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História da filosofia no currículo educacional brasileiro: breve aporte teórico

Introdução

No decorrer da história a filosofia sempre foi motivo de contradições no currículo


brasileiro. Ela foi Incentivada e amainada pela política e pela ideologia. Existe um grande
paradoxo no fato de que em períodos autoritários a mesma esteve presente nos currículos e em
períodos democráticos se questionam a possibilidade de sua extinção.
Diante dessa realidade paradoxal, podemos nos questionar sobre quais fatores estão
ligados a presença e a ausência da disciplina de filosofia no currículo do Ensino Médio. Sendo
que mediante dados apresentados constamos que o fator político não é único e determinante
para a situação elencada. Religião, economia também influenciaram a presença da mesma e o
modo como seria repassada, muitas vezes doutrinando ao invés de proporcionar o censo
crítico.
Figura marcante para o retorno da filosofia ao ensino básico foi Nielson Neto (1986),
embora até a nova LDB (1996), esta disciplina não possuía caráter obrigatório, apenas
opcional. Porém mesmo após esse retorno persiste um grande questionamento diante da
importância do ensino de filosofia: ela está sendo de fato, instrumento para a obtenção da
autonomia intelectual e pensamento crítico, como cita a LDB 9394/96, ou um mera arma
ideológica?
O preconceito na atualidade também tem sido um dos fatores que limitam a eficácia do
ensino filosófico. O fato de ser um instrumento de ideologização faz com que a mesma seja
taxada de perigosa, e por não ser entendida em sua essência e mal trabalhada em sala de aula,
ganha por características os adjetivos chata, desnecessária, coisa de loucos.
A missão de mudar essa imagem negativa é responsabilidade da escola como um todo,
porém papel de destaque cabe ao professor através de sua metodologia.

A Filosofia como componente curricular no Brasil Colônia

A educação no Brasil durante o período colonial foi marcada pela presença da


Companhia de Jesus, que entre outras funções tinha como papel conter a proliferação da
Reforma Protestante nas colônias europeias. A mesma fazia isso através da educação e
catequização (ALVES, 2002).
Segundo Lima (2005), nessa época o ensino de Filosofia foi marcado por uma
concepção de ensino-aprendizagem enciclopédica, que baseada nas diretrizes da Companhia
de Jesus, possuía caráter conservador e autoritário.
Beliere e Sforni (2013) citando Lima (2005) ressaltam que:

“havia um controle minucioso, de modo especial sobre os professores de


Filosofia e Teologia, para que a leitura dos textos filosóficos e teológicos
escolhidos para o ensino e as questões trabalhadas não suscitassem o
sentimento de espírito exageradamente livre e comprometessem os dogmas
católicos.”

Professores que não seguissem os padrões estabelecidos eram afastados do exercício


da docência. Em uma perspectiva geral a função do aluno era simplesmente memorizar o
conteúdo repassado pelo professor, para que pudesse servir fielmente ao sistema vigente.
Seguindo aquilo que lhes era repassado poderiam entender a sua verdadeira essência e salvar
a sua alma.
Segundo Beliere e Sforni (2013, p. 3) “Era preciso formar homens letrados e eruditos,
contudo católicos obedientes à doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, mantendo um
mínimo de autonomia e máxima dependência em relação ao poder celeste e terrestre”. Neste
contexto, o conhecimento adquirido deveria ser apenas memorizado e não utilizado como
instrumento para tentativa de mudança da realidade.
Segundo Severino (1986) citado por Beliere e Sforni (2013, p. 3), esse modelo de
educação “[...] camufla as reais condições da existência social e ainda faz com que a
sociedade as represente como legítimas, merecedoras de todo a assentimento”. Isso fazia com
que outras correntes filosóficas não fossem transmitidas e discutidas pelos alunos provocando
uma espécie de atrofia em suas reflexões.
Relatam Beliere e Sforni (2013) que

“Naquele contexto, o ensino de Filosofia não era autônomo, mas adaptava-se


ao modelo de formação que se esperava da escola, contribuindo para manter
o poder nas mãos da monarquia, contribuindo para a manutenção das
estruturas sociais que vigoravam nesse período.”

Considerando o período histórico, de luta ideológica entre católicos e protestantes, é possível entender
o posicionamento da Igreja e o uso da filosofia como instrumento de manipulação do povo e defesa de seus
dogmas. Porém ao voltar o ensino da mesma para os seus ideais, muito foi perdido e o conhecimento
restringido. A educação foi de fato deficitária e a filosofia que em sua essência produz liberdade, tendo sido
deformada, provocou sujeição.

O ensino de filosofia a partir da reforma pombalina


Na historia da filosofia no Brasil, tem-se grande influencia as ideias iluministas, com
um desenvolver as palpadelas, segundo Sforni e Belieri (2013, p. 4) evidenciam em seu artigo
que:
“A disseminação das ideias iluministas no Brasil Colônia começa a
transformar a concepção educacional influenciada pelo pensamento tomista.
A Reforma Pombalina, ocorrida a partir de 1759, ano em que os jesuítas
foram expulsos do Brasil.”

A nova politica era de suma centralidade das ideias iluministas, mas não acontecia a
separação da politica com a igreja, pois a responsabilidade do movimentar politico era de
grande parte do padroado.
Sobre a realidade do ensino da filosofia Alves (2002, p. 5) diz que “O Ensino de
Filosofia vinculava-se à necessidade iluminista de explicar o mundo por meio da observação e
da experimentação, utilizando o método intuitivo para a construção de novos conhecimentos.”
Surge aqui um novo modelo de educação no Brasil, a visão dedutiva que submetia o
homem a vontade de Deus é substituída pela visão indutiva que tem o homem como ponto de
partida. Essa mudança do ensino possibilitou a valorização da técnica, da objetividade, da
confirmação pela experimentação e não pela fé, ou argumentos de autoridade.
No contexto de decisão sobre o uso e o desuso da filosofia nas escolas, a primeira
republica direciona dois enfoques: a lógica e a ética, enfatizando com essencialidade na
moral. 
Desse modo Horn (2002, p. 24) nos diz: “a intenção com o ensino de Filosofia, após o
advento do estado laico brasileiro no século XIX, era o de formar não mais o bom cristão, mas
o bom cidadão.” O homem não precisaria de Deus para ser bom, seria por sua própria
natureza trabalhada.

O ensino de filosofia no período pós-guerra

Após a segunda guerra mundial, o mundo se viu dividido entre as ideologias políticas
e econômicas de duas grandes potências: EUA e URSS. A primeira defendia o capitalismo e a
segunda o socialismo. No período pós- guerra conhecido como Guerra fria, foi implantado no
Brasil a ditadura militar com o intuito de proteger o Brasil do socialismo, tendo o apoio norte
americano.
Nesse período ditatorial, a filosofia foi perdendo espaço no currículo brasileiro,
primeiro com a redução de sua carga horária e depois se tornando uma disciplina optativa.
Belieri e Sforni (2013, p. 7) ressaltam que nesse período
“[...] houve o cerceamento de alguns aspectos inerentes ao ser humano como
a crítica, a liberdade de expressão e de pensamento. O fato de essa área do
conhecimento requerer as capacidades de reflexão e de crítica sobre a
realidade por meio de um pensamento livre foi um dos motivos pelo qual ela
foi retirada dos currículos escolares.”

Os mesmos autores citando Mendes (2008, p. 7) a firmam que a Filosofia “era vista
pelos militares como exímio instrumento de doutrinação política e ideológica de esquerda, daí
a razão de não ser aceita como parte da formação básica dos estudantes”. Grande parte disso
deve-se as ideias de Karl Marx, que eram difundidas na filosofia. Porém o problema não seria
de fato esses conceitos, mas a própria filosofia, que levando o indivíduo a se questionar, não
aceitaria as barbaridades do período mencionado.
A demanda das novas exigências educacionais nessa época, visando trabalhadores
especializados nos modelos de produção taylorista/fordista foi determinante para a ausência
do ensino de filosofia.
Para tentar se adaptar as mudanças exigidas pelo mercado, houve uma transição do
modelo de produção taylorista/fordista para o toyotismo, considerado um modelo mais
flexível. Com essa mudança foi criada a lei 5.692, de 1971, que tirou oficialmente a filosofia
do currículo brasileiro, e instaurou um modelo de educação tecnicista que oferecia ao
indivíduo maiores oportunidades de emprego.
Citado por Belieri e Sforni (2013), Saviani (2005, p. 9) afirma que a educação nesse
período tinha como função “preparar as pessoas para atuar num mercado em expansão que
exigia força de trabalho educada. À escola cabia formar a mão-de-obra que progressivamente
seria incorporada pelo mercado [...]”. Em uma análise crítica, a educação começou a preparar
homens-máquinas. O foco era o trabalho e não o questionamento. Questionar seria perda de
tempo, e consequentemente de dinheiro. Acentua-se a desvalorização do homem pensante e a
valorização excessiva do homem como instrumento de produção.
Essa fase política e econômica vivenciada no Brasil exigia adaptação e maleabilidade
ao capitalismo de acumulação flexível, ao invés de crítica e reflexão. Assim a filosofia fugia
do modelo educacional pretendido, sendo considerada uma ameaça.
A filosofia cedeu seu espaço no currículo para a disciplina de Educação Moral e
Cívica com o objetivo de formar os estudantes no código de Segurança Nacional. A mesma de
acordo com Belieri e Sforni (2013, p. 10) “[...] pelo seu potencial crítico e reflexivo, poderia
ser um empecilho para que a sociedade avançasse nos novos rumos definidos pelo capital”.
Uma vez que esse período foi marcado pelo forte combate a seus “inimigos” a filosofia
podendo gerá-los, foi de fato excluída da educação.

O ensino da filosofia no período de redemocratização do país: em busca da criticidade

A eliminação da filosofia nos currículos escolares não foram aceitos passivamente. A


década de 70 foi marcada por reinvindicações em prol do retorno da mesma para os currículos
escolares. A luta em defesa a esse processo de extinção deve-se a criação do Centro de
Atividades Filosóficas mais tarde chamada de Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas
(SEAF). Que também contava com a participação de alunos e professores de mestrado de
filosofia da universidade federal do Rio de Janeiro.
Sobre essa sociedade Lima (2005, p. 25) nos diz que “Essa sociedade tinha por
objetivo criar um espaço de debate sobre a volta da Filosofia aos currículos e seu ensino,
discutindo os conteúdos e as formas de ensiná-los”. A intenção era que a Filosofia pudesse
voltar aos currículos exercendo a função de formar indivíduos autônomos e não retrogradar a
ser instrumento de manipulação ideológica.
Esse processo de reivindicar os direitos a filosofia na educação são eminentes em mais
dois estados: Paraná e Ceará.
  Assim nos diz Belieri e Sforni (2013, p. 11):

“Paralelamente às mobilizações trabalhistas, intensificam-se as discussões


acerca da volta da obrigatoriedade do ensino de Filosofia e da Sociologia aos
currículos escolares em encontros, seminários, reuniões de nível regional e
nacional. Os movimentos em prol do retorno de Filosofia como componente
curricular ocorreram em vários estados, como no Paraná, na Universidade
Federal do Paraná (UFPR), e em Fortaleza, junto ao Centro Acadêmico de
Filosofia da Universidade Estadual do Ceará (UECE).”

Reforçar-se ainda mais a defesa de um método para se ensinar um  senso crítico para
os alunos, desenvolvendo e amadurecendo a capacidade de reflexão, adquirindo um juízo
pessoal sobre o que se passa na realidade.
Segundo Nielson Neto (1986, p.14) apud Lima (2005, p. 27):

“[...] caso o aluno receba na escola “[...] instrumentos intelectuais  capazes de


proporcionar-lhe nova visão histórica, quando a realidade que o cerca se
modifica”. Nesse sentido, completa: “[...] não é transformando a aula em
assembleia que obteremos alunos participantes”
O posicionamento de Nielson Neto é de muita influencia no direcionamento da
filosofia na educação critica no Brasil, tanto que os termos legais são orientados para os
cursos do ensino médio, mas não se tornam ainda obrigatórios.

O ensino de Filosofia em um contexto neoliberal

A nova fase de reestruturação do capitalismo, o neoliberalismo, exigiu uma série de


mudanças. Nessa conjuntura surgem os debates para a construção da nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, a Lei nº. 9394/96. Com ela a filosofia voltará a ser disciplina obrigatória,
no entanto como ressaltam Beliere e Sforni (2013, p. 12) “seus princípios gerais serão
influenciados pelas exigências do novo modelo de produção capitalista, tanto em relação ao
conteúdo quanto a sua contribuição na formação do indivíduo.”
Com essa nova lei e o novo modelo educacional, surge uma mudança na relação
educação-trabalho como nos falam Beliere e Sforni (2013), citando Saviani (2005, p. 13):

“Diferente da crença de que a escola prepararia os indivíduos para ocuparem


determinadas vagas no mercado de trabalho, como se a formação
profissional fosse sinônimo de “pleno emprego”, agora será o indivíduo que
pela sua constante capacitação profissional que abrirá a possibilidade para
que ocupe um posto de trabalho. Nesse contexto, o indivíduo passa a ser
responsabilizado pelo seu desemprego e a escola supostamente oferecerá os
meios que permitirá ao indivíduo disputar vagas no mercado de trabalho.”

A Reforma na educação tinha como um dos alvos a reestruturação da economia


brasileira, capacitando os alunos para as novas exigências do mercado. Conforme afirma
Delors (2001) citado por Beliere e Sforni (2013, p. 14), “[...] a intenção era formar para a
inovação pessoas capazes de evoluir, de se adaptar a um mundo em rápida mudança e capazes
de dominar essas transformações”
A nova LBD apresenta a importância e a função da filosofia de forma direta e indireta:

“[...] de forma indireta no Artigo 35, pelo qual se afirma ser necessário, na
formação escolar, “o aprimoramento do educando, incluindo a formação
ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico” (inciso III). Já no Artigo 36, parágrafo 1º, inciso III, consta que o
papel da Filosofia na Educação Básica é abordada de forma mais direta ao
ser feita a referência ao “domínio dos conhecimentos de Filosofia e de
sociologia” como “necessários ao exercício da cidadania”. (BELIERE;
SFORNI, 2003, p. 15)
Podemos perceber no entanto que embora a filosofia tenha voltado para o currículo
nacional, a mesma não é de fato livre em sua aplicação como citam Beliere e Sforni (2013, p.
15):

“[...] seu conteúdo e objetivo são readequados à perspectiva de formação


assumido pelos organismos internacionais, vinculando-os ao ensino de
valores morais com a função de desenvolver nos indivíduos os laços de
solidariedade, cooperação, respeito às diferenças, tentando agregar os laços
que o capital desagrega.”

Essa realidade nos leva a antigas e presentes indagações, sobre o papel da filosofia ser desvirtuado
para a defesa do sistema capitalista. Levar o indivíduo a ser bom, criativo e responsável, seria então mera
forma de suprir as necessidades do sistema e adaptá-lo ao mesmo.

O preconceito contra a Filosofia

A sociedade tem reproduzido uma visão preconceituosa da filosofia, levando a mesma


a ser taxada de desnecessária, coisa de louco, chata, que não leva a nada. Desconstruindo o
que há de belo e novo na estética filosófica.
A desvalorização do ser filósofo, ou seja, do ser capaz de criticar, tem sido
impulsionada pelo modelo de educação e de exigência do mercado trabalhista, que procuram
pessoas de ações e resultados rápidos. Filosofar requer tempo e profundidade o que não se
encaixa nos padrões exigidos na atualidade de uma economia capitalista.
Com essa desvalorização perde-se então um valor indispensável do ser humano, o
pensamento crítico e individual, capaz de distinguir o bem social da manipulação econômica.
Diante de uma sociedade imediatista, que busca padrões técnicos e produtivos, a
filosofia se torna desnecessária porque vai contra esses padrões? Ou ir contra eles é
justamente o motivo de sua necessidade?
O ensino básico muitas vezes é visto como um período de preparação para um
vestibular e não para formação humana dos educandos. Como a disciplina de filosofia não é
cobrada de forma explícita pela maioria dos vestibulares, então é desvalorizada.
Mas como mudar essa visão da Filosofia? Mudar uma visão que ganhou tamanha
proporção requer tempo e trabalho conjunto não só de professores, mas também de alunos e
da escola como um todo. Se está sendo repassada uma imagem negativa, deve-se passar uma
imagem positiva com maior amplitude e intensidade.
De Acordo com Cezário e Neto (2009, p. 4) combater o preconceito contra a filosofia,
resultará em combater toda e qualquer forma de preconceito, que existe simplesmente pela
falta de criticidade
“a nossa sociedade é estruturada pela lógica do consumismo, impondo aos
indivíduos uma postura mais passiva e menos reflexiva. Assim a utilidade
social da Filosofia é justamente a de se contrapor a tal passividade,
representando um pedido de paciência e calma nesta contemporaneidade,
para que sejam questionados os juízos impostos pela sociedade.”

Quanto ao fato de achar que filósofos são loucos ou anormais por pensarem muito, de
questionarem coisas aparentemente óbvias, basta um pouco de raciocínio para refletirmos se
quem pratica tais ações seria mais louco que aquele que aceita tudo que lhe é imposto sem
questionar.
Também se discute o fato de que o ramo da filosofia, não proporciona rentabilidade
financeira. Em uma sociedade capitalista como a que vivemos esse requisito eleva
extremamente o grau de importância do objeto discutido. Embora seja possível adquirir
riqueza pelo conhecimento adquirido ao filosofar, essa não é a essência filosófica. Cezário e
Neto (2009, p. 5) corroboram com essa linha ao relatarem o exemplo de Sócrates:

“O exemplo disto podemos ver em Sócrates, quando ele se opõe aos sofistas.
Ele era contra os sofistas por diversas causas, uma delas, fato dos mesmos
venderem o conhecimento, ao cobrar por suas aulas, provando-se aqui que a
filosofia seria essencialmente um ato de liberdade, de autonomia, de
racionalidade e de vocação, e não um meio de acumulação de riqueza ou
mais precisamente um instrumento com qual pudesse se fazer do
conhecimento um produto de mercado.”

A filosofia se bem trabalhada em sala de aula abre a visão, desaliena, forma pessoas e
não máquinas. Essa é a verdadeira imagem da filosofia que deve ser trabalhada e divulgada.

Metodologia para o ensino de filosofia

Diferente do que se pensava em tempos anteriores, o conteúdo não é tudo na


aprendizagem. Se não repassado de uma forma didaticamente adequada, eles podem perder
toda a sua eficácia no processo de formação do aluno.
Assim uma boa metodologia do professor de filosofia, é essencial para que a mesma
alcance os objetivos propostos. Mas como ensinar filosofia? Uma das formas mas eficazes se
dá através do diálogo. Quando várias opiniões são expostas, sempre haverá concordâncias e
contradições, o que proporcionará uma problemática a ser trabalhada.
Nesse diálogo não se procurará de fato respostas, mas o desenvolvimento da
capacidade de indagar. As soluções ou propostas para o questionamento não precisam ter
resultados imediatos e definitivos. É importante paciência e respeito com a opinião do outro
para que haja um questionamento intenso. Assim de acordo com Cezário e Neto (2009, p. 6):
“Esses diálogos desenvolvem o ato de pensar, de ouvir, de interagir, permitindo um bom
entendimento a todos a respeito dos assuntos que foram indagados, havendo uma
aprendizagem sem memorizar ou decorar as conclusões.”
Segundo os mesmos autores, as aulas de filosofia não podem ser meramente
expositivas, pois embora as vezes esse modelo de aula seja necessário, nos deparamos com o
fato de que essa disciplina já vem enfrentando um grande preconceito, o que exige para a
mesma algo inovador que possa desfazer a imagem criada.
Rodrigo (2015, p. 56) ao falar sobre o método de ensino nos diz que “é preciso cultivar
e exercitar aqueles aspectos formais que são inerentes à natureza reflexiva da filosofia:
problematizar, conceituar, argumentar”. No primeiro ponto colocado pretende-se provocar
uma ruptura com a visão de mundo possuída até então. Questionando não somente as coisas
mais complexas, mas também as mais simples que temos como certas.
Para se iniciar essa problematização o recomendado é que se faça uma aproximação
pré-filosófica com o conteúdo estudado. Essa aproximação pode ser feita através de vários
recursos didáticos como músicas, filmes, trechos de obras, jornais e etc.
Um dos maiores problemas relatados pelos professores dessa disciplina é a falta de
interesse dos alunos. Esses consideram muitas vezes que o conteúdo estudado não tem nada a
ver com sua vida e não lhe acrescentará nada de importante. Essa aproximação pré-filosófica
trabalhada corretamente desperta o interesse dos alunos e torna o conteúdo algo significativo
para os mesmos.
No segundo ponto, o conceituar, encontramos grande dificuldade por parte dos alunos,
porém trabalhar a sua imaginação por meio de metáforas, comparações pode servir de apoio
para que o aluno chegue ao conceito.
No terceiro ponto, o aluno deve entender através da argumentação, que as suas
afirmações devem apresentar razões que as fundamentem e as validem. Essa capacidade pode
ser exercitada pela leitura de textos filosóficos. Rodrigo (2015, p. 58) ainda relata que
“exercícios de redação também contribuem para desenvolver a habilidade de organização
lógica do pensamento e de justificação das ideias com base no discurso argumentativo”.
Com base nessas orientações e outras possíveis, que o professor deve adaptar a sua
realidade, se torna possível filosofar em sala de aula. Despertar o interesse pela procura da
verdade, provocar inquietação a respeito da veracidade do que nos foi repassado e
desenvolver no aluno um pensamento crítico e autônomo são frutos de uma boa metodologia
utilizada.
Conclusão

No decorrer da história da educação brasileira, a presença ou a ausência, a


obrigatoriedade ou a opção do ensino de filosofia sempre esteve ligada a fatores políticos,
ideológicos, econômicos e religiosos. A filosofia em si, é questionamento, crítica, reflexão,
porém nesse processo histórico educacional a mesma teve como uma das principais
características a manipulação.
Quando mal intencionada, a filosofia torna-se uma forte arma de cunho doutrinário,
fazendo com que a sociedade atenda aos interesses dos que detêm o poder intelectual,
financeiro e governamental.
A reformulação dos conteúdos de filosofia deve visar um amadurecimento pessoal do
senso critico dos alunos e não o alienamento, que desvaloriza o aprendizado. O foco atual é o
preparo para o exercício da cidadania, sendo que ela, não deve se limitar a esse ponto. A
demandas do mercado de trabalho tem levantando uma visão desnecessária da criticidade
filosófica, o que limita o conteúdo dessa disciplina ainda mais.
Entre esses e outros motivos a filosofia tem sido vista com um olhar preconceituoso.
No entanto essa imagem pode ser modificada quando se entende e se vê os frutos da mesma.
Em contraposição ao pensamento citado, muitos veem na filosofia uma forma de
libertação do sistema atual, como um meio de formar estudantes de pensamento autônomo e
não máquinas programadas. Se o programa curricular apresentar conteúdo imparciais, que
realmente proporcionem um verdadeiro filosofar, e estes forem trabalhados com a
metodologia correta, a filosofia tem o potencial necessário para atender a essas expectativas.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Currículo escolar do Ensino Médio. In: Seminário de Pesquisa do PPE, Universidade
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caminhos para a desconstrução do preconceito. In: I Encontro de iniciação à prática
docente. Cajazeiras: UECG/CFP, 2009.
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análise a partir da compreensão dos professores de Filosofia da escola pública
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RODRIGO, Lidia Maria. Filosofia no ensino médio: metodologia e prática de ensino. Rev.
Cadernos do NEFI, Vol. 1, nº 1, 2015.

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Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br Acesso em 18/01/2011.

SEVERINO, A. J. Educação, Ideologia e Contra-Ideologia. São Paulo: EPU, 1986.

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