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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Faculdade de Direito

PROFESSORA ILA BARBOSA BITTENCOURT

CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO


Ano Letivo 1º semestre de 2021

Turma MA1
Daniele Meloni Mouallem - RA 00299117
Eraldo Xavier Pimentel Netto - RA 00303853
Gustavo da Silva Arienzo - RA 00299190
Myrella Ferreira Da Silva – RA 00302602

Data: 24 de março de 2021


PESQUISA DAS EMENDAS Nº 3 E 54º E DO ARTIGO 95

A nacionalidade representa o vínculo do indivíduo à nação a qual ele


pertence, sendo um direito assegurado pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos por ter grande influência em diversos outros direitos, como políticos e
civis. Dois critérios são utilizados para a atribuição da nacionalidade originária,
sendo eles, o jus soli (direito do solo), que ocorre em função do local do
nascimento, e o jus sanguinis (direito do sangue), que considera sua ascendência.
Originalmente, na Constituição de 1988, o artigo 12, I, c, indicava que
seriam brasileiros natos: “c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de
mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira
competente, ou venham a residir na República Federativa do Brasil antes da
maioridade e, alcançada esta, optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade
brasileira.”. Dessa forma, filhos de brasileiros nascido no exterior, poderiam ser
registrados e obter sua nacionalidade, sem a necessidade da vinda ao país.
Entretanto, em 1994, passou a vigorar a Emenda Constitucional de Revisão nº 3,
que trouxe a seguinte redação: “c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro
ou de mãe brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do
Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira.”. Infere-se,
pois, que a partir daquele momento, os filhos de pai ou mãe brasileiros, nascidos
no estrangeiro, deveriam obrigatoriamente vir a residir em território nacional
para garantir sua nacionalidade, tendo esta alteração graves consequências para
diversas famílias, que viram seus filhos, nascidos após vigorada a emenda,
tornando-se apátridas.
Esse é o caso de Irina, filha de Denise da Veiga de Alves. A criança
nasceu na Suíça em 1998, 4 anos após a promulgação da ECR 3/1994. Tendo em
vista que o país europeu adota a política de jus sanguinis e que os pais de Irina
não tinham descendência suíça, a criança ficou apátrida, situação que só foi ser
resolvida nove anos depois.
A sociedade ficou indignada com a emenda e um exemplo claro disso está
na manifestação ocorrida em junho de 2007, nos Estados Unidos. O grupo
"Brasileirinhos apátridas", como relata a BBC Brasil, realizou uma manifestação
pacífica com crianças e pais integrantes da associação no gramado da Embaixada
brasileira em solo estadunidense, com o objetivo de derrubar a emenda
constitucional que negava a cidadania brasileira às crianças do grupo. Aline Mota
Brito, 33 anos, mãe de Luca, de 3 anos, uma das crianças que representam o
grupo, ainda citou na reportagem "Não faz sentido. Um estrangeiro pode viajar
para o Brasil e se tiver um filho por lá, a criança será brasileira. Mas o mesmo
não acontece mais com os filhos de brasileiros nascidos no exterior",
demonstrando sua inquietude quanto à injustiça cometida pela legislação
brasileira para com os legitimamente cidadãos brasileiros conforme o sistema
"jus sanguinis".
A apatridia causa muitos transtornos na vida do indivíduo, pois significa
uma vida sem acesso à educação, cuidados médicos, direito ao voto ou emprego
legalizado. A pessoa é impedida de circular livremente e não possui proteção
estatal no cenário internacional, dentre diversas outras dificuldades.
Após diversos protestos e manifestações dos afetados e simpatizantes da
causa, o artigo 12 da Constituição Federal sofreu uma nova alteração na alínea c,
advinda da Emenda Constitucional de Revisão nº 54, e sua redação passou a ser:
“c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que
sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida
a maioridade, pela nacionalidade brasileira.”. Sendo assim, adiciona-se a
possibilidade de nascidos em território estrangeiro adquirir a nacionalidade
primária através do registro em embaixadas e consulados brasileiros no exterior,
excluindo a necessidade de residência no Brasil e considerando brasileiros natos
mesmo os indivíduos que nunca visitaram o país.
Para solucionar o problema dos afetados com a ECR 3/1994, como é o
caso de Irina e dos diversos “brasileirinhos apátridas”, o artigo 2º do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias passou a vigorar acrescido do seguinte
artigo 95: "Art. 95. Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data
da promulgação desta Emenda Constitucional, filhos de pai brasileiro ou mãe
brasileira, poderão ser registrados em repartição diplomática ou consular
brasileira competente ou em ofício de registro, se vierem a residir na República
Federativa do Brasil.". Dessa forma, definiu-se a situação daqueles nascidos no
período entre 7 de junho de 1994 e 21 de setembro de 2007, sendo necessário
apenas o registro em consulado ou cartório Brasileiro, para garantir-lhes a
nacionalidade brasileira.

CASOS PESQUISADOS

GALVÃO, Vinícius. Lei deixa 200 mil filhos de brasileiros no exterior sem pátria.
Folha de São Paulo, São Paulo, 20 de mai. 2007. Cotidiano. Disponível em:
<http://bit.ly/3cXuEWs>. Acesso em: 21 de jun. 2021.

GARCEZ, Bruno. 'Brasileirinhos apátridas' fazem protesto nos EUA. BBC Brasil,
Washington, 01 de jun. 2007. Languages. Disponível em: <http://bbc.in/3rhSbGB>.
Acesso em: 21 de jun. 2021.

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