Eu não quero mais me curvar nem forçar sorriso enquanto a lágrima deseja
rolar. Se meu grito por equidade te incomoda, imagine o quanto me incomoda a
sua insistência em me ignorar. Você ignora a minha humanidade, a minha dignidade, a minha cor, a minha alma. Você ignora o meu sexo, e me ignora em ti mesmo quando quieto, no caos do seu ID, me deseja em sua cama. Eu não posso mais aguentar calado palavras de preconceito encapadas de brincadeira, as vezes até se dizendo demonstração de carinho e amor, se você não conhece (e nem quer conhecer) a história do preto, você nunca vai ter dimensão do que eu sinto, nunca vai compreender a minha dor. O negro não tinha voz, nem vez, mas na madrugada servia para os senhores a sua nudez. O sangue que cai na minha lágrima é o mesmo que corria na pele preta dos meus antepassados quando qualquer faísca de liberdade tentava aflorar, seja no trabalho abusivo ou no estupro possessivo, o negro era posto a sangrar. É essa a história que eu carrego na pele, a origem do preconceito que você carrega sem sentir e que te faz sentir compelido a me oprimir. Há quem considere a nossa luta exagerada, um tremendo mimimi, mas eu sei onde minha alma sangra e seguirei lutando, gritando com orgulho a minha cor, exigindo com fervor o meu direito de existir, eu vou resistir .