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2019
1 Edição
a
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.a Fernanda de Sales
SA163i
Sales, Fernanda de
ISBN 978-85-515-0312-6
1. Indexação e resumos - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo
Da Vinci.
CDD 025.3
Impresso por:
Apresentação
A principal função da indexação, no âmbito bibliográfico, é a
representação dos conteúdos contidos nos documentos, para fins de
recuperação da informação. Esta operação, parece bastante corriqueira:
folhear um livro, ler alguns trechos específicos deste volume e identificar os
temas tratados pelos autores. No entanto, não se trata de um procedimento
técnico simples, uma vez que esta identificação de conteúdo exige “conhecer”
minimamente as diversas áreas do conhecimento, conhecer conceitos
presentes nessas mesmas áreas, compreender as relações existentes entre eles,
traduzir estes conceitos para uma linguagem documentária para que, enfim,
o usuário possa utilizar este resultado para acessar fisicamente a informação
desejada. Soma-se às etapas acima mencionadas o fato de a indexação ainda
depender grandemente da intervenção humana, o que insere ao processo
certa dose de subjetividade.
III
recuperação da informação. O Tópico 2 traz as relações entre as linguagens
documentárias e as políticas de indexação a partir das ideias de autores do
núcleo duro da biblioteconomia e da ciência da informação. Já, no Tópico
3 – Elaboração de políticas de informação – serão apresentados e discutidos
alguns modelos possíveis para implantação em unidades de informação.
NOTA
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO................................................................................. 1
TÓPICO 3 – A TRADUÇÃO................................................................................................................... 31
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 31
2 INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA........................................................................................................... 32
3 INDEXAÇÃO POR EXTRAÇÃO ....................................................................................................... 34
4 INDEXAÇÃO POR ATRIBUIÇÃO .................................................................................................... 35
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 37
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 41
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 42
VII
2 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO.............................................................. 75
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 87
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 88
VIII
UNIDADE 1
PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 3 – A TRADUÇÃO
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
A indexação, segundo Dias (2007, p. 11), é a “terminologia mais usada
para designar o trabalho de organização da informação quando realizado nos
chamados serviços de indexação e resumo. Esses serviços têm por finalidade
organizar informações”. Deste modo, as unidades de informação, por serem
as ambiências que mais necessitam a utilização de facilitadores na organização
de informações, são as organizações nas quais a indexação é profissionalmente
realizada.
2 PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
A indexação é comumente chamada de indexação de assuntos. Esta,
segundo Lancaster (1997) visa indicar de que trata um documento. O resultado
da indexação é a construção de termos de indexação. Segundo o autor, os termos
devem proporcionar uma ideia “bastante razoável sobre o que é tratado” em um
dado texto (LANCASTER, 1997, p. 5). Vejamos o seguinte exemplo:
Centro de Informação
Compartilhamento de recursos
Catálogos coletivos
Redes em linha
Redes de bibliotecas
3
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
Estas duas situações são trazidas à tona para demonstrar que a indexação
é uma atividade que, em um primeiro momento, pode parecer bastante simples,
quase mecânica. No entanto, é envolvida de complexidades que são inerentes à
condição humana, pois envolvem o componente intelectual, portanto, humano.
4
TÓPICO 1 | A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO
5
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
6
TÓPICO 1 | A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO
UNI
7
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
UNI
UNI
8
TÓPICO 1 | A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Para além disso, é preciso ter em mente que toda a atividade técnica que
está no cerne da prática bibliotecária, tem um alcance social relevante. Ao se
indexar, classificar e catalogar os itens de uma dada biblioteca, é preciso entender
que há uma ação social importante sendo desenvolvida, pois disponibilizar
informação para uso garante a sua disseminação e, em última instância, e (não
garante, mas) permite que o direito à informação como um bem comum seja
exercido. Informar-se é um ato de cidadania e de participação social. Quando
uma atividade técnica oferece aos cidadãos diversificados pontos de acesso à
informação, o papel social da biblioteconomia está sendo ampliado.
9
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
Então, podemos mais uma vez ampliar a resposta à pergunta que inicia
esta subseção: indexa-se para que a sociedade possa se transformar a partir – não
só, mas também – do acesso a informações pertinentes as suas necessidades.
10
RESUMO DO TÓPICO 1
11
AUTOATIVIDADE
12
UNIDADE 1
TÓPICO 2
ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Embora a atividade pareça ser bastante fácil e corriqueira, indexar não
é apenas folhear um determinado livro e, como que automaticamente, pinçar
algumas das palavras que se encontram em seu conteúdo. Os itens de um
documento a serem consultados para o levantamento dos termos de indexação
devem ser estrategicamente escolhidos para que se possa, a partir deles, extrair
os conceitos mais significativos do conteúdo e, assim, representá-los mediante os
termos. É importante lembrar aqui que estes termos de indexação são aqueles que
os usuários comumente chamam de palavras-chave, ou, dito de outra forma, são
aqueles termos que estes mesmos usuários usarão para realizar suas buscas por
informações nos catálogos das bibliotecas.
Documento
Ação 2:
Ação 1:
Indexação
Análise documentária
- Consultar linguagens
- Selecionar partes do livro/
documentárias que
documento para ser
apontem melhores formas
consultado.
de traduzir o conteúdo em
- Identificar nestas partes os
termos de indexação.
conteúdos de que trata o
- Construir os termos de
livro/documento.
indexação.
FONTE: A autora
13
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
Documento:
FONTE: A autora
14
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO
Para que este processo seja realizado com êxito, o proposto pela ABNT é
que a identificação dos conceitos seja realizada com base no exame do documento.
Cada tipo de documento deve ser examinado de acordo com suas características
físicas (impressos ou não impressos). Para livros, especificamente, devem ser
analisadas as seguintes partes do todo: título e subtítulo, resumo (se houver),
sumário, introdução, ilustrações, diagramas, tabelas, palavras em destaque e
referências bibliográficas.
15
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
16
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO
17
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
18
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO
19
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
DICAS
3 INDEXAÇÃO DE IMAGENS
Hingst (2011, p. 11) concorda com a abordagem dada neste curso até
aqui para o processo de indexação. Para a autora, “a indexação é um processo
que requer estudo e aprimoramento constantes”. E, quando a indexação é de
imagens, “o cuidado com este processo deve ser redobrado, uma vez que existe
maior complexidade na extração de descritores para este tipo de documento”
(HINGST, 2011, p. 11).
20
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO
FONTE: <https://www.climatempoconsultoria.com.br/wp-content/uploads/2016/05/outono1-1-
750x420.jpg>. Acesso em: 20 maio 2019.
AUTOATIVIDADE
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-vSW8KN4q2VI/ViZCs6wHsFI/AAAAAAAAA-E/
MCbC6Q7JqYg/s400/trem.png>. Acesso em: 8 maio 2019.
21
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
FONTE: <https://www.donamix.com.br/image/cache/data/Manequim/allegomes--0012-
400x570.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.
FONTE: <http://www.olabahia.com.br/wp-content/uploads/2016/05/musica-640x366.jpg>.
Acesso em: 8 maio 2019.
22
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO
Sobre o que deve ser descrito na imagem, Smit (1996, p. 32) afirma que:
As categorias QUEM, ONDE, QUANDO, COMO e O QUE, utilizadas
por muitos estudiosos como parâmetros para grande variedade de
análises de textos, inclusive a documentária, é também preconizada
para a Análise Documentária da imagem (HINGST, 2011, p. 21).
AUTOATIVIDADE
FONTE: <https://www.climatempoconsultoria.com.br/wp-content/uploads/2016/05/
outono1-1-750x420.jpg>. Acesso em: 20 maio 2019.
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-vSW8KN4q2VI/ViZCs6wHsFI/AAAAAAAAA-E/
MCbC6Q7JqYg/s400/trem.png>. Acesso em: 8 maio 2019.
23
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
FONTE: <https://www.donamix.com.br/image/cache/data/Manequim/allegomes--0012-
400x570.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
FONTE: <http://www.olabahia.com.br/wp-content/uploads/2016/05/musica-640x366.jpg>.
Acesso em: 8 maio 2019.
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
24
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO
25
RESUMO DO TÓPICO 2
• Existe uma norma da ABNT que propõem etapas para realizar a análise
documentária.
• As imagens também podem ser indexadas e que para isso é necessário levar
em conta a denotação e a conotação que imagem oferece. Também é possível
responder a perguntas específicas, que possibilitam maior uniformidade no
resultado da indexação. Estas perguntas são: Quem? Onde? Quando? O que?
Como?
26
AUTOATIVIDADE
FONTE: <https://abrilveja.files.wordpress.com/2016/09/esportes.
jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453>. Acesso em: 8 maio 2019.
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?
FONTE: <https://c.pxhere.com/photos/54/61/sunset_sun_sunlight_sunbeam_fireball_
setting_sun_evening_sun_afterglow-918393.jpg!d>. Acesso em: 8 maio 2019.
27
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?
FONTE: <https://static.gazetaonline.com.br/_midias/jpg/2019/02/05/050309_ra_8528-
5989420.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?
28
4
FONTE: <https://abrilexame.files.wordpress.com/2018/05/2018-05-
01t182503z_1354439875_rc1c4b315590_rtrmadp_3_may-day-france.
jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453>. Acesso em: 8 maio 2019.
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?
FONTE: <https://certifiedhumanebrasil.org/wp-content/uploads/2016/10/ovelha-pxb-
300x199.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
29
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?
30
UNIDADE 1
TÓPICO 3
A TRADUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Cumprida esta etapa de análise documentária das imagens e da seleção
dos conceitos que são extraídos a partir de todos os critérios apresentados
anteriormente, passa-se à tradução para os termos de indexação. Veremos a
importância do uso das linguagens documentárias na indexação na Unidade
2. No entanto, por ora, veremos um exemplo de como este processo se dá na
prática. Tomemos a imagem a seguir, faremos a análise utilizando os mesmos
critérios usados nos exercícios anteriores. A seguir, faremos a tradução de todos
os elementos com a utilização de uma linguagem documentária. Vejamos.
FONTE: <https://www.bastidoresdapoliticapb.com.br/wp-content/uploads/2019/01/sala_de_
aula_vazia2_foto-walla_santos-738x355.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.
31
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
2 INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA
A indexação automática é um “processo estudado pelo campo da ciência
da informação, que investiga a geração, coleta, organização, interpretação,
armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso da informação,
com ênfase particular na aplicação de tecnologias modernas nestas atividades”
(CAPURRO; HJØRLAND, 2007 apud LAPA; CORREA, 2014, p. 59). Em especial
a recuperação da informação dá base para uma das correntes de constituição do
campo da ciência da informação.
Borges e Lima (2015) nos explicam com clareza este cenário hoje permeado
por possibilidades em termos de tecnologias de informação e comunicação e nos
lembram que, mesmo com a inserção de sistemas automático na indexação, ainda
assim a atividade intelectual do indexador não pode ser desconsiderada. Elas
explicam que:
32
TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO
33
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
34
TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO
Borges, Maculan e Lima (2008) atentam para uma questão importante nos
dias atuais: a importância da semântica no processo de indexação automática.
Ou seja, mais do que considerar a incidência de palavras e termos em um texto,
é preciso considerar os significados destas palavras, ou, em última instância, é
preciso que estas palavras representem conceitos.
35
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
36
TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO
LEITURA COMPLEMENTAR
37
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
38
TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO
39
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/372910/mod_resource/content/1/Norma%20
Brasilena%20Indizacion%20Isidoro%20Gil%20Leiva.pdf>. Acesso em: 20 maio 2019.
40
RESUMO DO TÓPICO 3
41
AUTOATIVIDADE
POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
45
46
UNIDADE 2
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
As políticas de indexação são instrumentos que definem diretrizes a
serem adotadas pelos bibliotecários no desenvolvimento de suas atividades de
indexação. Elas devem levar em conta as características dos itens componentes
dos acervos, mas também, e especialmente, o perfil da comunidade usuária deste
acervo.
48
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO
Passemos a uma análise do proposto por Fujita (2003), citado por Rubi
(2012). No que tange ao contexto sociocognitivo do indexador, pode-se inferir
que uma política destinada à indexação deve apresentar normas para a realização
da indexação (exaustividade, especificidade, consistência, revocação, adequação
etc.). Desta forma, garante-se a uniformização dos trabalhos desenvolvidos pelos
indexadores. Também deve compreender o uso de linguagens documentárias
que equalizem, por um lado as subjetividades presentes no momento da
tradução realizada pelo indexador e, por outro lado, permite compartilhamento
de informações técnicas produzidas no âmbito da indexação. É importante
lembrar que estas linguagens documentárias são tesauros, listas de descritores,
listas de cabeçalhos de assuntos, sistemas de classificação (que, embora não
tenham originalmente a intenção de indexar, organizarem de forma lógica
assunto bibliográficos, elas podem nortear o trabalho do indexador no sentido
de padronizar termos de indexação). Por fim, é preciso considerar o perfil da
comunidade usuária. Uma biblioteca escolar terá, certamente, a decisão de
trabalhar com indexação menos exaustiva que uma biblioteca especializada. E
isto nada tem a ver com maior ou menor capacidade cognitiva dos usuários em
buscar as informações, mas sim, com as necessidades de informação que eles
apresentam.
49
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
50
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO
TUROS
ESTUDOS FU
Falaremos a respeito mais adiante. Por hora, cumpre-nos explicar que um sistema
nocional é um sistema linguístico que reúne noções de um dado campo do conhecimento.
51
RESUMO DO TÓPICO 1
52
AUTOATIVIDADE
53
54
UNIDADE 2 TÓPICO 2
LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM
DOCUMENTÁRIA
1 INTRODUÇÃO
A biblioteconomia tem, entre muitas responsabilidades, a função de
formar profissionais que desenvolvam competências e habilidade de organizar
a informação. Para além de organizar livros, organizar informação. Organizar
informação significa analisar, reconhecer, selecionar, descrever e representar
itens dos acervos de unidade de informação para que eles, os itens, possam ser
armazenados fisicamente de maneira sistematizada, e, especialmente, para que
sejam encontrados rapidamente pelo bibliotecário e pelo usuário. No entanto,
antes deste acesso aos conteúdos de um item, o usuário deve ter acesso a
informações técnicas que representem suas características descritivas e temáticas.
Ou seja, ao consultar um catálogo (ou índice) em uma biblioteca, ele deve ter
acesso a tantas informações técnicas.
Neste tópico veremos que as LD’s são instrumentos através dos quais se
realiza a representação dos conteúdos dos livros. Também aprenderemos que elas
são sistemas de comunicação construídos para fins de tratamento documentário e
que elas são baseadas em sistemas nocionais específicos. E, por fim, destacaremos
sua importância para a indexação e que, por isso, uma política de indexação deve
indicar seu uso de acordo com as características dos usuários.
que possam dar ao usuário indícios de que aquele material responde às suas
demandas informacionais. A este conjunto de informações técnicas chamamos
representação descritiva ou catalogação. A catalogação, como toda atividade
técnica, é regida por um conjunto de regras e normas que padronizam o trabalho
desenvolvido pelo bibliotecário. Estas normas são encontradas no Anglo-American
Cataloguin Rules, segunda edição (AACR2) – ou, Código de Catalogação Anglo-
americana, segunda edição.
56
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA
57
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
LEITURA COMPLEMENTAR
O texto que segue, foi extraído de Cintra et al. (2002) e expressa uma das
melhores explanações a respeito de linguagens documentárias, suas diferenças
em relação à linguagem natural, além da importância de sua compreensão para
a indexação. Trata-se de parte do Capítulo 2 do livro Para entender as linguagens
documentárias. Vejamos:
LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA
NATUREZA, ESPECIFICIDADE E FUNÇÕES
59
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
60
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA
61
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
FONTE: CINTRA, Ana Maria et al. Para entender as linguagens documentárias. 2. ed. rev. e
ampl. São Paulo: Polis, 2002. p. 33 – 42.
62
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA
63
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
Trecho 3) Tal como a LN, as LDs são sistemas simbólicos instituídos, que
visam facilitar a comunicação. Sua função comunicativa, entretanto, é restrita a
contextos documentários, ou seja, as LDs devem tornar possível a comunicação
usuário-sistema. (CINTRA et al., 2002, p. 33)
Por incrível que possa parecer, esta situação é muito mais evidente
em bibliotecas do que gostaríamos. Portanto, oferecer ao usuário algum tipo
de orientação quanto aos termos utilizados na hora da indexação, pode vir a
minimizar estas dificultades que levam à nãorecuperação da informação. O que é
o mesmo que dizer que a indexação não cumpriu com seu objetivo.
64
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA
Como vimos, em Cintra et al. (2002), uma LD deve ser construída com base
na existência de três elementos: léxico, rede paradigmática e rede sintagmática.
Veremos a seguir, em exemplos, como se dá essa construção.
Este trecho nos traz uma noção muito importante a respeito da indexação:
não indexamos utilizando simplesmente palavras, mas sim, levando em conta
os conceitos expressos em cada uma dessas palavras. É por isso, inclusive, que
uma das recomendações mais básicas ao se proceder a análise documentária para
posterior indexação, é que não se utilize apenas o título do item. Ele, nem sempre
exprime os conceitos existentes no documento. Dialética do Concreto, nada tem
que ver com Engenharia ou construção civil, como o termo “concreto” até pode
sugerir.
65
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
66
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA
A ISO 1087 (1990 apud CINTRA et al., 2002) estabelece Sistema Nocional
como um conjunto estruturado de noções que reflete as relações estabelecidas
entre as noções que o compõem, e no qual cada noção é determinada pela sua
posição no sistema.
Relações hierárquicas
Mamíferos
67
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
68
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA
No entanto, estes não são os únicos itens que compõem este documento.
É o que veremos na sequência.
69
RESUMO DO TÓPICO 2
• Que as LDs e seus usos são parte importante da indexação e, por isso, parte
importante da política de indexação.
70
AUTOATIVIDADE
1 Leia o texto a seguir, extraia dele os cinco trechos que você considerar mais
importantes e comente cada um deles, justificando sua escolha.
71
As variações na forma de apresentação das LDs devem-se à maior ou
menor incorporação dos diferentes tipos de relações existentes entre as palavras
na LN e entre os termos de especialidade. Tais variações exprimem, também,
o maior ou menor aprimoramento da função de representação documentária.
72
relacionado pode se constituir no ponto de partida para uma família de termos
aparentados. Nos sistemas de classificação bibliográfica os relacionamentos
não hierárquicos, quando ocorrem, são, erroneamente, "encaixados"
nas hierarquias. É só nos tesauros que estas relações são explicitamente
identificadas, através do código TR (Termo Relacionado). Adicionalmente, as
LDs apresentam relações de equivalência. Este gênero de relacionamento entre
os termos é utilizado para permitir a entrada no sistema, operando no nível
da sinonímia e da polissemia. Quase inexistente nos sistemas de classificação
bibliográfica (os raros casos aparecem no índice de tais códigos), nos tesauros
essas relações são indicadas pelas expressões USE (Use) e UP (Usado Para). As
relações de equivalência estabelecem as remissivas, definindo o conjunto dos
não termos ou não descritores e dos termos ou descritores. A finalidade dessas
remissivas é encaminhar o usuário para os termos preferidos pelo sistema.
Constitui-se, desse modo, a chave de acesso ao sistema.
Vale ressaltar, ainda, que no uso das LDs podem ser construídas
novas relações entre os termos, a partir do conjunto de operadores sintáticos
disponíveis, como, por exemplo, as add notes, na CDD; + / : ::, no caso da CDU;
operadores booleanos, no caso dos tesauros.
FONTE: CINTRA et al. Capítulo 2. In: Para entender as linguagens documentárias. 2. ed. rev.
e ampl. São Paulo: Polis, 2002.
73
74
UNIDADE 2 TÓPICO 3
ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
A literatura especializada em biblioteconomia e ciência da informação não
nos traz bons registros a respeito da importância dada a este texto – política de
indexação – dentro de unidades de informação. Ao contrário, mostra que muitas
UI’s, especialmente bibliotecas, não têm demonstrado interesse (ou pelo menos,
não têm divulgado em canais científicos) em desenvolver tal estrutura. No entanto,
já vimos no decorrer desta unidade, que se trata de um documento que norteará
as tomadas de decisão do indexador. E é sempre importante lembrarmos que é a
indexação que vai permitir a identificação dos conteúdos que existem dentro de
um dado acervo.
É importante compreender que sua elaboração demanda estudos,
conhecimento sobre o acervo e sobre a política de desenvolvimento de coleções
adotada pela UI, conhecimento sobre o perfil dos usuários e das demandas
informacionais da comunidade usuária a que se atende. Por isso, deve ser discutida
não apenas pelos bibliotecários que indexam, mas por toda a equipe bibliotecária
e, como veremos adiante, por vezes, por representantes da instituição na qual a
UI está inserida.
75
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
76
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
• Cobertura de assuntos.
• Seleção e aquisição de documentos-fonte.
• Nível de exaustividade.
• Nível de especificidade.
• Escolha da linguagem.
• Capacidade de revocação e precisão do sistema.
• Estratégia de busca.
• Tempo de resposta do sistema.
• Forma de saída.
• Avaliação do sistema.
77
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
Cerca de 20 (vinte) anos mais tarde, Nunes (2004) ao tratar dos mesmos
elementos em trabalho em que também critica a escassez de estudos e publicações
(no Brasil) acerca do tema em voga, apresenta certa flexibilidade ao afirmar que
78
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
79
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
• Recursos financeiros.
• Recursos materiais e físicos.
• Recursos humanos (RUBI, 2012).
• Categoria: indexação.
• Subcategorias: capacidade de revocação e precisão do sistema; especificidade;
exaustividade. Formação do indexador, procedimentos relacionados à
indexação; manual de indexação (elaboração/utilização).
• Categoria: linguagem documentária.
• Subcategorias: escolha da linguagem; consistência/uniformidade; adequação.
• Categoria: sistema de busca e recuperação por assunto.
• Subcategorias: avaliação; campos de assunto do formato MARC; capacidade de
consulta a esmo. Estratégia de busca; forma de saída dos dados (RUBI, 2012).
• Público-alvo
• Identificação da instituição
• Processo de indexação
ᵒ Análise conceitual
ᵒ Identificação dos conceitos
ᵒ Tradução
• Elementos da política de indexação
ᵒ Cobertura de assunto
ᵒ Exaustividade
ᵒ Especificidade
ᵒ Linguagem controlada
• Competências e habilidades do bibliotecário indexador
FONTE: A autora
80
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
81
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
82
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
A citação anterior ilustra muito bem uma das funções de uma política de
indexação: a definição de regras internas. É claro que estas regras devem obedecer
às normativas estabelecidas pelos organismos que propõem as orientações
técnicas da biblioteconomia, mas, internamente, cada biblioteca, ou outro tipo de
unidade de informação, tem autonomia para decidir pelo que melhor atende às
necessidades da comunidade a quem atende.
83
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
84
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
Outro cuidado que é possível de ser observado nesta política, é que a cada
vez que surge uma nova diretriz, há uma conceituação para ela. O documento
deixa claro o que é exaustividade no âmbito deste sistema de bibliotecas, e,
somente depois há o estabelecimento do modo da ação. Especialmente no caso da
exaustividade, as características do documento e da unidade de informação são
bastante consideradas. Por fim, vemos que Lancaster, estudioso no qual viemos
embasando-nos desde o início desta disciplina, também é citado no documento
em tela, o que mostra sua relevância na área.
85
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
86
RESUMO DO TÓPICO 3
87
AUTOATIVIDADE
Área do conhecimento:
Medicina
Termos:
Psiquiatria
Residência em Emergência Hospitalar
Unidade de Tratamento Sem-intensivo
Medicina alternativa
Cefaleia
Oncologia
Tratamento de Fraturas com pinos
Doenças coronárias em decorrência de carcinomas
Traumas Ortopédicos
Formação médica
Área do conhecimento:
Artes
Termos:
Música
Entalhe em madeira
Artes plásticas
Grécia
Aulas de Artes
Pintura em óleo
Roma
Movimento musical na Tropicália
Artes cênicas
Características de fotografia artísticas
Arte barroca
Capela Cistina
Esculturas em mármore
Teatro satírico
88
Área do conhecimento:
Engenharia
Termos:
Engenharia de alimentos
Engenharia civil
Pré-sal
Engenharia marinha
Engenharia sanitária
Projetos de estradas de rodagem
Engenharia de produção
Engenharia de petróleo
Curso superior de engenharia elétrica
Políticas internacionais
Vigilância em saúde
Engenharia de transportes
Ensino de engenharia
89
90
UNIDADE 3
INDEXAÇÃO E
RESUMOS: PRÁTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
91
92
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Indexar, em linhas gerais, significa indicar, representar. Até aqui, vimos
que a indexação de uma dada obra é uma atividade inerente ao profissional da área
da biblioteconomia, que consiste em identificar conceitos e noções que compõem
os conteúdos desta mesma obra e representá-los(as) em palavras-chave. São estas
palavras-chave que darão acesso ao usuário aos conteúdos desejados. Agora,
veremos que existe uma outra forma de também indicar e representar conteúdos:
a partir de resumos.
Não existe razão para que os resumos tenham todos a extensão parecida,
pois são muitos os fatores que influem nesta característica: a extensão do item que
está sendo resumido; a complexidade do conteúdo; a diversidade do conteúdo; a
importância do item para o local; custo; finalidade; entre outros.
93
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
Resumo indicativo
Foram realizadas entrevistas telefônicas em 1985 com 655 norte-
americanos selecionados por amostragem probabilística. Expressam-
se opiniões sobre se 1) a formação de um estado palestino é essencial
para a paz na região, 2) deve ser reduzida a ajuda norte-americana
a Israel e ao Egito. Os entrevistados indicaram se estavam ou não
suficientemente informados sobre os vários grupos nacionais da
região.
Agora, o mesmo documento resumido, só que com base na estrutura
de resumo informativo:
Entrevistas telefônicas foram realizadas em 1985, com 655 norte-
americanos selecionados por amostragem probabilística, produziram
estes resultados: a maioria (54 – 56%) acha que deve ser reduzida a
ajuda norte-americana a Israel e ao Egito; mais de 80% consideram
importante que os EUA mantenham relações amistosas tanto com
Israel, quanto com os países árabes. Os Israelenses são o grupo nacional
mais conhecido e os sírios o grupo menos conhecido (LANCASTER,
1997, p. 90 - 91).
Um terceiro tipo de resumo que pode ser citado é o resumo crítico. Ele
tem características avaliativas. O resumidor exprime, no texto, opiniões sobre
a qualidade do trabalho por exemplo. O portal Projeto Acadêmico lembra das
diferenças entre um resumo e uma resenha. Resumo é o tipo de texto que visa
recapitular ou elaborar uma síntese das ideias principais e secundárias de outro
texto. Já a resenha é a apresentação de um produto com um parecer, favorável ou
não, a ele.
O resumo crítico deve ser pensado como uma síntese que auxilie o leitor
a compreender determinada obra, e, consequentemente, deve dar ao leitor a
possibilidade de decidir pelo uso ou não do documento integral. Visa extrair, de
forma coerente, as ideias principais de uma obra, de parte dela, ou de determinado
texto. O serviço de resumo deve seguir a mesma linha de raciocínio e as ideias
propostas pelo autor. O enfoque do resumo crítico é uma análise baseada no
ponto de vista do resumidor, que dá sua percepção sobre as ideias expostas no
texto original (PORTAL ACADÊMICO, 2019).
94
TÓPICO 1 | RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES
RESUMO CRÍTICO
95
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
96
TÓPICO 1 | RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES
97
RESUMO DO TÓPICO 1
98
AUTOATIVIDADE
Resumo indicativo:
Resumo informativo:
100
educação brasileira foram elaborados por médicos, advogados, engenheiros,
religiosos, educadores e historiadores e circularam no País e no exterior.
A vitalidade da área, percebida nestes últimos trinta anos, tem sido
objeto de reflexão de pesquisas acadêmicas e de vários balanços efetuados ao
final de Congressos de História da Educação, como o I Congresso Brasileiro de
História da Educação e os I a IV Luso-brasileiro de História da Educação; ou
por encomendas de Grupos de Trabalho, como o GT História da Educação da
ANPEd e HISTEDBR. Os estudos têm buscado delinear um panorama da atual
historiografia em educação, destacando temáticas e períodos privilegiados
pela pesquisa, bem como aportes teóricos mais recorrentes nessa escrita
disciplinar.
A produção inicial do campo também vem sendo investigada, ainda
que de maneira esporádica, revelando-se um objeto recente de interesse.
Pretendendo contribuir para a compreensão histórica da configuração do
campo da História da Educação no Brasil, sistematizando a bibliografia
disponível sobre a temática e propondo um novo ordenamento para a análise,
este artigo almeja perceber matizes dessa escrita concebida como operação
historiográfica.
101
educação como um campo autônomo, apartado da filosofia da educação,
é fenômeno recente e não de todo consolidado no seio da Pedagogia. Essa
questão, contudo, será esclarecida com o decorrer da narrativa.
PRIMEIRA VERTENTE: A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E O INSTITUTO
HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
"Le Brésil n'est pas tout à fait en retard sur la civilisation européenne".
Assim Frederico José de Santa-Anna Nery concluía o artigo "L'instruction
publique au Brésil", publicado na Revue Pédagogique em 1884. Em vinte
páginas escritas em francês, o autor, utilizando-se de malabarismos estatísticos,
empenhava-se em demonstrar a pujança da instrução pública no Brasil que, em
1877, ostentava uma frequência escolar 12% superior à francesa (de acordo com
os cálculos do autor). Esse não era o primeiro texto sobre educação brasileira
elaborado, nem a fórmula de apresentar estatísticas como comprobatórias do
progresso intelectual, inédita. Antes dessa publicação, os livros O Império
do Brasil, editados em 1867, 1873 e 1876, sob os auspícios governamentais,
traziam no capítulo "Cultura intelectual", dados quantificadores da presença
de alunos nos vários ramos e instituições educacionais e culturais existentes
no país. Escritas para figurar nas Exposições Universais, as obras eram peças
de propaganda do Estado Imperial.
As contribuições de Santa-Anna Nery sobre a educação brasileira não
se restringiram, entretanto, ao artigo citado. Esse paraense, antigo aluno do
Seminário de Manaus, que após receber as ordens menores no Seminário de
Saint-Sulpice, em Paris, abandonou a carreira eclesiástica bacharelando-se em
Letras, em 1867, ficou conhecido pelos livros, redigidos em francês, sobre a
Amazônia (Les pays des Amazones. L'El-Dorado. Les terres à cahoutchouc.
Orné de 101 illustrations et de 2 cartes explicatives avec un portrait de
l'autheur, gravé à l'eau-forte par Robet Kemp. Paris, Bibliothèque des
Deux-Mondes, 1885) e sobre o folclore brasileiro (Folk-lore brésilien: poésie
populaire. – contes et légendes. – fables et mythes. – poésie, musique, danses et
croyances des Indiens; accompagné de douze morceaux de musique. Préface
du prince Roland Bonaparte. Paris: Perrin, 1889). Organizou, também, a obra
Le Brésil en 1889 (avec une carte de l'empire en chromolithographie, des –
ableaux statistiques, des graphiques et cartes. Paris: Charles Delagrave, 1889),
composta de vários capítulos escritos por colaboradores eminentes, dentre
eles um sobre instrução pública que assinava, ao lado do barão de Saboia, de
Louis Cruls e do barão de Teffé. Editado sob os cuidados do Comitê Franco-
Brasileiro para a Exposição Universal de Paris, ocorrida naquele mesmo ano,
a obra era apresentada por M. Daubrée. Nela, mais uma vez com recurso a
dados estatísticos, relativos a 1869, 1876, 1882 e 1889, Nery procurava atestar
o progresso intelectual brasileiro na contabilidade da difusão de escolas
primárias públicas e na freqüência de alunos, que chegava a avaliar em 300.000.
O primeiro livro voltado exclusivamente a narrar a história da
educação brasileira, L'Instruction publique au Brésil: histoire et legislation
(1500-1889), de José Ricardo Pires de Almeida, composto como elogio ao
Império e publicado já no fim do regime (em 1889), movia-se, da mesma
102
forma, no âmbito das estatísticas e continha objetivo semelhante: afirmar a
liderança brasileira em termos educacionais. Mas agora o alvo eram os países
sulamericanos, em especial a Argentina. Dizia-se o autor constrangido ao
"dever e quase missão de restabelecer a verdade": "O Brasil é, certamente,
dentre todos os países da América do Sul, aquele que maiores provas deu
de amor ao progresso e à perseverança na trilha da civilização". A contenda
com a Argentina espraiava-se na demonstração da superioridade do regime
monárquico sobre o republicano.
Dedicado ao conde D'Eu, futuro governante brasileiro na hipótese
remota de uma manutenção do Império, o livro, redigido em francês, "língua
universalmente conhecida", de acordo com seu autor, discorria particulamente
sobre a educação no pós-Independência. A época colonial era abordada
apenas na Introdução ao volume, indiciando sua pequena relevância, apesar
de nela se inscrever o esforço precursor dos jesuítas, sumariamente descrito
nas cinco páginas iniciais; as iniciativas pombalinas, narradas nas dez páginas
seguintes; e o evento fundador da educação no Brasil, a chegada de D. João
VI, começo de uma verdadeira "constituição da nacionalidade brasileira,
nacionalidade proclamada em dezembro de 1815".
A instrução pública primária e secundária depois da Independência
era tratada em duas épocas: até o Ato Adicional, portanto de 1822 a 1834, em
parcas 10 páginas; e do Ato "aos dias de hoje", ou seja, de 1834 a 1889, em 245
páginas. A segunda época comportava, ainda, uma divisão interna entre dois
períodos: de 1834 a 1856 (34 páginas) e de 1857 a 1889 (211 páginas), tomados
para maior comodidade do leitor e entrecortando a gestão do ministro do
Império, conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz. A análise procedia de
um levantamento das leis criadas pelo Estado e recorria ao tom encomiástico
no elogio às ações da família imperial no campo educativo.
Médico, formado no Rio de Janeiro, e estudante de Direito por três anos
em São Paulo, Pires de Almeida havia sido arquivista da Câmara Municipal e
adjunto da Inspetoria Geral de Higiene na Corte, onde trabalhara nos serviços
de arquivo e biblioteca, o que, por certo, muito lhe facilitara o levantamento
de informações para a elaboração do livro. Sua produção escrita variava
bastante, versando sobre imigração italiana, economia doméstica, carnaval,
montepio civil, saneamento de Petrópolis, dentre muitos outros temas.
Publicou, em 1906, Higiene Moral — homossexualismo (A libertinagem no
Rio de Janeiro: Estudo sobre as perversões do instinto genital. Rio de Janeiro:
Laemmert & Co.), onde afirmava que a degradação do homem dava-se pela
alimentação excitante ou picante, pelo apetite venéreo, pela imaginação
ardente e, também, pelos bailes populares, os cafés-dançantes e a organização
das sociedades carnavalescas. A obra servia, para Nunes, como contraponto
a L'instruction publique au Brésil, na medida em que permitia a Pires de
Almeida, pelo avesso, retomar o projeto de intelectualidade a que estava
vinculado e que explicitara nos comentários finais do livro sobre educação: "o
historiador tem, em qualquer país, o dever de esclarecer o papel de seu país
no mundo e investigar detalhadamente as questões obscuras que interessem
às origens nacionais".
103
Membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(IHGB), Pires de Almeida partilhava de seus objetivos de coligir, metodizar,
publicar ou arquivar os documentos necessários para a história e a geografia
do Império, respeitando uma postura positivista de escrita da história. Tal
parece ser o móvel da reprodução, em anexo, de documentos citados sobre o
período colonial e da inclusão de vários excertos de relatórios e de leis no corpo
de L'Instruction publique au Brésil. Partilhava também do projeto do IHGB
de "desvendamento do processo de gênese da Nação" brasileira, percebida
como "continuadora de uma certa tarefa civilizadora iniciada pela colonização
portuguesa". Nesse movimento de construção identitária da Nação pelo
IHGB, distinguir-se do outro era necessário, seja internamente apartando-
se dos negros e índios, porque não portadores da noção de civilização; seja
externamente das repúblicas latinoamericanas, porque ameaças à forma de
governo monárquico e representação da barbárie. A chegada de D. João VI
como marco fundador da educação no Brasil, o elogio ao Império, as estatísticas
circunscritas à população livre, bem como a disputa com a Argentina, na
escrita de Pires de Almeida engendravam o mesmo padrão narrativo a que se
entregavam os letrados em torno do IHGB.
Se não podemos afirmar a filiação de Santa-Anna Nery ao IHGB (ou
ao Institut Historique de Paris, referência ao trabalho historiográfico e à visão
de história do IHGB, nos primeiros anos de sua criação, de acordo com o já
citado Manoel Guimarães), como o fizemos para Pires de Almeida, podemos
destacar a proximidade do discurso de ambos no tocante à descrição e à
interpretação dos fatos da instrução pública. A ligação clara entre Pires de
Almeida e o Instituto Histórico, matriz da tradição historiográfica brasileira,
no entanto, estabelece de maneira inesperada um vínculo entre disciplinas
que aparentemente dispunham de trajetórias apartadas.
Traduzido para o português somente em 1989, cem anos após sua
edição original, L'Instruction publique au Brésil não ficou no limbo da
historiografia educacional brasileira, desconhecido pelos autores nacionais até
tempos recentes. Ao contrário, referência de boa parte da bibliografia posterior
sobre história da educação, Pires de Almeida viu-se citado, dentre outros, por
Júlio Afrânio Peixoto, em Noções de história da educação, de 1933; Primitivo
Moacyr, A instrução e o Império: subsídios para a história da educação no
Brasil, 1823-1853, de 1936; Fernando de Azevedo, A cultura brasileira, de
1943; e Theobaldo Miranda dos Santos, Noções de história da educação, de
1945. Julgá-lo como um texto "não fundador" de uma narrativa histórica
em educação, como o fez Nunes, por não ter sido destinado ao ensino nas
Escolas Normais, parece-nos dissolver sua importância na construção de uma
tradição historiográfica em educação. Mais sugestivo talvez seja investigar a
relação entre o IHGB e a escrita da história da educação, indiciada por Pires de
Almeida, explorando vertentes desse fazer historiográfico.
Moysés Kuhlmann Jr. iniciou tal percurso. Destacou as contribuições
de Benjamin Franklin Ramiz Galvão na sistematização de fontes para uma
história da instrução pelo arrolamento de livros e artigos sobre a educação,
relatórios, memórias, regulamentos e estatutos de escola, conferências e
discursos, pareceres e projetos de lei, efetuado na classe História Literária e
104
das Artes do Catálogo que organizou para a Exposição de História do Brasil,
de 1881. Na coordenação do Livro do Centenário, elaborado agora às portas
do regime republicano, em 1900, com o intuito de "dar a conhecer as riquezas
naturais do Brasil e seus progressos em todos os ramos da atividade humana",
em que José Veríssimo Dias de Matos assinava o capítulo "A instrução e a
imprensa: 1500-1900". E, por fim, na organização do Dicionário Histórico,
Geográfico e Etnográfico Brasileiro, publicado pelo IHGB por ocasião do
centenário da Independência, que apresentava o capítulo 15 sob o título de
"Instrução pública, notícia histórica de 1822 a 1922", de autoria de M.P. Oliveira
Santos.
Nessas publicações posteriores à instalação do regime político
republicano não se alteraram significativamente as propostas de coligir e
metodizar documentos (inscritas nos Estatutos do IHGB, elaborados em 1839,
um anos após a criação do Instituto), nem de interpretar a gênese da civilização
brasileira, ambas caras à tradição narrativa da história gestada pelo IHGB. Na
esteira de tais preocupações outras obras, dedicadas especificamente à história
da educação, poderiam ser arroladas, demonstrando a permeabilidade
da produção historiográfica em educação à visão de história e do fazer
historiográfico presentes no Instituto.
A publicação do primeiro volume de A instrução e o Império: subsídios
para a História da Educação no Brasil, 1823-1853, de Primitivo Moacyr, em 1936,
inaugurou uma vasta obra, que até 1942 foi responsável pelo levantamento
e compilação de leis, estatutos e regimentos escolares, memórias, relatórios
e pareceres sobre instrução pública e particular nos vários ramos de ensino
(primário, secundário, profissional e superior) no Brasil. Ao todo, foram
editados 15 volumes, três dedicados à Instrução e o Império (entre 1936 e
1938), três à Instrução e as Províncias (entre 1939 e 1940) e sete à Instrução e
a República (entre 1941 e 1942), além de dois à Instrução pública no Estado
de São Paulo (1942) e um à Instrução primária e secundária no município da
Corte (1942).
O volume inicial da série era prefaciado por Afrânio Peixoto que,
estabelecendo uma relação de semelhança entre o trabalho de Moacyr e
Varnhagen, afirmava o livro como matéria prima de novos estudos em
educação, posto que: "No Brasil não se pesquisa. Todos tiramos de nós a
substância de nossos escritos. A história nessas condições é repetição, é
comentário, é fantasia interpretativa".
Sem introdução ou conclusão, o livro se estendia por 614 páginas, ao
cabo das quais uma pequena bibliografia relacionava além das Coleções de Leis
do Reino de Portugal e do Império do Brasil, dos Anais da Assembléia Geral
Legislativa e dos Relatórios do Ministério do Império, o livro L'instruction
publique au Brésil, de Pires de Almeida, e os artigos "Cem anos de ensino
primário (1826-1926)" (In: Centenário do Poder Legislativo), de Afrânio
Peixoto, e "A instrução pública nos tempos coloniais" (Revista do IHGB), de
Moreira de Azevedo. Foi publicado pela Cia. Editora Nacional, integrando a
série V, Brasiliana, da Biblioteca Pedagógica Brasileira, projeto coordenado
por Fernando de Azevedo para a editora, desde sua criação em 1931 até 1946.
Os demais volumes editados até 1939, referentes ao Império e às Províncias,
105
apresentavam características semelhantes, mesmo número aproximado de
páginas, mesma ausência do autor, que se limitava a compilar documentos,
mesmo pertencimento à Brasiliana. Os dois volumes sobre a instrução
paulista diferiam apenas no número de páginas reduzido para em torno de
250 e incluíam na bibliografia os livros Um retrospecto, de João Lourenço
Rodrigues, e O ensino em São Paulo, de J. Feliciano de Oliveira. Já os volumes
relativos à República apresentavam traços diferentes. As páginas mantinham-
se em aproximadamente 200 por volume, o formato abandonara o 12 x 18 cm,
assumindo o tamanho de 18 x 22,5 cm, a bibliografia ostentava outros títulos,
como José Veríssimo, A educação nacional. Passava a obra a ser publicada
pela Imprensa Nacional, sob a orientação do Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos (INEP) do Ministério da Educação e Saúde, órgão dirigido por
Manoel Bergström Lourenço Filho, de 1938 (ano de sua criação) até 1946.
A breve caracterização realizada acima suscita desdobramentos. O
primeiro relaciona-se à vinculação de Primitivo Moacyr ao IHGB, seja pelo
primado de coligir e metodizar documentos, seja pelo recurso às publicações
do Instituto e autores a ele ligados na elaboração do texto, seja ainda pelo elogio
inicial, feito por Peixoto, que situa Moacyr como herdeiro de uma tradição que
remonta a um dos personagens mais célebres do Instituto, seu antigo secretário,
Varnhagen. O segundo refere-se à inserção da obra na Biblioteca Pedagógica
Brasileira e ao acolhimento do projeto editorial pelo INEP, demonstrando a
inequívoca relação de Moacyr com a área educacional, quer pelo patrocínio
recebido, quer pela aproximação com os já renomados educadores Azevedo e
Lourenço Filho, que se estende a Anísio Teixeira. Este último, no Prefácio ao
volume 3 de A instrução no Império, afirmava:
"Aliás já lhe disse que o primeiro volume me mostrou como esse foi
— e não será ainda? — o defeito capital dos educadores brasileiros. Estivemos
todo o tempo com grandes planos gerais, com debates de princípios, chocando
ideais educativos. E nada de lhes estudar os problemas concretos, de lhes
analisar as necessidades típicas, de examinar as dificuldades e facilidades
características de execução, de realização".
As obras repertoriadas acima, entretanto, não foram as primeiras de
Moacyr. No ano de 1916, havia publicado O ensino público no Congresso
Nacional: breve notícia. No livro, podia-se identificar a mesma preocupação
em compilar leis e relatórios constatada anteriormente, no entanto, em curtos
parágrafos ao início e ao fim do texto, o autor anunciava suas intenções: "a
opinião pública é talvez injusta quando acusa o Congresso de desapreço às
cousas do ensino público". Ao longo de 200 páginas Moacyr enumerava as
iniciativas do governo republicano nos 24 anos de existência (entre 1889 e
1914), com o fito de oferecer um "modesto subsídio aos homens de boa vontade
na solução [...] do problema de nosso aparelhamento econômico e, mais, de
integração nacional".
Advogado, Primitivo fez carreira como funcionário da Câmara dos
Deputados, desde 1895, quando ingressou como redator de debates, até
sua aposentaria em 1933. Sua familiaridade com os arquivos parlamentares
facilitaram-lhe, por certo, a tarefa de compilação efetuada. Tal qual Pires de
Almeida, apoiando-se numa visão positiva de história, Moacyr, como aquele,
106
apesar de sua pretendida neutralidade manifestou seus propósitos. Aqui já
não o elogio ao Império, mas o reconhecimento da importância da função
parlamentar na organização e constituição da instrução pública.
Os sete volumes d' A Instrução e a República, de Moacyr não foram
o único investimento do INEP na divulgação de documentos úteis à história
da educação nacional. Tendo sido constituído com a função, dentre outras, de
"organizar a documentação relativa à história e à situação atual da educação no
país", o Instituto deu início em janeiro de 1940 à elaboração dos Subsídios para
a história da educação brasileira, série composta por onze volumes editados
entre 1942 e 1951, contendo a relação dos "atos e fatos de maior importância
na vida educacional do país", de caráter oficial ou iniciativa privada, em todos
os Estados nos anos de 1940 a 1950. A série, constituída para subsidiar as
leis orgânicas criadas no governo Vargas, manteve características idênticas
em todo o período, apesar da edição das citadas leis, entre 1942 e 1946, e de,
nos anos finais, a direção do Instituto ter sido entregue a Murilo Braga de
Carvalho. Uma pequena introdução, assinada pelo diretor do INEP, destacava
os aspectos considerados mais relevantes para a educação no ano. Seguiam-se
ordenadas por mês, na sequência dos dias, as notícias, intercalando as várias
unidades federativas.
O INEP dispunha ainda de "prontuários sistemáticos, referentes à
legislação do governo central, na colônia, no império e na república, e que
remetem a repertório dessa legislação, desde 1808 a esta data; como dispõe
também de repertórios da legislação dos Estados". Apesar dos esforços do
Instituto na compilação e difusão de documentos sobre a educação nacional, ao
longo dos anos 1950 cresceram as dificuldades para a execução de pesquisas,
posto que o INEP vinha se transformando em órgão de caráter eminentemente
legislador. Ao assumir sua direção em 1952, Anísio Teixeira, com o intuito de
revigorar a investigação sobre a situação do ensino no território nacional,
dedicou-se a constituir um locus privilegiado de realização de levantamentos
de dados e análises, subsidiados por cientistas sociais, e de sua divulgação.
Em 1955 era criado o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE),
ligado ao INEP e ao Ministério da Educação e Cultura. Nos anos seguintes, a
ele foram associados cincos Centros Regionais, distribuídos pelos Estados de
São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia.
Não obstante a ênfase marcadamente sociológica das interpretações,
foi nesse contexto que se publicaram os livros O ensino em Minas Gerais no
tempo do Império e O ensino em Minas Gerais no tempo da República, de
Paulo Krüger Corrêa Mourão (Centro Regional de Pesquisas Educacionais
de Minas, CRPE-MG), nos anos de 1959 e 1962. O primeiro livro, contendo
411 páginas, abordava os vários ramos de ensino, apresentando, além da
legislação, informações sobre as condições do exercício do magistério, como
salários, métodos de ensino e o que denominava curiosidades (castigos físicos
e disciplinas), bem como a história dos educandários. O segundo possuía 607
páginas e divergia do antecessor pela inclusão de uma introdução assinada
pelo autor, de agradecimentos a autoridades educacionais, dentre elas Abgar
Renault, naquele momento diretor-geral do CRPE-MG, de um apêndice
relacionando os estabelecimentos de ensino em funcionamento no ano de
107
1959 (possível ano de conclusão da obra). Mantinha, entretanto, a mesma
organização interna, constituindo o relato por ramos de ensino e pela história
de instituições escolares.
Mineiro, formado em engenharia e colaborador assíduo da revista do
Instituto Histórico-Geográfico de Minas Gerais, com textos sobre personalidades
e fatos históricos, foi, de todos os autores relacionados, o que mais se afastou
do primado positivista da mera compilação documental. Não apenas porque
emitiu, embora raros, julgamentos ao longo da obra, como comentários
sobre o divórcio entre as reformas de 1901 a 1915 e a realidade brasileira, e a
consideração do movimento de 1930, como revolução nacional, liderada por
Minas, que punha fim à primeira república; como, principalmente, porque
permitiu-se a inserção de uma Página de recordação no interior do segundo
volume, onde narrou, para quebrar a rigidez fria da História, uma lembrança
de sua infância escolar: a inauguração do Grupo Escolar de Diamantina, em
1907, pelo então presidente da Província, João Pinheiro, no qual estudou e sua
mãe foi professora.
O investimento na sistematização de fontes e divulgação de documentos
para a história da educação não cessou nos anos 1960. Vale ressaltar, aqui,
a marca que essa disposição para uma história mais próxima à descrição
documental e vazada principalmente na reprodução da fonte legislativa
imprimiu, e ainda imprime, em parcela dos trabalhos no campo. Até hoje, o
campo elabora guias, índices de legislação e edita a íntegra de leis, no âmbito de
uma escrita acadêmica ou como produto da ação de grupos, no esforço sempre
renovado de subsidiar a pesquisa. Um exemplo é a Coleção Documentos da
Educação Brasileira, iniciativa editorial da recém-criada Sociedade Brasileira
de História da Educação (1999), que objetiva disponibilizar o conjunto das Leis
e Regulamentos da Instrução Pública das várias Províncias/Estados brasileiros,
num total previsto de 80 títulos.
FONTE: VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO, Lucino Mendes de. História da Educação no
Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970). Rev. Bras. Hist. v. 23. n. 45. São Paulo.
jul. 2003. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882003000100003&script=sci_
arttext. Acesso em: 3 maio 2019.
Resumo indicativo:
Resumo informativo:
108
UNIDADE 3
TÓPICO 2
PRÁTICA DE INDEXAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Indexar é uma atividade que se dá a partir de um processo que envolve
diferentes etapas. A partir de uma análise documentária, ou seja, a partir de uma
leitura técnica da obra indexada, são levantados os principais conteúdos contidos
nela. Só depois essas informações são transformadas em palavras-chave. Este é
o momento da tradução. No entanto, por se tratar de uma atividade de cunho
técnico, é importante que algumas regras sejam seguidas.
3 A ANÁLISE DOCUMENTÁRIA
Vejamos como realizar a identificação de conceitos dos itens a seguir,
conforme artigo 4.3 e suas alíneas da NBR 12.676. Os dados forma extraídos de
elementos pré-textuais dos próprios livros e artigos arrolados a seguir.
109
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
111
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
Ensino Superior
Admiração de BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS
Projeto pedagógico de cursos de pós-graduação
Especialização em séries iniciais
Salas de referência
Currículo
Salas de aula
a) Educação Especial e Ensino Superior estão num mesmo nível dentro da área,
por isso as relações entre os termos é não hierárquica.
b) Os termos Déficit de aprendizagem, Currículo, Sala de aula e Conselho de
Classe são subordinados hierarquicamente ao termo Educação Especial, mas
não entre si. Entre eles a relação é não hierárquica.
c) Os termos Administração de Bibliotecas Universitárias, Projeto Pedagógico de
cursos de pós-graduação, Currículo e Salas de aula são subordinados ao termo
Ensino Superior, mas a relação entre eles é não hierárquica.
d) Já esta representação:
113
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
significa que Salas de aula é um tema tratado dentro de um tema um pouco mais
geral, que aqui é representado pelo termo Especialização em Séries inicias, que
por sua vez, é um pouco mais específico que Projeto Pedagógico de cursos de
pós-graduação.
114
RESUMO DO TÓPICO 2
• A NBR 12.676, proposta pela ABNT pode ser utilizada nos diversos tipos de
unidades de informação com fins de realizar uma análise documentária mais
adequada.
115
AUTOATIVIDADE
Faça a análise documentária dos itens a seguir, conforme artigo 4.3 e suas
alíneas da NBR 12.676. Os dados foram extraídos de elementos pré-textuais
dos próprios livros e artigos arrolados a seguir.
116
3 O corpo fala (Pierre Weil)
118
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
A parte técnica da biblioteconomia, tanto do ponto de vista descritivo,
quanto temático, é considerado, como vimos anteriormente, o núcleo duro da
área. É o que faz a biblioteconomia ter as características que tem. E, como toda
atividade de caráter técnico, a prática é parte indispensável para a compreensão
mais integral das etapas e processos que compõem essa técnica. Por isso, o que
propomos neste tópico é a elaboração de resumos.
2 ELABORAÇÃO DE RESUMOS
Passaremos agora a praticar a elaboração de resumos que, como vimos
anteriormente, também são importantes formas de representar os conteúdos
de documentos originais. Veremos nesta unidade como se dá a elaboração dos
principais tipos de resumos, ainda utilizadados nos dias atuais.
119
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
120
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS
121
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
122
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS
Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre,
Graciliano Ramos, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Mário Quintana, Raquel de
Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato e Ferreira Gullar.
123
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
LEITURA COMPLEMENTAR
Introdução
124
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS
Entre os autores consultados, verifica-se que sob o rótulo geral de resumo são
reunidos diferentes gêneros textuais (ou sub-gêneros) – resumo indicativo,
resumo informativo, resumo crítico ou resenha – que se distinguem na forma e na
função. As diferentes categorias estabelecidas para o resumo pautadas na ABNT
acentuam a confusão terminológica, uma vez que as nomenclaturas adotadas
confundem-se com a denominação dada por outros manuais aos mesmos
gêneros acadêmicos, como por exemplo: resumo indicativo e fichamento; o
resumo crítico e resenha. Essa confusão terminológica traz consequências para
a produção do resumo tanto para o professor como para os alunos que muitas
vezes não conseguem chegar a um consenso quanto à expectativa um do outro.
Além disso, as definições apresentadas são de cunho estruturalista e oferecem
uma visão simplista do processo de produção, uma vez que, de acordo com elas,
para resumir, bastaria ao leitor descodificar o texto-fonte para depois codificá-
lo sinteticamente. Elas desconsideram o funcionamento discursivo em jogo no
processo de elaboração do resumo. Por isso, rever o conceito de resumo, a partir
de perspectivas que tenham como base a teoria da enunciação e que partam da
noção de gênero, torna-se fundamental.
II – Gênero textual
125
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
Uma outra consideração de Marcuschi (2002, p. 21) sobre os gêneros é que esses
podem apresentar-se bastante heterogêneos com relação à forma linguística. Isso
porque há muitos casos em que não é a forma que determina o gênero, tal como
exemplifica o autor, um texto pode ser considerado como um artigo científico se
publicado numa revista científica, já se o mesmo texto for publicado num jornal
diário ele passa a ser um artigo de divulgação científica. O que muda não é o
texto, mas sim sua função e principalmente os seus aspectos sócio-comunicativos.
Assim, para definir um gênero Marcuschi defende que é preciso considerar os
papéis dos atores, as funções e objetivos do evento comunicativo e o modelo
disponível no intertexto.
126
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS
Resumir é uma das práticas linguísticas mais frequentes na vida cotidiana. Saber
resumir textos lidos é uma capacidade necessária, nas sociedades letradas, para
o desempenho de várias funções e atividades profissionais. Por exemplo: um
advogado precisa resumir o que leu num processo; um administrador, o que leu
num projeto; um jornalista, o que ouviu numa entrevista e assim por diante.
127
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
Por isso, este trabalho acredita que a origem da voz veiculada no texto-fonte seja
apontada pelo textualizador, através da referência bibliográfica e até mesmo do
uso de citações, revelando assim para o professor-avaliador a origem do saber
veiculado.
128
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS
Vejamos então como o resumo é definido a partir das teorias que o consideram
como um gênero em funcionamento no interior desse contexto específico.
Pensando o resumo como atividade didática no ensino superior, Costa Val (1998)
aborda características do gênero tais como configuração, tamanho e grau de
explicitude, tratando-as como dependentes do objetivo que o resumidor tem ao
produzir textos desse gênero. A autora admite inclusive a técnica de simplesmente
copiar do texto-fonte as idéias principais quando se trata de produzir um registro de
leitura para uso pessoal, desde que o resumidor articule essas idéias em seu texto.
129
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA
De acordo com essa autora, o resumo é um gênero que pode ser encontrado sob
diferentes formas nas práticas acadêmicas de acordo com a função que exerce,
podendo ser agrupado em duas categorias:
IV – Resumo acadêmico
130
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS
inserção nas práticas acadêmicas, uma vez que através desse gênero ele tem a
oportunidade de manifestar sua compreensão de textos científicos e exercitar a
escrita nos moldes acadêmicos.
Referências bibliográficas
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______. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec-Annablume, 2002.
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interacionismo sócio-discursivo. Tradução de Anna Rachel Machado e Péricles
Cunha. São Paulo: EDUC, 1999.
COSTA VAL, Maria da Graça. Produção de textos com função de registro de
leitura ou compreensão de texto oral – esquema, resumo e resenha crítica.
Belo Horizonte: Programa de Inovação Curricular e Capacitação de Professores
de Ensino Médio. Coordenação da Revisão do Ensino Médio da Secretaria de
Estado da Educação do Estado de Minas Gerais, 1998.
FRANÇA, Júnia Lessa. Manual para normalização de publicações
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Ângela Paiva et al. (Org.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna,
2002, p. 138-150.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In:
DIONISIO, Ângela Paiva et al. (Org.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2002.
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em práticas acadêmicas: um estudo do resumo. In: Scripta, Belo Horizonte:
PUCMG, v. 1, n. 1, p. 109-122, 1997.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos,
resenhas. São Paulo: Atlas, 1991.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do
discurso. São Paulo: Brasiliense, 1983.
SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 10. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
SALVADOR, Ângelo Domingos. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica.
Porto Alegre: Sulina, 1978.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares: das práticas
de linguagem aos objetos de ensino. Revista Brasileira de Educação, Rio de
Janeiro, n. 11, p. 5-16, 1999.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 14. ed. São
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Científica da FAMINAS. v. 2, n. 1, jan./abr. 2006. Disponível em: http://periodicos.faminas.edu.br/
index.php/RCFaminas/article/view/155/138. Acesso em: 20 maio 2019.
131
RESUMO DO TÓPICO 3
132
AUTOATIVIDADE
Texto 1
INTRODUÇÃO
A transição demográfica e o envelhecimento populacional introduzem grandes
desafios às políticas públicas, em particular nos grandes centros urbanos.
Nestes, em especial, convive-se com altos graus de pobreza e desigualdades,
baixa escolaridade e arranjos domiciliares pouco continentes. Isso gera
necessidade de intervenções mais rápidas e equânimes, além de respostas
às novas demandas assistenciais que transcendem os núcleos familiares e os
possíveis cuidadores, familiares ou não. As doenças que comumente ocorrem
no envelhecimento ganham maior expressão no conjunto da sociedade. O
idoso utiliza mais serviços de saúde, as internações hospitalares são mais
frequentes e o tempo de ocupação do leito é maior se comparado a outras
faixas etárias.19
133
condições econômicas e à oferta de serviços: renda, planos de saúde, suporte
familiar, disponibilidade, proximidade e quantidade de serviços ofertados. Os
fatores de necessidade estão ligados às percepções subjetivas das pessoas e
ao estado de saúde. Os fatores de predisposição referem-se às características
individuais que podem aumentar a chance de uso de serviços de saúde como,
por exemplo, as variáveis sociodemográficas e familiares: idade, sexo, nível
de escolaridade e raça. Segundo esse modelo, em estudos de desigualdade, o
acesso é considerado equitativo quando somente a necessidade determina o
uso.
A amostra total de 2.143 idosos foi composta por dois segmentos: o primeiro,
resultante de sorteio, correspondeu à amostra probabilística formada por 1.568
entrevistas. O segundo correspondeu ao acréscimo efetuado para compensar a
mortalidade na população de maiores de 75 anos e completar o número desejado
de entrevistas nesta faixa etária, composto por 575 residentes nos distritos em
que se realizaram as entrevistas anteriores. Para sorteio de domicílios usou-se
o método de amostragem por conglomerados em dois estágios sob o critério
de partilha proporcional ao tamanho. Essa amostra foi tomada do cadastro da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 1995, composto por
263 setores censitários sorteados sob o critério de probabilidade proporcional
ao número de domicílios. O número mínimo de domicílios sorteados no
segundo estágio foi aproximado para 90. Para complementação da amostra de
pessoas de 75 anos e mais utilizou-se a localização de moradias próximas aos
setores selecionados ou, no máximo, dentro dos limites dos distritos aos quais
pertenciam os setores sorteados.
134
A maior parte das entrevistas (88%) foi feita diretamente com o idoso,
para os demais utilizou-se um proxi-respondente quando o idoso estava
impossibilitado de responder às questões por problemas físicos ou cognitivos.
A descrição detalhada da metodologia empregada pode ser encontrada em
Duarte & Lebrão.10 Foi considerada como variável dicotômica dependente
a utilização ou não de serviços ambulatoriais nos quatro meses anteriores
à entrevista. Para a identificação de desigualdades analisou-se a associação
com a condição socioeconômica, representada pelos quintis de renda total,
categorizando-os em menor renda (sem renda, primeiro e segundo quintis) e
maior renda (terceiro, quarto e quinto quintis).
135
saber ler e escrever um recado, 5,2 % não frequentou a escola. A população
estudada era em grande parte aposentada (48,7%), da qual 23,5% disseram
estar trabalhando na semana anterior ao inquérito; 86,3% recebiam algum tipo
de recurso financeiro e destes, 66,2% tinham outras pessoas que dependiam
deste recurso, com diferenças entre os sexos; 67,5% deles reconheceram não
ter recursos suficientes para suas necessidades diárias.
Verificou-se que 46,0% das pessoas idosas autoavaliaram sua saúde como
excelente/muito boa/boa e 54,0% regular/má. A autopercepção positiva
de saúde diminui à medida que aumenta o número de doenças referidas.
Observou-se que 18,6% dos entrevistados referiram apresentar três ou mais
doenças crônicas concomitantes, sendo hipertensão a mais prevalente (53,3%).
As comorbidades foram mais predominantes (21,9%) entre as mulheres
longevas (75 anos e mais).
Quanto à posse de seguro saúde, 41,4% não estavam cobertos por um plano
e/ou seguro privado de saúde, dos quais 53,4% referiram ter seguro social.
O tipo de seguro variou de acordo com a renda e a escolaridade e os idosos
com baixa renda e sem escolaridade dependiam mais do seguro público.
Os seguros/planos privados não cobriam a totalidade de consultas médicas,
tinham baixa cobertura de próteses (4,7%) e de medicamentos (1,3%).
Os idosos que tinham seguro privado referiram sua saúde como melhor
(55,7%) em relação aos que tinham apenas seguro público (40%), apesar
de apresentarem pequena diferença quanto à presença de pelo menos uma
doença crônica (77,7% e 76,1%, respectivamente). A maioria (60,2%) dos
idosos vacinou-se contra gripe nos 12 meses anteriores à entrevista, com
maior predominância das mulheres (61,3%). Das mulheres, 43,7% relataram
ter realizado exame citológico para prevenção de câncer ginecológico e 38,9%
exame de mamografia nos dois anos anteriores à entrevista. Quanto aos
homens, 40% referiram realização de exame clínico para prevenção de câncer
de próstata nos dois anos anteriores à entrevista.
136
A Tabela 1 mostra a utilização dos serviços nos quatros meses anteriores
à entrevista. Em relação aos atendimentos ambulatoriais, não foram
observadas diferenças entre atendimento público e privado (24,7% e 24,1%
respectivamente), mas entre o local do atendimento, 14,5% ocorreram em
hospitais e 33,7% ocorreram em clínicas privadas. Os idosos com menor renda
utilizaram mais a clínica e os hospitais públicos enquanto os idosos com maior
renda e mulheres mais novas utilizaram mais os consultórios e hospitais
privados. As mulheres mais velhas se utilizaram mais de consultórios privados,
mesmo nas menores rendas; o hospital privado só foi mais utilizado no quintil
de maior renda. O atendimento domiciliar foi pouco referido tanto por quem
tinha seguro público quanto privado. Dos que utilizaram os serviços, 40,9%
realizaram apenas uma consulta e a média de utilização foi de 2,5 consultas
nos quatro meses anteriores à entrevista. Para a população total, a média foi
de 1,6 consultas por idoso nos quatro meses anteriores à entrevista.
137
138
No modelo de regressão final, a frequência à escola continuou como fator de
proteção, ou seja, ter ido à escola diminui a chance de usar serviços de saúde,
mesmo na presença de outros fatores. A variável renda isolada foi excluída do
modelo, sendo utilizada sua interação com escolaridade.
139
As desigualdades socioeconômicas indicam diferentes tempos e formas de
adoecer e diferentes necessidades e capacidades de procurar e usar serviços
de saúde. Conforme estudos de desigualdades que utilizaram a base de dados
do SABE da América Latina,15,21 idosos com pior escolaridade apresentam pior
estado de saúde em função de piores hábitos maior exclusão e menor nível de
informação e condições socioeconômicas para acessar serviços precocemente.
No entanto, o uso de serviços de saúde, maior em quem apresenta pior estado
de saúde, também sofre a influência da maior ou menor escolaridade.
140
óbitos. Assim, o diabetes apresenta provável maior gravidade e maior
dependência dos serviços de saúde tanto diagnóstica quanto terapêutica.
141
Em ambos setores, público e privado, é necessário o desenvolvimento de
modelos de atenção voltados às necessidades dos idosos, que permita
identificação de demandas, criação de serviços, estabelecimento de redes
intersetoriais e gestão integrada dos cuidados crônicos.8,20 A efetiva
implementação de redes de atenção à saúde no Sistema Único de Saúde
(SUS), com centralidade na atenção básica, permite a ampliação do acesso e o
uso regular de serviços de saúde com equidade.
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YAO, organizador. O Projeto SABE no município de São Paulo: uma abordagem
inicial. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2003. p. 227-38.
142
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143
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atención de salud en cuatro grandes ciudades latinoamericanas. Rev Panam
Salud Publica. 2005;17(5/6):394-409. doi:10.1590/S1020-49892005000500012.
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v.42, n.4, ago./ 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0034-89102008000400021. Acesso em: 19 maio 2019.
144
Texto 2
Introdução
145
assumindo um papel de liderança internacional no que se refere ao tema. Isto
exigirá, mais do que nunca, que os setores saúde, trabalho e meio ambiente,
nas suas diversas vertentes de atuação, assim como inúmeros outros setores
do governo e atores sociais representando os trabalhadores, os empresários
e as comunidades e consumidores expostos, sejam capazes de trabalhar de
forma integrada para que possamos formular propostas amplas e efetivas
para o enfrentamento dos problemas relacionados à poluição química.
O desenvolvimento de metodologias integradas, contextualizadas aos
nossos problemas e participativas, assim como processos decisórios mais
transparentes e democráticos estão entre os desafios a serem enfrentados.
146
ecologicamente racional, buscando integrar e unificar os esforços nacionais e
internacionais e, ao mesmo tempo, evitar a duplicação de atividades e gastos
(IFCS, 1997). Embora se trate de um fórum intergovernamental, é reconhecido
que as questões relativas à segurança química, particularmente as referentes
às seis áreas programáticas do Capítulo 19, não podem ser levadas a cabo
somente pelos governos, tornando-se necessária a participação da indústria,
dos diferentes grupos de interesse não governamentais representando
comunidades expostas, trabalhadores e organizações intergovernamentais e
científicas, entre outros.
147
humanidade (mais de 2.500 óbitos imediatos na cidade de Bhopal, em 1984),
o consumo de produtos resultantes da tecnologia química era de 1kg per
capita, enquanto nos países industrializados esse consumo era de 30 a 40kg
per capita (MURTI, 1991).
148
isolados, como operado pelas abordagens tradicionais da ciência, uma vez
que implicaria tanto perdas importantes na compreensão dos problemas,
ampliando as incertezas, como na limitação na formulação de estratégias
de prevenção e controle de tais riscos (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1993).
Em relação a isto, Funtowicz & Ravetz (1993) distinguem três níveis de
incertezas. As incertezas técnicas, relacionadas à inexatidão dos dados e das
análises, e que podem ser gerenciadas por meio de rotinas padronizadas
adequadas desenvolvidas por campos científicos particulares. As incertezas
metodológicas, relacionadas à não confiabilidade dos dados e que envolvem
aspectos mais complexos e relevantes da informação, como valores e
confiabilidade. Finalmente as incertezas epistemológicas, relacionadas às
margens de ignorância do próprio conhecimento científico, sendo este nível
envolvido quando irremediáveis incertezas encontram-se no centro do
problema (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1993).
149
termos das políticas públicas, processos decisórios e das instituições que
atuam nos condicionantes estruturais ou pressões dinâmicas que propiciam
ou agravam as situações e eventos de riscos. No Brasil, consideramos que
muito ainda deve ser feito, a fim de que a segurança química na sua interface
com a governança possa ser realizada, especialmente quando se considera
que no atual contexto o Estado vem sendo continuamente desestruturado,
tornando-se incapaz de controlar e prevenir os problemas de origem química,
caracterizando uma vulnerabilidade institucional. Este quadro é agravado
pelo fato de determinados grupos sociais estarem sendo expostos a substâncias
químicas em situações sociais e ambientais precárias, caracterizando uma
vulnerabilidade populacional.
150
a viver em condições precárias e sem acesso aos bens e serviços básicos de
saneamento, saúde e educação. Situação similar, em termos de condições
precárias de vida e trabalho, ocorreu também para aqueles que ficaram nas
áreas rurais. O resultado foi a constituição de padrões inferiores de segurança
e de proteção ambiental e à saúde não só no nível internacional, mas também
no nível interno dos países de economia periférica, definindo, assim, as áreas
salubres e seguras e as insalubres e inseguras (BARBOSA, 1992; GUILHERME,
1987; TORRES, 1993).
Nas áreas rurais, são bem conhecidos os casos de contaminação por agrotóxicos
de trabalhadores e de suas famílias, bem como moradores das áreas próximas
expostos à contaminação ambiental (águas, ar e solos) e da cadeia alimentar,
num circuito de complexas interações químicas e sociais. Tendo origem também
nos problemas estruturais resultantes dos modelos de desenvolvimento
adotados no país, a ausência de uma política de reforma agrária e de oferta
de trabalhos estáveis contribuiu para fluxos migratórios do campo não só
para as cidades, mas também para áreas de mineração, caso dos garimpos de
ouro na região amazônica. Se, por um lado, as atividades de mineração do
ouro fornecem a maior taxa de empregos da região (10,7%), coexistindo com
precárias condições sanitárias e um quadro de doenças endêmicas como a
malária e a leishmaniose, por outro, tais atividades vêm resultando na intensa
degradação do meio ambiente e profunda desorganização e exclusão social
(MMA, 1995). Frequentemente, trata-se de atividade ilegal que envolve força
de trabalho precarizada, não qualificada, móvel e sem direitos trabalhistas
– algumas vezes envolvendo até o trabalho escravo –, que se organiza em
núcleos, em torno das minerações, e estabelecem interfaces entre as formas
de exploração mecanizadas das empresas e as manuais dos garimpeiros. Pelo
fato de, em grande parte, as técnicas adotadas serem rudimentares, acabam
por empregar grandes quantidades de mercúrio (Hg), resultando em elevados
níveis de poluição do ar, sedimentos e águas dos rios, contaminando os
trabalhadores garimpeiros e de casas de queima. Além destes trabalhadores,
populações urbanas que vivem próximas a casas de queima e aos garimpos,
bem como as ribeirinhas, acabam, por interações ambientais e vias diretas ou
indiretas, sendo contaminadas com metilmercúrio (CÂMARA; COREY, 1993;
MMA, 1995).
151
Nos grandes centros urbanos os problemas de origem química se manifestam
de diversas formas, indo da produção em pequenas indústrias – como no
caso das fábricas ou reformadoras de baterias – e grandes indústrias do setor
químico – envolvendo as químicas, petroquímicas e petroleiras –, até o destino
final dos resíduos químicos. Um dos mais conhecidos e paradigmáticos casos
de contaminação ambiental por resíduos perigosos envolvendo a combinação
de vulnerabilidade institucional e populacional é o da Cidade dos Meninos,
no Município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Neste local houve, em
1954, o fechamento de uma fábrica do Ministério da Saúde (MS), ocorrendo
o abandono de cerca de setecentas toneladas de resíduos da produção de
HCH (grau técnico) utilizados em campanhas contra a malária. Esta área é
hoje habitada por cerca de 1.500 pessoas e os resíduos foram encontrados
em todos os segmentos ambientais, nos habitantes e biota locais em níveis
extremamente elevados (OLIVEIRA et al., 1995).
152
Tendo como referência os casos citados, podemos considerar que houve no
Brasil um crescimento dos problemas relacionados à segurança química em
uma intensidade e amplitude maior do que a capacidade do Brasil enfrentá-
los. Neste contexto, a reconhecida complexidade socioambiental do Brasil
associada às vulnerabilidades populacional e institucional, vem, por décadas
seguidas, propiciando a utilização indiscriminada dos recursos naturais e sua
contaminação pela coexistência de modos de produção arcaicos com os de
tecnologia avançada, resultando em diferentes formas e níveis de inserção
social e poluição química.
Conclusão
153
A segurança química, como um sério problema a ser enfrentado por países
como o Brasil, coloca a necessidade e o desafio de se constituírem novos
arranjos societários nos níveis global, regional, nacional e local em busca de
um modelo de desenvolvimento sustentável que tenha por base a equidade e
a democracia. Outro desafio é se constituir, concomitantemente, uma ciência
mais contextualizada na nossa realidade, baseada em abordagens integradas
e participativas que possam incluir a análise de reações químicas, físicas e
biológicas combinadas com reações sociais, políticas, culturais, éticas e morais,
contribuindo para a busca de soluções mais amplas e duradouras.
154
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12676: Métodos
para análise de documentos. Determinação de seus assuntos e seleção de termos
de indexação. Rio de Janeiro: ABNT, 1992.
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