e) tem-se uma curtose acentuada

Feedback: item 5.1.2, figura 5.3

14. Qual a alternativa que melhor representa o significado da mediana?


a) indica onde os valores do grupo considerado estão centrados
b) representa a dispersão entre os dados
c) é o valor que se apresenta com maior freqüência
d) valor para o qual metade dos dados está acima e metade abaixo
e) existem vários tipos de mediana, como a harmônica, por exemplo

Feedback: item 5.1.1, subitem B (mediana), primeiro parágrafo

15. Qual desses itens indica um resumo do quanto estão dispersos os dados em
relação à média?
a) agrupamento de dados
b) amplitude
c) quartis e percentis
d) variância
e) desvio padrão

Feedback: item 5.1.2, subitem C (desvio padrão) primeiro parágrafo

16. Qual das curvas apresenta o valor da mediana maior que o da média?
a) bimodal simétrica
b) unimodal assimétrica negativa
c) unimodal simétrica
d) unimodal assimétrica positiva
e) unimodal simétrica mesocúrtica

Feedback: item 5.1.2., figura 5.3

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.3 A NATUREZA DO PROBLEMA


5.3.1 Valores medidos
A exatidão de um valor medido será sempre limitada pela precisão do instrumento
de medida. Esta limitação deve ser sempre levada em consideração quando se analisa e
se apresentam dados. O número de algarismos significativos presentes num valor
medido deve ser escolhido de modo que a incerteza exista apenas no último dígito (o
algarismo menos significativo).
Valores observados ou medidos sempre envolvem algum erro, que afeta duas
importantes características da qualidade dos dados: a exatidão e a precisão.
Existem milhares de instrumentos disponíveis para se medir os vários agentes
químicos e físicos que constituem os potenciais perigos no ambiente de trabalho. Quando
operando um dado instrumento, deve-se ter certa noção do número sendo medido. Deve-
se saber não só o que se está medindo, mas também como o instrumento funciona,
tendo-se claro se o valor medido representa uma média temporal num dado intervalo de
tempo ou representa um valor praticamente instantâneo.

Quadro 5.9.

Pode-se coletar poeira num filtro, através do qual passou ar do ambiente de

trabalho durante todas às 8 horas do turno. Analisando-se o filtro se teria uma medida

da concentração média de poeira no período de 8 horas, mas não se teria informação

de um súbito aumento de concentração devido a uma dada operação. Por outro lado,

poder-se-ia recolher um dado volume de ar num frasco e coletar a poeira deste volume

numa superfície adesiva especial. Esta superfície poderia ser analisada num

microscópio e as partículas contadas. Por este método se obteria a concentração de

poeira na atmosfera num dado momento, mas não se teria informação nenhuma sobre a

concentração de poeira ao longo do turno de trabalho. As duas metodologias têm

vantagens e desvantagens e devem ser interpretadas de modos diferentes.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.3.2 Erros
Qualquer dado medido apresenta algum erro. Algumas vezes a fonte predominante
de erro é um instrumento inadequadamente ajustado, ou o uso de uma fórmula errada ou
a aplicação de uma metodologia imprópria. Os erros decorrentes destas causas são
denominados de erros consistentes.
Não se consegue eliminar completamente a introdução de erros consistentes num
conjunto de dados medidos, mas a probabilidade de sua introdução pode ser diminuída
usando-se cuidadosas técnicas de medição. Algumas vezes, um erro consistente pode
ser detectado ao se medir um valor conhecido, considerado como um valor de checagem.
Dados obtidos cuidadosamente em geral apresentam erros consistentes mínimos,
mas existe um outro tipo de erro que sempre estará presente em qualquer medição. Este
erro, denominado de aleatório, sempre está presente em maior ou menor grau. Ele
deriva de causas como flutuações do instrumento e variações na percepção ou
interpretação do observador.
Apesar de não poderem ser completamente eliminados, os erros aleatórios podem
ter seu impacto reduzido a um nível tolerável por meio da aplicação de técnicas
experimentais cuidadosas. A aplicação de técnicas simples de redução de dados, como a
média de muitos valores, pode ser muito útil.
Quadro 5.10.

Mediu-se cuidadosamente a resistência de uma lâmpada cuja resistência nominal

é de 1 ohm. Foram obtidos os seis seguintes valores: 0,983, 1,008, 1,027, 0,991, 1,003,

0,986 ohms. Se calcularmos a média dos valores medidos, obteremos 1,000 ohm.

Portanto, a média apresenta exatamente o valor nominal com até 3 casas decimais,

apesar das flutuações individuais de cada medida.

O Quadro 5.10 ilustra as 3 mais importantes características dos erros aleatórios:


• erros pequenos são mais prováveis de ocorrer que erros grandes;
• erros muito grandes são bem pouco prováveis de ocorrer;
• erros positivos e negativos são igualmente prováveis e portanto tendem a se
cancelar.
O sucesso da técnica de uso da média decorre da última das características
apontadas.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.3.3 Parâmetros operacionais


Existem muitos parâmetros que estão associados ao desempenho dos sistemas de
medição e seus componentes, sendo os principais os seguintes:
• exatidão;
• ajuste;
• interferência;
• calibração;
• ruído;
• precisão;
• domínio;
• confiabilidade;
• estabilidade;
• tempo de resposta;
• sensibilidade;
• alteração de origem da escala.

A. EXATIDÃO (“ACCURACY”)
A exatidão é uma medida da conformidade entre o valor obtido pela medição e o
valor exato (considerado correto). O valor exato normalmente se baseia numa medida
padrão de referência ou num padrão primário aceito como tal. A exatidão pode ser
expressa como uma porcentagem, que reflete a amplitude do desvio com relação ao
valor verdadeiro, sendo decorrente da combinação de erros existentes no sistema. Em
outros termos, a exatidão é uma medida do quão perto as observações correspondem ao
estado atual das coisas.
A exatidão da calibração é um fator intrínseco limitante da exatidão global do
sistema de medida, ou seja, a exatidão do sistema total de medição não pode ser melhor
que a do método de calibração.

B. AJUSTE (“CALIBRATION”)
É o procedimento pelo qual se estabelece uma correspondência entre o valor
extraído de um sistema de medição e a grandeza que entra no sistema (como a
concentração de um poluente). Testes de ajuste são uma necessidade periódica e sua
freqüência depende do instrumento. Um instrumento que é relativamente instável, por
exemplo, por causa de variações de temperatura, pode requerer freqüentes testes de
ajuste.

C. CALIBRAÇÃO
A principal diferença entre ajustar e calibrar é que no ajuste se modifica o
instrumento fisicamente, para que forneça um resultado “correto”. Uma calibração analisa
o desempenho do instrumento e pode fornecer uma curva de calibração, com a qual ao
se ler um valor se pode comparar com o valor “correto”. Mas não se modifica
mecanicamente o instrumento. Calibrar significa comparar com um padrão de maior
confiança.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

D. INTERFERÊNCIA (“INTERFERENCE”)
É uma resposta, positiva ou negativa, do sistema de medição a alguma coisa que
não é a grandeza sendo medida. O mesmo termo pode ser usado para indicar uma falta
de discriminação ou falta de especificidade. Com as recentes técnicas computacionais
embutidas nos instrumentos, muitas vezes as interferências podem ser medidas e
correções podem ser aplicadas, gerando uma melhor exatidão nos dados de saída.
Em geral os fabricantes designam um instrumento para um tipo específico de
medição, como um analisador colorimétrico para gás SO2, apesar de outros gases
interferirem nas medidas. A hipótese de trabalho nestes casos é que as interferências
não estão presentes nas medidas usuais, ou então são relativamente desprezíveis face
às esperadas concentrações de SO2. Todavia o operador do instrumento tem a obrigação
de estar consciente das inerentes interferências do sistema e de investigar quão
significante elas podem ser em uma dada aplicação.

E. RUÍDO (“NOISE”)
Consiste de desvios falsos e espontâneos na saída do instrumento, que não
decorrem de variações da grandeza sendo medida. É uma forma de interferência e na
sua maior parte está associado com o desempenho dos componentes dentro do sistema
de medição.

F. PRECISÃO (“PRECISION”)
É a medida de quão perto estão entre si uma série de observações da mesma
coisa. Normalmente é expressa como a variação ao redor da média de uma série de
experimentos repetidos, sendo quantificada pelo desvio padrão. Algumas vezes a
precisão é chamada de repetibilidade (“repeatability”).
O “espalhamento”, associado às medidas repetidamente efetuadas com um
instrumento, inclui todas as variações introduzidas pelos componentes do sistema. O
impacto deste espalhamento é adequadamente indicado pelo número de algarismos
significativos contido no valor da medida. Assim, uma concentração de 1,264 ppm implica
num sistema de medição de alta precisão, pois se tem 4 algarismos significativos. Mas a
validade de se expressar este valor com 4 significativos depende do desempenho do
sistema e, se o desvio padrão for de 0,3 ppm, então só se justifica usar 2 algarismos
significativos.
Todas as medidas efetuadas com um instrumental estão limitadas pela precisão
embutida no próprio instrumento. De modo geral, quanto mais preciso um instrumento,
maior seu preço. A precisão tem que ser considerada quando se apresentam dados, de
modo que a incerteza esteja somente no último algarismo significativo.

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eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Exemplo:
Instrumentos podem ser precisos e inexatos, mas podem também ser exatos e
imprecisos. Ilustrar estes casos graficamente.
Consideremos um alvo de dardos como mostra a figura 2.4. O jogador da esquerda
é altamente preciso, mas é inexato, pois seus lances estão todos bem próximos uns dos
outros, mas em média bem longe do centro (lance correto ou exato). O jogador do centro
é impreciso e exato, pois seus lances se espalham pelo alvo, mas na média estaria bem
próximo ao centro. Ou seja, os desvios positivos e negativos se cancelariam e a média
coincidiria com o valor exato. Já o jogador da direita é preciso e exato, pois seus dardos
se agrupam e este agrupamento é quase no centro do alvo.

Figura 5.5. Alvo de dardos e possibilidades de acerto.

G. DOMÍNIO (“RANGE”)
É a faixa de medição que o sistema é capaz de quantificar, que se estende de um
valor mínimo a um valor máximo. Muitas vezes o valor mínimo é indicado de modo irreal
como sendo zero, mas ele deve ser indicado como o menor valor detectado pelo
instrumento.

H. CONFIABILIDADE (“RELIABILITY”)
Refere-se à operação do instrumento livre de problemas de mau funcionamento.

I. ESTABILIDADE (“STABILITY”)
Com relação a um instrumento, a estabilidade indica sua capacidade de manter um
dado nível de desempenho por um longo tempo. Um instrumento estável pode sofrer
alguma pane operacional e, portanto ficar operacionalmente não confiável. Todavia pode
neste tempo manter a estabilidade de seu ajuste, de sua sensibilidade, etc.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

J. TEMPO DE RESPOSTA (“RESPONSE TIME”)


É o intervalo de tempo que se inicia no momento em que a “amostra” entra no
sistema de medição e termina no momento no qual se tem um valor de leitura que é um
percentual do valor final. Porcentagens de 90% ou 95% do valor final fornecem o que se
denomina de tempo de resposta a 90% ou a 95%, respectivamente.
O tempo de resposta pode ser muito importante nas interpretações de dados, como
nos casos de monitoramento contínuo e em situações em que a concentração de um
poluente se modifica rapidamente. As análises de variações de curto período requerem
tempos de resposta muito curtos. Altas concentrações, na forma de picos, podem
aparecer como leituras “baixas e amplas” ou mesmo nem aparecer devido a tempos de
resposta muito longos.

K. SENSIBILIDADE (“SENSITIVITY”)
Pode ser entendido como o menor valor detectável de um contaminante que pode ser
repetidamente detectado pelo instrumento. Tecnicamente é a suscetibilidade a ações
externas, medidas pelo grau de resposta do instrumento.

L. ALTERAÇÃO DE ORIGEM DA ESCALA (“ZERO DRIFT”)


É a alteração do valor de leitura zero num intervalo de tempo, expresso como uma
porcentagem do valor fundo de escala. Causas desta deriva do valor zero podem ser, por
exemplo, a sensibilidade à temperatura ou a instabilidade na vazão de bombas. Em
sistemas de monitoramento contínuo deve-se ter uma correção automática desta deriva
ou então checagens periódicas para posterior correção de dados.

5.3.4 Especificações de desempenho


Os critérios para um desempenho aceitável de uma instrumentação para
monitoramento de um poluente podem ser estabelecidos por parâmetros válidos para
diversas aplicações.
O usuário pode definir as especificações que atendam suas necessidades
pessoais. O fabricante pode fornecer especificações que ele considera ser o instrumento
capaz de atingir. Normas legais podem especificar as características que uma
instrumentação deve ter para que os dados obtidos sejam considerados válidos, como
por exemplo, para qualidade do ar e das emissões de chaminés.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.4 CASOS REAIS E EXEMPLOS


5.4.1 Distribuição log normal
A distribuição log normal ocorre na natureza de vários modos. No caso da higiene
do trabalho, um resultado importante e decorrente de vários estudos, é de que as
concentrações em amostras aleatórias se distribuem de modo independente e de
maneira log normal, tanto para períodos de 8 horas como para médias relativas a muitos
dias de exposição. Portanto os resultados das amostragens não se distribuem
simetricamente.
Este resultado pode ser interpretado fisicamente considerando-se a concentração
de um contaminante atmosférico no ambiente de trabalho. Os valores se estenderão por
um amplo intervalo, mas a maioria se localizará perto do valor zero, tendo-se, porém
alguns valores bem altos. Deste modo, a distribuição não será simétrica, com uma maior
densidade de pontos para as baixas concentrações e uma longa e achatada calda em
direção às altas concentrações.
Este tipo de distribuição seria de difícil manuseio matemático, mas felizmente existe
uma transformação logarítmica dos dados originais que gera uma distribuição normal ou
de Gauss. Esta distribuição gaussiana fica completamente determinada por uma mediana
e um desvio padrão geométrico.
Uma curva positivamente assimétrica, como a da figura 5.3.c., freqüentemente
pode ser considerada log normal. Isto significa que se os mesmos dados forem plotados
num gráfico monologarítmico, com os valores no eixo X plotados numa escala logarítmica
e não uma escala linear, a nova curva terá o aspecto da curva da figura 5.3.a. Esta nova
curva, em forma de sino e simétrica, é a curva normal ou gaussiana, e a nossa
distribuição original de dados é dita log normal.
Estudos envolvendo um grande número de amostragens de higiene ocupacional,
efetuadas pelo NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health, indicaram
que exposições de curto prazo em geral se distribuíam de modo log normal com desvios
padrões geométricos na faixa entre 1,5 e 2,0.
Não é objetivo deste texto discutir em profundidade a teoria e as propriedades das
distribuições log normais, mas um breve resumo é apresentado a seguir.
A melhor medida de tendência central da distribuição log normal é a média
geométrica. Como no caso em questão a distribuição é assimétrica positivamente, a
média geométrica é sempre menor que a média aritmética por um valor que depende do
desvio padrão geométrico. As fórmulas (5.1) apresentam as expressões analíticas para
se calcular a média geométrica (MG). Por 5.1.a. ela é dada pelo antilogaritmo da média
dos logaritmos dos valores. Por 5.1.b. ela é dada pela enésima raiz do produto dos n
valores.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

MG = exp { [ ln C1 + ln C2 + .... + ln Cn ] / n } (5.1.a)

MG = { C1 x C2 x C3 x ... x Cn }1/n (5.1.b)

onde:
Cj = medidas individuais
n = número de medidas
ln = logaritmo natural ou neperiano
exp = representa a função exponencial (ex)

O desvio padrão geométrico (dpg) para a distribuição log normal pode ser calculado
pela expressão analítica dada na fórmula (5.2):

dpg = exp { [ Σ ( ln Cj - ln MG )2 ] / (n-1) ] ½ } (5.2)

A importância de se calcular a média geométrica e o desvio padrão podem ser


ilustrados pelo exemplo seguinte. Se os valores de curta exposição num dado ambiente
de trabalho tiverem um desvio de 2,0, isto significa que 5% de todos os valores
excederão a média geométrica em 3,13 vezes. Se um processo tiver uma variabilidade
maior que esta, ele não está sob adequado controle e ações devem ser tomadas.

5.4.2 Exemplo ocupacional 1 – silicose em minas de ouro


O ouro muitas vezes é lavrado em veios de quartzo e a poeira de quartzo contém
sílica (SiO2). Se a sílica estiver presente em quantidade suficiente e houver um longo
tempo de exposição, pode ocorrer uma doença chamada silicose. A fim de se avaliar a
periculosidade de uma lavra de ouro foram obtidos dados para 33 mineiros, sendo os
dados divididos nas classes apresentadas na tabela 5.4. O histograma associado a esta
tabela é apresentado na figura 5.5.

Tabela 5.4. Exposição de 33 mineiros à poeira de sílica. C representa a concentração


medida.
N° DA CLASSE LIMITES FREQÜÊNCIA FREQÜÊNCIA RELATIVA
(mg/m3) (absoluta) (%)
1 0,00 ≤ C < 0,02 5 15,2
2 0,02 ≤ C < 0,04 9 27,3
3 0,04 ≤ C < 0,06 8 24,2
4 0,06 ≤ C < 0,08 3 9,1
5 0,08 ≤ C < 0,10 4 12,1
6 0,10 ≤ C < 0,12 2 6,1
7 0,12 ≤ C < 0,14 0 0
8 0,14 ≤ C < 0,16 1 3,0
9 0,16 ≤ C < 0,18 0 0
10 0,18 ≤ C < 0,20 1 3,0

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6
freqüência

4
3

0
0,01 0,03 0,05 0,07 0,09 0,11 0,13 0,15 0,17 0,19
3
ponto médio do intervalo (mg/m )

Figura 5.6. Histograma de exposição a poeira de sílica para 33


mineiros trabalhando numa lavra de ouro.

Como se tem poucas amostras, dois intervalos não possuem nenhum valor. Se
mais amostras tivessem sido obtidas, eventualmente haveria valores nestes intervalos.
Se muitas mais amostras tivessem sido colhidas e os pontos médios dos intervalos
fossem unidos por uma linha, obteríamos uma curva log normal típica, como ilustrado no
quadro 5.11.

Quadro 5.11.
Usando os parâmetros estatísticos de uma distribuição log normal e um programa
como o Excel, depois desenhe a curva (à mão) correspondente à exposição de sílica
pelos mineiros.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Esta curva é assimétrica para o lado direito, com a inclinação sendo mais
acentuada na região dos valores menores. Isto indica que um grande número de medidas
se encontra do lado dos menores valores e que as medidas não se distribuíram
homogeneamente. Este tipo de curva é denominado de assimétrica para a direita
(“skewed to the right”).
Como os valores reais não foram dados, não é possível calcular a média aritmética
e a média geométrica a partir daΣ tabela 5.4. Estas seriam respectivamente 0,051 e
0,036 mg/m3. A média aritmética é influenciada demais por alguns poucos valores altos e
considera-se a média geométrica uma melhor medida de tendência central para este tipo
de distribuição. No próximo exemplo serão explicitadas todas as etapas numéricas dos
cálculos de média geométrica e desvio padrão geométrico.

5.4.3 Exemplo ocupacional 2 – Silicose em pedreiras


Foi efetuado um programa de amostragem de sílica e 5 amostras foram obtidas. As
concentrações médias temporais em mg/m3 foram: 0,02; 0,09; 0,13; 0,04 e 0,01. Deseja-
se calcular a média geométrica (MG) e o desvio padrão geométrico (dpg). A tabela 5.5.
apresenta os cálculos numéricos iniciais.

Tabela 5.5. Cálculos numéricos iniciais para obtenção da média geométrica e desvio
padrão.
CONCENTRAÇÃO ln Cj [ ln Cj - ln MG ]2
3
Cj (mg/m )
0,02 - 3,91 [ ( - 3,91 ) - ( - 3,238 ) ]2 = 0,452
0,09 - 2,41 [ ( - 2,41 ) - ( - 3,238 ) ]2 = 0,686
0,13 - 2,04 [ ( - 2,04 ) - ( - 3,238 ) ]2 = 1,435
0,04 - 3,22 [ ( -3,22 ) - ( - 3,238 ) ]2 = 0,0003
0,01 - 4,61 [ ( - 4,61 ) - ( - 3,238 ) ]2 = 1,882
------- total: - 16,19 total: 4,458
------- MG = exp [ - 16,19 / 5 ] = 0,039

Usando a fórmula para desvio padrão geométrico (5.2):

dpg = exp { [4,458 / 4 ] ½ } = 2,87 mg/m3

Portanto:

MG = 0,039 mg/m3
dpg = 2,87 mg/m3

Se todos os valores medidos fossem iguais, a média geométrica seria igual a eles,
a diferença dos logaritmos seria zero e, portanto o desvio padrão geométrico seria igual a
1,00.
À medida que o espalhamento dos dados aumenta, o desvio padrão geométrico
também aumenta. Um valor de 2,87 é considerado alto. No presente caso os resultados
estão espalhados e é difícil interpretar os valores. Mais medidas ajudaria a aumentar a
confiança nos dados.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Duas regras merecem destaque e podem agora ser resumidas como:


• para uma distribuição log normal, a média geométrica é uma melhor medida de
tendência central que a média aritmética;
• para uma distribuição log normal, o desvio padrão geométrico é uma melhor
medida da dispersão que o desvio padrão.

Os parâmetros, média geométrica e desvio padrão geométrico podem ser usados


como indicadores iniciais para a determinação da freqüência de amostragem e do
número de amostras.
Um programa de amostragem desenvolvido pela ALCOA e adotado pela ONRSA –
“Ontário Natural Resources and Safety Association”- é resumido nas tabelas 5.6 e 5.7.
Estas tabelas podem servir de guia para determinar o número mínimo de amostras e,
depois de calcular o dpg, avaliar se mais amostras precisam ser colhidas.

Tabela 5.6. Freqüência de amostragem periódica.


média geométrica (MG) freqüência de amostragem
< 50% 6 meses a 2 anos
≥ 50% menos de 6 meses

Tabela 5.7. Dimensionamento do número de amostras.


Número de empregados dpg dos dados de base Número mínimo de
no grupo exposto amostras (n)
≤ 30 ≤ 2,00 3
> 2,00 5
> 30 ≤ 2,00 7
> 2,00 9

Alguns laboratórios podem apresentar certos valores como sendo zero, mas zero
não pode ser utilizado para se calcular a média geométrica. O valor nulo apresentado por
um laboratório significa que, se presente, a quantidade é inferior ao limite de detecção.
Para valores inferiores ao limite de detecção, deve-se usar nos cálculos a metade do
limite de detecção e não o valor zero. Todo bom laboratório deve ser capaz de informar
seu limite de detecção.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.4.4 Exemplo de aplicação da média geométrica


A média aritmética é apropriada para grandezas ou números com variação linear.
Para números que variam exponencialmente é melhor usar a média geométrica. Assim, a
melhor medida da tendência central do conjunto {1, 2, 4, 8, 16, 32} não é 10,5, mas 5,65,
que é a média geométrica: (1X2X4X8X16X32)1/6.
A média geométrica é também útil em distribuições logarítmicas, log normais ou
com um valor isolado muito alto. Neste último caso, a média geométrica suaviza a
influência deste único valor. Assim, para o conjunto {1, 2, 3, 4, 5, 100} a melhor medida
de tendência central não é 19,2, mas a media geométrica de 4,78.

5.4.5 Exemplo de aplicação da média harmônica


Seja um veículo que se desloca de São Paulo para o Rio de Janeiro, percorrendo
uma distância total de 400 km. Na primeira metade do percurso, ele mantém uma
velocidade de 80 km/h e, na segunda metade do percurso, desenvolve 120 km/h. Qual
sua velocidade média para o percurso entre São Paulo e Rio de Janeiro?
Se tomarmos a média aritmética das velocidades, obteremos: MA = ( 80 + 100 ) / 2
= 100 km/h.
Nesta velocidade média o tempo de viagem teria sido de 4 horas.
Na realidade percorreram-se os primeiros 200 km a 80 km/h, demorando, portanto
2,5 horas.
Os segundos 200 km foram percorridos a 120 km/h, demorando-se 1,667 h.
Assim o tempo total da viagem foi de: 2,5 + 1,667 = 4,167 horas.
Portanto pela definição de velocidade média, que é a distância percorrida dividida
pelo tempo gasto, obtemos a velocidade média correta para a viagem: 400 / 4,1667 = 96
km/h.
Vm = 96 km/h
Se usarmos a média harmônica teremos:
MH = 2 / { 1/80 + 1/120 } = 2 / { (120 + 80)/ (120 x 80) } = ( 2 x 80 x 120 ) / 200 = 96 km/h
Portanto:
MH = 96 km/h
A média harmônica é dada pelo inverso da média aritmética dos inversos e é útil
quando se tem valores que representam taxas de variação. Neste exemplo, as taxas de
variação são as velocidades, que representam taxas de variação da distância no tempo.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.5 LIMITES ADMISSÍVEIS


5.5.1 O que significam os valores numéricos
Depois que a medição de uma substância ou de um agente perigoso foi efetuada
(com um dado grau de confiança), o valor medido é comparado com uma referência para
avaliação do grau de exposição.
O desenvolvimento e definição destes padrões de referência foi um trabalho
pioneiro da ACGIH - American Conference of Governamental Industrial Hygienists, e hoje
suas recomendações são aceitas em quase todo o mundo. Apesar da ACGIH não ter
autoridade para legislar, muitos órgãos legislativos têm aceitado como de alto nível as
pesquisas por ela desenvolvidas e, reconhecendo o valor de suas recomendações, as
têm transformado em leis. Uma listagem anual dos valores recomendados pela ACGIH
reflete as evidências experimentais mais recentes e tem servido de padrão de referência
para muitos países.
Portanto uma rotina de análise seria:
• executar medições da exposição de um trabalhador a um dado agente perigoso
ou tóxico;
• analisar as medidas feitas para se obter uma concentração média (ponderada
temporalmente);
• comparar o valor médio com o limite de tolerância LTmp do país. Caso ele não
exista, deve-se utilizar o valor recomendado pela ACGIH;
• se a média obtida estiver abaixo do valor limite de tolerância, então o local de
trabalho estará de acordo com a lei. A boa prática industrial recomenda que o
valor medido seja menor que metade do valor limite legal adotado, de modo a
se ter um bom fator de segurança. Deve-se lembrar que um limite de tolerância
da ACGIH é apenas a atual melhor estimativa de uma concentração segura, e
que nenhuma garantia é dada pela ACGIH de que os valores publicados sejam
seguros.
Os exemplos seguintes ilustram algumas das técnicas de cálculo numérico para
análise de exposição ocupacional.

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.5.2 Exemplo de cálculo da exposição média


Um técnico está analisando o nível de exposição de um operador de britagem
primária a material particulado. O seu instrumento de medição indica os seguintes
valores: deslocando-se para o britador - 0,5 mg/m3; operando o britador com minério - 6,0
mg/m3; com o britador girando, mas sem minério - 2,0 mg/m3; com o britador parado - 1,0
mg/m3; no refeitório - 0,5 mg/m3. Deseja-se saber o nível de exposição do operador que
tenha o seguinte cronograma diário típico:
• deslocando-se ao local de trabalho - 15 minutos;
• britando minério - 130 minutos;
• britador girando sem minério - 60 minutos;
• britador parado - 45 minutos;
• almoçando no refeitório - 30 minutos;
• britador girando sem minério - 30 minutos;
• britando minério - 115 minutos;
• britador parado - 30 minutos;
• no refeitório - 10 minutos;
• deslocando-se do local de trabalho - 15 minutos.

Em primeiro lugar devemos construir uma tabela resumindo os dados levantados, o


que é apresentado na tabela 5.8. Normalmente esta tabela já seria uma planilha de
campo preenchida pelo técnico.
A tabela 5.8. pode ser compactada agrupando-se os tempos de exposição a um
mesmo nível de concentração de poeira. Isto é apresentado na tabela 5.9. A última
coluna da tabela 5.9. apresenta o produto do tempo de exposição multiplicado pela
concentração da exposição.

Tabela 5.8. Resumo dos dados de campo.


ATIVIDADE DESENVOLVIDA DURAÇÃO (min.) EXPOSIÇÃO (mg/m3)
Deslocamento ao local de trabalho 15 0,5
Britando minério 130 6,0
Britador girando sem minério 60 2,0
Britador parado 45 1,0
Almoçando no refeitório 30 0,5
Britador girando sem minério 30 2,0
Britando minério 115 6,0
Britador parado 30 1,0
No refeitório 10 0,5
Deslocando-se do local de trabalho 15 0,5
TEMPO TOTAL 480

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Tabela 5.9. Dados de campo agrupados por nível de exposição à poeira.


ATIVIDADES TEMPO TOTAL NAS EXPOSIÇÃO PRODUTO: Cj X Tj
ATIVIDADES (min) (mg/m3 ) TEMPO vezes EXPOSIÇÃO
Deslocamentos, 70 0,5 70 x 0,5 = 35
refeitório
Britando minério 245 6,0 245 x 6,0 = 1470
Britador apenas 90 2,0 90 x 2,0 = 180
girando
Britador parado 75 1,0 75 x 1,0 = 75
TEMPO TOTAL = 480 -------- Σ Cj X Tj = 1760

A exposição média ponderada (Emp) a que o operador esteve exposto é calculada


dividindo-se o total da última coluna pelo tempo total de exposição, no caso, 480 minutos.
Portanto:
Exposição média ponderada = Emp = 1 760 / 480 = 3,67 mg/m3
Como todas as medidas apresentavam 2 algarismos significativos, a resposta
também deve conter apenas dois algarismos significativos, de modo a se ter o mesmo
grau de confiança. Assim:

Emp = 3,7 mg/m3

O valor da exposição obtido poderia ser admissível para alguns tipos de poeira e
inaceitável para outros tipos. Para esta decisão a poeira deveria ser analisada
qualitativamente e quantitativamente, para se saber sua composição. Sabendo-se sua
composição, poder-se-ia usar o limite de tolerância apropriado e avaliar se ele teria sido
excedido ou não.

5.5.3 Exemplo de efeitos aditivos


A menos que haja informação explícita do contrário, deve-se assumir que haja um
efeito aditivo quando se está exposto a múltiplos agentes ou contaminantes.
Consideremos um operador de fábrica onde estejam presente material particulado
e um gás. Os correspondentes limites de tolerância são 2 mg/m3 e 300 ppm. Os
resultados do monitoramento indicaram que durante o turno o operador esteve exposto
em média a 1,2 mg/m3 de poeira e a 165 ppm de gás. Consideradas isoladamente, as
exposições à poeira e ao gás estão abaixo dos respectivos limites, pois:

Emp (poeira) = 1,2 mg/m3 = 60% LTmp (poeira) = 100 x [1,2 / 2,0 ]

Emp (gás) = 165 ppm = 55% LTmp (gás) = 100 x [165 / 300 ]

Todavia se os efeitos aditivos forem considerados, em conjunto o operador estará


exposto a 115% acima do limite de tolerância conjunto. Neste caso deverão ser adotadas
ações para que esta exposição seja reduzida até que se tenha um nível de exposição
inferior a 100%.

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5.6 METODOLOGIAS DE MEDIÇÃO


Nesta fase é apropriado que se reflita sobre as seguintes palavras:
“Quando se pode medir algo sobre o que se está falando, então se sabe alguma
coisa sobre ele. Quando não se consegue exprimi-lo em números, o nosso conhecimento
é de um tipo muito insatisfatório. Apesar de poder-se estar no início do conhecimento,
pouco se avançou nos seus pensamentos ao estágio de ciência.” Lord Wiliam Thomson
Kelvin.
Muito antes, Pitágoras tinha expressado as mesmas idéias na sucinta frase:
“Só se enumera o que se conhece”.
Um dos princípios básicos do planejamento de medições é se manter o mais
possível a simplicidade e a objetividade, efetuando-se um mínimo de operações para a
obtenção dos resultados desejados. Um termômetro, por exemplo, é um instrumento para
medir apenas a temperatura. Já um monitor de temperatura é mais complexo e registra a
variação da temperatura com o tempo. Com a adição de mais objetivos, um sistema de
medição pode atingir qualquer grau de complexidade sendo em geral projetado para
combinar uma série de operações que fornecerão os resultados desejados.
A estatística é uma ciência orientada à coleta, organização, descrição e
interpretação de dados experimentais. Alguns termos básicos da estatística são:
• população (universo): é o conjunto de todos os elementos sobre os quais se
deseja informações;
• censo: é a análise que envolve toda a população;
• amostra: é um subconjunto da população;
• variável: é uma característica que é de interesse;
• amostragem: conjunto de procedimentos e técnicas visando a obtenção de uma
amostra com dadas características.
Quando a população é muito grande é necessário que se obtenham informações
sobre ela a partir de informações sobre uma amostra, como ilustrado na figura 5.6.

Inferência

População
Amostra

Probabilidades

Figura 5.7. Relação entre amostra e população [Alberto Ramos].

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Obter medidas de interesse não é tão simples quanto possa parecer e pode
envolver diversas operações dentre as quais:
• seleção do local de amostragem;
• definição da estratégia de amostragem;
• escolha do método de amostragem (como os elementos da amostras serão
coletados);
• determinação da freqüência de medição (freqüência de coleta de elementos da
amostra);
• definição de quantos elementos serão coletados( tamanho da amostra);
• execução da amostragem;
• transporte e cuidados com a amostra;
• preparação das amostras;
• análise das amostras;
• interpretação dos dados;
• apresentação cuidadosa dos resultados.

5.6.1 Seleção do local de amostragem


Uma amostra é apenas uma pequena parte do todo, devendo-se tomar todos os
cuidados para que a parte seja representativa do universo amostrado. No caso da higiene
industrial, o local de amostragem pode ser junto ou mesmo no trabalhador, ou pode ser
no local de trabalho circunvizinho ao trabalhador.

5.6.2 Estratégia de amostragem


Nem sempre é necessário amostrar todos os trabalhadores. Para se determinar
quantos devem ser amostrados, os trabalhadores podem ser classificados por categorias
onde basicamente todos têm as mesmas condições de exposição. Na primeira etapa se
definem categorias amplas tais como tipo de ocupação e áreas de trabalho. Em cada
classe se examina, então, quanto à natureza do trabalho executado, quanto à posição
relativa do trabalhador com relação ao contaminante e quanto ao tempo que o
trabalhador gasta na área.
O número de trabalhadores a serem amostrados em cada categoria pode ser
determinado com o auxílio da tabela 5.10. Se o grupo tiver menos de 6 trabalhadores,
todos eles deverão ser amostrados.
Utilizando a tabela 5.10 você terá 90% de confiança de que pelo menos um dos
trabalhadores amostrados pertencerá aos 20% expostos aos níveis mais altos.

Tabela 5.10. Relação entre tamanho do grupo e número de trabalhadores a serem


amostrados [adaptado da NIOSH, Occupational Exposure Sampling Strategy Manual, US
Department of Health, Education and Welfare].
Tamanho do grupo 6 7-9 10 - 14 15 - 26 27 - 50 > 50
Número de trabalhadores
5 6 7 8 9 11
a serem amostrados

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

A amostragem pode ser aleatória ou não aleatória. Numa amostragem aleatória


cada um dos membros da população tem a mesma chance de ser selecionado. Caso
contrário se terá uma amostragem não aleatória.

A. AMOSTRAGEM NÃO ALEATÓRIA


O método mais popular de amostragem não aleatória é aquele que se baseia no
que é mais conveniente ao pesquisador. Ele simplesmente inclui os casos mais
convenientes na amostra e exclui os inconvenientes. Este tipo é denominado de
amostragem acidental (“accidental sampling”), e um exemplo é quando professores
usam seus próprios alunos para experimentos.
Um outro tipo de amostragem não aleatória é a amostragem por cotas. Neste
procedimento diversas características de uma população, como idade ou sexo, são
usadas para definir cotas de amostragem. Por exemplo, numa fábrica podem estar
empregados 68% de homens e 32% de mulheres. Usando este método, um pesquisador
desejando amostrar 100 trabalhadores, poderia baseado em sexo, escolher 32 mulheres
e 68 homens. Ou seja, teria definido cotas de amostragem.
Um terceiro tipo de amostragem não aleatória é a chamada amostragem com
julgamento. A idéia é de que neste tipo a lógica, o bom senso ou o discernimento podem
ser utilizados para selecionar uma amostra que seja representativa de uma população
mais ampla.

B. AMOSTRAGEM ALEATÓRIA
Na amostragem aleatória cada um dos membros de uma população tem a mesma
probabilidade de ser selecionado. Esta característica exige que cada um dos membros da
população seja identificado antes que a amostragem seja efetuada. A obtenção desta
lista de membros nem sempre é uma tarefa fácil.
O exemplo mais básico de amostragem aleatória é a amostragem aleatória simples,
tal qual a retirada de nomes de um chapéu. O mesmo método pode ser obtido usando-se
tabelas de números aleatórios, de modo que se obtenha uma amostra imparcial. A figura
5.7. ilustra a amostragem aleatória simples.

Figura 5.8. Amostragem aleatória simples.

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

A amostragem sistemática é similar à amostragem aleatória simples. Em vez de


se usar uma tabela de números aleatórios, cada j-ésimo membro da população é
selecionado para a amostra. A figura 2.8. ilustra a retirada periódica de elementos da
população para compor a amostra.

Figura 5.9. Amostragem sistemática.


Uma outra variante da amostragem aleatória simples é a amostragem estratificada.
Neste tipo, a população é dividida em subgrupos ou estratos mais homogêneos, a partir
dos quais as amostras são retiradas. Cada estrato é tratado como uma população
completa e, para cada um, é aplicada a amostragem aleatória simples. A estratificação se
baseia na idéia de que num grupo homogêneo se necessita de uma amostra menor que
num grupo heterogêneo. A figura 2.9 ilustra a amostragem estratificada.

Exemplo:
Numa mina subterrânea seriam escolhidos os trabalhadores de subsolo que
tivessem o maior potencial de exposição aos níveis mais altos de poeira. Estes poderiam
ser todos os perfuradores em subsolo e deste grupo seria então escolhida uma amostra
aleatória simples.

Figura 5.10. Amostragem estratificada.

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.6.3 Metodologia de amostragem


Existem várias estratégias de amostragem que podem ser utilizadas. A amostragem
por lote (“batch or grab sampling”) é a coleta de predeterminadas amostras durante
certo período de tempo com uma estratégia aleatória. A amostragem intermitente é feita
coletando-se amostras repetitivamente e sistematicamente numa seqüência temporal,
mas com interrupções periódicas no processo de amostragem. Já a amostragem
contínua é feita ininterruptamente, mantendo-se continuidade em tempo real.

5.6.4 Freqüência de amostragem


A freqüência de amostragem é normalmente definida por normas legais. Quando os
níveis de exposição são altos, próximos ou excedendo os limites de tolerância,
recomenda-se uma alta freqüência de amostragem. Com níveis menores de exposição,
em geral amostragens menos freqüentes são suficientes.

5.6.5 Execução da amostragem


A amostragem propriamente dita requer certo tipo de instrumento. Os fabricantes
fornecem um manual com seus instrumentos e a descrição do modo correto de operação.
Quando a amostragem é requerida por lei, o método de amostragem é normalmente bem
explicitado na norma legal.

5.6.6 Transporte e cuidados com as amostras


Para certas técnicas de amostragem, é necessário se transportar a amostra para o
laboratório para a execução de análises. Esta fase pode requerer cuidados importantes,
que se não tomados podem invalidar a amostragem.

Exemplo:
Se um poço de água está sendo testado, é preciso ter certeza de se usar um
recipiente bem selado e que esteja isento de contaminantes antes da coleta de material.
É preciso se certificar de que nenhuma contaminação ocorra durante a coleta e manuseio
do recipiente, de que o recipiente esteja completamente selado e de que seja enviado ao
laboratório o mais breve possível. A amostra precisa ser rotulada e etiquetada,
guardando-se registros apropriados de modo que os resultados analíticos sempre sejam
atribuídos à amostra correta.

5.6.7 Preparação das amostras


Esta fase envolve a preparação física e/ou química da amostra, que deve ser
consistente com as operações analíticas a serem executadas. Envolve também o
conhecimento dos efeitos sobre a amostra e sua integridade.

5.6.8 Análise das amostras


Nesta etapa são obtidos dados qualitativos ou quantitativos sobre o contaminante
ou agente, envolvendo os parâmetros de interesse.

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.6.9 Interpretação dos dados


Todos os dados, ao serem analisados com um dado objetivo, devem seguir
métodos estatísticos padrões específicos para cada situação. Para a interpretação e
posterior apresentação dos dados, as informações mínimas tabuladas devem conter:
• o número de observações feitas;
• um valor indicando a tendência central dos mesmos;
• um valor indicando a dispersão dos dados;
• o método de medida;
• a instrumentação utilizada.
Valores que podem ser calculados para representar a tendência central são a
média aritmética, a moda e a mediana. A média geométrica pode ser utilizada, mas neste
caso deve existir uma tendência dos dados se distribuírem de maneira log normal.
Vários parâmetros podem ser usados para representar a dispersão dos dados. A
dispersão se refere ao grau de flutuação dos valores ao redor de um ponto e procura
responder se a maioria dos valores está próximo da média, mediana ou moda.
Alguns dos parâmetros que podem ser usados são: variância da média, desvio
padrão da média, grau de assimetria (“skewness”), curtose, intervalo interquartis, desvio
padrão da mediana, desvio padrão geométrico, valores mínimo e máximo, etc. Alguns
termos qualitativos também são usados como: assimetria positiva, distribuição log
normal, multimodal, leptocúrtico, mesocúrtico, bimodal, etc.
Se houver alguma dúvida sobre qual ferramenta ou termo estatístico usar,
apresente o maior número possível de informações, indicando sua opinião sobre qual o
mais apropriado. Deste modo o leitor poderá analisar com mais cuidado suas
informações.
No exemplo apresentado em detalhe sobre material particulado, sabemos que as
partículas dispersas no ar são heterogêneas em termos de tamanho. Quando se coleta
amostras destas partículas, os resultados das medições são mais bem estudados com
métodos estatísticos. Os resultados podem ser apresentados usando-se distribuições de
freqüência relativa ou cumulativa com relação à granulometria, à área, ao volume ou à
massa. A mais comum é a distribuição granulométrica.
O primeiro passo para se obter uma distribuição de tamanhos ou massas é se
classificar as amostras coletadas em grupos denominados de classes. As classes são
definidas pelos seus limites dados em termos de magnitude do parâmetro considerado.
Cada limite de classe é a borda superior de uma classe e a inferior da seguinte. O ponto
médio da classe é o centro da classe, locado no meio dos limites superior e inferior. O
uso deste ponto médio se assenta na hipótese de que dentro da classe os valores se
distribuem de modo eqüitativo. Isto significa que a média e a mediana para dados
agrupados serão um pouco diferentes de que para os dados não agrupados.
Os intervalos de cada classe não precisam ser iguais, mas neste caso estas
diferenças devem ser explicitadas e a relação entre cada classe estabelecida.
Existe um perigo ao se agrupar dados, que é a perda de informação. Nos dados
completos, sem agrupamento, sabemos cada um dos diâmetros das partículas de poeira.
Se colocarmos os dados em classes, não sabemos mais os diâmetros individuais e esta
perda de informação deve ser comparada com os ganhos em termos de claridade e
conveniência. Para se proteger desta perda de informação, as classes não devem ser tão
grandes de modo a conter grandes volumes de dados ou grande variação de tipos de
o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

dados. O bom senso é o melhor indicador, mas com a maioria dos dados, uma
subdivisão em 10 a 20 classes fornece resultados satisfatórios.
Deve-se sempre lembrar que em pesquisa científica existem muito poucas
respostas absolutas. Em geral, numa pesquisa tem-se que assumir uma série de
hipóteses e emitir um conjunto de julgamentos. Não existe meio de se evitar estes
julgamentos e eles devem ser os mais imparciais possíveis.
A resposta de quando usar uma ferramenta estatística mais poderosa e complexa
não é simples. Todavia, se ela atrapalhar o leitor ou confundi-lo, não deve ser usada. Por
exemplo, se a distribuição for altamente assimétrica, ainda assim é possível se calcular a
média aritmética e o correspondente desvio padrão. Todavia, as correspondentes
interpretações são muito enganadoras.
Os dados para os quais se calcula a média aritmética devem ser simétricos, pois se
forem muito assimétricos, a média perde seu valor interpretativo, pois terá sido deslocada
para um dos lados. Se apesar de simétricos, os dados não se distribuírem de modo
normal, a média aritmética também perde um pouco de seu significado e deve ser usada
com cautela.
As restrições ao uso da média são severas, mas por outro lado, sua força também
é aparente. Ela tem alta sensibilidade à centralidade e forte conteúdo de informação. A
mesma sensibilidade que faz com que a média aritmética seja usada com cautela em
distribuições assimétricas, mostra também sua exatidão e grau de informação.
O desvio padrão da média aritmética é muito usado na análise de dados, mas
novamente deve-se ter cautela com distribuições assimétricas. O número calculado se
torna sem sentido, não tendo relação com a muito citada afirmação: “No intervalo de 1
desvio padrão de cada lado da média, tem-se aproximadamente 68% de todos os
valores.” Esta afirmação é verdadeira para distribuições normais mas não para
distribuições assimétricas.
Quando se trabalha com a contagem de partículas, com a distribuição
granulométrica ou com a variação temporal da concentração de gases, em geral tem-se
distribuição assimétrica e freqüentemente estas são log normais.

5.6.10 Apresentação cuidadosa dos resultados


Finalmente é preciso que a linguagem de um relatório científico seja clara, concisa,
coerente e seguidora das regras gramaticais.
A apresentação deve ser isenta de inutilidades e informações que não tenham a ver
com os objetivos da pesquisa. Esta é uma característica que engenheiros e
pesquisadores devem estar atentos.

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.6.11 Distinção entre parâmetros da amostra e da população


O termo população se refere ao conjunto do todos os elementos para os quais se
deseja obter informações sobre um dado parâmetro. Por exemplo, a idade dos homens
brasileiros. Para uma população em geral se utilizam os símbolos:

Média aritmética da população = MA = μ


Desvio padrão aritmético da população = dpa = σ
Estes valores podem ser considerados como os valores “corretos” ou exatos.

Com a impossibilidade ou impraticabilidade de se medir todos os valores da


população, medem-se uma parte dela, denominada de amostra. Os valores da média e
desvio padrão da amostra são em geral designados pelas letras:

Média aritmética da amostra = MA = X


Desvio padrão da amostra = dpa = s
Se a amostragem for efetuada adequadamente, os valores calculados para a
amostra, ( , s) são boas estimativas dos valores de μ e σ.

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.7 TESTES (2)


1. Um grupo de 20 trabalhadores foi exposto a um valor médio de leitura de 70 ppm
de gás CO durante uma semana de 40 horas. Um segundo grupo de 30
trabalhadores foi exposto a um valor médio de leitura de 80 ppm de CO durante a
mesma semana de 40 horas. A média geral em ppm de CO para os 50
trabalhadores foi de:
a) 70
b) 74
c) 75
d) 76
e) 80

Feedback: (20 * 70 + 30 * 80) / 50 = 76

2. Um método de amostragem aleatório (ou randômico) no qual cada enésimo


membro da população é incluído na amostra é um método de:
a) amostragem aleatória simples
b) amostragem sistemática
c) amostragem por “cluster”
d) amostragem estratificada
e) amostragem assimétrica

Feedback: item 5.6.2, subitem B(amostragem aleatória), terceiro parágrafo


(depois da figura 5.8)

3. Um método de amostragem no qual primeiro a população é dividida em


subgrupos mais homogêneos, a partir dos quais amostras aleatórias simples são
coletadas é um método de:
a) amostragem aleatória simples
b) amostragem sistemática
c) amostragem por cluster
d) amostragem estratificada
e) amostragem simétrica

Feedback: item 5.6.2, subitem B(amostragem aleatória), quarto parágrafo


(depois da figura 5.9)
4. Um método de amostragem aleatória, no qual uma tabela de números
randômicos é utilizada para selecionar uma amostra que representa uma população
maior é:
a) uma amostragem aleatória simples
b) uma amostragem sistemática
c) uma amostragem tipo “cluster”
d) uma amostragem estratificada
e) uma amostragem acidental

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

Feedback: item 5.6.2, subitem B(amostragem aleatória), segundo parágrafo


(antes da figura 5.8)
5. Um método de amostragem aleatória onde amostras são selecionadas de modo
randômico a partir de áreas bem definidas é:
a) uma amostragem aleatória
b) uma amostragem sistemática
c) uma amostragem tipo “cluster”
d) uma amostragem estratificada
e) uma amostragem semi-parcial

Feedback: Este tipo de amostragem torna-se particularmente útil quando a


população se encontra dividida num reduzido número de grupos,
caracterizados por terem uma dispersão idêntica à população total, isto é, os
grupos deverão, tanto quanto possível, ser “microcosmos” da população a
estudar. Primeiro, selecionam-se aleatoriamente alguns dos grupos e em
seguida, incluem-se na amostra todos os indivíduos pertencentes aos grupos
selecionados. Trata-se de um processo amostral casual simples em que cada
unidade é o cluster.

6. Uma usina de tratamento de minérios emprega 40 trabalhadores na oficina de


manutenção. Deseja-se saber os níveis de ruído a que estes estão expostos num
turno diário de 8 horas. Para que se tenha 90% de certeza de que pelo menos um
dos trabalhadores amostrado esteja no grupo exposto aos níveis 20% mais altos,
deve-se amostrar um mínimo de:
a) 5 trabalhadores
b) 7 trabalhadores
c) 9 trabalhadores
d) 11 trabalhadores
e) 12 trabalhadores

Feedback: item 5.6.2, Tabela 5.10.

7. Um método de amostragem não aleatório no qual o pesquisador inclui os casos


mais convenientes em sua amostra é:
a) uma amostragem acidental
b) uma amostragem tipo “cluster”
c) uma amostragem por cotas
d) uma amostragem com julgamento
e) uma amostragem parcial

Feedback: item 5.6.2, subitem A(amostragem não aleatória), primeiro


parágrafo

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

8. Numa distribuição log normal tem-se:


a) média aritmética < mediana < moda
b) mediana < média aritmética < moda
c) moda < mediana < média aritmética
d) média aritmética < moda < mediana
e) log média = log mediana = log moda

Feedback: item 5.1.2, curva c) da figura 5.3., ilustra aproximadamente uma


curva log normal.

9. Uma distribuição na qual se tem mais valores baixos do que altos, resultando
numa cauda maior à direita, é dita:
a) assimétrica positiva
b) assimétrica negativa
c) mesocúrtica
d) platicúrtica
e) leptocúrtica

Feedback: item 5.1.2, curva c) da figura 5.3.


10. Uma distribuição assimétrica que é bastante achatada é denominada de:
a) mesocúrtica
b) negativamente assimétrica
c) positivamente assimétrica
d) platicúrtica
e) leptocúrtica

Feedback: item 5.1.2, subitem G( Formas de Curva), quarto parágrafo

11. Para o conjunto de valores {1,2,3,4,5,100} temos:


a) moda = 3 ou 4; mediana = 3,5; MA = 19,1667; MG = 50
b) mediana = 3 ou 4; moda = 3,5; MA = 19,1667; MG = 30
c) moda = qualquer valor; mediana = 3,5; MA = 19,1667; MG = 10
d) moda = 3,5; mediana = qualquer valor; MA = 19,1667; MG = 4,78
e) moda = qualquer valor; mediana = 3,5; MA = 19,1667; MG = 4,78

Feedback:
1) Como não há nenhum valor que se repete, não há valor algum com maior
freqüência e por isso a moda pode ser qualquer valor.
2) A mediana seria o valor central. Como há número par de valores, os
números centrais são 3 e 4, e portanto devemos tirar a média entre eles, e
temos mediana = 3,5.
3) A média aritmética é (1+2+3+4+5+100)/6 = 19,1667
4) A média geométrica é (1*2*3*4*5*100)^1/6 = 4,7848

o
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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

12. Curvas normais podem também ilustrar os conceitos de exatidão e precisão.


Escolha a alternativa correta em função das figuras numeradas de 1 a 4.
a) (1) é precisa e exata, (3) é exata e imprecisa.
b) (1) é precisa e exata, (2) é imprecisa e exata.
c) (2) é pouco precisa e inexata, (3) é pouco exata e imprecisa.
d) (3) é exata e imprecisa, (4) é imprecisa e exata.
e) existem duas alternativas incorretas.

Feedback: item 5.3.3, figura 5.5.


1) preciso e exato
2) preciso e inexato
3) impreciso e exato
4) impreciso e inexato

13. Considere as afirmações abaixo sobre concentração em amostras aleatórias na


área de Saúde e Segurança do Trabalho:
I – Os resultados freqüentemente se distribuem de maneira log normal;
II – Os resultados freqüentemente se distribuem simetricamente;
III – A melhor medida de tendência central da distribuição log normal é a média
aritmética;
IV - A melhor medida de tendência central da distribuição log normal é a média
geométrica.
Qual a alternativa correta?
a) apenas I e IV são verdadeiras
b) apenas I e III são verdadeiras
c) apenas II e IV são verdadeiras
d) apenas II e III são verdadeiras
e) n.d.a.

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Feedback: as distribuições frequentemente são lognormais, e sendo assim


são curvas assimétricas. Para a tendência central devemos usar a média
geométrica nestas curvas. As médias aritméticas são para as curvas normais

14. Qual a afirmativa incorreta com relação à amostragem não aleatória?


a) o método mais comum é denominado amostragem acidental
b) compreende a amostragem por cotas
c) cada um dos membros de uma população tem diferentes probabilidades de
serem selecionados
d) um dos métodos é aquele similar à retirada de nomes de um chapéu
e) um dos métodos é chamado de amostragem por julgamento

Feedback: item 5.6.2, subitens A (amostragem não aleatória) e B (amostragem


aleatória)
No caso da letra d), a amostragem é aleatória

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Capítulo 5. Conceitos Básicos de Estatística em Higiene.

5.8 EXERCÍCIOS
1. Escreva sua opinião sobre qual a informação mais importante deste capítulo,
usando no máximo 3 linhas. Justifique.

2. Demonstre matematicamente a equivalência das fórmulas (5.1.a) e (5.1.b).

o
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51. Fantazzini, Mario – Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos. Artigo disponível
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52. Berry, C. M. – Occupational Hygiene. International Labour Office.
53. Encyclopedia of Ocupational Health and Safety. Geneva, 1985.
54. Goelzer Ferrari, B – Occupational Health and Safety. Geneva, 1985.
55. American Conference of Governmental Industrial Hygienists – TLVs 2002.
Tradução autorizada da ABHO – Associação Brasileira de Higienistas Industriais.
ABHO, 2002.
56. Rose, Vernon E. – History and Philosophy of Industrial Hygiene Association.
Fairfax, 1997.

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eST - 103 Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1 ciclo de 2011.

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