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Introdução
Considerando o período histórico, de luta ideológica entre católicos e protestantes, é possível entender
o posicionamento da Igreja e o uso da filosofia como instrumento de manipulação do povo e defesa de seus
dogmas. Porém ao voltar o ensino da mesma para os seus ideais, muito foi perdido e o conhecimento
restringido. A educação foi de fato deficitária e a filosofia que em sua essência produz liberdade, tendo sido
deformada, provocou sujeição.
A nova politica era de suma centralidade das ideias iluministas, mas não acontecia a
separação da politica com a igreja, pois a responsabilidade do movimentar politico era de
grande parte do padroado.
Sobre a realidade do ensino da filosofia Alves (2002, p. 5) diz que “O Ensino de
Filosofia vinculava-se à necessidade iluminista de explicar o mundo por meio da observação e
da experimentação, utilizando o método intuitivo para a construção de novos conhecimentos.”
Surge aqui um novo modelo de educação no Brasil, a visão dedutiva que submetia o
homem a vontade de Deus é substituída pela visão indutiva que tem o homem como ponto de
partida. Essa mudança do ensino possibilitou a valorização da técnica, da objetividade, da
confirmação pela experimentação e não pela fé, ou argumentos de autoridade.
No contexto de decisão sobre o uso e o desuso da filosofia nas escolas, a primeira
republica direciona dois enfoques: a lógica e a ética, enfatizando com essencialidade na
moral.
Desse modo Horn (2002, p. 24) nos diz: “a intenção com o ensino de Filosofia, após o
advento do estado laico brasileiro no século XIX, era o de formar não mais o bom cristão, mas
o bom cidadão.” O homem não precisaria de Deus para ser bom, seria por sua própria
natureza trabalhada.
Após a segunda guerra mundial, o mundo se viu dividido entre as ideologias políticas
e econômicas de duas grandes potências: EUA e URSS. A primeira defendia o capitalismo e a
segunda o socialismo. No período pós- guerra conhecido como Guerra fria, foi implantado no
Brasil a ditadura militar com o intuito de proteger o Brasil do socialismo, tendo o apoio norte
americano.
Nesse período ditatorial, a filosofia foi perdendo espaço no currículo brasileiro,
primeiro com a redução de sua carga horária e depois se tornando uma disciplina optativa.
Belieri e Sforni (2013, p. 7) ressaltam que nesse período
“[...] houve o cerceamento de alguns aspectos inerentes ao ser humano como
a crítica, a liberdade de expressão e de pensamento. O fato de essa área do
conhecimento requerer as capacidades de reflexão e de crítica sobre a
realidade por meio de um pensamento livre foi um dos motivos pelo qual ela
foi retirada dos currículos escolares.”
Os mesmos autores citando Mendes (2008, p. 7) a firmam que a Filosofia “era vista
pelos militares como exímio instrumento de doutrinação política e ideológica de esquerda, daí
a razão de não ser aceita como parte da formação básica dos estudantes”. Grande parte disso
deve-se as ideias de Karl Marx, que eram difundidas na filosofia. Porém o problema não seria
de fato esses conceitos, mas a própria filosofia, que levando o indivíduo a se questionar, não
aceitaria as barbaridades do período mencionado.
A demanda das novas exigências educacionais nessa época, visando trabalhadores
especializados nos modelos de produção taylorista/fordista foi determinante para a ausência
do ensino de filosofia.
Para tentar se adaptar as mudanças exigidas pelo mercado, houve uma transição do
modelo de produção taylorista/fordista para o toyotismo, considerado um modelo mais
flexível. Com essa mudança foi criada a lei 5.692, de 1971, que tirou oficialmente a filosofia
do currículo brasileiro, e instaurou um modelo de educação tecnicista que oferecia ao
indivíduo maiores oportunidades de emprego.
Citado por Belieri e Sforni (2013), Saviani (2005, p. 9) afirma que a educação nesse
período tinha como função “preparar as pessoas para atuar num mercado em expansão que
exigia força de trabalho educada. À escola cabia formar a mão-de-obra que progressivamente
seria incorporada pelo mercado [...]”. Em uma análise crítica, a educação começou a preparar
homens-máquinas. O foco era o trabalho e não o questionamento. Questionar seria perda de
tempo, e consequentemente de dinheiro. Acentua-se a desvalorização do homem pensante e a
valorização excessiva do homem como instrumento de produção.
Essa fase política e econômica vivenciada no Brasil exigia adaptação e maleabilidade
ao capitalismo de acumulação flexível, ao invés de crítica e reflexão. Assim a filosofia fugia
do modelo educacional pretendido, sendo considerada uma ameaça.
A filosofia cedeu seu espaço no currículo para a disciplina de Educação Moral e
Cívica com o objetivo de formar os estudantes no código de Segurança Nacional. A mesma de
acordo com Belieri e Sforni (2013, p. 10) “[...] pelo seu potencial crítico e reflexivo, poderia
ser um empecilho para que a sociedade avançasse nos novos rumos definidos pelo capital”.
Uma vez que esse período foi marcado pelo forte combate a seus “inimigos” a filosofia
podendo gerá-los, foi de fato excluída da educação.
Reforçar-se ainda mais a defesa de um método para se ensinar um senso crítico para
os alunos, desenvolvendo e amadurecendo a capacidade de reflexão, adquirindo um juízo
pessoal sobre o que se passa na realidade.
Segundo Nielson Neto (1986, p.14) apud Lima (2005, p. 27):
“[...] de forma indireta no Artigo 35, pelo qual se afirma ser necessário, na
formação escolar, “o aprimoramento do educando, incluindo a formação
ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico” (inciso III). Já no Artigo 36, parágrafo 1º, inciso III, consta que o
papel da Filosofia na Educação Básica é abordada de forma mais direta ao
ser feita a referência ao “domínio dos conhecimentos de Filosofia e de
sociologia” como “necessários ao exercício da cidadania”. (BELIERE;
SFORNI, 2003, p. 15)
Podemos perceber no entanto que embora a filosofia tenha voltado para o currículo
nacional, a mesma não é de fato livre em sua aplicação como citam Beliere e Sforni (2013, p.
15):
Essa realidade nos leva a antigas e presentes indagações, sobre o papel da filosofia ser desvirtuado
para a defesa do sistema capitalista. Levar o indivíduo a ser bom, criativo e responsável, seria então mera
forma de suprir as necessidades do sistema e adaptá-lo ao mesmo.
Quanto ao fato de achar que filósofos são loucos ou anormais por pensarem muito, de
questionarem coisas aparentemente óbvias, basta um pouco de raciocínio para refletirmos se
quem pratica tais ações seria mais louco que aquele que aceita tudo que lhe é imposto sem
questionar.
Também se discute o fato de que o ramo da filosofia, não proporciona rentabilidade
financeira. Em uma sociedade capitalista como a que vivemos esse requisito eleva
extremamente o grau de importância do objeto discutido. Embora seja possível adquirir
riqueza pelo conhecimento adquirido ao filosofar, essa não é a essência filosófica. Cezário e
Neto (2009, p. 5) corroboram com essa linha ao relatarem o exemplo de Sócrates:
“O exemplo disto podemos ver em Sócrates, quando ele se opõe aos sofistas.
Ele era contra os sofistas por diversas causas, uma delas, fato dos mesmos
venderem o conhecimento, ao cobrar por suas aulas, provando-se aqui que a
filosofia seria essencialmente um ato de liberdade, de autonomia, de
racionalidade e de vocação, e não um meio de acumulação de riqueza ou
mais precisamente um instrumento com qual pudesse se fazer do
conhecimento um produto de mercado.”
A filosofia se bem trabalhada em sala de aula abre a visão, desaliena, forma pessoas e
não máquinas. Essa é a verdadeira imagem da filosofia que deve ser trabalhada e divulgada.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RODRIGO, Lidia Maria. Filosofia no ensino médio: metodologia e prática de ensino. Rev.
Cadernos do NEFI, Vol. 1, nº 1, 2015.