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PUC – Campinas

Faculdade de Medicina - Introdução Psiquiatria

Prof. Eduardo Henrique Teixeira


Idéias prevalentes ou Sobrevaloradas

 Idéias errôneas por superestimação


afetiva
◦ Queixa típica: “Não consigo pensar em
outra coisa”
◦ As pessoas se identificam plenamente
com essas idéias e colocam sua
personalidade ao serviço dessas idéias
 São alterações patológicas do juízo
 Diferem das idéias obsessivas, pois
são egossintônicas
Idéias prevalentes ou Sobrevaloradas
1. Idéia sustentada com forte convicção (menos que delírio)
2. Idéia é egossintônica
3. Associada a alto grau de emoção ou afeto (ansiedade ou raiva)
4. Geralmente desenvolve em personalidade alterada
5. Em Geral Compreensível a partir de experiências passadas
6. Causa sofrimento no sujeito e naqueles que convivem com ele
7. Geralmente induz individuo a agir
8. Pode progredir para delírio
9. Paciente não procura ajuda por conta própria
10. Assemelha-se a convicções religiosas ou políticas apaixonadas
Idéias prevalentes ou Sobrevaloradas

 Algumas não tem significado


patologico claro sendo considerado
patólogico a partir do contexto:
◦ Mãe com preocupação excessiva com
filho ausente
◦ Amante que não pára de pensar se sua
amada o ama

 Outras já são claramente patológicas


como no quadro a seguir
Idéias prevalentes ou Sobrevaloradas
Transtorno Mental Idéia prevalente típica
Anorexia ou bulimia nervosa “Sensação que estou muito gorda”
Dismorfofobia “Meu nariz é enorme e feio”
Hipocondria “Estou convencida que tenho câncer”
“Desde pequena sinto que sou um
Disforia de gênero
homem”

“Tenho a nítida sensação que minha


Apotemnofilia perna não me pertença. Tem que ser
amputada para me sentir confortável”

“Tenho certeza que minha mulher está


Ciúmes patológico não-delirante
tendo um caso”

“A companhia de seguros me deve


Estado paranóide litigioso
milhões de reais como compensação”
Delírio
 Alteração do juízo do pensamento, no qual o indivíduo
passa a acreditar em situações impossíveis ou
incompatíveis com seu contexto e que não podem ser
modificadas com argumentação lógica.
 Exemplos:
◦ “Tenho certeza que meus pais querem me envenenar”
◦ “As pessoas que trabalham comigo fizeram um plano para
acabar comigo, 1º me desmoralizando, e depois me
prenderam e torturaram”
◦ “Eu sou a nova divindade que tem poderes de acabar com
sofrimento no mundo”

 Para ser delírio não se deve considerar tanto a falsidade da


crença mas sim a justificativa dada a essa crença
Delírio
 Quatro características essenciais para identificação clínica:
1. Convicção extraordinária, certeza absoluta na sua crença.
Não se pode colocar em dúvida a veracidade do seu delírio.

2. Não há modificação pela experiência objetiva, mesmo com


provas da realidade.

3. É um juízo falso, com conteúdo impossível

4. O delírio é uma produção associal, é uma convicção de um


só homem. Ao delirar o individuo se desgarra de sua trama
social, e do universo social que se formou e passa a produzir
suas próprias crenças e convicções.
Dimensões do Delírio
Indicadores da gravidade

1. Grau de convicção: determina até que ponto o paciente


está convencido da realidade de suas idéias
• Mais intensa: Esquizofrenia
• Menos intensa: psicoses reativas breves e transtornos do
humos com sintomas psicóticos
2. Extensão: extensão com que as idéias envolvem
diferentes áreas da vida do paciente
• Maior extensão: Esquizofrenia
• Menores: depressão psicótica, transtornar delirantes e
psicoses reativas breves


Dimensões do Delírio
Indicadores da gravidade
3. Bizarrice ou implausibilidade: grau em que as crenças se
distanciam das convicções compartilhadas pelo grupo social
de origem do paciente
4. Desorganização: até que ponto as idéias são consistentes
internamente, se tem lógica própria.
• Mais organizados: Psicóticos
• Menos organizados: Retardo mental e demência
5. Pressão e preocupação: quanto o paciente está preocupado
e envolvido com suas crenças e quanto ele se sente
pressionado por elas
• Mais acentuada: Transtornos delirantes
• Menos acentuada: Esquizofrenia e depressão psicótica
Dimensões do Delírio
Indicadores da gravidade

6. Resposta afetiva ou afeto negativo: quanto as crenças


abalam ou tocam afetivamente o paciente, quanto ele
fica assustado, ansioso, triste ou irritado devido o delírio.
 Afeto negativo: Depressão psicótica e transtornos
delirante

7. Comportamento desviante: verifica o quanto o paciente


age em função de seu delírio e em que media pratica
atos estranhos, perigosos ou inconvenientes a partir das
suas idéias
• Mais acentuado: Transtorno delirante
• Menos acentuado: Depressão psicótica e Mania psicótica
Delírio Compartilhados

 Delírio que ocorre em mais de uma pessoa


 Em geral: um líder realmente psicótico e delirante
(Esquizofrênico, transtorno delirante) com delírio
primário e um grupo social influenciável (que seja
sugestionável – irmão, cônjuge, amigos, filho) que
ao entrarem em contato o grupo acaba
compartilhando convicções delirantes do líder
 Ao separá-lo: em geral o sujeito influenciável
deixa de forma gradativa o delirar
Classificação dos Delírios
Segundo a Estrutura
1. Simples ou monotemáticos: idéias desenvolvidas a partir
de um único tema
2. Complexos ou pluritemáticos: vários temas ao mesmo
tempo
3. Não-sistematizado: conteúdos variam de momento para
momento.
◦ Comum paciente com baixo nível intelectual: deficiente
mentais ou demência
4. Sistematizado: bem organizados, com histórias ricas e
consistentes, que mantém ao longo do tempo os mesmos
conteúdos.
◦ Comum paciente mais intelectuais: Transtorno delirnte
Relação entre alteração do humor e temática
delirante
 OMS 1999 e APA 2002: Classificam delírios em:
Congruentes e Não-congruentes com o humor

Delírio humor-Congruente: Delírio humor Não-Congruentes:


 Transtornos de humor com  Depressão psicótico com Delírio
sintomas psicóticos de perseguição
• Depressão com temática  Mania com delírio de controle ou
de: culpa, de ruína influencia
• Mania de: grandeza, poder  Parece implicar pior evolução
e religiosidade clínica
Curso do Delírio

 Agudos:
◦ surgem de forma rápida, pode
desaparecer em pouco tempo.

 Crônicos:
◦ tendem a ser persistentes, contínuos e de
longa duração.
Estados Pré-delirantes
 Delírios surgem após período pré-delirante
denominado humor delirante (K. Jaspers,
1979)  paciente com:
◦ Aflição, ansiedade intensa, como se algo
terrível fosse acontecer, sensação de fim do
mundo
◦ Cessa quando o paciente configura um
delírio  descobre uma revelação
inexplicável para o esta acontecendo
◦ Após revelação: muitas vezes paciente se
acalma.
Conteúdos e tipos mais frequentes de
delírio
1. Delírio de perseguição: O individuo acredita que está sendo perseguido
por pessoas conhecidas ou desconhecidas, por máfias, pelos vizinhos,
pela policia, pelos pais, pela esposa ou pelo marido, etc. Estão querendo
matá-lo, envenená-lo, prendê-lo. A perseguição é o tema mais frequente
dos delirios.

2. Delírio de referência: O indivíduo diz ser alvo frequente de referencias


depreciativas, caluniosas. Ao passar pela frente de um bar e observar as
pessoas conversando e rindo, ele acredita que estão rindo e falando dele;
às vezes ouve seu nome e que o xingam. Ocorre nas psicoses em geral, e
principalmente, na esquizofrenia paranóide e nos transtornos delirantes.
Tanto nos delírios de perseguição quanto nos de referência, o
individuo"projeta" para fora de seu mundo mental, no mundo externo, as
idéias, conflitos, temores e desejos, que seriam insuportaveis se fossem
percebidos como do seu mundo interno.

3. Delírio de relação: O individuo delirante constroi conexõe significativas


(delirantes) entre os fatos normalmente percebidos. Relaciona as chuvas
do verão passado com a futura guerra dos alienígenas.
4. Delírio de influência: o individuo vivencia intensamente que está sendo controlado,
comandado ou influenciado por uma força, pessoa ou entidade externa. Há uma
antena, computador, aparelho eletrônico controlando-o. São fortes indicativos de
esquizofrenia.

5. Delírio de grandeza: o individuo acredita ser extremamente especial, dotado de


poderes, de uma origem superior. Os delirios de grandeza ocorrem tipicamente nos
quadros maníacos e nas psicoses associadas a sífilis terciária cerebral.

6. Delírio de reivindicação: afirma ser vítima de terriveis injustiças e discriminações, e em


consequência disso, envolve-se em intermináveis disputas legais, querelas familiares,
processos trabalhistas, etc. O indivíduo considera-se o representante dos
injustiçados,dos perseguidos. Frequente nos transtornos delirantes.

7. Delírio de invenção ou descoberta: Mesmo sendo leigo, revela ter descoberto a cura
de doenças e invenções que vão mudar o mundo. Frequente nos transtornos delirantes,
esquizofrenia e mania.

8. Delírio de reforma (salvacionismo): individuos que se sentem destinados a salvar,


reformar, revolucionar ou redimir o mundo e a sociedade. Planos baseados em dogmas
religiosos.

9. Delírio místico ou religioso: O individuo afirma ser um novo messias, um Deus, um


santo poderoso.Sente que entrou em contato com entidades.É uma temática delirante
frequente e pode ocorre em quase todas as formas de psicose.
10. Delírio de ciúmes e infidelidade: o individuo percebe-se traido por sua
esposa (ou marido), de forma cruel, e afirma que ela tem centenas de amantes.
Pode ocorrer em todas as psicoses, é mais caracteristico do alcoolismo crônico
e do transtorno delirante crônico.

11. Delírio erótico: o individuo afirma que uma pessoa, em geral de destaque
social (um artista ou cantor famoso, um milionário, etc.) ou de grande
importância para o paciente, está totalmente apaixonada por ele.

Nas depressões graves

12. Delírio de ruína(niilista): o individuo vive em um mundo repleto de desgraças,


está condenado a miséria, ele e sua familia irão passar fome.

13.Delírio de culpa: indivíduo diz ser culpado por tudo de ruim que acontece no
mundo e na vida das pessoas que o cercam,ter cometido um grave crime, ser
uma pessoa indigna, pecaminosa, suja, irresponsavel,e que deve ser punida
por seus pecados.
14. Delírio de negação de órgãos: relata que seu corpo está destruido
ou morto, que não tem mais um ou vários orgãos, suas veias "estão
secas", seus braços e pernas estão se "esfarelando".

15. Delírio hipocondríaco: O indivíduo tem uma convicção extrema de


que tem uma doença grave, incurável, que está com AIDS, que irá
morrer brevemente com câncer. O que diferencia o delírio
hipocondríaco da idéia hipocondríaca é a intensidade da crença.

16. Delírio de cenestopático: o individuo afirma que existem animais


(uma cobra, um rato,etc.) ou objetos dentro de seu corpo. Comum nas
esquizofrenias e transtornos delirantes.

17. Delírio de infestação: o individuo acredita que seu corpo


(principalmente sua pele ou seus cabelos) estão infestados por
pequenos organismos. Ocorre em pacientes esquizofrênicos.
deprimidos, em intoxicações por cocaína ou alucinógenos, e em
individuos obcecados pela limpeza corporal.

18. Delírio fantástico: o individuo descreve historias fantásticas com


convicção plena, sem qualquer crítica. Há histórias e narrativas
fabulosas, totalmente irreais, que se assemelham a contos fantásticos.
Ocorre nas parafrenias.
IDÉIAS OBSESSIVAS X IDÉIAS DELIRANTES

 As idéias ou pensamentos obsessivos são idéias falsas, recorrentes,


que se introduzem de forma repetida e incômoda na consciência do
sujeito, que, apesar de sofrer com elas, tem crítica em relação à sua
falsidade e caráter absurdo.

 Reconhece os pensamentos como absurdos, mas não consegue livrar-


se deles.

 Já nas idéias delirantes não há critica à falsidade e ao caráter


absurdo do juizo em questão.

 Não reconhece os pensamentos como absurdos.

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