Você está na página 1de 5

02/08/2021 Clara Moreira: privilégio do desenho - Revista Continente

PUBLICID

EDIÇÃO #248
AGOSTO 21

ARQUIVO

CLARA MOREIRA: PRIVILÉGIO DO DESENHO


TEXTO MARINA MOURA
01 DE AGOSTO DE 2016

https://revistacontinente.com.br/edicoes/188/clara-moreira--privilegio-do-desenho 1/5
02/08/2021 Clara Moreira: privilégio do desenho - Revista Continente

Clara Moreira ilustrou o livro produzido pela cineasta e jornalista Mariana Lacerda
ILUSTRAÇÃO CLARA MOREIRA
[conteúdo da ed. 188 | agosto de 2016]

O tempo de Clara Moreira parece ser outro. Existe uma espécie de leveza e desprendimento nela
quando, por e-mail, escreve à reportagem da Continente: “viajei e passei alguns dias sem
computador”. Clara também dá sinais de pertencer a outro tempo porque encara o ofício de
desenhista como parte de sua vida mental. “Penso muito antes de desenhar. Posso demorar
bastante para começar efetivamente um desenho, mas ele chega a ficar todo definido na minha
cabeça. Às vezes, passo meses trabalhando uma imagem mentalmente. Outras, surge-me uma
imagem inteira repentinamente”, afirma sobre seu processo criativo. 

Aos 32 anos, a pernambucana é formada em Arquitetura, já foi urbanista, professora, assessora


parlamentar e, simultaneamente a tais atividades, sempre desenhou. Hoje, mora em Belo
Horizonte e dedica-se exclusivamente à arte. Optar pelo desenho representa uma modificação no
ritmo de sua rotina e impacta diretamente no trabalho que concebe, privilegiando procedimentos
tradicionais e o uso de nanquim, lápis de cor e grafite. “Essa mudança foi e tem sido decisiva para

https://revistacontinente.com.br/edicoes/188/clara-moreira--privilegio-do-desenho 2/5
02/08/2021 Clara Moreira: privilégio do desenho - Revista Continente

o tipo de desenho que eu faço, que utiliza técnicas artesanais e necessita de tempo. Tenho mais
tempo pra pensar em desenho e só penso nisso. Sinto-me muito bem”, comenta. 

oi pelos corredores do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco


que Clara iniciou seu percurso de desenhista profissional. Enquanto cursava Arquitetura, entrou
em contato com alunos que organizavam o Cineclube Barravento, com sessões semanais de
curtas-metragens. Ela passou a fazer os cartazes desses filmes, até que “vieram os festivais e os
longas, convites de outros estados” e nunca mais parou. Não à toa, boa parte da produção da
artista está atrelada ao cinema – ela já produziu cartazes de festivais como o Janela Internacional
de Cinema do Recife e Semana dos Realizadores, além de pôsteres de filmes de Kleber Mendonça
Filho, Tião, Gabriel Mascaro, Marília Rocha, entre outros. 

Por isso, Clara entende: “foi o cinema que me colocou no caminho do desenho”. A relação dela
com a sétima arte, aliás, extrapola os limites profissionais e passa pelo vínculo afetivo que
mantém com os filmes. “Diria que sou cinéfila, mas não posso afirmar de fato isso porque conheço
cinéfilos e eles se dedicam muito mais ao cinema do que eu, viram e costumam ver mais obras que
eu. Mas sou igual a eles naquele tipo de paixão obsessiva. Tenho saudades de filmes. Imito a vida
neles. Quero me casar com um filme e posso sentir ódio de um deles.” 

Em tempos de interfaces e digitalização, Clara Moreira segue ilustrando no papel, e destaca: “Não
sei usar o computador pra desenhar”. Não é que ela negue as ferramentas digitais nem desmereça
o valor e as possibilidades desses aparatos, mas conta que nutre a intimidade com a folha em
branco e o gosto pelo processo, transitando entre o planejado e o inesperado. “Gosto do fato de
que o desenho no papel é fatal, é o registro de um tempo em que alguém ficou ali colocando
pigmentos um a um, é um momento, uma umidade, uma poeira que adere, um erro incontornável.”

Sobre as referências para o seu trabalho, Clara dá especial valor às parcerias profissionais que
estabelece, além de um caldo difuso que engloba livros, filmes, conversas, lugares, outros artistas,
memórias de infância e sua cidade natal, o Recife. Ela entende que “esse é um movimento
constante, sem o propósito específico de buscar referências, mas acho que tudo me influencia”,
conta ela, que, no momento desta entrevista, lia Moby Dick e ouvia Metá Metá. Clara trabalha,
agora, em dois cartazes de filmes e organiza uma exposição conjunta com a artista Juliana Lapa,
prevista para ocorrer no fim do ano, n’A Casa do Cachorro Preto, em Olinda. A respeito da mostra,
a artista acredita que mantém um diálogo constante entre “as demandas exteriores e as questões
internas”, produzindo, assim, desenhos de outros tempos, possivelmente, para citar Chico
Buarque, do “tempo da delicadeza”. 

  

TAGS Clara Moreira desenho cinema


PUBLICID

veja também
https://revistacontinente.com.br/edicoes/188/clara-moreira--privilegio-do-desenho 3/5
02/08/2021 Clara Moreira: privilégio do desenho - Revista Continente

ARQUIVO
Como viajar sem sair do lugar

ARQUIVO
Uma década da Criança Cidadã

ARQUIVO
Contestação e muita pinta

   


Revista Continente é uma publicação da Companhia Editora de Pernambuco


Companhia Editora de Pernambuco - CEPE - Rua Coelho Leite, 530 - Santo Amaro - Recife - PE CEP:
50100-140

Fones: (81) 3183.2700 / 0800.0811201

Copyright. Companhia Editora de Pernambuco - CEPE.

https://revistacontinente.com.br/edicoes/188/clara-moreira--privilegio-do-desenho 4/5
02/08/2021 Clara Moreira: privilégio do desenho - Revista Continente

https://revistacontinente.com.br/edicoes/188/clara-moreira--privilegio-do-desenho 5/5

Você também pode gostar