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EDIÇÃO #248
AGOSTO 21
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02/08/2021 Clara Moreira: privilégio do desenho - Revista Continente
Clara Moreira ilustrou o livro produzido pela cineasta e jornalista Mariana Lacerda
ILUSTRAÇÃO CLARA MOREIRA
[conteúdo da ed. 188 | agosto de 2016]
O tempo de Clara Moreira parece ser outro. Existe uma espécie de leveza e desprendimento nela
quando, por e-mail, escreve à reportagem da Continente: “viajei e passei alguns dias sem
computador”. Clara também dá sinais de pertencer a outro tempo porque encara o ofício de
desenhista como parte de sua vida mental. “Penso muito antes de desenhar. Posso demorar
bastante para começar efetivamente um desenho, mas ele chega a ficar todo definido na minha
cabeça. Às vezes, passo meses trabalhando uma imagem mentalmente. Outras, surge-me uma
imagem inteira repentinamente”, afirma sobre seu processo criativo.
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02/08/2021 Clara Moreira: privilégio do desenho - Revista Continente
o tipo de desenho que eu faço, que utiliza técnicas artesanais e necessita de tempo. Tenho mais
tempo pra pensar em desenho e só penso nisso. Sinto-me muito bem”, comenta.
Por isso, Clara entende: “foi o cinema que me colocou no caminho do desenho”. A relação dela
com a sétima arte, aliás, extrapola os limites profissionais e passa pelo vínculo afetivo que
mantém com os filmes. “Diria que sou cinéfila, mas não posso afirmar de fato isso porque conheço
cinéfilos e eles se dedicam muito mais ao cinema do que eu, viram e costumam ver mais obras que
eu. Mas sou igual a eles naquele tipo de paixão obsessiva. Tenho saudades de filmes. Imito a vida
neles. Quero me casar com um filme e posso sentir ódio de um deles.”
Em tempos de interfaces e digitalização, Clara Moreira segue ilustrando no papel, e destaca: “Não
sei usar o computador pra desenhar”. Não é que ela negue as ferramentas digitais nem desmereça
o valor e as possibilidades desses aparatos, mas conta que nutre a intimidade com a folha em
branco e o gosto pelo processo, transitando entre o planejado e o inesperado. “Gosto do fato de
que o desenho no papel é fatal, é o registro de um tempo em que alguém ficou ali colocando
pigmentos um a um, é um momento, uma umidade, uma poeira que adere, um erro incontornável.”
Sobre as referências para o seu trabalho, Clara dá especial valor às parcerias profissionais que
estabelece, além de um caldo difuso que engloba livros, filmes, conversas, lugares, outros artistas,
memórias de infância e sua cidade natal, o Recife. Ela entende que “esse é um movimento
constante, sem o propósito específico de buscar referências, mas acho que tudo me influencia”,
conta ela, que, no momento desta entrevista, lia Moby Dick e ouvia Metá Metá. Clara trabalha,
agora, em dois cartazes de filmes e organiza uma exposição conjunta com a artista Juliana Lapa,
prevista para ocorrer no fim do ano, n’A Casa do Cachorro Preto, em Olinda. A respeito da mostra,
a artista acredita que mantém um diálogo constante entre “as demandas exteriores e as questões
internas”, produzindo, assim, desenhos de outros tempos, possivelmente, para citar Chico
Buarque, do “tempo da delicadeza”.
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