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Indexação e Resumos

Prof.a Fernanda de Sales

2019
1 Edição
a
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof.a Fernanda de Sales

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

SA163i

Sales, Fernanda de

Indexação e resumos. / Fernanda de Sales. – Indaial: UNIASSELVI,


2019.

157 p.; il.

ISBN 978-85-515-0312-6

1. Indexação e resumos - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo
Da Vinci.

CDD 025.3

Impresso por:
Apresentação
A principal função da indexação, no âmbito bibliográfico, é a
representação dos conteúdos contidos nos documentos, para fins de
recuperação da informação. Esta operação, parece bastante corriqueira:
folhear um livro, ler alguns trechos específicos deste volume e identificar os
temas tratados pelos autores. No entanto, não se trata de um procedimento
técnico simples, uma vez que esta identificação de conteúdo exige “conhecer”
minimamente as diversas áreas do conhecimento, conhecer conceitos
presentes nessas mesmas áreas, compreender as relações existentes entre eles,
traduzir estes conceitos para uma linguagem documentária para que, enfim,
o usuário possa utilizar este resultado para acessar fisicamente a informação
desejada. Soma-se às etapas acima mencionadas o fato de a indexação ainda
depender grandemente da intervenção humana, o que insere ao processo
certa dose de subjetividade.

O presente material tem o objetivo de apresentar, de maneira


sistematizada, propostas teórico-metodológicas para minimizar as
interferências que venham a prejudicar a prática da indexação, levando a
buscas frustradas por informações em diversos tipos de unidades. Será
possível conhecer os princípios, as etapas e a relevância da indexação
dentro do processo técnico biblioteconômico; compreender a relação entre
os princípios da organização do conhecimento e a indexação; conhecer
propostas para elaboração de políticas, bem como relacionar esta atividade de
gestão com os instrumentos que apoiam a prática da indexação, quais sejam,
os vocabulários controlados. Por fim, será possível, a partir de exercícios, ter
contato com a prática da indexação e da elaboração de resumos.

A Unidade 1 – Princípios da indexação – é dividida em três tópicos: A


indexação e a recuperação da informação; etapas práticas da indexação, e a
tradução. No primeiro tópico, serão apresentadas aproximações conceituais
acerca da atividade de indexação, bem como as suas subjetividades e
ferramentas capazes de minimizar as subjetividades enfrentadas pelo
indexador. O Tópico 2 – Etapas práticas da indexação – trará a normalização
da atividade e autoatividades capazes de possibilitar ao aluno a compreensão
da relação entre teoria e prática, com base no proposto pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas e de outros documentos oficiais. O Tópico 3 –
A tradução – por sua vez, coloca em foco a tradução dos termos extraídos da
linguagem natural para a linguagem documentária.

A Unidade 2 trata das políticas de indexação. Sua estrutura é a


seguinte: no Tópico 1, serão tratados os conceitos de linguagem natural
e de linguagem documentária, bem como suas relações no âmbito da
biblioteconomia, e, principalmente, no âmbito da organização e da

III
recuperação da informação. O Tópico 2 traz as relações entre as linguagens
documentárias e as políticas de indexação a partir das ideias de autores do
núcleo duro da biblioteconomia e da ciência da informação. Já, no Tópico
3 – Elaboração de políticas de informação – serão apresentados e discutidos
alguns modelos possíveis para implantação em unidades de informação.

A Unidade 3 – Prática de indexação e resumos – apresenta os diversos


tipos de resumo, com especial foco aos resumos indicativo e informativo,
por serem os mais utilizados atualmente. No entanto, são descritos também
outros tipos de resumos, como o resumo crítico. Também é foco desta unidade
apresentar vários elementos necessários à escrita de um bom resumo.
Especialmente, permitirá ao aluno a resolução de uma série de exercícios
que visam à indexação de documentos e elaboração de resumos.

Boa leitura e bons estudos!


Prof.a Fernanda de Sales

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO................................................................................. 1

TÓPICO 1 – A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO.................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO......................................................................................................... 3
3 POR QUE INDEXAR? A ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E A INDEXAÇÃO....... 9
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 11
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 12

TÓPICO 2 – ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO.................................................................. 13


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 13
2 NORMA BRASILEIRA PARA ANÁLISE DOCUMENTÁRIA..................................................... 14
3 INDEXAÇÃO DE IMAGENS.............................................................................................................. 20
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 26
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 27

TÓPICO 3 – A TRADUÇÃO................................................................................................................... 31
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 31
2 INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA........................................................................................................... 32
3 INDEXAÇÃO POR EXTRAÇÃO ....................................................................................................... 34
4 INDEXAÇÃO POR ATRIBUIÇÃO .................................................................................................... 35
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 37
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 41
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 42

UNIDADE 2 – POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO................................................................................... 45

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO................................................ 47


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 47
2 POLÍTICA DE INDEXAÇÃO PARA UNIDADES DE INFORMAÇÃO..................................... 47
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 52
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 53

TÓPICO 2 – LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA............................ 55


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 55
2 O QUE SÃO LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS?...................................................................... 55
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 58
3 LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS E SUAS RELAÇÕES COM AS POLÍTICAS DE
INDEXAÇÃO.......................................................................................................................................... 68
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 70
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 71

TÓPICO 3 – ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO.................................................. 75


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 75

VII
2 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO.............................................................. 75
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 87
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 88

UNIDADE 3 – INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA.................................................................... 91

TÓPICO 1 – RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES.................................................................................... 93


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 93
2 CARACTERÍSTICAS DOS RESUMOS............................................................................................ 93
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 98
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 99

TÓPICO 2 – PRÁTICA DE INDEXAÇÃO........................................................................................... 109


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 109
2 POR QUE PRATICAR?......................................................................................................................... 109
3 A ANÁLISE DOCUMENTÁRIA......................................................................................................... 109
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 115
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 116

TÓPICO 3 – PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS........................................................... 119


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 119
2 ELABORAÇÃO DE RESUMOS.......................................................................................................... 119
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 124
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 132
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 133
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 155

VIII
UNIDADE 1

PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender os princípíos da indexação;

• reconhecer a importância da atividade de indexação nas unidades de


informação;

• conhecer as etapas da indexação de documentos e de imagens;

• conhecer as diferentes formas de indexação automática, segundo F. W.


Lancaster;

• distinguir linguagens naturais de documentária;

• conhecer as possibilidades para a elaboração de uma política de indexação;

• elaborar resumos informativos e indicativos;

• indexar documentos e imagens.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO

TÓPICO 2 – ETAPAS PRÁTICAS DA INDEXAÇÃO

TÓPICO 3 – A TRADUÇÃO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A indexação, segundo Dias (2007, p. 11), é a “terminologia mais usada
para designar o trabalho de organização da informação quando realizado nos
chamados serviços de indexação e resumo. Esses serviços têm por finalidade
organizar informações”. Deste modo, as unidades de informação, por serem
as ambiências que mais necessitam a utilização de facilitadores na organização
de informações, são as organizações nas quais a indexação é profissionalmente
realizada.

Indexar é construir índices. No campo da informação, isso significa


construir índices que referenciem os conteúdos dos documentos. Esta atividade
faz parte de um conjunto maior de técnicas que visam ao tratamento temático da
informação. Todas estas técnicas têm por função representar de forma sintética
e coerente os conteúdos dos itens de uma unidade de informação (livros,
documentos, imagens, por exemplo). Ou seja, a partir de ações específicas, o
bibliotecário deve identificar o conteúdo de um item, traduzi-lo em palavras-
chave que sejam coerentes ao usuário, identificar cada um dos itens para que eles
possam ser encontrados dentro do acervo e, assim, possibilitar a recuperação das
informações. O ato de traduzir o conteúdo integral em termos que o represente
coerentemente é o cerne da atividade de indexação.

Esta unidade se dispõe a caracterizar esta atividade e seus princípios,


a detalhar suas etapas, a relacioná-la à organização da informação e do
conhecimento, bem como a apresentar os tipos de indexação. É o que segue.

2 PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO
A indexação é comumente chamada de indexação de assuntos. Esta,
segundo Lancaster (1997) visa indicar de que trata um documento. O resultado
da indexação é a construção de termos de indexação. Segundo o autor, os termos
devem proporcionar uma ideia “bastante razoável sobre o que é tratado” em um
dado texto (LANCASTER, 1997, p. 5). Vejamos o seguinte exemplo:

Centro de Informação
Compartilhamento de recursos
Catálogos coletivos
Redes em linha
Redes de bibliotecas

3
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

Esta lista de termos, que representam um dado livro, deve funcionar


como um minirresumo. Imaginemos um usuário entrando em uma unidade de
informação para buscar livros e outras fontes de informação, para desenvolver
uma pesquisa sobre o tema Compartilhamento de dados em Catalogação.
Este usuário, ao consultar o catálogo da unidade, utilizando termos de busca,
deve chegar a uma série de itens que tratem do tema referido. Grande parte da
dificuldade encontrada por bibliotecários, que trabalham com indexação, está na
subjetividade que é inerente a esta atividade. Como saber se este usuário fará sua
busca por informação utilizando exatamente os mesmos termos utilizados pelo
pessoal técnico? Eis a resposta: não há como saber.

A subjetividade está presente no dia a dia dos indexadores de maneira


bastante marcante. Isso será tratado mais detalhadamente adiante na Unidade
2. No entanto, chamamos a atenção para este fato agora para ilustrar algumas
situações que podem, perfeitamente, ser vivenciadas em um setor de referência
em uma biblioteca. Vejamos um primeiro exemplo: tomemos o mesmo usuário
citado anteriormente, aquele que busca fontes para desenvolver uma pesquisa
sobre o tema Compartilhamento de dados em Catalogação. Se ele faz sua busca
com termos como “biblioteca”, “recursos informacionais compartilhados”,
“redes on-line” e “bibliotecas em rede”, ele não encontrará o livro indexado com
os termos “centro de informação”, “compartilhamento de recursos”, “catálogos
coletivos”, “redes em linha”, e “redes de bibliotecas”. Isso significa que o usuário
busca por uma informação que existe nos estoques informacionais da biblioteca,
mas ela não pode ser recuperada.

Outra situação é trazida por Dias (2007), que convidou um grupo de


bibliotecários atuantes como indexadores em bibliotecas especializadas para
indexar todos eles, mas, separadamente, os mesmos livros. O resultado foi
analisado e arquivado. Os mesmos bibliotecários foram convidados meses
mais tarde para indexar os mesmos livros da atividade anterior. Os resultados,
confrontados com os primeiros, mostraram que um mesmo bibliotecário indexou
o mesmo livro de formas diferentes. O pesquisador atribuiu esta diferença a
razões que se aproximam da subjetividade humana, tais como: conhecimento
sobre o tema, humor e estresse nos dois dias das atividades, falta de atenção, falta
de interesse na atividade.

Estas duas situações são trazidas à tona para demonstrar que a indexação
é uma atividade que, em um primeiro momento, pode parecer bastante simples,
quase mecânica. No entanto, é envolvida de complexidades que são inerentes à
condição humana, pois envolvem o componente intelectual, portanto, humano.

Especialmente por se reconhecer estas complexidades é que alguns


princípios são fixados quando da indexação de assuntos. Estes princípios visam
a amenizar essas complexidades e a trazer o quanto de objetividade for possível
nos resultados do processo de indexação.

4
TÓPICO 1 | A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Os princípios dos quais trataremos a seguir são os seguintes: extensão


do registro, atinência, e, tradução, propostos por Lancaster (1997); e qualidade
da análise, interesse do usuário e características do acervo, simplicidade formal,
coerência e uniformidade, controle da sinonímia, analogia, e, controle da
ambiguidade, propostos por Mendes e Simões (2002).

O princípio da extensão do registro sugere que quanto mais extensa for a


representação de um item, mais pontos de acesso serão oferecidos aos usuários.
Dito de outra forma, quanto mais termos de indexação forem construídos pelo
bibliotecário sobre um livro, por exemplo, mais chances haverá deste mesmo livro
ser encontrado pelos usuários em suas buscas realizadas por assunto. Lancaster
(1997, p. 7) afirma que “na medida que se aumenta a extensão da representação
[da informação], também se aumenta sua recuperabilidade”.

Para tratar do princípio da atinência, o mesmo autor recorre à Teoria do


Conceito, cunhada pela alemã Ingetraut Dahlberg, em 1979. Em sua teoria, a
autora apresenta várias unidades que devem ser reconhecidas sobre um assunto
para que se possa chegar ao seu conceito mais puro. Assim, a proposta daquele
autor é que seja realizada uma análise conceitual de um dado item bibliográfico
para que o resultado de sua indexação tenha atinência, ou seja, seja atinente à
verdadeira necessidade de informação apresentada pelo usuário. Não se descarta,
neste processo, a elaboração de resumos para que, a partir deles, seja identificada
a atinência do conteúdo.

Já para Naves (2001), a atinência é uma fase da análise de assunto (portanto,


imediatamente anterior à indexação), na qual se inicia um processo linguístico
complexo. Esta autora concorda, no entanto, que neste processo deve-se proceder
à identificação de conceitos presentes no texto que está sendo indexado. Ainda há
a possibilidade de o resultado final da busca pela atinência do texto ser uma frase
de indexação, com elementos suficientes para a posterior elaboração de uma lista
de termos. É importante frisar que, apesar destes esforços, nem sempre a exatidão
esperada é alcançada, especialmente, pelos significados atribuídos aos conceitos
que podem ser diferentes para autores, bibliotecários indexadores e usuários.

A tradução envolve a conversão dos elementos encontrados nas etapas


anteriores em um conjunto de termos de indexação. Estes termos serão os pontos
de acesso aos itens bibliográficos quando os usuários fizerem sua busca nos
índices de determinada unidade de informação, utilizando um assunto como
referência.

Mendes e Simões (2002) apontam como um primeiro princípio da


indexação a qualidade da indexação, que depende da qualidade da análise, que
deve ser realizada com fidelidade ao conteúdo total ou parcial do documento, e
ao que exprime o pensamento do autor. Desta forma, minimiza-se a recuperação
de informações não pertinentes, ou seja, reduz-se as possibilidades de ‘ruídos’ na
recuperação da informação.

5
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

Ainda para as autoras:

esta exigência pressupõe que o indexador desenvolva qualidades


pessoais como as características de um espírito analítico-sintético;
em primeiro lugar a objectividade, já que a análise é um campo onde
o subjectivismo facilmente se insinua; deve possuir, ou propor-se
adquirir, conhecimentos mínimos da área temática em que se move e
contará sempre com o apoio regular de obras de referência [...]. Deverá
notar-se que a utilização simultânea de uma linguagem de indexação
combinatória, [...] de uma classificação, constitui um grande apoio
para uma análise correcta, na medida em que, integrando o assunto
concreto, num âmbito mais vasto, o torna mais claro e facilita a sua
identificação (MENDES; SIMÕES, 2002, p. 18).

Como se vê, as subjetividades da indexação também são motivos de


preocupação para as autoras citadas anteriormente. Por isso, elas defendem o uso
de linguagens documentárias especializadas em diversas áreas do conhecimento
para que o trabalho possa resultar objetivo o quanto for possível.

Aqui, não se pode deixar de mencionar a importância de programas de


orientações ou de um serviço de referência atuante para que possa ser oferecido
aos usuários uma educação quanto à consulta nos índices e/ou catálogos das
bibliotecas, especialmente, pelo fato de não terem eles, os usuários, acesso a essas
linguagens documentárias, já que se trata de materiais para uso profissional.

No que tange ao interesse do usuário e das características do acervo,


as autoras entendem que no processo de indexação, deve-se levar em conta os
temas que constituam informação pertinente para a comunidade usuária a que
a unidade de informação atende. Na representação da informação resultante da
indexação, devem ser escolhidas as formas consagradas no uso corrente do meio a
que se destinam. E isso também está presente na constituição do acervo, uma vez
que a coleção de uma biblioteca se desenvolve de acordo com as características
da comunidade usuária a quem pretende oferecer seus produtos e serviços de
informação. Outro fato que está relacionado a este aspecto é que o acervo de
uma biblioteca é sempre o primeiro fundo a ser consultado pelo bibliotecário
indexador para que se mantenha certa uniformidade na linguagem empregada
aos termos de indexação.

As autoras não ignoram o fato de que, nos dias de hoje, os usuários


podem apresentar um perfil diferente, conseguindo criar estratégias de busca
diante de um catálogo de biblioteca em função da generalizada disponibilidade
da informação em redes e através de meios e suportes técnicos acessíveis a um
número maior nos últimos tempos. Todavia, mesmo assim, os indexadores não
podem deixar de ter os seus objetivos bem claros e fundamentados para não
transmitir a responsabilidade da recuperação da informação quase que totalmente
para os usuários.

6
TÓPICO 1 | A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Ao falarem sobre uma simplicidade formal, Mendes e Simões (2002)


estabelecem que o termo de indexação deve ser tão simples quanto for possível.
Aqui, pode-se inferir que o indexador deve possuir grande capacidade de síntese,
mas, sem que essa característica impeça a elaboração de termos de indexação
adequados para representar o conteúdo do item.

No que se refere ao princípio da coerência e da uniformidade, espera-se


que no processo de indexação haja coerência da aplicação dos mesmos princípios
e da manutenção dos critérios de escolha para a solução de casos análogos. É
o que as autoras chamam de uma uniformidade intrínseca. Deve-se também
“manter uma uniformidade exterior, garantindo, para a representação de um
mesmo conceito, a escolha de um mesmo termo” (MENDES; SIMÕES, 2002, p.
20). Dito de outra forma, espera-se que os itens de uma dada biblioteca que tratem
dos mesmos termos em seus conteúdos sejam indexados de forma idêntica, para
que todos possam ser recuperados em uma mesma busca. Quando, por outro
lado, estes itens que tratam dos mesmos assuntos estiverem em bibliotecas
diferentes, espera-se que a indexação seja feita de maneira bastante semelhante.
As diferenças podem ficar por conta de características diferentes que podem
aparecer nas diferentes comunidades usuárias.

Em relação ao controle da sinonímia e à analogia, as autoras são bastante


diretas: afirmam que para “um mesmo conceito deve escolher-se um único termo
de indexação (termo preferencial ou descritor), permitindo-se através de uma
relação de equivalência o acesso pelos seus sinônimos” (MENDES; SIMÕES,
2002, p. 21). Elas seguem: “em casos de dúvida na aplicação direta dos princípios
e das normas, procurar-se-á uma solução análoga a alguma já encontrada para
casos idênticos, fazendo assim valer a coerência e a uniformidade” (MENDES;
SIMÕES, 2002, p. 22).

UNI

Sinonímia: relação de equivalência entre, pelo menos duas palavras [...]. De


um lado, permite normalizar a polissemia, indicando que várias palavras, uma vez que
compartilham significados próximos, expressa-se por meio de um mesmo descritor [termo
de indexação]. De outro, permite compatibilizar a linguagem dos usuários com a linguagem
do sistema [biblioteca], funcionando, assim, como operador de sentido (CINTRA et al., 2002).

Por fim, sobre o princípio do controle de ambiguidade tem-se que “a


escolha dos termos, em qualquer caso [...] deve ser cuidadosamente feita de modo
que não resulte ambiguidade no momento da pesquisa” (MENDES; SIMÕES,
2002, p. 22).

7
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

UNI

Ambiguidade: entendida como uma possibilidade de comunicação linguística


prestar-se a mais de uma interpretação (CINTRA et al., 2002).

A transcrição a seguir, apesar de extensa, ilustra bem este cenário:

O caso mais evidente de ambiguidade deve-se a uma falta de controlo


da polissemia; há que ter um cuidado especial com os homógrafos,
pois o mesmo termo não pode representar dois conceitos, sob pena
de provocar «ruído» na informação. Surgem, também, situações
propícias à ambiguidade quando uma operação booleana é
realizada no momento da pesquisa, em pós-coordenação, portanto,
intercepcionando dois conceitos para obter um outro mais específico;
a norma apresenta um exemplo que se tornou clássico: o produto da
intercepção entre alimentação e plantas pode conduzir aos conceitos
diferentes de alimentação de plantas e plantas como alimentação.
Convém notar que o risco é efectivamente corrido ao nível da análise;
ao optar por dois conceitos genéricos em vez de um específico, por
razões muito próprias e expressamente permitidas nas normas, o
indexador tem que prever as consequências que daí podem advir,
neste caso os efeitos perniciosos da ambiguidade (MENDES; SIMÕES,
2002, p. 23, grifo nosso).

UNI

Polissemia: ocorre quando uma palavra pode comportar mais de um significado,


“como em ‘Hoje trabalhei muito com ar condicionado’, em que o enunciador tanto pode
dizer que trabalhou em aparelhos de ar condicionado, quanto em ambiente refrigerado ou
aquecido por ar-condicionado” (CINTRA et al., 2002, p. 70-71).

Vimos até aqui que a indexação é uma atividade de tratamento temático,


desenvolvida em unidades de informação, que tem como objetivo identificar e
representar os conteúdos de itens pertencentes a acervos de bibliotecas. Vimos
também que esta é uma atividade permeada por complexidades advindas das
subjetividades a que estão submetidos os elementos da linguagem e a própria
condição interpretativa que cada pessoa – seja usuário ou bibliotecário – pode ter
a respeito de um texto. Na continuação, veremos questões relacionadas à prática
da indexação.

8
TÓPICO 1 | A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO

3 POR QUE INDEXAR? A ORGANIZAÇÃO DO


CONHECIMENTO E A INDEXAÇÃO
A resposta à pergunta acima poderia ser: para que a recuperação das
informações seja possível. Uma biblioteca, geralmente, cumpre com seu papel
se conseguir disseminar as informações que estão em seus acervos. Organiza-se
informação para que ela se torne acessível. A indexação faz parte deste processo.
Vejamos como Lima e Alvares (2012, p. 27) caracterizam a Organização do
conhecimento:

No sentido mais genérico do termo, organização do conhecimento é o


modo como ele é disposto em assuntos em toda parte onde se deseja a
sua sistematização ordenada para atingir determinado propósito [...] é
estudada em outras áreas como Antropologia, Computação, filosofia,
Linguística, Psicologia, Sociologia, entre outras.
Na ciência da informação, é a área de estudos voltada às atividades de
organização, representação e recuperação da informação.

A biblioteconomia também se ocupa da organização da informação e do


conhecimento, especialmente ao utilizar-se de ferramentas, técnicas e códigos
que permitem: a) a organização física de um dado acervo; b) a representação dos
conteúdos contidos nestes acervos; c) recuperação e uso da informação; e d) a
constituição de novos conhecimentos a partir do acesso e uso de informação que
produzam sentidos.

Isto é possível a partir da prática da representação descritiva, que envolve


a catalogação, e da representação temática, que envolve a análise de assunto,
a indexação e a classificação. Cardozo Filho e Santos (2012, p. 185) ampliam as
definições de indexação apresentadas até aqui, atribuindo-lhe a “função técnica
de analisar documentos para que a informação significativa deles seja traduzida
com a atribuição de termos selecionados da linguagem natural (utilizada na
vida diária), ou por símbolos que mediarão a comunicação entre o documento
e os usuários”. Portanto, temos aqui mais uma resposta à pergunta “para que
indexar?”: para representar as informações significativas dos documentos. “A
indexação agrega valor à informação” (CARDOZO FILHO; SANTOS, 2012, p.
188), uma vez que a torna acessível.

Para além disso, é preciso ter em mente que toda a atividade técnica que
está no cerne da prática bibliotecária, tem um alcance social relevante. Ao se
indexar, classificar e catalogar os itens de uma dada biblioteca, é preciso entender
que há uma ação social importante sendo desenvolvida, pois disponibilizar
informação para uso garante a sua disseminação e, em última instância, e (não
garante, mas) permite que o direito à informação como um bem comum seja
exercido. Informar-se é um ato de cidadania e de participação social. Quando
uma atividade técnica oferece aos cidadãos diversificados pontos de acesso à
informação, o papel social da biblioteconomia está sendo ampliado.

9
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

É importante que o indexador tenha em mente que seu trabalho vai


além se uma sala de ‘processamento’. Seu trabalho, de fato, chega na sociedade.
Imaginemos a situação em que um pesquisador está investigando a cura para
uma determinada doença e que sua pesquisa depende do acesso a informações
técnicas específicas a respeito de nutrientes que reagem a vírus ou bactérias. Buscar
por estas informações num catálogo de uma biblioteca e conseguir recuperá-las
para o desenvolvimento dos testes necessários pode representar o sucesso da
descoberta. Ou o insucesso. Imaginemos agora que a indexação realizada nesta
biblioteca permita que o pesquisador encontre exatamente a informação de que
necessita para finalizar seus estudos e, garanta assim, a cura de milhares de
pessoas. Inegável a participação do profissional no processo e o alcance social do
trabalho técnico.

Então, podemos mais uma vez ampliar a resposta à pergunta que inicia
esta subseção: indexa-se para que a sociedade possa se transformar a partir – não
só, mas também – do acesso a informações pertinentes as suas necessidades.

Veremos no tópico a seguir como se indexa.

10
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem pricípios para a indexação.

• A atividade de indexação nas unidades de informação é de extrema importância


para a recuperação da informação.

• Existem conceitos acerca da atividade de indexação e muitas subjetividades


em torno dessa atividade.

• Existem ferramentas capazes de minimizar as subjetividades enfrentadas pelo


indexador.

11
AUTOATIVIDADE

1 O que é indexação e qual sua relevância nas unidades de informação?

2 Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos bibliotecários/


indexadores quando da indexação?

3 Quais as relações existente entre a indexação e a recuperação da informação?

4 Qual sua percepção acerca da relevância social da atividade de indexação?

12
UNIDADE 1
TÓPICO 2
ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Embora a atividade pareça ser bastante fácil e corriqueira, indexar não
é apenas folhear um determinado livro e, como que automaticamente, pinçar
algumas das palavras que se encontram em seu conteúdo. Os itens de um
documento a serem consultados para o levantamento dos termos de indexação
devem ser estrategicamente escolhidos para que se possa, a partir deles, extrair
os conceitos mais significativos do conteúdo e, assim, representá-los mediante os
termos. É importante lembrar aqui que estes termos de indexação são aqueles que
os usuários comumente chamam de palavras-chave, ou, dito de outra forma, são
aqueles termos que estes mesmos usuários usarão para realizar suas buscas por
informações nos catálogos das bibliotecas.

Por isso há duas questões a se levar em conta: a primeira delas é a


identificação mais precisa que for possível dos conteúdos, e, a segunda, é a
representação adequada destes conteúdos de forma que os usuários não deixem
de recuperar as informações. No primeiro caso, é preciso realizar uma apurada
análise documentária para levantamento dos conceitos. No segundo, é preciso
lançar mão do uso de ferramentas que ajudem na tradução destes conceitos em
termos de indexação. Vejamos este processo na figura a seguir.

FIGURA 1 – ANÁLISE DOCUMENTÁRIA E INDEXAÇÃO

Documento

Ação 2:
Ação 1:
Indexação
Análise documentária
- Consultar linguagens
- Selecionar partes do livro/
documentárias que
documento para ser
apontem melhores formas
consultado.
de traduzir o conteúdo em
- Identificar nestas partes os
termos de indexação.
conteúdos de que trata o
- Construir os termos de
livro/documento.
indexação.

FONTE: A autora

13
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

2 NORMA BRASILEIRA PARA ANÁLISE DOCUMENTÁRIA


No Brasil a atividade de análise documentária é regulamentada pela ABNT
(Associação Brasileira de Normas e Técnicas) a partir da NBR 12676/1992, que
propõe métodos para análise de documentos – determinação de seus assuntos e
seleção de termos de indexação.

A NBR supracitada (que se encontra anexada a esta Unidade 1), “fixa


as condições exigíveis para a prática normalizada do exame de documento, da
determinação de seus assuntos e da seleção de termos de indexação” (ABNT, 1992).
Vejamos, resumidamente algumas definições importantes estabelecidas pela norma:

• Documento – qualquer unidade, impressa ou não, que possa ser catalogada ou


indexada.
• Conceito – é qualquer unidade de pensamento; tem conteúdo semântico; pode
ser combinado com outros conceitos; e, ainda, pode variar de acordo com
diferentes línguas ou culturas.
• Assunto – tema representado num documento.
• Indexar – identificar e descrever o conteúdo de um documento.
• Termo preferido – termo utilizado consistentemente na indexação; também
chamado de descritor.
• Termo não preferido – sinônimo do termo preferido; não utilizado como termo
preferido, mas que pode ser apontado como remissiva.

Imaginemos o exemplo ilustrado na figura a seguir:

Documento:

FIGURA 2 – ETAPAS DA INDEXAÇÃO, SEGUNDO NRB 12676/1992

Conceito identificado a partir da Análise


documentária:

Trata da Moderna Historiografia brasileira e das


Ciências Sociais brasileiras. Trata também da
construção da sociedade brasileira.

Assuntos: Termos preferidos:

Moderna historiografia brasileira História do Brasil


Tradução
Ciências sociais no Brasil Ciências sociais

História da sociedade Sociedade brasileira

FONTE: A autora

14
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO

Para que este processo seja realizado com êxito, o proposto pela ABNT é
que a identificação dos conceitos seja realizada com base no exame do documento.
Cada tipo de documento deve ser examinado de acordo com suas características
físicas (impressos ou não impressos). Para livros, especificamente, devem ser
analisadas as seguintes partes do todo: título e subtítulo, resumo (se houver),
sumário, introdução, ilustrações, diagramas, tabelas, palavras em destaque e
referências bibliográficas.

Os documentos não impressos, como é o caso das imagens, e das realias,


que não possuem em sua composição física tais elementos, pedem outros
procedimentos, sendo estabelecidos de acordo com suas especificidades e de
acordo com as políticas de indexação, que veremos mais adiante, na Unidade 2.

No que tange à identificação de conceitos, o item 4.3 da NBR 12676/1992


sugere que o indexador tente responder a uma série de questões para que possa
chegar às unidades de sentido. Veja as questões a seguir:

a) Qual é o assunto de que trata o documento?


b) Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses?
c) O assunto contém uma ação, processo ou operação?
d) O documento trata do agente desta ação?
e) O documento se refere a métodos, técnicas especiais?
f) Há um contexto local ou um ambiente especial na discussão?
g) O assunto foi considerado de um ponto de vista interdisciplinar?

Passemos ao entendimento de cada uma destas questões:

Qual o assunto de que trata o documento? Trata-se de uma primeira


aproximação com o conteúdo. Neste momento, o indexador pode registrar os
primeiros conceitos identificados. Tomemos como exemplo um dado livro que
trate sobre o passo a passo de pesquisas científicas. Neste momento, é provável
que o indexador sugira que o assunto de que trata o livro é Metodologia Científica,
ou Métodos e Técnicas de Pesquisa.

Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses? Neste


momento, o sumário e a introdução do livro podem apontar se existe, por exemplo,
uma ou algumas abordagens teóricas da construção do conhecimento científico:
positivismo, marxismo, fenomenologia, entre outros. Se tais características forem
identificadas, o indexador deve apontá-las em seus registros.

O assunto contém uma ação, processo ou operação? Livros de metodologia


científica, geralmente, apontam várias possibilidades de etapas que constituem
uma pesquisa. Falam de como essas etapas são distribuídas em processos, como
elaboração de entrevistas, coleta de dados, transcrição ou de gravação de áudios,
estabelecimento de formas de organização de dados coletados, para, enfim, se
procederem às análises. Embora, neste exemplo, estas características possam
sugerir um movimento, não se trata de responder afirmativamente à pergunta,

15
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

pois o conteúdo em si não é tratado com base em um movimento, em uma


entrevista, em um estudo de caso. O livro traz estes temas como conteúdo, mas
não como aplicação.

O documento trata do agente desta ação? Se não há ação, não há agente


da ação. No entanto, pensemos em outro exemplo. O livro apresenta o resultado
de uma pesquisa desenvolvida por médicos de uma dada comunidade ribeirinha
na região norte do Brasil, em que realizaram entrevistas com homens e mulheres
em idade fértil, questionando-os sobre o acesso a informações relacionadas à
contracepção e doenças sexualmente transmissíveis. Neste caso, ao responder
à pergunta anterior, o indexador, diria: “sim! Há uma ação!”. Esta ação seria a
entrevista. E, os agentes, os médicos (pesquisadores), e os homens e mulheres em
idade fértil (respondentes, público-alvo da pesquisa).

O documento se refere a métodos, técnicas especiais? No primeiro


exemplo, o indexador pode considerar que sim, se o livro de metodologia
apresentar diversos métodos de pesquisa. Já no segundo exemplo, o da pesquisa
realizada pelos médicos, a própria entrevista pode ser considerada, além da ação,
o método.

Há um contexto local ou um ambiente especial na discussão? Parece-


nos pouco provável que o livro de metodologia estabeleça um limite físico ou
geográfico para o tratamento do conteúdo. Já a pesquisa dos médicos foi realizada
no norte do Brasil, em comunidades ribeirinhas.

O assunto foi considerado de um ponto de vista interdisciplinar?


Seria imprudência não considerar a construção do conhecimento científico,
interdisciplinar por si só. No entanto, temos de nos ater ao CONTEÚDO tratado
em nosso livro hipotético. Ele trata apenas de metodologia científica. Já no
segundo exemplo, se formos considerar que a pesquisa tenta identificar possíveis
pontos de acesso à informação sobre um segundo tem (contracepção e DSTs),
pode-se considerar que há interdisciplinaridade. Os conteúdos identificados
seriam: acesso à informação e educação sexual.

Esta norma, que já foi discutida e criticada por estudiosos do campo


da Informação, pode não ser a única forma de se estabelecer critérios para a
indexação em uma unidade de informação, mas pode sugerir algumas diretrizes
importantes para a análise documentária.

Vejamos um exemplo a seguir.

Considere o livro Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant. Suas


informações temáticas são: uma das mais influentes e importantes obras da
história ocidental. Ela é geralmente referida como a "primeira crítica" de Kant,
uma vez que essa obra precede a Crítica da Razão. O autor tenta responder a
três questões fundamentais: Que podemos saber? Que devemos fazer? Que nos
é lícito esperar? Afirma que os pensamentos filosóficos correntes se utilizavam

16
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO

de "juízos analíticos" a priori, isto é, apenas andavam em círculos sobre


algum conhecimento, reproduzindo-o com palavras diferentes, chegando a
conclusões que em nada diferiam daquilo que já estava contido no primeiro
pensamento, sem produzir, assim, qualquer novo conhecimento a respeito das
questões sobre as quais eram formuladas. Neste caso, quais seriam as respostas
às questões seguintes propostas pela NBR 12676:

Qual o assunto de que trata o documento? Filosofia. Crítica.

Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses? Se desenvolve com


a crítica da razão.

O assunto contém uma ação, processo ou operação? Não.

O documento trata do agente desta ação? Não se aplica.

O documento se refere a métodos, técnicas especiais? Não.

Há um contexto local ou um ambiente especial na discussão? Não.

O assunto foi considerado de um ponto de vista interdisciplinar? Não.

Outro aspecto bastante pertinente ao processo de indexação, e que também


é tratada pelo documento nacional que orienta a atividade, está relacionado à
exaustividade e à especificidade às quais o indexador deve estar atento. A
exaustividade está relacionada ao número de conceitos representados pelos
termos atribuídos a um documento. Segundo Lancaster (1997, p. 23), a “indexação
exaustiva implica o emprego de termos em número suficiente para abranger
o conteúdo temático do documento de modo bastante completo”. Seu oposto
seria a indexação seletiva, que propõe a utilização de termos que representem
apenas o conteúdo principal. Veremos mais adiante que estas orientações são
imprescindíveis ao indexador, por isso devem estar presentes de maneira bastante
clara na política de indexação da unidade de informação.

Ainda a esse respeito, a NBR 12676/1992 alerta para que a abrangência na


indexação não seja muito restrita, pois, apesar de ter-se sempre um determinado
grupo de usuários como suposto público-alvo, sempre é possível que outros
usuários, pertencentes a um grupo menos especializado, faça uso das mesmas
informações. Por isso, não é recomendado que se estabeleça um número arbitrário
de termos a serem empregados para cada item indexado numa unidade de
informação. É o próprio documento, ou o conteúdo propriamente dito que pode
nortear essa decisão. “A imposição deste tipo de limite pode levar a alguma perda
de objetividade na indexação e à distorção de da informação que poderia vir a ser
de valor na recuperação” (ABNT, 1992, p. 3).

17
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

No tangente à especificidade, ela é referente ao grau de precisão com que


um termo de indexação define um conceito, ou dito de outra forma, se refere à certa
exatidão entre o termo de indexação e o conceito que ele representa. Lancaster
(1997) acredita que é mais adequado utilizar vários termos mais específicos para
indicar um conteúdo do que termos muito genéricos que possam não significar
todos os conceitos de um determinado tema. Ele dá o seguinte exemplo:

se um documento descreve o cultivo de limões, limas e tangerinas, será


melhor indexado sob estes três termos específicos do que sob o termo
mais genérico FRUTAS CÍTRICAS, O termo FRUTAS CÍTRICAS será
usado apenas para artigos de frutas cítricas em geral, e para aqueles
que tratem de praticamente todas as frutas cítricas (LANCASTER,
1997, p. 27).

O mesmo autor lembra, de forma bastante positiva, que é preciso ter em


mente que é possível atingir uma adequada especificidade na indexação a partir
da combinação de termos. Ele apresenta os seguintes exemplos:

Literatura Medieval Francesa, indexado sob LITERATURA MEDIEVAL


e LITERATURA FRANCESA
Bibliotecas Médicas, indexado sob BIBLIOTECAS ESPECIALIZADAS
e CIÊNCIAS MÉDICAS
Literatura Canadense, indexado sob LITERATURA e CANADÁ
Óleo de amendoim, indexado sob ÓLEOS VEGETAIS e AMENDOIM”
(LANCASTER, 1997, p. 28).

Evangelista, Simões e Guimarães (2016, p. 59) entendem que “para uma


recuperação da informação satisfatória, que atenda às carências informacionais do
utilizador é necessária uma indexação eficaz, que possibilite a triangulação entre
o conteúdo do documento, a sua representação e a necessidade informacional
do utilizador”. Eles concordam com as definições já apresentadas até aqui ao
afirmarem que:

No desenvolvimento deste processo há dois princípios que devem


ser sempre considerados: a exaustividade e a especificidade. O
primeiro relaciona-se com o número de assuntos de um documento
que são selecionados, e que se traduz objetivamente na quantidade de
termos representativos; o segundo tem a ver com o nível de pormenor
com o qual um conceito é representado (EVANGELISTA; SIMÕES;
GUIMARÃES, 2016, p. 59).

Estes autores abordam um tema de extrema relevância para a qualidade


de indexação, bem como o exercício imparcial do indexador: a ética. Considera-
se relevante transcrever um excerto de seu trabalho, que, apesar de reconhecida
extenso, trata do assunto ética na indexação de maneira considerada bastante
apropriada. Vejamos:

Devido a um conjunto de razões, de entre as quais se destaca a


subjetividade do indexador, em geral a operação de indexação não
é contextualizada no seu tempo e no seu espaço. Muitas vezes o
profissional da informação não atende aos aspetos sociais, culturais,
políticos, a todo um conjunto de valores, princípios, preconceitos

18
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO

e crenças que envolvem o contexto desta operação. A observância


desta concorrerá, inevitavelmente para o não reconhecimento de
uma dimensão ética inerente à organização e representação do
conhecimento.
A Ética é um domínio no campo da Filosofia que visa a procura
do bem-estar na convivência em sociedade, ideia que se encontra
ancorada nos conceitos de bem e de mal, e que tem como objetivo
uma harmoniosa coexistência social. É seu objeto a moral, que trata
das ações relacionadas com o binómio bem/mal e que a partir de
regras baseadas numa delimitação espacio-temporal, determina o
que se deve ou não se deve fazer em sociedade (MALIANDI, 2004;
JAPIASSÚ, 2008; GUIMARÃES et al., 2008).
O campo da organização do conhecimento, por sua vez, encontra-
se respaldado num conjunto de valores que são os fundamentos da
moral, que se destacam em determinada sociedade, num dado espaço
e num determinado tempo, com o objetivo de disciplinar a convivência
dos membros que a constituem, buscando o bem-comum (JAPIASSÚ,
2008; GUIMARÃES et al., 2008).
Dada a sua complexidade e afirmação na sociedade contemporânea,
as questões relacionadas com a privacidade, a equidade, o acesso à
informação, o respeito pelo utilizador e o princípio pela garantia
cultural, têm vindo a ser destacadas como objeto de discussão na
literatura da área da Ciência da Informação, em trabalhos académicos
e científicos, desde meados do século XX. É o caso do que foi realizado
por Guimarães et al. (2008), no qual, entre outras questões relacionadas
com a ética na indexação, se apontam a especificidade e a exaustividade
como valores éticos a serem considerados nesta operação. Esta nova
abordagem leva a que conceitos direta ou indiretamente associados
aos valores éticos, deixem de ser considerados apenas como simples
medidas matemáticas usadas para determinar o sucesso ou insucesso
de um sistema de recuperação de informação, no que se refere ao
desempenho nos aspetos relacionados com a precisão e/ou revogação
dos resultados de uma pesquisa, e passem a ser considerados também
como medidas de natureza qualitativa que, na prática, concorrem para
uma maior abrangência em termos de heterogeneidade cultural na
recuperação da informação.
Deste modo, pode inferir-se que a presença da exaustividade e da
especificidade na representação da informação vai ao encontro
de um compromisso ético com o utilizador (GUIMARÃES, 2000),
que está patente no modo como o catálogo de assuntos ou o índice
evidencia o mais adequadamente possível. A diversidade temática do
documento (exaustividade) e a profundidade com a qual é abordada
a realidade que manifesta (especificidade) (EVANGELISTA; SIMÕES;
GUIMARÃES, 2016, p. 60).

A pesquisa realizada pelos autores citados anteriormente verificou que

a exaustividade e a especificidade são essenciais na prática de


indexação, na medida em que agregam valor acrescentado ao
documento, o que concorre para a existência de pesquisas mais
consistentes e precisas, contribuindo para a construção de uma ponte
sólida entre o documento e o utilizador, que se reflete em resultados
da pesquisa mais eficazes (EVANGELISTA; SIMÕES; GUIMARÃES,
2016, p. 70).

19
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

DICAS

Leitura integral da pesquisa citada no link: <http://ojs.letras.up.pt/index.php/


paginasaeb/article/view/1471>, acesso em: 29 abr. 2019, pois os autores colocam em
evidência a natureza dos processos de organização da informação e destacam a necessidade
da abordagem da dimensão ética destes na recuperação da informação. E, se, em última
instância, o que se promove, ao gerir informação, é a consolidação de uma sociedade mais
igualitária pelo viés do acesso à informação, então, o aspecto ético deve permear todas as
etapas da elaboração e da oferta de produtos e de serviços de informação.

3 INDEXAÇÃO DE IMAGENS
Hingst (2011, p. 11) concorda com a abordagem dada neste curso até
aqui para o processo de indexação. Para a autora, “a indexação é um processo
que requer estudo e aprimoramento constantes”. E, quando a indexação é de
imagens, “o cuidado com este processo deve ser redobrado, uma vez que existe
maior complexidade na extração de descritores para este tipo de documento”
(HINGST, 2011, p. 11).

A autora recorre à literatura para compreender as principais dificuldades


encontradas ao se fazer indexação de imagens:

A representação documental de itens não-escritos tem, de acordo com


Guinchat e Menou (1994), problemas relativos a sua natureza e sua forma
de consulta. Isso se deve ao fato da “multiplicidade das necessidades
que eles são capazes de responder” (GUINCHAT; MENOU, 1994, p.
181).
Para Lopes (2006, p. 201), a indexação de fotografias utilizando
descritores “acrescenta um valor informativo e documental na imagem
registrada por seus efeitos narrativos e linguísticos, sendo este processo
de fundamental importância numa base de dados ou num banco de
imagens constituído por fotografias (HINGST, 2011, p. 19).

Uma das primeiras diferenças entre a indexação de textos para a indexação


de imagens está nas características apresentadas pelo próprio documento. Uma
imagem possui aspectos de denotação, que correspondem ao que a imagem é
de fato, e de conotação, que são os valores atribuídos à imagem pelo indexador
ou pela comunidade usuária. Quando se observa este princípio da conotação,
especialmente, infere-se que a indexação das imagens pode estar muito mais
submetida a questões interpretativas do que um texto, pois a linguagem escrita,
apesar de apresentar diferentes conceitos em diferentes línguas e culturas, ainda
possui uma objetividade da qual o indexador pode se valer. Mas, será que todos os
indexadores chegam a mesma seleção de conceitos ao verem a imagem a seguir?

20
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO

FIGURA 3 – INDEXAÇÃO DE IMAGENS 1

FONTE: <https://www.climatempoconsultoria.com.br/wp-content/uploads/2016/05/outono1-1-
750x420.jpg>. Acesso em: 20 maio 2019.

AUTOATIVIDADE

Pode-se aproveitar a oportunidade para fazermos um rápido exercício.

1 Descreva a forma como você:

a) identificaria a denotação da Figura 3;


b) como você identificaria a conotação da Figura 3.

2 Examine mais uma figura. Vejamos:

FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-vSW8KN4q2VI/ViZCs6wHsFI/AAAAAAAAA-E/
MCbC6Q7JqYg/s400/trem.png>. Acesso em: 8 maio 2019.

a) Identifique a denotação desta imagem.


b) Como você identificaria a conotação desta imagem.

21
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

3 Examine a figura a seguir:

FONTE: <https://www.donamix.com.br/image/cache/data/Manequim/allegomes--0012-
400x570.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.

a) Como você identificaria a denotação desta imagem?


b) Como você identificaria a conotação desta imagem?

4 Examine a figura a seguir:

FONTE: <http://www.olabahia.com.br/wp-content/uploads/2016/05/musica-640x366.jpg>.
Acesso em: 8 maio 2019.

a) Como você identificaria a denotação desta imagem?


b) Como você identificaria a conotação desta imagem?

Este rápido exercício mostra o quanto de subjetividade pode haver


no exercício de indexar imagens. Para que se possa minimizar esta equação,
estudiosos da área buscam estabelecer alguns critérios. Vejamos:

22
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO

Sobre o que deve ser descrito na imagem, Smit (1996, p. 32) afirma que:
As categorias QUEM, ONDE, QUANDO, COMO e O QUE, utilizadas
por muitos estudiosos como parâmetros para grande variedade de
análises de textos, inclusive a documentária, é também preconizada
para a Análise Documentária da imagem (HINGST, 2011, p. 21).

Quando olhamos para uma imagem e “perguntamos a ela” sobre


características mais específicas, podemos chegar a respostas (portanto, a termos
de indexação), mas específicos, e isso atende ao princípio da especificidade, como
vimos anteriormente.

AUTOATIVIDADE

Voltemos às mesmas imagens e façamos as seguintes perguntas:

FONTE: <https://www.climatempoconsultoria.com.br/wp-content/uploads/2016/05/
outono1-1-750x420.jpg>. Acesso em: 20 maio 2019.

Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?

FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-vSW8KN4q2VI/ViZCs6wHsFI/AAAAAAAAA-E/
MCbC6Q7JqYg/s400/trem.png>. Acesso em: 8 maio 2019.

23
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?

FONTE: <https://www.donamix.com.br/image/cache/data/Manequim/allegomes--0012-
400x570.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.

Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?

FONTE: <http://www.olabahia.com.br/wp-content/uploads/2016/05/musica-640x366.jpg>.
Acesso em: 8 maio 2019.

Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?

24
TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO

Hingst (2011) segue na empreitada de entender cada uma das questões,


criando a partir delas, categorias, e se baseia em Smit (1996) para chegar às
seguintes características:

a) Na categoria QUEM, deve ser o objeto enfocado: seres vivos, artefatos,


construções, acidentes naturais, entre outros. Exemplos: duas pessoas; ou, uma
árvore; ou, um edifício de três andares.
b) Em ONDE é realizada a localização da imagem no espaço geográfico ou espaço
da imagem. Exemplos: Florianópolis; ou interior de uma farmácia; ou, num
campo de trigo.
c) Em QUANDO, busca-se localizar a imagem no tempo cronológico ou
momento da imagem. Exemplos: 2019; ou, outono; ou, noite.
d) E, em COMO/O QUE se realiza a descrição de atitudes ou detalhes relacionados
ao objeto enfocado, quando este é um ser vivo. São exemplos: cavalo correndo,
criança chorando (SMIT, 1996, p. 32 apud HINGST, 2011, p. 21).

Manini (2002 apud HINGST, 2011) traz um importante avanço no que


tange à elaboração destes critérios ao acrescentar a categoria recursos técnicos e
suas variáveis. A partir desta categoria, pode-se chegar a uma segunda, qual seja,
a dimensão expressiva.

Os recursos técnicos a serem levantados quando da análise de imagens


são: efeitos especiais, ótica, tempo de exposição, luminosidade, enquadramento,
posição da câmera, composição e profundidade de campo.

No critério efeitos especiais, são consideradas variáveis como


fotomontagem; estroboscopia; alto-contraste; trucagens; esfumação. Em ótica
as variáveis são: utilização de objetivas (fish-eye, lente normal, grande-angular,
teleobjetiva); utilização de filtros. Tempo de exposição é o critério em que se
avaliam as variáveis instantâneo; pose; longa exposição, e outras relacionadas.
Em Luminosidade devem-se analisar variáveis como: luz diurna; luz noturna;
contraluz; luz artificial; luz natural. Enquadramento. Critério que avalia
o enquadramento do objeto fotografado, como vista parcial, vista geral: e,
enquadramento de seres vivos. Posição da câmera, câmara alta; câmara baixa;
vista aérea; vista submarina; vista subterrânea; microfotografia eletrônica;
distância focal. Em Composição verificam-se as variáveis: retrato; paisagem;
natureza morta, e outros. E, por fim, em profundidade de campo analisa-se se
há profundidade; se todos os campos fotográficos estão nítidos (diafragma mais
fechado). (MANINI, 2002, p. 91 apud HINGST, 2011, p. 25).

Macambyra (2019) parece concordar com a necessidade de analisar


elementos como os citados acima, uma vez que afirma que observar uma fotografia,
por exemplo, implica identificar não apenas o objeto fotografado, mas também,
em identificar uma séria de técnicas e de estáticas utilizadas pelo fotógrafo.

25
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existe uma norma da ABNT que propõem etapas para realizar a análise
documentária.

• A análise documentária pode ser realizada a partir dos seguintes


questionamentos:
a) Qual o assunto de que trata o documento?
b) Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses?
c) O assunto contém uma ação, processo ou operação?
d) O documento trata do agente desta ação?
e) O documento se refere a métodos, técnicas especiais?
f) Há um contexto local ou um ambiente especial na discussão?
g) O assunto foi considerado de um ponto de vista interdisciplinar?

• As imagens também podem ser indexadas e que para isso é necessário levar
em conta a denotação e a conotação que imagem oferece. Também é possível
responder a perguntas específicas, que possibilitam maior uniformidade no
resultado da indexação. Estas perguntas são: Quem? Onde? Quando? O que?
Como?

• Existem recursos técnicos a serem levantados no momento da análise de


imagens. Eles são: efeitos especiais, ótica, tempo de exposição, luminosidade,
enquadramento, posição da câmera, composição e profundidade de campo.

26
AUTOATIVIDADE

Passemos agora para mais alguns exercícios para melhor compreensão


desta prática. Serão apresentadas algumas imagens e delas, algumas questões
baseadas em todos os critérios apresentados até aqui.

FONTE: <https://abrilveja.files.wordpress.com/2016/09/esportes.
jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453>. Acesso em: 8 maio 2019.

Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?

FONTE: <https://c.pxhere.com/photos/54/61/sunset_sun_sunlight_sunbeam_fireball_
setting_sun_evening_sun_afterglow-918393.jpg!d>. Acesso em: 8 maio 2019.

27
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?

FONTE: <https://static.gazetaonline.com.br/_midias/jpg/2019/02/05/050309_ra_8528-
5989420.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.

Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?

28
4

FONTE: <https://abrilexame.files.wordpress.com/2018/05/2018-05-
01t182503z_1354439875_rc1c4b315590_rtrmadp_3_may-day-france.
jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453>. Acesso em: 8 maio 2019.

Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?

FONTE: <https://certifiedhumanebrasil.org/wp-content/uploads/2016/10/ovelha-pxb-
300x199.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.

Quem?
Onde?
Quando?
Como?
O quê?

29
Efeitos especiais?
Ótica?
Tempo de exposição?
Luminosidade?
Enquadramento?
Posição da câmera?
Composição?
Profundidade de campo?

30
UNIDADE 1
TÓPICO 3
A TRADUÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Cumprida esta etapa de análise documentária das imagens e da seleção
dos conceitos que são extraídos a partir de todos os critérios apresentados
anteriormente, passa-se à tradução para os termos de indexação. Veremos a
importância do uso das linguagens documentárias na indexação na Unidade
2. No entanto, por ora, veremos um exemplo de como este processo se dá na
prática. Tomemos a imagem a seguir, faremos a análise utilizando os mesmos
critérios usados nos exercícios anteriores. A seguir, faremos a tradução de todos
os elementos com a utilização de uma linguagem documentária. Vejamos.

FIGURA 4 – SALA DE AULA

FONTE: <https://www.bastidoresdapoliticapb.com.br/wp-content/uploads/2019/01/sala_de_
aula_vazia2_foto-walla_santos-738x355.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019.

Quem? Não é possível identificar.


Onde? Em uma escola, ou sala de aula.
Quando? Não é possível identificar.
Como? Uma sala de aula vazia, com luz acesa e porta aberta.
O quê? Uma sala de aula, ou, carteiras e cadeiras, ou arquitetura de salas de aula,
ou, iluminação de sala de aula.
Efeitos especiais? Não possui.
Ótica? Não é possível definir.
Tempo de exposição? Não é possível definir.
Luminosidade? Luz artificial.
Enquadramento? Vista parcial de uma sala de aula.

31
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

Posição da câmera? Em diagonal.


Composição? Retrato.
Profundidade de campo? Possui profundidade. No primeiro plano, veem-
se carteiras brancas e cadeiras azuis, ao fundo veem-se a mesa e a cadeira do
professor, ambas em cor branca. Ainda ao fundo, veem-se um quadro branco,
uma porta cinza aberta, uma janela de vidro no alto da parede do lado direito,
parede branca, com detalhes em vermelho.

Ao consultar o vocabulário controlado do INEP, o Thesaurus Brasileiro


de Educação, vemos que os termos de indexação autorizados que melhor
representam estes conceitos são: salas de aula e dependências da escola.

Exploraremos melhor as possibilidades de utilização de vocabulários


controlados mais adiante. Neste momento, o exemplo veio apenas ilustrar todas
as etapas da indexação.

2 INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA
A indexação automática é um “processo estudado pelo campo da ciência
da informação, que investiga a geração, coleta, organização, interpretação,
armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso da informação,
com ênfase particular na aplicação de tecnologias modernas nestas atividades”
(CAPURRO; HJØRLAND, 2007 apud LAPA; CORREA, 2014, p. 59). Em especial
a recuperação da informação dá base para uma das correntes de constituição do
campo da ciência da informação.

Fazem parte da indexação automática operações matemáticas, linguísticas,


de programação que visam à seleção de termos de um dado documento pelo
processamento de seu conteúdo. Há duas formas de se proceder a indexação
automatizada: por extração e por atribuição. Na indexação automática por
extração, os termos não são interpretados por terceiros, são extraídos e ordenados
de acordo com sua frequência em um texto. Já a indexação automática por
atribuição “consiste numa representação temática por meio de termos selecionados
de um vocabulário controlado (tesauro ou lista alfabética), onde um programa de
computador desenvolve para cada termo a ser indexado um “perfil” de palavras
ou expressões (LAPA; CORREA, 2014, p. 60).

Borges e Lima (2015) nos explicam com clareza este cenário hoje permeado
por possibilidades em termos de tecnologias de informação e comunicação e nos
lembram que, mesmo com a inserção de sistemas automático na indexação, ainda
assim a atividade intelectual do indexador não pode ser desconsiderada. Elas
explicam que:

32
TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO

No âmbito das tecnologias para representação da informação,


a indexação automática veio como alternativa para resolver os
problemas da indexação manual, também denominada como
indexação intelectual, desde a década 1950 com os estudos de H.
P. Luhn. Embora a indexação automática possa não apresentar
resultados totalmente satisfatórios, suas soluções podem contribuir
para significativas melhoras no processo de indexação manual.
Soluções estas que almejam realizar automaticamente a extração
inicial de termos (palavras ou expressões) do documento indexado,
deixando para o profissional o trabalho de selecionar aqueles mais
adequados para representar seu conteúdo. Além disso, a técnica
permite a redução da subjetividade, característica inerente à realização
intelectual da atividade (BORGES; LIMA, 2015, p. 50).

Faremos a seguir a transcrição de um longo trecho das mesmas autoras,


em que é possível conhecer o histórico da indexação automática. Segue:

De acordo com os trabalhos de Luhn (1957), e de Baxendale (1958),


registra-se o início das pesquisas sobre indexação automática baseada
em frequência de ocorrência de palavras no texto. Baxendale (1958
apud LANCASTER, 2004) sugere que, em substituição ao processo
que analisa todo o texto, sejam analisados apenas o “tópico frasal”
e as “palavras sugestivas”. Seus estudos demonstraram que era
necessário o processamento apenas da primeira e da última frase de
cada parágrafo, pois, em 85% das vezes, a primeira frase era o tópico
frasal e em 7% dos casos a última frase o era. Considera-se como tópico
frasal a parte do texto que provê o máximo de informações relativas ao
conteúdo do texto.
Ainda no decorre da década de 1950, desenvolveram-se métodos
relativamente simples para a construção de índices a partir de
textos, especialmente utilizando as palavras que ocorrem nos títulos
dos documentos. O Keyword in Context – KWIC (Palavra-chave no
Contexto) foi desenvolvido por H. P. Luhn, em 1959, e corresponde
a um índice rotativo em que cada palavra-chave que aparece nos
títulos dos documentos torna-se uma entrada do índice. O programa
reconhece as palavras que não são palavras-chaves, baseando-se em
uma lista de palavras proibidas, e impede que elas sejam adotadas
na entrada. O Keyword out of Context – KWOC (Palavra-chave fora do
Contexto) é um método semelhante ao KWIC, porém, as palavras-
chave que se tornam pontos de acesso são repetidas fora do contexto,
normalmente destacadas no canto esquerdo da página ou usadas
como cabeçalhos de assunto.
Além do KWIC e do KWOC, podemos citar o Selective Listing in
Combination – SLIC (Listagem Seletiva em Combinação), criado por
J. R. Sharp, em 1966, que organiza a sequência de termos de um
documento em ordem alfabética e elimina as sequências redundantes,
e o método Preserved Context Indexing System – PRECIS, criado pelo
Dr. Derek Austin, em 1968, e que produz o índice impresso baseado
na ordem alfabética e na alteração sistemática de termos para que
ocupem a posição de entrada (LANCASTER, 2004). Outro importante
sistema desenvolvido foi o Nested Phrase Indexing System – NEPHIS
(Sistema de Indexação de Frase Encaixada), criado por T. C. Craven,
em 1977, e corresponde a um índice articulado de assunto.

33
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

De acordo com Garvin (1969 apud SALTON, 1973) e Salton (1973), já na


década de 1960, percebia-se a intrínseca relação entre processamento
da informação e aspectos linguísticos. Os esforços deviam ser voltados
para estudos das propriedades estruturais e semânticas das línguas
naturais. Contudo, percebe-se que grande parte das metodologias
linguísticas da época geralmente produzia resultados decepcionantes.
Segundo Salton (1970, 1973) e Swanson (1960), a indexação automática
apresenta relativos méritos em relação às técnicas manuais. Os
pesquisadores afirmavam que era possível extrair automaticamente
de textos palavras-chave relevantes, e que, quando estas eram
comparadas com aquelas atribuídas por indexadores, constatava-se
um acordo entre 60 e 80% dos termos atribuídos. A partir da década de
1970, percebe-se uma intensificação das pesquisas na área, destacando-
se dois dos importantes experimentos do período: (1) desempenho
do SRI MEDlars, que operava no National Library of Medicine, em
Washington, e (2) SRI experimental SMART, criado por Gerard Salton
enquanto trabalhava na universidade de Cornell (SALTON, 1973)
(BORGES; LIMA, 2015, p. 50-51).

As formas conhecidas de indexação automática são por extração e por


atribuição.

3 INDEXAÇÃO POR EXTRAÇÃO


Segundo Lancaster (1997, p. 231), “na indexação automática por extração
palavras ou expressões que aparecem num texto são extraídas e utilizadas para
representar o conteúdo do texto como um todo.” Cabe ao bibliotecário indexador
a seleção de expressões no texto que pareçam indicar a íntegra do conteúdo. Há
influência da frequência de ocorrência das palavras e/ou termos no documento
original. A posição dos termos no documento (se está no título, no sumário, na
introdução, legendas, ilustrações) também são indicadores de representatividade.
Textos eletrônicos, muito mais comuns hoje em dia, podem ser submetidos a
programas façam esta seleção. (LANCASTER, 1997). O autor também fala em
uma frequência relativa, onde é necessário um cálculo entre a frequência dos
termos em toda a base de dados, ou seja, em todos os itens indexados. Ele acredita,
portanto, que a indexação por extração deve levar em conta a frequência absoluta
e a frequência relativa de palavras ou a combinação de ambas.

Os sistemas baseados em indexação por extração automática cumprem


as seguintes tarefas: (1) contar palavras num texto; (2) cotejá-las com uma lista
de palavras proibidas; (3) eliminar palavras não significativas; e (4) ordenar as
palavras de acordo com sua frequência. (BORGES; MACULAN; LIMA, 2008)

34
TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO

4 INDEXAÇÃO POR ATRIBUIÇÃO


Ao explicar o que é indexação automática por atribuição, Lancaster (1997,
p. 235) nos lembra que este é o tipo mais comum de indexação realizada por seres
humanos, mas diz que a melhor maneira de executar esta atividade com emprego
de computador é desenvolver um perfil de termos ou palavras que costumam
aparecer com frequência nos “documentos aos quais um indexador humano
atribuiria a este termo. Esse tipo de perfil, para o termo CHUVA ÁCIDA incluiria
expressões como CHUVA ÁCIDA, PRECIPITAÇÃO ÁCIDA, POLUIÇÃO
ATMOSFÉRICA”. Seria uma espécie de vocabulário controlado construído pelo
bibliotecário indexador e utilizado por ele para futuras indexações de documentos
aos quais possam ser atribuídos os mesmos termos.

Borges, Maculan e Lima (2008) atentam para uma questão importante nos
dias atuais: a importância da semântica no processo de indexação automática.
Ou seja, mais do que considerar a incidência de palavras e termos em um texto,
é preciso considerar os significados destas palavras, ou, em última instância, é
preciso que estas palavras representem conceitos.

Traremos mais um extenso excerto de artigo para esta apostila, por


ilustrar perfeitamente o cenário em discussão. Trata-se de mais uma explanação
de Borges, Maculan e Lima (2008). Segue:
A indexação manual vem revelando-se inadequada para minimizar
a subjetividade inerente à indexação, além de ser caracterizada
como um processo relativamente moroso e caro. Vários fatores
podem ser apontados como causa deste problema. O conhecimento
que o indexador tem sobre o assunto indexado determina o
grau de consistência atingido. Tem-se, ainda, a dinamicidade do
conhecimento, que exige do indexador permanente atualização. Outro
aspecto a considerar, segundo Borko (1977 apud GUEDES, 1994),
refere-se à inconsistência interindexadores (diferentes indexadores
atribuindo diferentes termos-índice a um mesmo conceito/documento)
e intraindexador (o mesmo indexador atribuindo diferentes termos-
índice a um mesmo conceito/documento, em diferentes momentos).
A possibilidade de o indexador não dominar o idioma do documento
também é um. Todos os problemas enumerados impulsionaram as
pesquisas no campo da indexação automática, tornando-o bastante
abordado pelos pesquisadores da Ciência da Informação. Alguns dos
resultados dessas investigações apontam alternativas que podem trazer
soluções interessantes para a área, sobretudo em ambientes digitais.
Segundo Robredo (1982), o processo de indexação automática é similar
ao processo de leitura-memorização humano, sendo seu princípio
geral baseado na comparação de cada palavra do texto com uma
relação de palavras vazias de significado, previamente estabelecida,
que conduz, por eliminação, a considerar as palavras restantes do
texto como palavras significativas. Ao ler um texto, não interessam,
ao indivíduo, as letras, mas a ideia (sic) que elas representam quando
organizadas em palavras ou em conjuntos de palavras. O olho, janela
do cérebro, reconhece as palavras significativas e suas associações
fixando-se nelas um tempo necessário para assegurar a memorização
das ideias, pulando, praticamente, as palavras não significativas
(ROBREDO, 1982).

35
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

Pode-se separar o processo de memorização humana em duas etapas


principais: (1) memorização temporária e inconsciente, nessa etapa
há a conservação das palavras significativas passando por uma
modificação ou aperfeiçoamento das mesmas a partir da detecção de
novos conceitos significativos; e (2) memorização permanente dos
conceitos assim trabalhados, à qual se atribui o nome de memória.
Depois de ocorridas as duas etapas, tem-se, no fim do processo, a
fixação na memória de uma série de palavras-conceitos-descritores
que representam as ideias (sic) básicas do documento que acabamos
de ler (BORGES; MACULAN; LIMA, 2008, p. 183-184).

Ao se atribuir a atividade de indexação a sistemas automáticos, é preciso


levar em conta que a semântica deve ser mantida, ou, ao menos, considerada.
A seleção dos conceitos, por exemplo, deve ser levada em conta para uma
representação mais adequada dos conteúdos.

Nesta unidade foi possível conhecer definições de indexação, compreender


seus princípios e etapas e, principalmente, verificar que esta atividade não é simples
como folhear um livro e buscar, aleatoriamente, termos que estejam contidos em
seu conteúdo. Mais que isso, é necessário extrair, selecionar conceitos e traduzi-
los de forma que possam alimentar o sistema de informação e, principalmente, de
maneira que permita a recuperação da informação.

Também foi possível realizar alguns exercícios iniciais que apontaram


para o uso de algumas técnicas de análise documentária e de indexação que
visam a minimizar questões subjetivas e interpretativas.

Na próxima unidade, conheceremos as políticas de indexação e veremos


o quão importante é o estabelecimento de diretrizes que orientem o trabalho
do bibliotecário indexador. Veremos como as linguagens documentárias se
relacionam com essas políticas, bem como a importância do conhecer e utilizar
vocabulários controlados.

36
TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

37
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

38
TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO

39
UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO

FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/372910/mod_resource/content/1/Norma%20
Brasilena%20Indizacion%20Isidoro%20Gil%20Leiva.pdf>. Acesso em: 20 maio 2019.

40
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A indexação também pode ser automática.

• A indexação automática pode se dar por extração ou por atribuição.

• A indexação por extração é aquela em que os termos de indexação são


retirados do texto, ou seja, são construídos a partir de palavras que aparecem
no documento original.

• A indexação por atribuição é aquela que deve levar em conta os significados


das palavras no documento original, e não apenas a incidência delas no texto.

41
AUTOATIVIDADE

1 Analise os textos a seguir e atribua a eles termos de indexação a partir da


indexação por extração:

a) As bibliotecas digitais se impõem como um fenômeno que pode vir a


minorar alguns dos problemas enfrentados pelos que pretendem resolver
suas necessidades de informação por meio do contexto digital. Entretanto,
não dispensam a existência das bibliotecas tradicionais, que ao que tudo
indica ainda terão uma longa vida pela frente, até porque para estas se
vislumbra, há algum tempo, inclusive, a função de permitir o acesso a
bibliotecas digitais, para aqueles usuários que não teriam condição de fazê-
lo, de outra forma. As bibliotecas digitais têm muito a aprender com as
bibliotecas tradicionais, dada a longa experiência acumulada por estas em
todas as questões que dizem respeito à criação, organização e manutenção
de conjuntos de estoques de informação: seleção, organização e tratamento,
análise de consultas, desenvolvimento de estratégias de busca, realização
de buscas, disseminação. O tratamento da informação, por conseguinte,
continua necessário no contexto digital, mas depende de uma melhor
definição da natureza e das características dos vários tipos de bibliotecas
digitais, para que possa ser feito com eficácia e com eficiência. Ao contrário,
o que ocorre no momento é uma tendência a tratar a biblioteca digital
como um fenômeno único, abrangente, a que se poderia aplicar processos
genéricos que servissem para resolver todas as questões automaticamente,
bem ao estilo de muito do que se faz no contexto digital, neste momento.
Mas novos desafios se apresentam para o tratamento da informação, como
a questão linguística (sic), amplificados pelas facilidades de comunicação
trazidas pelo contexto digital (DIAS, 2001).

b) O emprego de aditivos químicos é, sem dúvida, um dos mais polêmicos


avanços alcançados pela indústria de alimentos. Os corantes artificiais
pertencem a uma dessas classes de aditivos alimentares e têm sido objeto de
muitas críticas, já que seu uso em muitos alimentos justifica-se apenas por
questões de hábitos alimentares. Ainda existem diferentes opiniões quanto
à inocuidade dos diversos corantes artificiais. Visando, principalmente, o
controle no uso dos corantes sintéticos, mas tendo em vista que produtos
coloridos artificialmente são exportados e importados, a análise desses
aditivos requer métodos eficientes e rápidos para a detecção, identificação
e quantificação. A cromatografia em papel e em camada delgada, apesar de
serem técnicas relativamente rápidas, apresentam dados com baixa exatidão
e precisão. Já na cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) as maiores
dificuldades encontram-se nas etapas de extração, mas principalmente no
alto custo do equipamento. A eletroforese capilar apresenta os mesmos
problemas da CLAE, aliados ao fato de se tratar de uma técnica relativamente
recente para a análise desse tipo de substância e, portanto, existem poucos
estudos acerca da determinação e quantificação (PRADO; GODOY, 2003)
42
2 Analise o texto a seguir e atribua a ele termos de indexação, a partir da
indexação por atribuição:

No dia 12 de maio comemora-se mundialmente o Dia do Enfermeiro, em


homenagem a Florence Nightingale, um marco da enfermagem que nasceu em
12 de maio de 1820. Também comemoramos no Brasil, no dia 20 de maio, o dia
Nacional dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem, em memória do falecimento
de Ana Neri em 20 de maio de 1880. Maio é o mês das Mães e nada mais justo
do que falar sobre estas duas mulheres tão valorosas, que foram mães de muitos
soldados feridos e prestar uma singela homenagem a todos os enfermeiros (as)
que se entregam de corpo e alma a esta nobre tarefa de cuidar de nossa saúde.
Florence Nightingale – A Dama da Lâmpada – Nasceu em 12 de maio de 1820,
em Florença, Itália. Em 1845, em Roma, no desejo de tornar-se enfermeira,
estudou as atividades das Irmandades Católicas e, em 1849, decidiu trabalhar
em Kaiserswert, Alemanha, entre as diaconisas. Em 1854 foi enfermeira de
guerra e, durante os combates, os soldados fizeram de Florence o seu anjo da
guarda, pois de lanterna na mão percorria as enfermarias dos acampamentos,
atendendo aos soldados doentes. Por este motivo ela ficou conhecida
mundialmente como A Dama da Lâmpada. Ao retornar da guerra em 1856,
recebeu um prêmio em dinheiro do governo inglês em reconhecimento ao seu
trabalho. Ela usou este dinheiro e deu início à Primeira Escola de Enfermagem,
fundada no Hospital Saint Thomas, em 1859.
Ana Néri nasceu em 13 de dezembro de 1814, na cidade de Cachoeira, na
Bahia. Em 1864, quando seus dois filhos foram convocados para a Guerra
do Paraguai (1864-1870), ela não resistiu à separação da família e colocou-
se à disposição do governo para ir à guerra, sendo considerada a primeira
enfermeira voluntária do Brasil. O seu nome foi dado à primeira Escola de
Enfermagem oficializada pelo Governo Federal, em 1923. Ana Néri faleceu no
Rio de Janeiro, em 20 de maio de 1880.
Origem da profissão
Desde antes de Cristo que a profissão de enfermeiro já era conhecida, mesmo
sem ter este nome. Eram aqueles homens e mulheres abnegados que cuidavam
dos doentes, idosos e deficientes, garantindo a sua sobrevivência. Com o tempo,
estes cuidados de saúde evoluíram e, entre os séculos V e VIII, a Enfermagem
surgiu entre os religiosos, como um sacerdócio. No século XVI, a Enfermagem
já começa a ser vista como uma atividade profissional institucionalizada e, no
século XIX, como Enfermagem moderna na Inglaterra.
A partir daí, foram definidos padrões para a profissão e a ANA (American
Nurses Association) definiu que o objetivo principal do trabalho de Enfermagem
é o de cuidar dos problemas de saúde, educar para saúde, ter habilidades em
prever doenças e o cuidado do paciente.
A palavra Enfermeira/o se compõe de duas palavras do latim: “nutrix”, que
significa mãe, e do verbo “nutrire”, que tem como significados criar e nutrir.
Essas palavras, adaptadas ao inglês durante o século XIX, se transformaram
na palavra Nurse que significa Enfermeira. Como vemos, a palavra “mãe” está
presente até na formação do nome da profissão destes heróis da saúde, que
muitas vezes nos acompanham desde o nosso nascimento até a nossa morte,
como verdadeiros anjos guardiões (PEZZA, 2011).
43
44
UNIDADE 2

POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender limites conceituais e relevância da política de indexação;

• perceber a necessidade da elaboração de políticas de indexação em unida-


des de informação, pois podem se tornar importantes instrumentos que
minimizam as subjetividades inerentes à indexação;

• estabelecer diferenciações entre linguagem natural e linguagem docu-


mentária;

• estabelecer relações entre as LDs e as políticas de indexação;

• perceber que existem elementos mínimos formadores de uma política de


indexação, mas que este documento pode ser flexibilizado para atender a
demandas específicas de diferentes unidades de informação.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DA pOLÍTICA DE INDEXAÇÃO

TÓPICO 2 – LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA

TÓPICO 3 – ELABORAÇÃO DE POLÍTICA DE INDEXAÇÃO

45
46
UNIDADE 2
TÓPICO 1

FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
As políticas de indexação são instrumentos que definem diretrizes a
serem adotadas pelos bibliotecários no desenvolvimento de suas atividades de
indexação. Elas devem levar em conta as características dos itens componentes
dos acervos, mas também, e especialmente, o perfil da comunidade usuária deste
acervo.

Já vimos anteriormente que a indexação é uma atividade de cunho técnico,


temático, e, está estreitamente relacionada à recuperação das informações. Uma
política de indexação, no entanto, transcende a técnica e pode ser considerada
um instrumento de gestão de unidades de informação. Isto porque ela direciona
trabalhos que serão desenvolvidos por parte da equipe bibliotecária. Por se tratar
de um texto que oficializa um conjunto de ações, deve ser formulado com a
participação de bibliotecários indexadores e de bibliotecários de outros setores,
especialmente, dos setores de referência e atendimento, pois nestes setores
podem ser detectadas dificuldades relatadas pelos usuários quando da busca por
informação, especialmente, nos catálogos da unidade de informação.

Neste tópico, serão apresentados os fundamentos das políticas de


indexação e será ressaltada sua relevância enquanto instrumento de gestão de
unidades de informação, e enquanto necessidade técnica. Veremos que uma
política de indexação deve estar relacionada a tomadas de decisões que são
relacionadas especificamente às características do público usuário e à capacidade
ofertada a este público de recuperação de informação. Também será possível
compreender que estabelecer uma política de indexação é pensar estratégias e
critérios para que o sistema de informação desenvolva bem suas atividades de
representação temática e, consequentemente, de recuperação da informação. Para
além da política em si, daremos destaque para o uso de linguagens documentárias,
uma vez que também são facilitadoras do trabalho de indexação.

2 POLÍTICA DE INDEXAÇÃO PARA UNIDADES DE


INFORMAÇÃO
As autoras Fujita e Rubi (2006) entendem que a indexação é uma das
atividades mais importantes dentro de um rol de outras atividades desenvolvidas
em sistemas de informação, dada sua natureza de permitir a recuperação das
informações. Vejamos:
47
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

A política de indexação dentro de um sistema de informação deve ser


entendida como uma filosofia pertinente aos objetivos de recuperação
da informação e não somente como uma lista de procedimentos a
serem seguidos durante a realização da indexação. Isso nos leva a
refletir sobre a indexação não somente do ponto de vista do processo,
da operação técnica, mas sim da biblioteca como uma organização, pois
a tarefa da indexação só terá sentido uma vez norteada e respaldada
por essa filosofia. Dessa maneira, estaremos inserindo a indexação no
contexto administrativo da biblioteca e não a relegando a um contexto
meramente de cunho técnico, dessa maneira, valorizando-a.
Os sistemas de informação são compostos por partes interligadas
(inserção de documentos, classificação, catalogação, indexação etc.)
com objetivo comum de disponibilizar a informação da melhor maneira
possível. Nota-se, portanto, que a indexação e, por conseguinte, sua
política, é uma das partes desses sistemas e, como tal, deve integrar
também o planejamento global dos sistemas de informação como um
parâmetro de sua administração no contexto gerencial.
Sob o ponto de vista do sistema de recuperação da informação, a
indexação é reconhecida com sua parte mais importante dentro dos
procedimentos realizados para o tratamento da informação, pois
condiciona os resultados das estratégias de busca. Nesse contexto, o
indexador tem como função compreender o documento ao realizar
uma análise conceitual que represente adequadamente seu conteúdo,
de modo que ocorra correspondência entre o índice e o assunto
pesquisado pelo usuário. Para isso, existem os manuais de indexação
que devem refletir a política de indexação do sistema de informação
e a realidade de trabalho do indexador (FUJITA; RUBI, 2006, p. 49).

A indexação é uma atividade de cunho técnico, que deve ser desenvolvida


em várias etapas em que decisões importantes devem ser tomadas. Estas decisões
são relacionadas especificamente às características do público usuário e capacidade
ofertada a este público de recuperação de informação. Este conjunto de decisões
devem estar previstas na política de indexação das unidades de informação. Ou,
seja, uma política de indexação reúne diretrizes administrativas de ações a serem
instituídas e aplicadas por unidades de informação. Os âmbitos que norteiam
este documento são: o contexto em que está inserida uma unidade, seu público,
e sua infraestrutura (a existente e a que se almeja). Rubi (2012) lembra que a
atividade de indexação em si é pouco valorizada, não sendo considerada uma
atividade complexa, mas o é, como vimos na Unidade 1 deste curso. O fato de
a própria indexação não ter visibilidade faz com que as políticas aplicadas a ela
também não sejam consideradas relevantes. Veremos nesta unidade o quanto de
equívoco há nestas afirmações. Fujita (2003), citada por Rubi (2012), afirma que a
política de indexação está inserida em dois contextos:

a) Sociocognitivo do indexador: a política de indexação, as regras e os


procedimentos do manual de indexação, a linguagem documentária
para representação e mediação da linguagem do usuário e os
interesses de busca dos usuários:
b) Físico de trabalho do indexador e dos gerentes – o sistema de
informação (p. 109).

48
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO

Passemos a uma análise do proposto por Fujita (2003), citado por Rubi
(2012). No que tange ao contexto sociocognitivo do indexador, pode-se inferir
que uma política destinada à indexação deve apresentar normas para a realização
da indexação (exaustividade, especificidade, consistência, revocação, adequação
etc.). Desta forma, garante-se a uniformização dos trabalhos desenvolvidos pelos
indexadores. Também deve compreender o uso de linguagens documentárias
que equalizem, por um lado as subjetividades presentes no momento da
tradução realizada pelo indexador e, por outro lado, permite compartilhamento
de informações técnicas produzidas no âmbito da indexação. É importante
lembrar que estas linguagens documentárias são tesauros, listas de descritores,
listas de cabeçalhos de assuntos, sistemas de classificação (que, embora não
tenham originalmente a intenção de indexar, organizarem de forma lógica
assunto bibliográficos, elas podem nortear o trabalho do indexador no sentido
de padronizar termos de indexação). Por fim, é preciso considerar o perfil da
comunidade usuária. Uma biblioteca escolar terá, certamente, a decisão de
trabalhar com indexação menos exaustiva que uma biblioteca especializada. E
isto nada tem a ver com maior ou menor capacidade cognitiva dos usuários em
buscar as informações, mas sim, com as necessidades de informação que eles
apresentam.

Já o segundo contexto considerado importante pela pesquisadora, qual


seja, o físico, considera os recursos que estão à disposição do indexador dentro
da unidade de informação: ambiente físico, tecnologias, softwares, recursos
financeiros destinados à compra ou assinatura de linguagens documentárias,
entre outros.

Muitos foram os trabalhos a respeito das políticas de indexação


desenvolvidos na segunda metade do século XX. Lancaster (1968) e Fosket (1973)
são os clássicos. O primeiro autor lembra que, além da exaustividade na indexação,
o principal aspecto para o desenvolvimento de uma boa política seria a qualidade
dos documentos adquiridos para tal. Já o segundo autor acredita na capacidade
da consulta a esmo (ou seja, a indexação deve apresentar boa recuperação de
informação, revelando a estrutura temática que organiza o sistema), na garantia
literária (a indexação deve, de fato, representar o conteúdo do documento), e
na formação do indexador (o bibliotecário que se dedica à indexação deve ter
aperfeiçoamentos constantes em sua área prática, mas também nas áreas dos
assuntos dos documentos que indexa) (RUBI, 2012; GUIMARÃES, 2000). A
respeito desta última observação, é necessário compreender que, atualmente, as
unidades de informação, com exceção às bibliotecas especializadas ou especiais,
possuem acervos bastante diversificados em termos de assuntos, o que tornaria
difícil a especialização do bibliotecário em todos os assuntos, ou, em última
instância, em todas as áreas do conhecimento humano. É justamente o uso de
linguagens documentárias que pode facilitar o trabalho de indexação, mesmo que
o bibliotecário não seja especialista no assunto que indexa. Vejamos um rápido
exemplo:

49
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

1) Imaginemos um indexador realizando a análise documentária de um dado


livro. Ele atua numa biblioteca universitária que atende a diversos cursos da
área de Ciências Humanas, inclusive cursos de licenciatura e pedagogia, em
suas diversas habilitações.
2) Ao fazer a leitura técnica da introdução, do sumário, das orelhas e demais
elementos pré-textuais deste livro, ele constata tratar-se de um livro sobre o
tema AFASIA.
3) O indexador tem conhecimento de que se trata de uma patologia. Sabe também
que esta patologia pode ser indexada tanto no campo da medicina, como no
campo da educação. Há aí a necessidade de uma tomada de decisão: indexar e
classificar sob medicina ou educação?
4) O passo seguinte que cabe ao indexador: olhar ao público a quem atende, no
caso de nosso exemplo, alunos de cursos de licenciatura em diversas áreas das
ciências humanas e pedagogia. Neste momento, entende que a comunidade
usuária a quem atende apresenta maiores chances de tratar do tema do ponto
de vista da Educação.
5) Em seguida, revisita os elementos chave do próprio livro para fazer nova coleta
de termos importantes à representação temática dele. E, obviamente, para se
certificar de que a escolha acima é a mais acertada. Encontra então, os seguintes
termos:
• lesões centrais da afasia;
• práticas de letramento e afasia;
• domínio da escrita e afasia;
• linguagem e afasia.
6) De posse dos temas centrais do livro, o indexador, que não é especialista em
educação, busca auxílio em uma linguagem documentária para traduzir estes
conteúdos em uma linguagem de Indexação. É política desta biblioteca utilizar
o Thesaurus Brasileiro da Educação, disponibilizado on-line e gratuitamente
pelo INEP.
7) Na consulta, o bibliotecário tem acesso às seguintes informações:

Afasia  (TG: Distúrbios da Linguagem)


Conceituações: "Deficiência que, sem comprometer a capacidade intelectual,
altera a compreensão ou a produção da linguagem, devido a lesões cerebrais
ou a traumatismos." (cf. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Serviço de
estatística educacional. Cuiabá: SEC/MT; Rio de Janeiro: FENAME, 1981. 144 p.).

8) Estas informações, confrontadas com os termos elencados pelo bibliotecário


no passo 5 de nosso exemplo, dão a ele a certeza de que educação é o sistema
nocional a que pertence o tema Afasia neste livro.
9) Cabe ao bibliotecário, enfim, proceder a tradução.

50
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO

TUROS
ESTUDOS FU

Falaremos a respeito mais adiante. Por hora, cumpre-nos explicar que um sistema
nocional é um sistema linguístico que reúne noções de um dado campo do conhecimento.

Para além deste exemplo, é sempre importante lembrar que a experiência


de atuação do bibliotecário numa determinada área, dá a ele condições de
se familiarizar, dia a dia, com os termos especializados desta mesma área.
Vejamos agora como Fujita (2012, p. 17) relaciona a política de indexação com a
representação e a recuperação da informação:

A política de indexação não deve ser vista como uma lista de


procedimentos a serem seguidos, e sim um conjunto de decisões que
esclareçam os interesses e objetivos de um sistema de informação e,
particularmente, do sistema de recuperação da informação. A política
decide não só sobre a consistência dos procedimentos de indexação
em relação aos efeitos que se necessita obter na recuperação, mas
principalmente, sobre a delimitação de cobertura temática em níveis
quantitativos e qualitativos tendo em vista os domínios de assuntos
e as demandas dos usuários. Isso nos leva a pensar sobre a indexação
do ponto de vista gerencial e estratégico no contexto de unidades de
informação, haja vista ter efeitos na entrada e na saída das informações
do sistema (FUJITA, 2012, p. 17).

Estabelecer uma política de indexação é pensar estratégias e critérios para


que o sistema de informação desenvolva bem suas atividades de representação
temática e, consequentemente, de recuperação da informação.

51
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico você aprendeu que:

• A indexação é uma atividade de cunho técnico, que deve ser desenvolvida em


várias etapas em que decisões importantes devem ser tomadas. Estas decisões
são relacionadas especificamente às características do público usuário e à
capacidade ofertada a este público de recuperação de informação. Este conjunto
de decisões devem estar previstas na política de indexação das unidades de
informação.

• Estabelecer uma política de indexação é pensar estratégias e critérios para que


o sistema de informação desenvolva bem suas atividades de representação
temática e, consequentemente, de recuperação da informação.

• O uso de linguagens documentárias pode facilitar o trabalho de indexação,


mesmo que o bibliotecário não seja especialista no assunto que indexa.

52
AUTOATIVIDADE

Responda às questões a seguir:

1 Quais são as principais características de uma política de indexação?

2 Que relações você consegue estabelecer entre a política de indexação e


o uso de linguagens documentárias (ou vocabulários controlados) pelo
bibliotecário responsável pela indexação em uma unidade de informação?

3 Escreva sobre o processo sociocognitivo do indexador.

53
54
UNIDADE 2 TÓPICO 2
LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM
DOCUMENTÁRIA

1 INTRODUÇÃO
A biblioteconomia tem, entre muitas responsabilidades, a função de
formar profissionais que desenvolvam competências e habilidade de organizar
a informação. Para além de organizar livros, organizar informação. Organizar
informação significa analisar, reconhecer, selecionar, descrever e representar
itens dos acervos de unidade de informação para que eles, os itens, possam ser
armazenados fisicamente de maneira sistematizada, e, especialmente, para que
sejam encontrados rapidamente pelo bibliotecário e pelo usuário. No entanto,
antes deste acesso aos conteúdos de um item, o usuário deve ter acesso a
informações técnicas que representem suas características descritivas e temáticas.
Ou seja, ao consultar um catálogo (ou índice) em uma biblioteca, ele deve ter
acesso a tantas informações técnicas.

As linguagens documentárias são ferramentas auxiliares aos bibliotecários


que tendem a facilitar a identificação dos conceitos e dos conteúdos dos itens
de um acervo, mesmo que estes conteúdos não sejam sua área de especialidade.
Por exemplo: um bibliotecário que atua em uma biblioteca especializada nas
ciências da saúde pode ter dificuldades de, apenas por intuição ou técnica,
identificar os principais assuntos tratados em um dado livro, a ponto de indexá-
lo de forma inadequada, o que acarretaria na sua não recuperação. O uso de uma
LD especializada em ciências da saúde pode lhe mostrar possibilidades mais
adequadas para esta representação.

Neste tópico veremos que as LD’s são instrumentos através dos quais se
realiza a representação dos conteúdos dos livros. Também aprenderemos que elas
são sistemas de comunicação construídos para fins de tratamento documentário e
que elas são baseadas em sistemas nocionais específicos. E, por fim, destacaremos
sua importância para a indexação e que, por isso, uma política de indexação deve
indicar seu uso de acordo com as características dos usuários.

2 O QUE SÃO LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS?


Ao consultar um catálogo, do ponto de vista descritivo, a seleção do
material que o usuário decidirá utilizar se dará a partir de informações físicas
do documento, tais como: autor, título, editora, edição, número de páginas,
presença de ilustrações, tabelas ou quadros, anos de publicação e todas as outras
55
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

que possam dar ao usuário indícios de que aquele material responde às suas
demandas informacionais. A este conjunto de informações técnicas chamamos
representação descritiva ou catalogação. A catalogação, como toda atividade
técnica, é regida por um conjunto de regras e normas que padronizam o trabalho
desenvolvido pelo bibliotecário. Estas normas são encontradas no Anglo-American
Cataloguin Rules, segunda edição (AACR2) – ou, Código de Catalogação Anglo-
americana, segunda edição.

No âmbito da representação temática, que visa à representação não


mais das características físicas, mas das características de conteúdo dos acervos,
essas normas também existem e estão dispostas nos códigos de classificação
bibliográfica, como é o caso dos dois sistemas mais utilizados no mundo,
Classificação Decimal de Dewey (CDD), e Classificação Decimal Universal (CDU)
e dos vocabulários controlados, como tesauros. Os sistemas de classificação
bibliográfica representam a partir de códigos os conteúdos pertinentes ao
conhecimento humano, o resultado da classificação permite que itens que tratam
de assuntos semelhantes fiquem dispostos lado a lado, organizados por assunto.

Já os tesauros auxiliam o bibliotecário/indexador a selecionar termos que


melhor representem os conteúdos registrados nos livros e em outros suportes
de informação, respeitando seus significados. O intuito é a utilização de termos
que venham a coincidir com termos usados pelo usuário quando da busca por
informação em um catálogo ou índice de biblioteca. Para tanto, estas ferramentas,
especialmente os tesauros, devem ser elaborados a partir de vastas pesquisas
conceituais e linguísticas nas áreas que pretendem representar.

Exemplo: imaginemos a criação de um tesauro que represente a área da


medicina veterinária. Ou seja, um conjunto de possibilidades que auxiliam o
bibliotecário que atue em unidades de informação, cujo acervo seja, em grande
parte, especializado nesta área. No entanto, o bibliotecário não é especializado em
tal área, como não o é em todas as outras que não a própria biblioteconomia. Não
ser especialista em uma determinada área significa, entre muitas outras coisas, não
conhecer os conceitos (além de técnicas, procedimentos, autores, história etc.) desta
área. Por isso, é provável que ele tenha dúvidas quando da indexação. Isso porque a
indexação é uma prática em que o profissional vai, fatalmente, ter de estabelecer os
assuntos exatos de que tratam os itens do acervo, além de representá-lo utilizando
termos específicos desta mesma área que ele não conhece). É claro que o próprio
item oferece dados importantes ao bibliotecário, como já vimos na Unidade 1, mas,
nem sempre o item e o conhecimento do bibliotecário sobre o tema serão suficientes
para que proceda adequadamente a indexação. É nesta hora que ele deve lançar
mão do auxílio de ferramentas que ajudem nesta representação.

Estas ferramentas (tesauros, códigos de classificação) são todas


consideradas linguagens documentárias. Ou seja, um conjunto linguístico
construído com uma única finalidade de ser utilizada no âmbito do tratamento
documental, ou seja, com a finalidade de serem utilizadas em bibliotecas e demais
unidade de informação no tratamento temático.

56
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA

As linguagens documentárias se diferem da linguagem natural (a que


usamos cotidianamente) exatamente porque elas são construídas para fins
técnicos. Essa construção envolve a participação de profissionais diversos e de
especialidades diferentes. No caso do exemplo acima, de um tesauro de medicina
veterinária, ele, certamente seria elaborado a partir do trabalho de profissionais
como: bibliotecários, médicos veterinários, linguistas, cientistas da computação,
cientistas da informação, entre outros.

A leitura que segue mostra as diferenças essenciais entre a linguagem


natural e a linguagem documentária.

57
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

O texto que segue, foi extraído de Cintra et al. (2002) e expressa uma das
melhores explanações a respeito de linguagens documentárias, suas diferenças
em relação à linguagem natural, além da importância de sua compreensão para
a indexação. Trata-se de parte do Capítulo 2 do livro Para entender as linguagens
documentárias. Vejamos:

LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA
NATUREZA, ESPECIFICIDADE E FUNÇÕES

Um rápido retrospecto sobre a área mostra que nas décadas de 50 e 60,


com o crescimento do conhecimento científico e tecnológico, houve dificuldades
para armazenar e recuperar informações. A solução foi encontrada com uma
mudança do enfoque e da conceituação da recuperação da informação. Com
efeito, foi abandonada a perspectiva preferencial de recuperação bibliográfica e
normalização classificatória e descritiva, buscando-se a construção de linguagens
próprias.
Vem desta época a utilização de Linguagens Documentárias – LDs –
para a recuperação da informação. Essas linguagens são, pois, construídas para
indexação, armazenamento e recuperação da informação e correspondem a
sistemas de símbolos, destinadas a "traduzir" os conteúdos dos documentos.
Como decorrência desta mudança de conceituação da área, houve grande
concentração em estudos de Linguística, de Estatística, em especial com vistas à
automação do tratamento da informação.
Com os estudos da Linguística esperava-se resolver problemas de
vocabulário, tendo em vista a construção de instrumentos mais adequados.
Estes estudos levaram a análise de conteúdo da Linguagem Natural – LN, a
buscas de métodos de padronização relativos à passagem da LN para a LD, ao
estabelecimento de mecanismos para a estruturação de campos semânticos, de
campos associativos e de categorias funcionais.
A Estatística, por sua vez, foi tomada como instrumento de apoio, tendo
em vista determinar frequências de descritores, mapeamento de ocorrências,
análise de citações, o que levou ao desenvolvimento da bibliometria.
Dentre os vários produtos da sistematização desses estudos surgiram os
tesauros, construídos em função de campos semânticos. Com efeito, dentro do
amplo universo da linguagem, as LDs possuem um status muito particular: através
delas pode-se representar, de maneira sintética, as informações materializadas
nos textos.
Tal como a LN, as LDs são sistemas simbólicos instituídos, que visam
facilitar a comunicação. Sua função comunicativa, entretanto, é restrita a contextos
documentários, ou seja, as LDs devem tornar possível a comunicação usuário-
sistema.
Grande parte das discussões teóricas sobre LDs inserem-se no âmbito
da Análise Documentária que, por sua vez, se define como uma atividade
metodológica específica no interior da Documentação, que trata da análise, síntese
e representação da informação, com o objetivo de recuperá-la e disseminá-la.
58
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA

Nesse contexto, as LDs são, pois, instrumentos intermediários, ou


instrumentos de comutação, através dos quais se realiza a "tradução" da síntese
dos textos e das perguntas dos usuários. Esta "tradução" é feita em unidades
informacionais ou conjunto de unidades aptas a integrar sistemas documentários.
A formalização das perguntas dos usuários é feita em linguagem do próprio
sistema. É por esta razão que as LDs podem ser concebidas como instrumentos
de comunicação documentária.
Mas, diferentemente da LN, o sistema de relações das LDs não é virtual,
bem como seus mecanismos de articulação são extremamente precários, face
àqueles existentes nas línguas, em geral. Bem ao contrário, elementos dessa
linguagem específica são selecionados de universos determinados e seu sistema
de relações é construído, sendo indispensável, para utilizá-la, a existência de
regras explícitas. Por esse motivo, as LDs são linguagens construídas.
Cada LD específica representa, por outro lado, um ponto de vista
particular sobre a realidade. Como sistema de relações construído, o significado
de cada um de seus elementos vai estar diretamente subordinado às definições
correspondentes aos elementos colocados nas posições superiores do sistema.
Segundo Gardin, uma LD é um conjunto de termos, providos ou não de
regras sintáticas, utilizado para representar conteúdos de documentos técnico-
científicos, com fins de classificação ou busca retrospectiva de informações
(GARDIN et al., 1968).
Para o autor, uma LD deve integrar três elementos básicos: – um léxico,
identificado com urna lista de elementos descritores, devidamente filtrados e
depurados; – urna rede paradigmática para traduzir certas relações essenciais
e, geralmente estáveis, entre os descritores. Essa rede, organizada de maneira
lógico-semântica, corresponde a uma organização dos descritores numa forma
que, Lato Sensu, se poderia chamar classificação; e – uma rede sintagmática
destinada a expressar as relações contingentes entre os descritores, relações essas
que só são válidas no contexto particular onde aparecem.
A construção de "sintagmas" é feita através de regras sintáticas destinadas
a coordenar os termos que dão conta do tema. Embora na LN haja diferença
conceitual clara entre léxico, vocabulário, por um lado e nomenclatura e
terminologia, por outro.
Nas LDs, por sua vez, é bastante frequente o uso indiscriminado
destas palavras, o que pode comprometer o próprio conceito de representação
documentária, na medida em que a cada termo deveria corresponder uma função
diferente dentro da linguagem.
Entretanto, cada uma destas palavras remete a conceitos específicos, o
que nos permite dizer que cada uma tem características e funções próprias, fator
suficiente para impedir sua utilização indiscriminada.
Embora mesmo nos estudos das ciências da linguagem haja, eventualmente,
referência a léxico e vocabulário como conjunto de palavras de uma língua ou de
um autor, de uma arte ou de um meio social, a rigor, léxico designa o conjunto
das unidades reais e virtuais que formam a língua de uma comunidade, algo
como um depósito constituído de elementos em estado virtual e de regras que
permitem a construção de novas unidades, necessárias para a atividade humana
da fala.

59
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

Já vocabulário se refere ao conjunto das ocorrências que integram um


determinado corpus discursivo, como uma lista de unidades da fala (DUBOIS
et al., 1973). Assim, pode-se falar no vocabulário que encontramos no trabalho
de Cunha, relativamente às ocorrências registradas nos discursos sobre política
colonial de Adriano Moreira (CUNHA, 1990), ou no vocabulário médico, a partir
de levantamento em determinadas obras médicas, por exemplo.
Em termos de LDs, não faz sentido falar nem em léxico, nem em
vocabulário nas acepções da Linguística, uma vez que esses elementos são
específicos da LN. As LDs, linguagens construídas que são, com finalidades
específicas de representação documentária, não são suficientemente articuladas,
nem se constituem em unidades geradoras de novos elementos.
Também não integram vocabulários propriamente ditos, porque são
formadas de palavras preferenciais, combinando palavras de vocabulários
de determinados domínios e palavras utilizadas pelos usuários. Desta forma,
englobam vários vocabulários, representativos de vários discursos. Assim,
quando a palavra vocabulário se refere a LD, deve ser entendida segundo esta
última acepção, que privilegia urna constituição a partir de origens diferentes.
Uma nomenclatura, por sua vez, como sugere a própria palavra, diz respeito à
ação de chamar algo por seu nome.
Assim, se constituem listas de nomes que supõem biunivocidade na
relação significado-significante (DUBOIS et al., 1973). Talvez se possa melhor
caracterizar uma nomenclatura como etiquetas que designam coisas ou conceitos
pré-existentes, como a nomenclatura da química, por exemplo, na qual,
independentemente de um sistema nocional particular, algo se chama ouro,
nitrogênio ou potássio.
Diferentemente de uma nomenclatura, uma terminologia se refere ao
conjunto de termos de uma área, termos relacionados e definidos rigorosamente
para designar as noções que lhe são úteis (idem ibidem). Assim, por exemplo, a
terminologia da Educação Brasileira pode ser encontrada no Glossário de Termos
em Educação (BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, 1980). Trata-se de um
sistema de termos organizados, estruturados a partir de noções particulares.
É bom lembrar que todo conhecimento técnico-científico se desdobra
num universo de linguagem. A linguagem condiciona o conhecimento objetivo,
determinando os limites de sua formulação (GRANGER, 1974). As linguagens
construídas exigem formulações de sentido rigorosas, à medida que a própria
atividade se encontra subordinada à articulação da linguagem. Desse modo, a
atividade terminológica é parte constitutiva da atividade técnico-científica e diz
respeito, diretamente, a um conjunto de termos organizados.
Todas as definições analisadas anteriormente levam-nos a concluir que as
LDs não se confundem com léxicos, vocabulários, nomenclaturas e terminologias,
embora incorporem elementos de todos eles. É importante que essa diferenciação
seja feita para melhor delimitar suas características face da função que devem
desempenhar na representação da informação documentária.
A representação documentária é obtida através de um processo que se
inicia pela análise do texto, com o objetivo de identificar conteúdos pertinentes
em função das finalidades do sistema – e da representação desses conteúdos –
numa forma sintética, padronizada e unívoca.

60
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA

A síntese e a representação documentárias advindas do processo de


análise, podem apresentar-se, geralmente, sob duas formas: o resumo, que é feito
sem a intermediação de uma LD e o índice, que para maior qualidade, deve ser
elaborado a partir de uma LD determinada.
A operação de tradução de textos em LN para uma LD denomina-se
Indexação. Inerente ao processo de indexação estão operações de classificação.
As várias fases do processo analítico apresentam uma complexidade
considerável, pois não se trata de adquirir os documentos e armazená-los numa
ordem lógica. A documentação é memória, seleção de ideias, reagrupamento de
noções e de conceitos, síntese de dados. Trata-se de triar, de avaliar, de analisar,
de "traduzir", de encontrar respostas para necessidades específicas.
A utilização da LN neste processo leva, seguramente, à incompreensão e
à confusão, devido a fenômenos naturais como a redundância, a ambiguidade, a
polissemia e as variações idioletais.
A condição para se obter resultados positivos na busca de informação
é que a pergunta e a resposta sejam formuladas no mesmo sistema. Assim,
é necessário realizar a tradução de uma pergunta feita em LN, para o sistema
em que foi traduzido o conteúdo do documento, isto é, numa LD unívoca por
excelência.
Dito de outro modo, uma LD é utilizada na entrada do sistema, quando o
documento é analisado para registro. Seu conteúdo é identificado e "traduzido",
de acordo com os termos da LD utilizada e segundo a política de indexação
estabelecida. É da mesma forma utilizado à saída do sistema, quando, a partir da
solicitação da informação pelo usuário, é feita a representação para busca. Assim,
seu pedido é analisado, seu conteúdo identificado e devidamente "traduzido" nos
termos da LD utilizada.
Para realizar tais funções de intermediação, as LDs devem ser construídas
de tal forma que seja possível o controle sobre o vocabulário. Tal controle é
necessário para que a cada unidade preferencial integrada numa LD, corresponda
um conceito ou noção. Essa correspondência só é assegurada por intermédio das
terminologias de especialidade.
Vale lembrar que, isoladas, as palavras não têm signifi­cado ou têm todos
os significados possíveis. É só no discurso, ou seja, no uso, que as palavras
assumem significados parti­culares. Como, via de regra, os elementos das LDs
são desvinculados dos contextos onde aparecem, pode-se correr risco de que as
palavras que as integram assumam todos ou nenhum significado. Através das
Terminologias de especialidade, as palavras passam a ser termos, assumindo
significados vinculados a sistemas de conceitos determinados. Confere-se, desse
modo, referência às palavras, que passam a significar, segundo determinados
sistemas nocionais, assegurando interpretações pertinentes.
As LDs mais conhecidas são o tesauro e os sistemas de classificação
documentária (GOMES, 1990). As diferenças entre esses dois tipos de LDs
reside no maior ou menor grau de reprodução das relações presentes na LN e
no universo de conhecimento que pretendem cobrir. Os primeiros sistemas de
classificação bibliográfica conhecidos são de natureza enciclopédica, como a
CDD – Dewey Decimal Classification, a CDU – Classificação Decimal Universal
e a LC – Library of Congress, e visam cobrir todo o espectro do conhecimento.

61
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

Sistemas datados posteriormente, as classificações facetadas desenvolvidas pelo


CRG – Classification Research Group e com base na Colon Classification, de
Ranganathan, visam domínios particulares. Os tesauros, por seu lado, originaram-
se a partir de tais classificações facetadas com uma preocupação adicional: a do
controle do vocabulário.
Historicamente, verifica-se uma contínua progressão das LDs a caminho
da especialização. Consequentemente, abandona-se a pretensão de cobrir todo o
universo do conhecimento para voltar-se a domínios cada vez mais específicos.
Todas as LDs, entretanto, são utilizadas para representar conteúdo dos
textos, mas não os textos eles mesmos. A função de representação deve ser
entendida, neste contexto, como sendo de natureza eminentemente referencial:
as unidades de uma LD devem ser utilizadas como índices relativos a assuntos
tratados nos textos, não tendo, portanto, a função de substituí-los.
Os produtos obtidos através da intermediação das LDs são, desse modo,
generalizantes. Não se representa o texto individual, mas a classe de assunto à
qual ele se refere. A maior ou menor especificidade do assunto a ser representado
depende da maior ou menor correspondência da LD ao sistema nocional dos
domínios de especialidade. Assim, através de um sistema de classificação
enciclopédico, textos muito específicos são classificados em classes de assunto
mais gerais; a representação da especificidade dos assuntos de tais textos
só será possível através de uma LD voltada, especificamente, para o domínio
correspondente.
Os estudos das LDs têm avançado, progressivamente, na direção da
definição dos constituintes e de suas interrelações, gerando várias linguagens, de
acordo com o domínio de especialidade. Isto, por um lado, permitiu que a área
fosse se Liberando do monopólio das classificações universais, mas, por outro,
tem mostrado inúmeros problemas ligados à falta de rigor na construção das
LDs. Tais problemas se referem: à definição do conjunto de termos que comporá
a lista de descritores; à organização dos termos numa mesma rede paradigmática
(árvores classificatórias ou relações verticais) que reunirá tais descritores; ao
estabelecimento da rede sintagmática (relações horizontais entre descritores
e mecanismos de sintaxe) que deverá permitir a agilização da recuperação de
assuntos; à definição das chaves de acesso ao sistema (compatibilização de
linguagem usuário/sistema).

FONTE: CINTRA, Ana Maria et al. Para entender as linguagens documentárias. 2. ed. rev. e
ampl. São Paulo: Polis, 2002. p. 33 – 42.

62
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA

Passemos agora à interpretação de alguns trechos mais relevantes à nossa


discussão.

Trecho 1) Vem desta época a utilização de Linguagens Documentárias –
LDs para a recuperação da informação. Essas linguagens são, pois, construídas
para indexação, armazenamento e recuperação da informação e correspondem
a sistemas de símbolos, destinadas a "traduzir" os conteúdos dos documentos
(CINTRA et al., 2002, p. 33).

As décadas de 1950 e 1960, no âmbito da Biblioteconomia e da Ciência


da Informação brasileiras foram bastante intensas. Vínhamos de um período
marcado por uma intensa produção científica, resultante do pós-guerra (em
1945), fenômeno este que ficaria conhecido como explosão da informação.

Ocorre que a própria guerra, este cenário social lamentável se observado


a partir de qualquer ângulo, estimula um contexto de produção de tecnologias
especialmente aplicada à indústria bélica. Essas novas tecnologias surgem a
partir de pesquisas que demandam grandes quantidades de informação. Além
disso, novas informações passam a ser produzidas para comunicar à comunidade
científica as novas descobertas. Também datam deste período histórico a criação
de algumas tecnologias de comunicação e informação que, mais tarde, dariam
origem à internet. O período pós-guerra, portanto, é bastante propício à produção
e consumo de informações.

Então, as décadas seguintes abrem espaço para novas discussões sobre


o armazenamento, o tratamento e a recuperação de informações. Estudiosos da
área passam a questionar a possibilidade de melhores ações que tornem acessível
todo o conhecimento científico e tecnológico produzido e registrado.

É neste contexto que as linguagens documentárias começam a ser tratadas


com mais atenção, pois, agora, além de dar apoio às atividades de classificação,
elas passam a apoiar também as atividades de indexação dos documentos. Isto
porque existe um novo paradigma na área: mais do que classificar e catalogar
livros para que as bibliotecas fiquem organizadas, é necessário buscar formas de
tornar os conteúdos (as informações) acessíveis a partir das buscas elaboradas
pelos usuários. Começam, então, as construções de LDs.

Trecho 2) Dentre os vários produtos da sistematização desses estudos


surgiram os tesauros, construídos em função de campos semânticos. Com
efeito, dentro do amplo universo da linguagem, as LDs possuem um status
muito particular: através delas pode-se representar, de maneira sintética, as
informações materializadas nos textos (CINTRA et al., 2002, p. 34).

A LDs são elaboradas para REPRESENTAR conteúdos das diversas áreas


do conhecimento. A mais conhecida, pode-se afirmar, são os tesauros, um valioso
instrumento utilizado na organização da informação. Ele é definido por Mota
(1987 apud TRSITÃO, FACHIN; ALRCON, 2004, p. 161) como “um vocabulário

63
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

de termos relacionados genérica e semanticamente sobre determinada área de


conhecimento”. Não se trata, portanto, de entender uma tesauro como lista de
termo. Trata-se de algo mais complexo. Os termos listados são definidos dentro
de uma dada área do conhecimento, e a cada termo é atribuída uma finalidade, ou,
dito de outra forma, aponta-se em que situações os termos podem ser utilizados
pelo indexador, o que equivale a dizer que cada termo traz explicações a respeito
dos conceitos que pretende representar.

Trecho 3) Tal como a LN, as LDs são sistemas simbólicos instituídos, que
visam facilitar a comunicação. Sua função comunicativa, entretanto, é restrita a
contextos documentários, ou seja, as LDs devem tornar possível a comunicação
usuário-sistema. (CINTRA et al., 2002, p. 33)

Não é muito comum observar bibliotecas que fornecem ao usuário o


acesso ao usuário aos tesauros que utiliza. Mas é possível. Nos parece viável, uma
vez que os bibliotecários fazem uso dele exatamente para que o usuário tenha
sucesso em suas estratégias de busca. Vejamos em um exemplo: imagine que
uma dada biblioteca utilize um tesauro de Engenharia, e que este tesauro sugere
o termo “rodovias” para indexar documentos que tratem de vias destinadas ao
tráfego de veículos que se movem sobre rodas. Este mesmo tesauro oferece como
termo relacionado e que pode ser utilizado como sinônimo um outro termo:
autovia. No entanto, um usuário, ao elaborar sua busca no índice desta mesma
biblioteca, utiliza o termo “estrada”. Haverá aí um sério reído na comunicação,
que impedirá a recuperação da informação. E é sério, pois este caso exprime uma
situação em que a informação existe no acervo da Unidade de Informação, mas
não é utilizado, pois não pode ser acessado.

Por incrível que possa parecer, esta situação é muito mais evidente
em bibliotecas do que gostaríamos. Portanto, oferecer ao usuário algum tipo
de orientação quanto aos termos utilizados na hora da indexação, pode vir a
minimizar estas dificultades que levam à nãorecuperação da informação. O que é
o mesmo que dizer que a indexação não cumpriu com seu objetivo.

Trecho 4) A formalização das perguntas dos usuários é feita em linguagem


do próprio sistema. É por esta razão que as LDs podem ser concebidas como
instrumentos de comunicação documentária (CINTRA et al., 2002, p. 35).

Este trecho foi destacado do texto apenas para complementar a análise do


trecho imediatamente acima. Somente quando existe a recuperação da informação,
pode-se dizer que houve comunicação documentária. Por isso, é importante que
as unidades de informação pensem na possibilidade de oferecer aos seus usuários
orientações quanto ao uso de tesauros ou demais LDs utilizadas internamente, e
que isso seja também focado nas políticas de indexação desenvolvidas por elas.

64
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA

Trecho 5) uma LD deve integrar três elementos básicos: – um léxico,


identificado com urna lista de elementos descritores, devidamente filtrados e
depurados; – uma rede paradigmática para traduzir certas relações essenciais
e, geralmente estáveis, entre os descritores. Essa rede, organizada de maneira
lógico-semântica, corresponde a uma organização dos descritores numa forma
que, Lato Sensu, se poderia chamar classificação; e – uma rede sintagmática
destinada a expressar as relações contingentes entre os descritores, relações
essas que só são válidas no contexto particular onde aparecem (CINTRA et al.,
2002, p. 35 - 36).

Como vimos, em Cintra et al. (2002), uma LD deve ser construída com base
na existência de três elementos: léxico, rede paradigmática e rede sintagmática.
Veremos a seguir, em exemplos, como se dá essa construção.

• Léxico: que corresponde ao vocabulário. Se a LD constituída é da área de


ciências contábeis, então o léxico será formado a partir dos vocábulos existentes
dentro desta área.
• Rede paradigmática: os vocábulos extraídos de dada área devem estar
relacionados entre si e devem conter significados dentro desta mesma área.
Isso é bastante importante. Vejamos: o termo “manga” pode estar presente em
diferentes LDs. Pode estar em um tesauro de Agrimensura e Agricultura (se o
conceito deste termo for o da fruta), ou, em um tesauro de Moda (se o conceito
do termo for e elemento de peças de vestuário), esta rede paradigmática localiza
os termos dentro de um sistema de noções, portanto, dentro de uma área do
conhecimento humano.
• Rede sintagmática: exprime que relações existem entre os termos, dentro
da área. Utilizando nosso termo “manga”, tomemos outro exemplo: em um
tesauro de Agrimensura e Agricultura, ele, provavelmente, estaria relacionado
com “Tipos de Solo”, “Calendário agrícola”, “Adubo”, “Condições Climáticas”,
“Frutas Tropicais”. Já em um tesauro de Moda, estaria relacionado a termos
como: “Corte e Modelagem”, “Cor”, “Tendência de Moda”, “Camisa”.

Trecho 6) As várias fases do processo analítico apresentam uma


complexidade considerável, pois não se trata de adquirir os documentos e
armazená-los numa ordem lógica. A documentação é memória, seleção de ideias,
reagrupamento de noções e de conceitos, síntese de dados. Trata-se de triar,
de avaliar, de analisar, de "traduzir", de encontrar respostas para necessidades
específicas (CINTRA et al., 2002, p. 39).

Este trecho nos traz uma noção muito importante a respeito da indexação:
não indexamos utilizando simplesmente palavras, mas sim, levando em conta
os conceitos expressos em cada uma dessas palavras. É por isso, inclusive, que
uma das recomendações mais básicas ao se proceder a análise documentária para
posterior indexação, é que não se utilize apenas o título do item. Ele, nem sempre
exprime os conceitos existentes no documento. Dialética do Concreto, nada tem
que ver com Engenharia ou construção civil, como o termo “concreto” até pode
sugerir.

65
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

Trecho 7) Todas as LDs, entretanto, são utilizadas para representar


conteúdo dos textos, mas não os textos eles mesmos. A função de representação
deve ser entendida, neste contexto, como sendo de natureza eminentemente
referencial: as unidades de uma LD devem ser utilizadas como índices relativos
a assuntos tratados nos textos, não tendo, portanto, a função de substituí-los
(CINTRA et al., 2002, p. 39 - 40).

Nunca é demais lembrar: indexar é representar, indicar, e não substituir o


documento original. A indexação deve permitir que o usuário saiba se a informação
que ele busca, existe ou não nos acervos de uma unidade de informação, e deve
dar subsídios para que ele decida se quer ou não a acessar definitivamente.

As LDs, portanto, são linguagens construídas para fins de tratamento


documentário, e constituem-se em ferramentas que auxiliam o bibliotecário na
atividade de indexação, oferecendo maior adequação na seleção de termos que
representarão os conteúdos integrais dos documentos.

Se partimos da concepção de que a Biblioteconomia, enquanto área do


conhecimento que se estrutura da forma como a conhecemos hoje a partir do
final do século XIX e meados do século XX, com a responsabilidade de organizar
acervos para uso, podemos inferir que a unidade de seu desenvolvimento – a
biblioteca – também deve oferecer serviços que culminem na recuperação e uso da
informação. Para que este objetivo seja alcançado, é importante que a indexação
seja realizada de forma que o usuário, ao consultar a base de dados, consiga
identificar a presença ou não do conteúdo informacional que busca, e que possa
ter acesso a ele. As LDs são instrumentos que viabilizam e facilitam este processo.
E o são, porque são constituídas levando em consideração as características dos
diferentes sistemas nocionais.

A todos os campos do conhecimento corresponde a um conjunto de


noções específicas, pois as áreas especializadas têm seu universo nocional
devidamente identificado, a partir de um dado ponto de vista, para que seja
possível organizá-lo de forma sistemática e inter-relacionada. Por outro lado, a
ausência do conhecimento do sistema de noções ocasiona a falta de compreensão
ou a compreensão incorreta das possibilidades de relacionamento entre os termos
de um dado campo.

As LDs, estabelecidas para controle de vocabulário, são construídas com


base no sistema nocional do campo a que se dedicam. Por exemplo: um tesauro de
medicina veterinária é construído a partir de termos, conceitos e significados desta
área, para apoiar a indexação de documentos também desta área, constitui-se em
um parâmetro básico para organização documentária e, claro, tem sustentação
na linguagem. Por isso que a opção pelo não uso de LDs na indexação pode
comprometer seu resultado, revelando as questões relacionadas ao significado
e a compreensão de termos específicos. Já a utilização dela – da LD – supõe a
explicitação da área e a sua organização sistemática (CINTRA et al., 2002).

66
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA

A ISO 1087 (1990 apud CINTRA et al., 2002) estabelece Sistema Nocional
como um conjunto estruturado de noções que reflete as relações estabelecidas
entre as noções que o compõem, e no qual cada noção é determinada pela sua
posição no sistema.

A posição, e, consequentemente, os significados, de cada noção é


estabelecida de acordo com as relações que existem entre ela e as demais noções.
Essas relações podem ser hierárquicas ou não-hierárquicas.

Nas relações hierárquicas entre as noções, temos duas formas de


organização, que são denominadas superordenação e subordinação. A
superordenação consiste na possibilidade de subdivisão de uma noção
hierárquica mais alta em um certo número de noções de nível inferior. Já o
processo de subordinação consiste no processo contrário. Segue exemplo na
ilustração a seguir:

FIGURA 1 – SUPERORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO

Relações hierárquicas

Supeordenação Animais Subordinação

Gato Cachorro Leão

Mamíferos

FONTE: Cintra et al. (2002, p. 51)

Gato, cachorro e leão são termos que estão subordinados a um termo


maior, animais. Ambos carregam em si significados que os colocam no mesmo
sistema nocional. Todavia, para ser gato, ser cachorro, ou ser leão, é preciso ser,
antes, animal. Ou, dito de outra forma, as características e os conceitos que estão
presentes no termo ‘gato’ são parecidos com as características e conceitos presentes
no termo ‘animais’. No entanto, ‘gato’ tem características mais específicas que o
diferenciam das características gerais de ‘animais’. Um é mais específico que o
outro, e, portanto, subordinado a ele. Todo ‘gato’ é ‘animal’. Os termos específicos
são subordinados a termos mais gerais e ambos carregam em si características
essenciais que os aproximam em uma dada família de termos.

67
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

As relações não hierárquicas entre os termos de um dado sistema


nocional podem também se caracterizar como não hierárquicas. Os termos
podem ser coordenados (postos lado a lado), uma vez que podem se encontrar
em um mesmo nível de hierarquia. No exemplo da ilustração anterior é possível
observar este tipo de relação em relação aos termos ‘gato’, ‘cachorro’ e ‘leão’.
Todos são mamíferos e, na família do termo ‘mamíferos’ não estão subordinados
um ao outro. Guardam apenas características essenciais de igualdade e não de
subordinação.

Todavia, a relação entre termos de um sistema nocional pode também ser


considerada associativa e, neste caso, será sempre não hierárquica. Ela pode ser
relação espacial ou temporal, com noções de causa/efeito, produtor e produto,
etapas de um processo, relações de oposição e contradição. Não são hierárquicas.
Vejamos alguns exemplos, baseados em Cintra et al. (2002):

• Causa/efeito: tempo seco – doenças respiratórias.


• Produtor/produto: usineiro – álcool.
• Etapas de um processo: reforma do setor saúde – descentralização.
• Oposição/contradição: reações químicas a frio – reações químicas a calor.

Estudiosos do campo da biblioteconomia e da ciência da informação


têm se debruçado sobre estas questões para ampliar a compreensão destas
relações com o intuito de elaborar LDs cada vez mais adequadas à atividade de
indexação.

3 LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS E SUAS RELAÇÕES


COM AS POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO
Se uma política de indexação estabelece critérios e diretrizes para o
tratamento temático da informação, parece-nos um tanto evidente que esta
política tenha que mencionar as orientações quanto ao uso de LDs, já que são elas
que dão suporte ao desenvolvimento das atividades do indexador.

Neste contexto, os autores Narukawa e Sales (2012) denominam o que


temos chamado de política de indexação de política de TTI (Tratamento Temático
da Informação). Para os autores, ela “constitui-se na formalização dos processos,
procedimentos, instrumentos e toda filosofia profissional subentendida nas
atividades de tratamento temática da informação que servem como diretriz no
desenvolvimento dessas atividades” (NARUKAWA; SALES, 2012, p. 158).

Estes mesmos autores recorrem a Gil Leiva (2008), para quem

esta política é entendida como uma forma de realizar a indexação de


determinada instituição, e, a iniciativa de materializar em guias ou
manuais os procedimentos adotados para a indexação. É por meio dos
manuais que novos indexadores serão formados e capacitados (GIL
LEIVA, 2008 apud NARUKAWA; SALES, 2012, p. 158).

68
TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA

Ao estabelecer uma política de indexação, a equipe de uma unidade de


informação decidirá pela aplicação de uma linguagem natural ou controlada.
Também poderá atribuir uma linguagem para cada área de especialidade coberta
pela unidade, ou decidir pelo uso de uma única linguagem para todas as áreas.
A política de indexação pode ainda estabelecer a necessidade de adaptações
quanto a LDs já existentes em outros sistemas de informação para a realidade
local. Este importante documento pode mencionar ainda se o usuário terá acesso
às mesmas LDs utilizadas pelos indexadores e, ainda, se esta será disponibilizada
sob a mesma estrutura de apresentação. Além disso, desta política pode constar
a intenção de participação em redes de cooperação e compartilhamento de
informações com outras organizações que utilizem as mesmas LDs (CARNEIRO,
1985 apud NARUKAWA; SALES, 2012).

Para além disso é importante mencionar lembrar que os sistemas de


classificação bibliográfica, como a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a
Classificação Decimal Universal (CDU) também são LDs, pois são linguagens
construídas com fins de tratamento temático da informação, e, especificamente,
com fins de individualizar cada item existente em uma unidade de informação,
dando a eles uma espécie de marca individual, que permite sua identificação em
meio a centenas ou milhares de outros itens. A escolha por um destes sistemas
de classificação é também uma decisão bastante importante que está relacionada
ao tipo de público atendido pela unidade e, consequentemente, relacionada com
as características do acervo. A justificativa da escolha por um destes sistemas
também deve constar na política de indexação.

No entanto, estes não são os únicos itens que compõem este documento.
É o que veremos na sequência.

69
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• As LDs são, instrumentos intermediários ou instrumentos de comutação,


através dos quais se realiza a "tradução" da síntese dos textos e das perguntas
dos usuários. Esta "tradução" é feita em unidades informacionais ou conjunto
de unidades aptas a integrar sistemas documentários.

• ­As LDs são sistemas de sistemas de comunicação construídas para fins de


tratamento documentário.

• Cada área do conhecimento possui um sistema nocional, ou seja, um sistema


de noções que são características destas áreas.

• Que as LDs e seus usos são parte importante da indexação e, por isso, parte
importante da política de indexação.

70
AUTOATIVIDADE

1 Leia o texto a seguir, extraia dele os cinco trechos que você considerar mais
importantes e comente cada um deles, justificando sua escolha.

CONFIGURAÇÃO DAS LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS

As LDs mais consistentes para a representação documentária dispõem


de um vocabulário que integra, elementos da linguagem de especialidade e
das terminologias e, de outro, da LN que é a linguagem dos usuários. Portanto,
essas unidades constituem o "léxico" dessas LDs, denominadas, diferentemente,
conforme o sistema e a época, como: palavra-chave, descritor, cabeçalho de
assunto etc., acompanhadas ou não de uma notação.

O vocabulário documentário tem por objetivo reunir unidades depuradas


de tudo aquilo que possa obscurecer o sentido: ambiguidade de vocábulo ou
de construção, sinonímia, pobreza informativa, redundância etc. Além disso,
ele é fixado de tal forma que seu uso, bem como suas relações estruturais são
codificados e não podem mudar ao sabor dos usuários. Assim, chega-se a um
instrumento relativamente estável, ainda que possa ser modificado.

Toda LD tem, também, uma sintaxe. Ela é bastante rudimentar nos


sistemas de classificação bibliográfica e mais desenvolvida nos tesauros, com
a utilização de operadores booleanos. O esquema sintático de uma LD permite
a delimitação mais precisa de um assunto, através da combinação de seus
elementos. Nos sistemas de classificação convencionais não há preocupação com
o controle do vocabulário: é frequente a utilização de frases, como ocorre, por
exemplo, na CDU. Já nos tesauros a função de controle está mais presente. Para
este rim, as LDs incorporam procedimentos para a normalização gramatical e
semântica. A normalização gramatical se refere à forma de apresentação dos seus
elementos quanto ao gênero (geralmente, masculino), número (uso de singular
ou plural), grau. A normalização semântica procura garantir a univocidade na
representação dos conceitos e noções de áreas de especialidade.

Quanto a sua configuração interna, as LDs são estruturadas de maneira


lógico-semântica. O conjunto nocional básico é apresentado em hierarquias
(na vertical), em torno das quais se agregam as unidades informacionais que
se relacionam horizontalmente, relações não hierárquicas, convencionalmente
denominadas associativas. Nenhuma unidade pode figurar numa LD sem que
esteja ligada a uma outra.

Nas LDs mais modernas – tesauros – os diferentes tipos de relações entre


as unidades são mais claramente apresentados através de recursos notacionais.
Já os sistemas de classificação bibliográfica não raras vezes amalgamam, numa
mesma hierarquia, relações de natureza diferente.

71
As variações na forma de apresentação das LDs devem-se à maior ou
menor incorporação dos diferentes tipos de relações existentes entre as palavras
na LN e entre os termos de especialidade. Tais variações exprimem, também,
o maior ou menor aprimoramento da função de representação documentária.

Algumas LD foram construídas visando, principalmente, a organização


dos documentos nas estantes, sendo que sua função de representação, nesse
caso, deve ser diferenciada: a representação aqui implícita deve ser entendida
como a identificação de documentos com classes genéricas de assuntos
reconhecidos mais ou menos canonicamente.

A estrutura básica de uma LD é dada através das relações hierárquicas,


que podem ser genéricas, específicas ou partitivas. [...] O vértice da hierarquia
é o gênero ou o todo, conforme o caso. As subdivisões sucessivas na hierarquia
constituem as espécies e/ou as partes, que podem, novamente, se subdividir.
As relações hierárquicas preveem as unidades superordenadas e as unidades
subordinadas. Unidades subordinadas ao mesmo vértice, quando no mesmo
nível da cadeia, denominam-se coordenadas.

Nos sistemas de classificação bibliográfica a estrutura hierárquica é


dada pela notação (decimal, no caso da CDD e da CDU). O vértice das cadeias
hierárquicas é constituído por disciplinas convencionais que se subdividem
sucessivamente. A indicação dos assuntos é feita através da notação numérica
ou alfanumérica, conforme o tipo de sistema.

A organização básica dos tesauros também é hierárquica, existindo


tantos vértices, que equivalem a classes, quantos forem os aspectos escolhidos
para organizar o domínio de uma especialidade. Nos tesauros mais modernos
tais vértices são denominados Top Terms, e não constituem descritores, mas
identificam as classes escolhidas para reunir os descritores. Via de regra,
utilizam-se notações numéricas apenas para apresentar as hierarquias básicas
e suas principais subdivisões. Tais notações, entretanto, raramente são
utilizadas para descrever o conteúdo dos textos. A ligação lógico-hierárquica
entre descritores é, no caso dos tesauros, mais clara, uma vez que é identificada
pelos códigos. TG (Termo Genérico ou Tem10 Geral), TE (Termo Específico).
Alguns tesauros utilizam, também, os códigos TGP (Termo Genérico Partitivo),
TEP (Termo Específico Partitivo) para a presentar as relações hierárquicas do
tipo todo/parte.

As LDs apresentam, também, unidades que são relacionadas de forma


não hierárquica. As relações não hierárquicas são normalmente denominadas
associativas, muito embora não se possa afirmar que as relações hierárquicas
também não o sejam. É preciso lembrar, entretanto, que as relações hierárquicas
representam associações entre termos que são mais estáveis, enquanto que as
relações não hierárquicas expressam outro gênero de proximidade entre os
termos. Os posicionamentos não hierárquicos indicam a ligação entre termos
que estão em campos semânticos distintos, porém próximos. Cada termo

72
relacionado pode se constituir no ponto de partida para uma família de termos
aparentados. Nos sistemas de classificação bibliográfica os relacionamentos
não hierárquicos, quando ocorrem, são, erroneamente, "encaixados"
nas hierarquias. É só nos tesauros que estas relações são explicitamente
identificadas, através do código TR (Termo Relacionado). Adicionalmente, as
LDs apresentam relações de equivalência. Este gênero de relacionamento entre
os termos é utilizado para permitir a entrada no sistema, operando no nível
da sinonímia e da polissemia. Quase inexistente nos sistemas de classificação
bibliográfica (os raros casos aparecem no índice de tais códigos), nos tesauros
essas relações são indicadas pelas expressões USE (Use) e UP (Usado Para). As
relações de equivalência estabelecem as remissivas, definindo o conjunto dos
não termos ou não descritores e dos termos ou descritores. A finalidade dessas
remissivas é encaminhar o usuário para os termos preferidos pelo sistema.
Constitui-se, desse modo, a chave de acesso ao sistema.

O conjunto de relações que constitui a estrutura do tesauro é, para


Gomes (1990, p. 16) "um elemento importante para que ele possa cumprir
sua função: ela permite ao usuário (indexador ou consulente) encontrar o(s)
termo(s) mais adequado(s), mesmo sem saber, de início, o nome específico para
representar a ideia ou o conceito que ele procura. A partir de um termo que o
usuário conhece, o tesauro, através de sua estrutura, mostra diversos outros
que podem ser tão oportunos ou mais do que aquele que lhe veio à mente".

Vale ressaltar, ainda, que no uso das LDs podem ser construídas
novas relações entre os termos, a partir do conjunto de operadores sintáticos
disponíveis, como, por exemplo, as add notes, na CDD; + / : ::, no caso da CDU;
operadores booleanos, no caso dos tesauros.

Uma vez elaboradas e postas em uso, as LDs mais desenvolvidas,


como os tesauros, são permanentemente atualizadas, mediante operações de
supressão de termos em desuso, reagrupamento de descritores em função da
existência de palavras raramente utilizadas e/ou adição de termos novos. Só
assim as LDs se mantêm como instrumentos dinâmicos, capazes de incorporar
os avanços do conhecimento, ou as modificações de significado de termos já
existentes.

FONTE: CINTRA et al. Capítulo 2. In: Para entender as linguagens documentárias. 2. ed. rev.
e ampl. São Paulo: Polis, 2002.

73
74
UNIDADE 2 TÓPICO 3
ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A literatura especializada em biblioteconomia e ciência da informação não
nos traz bons registros a respeito da importância dada a este texto – política de
indexação – dentro de unidades de informação. Ao contrário, mostra que muitas
UI’s, especialmente bibliotecas, não têm demonstrado interesse (ou pelo menos,
não têm divulgado em canais científicos) em desenvolver tal estrutura. No entanto,
já vimos no decorrer desta unidade, que se trata de um documento que norteará
as tomadas de decisão do indexador. E é sempre importante lembrarmos que é a
indexação que vai permitir a identificação dos conteúdos que existem dentro de
um dado acervo.

É importante compreender que sua elaboração demanda estudos,
conhecimento sobre o acervo e sobre a política de desenvolvimento de coleções
adotada pela UI, conhecimento sobre o perfil dos usuários e das demandas
informacionais da comunidade usuária a que se atende. Por isso, deve ser discutida
não apenas pelos bibliotecários que indexam, mas por toda a equipe bibliotecária
e, como veremos adiante, por vezes, por representantes da instituição na qual a
UI está inserida.

Neste tópico veremos, entre outros temas, que a política de indexação é


um instrumento de decisão administrativa dentro de unidades de informação e
que, em linhas gerais, ela estabelece diretrizes para o desenvolvimento adequado
da indexação. Não deixaremos de destacar, no entanto, que cada biblioteca deve
estabelecer sua política de indexação de acordo com as demandas apresentadas
pela sua comunidade usuária, pois é a ela que os serviços são oferecidos em todos
os tipos de unidades de informação.

2 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO


A biblioteca é uma organização em constante movimento. Nenhuma
atividade ou serviço de informação elaborado pode ser pensado isoladamente.
Isso porque os serviços estão relacionados entre si e todos são constituídos
tendo como foco as características da comunidade usuária e suas demandas
de informação. Por isso, o estabelecimento de qualquer diretriz, oferta de novo
serviço, políticas, como a de desenvolvimento de coleções ou de indexação, só
podem se edificar sobre dados substanciais acerca das características e do perfil
da comunidade onde a unidade ou o sistema de informação está inserido.

75
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

Em 1985, a bibliotecária Marília Vidigal Carneiro estabeleceu diretrizes


para uma política de indexação. De certa forma, foi o primeiro trabalho brasileiro
que ganhou reconhecimento e ainda hoje é citado como uma referência clássica no
tangente à elaboração deste tipo de texto em bibliotecas. Por isso, nos parágrafos
a seguir passaremos a analisar o proposto no referido artigo. Levaremos em
conta que se trata de um documento elaborado em um contexto diferente do
vivido nos dias atuais, e, na medida do possível, poderemos trazer a proposta
para o momento que vivemos no século XXI e verificar a necessidade de novas
problematizações.

A autora coloca como objetivos da política de indexação a definição de


variáveis e o estabelecimento de princípios e critérios que servirão de guia para a
tomada de decisões que venham a otimizar o serviço de indexação, racionalizar
o seu processo, além, de oferecer consistência para as atividades de indexação.

Antes, no entanto, de partir para a elaboração do documento, Carneiro


(1985) recomenda a identificação da organização na qual a unidade de informação
está inserida; a identificação da clientela; e a identificação de recursos humanos,
materiais e financeiros que se tem disponível.

É importante conhecer os objetivos e atividades da organização para


a determinação do tipo de serviço e ser implantado e, especialmente para
identificar a área de interesse em que ela atua. Isso permitirá, segundo a autora, o
estabelecimento de uma política de seleção adequada. E ela vai adiante e afirma
que “tipo de organização determinará que sistema de indexação usar, bem como
os níveis de exaustividade e especificidade exigidos” (CARNEIRO, 1985, p. 223).

A respeito da identificação da clientela, ela destaca que a principal


finalidade de um sistema de informação é fornecer aos usuários a informação de
forma e momento exigidos, por isso a identificação deste usuário é essencial. Um
estudo de usuário, neste caso, é fundamental. Com este estudo é possível obter:

• conhecimento do alcance exigido pelo sistema quanto aos assuntos


centrais e periféricos e quanto aos níveis de tratamento exigidos;
• o núcleo de um vocabulário que refletirá os interesses do trabalho e
necessidades de informação da clientela do sistema;
• conhecimento do tipo de resposta exigido do sistema, isto é, se é
exigência mais revocação, maior precisão, ou ambas ao mesmo
tempo;
• conhecimento do nível de exaustividade exigida na indexação; o
nível de sofisticação desejável no sistema [...];
• conhecimento das exigências dos usuários quanto à forma de
apresentação dos resultados da busca (CARNEIRO, 1985, p. 226).

Em relação à determinação dos recursos financeiros, materiais e humanos,


a autora lembra que a disponibilidade de equipamentos influenciará o tipo de
organização de sistema, bem como a escolha da linguagem de indexação, por
exemplo. No que tange aos recursos humanos, “quando há carência de pessoal
deve-se optar por um sistema que exija uma manutenção mínima e um menos

76
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

esforço na indexação, principalmente quando se tem um grande volume de


documentos a ser indexados” (CARNEIRO, 1985, p. 229). No entanto, é necessário
lembrar que mesmo em casos como este, é necessário considerar as características
e demandas da comunidade usuária.

A partir do momento que se tem acesso a estes dados, e, realizadas suas


análises, aí sim, esta equipe bibliotecária está apta a proceder à elaboração de
uma política de indexação. E esta deve conter alguns elementos considerados
essenciais. São eles:

• Cobertura de assuntos.
• Seleção e aquisição de documentos-fonte.
• Nível de exaustividade.
• Nível de especificidade.
• Escolha da linguagem.
• Capacidade de revocação e precisão do sistema.
• Estratégia de busca.
• Tempo de resposta do sistema.
• Forma de saída.
• Avaliação do sistema.

Vejamos o detalhamento de cada um destes elementos propostos por


Carneiro (1995) para a elaboração de uma política de indexação.

Cobertura de assuntos: é necessário estabelecer as áreas onde se torna


necessário um tratamento temático em profundidade e aquelas que podem
ser tratadas superficialmente. Daí a importância do estudo de usuário, pois ele
apontará um perfil de demanda informacional.

Seleção e aquisição dos documentos-fonte. Esse elemento deve levar em


conta a adequação do nível intelectual é técnico dos documentos ao nível dos
usuários; domínio, por parte dos usuários, de diferentes línguas, e limitações
financeiras, que pode implicar as formas de aquisição.

Nível de exaustividade: em bibliotecas que atendem a um público mais


geral, como é o caso de bibliotecas públicas, o nível da exaustividade será menor
do que o exigido para bibliotecas especializadas. Além disso, o tipo de documento
também poderá determinar o nível de exaustividade. É possível que uma
unidade de informação defina um nível de exaustividade na indexação para um
determinado tipo de documento e outro nível para documentos que apresentem
características mais específicas.

Nível de especificidade: a autora lembra que um maior nível de


especificidade na indexação aumenta a taxa de precisão, ao mesmo tempo
que diminui a de revocação. O que definirá o nível de especificidade serão as
demandas apresentadas ao sistema de informação.

77
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

Escolha da linguagem: a autora lembra que o uso de linguagem controlada


pode dispender mais tempo durante a indexação, mas minimizará o tempo gasto
pelo usuário, ou pelo pessoal do serviço de referência quando da busca pelos
documentos. Isso porque o uso de uma linguagem controlada permite maior
consistência na indexação.

Capacidade de revocação e precisão do sistema. A revocação se


relacionada com a capacidade do sistema em assegurar a recuperação um número
desejável de itens, enquanto que a precisão está relacionada com a capacidade
que o sistema de informação tem de impedir a recuperação de documentos não
relevantes. A política de indexação pode estabelecer os níveis desejados em
cada busca realizada no sistema. Assim, usuários que estejam envolvidos com
trabalhos que demandam uma pesquisa bibliográfica mais exaustiva demandarão
maior revocação do sistema de informação, enquanto que usuários especialistas
buscarão por informações precisas, preferencialmente, consultando poucos itens.

Estratégia de busca: quem fará a busca? O bibliotecário ou o usuário? Estas


são as perguntas que este item deve responder. Em um contexto atual, talvez
esta questão não faça muito sentido, uma vez que em um grande número de
bibliotecas as rotinas de busca, pesquisa, empréstimo e devolução de materiais são
totalmente automáticas, o que permite ao usuário maior autonomia no momento
da busca pela informação. No entanto, na década de 1980, quando o artigo em
voga foi escrito, esta não era uma realidade. De qualquer forma, esta é ainda uma
questão pertinente, pois, o uso de LDs, por exemplo, é feito pelo bibliotecário no
momento da indexação. Todavia, não há garantias de que um usuário procederá
uma busca utilizando exatamente os mesmos termos propostos pela LD utilizada
pelo bibliotecário. Por isso, uma política de indexação pode prever a mediação
do bibliotecário também na hora da busca, ou se ela será delegada ao próprio
usuário.

Tempo de resposta do sistema: consiste em estabelecer um tempo


considerado aceitável entre o momento em que o pedido é lançado ao sistema de
informação e o fornecimento da resposta.

Forma de saída: este elemento deve prever quais formas de respostas


serão oferecidas aos usuários (lista de itens recuperados, resumos, referências,
entre outros).

Avaliação do sistema: consiste no estabelecimento de critérios que


permitam avaliar até que ponto o sistema está satisfazendo as necessidades de
seus usuários e respondendo a suas demandas informacionais.

Cerca de 20 (vinte) anos mais tarde, Nunes (2004) ao tratar dos mesmos
elementos em trabalho em que também critica a escassez de estudos e publicações
(no Brasil) acerca do tema em voga, apresenta certa flexibilidade ao afirmar que

78
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

em primeiro lugar, a política de indexação deve ser enunciada


formalmente num documento oficial da biblioteca ou serviço de
informação, o que significa dizer que deve ser homologado por sua
direção. Esta providência assegura sua permanência, continuidade,
ainda que haja substituição do bibliotecário responsável por sua
aplicação rotineira. Formalizar não significa sacralizar, pois que a
política de indexação necessariamente será atualizada conforme se
alterem as condições institucionais e conforme evolua o conhecimento
humano, processo que afeta a linguagem natural e, por decorrência,
as linguagens documentarias. Por si só, estes fatores fazem da política
de indexação um instrumento dinâmico, em permanente atualização.
De igual modo, tal atualização deve ser formalizada, assegurando-se
rumo e consistência as eventuais mudanças, evitando-se que sofram
demasiado a influência pessoal do bibliotecário transitoriamente
incumbido de realizar a atividade de indexação.
Em segundo lugar, a política de indexação disporá sobre o tratamento
que será dado aos diferentes domínios disciplinares cobertos pelo acervo
da biblioteca – não há por que se indexar com a mesma profundidade
os assuntos de todas as áreas. Quanto ao processo de indexação
propriamente dito, é preciso eleger a linguagem de indexação, dentre
as tantas disponíveis, que será adotada pelo sistema. Contudo, nem
sempre e possível fazer a indexação utilizando apenas uma linguagem
de indexação. Por exemplo, um tesauro de meio ambiente somente
poderá ser utilizado para representar o conteúdo dos documentos
sobre esse domínio disciplinar. Não se deve esquecer que os tesauros,
por definição, são linguagens de indexação especializadas. Portanto,
se o acervo da biblioteca abranger outros domínios disciplinares, será
necessário recorrer a tantos tesauros quantos necessários forem para
dar conta da totalidade dos assuntos. O mesmo não ocorre com as
listas de cabeçalhos de assunto, que geralmente são gerais e vinculadas
a algum sistema de classificação – e, por isso mesmo, mais populares
entre bibliotecas públicas e escolares, por exemplo. Esta variedade
de situações terá que ser cuidadosamente analisada antes de se fazer
a escolha por uma ou mais linguagens de indexação. O importante
é que, uma vez feita a escolha, seja a decisão inscrita na política de
indexação, devidamente fundamentada (NUNES, 2004, p. 57-58).

Rubi (2012) também propõe algumas diretrizes para a elaboração de


políticas de indexação, mas especificamente, para bibliotecas universitárias.
Corroborando com demais autores já citados neste texto, esta autora também
considera que a política de indexação deve ser compreendida como uma ação
administrativa, relacionada com a filosofia da instituição. Numa biblioteca
universitária, ela deve ser registrada devido à amplitude da rede de bibliotecas.

Na proposta desta autora, a política deve ser elaborada obedecendo três


fases: a preparação, o desenvolvimento e a avaliação. A preparação consiste na
observação dos seguintes aspectos:

• Organização onde está inserida a biblioteca.


• Identificação dos usuários.
• Áreas de interesse, níveis de experiências, áreas de atuação.
• Infraestrutura.

79
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

• Recursos financeiros.
• Recursos materiais e físicos.
• Recursos humanos (RUBI, 2012).

Já na fase do desenvolvimento serão estabelecidas as decisões e diretrizes


dos trabalhos que envolvem a indexação em si. Os elementos são distribuídos em
três categorias e cada uma delas apresenta subcategorias. Vejamos:

• Categoria: indexação.
• Subcategorias: capacidade de revocação e precisão do sistema; especificidade;
exaustividade. Formação do indexador, procedimentos relacionados à
indexação; manual de indexação (elaboração/utilização).
• Categoria: linguagem documentária.
• Subcategorias: escolha da linguagem; consistência/uniformidade; adequação.
• Categoria: sistema de busca e recuperação por assunto.
• Subcategorias: avaliação; campos de assunto do formato MARC; capacidade de
consulta a esmo. Estratégia de busca; forma de saída dos dados (RUBI, 2012).

Percebemos que a proposta de Rubi guarda semelhanças com a de Carneiro


(1985), mas inclui novos elementos, frutos da transformação e da evolução do
campo da biblioteconomia. Destes, o que talvez mais chame a atenção seja o item
relacionado ao formato MARC. A autora considera importante indicar quais
campos e subcampos do registro bibliográfico devem ser considerados para a
construção de um catálogo.

Ainda no âmbito universitário, mas agora em uma vertente mais prática,


trazemos o exemplo do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, que desenvolveu, em 2014, sua política de indexação, também com
base no proposto por Carneiro (1985), porém com a inserção de outros elementos
que acompanhem o movimento percorrido pelas bibliotecas e pela própria
biblioteconomia nos últimos anos, chegando, por fim aos seguintes elementos:

FIGURA 2 – ELEMENTOS DE UMA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO

• Público-alvo
• Identificação da instituição
• Processo de indexação
ᵒ Análise conceitual
ᵒ Identificação dos conceitos
ᵒ Tradução
• Elementos da política de indexação
ᵒ Cobertura de assunto
ᵒ Exaustividade
ᵒ Especificidade
ᵒ Linguagem controlada
• Competências e habilidades do bibliotecário indexador
FONTE: A autora

80
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

Vejamos, a seguir, como estes elementos estão descritos.

3. PÚBLICO-ALVO. O público-alvo desta Política são os bibliotecários


indexadores do SBUFRGS. Sua aplicação deve ser feita em conjunto
com o Manual de Rotinas e Procedimentos de Indexação, com os
manuais do SABi e com o Padrão para Entradas de Nomes Geográficos
como Assunto. Também é um instrumento de auxílio aos bibliotecários
que trabalham com a recuperação da informação.
4. IDENTIFICAÇÃO DA INSTITUIÇÃO. A Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS), com sede em Porto Alegre, capital do
Estado do Rio Grande do Sul, é uma instituição centenária, reconhecida
nacional e internacionalmente. Ministra cursos em todas as áreas do
conhecimento e em todos os níveis, desde o Ensino Fundamental
até a Pós-Graduação. Nesse contexto a UFRGS tem como missão:
"[...] a educação superior e a produção de conhecimento filosófico,
científico, artístico e tecnológico, integradas no ensino, na pesquisa
e na extensão” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDEDO
SUL, 1995). Tem como visão de futuro: Consolidar seu papel como
expressão da sociedade democrática e pluricultural, inspirada nos
ideais de liberdade, de respeito pela diferença e de solidariedade,
constituindo-se em instância necessária de consciência crítica, na qual
a coletividade possa repensar suas formas de vida e suas organizações
sociais, econômicas e políticas (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO
GRANDEDO SUL, 1995). São políticas em constante desenvolvimento
na Universidade a qualificação do seu corpo docente, composto na
sua maioria por mestres e doutores, a atualização permanente da
infraestrutura dos laboratórios e bibliotecas, o incremento à assistência
estudantil, bem como a priorização de sua inserção nacional e
internacional (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO
SUL, 2014). A estrutura da Universidade é composta por: Conselhos
Superiores; Reitoria; Procuradoria; Pró-reitoras; Superintendências;
Secretarias; Órgãos Suplementares; Unidades Universitárias e Institutos
Especializados; Associações e Diretórios Acadêmicos. A Universidade
está organizada em 4 campi em Porto Alegre (Centro, Saúde,
Olímpico e Vale) e em outros municípios do Estado do Rio Grande
do Sul (CECLIMAR, em Imbé, Estação Experimental Agronômica,
em Eldorado do Sul e Campus Litoral Norte, em Tramandaí). Dentro
da estrutura da UFRGS, a Biblioteca Central é um órgão suplementar
vinculado diretamente ao Reitor e Vice-Reitor e, por delegação de
competência, à Pró-Reitoria de Coordenação Acadêmica. A Biblioteca
Central coordena tecnicamente o SBUFRGS, que é composto por
31 bibliotecas setoriais especializadas, uma biblioteca de ensino
fundamental e médio e uma biblioteca depositária da documentação
da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma função primordial
do SBUFRGS é prover infraestrutura bibliográfica, documentária e
informacional para apoiar as atividades da Universidade, centrando
seus objetivos nas necessidades informacionais do indivíduo, membro
da comunidade universitária, constituída de alunos de graduação, pós-
graduação, ensino fundamental, ensino médio; docentes e servidores
técnico-administrativos. Paralelamente ao contexto acadêmico,
tem compromisso com a sociedade não vinculada à Universidade
que se efetiva através da prestação de serviços, proporcionando o
acesso à informação, à leitura e a outros recursos disponíveis que
são instrumentos de transformação dessa sociedade. As bibliotecas
do SBUFRGS estão vinculadas administrativamente às Unidades de
Ensino, possuem acervo próprio e oferecem serviços independentes.
Apesar da distância física entre elas, da variedade de acervo e de

81
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

usuários, atuam de forma cooperativa no que se refere às políticas


gerais para o desenvolvimento de coleções, automação dos serviços,
catalogação e outros. O processamento técnico é descentralizado,
contudo obedece às políticas do SBUFRGS. Em 1989, foi implantado
o Sistema de Automação de Bibliotecas (SABi) que atualmente adota
o software Aleph para gerenciar as atividades e serviços oferecidos
à comunidade usuária. O Aleph é composto por módulos que, entre
outras funções, possibilitam o registro e a recuperação de informações
bibliográficas através do catálogo on-line (UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO GRANDE DO SUL, [2014]).
5 O PROCESSO DE INDEXAÇÃO. O processo de indexação consiste de
três etapas: análise conceitual, identificação dos conceitos e tradução.
5.1 Análise Conceitual. A análise conceitual é a primeira etapa do
processo de indexação.
5.1.1 Definição operacional “Análise conceitual é o conjunto de
procedimentos efetuados com a finalidade de representar o conteúdo
dos documentos” (CUNHA,1989, p.17).
5.1.2 Diretrizes. A análise conceitual dos documentos depende
de uma leitura técnica que garanta que nenhuma informação seja
negligenciada. Na leitura técnica, as seguintes partes do documento
devem ser consideradas: a) título e subtítulo; b) resumo; c) sumário;
d) introdução; e) ilustrações, diagramas, tabelas e seus títulos
explicativos; f) referências; g) palavras ou grupo de palavras em
destaque (sublinhadas, impressas em tipos diferentes); e h) conclusão.
Não indexar por qualquer um destes elementos isoladamente, pois em
muitos casos eles não representam o conteúdo do documento em sua
totalidade.
5.2 Identificação dos Conceito. A identificação dos conceitos é a
segunda etapa do processo de indexação.
5.2.1 Definição operacional. A identificação dos conceitos é a etapa na
qual o indexador identifica os elementos essenciais na descrição do
assunto.
5.2.2 Diretrizes. O indexador deve adotar uma abordagem sistemática
para realizar essa etapa, garantindo assim a fidelidade ao documento.
Para essa sistematização, a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(1992, p. 2) apresenta questões que contemplam a diversidade de acervo
e a interdisciplinaridade do assunto, características do SBUFRGS.
São elas: a) qual o assunto de que trata o documento? b) como se
define o assunto em termos de teorias, hipóteses, etc.? c) o assunto
contém uma ação, uma operação, um processo? d) o documento trata
do agente dessa ação, operação, processo, etc.? e) o documento se
refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? f) esses aspectos
foram considerados no contexto de um local ou ambiente especial?
g) foram identificadas variáveis dependentes ou independentes? h) o
assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? [...]
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992, p. 2).
5.3Tradução. A tradução é a terceira etapa do processo de indexação.
5.3.1 Definição operacional. A tradução é a conversão dos assuntos
selecionados de um documento num determinado conjunto de termos
de indexação (SILVA et al., 2014, p. 7-11).

Vemos que o documento elaborado pelo Sistema de Bibliotecas da


Universidade Federal do Rio Grande do Sul apresenta dados essenciais para a
identificação da Política. É atribuída ao documento uma marca específica de a
que ele serve e a quem se direciona. Seu público-alvo é exclusivamente formado
por bibliotecários que atuam na indexação.

82
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

Podemos perceber que há uma riqueza de informações no item Identificação


da Instituição. São apresentados elementos como missão, visão e histórico da
organização. Isso é essencial para a política de indexação, uma vez que este é
um documento que auxilia a gestão da unidade. E, saber quais são os interesses
e direcionamentos da instituição onde se está inserido é poder desenvolver um
trabalho de parceria. Enquanto diretrizes para o uso de vocabulários controlados,
o documento estabelece o seguinte:

O Catálogo de Autoridades é o principal instrumento para controle


de entrada de assuntos no SABi. O SBUFRGS não dispõe de um
vocabulário controlado que contemple todas as áreas do conhecimento.
Cada biblioteca é responsável pela definição da entrada de assunto
dos documentos de seu acervo. Ao expressar conceitos por descritores,
o indexador deve observar as seguintes práticas:
a) Verificar a existência do descritor no Catálogo de Autoridades:
• Para descritores já existentes no Catálogo de Autoridades, verificar
sua pertinência e consistência de acordo com a Política de Indexação.
• Para descritores que representam novos conceitos, verificar sua
precisão e aceitabilidade em instrumentos de referência.
b) Limitar o uso de instrumentos de controle de vocabulário às áreas
temáticas específicas de cada biblioteca setorial.
Como exemplo, a biblioteca que utiliza um tesauro de Engenharia
deve limitar o seu uso para descritores da área de Engenharia. Porém,
ao indexar um documento de Administração, deve respeitar os termos
consolidados desta área, e não utilizar o que determina o tesauro de
Engenharia;
c) Analisar e definir assuntos comuns a mais de uma biblioteca, que
gerem dúvidas quanto à definição da sua entrada, mediante negociação
entre todas as bibliotecas envolvidas (SILVA et al., 2014, p. 11).

A citação anterior ilustra muito bem uma das funções de uma política de
indexação: a definição de regras internas. É claro que estas regras devem obedecer
às normativas estabelecidas pelos organismos que propõem as orientações
técnicas da biblioteconomia, mas, internamente, cada biblioteca, ou outro tipo de
unidade de informação, tem autonomia para decidir pelo que melhor atende às
necessidades da comunidade a quem atende.

A partir da Seção 6 do documento os elementos da política de indexação


propriamente ditos começam a ser apresentados e descritos.

6.1 Cobertura de Assunto. O conhecimento se desenvolve de modo


interdisciplinar, mas o foco da representação temática deve estar
relacionado com as necessidades de informação do público-alvo de
cada biblioteca. Diante disso, as bibliotecas setoriais do SBUFRGS
são responsáveis pela formação e desenvolvimento de coleções,
priorizando os assuntos relativos às áreas do conhecimento por elas
abrangidas.
6.2 Exaustividade. A seguir são analisados os tópicos relativos à
exaustividade.
6.2.1 Definição operacional “Exaustividade corresponde ao número
de termos atribuídos, em média, a um determinado documento”
(LANCASTER, 2004, p. 27).

83
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

6.2.2 Diretrizes. Esta Política recomenda o uso de níveis de


exaustividade, de acordo com os principais tipos de documentos
existentes nas bibliotecas.
[...]
a) Para produção Intelectual da UFRGS registrada como folheto,
utilizar o nível de exaustividade correspondente ao tipo de documento
(capítulo de livro, artigo de periódico, resumo etc.).
b) Em caso de registro cooperativo, cada biblioteca poderá acrescentar
seus próprios descritores, observando as diretrizes desta Política e o
Manual de Rotinas e Procedimentos de Indexação.
c) A exaustividade pode variar de acordo com a cobertura de assunto
de cada biblioteca. Sendo assim:
• Quando o assunto for da área temática da biblioteca, a indexação
pode ser mais exaustiva.
• Quando o assunto não for da área temática da biblioteca, a
indexação pode ser menos exaustiva.
d) Cada biblioteca deve definir o nível de exaustividade dos tipos
de documentos que, eventualmente, não estejam contemplados no
quadro. Para evitar o excesso de descritores em um mesmo registro
(obra no todo), uma alternativa é a criação de analíticas. Este recurso
é aplicável para periódicos, anais de eventos e livros compilados
(com organizador, editor ou coordenador) cujos capítulos tratem de
diferentes assuntos.
6.3 Especificidade. A seguir são analisados os tópicos relativos à
especificidade.
6.3.1 Definição operacional. “A especificidade se refere ao grau
de precisão com que um termo define determinado conceito no
documento. Ocorre perda de especificidade quando um conceito
é representado por um termo com significado mais genérico”
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992, p. 3).
6.3.2 Diretrizes. Um assunto deve ser indexado sob o termo mais
específico que o abranja completamente. Por abrangência, entende-
se o uso de termos exatos e não genéricos, pois numa hierarquia de
assuntos um termo específico está subordinado
6.4.2 Diretrizes. Esta Política determina o emprego de uma linguagem
controlada e pós-coordenada por ser a linguagem que combina ou
coordena os termos no momento da busca. Além disso, é a linguagem
mais recomendada para sistemas automatizados. Entretanto
a linguagem pós-coordenada não exclui totalmente o uso de
subcampos/subcabeçalhos. Num sistema pós-coordenado, aplicam-
se os subcabeçalhos de forma muito parecida com o modo como são
aplicados nos tradicionais catálogos de assuntos das bibliotecas. Os
melhores candidatos a subcabeçalhos são aqueles termos que seriam
potencialmente aplicáveis a muitos dos outros termos do vocabulário
(LANCASTER, 2004, p. 196). No SBUFRGS esses subcabeçalhos são
representados nos subcampos x, v, y e z, recursos disponíveis no
formato Machine Readable Cataloging (MARC). O uso do subcampo
a (descritor), combinado com os subcampos x, v, y, z, (subdivisão
geral, forma, tempo e lugar, respectivamente) dentro de critérios
pré-estabelecidos, não caracteriza pré-coordenação. Este recurso
pode ser usado para aumentar o nível de especificidade quanto ao
assunto e quanto aos limites de forma, tempo e lugar, reduzindo as
falsas associações e qualificando a recuperação da informação. Os
critérios para o uso desses subcampos estão detalhados no Manual de
Procedimentos de Indexação (SILVA et al., 2014, p. 12-16).

84
TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

Percebemos aqui o registro das diretrizes que devem ser aplicadas na


atividade de indexação em si. É muito importante destacar que a cobertura do
assunto é definida de acordo com as características de público usuário e por cada
biblioteca setorial. Por mais que as bibliotecas sejam estruturadas como rede, a
política de indexação leva em conta que cada uma das componentes desta rede
pode carregar em si características muito específicas, a depender das áreas do
conhecimento humano abrangidas pelos cursos de graduação e pós-graduação.

Outro cuidado que é possível de ser observado nesta política, é que a cada
vez que surge uma nova diretriz, há uma conceituação para ela. O documento
deixa claro o que é exaustividade no âmbito deste sistema de bibliotecas, e,
somente depois há o estabelecimento do modo da ação. Especialmente no caso da
exaustividade, as características do documento e da unidade de informação são
bastante consideradas. Por fim, vemos que Lancaster, estudioso no qual viemos
embasando-nos desde o início desta disciplina, também é citado no documento
em tela, o que mostra sua relevância na área.

Para além destes elementos, a instituição apresenta também um rol de


competências e habilidades esperadas do bibliotecário que vai atuar na instituição
desenvolvendo atividades de indexação. É o que segue:

7 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DO BIBLIOTECÁRIO


INDEXADOR
O desempenho das atividades de indexação requer um profissional
com habilidades e competências específicas. Nesse sentido, com base
na literatura e na prática diária do bibliotecário, foi identificado o perfil
desejável deste profissional. Esta Política considera que os seguintes
fatores são importantes para qualificar o trabalho do bibliotecário
indexador no SBUFRGS:
a) conhecer as áreas de assuntos tratados;
b) conhecer e aplicar as políticas do sistema;
c) identificar as necessidades informacionais dos usuários;
d) possuir bom nível de concentração e capacidade de interpretação
de texto;
e) observar os princípios de imparcialidade e coerência;
f) dialogar e/ou negociar questões de indexação;
g) participar de capacitações dentro de sua área de atuação.
Além disso, o indexador deve ter consciência de que atua de forma
cooperativa inserido num sistema e que suas decisões podem interferir
diretamente na indexação do sistema como um todo (SILVA et al.,
2014, p. 17).

Vejam que é esperado que o bibliotecário deste sistema de bibliotecas


conheça a fundo os princípios da atividade de indexação, de onde podemos
inferir a necessidade de constante atualização que atua nestes setores. Chama-
nos a atenção a alínea “a” acima, que aponta que o bibliotecário deve conhecer as
áreas de assuntos tratados nos documentos que indexa. No item Considerações
Final da Política de Indexação do SBUFRGS ressalta-se

85
UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO

a importância do diálogo e da negociação entre os bibliotecários de


uma mesma biblioteca, bem como entre os bibliotecários das demais
bibliotecas. A exaustividade, a especificidade e a linguagem estão
sujeitas a avaliação e controle para verificar se as diretrizes estabelecidas
pela Política de Indexação estão sendo observadas e se os objetivos
propostos estão sendo alcançados (SILVA et al., 2014, p. 18).

A instituição acredita que a observação da política de indexação reduzirá


as inconsistências desta atividade, além de contribuir para que o bibliotecário
indexador adote melhores práticas em seu trabalho (SILVA et al., 2014).

Para finalizar este tópico, gostaríamos de uma vez mais, ressaltar a


importância da elaboração de uma política de indexação nas unidades de
informação. E um documento como este requer estudo, conhecimento da
instituição e do processo de indexação em si. Trata-se de registra COMO a
indexação será realizada em uma dada unidade. Isso faz com que todos os
membros de uma equipe de processo técnico possam desenvolver igualmente
sua prática, visando sempre a recuperação da informação.

86
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A política de indexação é um instrumento de decisão administrativa dentro de


unidades de informação.

• A política de indexação estabelece diretrizes para o desenvolvimento adequado


da indexação.

• Cada biblioteca deve estabelecer sua política de indexação de acordo com as


demandas apresentadas pela sua comunidade usuária.

• A formação continuada do indexador é essencial para que ele possa efetivar


mais adequadamente as diretrizes da política.

87
AUTOATIVIDADE

1 Os termos a seguir foram selecionados do sistema nocional da área da


Medicina. Estabeleça entre eles relações hierárquicas (subordinadas) e não
hierárquicas.

Área do conhecimento:
Medicina
Termos:
Psiquiatria
Residência em Emergência Hospitalar
Unidade de Tratamento Sem-intensivo
Medicina alternativa
Cefaleia
Oncologia
Tratamento de Fraturas com pinos
Doenças coronárias em decorrência de carcinomas
Traumas Ortopédicos
Formação médica

2 Os termos a seguir foram selecionados do sistema nocional da área da


Artes. Estabeleça entre eles relações hierárquicas (subordinadas) e não
hierárquicas.

Área do conhecimento:
Artes
Termos:
Música
Entalhe em madeira
Artes plásticas
Grécia
Aulas de Artes
Pintura em óleo
Roma
Movimento musical na Tropicália
Artes cênicas
Características de fotografia artísticas
Arte barroca
Capela Cistina
Esculturas em mármore
Teatro satírico

3 Os termos a seguir foram selecionados do sistema nocional da área da


Engenharia. Estabeleça entre eles relações hierárquicas (subordinadas) e
não hierárquicas.

88
Área do conhecimento:
Engenharia
Termos:
Engenharia de alimentos
Engenharia civil
Pré-sal
Engenharia marinha
Engenharia sanitária
Projetos de estradas de rodagem
Engenharia de produção
Engenharia de petróleo
Curso superior de engenharia elétrica
Políticas internacionais
Vigilância em saúde
Engenharia de transportes
Ensino de engenharia

4 Com base nas propostas de política de indexação apresentados neste tópico,


crie um novo modelo para uma biblioteca especializada em moda. Imagine
que esta biblioteca atende a um curso superior de moda, com cerca de 350
alunos e 20 professores. Está localizada em um município que tem boa parte
da renda gerada pelo setor têxtil. A biblioteca acaba atendendo também a
usuários advindos deste setor econômico, uma vez que a biblioteca pública
do município não possui em seu acervo, informações especializadas na área,
atendendo quase que exclusivamente a alunos advindos do ensino básico.
Ela tem uma equipe de trabalho composta por bibliotecários e auxiliares de
biblioteca que dividem tarefas de acordo com seu nível de conhecimento das
atividades cotidianas. A maior parte de seu acervo é constituído por livros,
mas também há periódicos especializados, material audiovisual e muitas
fotografias de desfiles realizados pela própria comunidade acadêmica.

89
90
UNIDADE 3

INDEXAÇÃO E
RESUMOS: PRÁTICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar tipos específicos de resumos historicamente desenvolvidos


por serviços de resumos;

• indexar itens bibliográficos e imagens;

• elaborar resumos dos diversos tipos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES

TÓPICO 2 – PRÁTICA DE INDEXAÇÃO

TÓPICO 3 – PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS

91
92
UNIDADE 3
TÓPICO 1

RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Indexar, em linhas gerais, significa indicar, representar. Até aqui, vimos
que a indexação de uma dada obra é uma atividade inerente ao profissional da área
da biblioteconomia, que consiste em identificar conceitos e noções que compõem
os conteúdos desta mesma obra e representá-los(as) em palavras-chave. São estas
palavras-chave que darão acesso ao usuário aos conteúdos desejados. Agora,
veremos que existe uma outra forma de também indicar e representar conteúdos:
a partir de resumos.

Elaborar resumos também requer algumas habilidades do bibliotecário


uma vez que é necessário identificar, em um dado texto, suas ideias principais
e selecionar, entre todas as informações contidas nele, as que darão ao usuário a
condição de decidir se devem ou não acessar o documento original.

Neste tópico aprenderemos a identificar diferentes tipos de resumos


produzidos por serviços de resumos. Também teremos a oportunidade de aprender
quais são os elementos essenciais para a elaboração de um bom resumo, o que,
em última instância, significa elaborar uma ótima representação do texto integral.
Deveremos frisar que os resumos são representações de documentos e que, ao lê-
los, o leitor deve conseguir decidir-se pelo uso do documento original ou não.

2 CARACTERÍSTICAS DOS RESUMOS


Indexar, como vimos, até agora, é uma atividade inerente ao tratamento
temático da informação, que visa à recuperação da informação a partir de termos
que representem as ideias contidas no texto integral. Já o resumo tem a mesma
função de representar conteúdos, mas deve ser elaboração com mais informações.

Segundo Lancaster (1997), o resumo é uma representação sucinta do


conteúdo de um documento. Para o autor, o resumo verdadeiro é um texto criado
pelo resumidor, no caso, o bibliotecário, e não pelo autor. Este tipo de registro
pode ser caracterizado de inúmeras formas, inclusive, segundo sua extensão.

Não existe razão para que os resumos tenham todos a extensão parecida,
pois são muitos os fatores que influem nesta característica: a extensão do item que
está sendo resumido; a complexidade do conteúdo; a diversidade do conteúdo; a
importância do item para o local; custo; finalidade; entre outros.

93
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

Os tipos mais comuns de resumos são os denominados resumos indicativos


e os resumos informativos. O resumo indicativo apenas indica do que trata o
documento, enquanto que o informativo sintetiza a substância do documento.

Nos exemplos a seguir, baseados em Lancaster (1997) podemos identificar


estas diferenças. Vejamos.

Resumo indicativo
Foram realizadas entrevistas telefônicas em 1985 com 655 norte-
americanos selecionados por amostragem probabilística. Expressam-
se opiniões sobre se 1) a formação de um estado palestino é essencial
para a paz na região, 2) deve ser reduzida a ajuda norte-americana
a Israel e ao Egito. Os entrevistados indicaram se estavam ou não
suficientemente informados sobre os vários grupos nacionais da
região.
Agora, o mesmo documento resumido, só que com base na estrutura
de resumo informativo:
Entrevistas telefônicas foram realizadas em 1985, com 655 norte-
americanos selecionados por amostragem probabilística, produziram
estes resultados: a maioria (54 – 56%) acha que deve ser reduzida a
ajuda norte-americana a Israel e ao Egito; mais de 80% consideram
importante que os EUA mantenham relações amistosas tanto com
Israel, quanto com os países árabes. Os Israelenses são o grupo nacional
mais conhecido e os sírios o grupo menos conhecido (LANCASTER,
1997, p. 90 - 91).

Um terceiro tipo de resumo que pode ser citado é o resumo crítico. Ele
tem características avaliativas. O resumidor exprime, no texto, opiniões sobre
a qualidade do trabalho por exemplo. O portal Projeto Acadêmico lembra das
diferenças entre um resumo e uma resenha. Resumo é o tipo de texto que visa
recapitular ou elaborar uma síntese das ideias principais e secundárias de outro
texto. Já a resenha é a apresentação de um produto com um parecer, favorável ou
não, a ele.

O resumo crítico deve ser pensado como uma síntese que auxilie o leitor
a compreender determinada obra, e, consequentemente, deve dar ao leitor a
possibilidade de decidir pelo uso ou não do documento integral. Visa extrair, de
forma coerente, as ideias principais de uma obra, de parte dela, ou de determinado
texto. O serviço de resumo deve seguir a mesma linha de raciocínio e as ideias
propostas pelo autor. O enfoque do resumo crítico é uma análise baseada no
ponto de vista do resumidor, que dá sua percepção sobre as ideias expostas no
texto original (PORTAL ACADÊMICO, 2019).

O texto do resumo crítico deve partir sempre de uma análise temática,


por isso é recomendado que ele responda a algumas questões como: qual o
assunto central do texto? Qual a problematização apresentada? Qual a solução
apresentada para o problema? Quais os argumentos apresentados para resolução
da problemática? Também podem constar do resumo os dados bibliográficos mais
relevantes, passando para as ideias principais, ressaltando os objetivos, resultados
e métodos, bem como a conclusão a que o texto chega. Não são recomendados

94
TÓPICO 1 | RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES

elementos que gerem redundância. No resumo crítico é necessário que se faça


uma análise, um comentário sobre o que foi lido, mostrando porque o leitor deve
consultar esta obra. É permitido o uso de paráfrases julgadas necessárias para
expor seu ponto de vista, sua avaliação, seja ela positiva ou negativa (PORTAL
ACADÊMICO, 2019). Vejamos um exemplo de resumo crítico a seguir.

REFERÊNCIA: FARRARO JÚNIOR, L. A. Encontros e caminhos: formação de


educadores(as) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, 2005.
Páginas: 263 a 272

RESUMO CRÍTICO

TEMA: A utopia do profissional de educação Ambiental.


Assunto Discutido: As diversas situações desafiadoras encontradas e
vivenciadas pelo profissional da educação o leva, na maioria das vezes, à muitas
frustrações e desilusões diante de tantas problemáticas existentes na sociedade
que o convida na formação de seus indivíduos. A relação com o meio em que
vive e as peculiaridades das novas sociedades projetam a necessidade de uma
formação para o educador além das necessidades específicas de cada área
do conhecimento, a intencionalidade de uma formação interdisciplinar, uma
vez que tudo deve conduzi-lo à utopia de formação ambiental emergencial,
já que tudo converge para questões ambientais. Na sua própria formação de
educador ambiental, o profissional precisa estabelecer ponte de conexão de sua
formação profissional com sua prática pessoal. Não se pode ensinar o que não
se transformou em experiência. A educação ambiental é um bem maior do que
troca de informações e repasse de conhecimento. É algo que, em seu idealismo
ofereça a formação integral do ser humano. O desafio principal nesse caso, é que
o profissional educador ambiental promova a integração de diversos tipos de
saberes, sem deixar que o cotidiano o interpele e atrapalhe o desenvolvimento
de seu trabalho com princípios e características emancipatórias.
Conclusão: Dessa forma, é preciso sempre dispor-se de uma autorreflexão
sobre cada situação vivenciada pelo profissional de educação ambiental, de
maneira que seja possível estar conectado com as mudanças existenciais da
atualidade, sejam em cabedais do conhecimento, sejam em atuações diretas nos
desafios propostos.
Análise Crítica: Base literária muito instigadora, este texto nos leva a uma
reflexão do educador ambiental, bem como sua introspecção real sobre o
próprio despertar para a necessidade de se viver educação ambiental em todo
os aspectos da sociedade atual. Que cada ação direcionada à degradação do
meio ambiente, deve ser considerada reflexo de uma ação não pensada pelo
indivíduo. As autoras conseguiram nos trazer muito próximos de um ideal
que muitas vezes se torna inalcançável pelas demandas socioeconômicas que
sobrepõem os interesses coletivos.

FONTE: Adaptado de Portal Acadêmico (2019).

95
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

Notemos que o exemplo exposto anteriormente mostra a estrutura


dividida do resumo, dando destaque para cada uma das partes, o que torna o
exemplo bastante didático, no entanto, não é necessário que em seu resultado
final que o ressumo seja apresentado com estas divisões, podendo ser redigido
em um único item.

É Lancaster (1997) que nos apresenta um quarto tipo de resumo: o resumo


modular. Ele destina-se a ser uma descrição mais completa de determinados
documentos. Cada resumo consiste em cinco partes: uma citação, uma anotação,
um resumo indicativo, um resumo informativo e um resumo crítico. Já foram
bastante utilizados em serviços de resumos e sua primordial finalidade “era
eliminar a duplicação e o desperdício do esforço intelectual envolvido na
elaboração, de forma independente, de resumos dos mesmos documentos por
diversos serviços”, mas não pretende padronizar resumos (LANCASTER, 1997,
p. 95).

Lancaster (1997) ainda nos apresenta os resumos chamados de literaturas


concisas, caracterizadas pelo emprego de enunciados altamente condensados. Os
resultados dessa condensação podem ser condensados mais uma vez até que se
chegue ao ponto principal de um documento. “Este tipo de sumarização não é um
resumo no sentido convencional; no entanto, as literaturas concisas, certamente,
guardam uma relação com os resumos” (LANCASTER, 1997, p. 94).

O próximo resumo que apresentamos, ainda com base em Lancaster


(1997), é o minirresumo, que apesar de nos parecer um resumo curto, era, na
verdade, bastante estruturado e utilizado especificamente em buscas realizadas
em computadores. Os termos utilizados neste resumo são extraídos de um
vocabulário controlado e reunidos em uma dada sequência. “Por exemplo, o
enunciado “Existe um decréscimo da quantidade de zinco no sangue dos seres
humanos com cirrose do fígado” seria escrito assim: /DECR/ZINCO/SANGUE/
HUMANOS/CIRROSE/FÍGADO” (LANCASTER, 1997, p. 99).

O último tipo de resumo que nos é apresentado nesta sequência é o


resumo telegráfico. Ele não é elaborado com frases completas e se assemelha aos
antigos telegramas, de onde surge sua denominação.

Quanto às finalidades dos serviços de resumos, cita-se: a facilitação do


processo de seleção, o esclarecimento acerca de conteúdos escritos em idiomas
não dominados pelo leitor, e ainda podem ser bastante úteis em serviços de alerta
oferecidos por bibliotecas.

As características de um bom resumo são brevidade, exatidão e clareza.


Ele deve ser elaborado a partir de termos contidos no título do documento, sem
repeti-los depois. Quanto ao seu formato:

96
TÓPICO 1 | RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES

o que deve ser incluído num resumo depende muito, naturalmente, do


tipo do documento que se tem em mira. Um longo resumo indicativo
de uma certa espécie de relatório de pesquisa mencionaria os objetivos
da pesquisa, os procedimentos e de outra natureza adotados, os
tipos de resultados alcançados [...] e as conclusões do autor quanto
à importância dos resultados. O tratamento a ser dado em artigo de
cunho histórico, por outro lado, seria bastante diferente. O resumo,
por exemplo, daria ênfase à tese ou às conclusões do autor, tomando
o cuidado de mencionar os períodos, localidades geográficas e
personalidades envolvidas (LANCASTER, 1997, p. 102).

O resumo, para que possa ser considerado completo, deva apresentar


algumas partes essenciais: a referência bibliográfica, o corpo do resumo e
a assinatura do resumidor, ou, se for o caso, a indicação de que o resumo foi
elaborado pelo autor.

Lancaster (1997) apresentou o seguinte esquema sobre princípios


destinados à redação de resumos, publicados pelo Defense Documentation
Center, de 1968:

Neste esquema tem-se:


1) Resumo informativo, sempre que possível.
2) De 200 à 250 palavras.
3) Utilização da mesma terminológa técnica do documento.
4) Conteúdo com: objetivos, métodos, resultados, validade dos dados,
conclusões e aplicações.
5) Utilizar algarismos para representar números sempre que possível.
6) Frases curtas.
7) Evitar símbolos e siglas não convencionais, pouco conhecidas.
8) Não utilizar abreviatura incomum.
9) Não apresentar equação, nota de rodapé ou elementos preliminares do
texto.
10) Nenhum dado de catalogação descritiva.
11) Classificação de sigilo, quando for o caso.
12) Revisão final.

Em função dos elementos apontados no esquema, podemos inferir que


a utilização deste recurso mostra-se bastante adequado para documentos cujo
conteúdo apresente conteúdo de caráter técnico e científico.

97
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• É possível identificar os diferentes tipos de resumos produzidos por serviços


de resumos.

• Existem elementos essenciais para a elaboração de um bom resumo.

• Resumos também são representações de documentos e que, ao lê-los, o leitor


deve conseguir se decidir pelo uso do documento original ou não.

98
AUTOATIVIDADE

1 A redação de um bom resumo deve atender aos critérios arrolados nas


opções a seguir, com exceção de uma. Assinale-a.

a) ( ) Evitar reproduzir o vocabulário do autor, ampliando as possibilidades


de termos de indexação.
b) ( ) Indicar o que o autor fez e não o que tentou fazer ou o que pretende fazer
no futuro.
c) ( ) Omitir informações que o leitor provavelmente já conheça ou não lhe
interessem diretamente.
d) ( ) Ser autossuficiente, de modo que o leitor não precise consultar o original
para entendê-lo.
e) ( ) Ser o mais breve possível, desde que o sentido permaneça claro e não se
sacrifique a exatidão.

2 Com base no esquema para elaboração de resumos, apresentado na Figura


2 deste tópico, elabore um resumo indicativo e um resumo informativo dos
textos a seguir:

a) Texto 1: Desmatamento na floresta amazônica brasileira: Principais causas


e consequências.

Atualmente, é grande o desmatamento na floresta amazônica, que


vem cedendo espaço para lavouras e pastos, provocando diversos impactos
ambientais.
A floresta Amazônica ocupa hoje uma área 6,5 milhões de km²,
revestindo nove países da América do sul (Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia,
Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa) com a maior floresta
tropical do mundo. Rica em biodiversidade e com uma grande quantidade de
reserva de água doce, a Amazônia é muito importante tanto para os países em
que está localizada quanto para o equilíbrio do meio ambiente mundial, mas,
apesar disso, nas últimas décadas tem sofrido uma devastação gradativa que
pode comprometer a existência desse importante bioma.
O Brasil possui a maior área dessa floresta, cerca de 85% da floresta
Amazônica está no território brasileiro e, embora a floresta Amazônica
brasileira seja o bioma mais preservado do Brasil, os índices de desmatamento
são alarmantes. Estima-se que de 10% a 30% da área coberta pela floresta
legal já tenha sido desmatada. Segundo o IBGE, somente entre os anos de
1997 a 2013 foram desmatados cerca de 248 mil km² da floresta no Brasil,
que corresponde à, aproximadamente, área do estado de São Paulo. Outras
estimativas acreditam que no ritmo de exploração atual a Amazônia pode
desaparecer quase totalmente em 40 anos.
A principal causa do desmatamento da Amazônia é a ocupação de
áreas de reserva florestal por diversas empresas estrangeiras e nacionais que
são atraídas para a região por incentivos do governo, que visa dinamizar a
99
economia da região norte, e que, por falta de fiscalização adequada, acaba por
desmatar ilegalmente grandes áreas de reserva florestal. Como a região norte
é a nova fronteira agrícola do país, as atividades econômicas relacionadas ao
espaço agrário vem sendo as principais responsáveis pelo desmatamento da
Amazônia.
Assim, em busca de um desenvolvimento econômico que favoreça
uma pequena parcela da população e que não é revertido em qualidade de
vida para a população, a floresta amazônica vai dando lugar a pastagens e
lavouras. Provocando uma série de impactos para o meio ambiente do Brasil
e do mundo, dentre eles estão:
• A perda de biodiversidade, uma vez que várias espécies de plantas são
desmatadas. Além disso, algumas espécies de plantas e animais não
conseguem sobreviver nas pequenas áreas florestais que restam.
• Impactos no ciclo hidrológico da região, uma vez que as árvores exercem
uma função fundamental no processo de infiltração e percolação da água
no solo.
• Empobrecimento do solo exposto, que passa a ser mais lixiviado pela água.
• Erosão, já que, em razão da exposição, o solo fica mais suscetível à ação da
chuva e acaba sendo transportado com mais facilidade.
• Modificação no clima mundial. As árvores são as grandes responsáveis pela
absorção do gás carbônico da atmosfera, com o desmatamento aumenta-se
a quantidade de CO2 na atmosfera, impactando assim o clima mundial.
Dessa forma, é extremamente importante conter a ocupação e o
desmatamento na Amazônia, pois, mais do que o equilíbrio ambiental de um
bioma, sua preservação contribui com o equilíbrio ambiental mundial.

FONTE: SILVIA, Olímpia Tamires. O desmatamento na Floresta Amazônica brasileira:


principais causas e consequências. https://alunosonline.uol.com.br/geografia/
desmatamento-na-floresta-amazonica-brasileira.html. Acesso em: 24 abr. 2019.

Resumo indicativo:

Resumo informativo:

b) Texto 2: História da Educação no Brasil: a constituição histórica do campo


(1880-1970)

Diana Gonçalves Vidal e Luciano Mendes de Faria Filho.


A partir do fim dos anos 1960 e início dos 70, com o surgimento dos
Programas de Pós-Graduação em Educação no país (o da PUC-Rio, em 1965,
e da PUC-SP, em 1969, foram os primeiros a se constituir), e dos anos 1980,
com a criação do Grupo de Trabalho "História da Educação" da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), em 1984, e
do Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil"
(HISTEDBR), em 1986, cresceu substantivamente a produção de trabalhos em
História da Educação no Brasil. Ao mesmo tempo foi-se constituindo uma certa
identidade, ainda que multifaceta e plural do historiador da educação. No
entanto, já desde a segunda metade do século XIX, tratados sobre história da

100
educação brasileira foram elaborados por médicos, advogados, engenheiros,
religiosos, educadores e historiadores e circularam no País e no exterior.
A vitalidade da área, percebida nestes últimos trinta anos, tem sido
objeto de reflexão de pesquisas acadêmicas e de vários balanços efetuados ao
final de Congressos de História da Educação, como o I Congresso Brasileiro de
História da Educação e os I a IV Luso-brasileiro de História da Educação; ou
por encomendas de Grupos de Trabalho, como o GT História da Educação da
ANPEd e HISTEDBR. Os estudos têm buscado delinear um panorama da atual
historiografia em educação, destacando temáticas e períodos privilegiados
pela pesquisa, bem como aportes teóricos mais recorrentes nessa escrita
disciplinar.
A produção inicial do campo também vem sendo investigada, ainda
que de maneira esporádica, revelando-se um objeto recente de interesse.
Pretendendo contribuir para a compreensão histórica da configuração do
campo da História da Educação no Brasil, sistematizando a bibliografia
disponível sobre a temática e propondo um novo ordenamento para a análise,
este artigo almeja perceber matizes dessa escrita concebida como operação
historiográfica.

HISTÓRIAS DE UMA DISCIPLINA

Debruçar-se sobre a história (ou histórias) da disciplina, no desenho


de vertentes que a compõem, não é tarefa simples. Implica efetuar escolhas,
constituir hierarquias, elaborar análises que, ao mesmo tempo que conferem
uma inteligibilidade à narrativa, instituem um passado (portanto, erigem uma
memória) para o campo. Elucidar as escolhas feitas e as hierarquias construídas
não impede os efeitos dessa inversão escriturária, mas oferece ao leitor outras
chaves de leitura do texto histórico. Nesse sentido, é necessário esclarecer
inicialmente que as obras utilizadas para este estudo foram selecionadas a
partir de dois critérios: a) atribuir-se o objetivo de versar sobre a história da
educação, muitas vezes explícito no título, como, por exemplo, a Pequena
história da educação, das madres Peeters e Cooman; b) ser reconhecida no
campo por obra de referência sobre a história educacional, mesmo que o autor
não a tenha constituído como tal, como acontece com A cultura brasileira, de
Fernando de Azevedo.
Em segundo lugar, é forçoso dizer que as três vertentes, a seguir
esboçadas, configuraram-se levando-se em conta os alertas de Certeau
sobre a operação historiográfica, considerada como uma relação entre um
lugar, percebido de maneira abrangente como recrutamento, meio ou ofício,
procedimentos de análise e construção de um texto. O fato de as termos
distinguido, entretanto, não significa que exaurimos as várias combinações
que as obras suscitavam. Outras leituras poderiam levar a entrecruzamentos
diversos e novas classificações. Aliás, algumas mediações aparecem no
interior mesmo de cada vertente, apontando para outras possibilidades de
enquadramento dos trabalhos no campo.
Por fim, cumpre explicitar que as operações aqui propostas se fizeram
tanto mais necessárias na medida em que o entendimento da história da

101
educação como um campo autônomo, apartado da filosofia da educação,
é fenômeno recente e não de todo consolidado no seio da Pedagogia. Essa
questão, contudo, será esclarecida com o decorrer da narrativa.
 
PRIMEIRA VERTENTE: A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E O INSTITUTO
HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO

"Le Brésil n'est pas tout à fait en retard sur la civilisation européenne".
Assim Frederico José de Santa-Anna Nery concluía o artigo "L'instruction
publique au Brésil", publicado na Revue Pédagogique em 1884. Em vinte
páginas escritas em francês, o autor, utilizando-se de malabarismos estatísticos,
empenhava-se em demonstrar a pujança da instrução pública no Brasil que, em
1877, ostentava uma frequência escolar 12% superior à francesa (de acordo com
os cálculos do autor). Esse não era o primeiro texto sobre educação brasileira
elaborado, nem a fórmula de apresentar estatísticas como comprobatórias do
progresso intelectual, inédita. Antes dessa publicação, os livros O Império
do Brasil, editados em 1867, 1873 e 1876, sob os auspícios governamentais,
traziam no capítulo "Cultura intelectual", dados quantificadores da presença
de alunos nos vários ramos e instituições educacionais e culturais existentes
no país. Escritas para figurar nas Exposições Universais, as obras eram peças
de propaganda do Estado Imperial.
As contribuições de Santa-Anna Nery sobre a educação brasileira não
se restringiram, entretanto, ao artigo citado. Esse paraense, antigo aluno do
Seminário de Manaus, que após receber as ordens menores no Seminário de
Saint-Sulpice, em Paris, abandonou a carreira eclesiástica bacharelando-se em
Letras, em 1867, ficou conhecido pelos livros, redigidos em francês, sobre a
Amazônia (Les pays des Amazones. L'El-Dorado. Les terres à cahoutchouc.
Orné de 101 illustrations et de 2 cartes explicatives avec un portrait de
l'autheur, gravé à l'eau-forte par Robet Kemp. Paris, Bibliothèque des
Deux-Mondes, 1885) e sobre o folclore brasileiro (Folk-lore brésilien: poésie
populaire. – contes et légendes. – fables et mythes. – poésie, musique, danses et
croyances des Indiens; accompagné de douze morceaux de musique. Préface
du prince Roland Bonaparte. Paris: Perrin, 1889). Organizou, também, a obra
Le Brésil en 1889 (avec une carte de l'empire en chromolithographie, des –
ableaux statistiques, des graphiques et cartes. Paris: Charles Delagrave, 1889),
composta de vários capítulos escritos por colaboradores eminentes, dentre
eles um sobre instrução pública que assinava, ao lado do barão de Saboia, de
Louis Cruls e do barão de Teffé. Editado sob os cuidados do Comitê Franco-
Brasileiro para a Exposição Universal de Paris, ocorrida naquele mesmo ano,
a obra era apresentada por M. Daubrée. Nela, mais uma vez com recurso a
dados estatísticos, relativos a 1869, 1876, 1882 e 1889, Nery procurava atestar
o progresso intelectual brasileiro na contabilidade da difusão de escolas
primárias públicas e na freqüência de alunos, que chegava a avaliar em 300.000.
O primeiro livro voltado exclusivamente a narrar a história da
educação brasileira, L'Instruction publique au Brésil: histoire et legislation
(1500-1889), de José Ricardo Pires de Almeida, composto como elogio ao
Império e publicado já no fim do regime (em 1889), movia-se, da mesma

102
forma, no âmbito das estatísticas e continha objetivo semelhante: afirmar a
liderança brasileira em termos educacionais. Mas agora o alvo eram os países
sulamericanos, em especial a Argentina. Dizia-se o autor constrangido ao
"dever e quase missão de restabelecer a verdade": "O Brasil é, certamente,
dentre todos os países da América do Sul, aquele que maiores provas deu
de amor ao progresso e à perseverança na trilha da civilização". A contenda
com a Argentina espraiava-se na demonstração da superioridade do regime
monárquico sobre o republicano.
Dedicado ao conde D'Eu, futuro governante brasileiro na hipótese
remota de uma manutenção do Império, o livro, redigido em francês, "língua
universalmente conhecida", de acordo com seu autor, discorria particulamente
sobre a educação no pós-Independência. A época colonial era abordada
apenas na Introdução ao volume, indiciando sua pequena relevância, apesar
de nela se inscrever o esforço precursor dos jesuítas, sumariamente descrito
nas cinco páginas iniciais; as iniciativas pombalinas, narradas nas dez páginas
seguintes; e o evento fundador da educação no Brasil, a chegada de D. João
VI, começo de uma verdadeira "constituição da nacionalidade brasileira,
nacionalidade proclamada em dezembro de 1815".
A instrução pública primária e secundária depois da Independência
era tratada em duas épocas: até o Ato Adicional, portanto de 1822 a 1834, em
parcas 10 páginas; e do Ato "aos dias de hoje", ou seja, de 1834 a 1889, em 245
páginas. A segunda época comportava, ainda, uma divisão interna entre dois
períodos: de 1834 a 1856 (34 páginas) e de 1857 a 1889 (211 páginas), tomados
para maior comodidade do leitor e entrecortando a gestão do ministro do
Império, conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz. A análise procedia de
um levantamento das leis criadas pelo Estado e recorria ao tom encomiástico
no elogio às ações da família imperial no campo educativo.
Médico, formado no Rio de Janeiro, e estudante de Direito por três anos
em São Paulo, Pires de Almeida havia sido arquivista da Câmara Municipal e
adjunto da Inspetoria Geral de Higiene na Corte, onde trabalhara nos serviços
de arquivo e biblioteca, o que, por certo, muito lhe facilitara o levantamento
de informações para a elaboração do livro. Sua produção escrita variava
bastante, versando sobre imigração italiana, economia doméstica, carnaval,
montepio civil, saneamento de Petrópolis, dentre muitos outros temas.
Publicou, em 1906, Higiene Moral — homossexualismo (A libertinagem no
Rio de Janeiro: Estudo sobre as perversões do instinto genital. Rio de Janeiro:
Laemmert & Co.), onde afirmava que a degradação do homem dava-se pela
alimentação excitante ou picante, pelo apetite venéreo, pela imaginação
ardente e, também, pelos bailes populares, os cafés-dançantes e a organização
das sociedades carnavalescas. A obra servia, para Nunes, como contraponto
a L'instruction publique au Brésil, na medida em que permitia a Pires de
Almeida, pelo avesso, retomar o projeto de intelectualidade a que estava
vinculado e que explicitara nos comentários finais do livro sobre educação: "o
historiador tem, em qualquer país, o dever de esclarecer o papel de seu país
no mundo e investigar detalhadamente as questões obscuras que interessem
às origens nacionais".

103
Membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(IHGB), Pires de Almeida partilhava de seus objetivos de coligir, metodizar,
publicar ou arquivar os documentos necessários para a história e a geografia
do Império, respeitando uma postura positivista de escrita da história. Tal
parece ser o móvel da reprodução, em anexo, de documentos citados sobre o
período colonial e da inclusão de vários excertos de relatórios e de leis no corpo
de L'Instruction publique au Brésil. Partilhava também do projeto do IHGB
de "desvendamento do processo de gênese da Nação" brasileira, percebida
como "continuadora de uma certa tarefa civilizadora iniciada pela colonização
portuguesa". Nesse movimento de construção identitária da Nação pelo
IHGB, distinguir-se do outro era necessário, seja internamente apartando-
se dos negros e índios, porque não portadores da noção de civilização; seja
externamente das repúblicas latinoamericanas, porque ameaças à forma de
governo monárquico e representação da barbárie. A chegada de D. João VI
como marco fundador da educação no Brasil, o elogio ao Império, as estatísticas
circunscritas à população livre, bem como a disputa com a Argentina, na
escrita de Pires de Almeida engendravam o mesmo padrão narrativo a que se
entregavam os letrados em torno do IHGB.
Se não podemos afirmar a filiação de Santa-Anna Nery ao IHGB (ou
ao Institut Historique de Paris, referência ao trabalho historiográfico e à visão
de história do IHGB, nos primeiros anos de sua criação, de acordo com o já
citado Manoel Guimarães), como o fizemos para Pires de Almeida, podemos
destacar a proximidade do discurso de ambos no tocante à descrição e à
interpretação dos fatos da instrução pública. A ligação clara entre Pires de
Almeida e o Instituto Histórico, matriz da tradição historiográfica brasileira,
no entanto, estabelece de maneira inesperada um vínculo entre disciplinas
que aparentemente dispunham de trajetórias apartadas.
Traduzido para o português somente em 1989, cem anos após sua
edição original, L'Instruction publique au Brésil não ficou no limbo da
historiografia educacional brasileira, desconhecido pelos autores nacionais até
tempos recentes. Ao contrário, referência de boa parte da bibliografia posterior
sobre história da educação, Pires de Almeida viu-se citado, dentre outros, por
Júlio Afrânio Peixoto, em Noções de história da educação, de 1933; Primitivo
Moacyr, A instrução e o Império: subsídios para a história da educação no
Brasil, 1823-1853, de 1936; Fernando de Azevedo, A cultura brasileira, de
1943; e Theobaldo Miranda dos Santos, Noções de história da educação, de
1945. Julgá-lo como um texto "não fundador" de uma narrativa histórica
em educação, como o fez Nunes, por não ter sido destinado ao ensino nas
Escolas Normais, parece-nos dissolver sua importância na construção de uma
tradição historiográfica em educação. Mais sugestivo talvez seja investigar a
relação entre o IHGB e a escrita da história da educação, indiciada por Pires de
Almeida, explorando vertentes desse fazer historiográfico.
Moysés Kuhlmann Jr. iniciou tal percurso. Destacou as contribuições
de Benjamin Franklin Ramiz Galvão na sistematização de fontes para uma
história da instrução pelo arrolamento de livros e artigos sobre a educação,
relatórios, memórias, regulamentos e estatutos de escola, conferências e
discursos, pareceres e projetos de lei, efetuado na classe História Literária e

104
das Artes do Catálogo que organizou para a Exposição de História do Brasil,
de 1881. Na coordenação do Livro do Centenário, elaborado agora às portas
do regime republicano, em 1900, com o intuito de "dar a conhecer as riquezas
naturais do Brasil e seus progressos em todos os ramos da atividade humana",
em que José Veríssimo Dias de Matos assinava o capítulo "A instrução e a
imprensa: 1500-1900". E, por fim, na organização do Dicionário Histórico,
Geográfico e Etnográfico Brasileiro, publicado pelo IHGB por ocasião do
centenário da Independência, que apresentava o capítulo 15 sob o título de
"Instrução pública, notícia histórica de 1822 a 1922", de autoria de M.P. Oliveira
Santos.
Nessas publicações posteriores à instalação do regime político
republicano não se alteraram significativamente as propostas de coligir e
metodizar documentos (inscritas nos Estatutos do IHGB, elaborados em 1839,
um anos após a criação do Instituto), nem de interpretar a gênese da civilização
brasileira, ambas caras à tradição narrativa da história gestada pelo IHGB. Na
esteira de tais preocupações outras obras, dedicadas especificamente à história
da educação, poderiam ser arroladas, demonstrando a permeabilidade
da produção historiográfica em educação à visão de história e do fazer
historiográfico presentes no Instituto.
A publicação do primeiro volume de A instrução e o Império: subsídios
para a História da Educação no Brasil, 1823-1853, de Primitivo Moacyr, em 1936,
inaugurou uma vasta obra, que até 1942 foi responsável pelo levantamento
e compilação de leis, estatutos e regimentos escolares, memórias, relatórios
e pareceres sobre instrução pública e particular nos vários ramos de ensino
(primário, secundário, profissional e superior) no Brasil. Ao todo, foram
editados 15 volumes, três dedicados à Instrução e o Império (entre 1936 e
1938), três à Instrução e as Províncias (entre 1939 e 1940) e sete à Instrução e
a República (entre 1941 e 1942), além de dois à Instrução pública no Estado
de São Paulo (1942) e um à Instrução primária e secundária no município da
Corte (1942).
O volume inicial da série era prefaciado por Afrânio Peixoto que,
estabelecendo uma relação de semelhança entre o trabalho de Moacyr e
Varnhagen, afirmava o livro como matéria prima de novos estudos em
educação, posto que: "No Brasil não se pesquisa. Todos tiramos de nós a
substância de nossos escritos. A história nessas condições é repetição, é
comentário, é fantasia interpretativa".
Sem introdução ou conclusão, o livro se estendia por 614 páginas, ao
cabo das quais uma pequena bibliografia relacionava além das Coleções de Leis
do Reino de Portugal e do Império do Brasil, dos Anais da Assembléia Geral
Legislativa e dos Relatórios do Ministério do Império, o livro L'instruction
publique au Brésil, de Pires de Almeida, e os artigos "Cem anos de ensino
primário (1826-1926)" (In: Centenário do Poder Legislativo), de Afrânio
Peixoto, e "A instrução pública nos tempos coloniais" (Revista do IHGB), de
Moreira de Azevedo. Foi publicado pela Cia. Editora Nacional, integrando a
série V, Brasiliana, da Biblioteca Pedagógica Brasileira, projeto coordenado
por Fernando de Azevedo para a editora, desde sua criação em 1931 até 1946.
Os demais volumes editados até 1939, referentes ao Império e às Províncias,

105
apresentavam características semelhantes, mesmo número aproximado de
páginas, mesma ausência do autor, que se limitava a compilar documentos,
mesmo pertencimento à Brasiliana. Os dois volumes sobre a instrução
paulista diferiam apenas no número de páginas reduzido para em torno de
250 e incluíam na bibliografia os livros Um retrospecto, de João Lourenço
Rodrigues, e O ensino em São Paulo, de J. Feliciano de Oliveira. Já os volumes
relativos à República apresentavam traços diferentes. As páginas mantinham-
se em aproximadamente 200 por volume, o formato abandonara o 12 x 18 cm,
assumindo o tamanho de 18 x 22,5 cm, a bibliografia ostentava outros títulos,
como José Veríssimo, A educação nacional. Passava a obra a ser publicada
pela Imprensa Nacional, sob a orientação do Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos (INEP) do Ministério da Educação e Saúde, órgão dirigido por
Manoel Bergström Lourenço Filho, de 1938 (ano de sua criação) até 1946.
A breve caracterização realizada acima suscita desdobramentos. O
primeiro relaciona-se à vinculação de Primitivo Moacyr ao IHGB, seja pelo
primado de coligir e metodizar documentos, seja pelo recurso às publicações
do Instituto e autores a ele ligados na elaboração do texto, seja ainda pelo elogio
inicial, feito por Peixoto, que situa Moacyr como herdeiro de uma tradição que
remonta a um dos personagens mais célebres do Instituto, seu antigo secretário,
Varnhagen. O segundo refere-se à inserção da obra na Biblioteca Pedagógica
Brasileira e ao acolhimento do projeto editorial pelo INEP, demonstrando a
inequívoca relação de Moacyr com a área educacional, quer pelo patrocínio
recebido, quer pela aproximação com os já renomados educadores Azevedo e
Lourenço Filho, que se estende a Anísio Teixeira. Este último, no Prefácio ao
volume 3 de A instrução no Império, afirmava:
"Aliás já lhe disse que o primeiro volume me mostrou como esse foi
— e não será ainda? — o defeito capital dos educadores brasileiros. Estivemos
todo o tempo com grandes planos gerais, com debates de princípios, chocando
ideais educativos. E nada de lhes estudar os problemas concretos, de lhes
analisar as necessidades típicas, de examinar as dificuldades e facilidades
características de execução, de realização".
As obras repertoriadas acima, entretanto, não foram as primeiras de
Moacyr. No ano de 1916, havia publicado O ensino público no Congresso
Nacional: breve notícia. No livro, podia-se identificar a mesma preocupação
em compilar leis e relatórios constatada anteriormente, no entanto, em curtos
parágrafos ao início e ao fim do texto, o autor anunciava suas intenções: "a
opinião pública é talvez injusta quando acusa o Congresso de desapreço às
cousas do ensino público". Ao longo de 200 páginas Moacyr enumerava as
iniciativas do governo republicano nos 24 anos de existência (entre 1889 e
1914), com o fito de oferecer um "modesto subsídio aos homens de boa vontade
na solução [...] do problema de nosso aparelhamento econômico e, mais, de
integração nacional".
Advogado, Primitivo fez carreira como funcionário da Câmara dos
Deputados, desde 1895, quando ingressou como redator de debates, até
sua aposentaria em 1933. Sua familiaridade com os arquivos parlamentares
facilitaram-lhe, por certo, a tarefa de compilação efetuada. Tal qual Pires de
Almeida, apoiando-se numa visão positiva de história, Moacyr, como aquele,

106
apesar de sua pretendida neutralidade manifestou seus propósitos. Aqui já
não o elogio ao Império, mas o reconhecimento da importância da função
parlamentar na organização e constituição da instrução pública.
Os sete volumes d' A Instrução e a República, de Moacyr não foram
o único investimento do INEP na divulgação de documentos úteis à história
da educação nacional. Tendo sido constituído com a função, dentre outras, de
"organizar a documentação relativa à história e à situação atual da educação no
país", o Instituto deu início em janeiro de 1940 à elaboração dos Subsídios para
a história da educação brasileira, série composta por onze volumes editados
entre 1942 e 1951, contendo a relação dos "atos e fatos de maior importância
na vida educacional do país", de caráter oficial ou iniciativa privada, em todos
os Estados nos anos de 1940 a 1950. A série, constituída para subsidiar as
leis orgânicas criadas no governo Vargas, manteve características idênticas
em todo o período, apesar da edição das citadas leis, entre 1942 e 1946, e de,
nos anos finais, a direção do Instituto ter sido entregue a Murilo Braga de
Carvalho. Uma pequena introdução, assinada pelo diretor do INEP, destacava
os aspectos considerados mais relevantes para a educação no ano. Seguiam-se
ordenadas por mês, na sequência dos dias, as notícias, intercalando as várias
unidades federativas.
O INEP dispunha ainda de "prontuários sistemáticos, referentes à
legislação do governo central, na colônia, no império e na república, e que
remetem a repertório dessa legislação, desde 1808 a esta data; como dispõe
também de repertórios da legislação dos Estados". Apesar dos esforços do
Instituto na compilação e difusão de documentos sobre a educação nacional, ao
longo dos anos 1950 cresceram as dificuldades para a execução de pesquisas,
posto que o INEP vinha se transformando em órgão de caráter eminentemente
legislador. Ao assumir sua direção em 1952, Anísio Teixeira, com o intuito de
revigorar a investigação sobre a situação do ensino no território nacional,
dedicou-se a constituir um locus privilegiado de realização de levantamentos
de dados e análises, subsidiados por cientistas sociais, e de sua divulgação.
Em 1955 era criado o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE),
ligado ao INEP e ao Ministério da Educação e Cultura. Nos anos seguintes, a
ele foram associados cincos Centros Regionais, distribuídos pelos Estados de
São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia.
Não obstante a ênfase marcadamente sociológica das interpretações,
foi nesse contexto que se publicaram os livros O ensino em Minas Gerais no
tempo do Império e O ensino em Minas Gerais no tempo da República, de
Paulo Krüger Corrêa Mourão (Centro Regional de Pesquisas Educacionais
de Minas, CRPE-MG), nos anos de 1959 e 1962. O primeiro livro, contendo
411 páginas, abordava os vários ramos de ensino, apresentando, além da
legislação, informações sobre as condições do exercício do magistério, como
salários, métodos de ensino e o que denominava curiosidades (castigos físicos
e disciplinas), bem como a história dos educandários. O segundo possuía 607
páginas e divergia do antecessor pela inclusão de uma introdução assinada
pelo autor, de agradecimentos a autoridades educacionais, dentre elas Abgar
Renault, naquele momento diretor-geral do CRPE-MG, de um apêndice
relacionando os estabelecimentos de ensino em funcionamento no ano de

107
1959 (possível ano de conclusão da obra). Mantinha, entretanto, a mesma
organização interna, constituindo o relato por ramos de ensino e pela história
de instituições escolares.
Mineiro, formado em engenharia e colaborador assíduo da revista do
Instituto Histórico-Geográfico de Minas Gerais, com textos sobre personalidades
e fatos históricos, foi, de todos os autores relacionados, o que mais se afastou
do primado positivista da mera compilação documental. Não apenas porque
emitiu, embora raros, julgamentos ao longo da obra, como comentários
sobre o divórcio entre as reformas de 1901 a 1915 e a realidade brasileira, e a
consideração do movimento de 1930, como revolução nacional, liderada por
Minas, que punha fim à primeira república; como, principalmente, porque
permitiu-se a inserção de uma Página de recordação no interior do segundo
volume, onde narrou, para quebrar a rigidez fria da História, uma lembrança
de sua infância escolar: a inauguração do Grupo Escolar de Diamantina, em
1907, pelo então presidente da Província, João Pinheiro, no qual estudou e sua
mãe foi professora.
O investimento na sistematização de fontes e divulgação de documentos
para a história da educação não cessou nos anos 1960. Vale ressaltar, aqui,
a marca que essa disposição para uma história mais próxima à descrição
documental e vazada principalmente na reprodução da fonte legislativa
imprimiu, e ainda imprime, em parcela dos trabalhos no campo. Até hoje, o
campo elabora guias, índices de legislação e edita a íntegra de leis, no âmbito de
uma escrita acadêmica ou como produto da ação de grupos, no esforço sempre
renovado de subsidiar a pesquisa. Um exemplo é a Coleção Documentos da
Educação Brasileira, iniciativa editorial da recém-criada Sociedade Brasileira
de História da Educação (1999), que objetiva disponibilizar o conjunto das Leis
e Regulamentos da Instrução Pública das várias Províncias/Estados brasileiros,
num total previsto de 80 títulos. 

FONTE: VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO, Lucino Mendes de. História da Educação no
Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970). Rev. Bras. Hist. v. 23. n. 45. São Paulo.
jul. 2003. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882003000100003&script=sci_
arttext. Acesso em: 3 maio 2019.

Resumo indicativo:

Resumo informativo:

108
UNIDADE 3
TÓPICO 2

PRÁTICA DE INDEXAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Indexar é uma atividade que se dá a partir de um processo que envolve
diferentes etapas. A partir de uma análise documentária, ou seja, a partir de uma
leitura técnica da obra indexada, são levantados os principais conteúdos contidos
nela. Só depois essas informações são transformadas em palavras-chave. Este é
o momento da tradução. No entanto, por se tratar de uma atividade de cunho
técnico, é importante que algumas regras sejam seguidas.

A norma NBR 12.676, proposta pela ABNT, é um documento oficial que


pode ser usado por bibliotecários que realizam indexação. Trata-se de uma norma
que apresenta algumas questões que, quando respondidas pelo bibliotecário,
ajuda-o a identificar os conceitos e as noções que, de fato, são essenciais de serem
representados.

Neste tópico, teremos a oportunidade de vislumbrar como se dá a prática


da análise documentária a partir da aplicação desta norma. Além disso, também
poderemos compreender a formação dos sistemas nocionais das diversas áreas
do conhecimento.

2 POR QUE PRATICAR?


Após todas as discussões teóricas apresentadas até aqui, estas próximas
duas seções estão reservadas a alguns exemplos de prática de atividades de
indexação e resumos, uma vez que as técnicas aplicadas ao tratamento temático
da informação (a exemplo do que acontece também com o tratamento descritivo
da informação) compõem o chamado núcleo duro da biblioteconomia, ou dito
de outra forma, fazem parte do que essencial na e para a área. Para além disso, a
indexação é, nas unidades de informação, uma atividade prática.

3 A ANÁLISE DOCUMENTÁRIA
Vejamos como realizar a identificação de conceitos dos itens a seguir,
conforme artigo 4.3 e suas alíneas da NBR 12.676. Os dados forma extraídos de
elementos pré-textuais dos próprios livros e artigos arrolados a seguir.

109
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

1 – Quem me roubou de mim? (Fábio de Melo)

Esta obra aborda algumas questões sobre as


dificuldades das relações humanas. Por meio de
reflexões filosóficas, textos poéticos e histórias
reais, o autor convida-nos a um mergulho em
nossa subjetividade, a fim de nos fazer conhecer
a nós mesmos e a descobrir como viver e conviver
melhor não só com as pessoas que nos cercam, mas
com todos que passam pelo nosso caminho.

a) Qual é o assunto de que trata o documento?


Relações humanas, autoconhecimento.
b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses?
Não se define a partir de técnicas, mas sim de reflexões.
c) O assunto contém uma ação, um processo?
Não.
d) O documento trata do agente dessa ação?
Não se aplica.
e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais?
Não se refere.
f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico?
Não.
g) Foram identificadas variáveis?
Não nos itens utilizados na análise documentária.
h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar?
Reflexões filosóficas e textos poéticos, o que pode indicar conteúdo advindo da
filosofia e da literatura.

2 – Sobre o tempo (Norbert Elias)

O tempo não existe em si, afirma Elias. Não é nem


um dado objetivo, como sustentava Newton, nem
uma estrutura a priori do espírito, como queria
Kant. O tempo é antes de tudo um símbolo social,
resultado de um longo processo de aprendizagem.
Norbert Elias convida a refletir sobre um processo
de aspecto fundamental do “processo civilizador”.

a) Qual é o assunto de que trata o documento?


Sobre o tempo e o processo civilizador.
b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses?
Parece apresentar a hipótese de que o tempo é um símbolo social.
c) O assunto contém uma ação, um processo?
Não, não apresenta um processo de pesquisa. Apenas mostra que é preciso
tempo de aprendizagem para entender o tempo como símbolo social.
110
TÓPICO 2 | PRÁTICA DE INDEXAÇÃO

d) O documento trata do agente dessa ação?


Não se aplica.
e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais?
Não.
f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico?
Não.
g) Foram identificadas variáveis?
Não.
h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar?
Sociologia e filosofia.

3 – Raízes do Brasil (Sérgio Buarque de Hollanda)

Uma das obras fundadoras da moderna


historiografia e das ciências sociais brasileiras. O
livro pontua, com fina sensibilidade, algumas das
mazelas de nossa vida social, política e afetiva, entre
elas a incapacidade secular para separar o espaço
público do privado, tema dos mais candentes e
que explica, em parte, a vitalidade das sucessivas
reedições deste livro.

a) Qual é o assunto de que trata o documento?


Historiografia e ciências sociais brasileiras.
b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses?
A análise documentária não revelou hipóteses.
c) O assunto contém uma ação, um processo?
Não.
d) O documento trata do agente dessa ação?
Não.
e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais?
Não.
f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico?
Brasil, especialmente o âmbito da sociedade brasileira.
g) Foram identificadas variáveis?
Não.
h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar?
Não.

Tão importante quanto utilizar a NBR 12.676 para análise de assuntos,


é compreender a configuração de LDs para que se possa fazer delas o uso mais
adequado. Este é o objetivo desta prática: estabelecer relações entre termos de um
mesmo sistema nocional, para compreender sua estrutura.

Os termos a seguir foram selecionados aleatoriamente a partir do sistema


nocional da área da educação. A prática consiste em:

111
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

1) Analisar e compreender o conceito de cada termo.


2) Organizar os termos dentro de uma estrutura lógica, de maneira subordinada.
3) Relacionar os termos entre si, a partir da concepção hierárquica e da concepção
não hierárquica.

Sistema Nocional: Educação


Termos:
Ensino superior
Educação especial
Administração de bibliotecas universitárias
Sala de aula
Projeto pedagógico de cursos de pós-graduação
Interação professor-aluno
Déficit de aprendizagem
Ensino-aprendizagem
Especialização em séries iniciais
Educação infantil
Autismo
Conselho de classe
Avaliação
Salas de referência
Reitorias e pró-reitorias
Projetos de incentivo à leitura
Currículo

Passo 1 – Analisar e compreender o conceito de cada termo:


Ensino Superior – estrutura de sistema educativo que engloba graduação e pós-
graduação. Forma pessoa para atuação reflexiva e profissional.
Educação Especial – modalidade de ensino destinada a compreender demandas
específicas de aprendizagem apresentadas por educandos e oferecer formação
adequada.
Administração de bibliotecas universitárias – serviço de gestão de uma unidade
de informação específica, a biblioteca universitária. Pode representar uma
coordenação, ou, de forma mais pessoal, um coordenador.
Sala de aula – espaços de aprendizagem comumente encontrado em
estabelecimentos de ensino em diversos níveis e modalidades. Pode possuir
diferentes disposições físicas.
Projeto pedagógico de cursos de pós-graduação – diretrizes pedagógicas que
estabelecem currículo de um curso de pós-graduação e todas as suas vertentes
pedagógicas.
Déficit de aprendizagem – desdém de ordem psíquica que dificulta a
aprendizagem.
Especialização em séries iniciais – nível específico de ensino que qualifica em
assuntos relacionados ao tema séries especiais (primeiros anos de formação
formal).
Conselho de classe – atividade pedagógica que envolve atores de uma escola, cujo
envolvimento seja cotidianamente desenvolvido em ambientes de aprendizagem,
como salas de aula.
112
TÓPICO 2 | PRÁTICA DE INDEXAÇÃO

Salas de referência – salas destinadas ao desenvolvimento de atividades na


educação infantil.
Currículo – documento que norteia os métodos de ensino e que elenca disciplinas
selecionadas para um dado fim.

Passos 2 – Organizar os termos dentro de uma estrutura lógica, de maneira


subordinada.

Passo 3 – Relacionar os termos entre si, a partir da concepção hierárquica e da


concepção não hierárquica) acabam por se fundir na prática:
EDUCAÇÃO
Educação Especial
Déficit de aprendizagem
Currículo
Sala de aula
Conselho de Classe

Ensino Superior
Admiração de BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS
Projeto pedagógico de cursos de pós-graduação
Especialização em séries iniciais
Salas de referência
Currículo
Salas de aula

Todos os termos apresentados são subordinados ao termo mais geral


EDUCAÇÃO, isto porque todos eles pertencem, neste caso, ao sistema nocional
desta área. Quando dizemos que os termos são subordinados, significa que o
termo mais específico que possa haver no sistema ainda será um conceito da área
da educação. Essa essência não se perde. Ela permanece desde o termo mais geral
até o mais específico, porque está presente nos conceitos de todos os termos.

Notem que a marcação de parágrafos que antecedem cada termo é


diferente. Cada novo nível de especificação foi representado, neste exemplo, com
um novo parágrafo. Isso significa que:

a) Educação Especial e Ensino Superior estão num mesmo nível dentro da área,
por isso as relações entre os termos é não hierárquica.
b) Os termos Déficit de aprendizagem, Currículo, Sala de aula e Conselho de
Classe são subordinados hierarquicamente ao termo Educação Especial, mas
não entre si. Entre eles a relação é não hierárquica.
c) Os termos Administração de Bibliotecas Universitárias, Projeto Pedagógico de
cursos de pós-graduação, Currículo e Salas de aula são subordinados ao termo
Ensino Superior, mas a relação entre eles é não hierárquica.
d) Já esta representação:

113
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

Projeto pedagógico de cursos de pós-graduação


Especialização em séries iniciais
Salas de referência

significa que Salas de aula é um tema tratado dentro de um tema um pouco mais
geral, que aqui é representado pelo termo Especialização em Séries inicias, que
por sua vez, é um pouco mais específico que Projeto Pedagógico de cursos de
pós-graduação.

114
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• A NBR 12.676, proposta pela ABNT pode ser utilizada nos diversos tipos de
unidades de informação com fins de realizar uma análise documentária mais
adequada.

• É indicado ao bibliotecário indexador a utilização de diretrizes quando da


realização da análise documentária da obra que irá indexar.

• Um sistema nocional obedece a uma estrutura própria, advinda das relações


dos termos e das noções que caracterizam uma dada área do conhecimento.

115
AUTOATIVIDADE

Faça a análise documentária dos itens a seguir, conforme artigo 4.3 e suas
alíneas da NBR 12.676. Os dados foram extraídos de elementos pré-textuais
dos próprios livros e artigos arrolados a seguir.

1 A construção da pessoa em Wallon e a construção do sujeito em Lacan


(Alice Beatriz Bastos)

Ao buscar conexões e diferenças entre os autores


Henri Wallon e Jacques Lacan, o presente estudo
apresenta novas perspectivas teóricas e discorre
também sobre algumas implicações educacionais
de ambas as teorias.

a) Qual é o assunto de que trata o documento?


b) Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses?
c) O assunto contém uma ação, um processo?
d) O documento trata do agente dessa ação?
e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais?
f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico?
g) Foram identificadas variáveis?
h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar?

2 Os Axiomas de Zurique (Max Gunther)

Os Axiomas de Zurique apresentam as regras


e princípios infalíveis que esses banqueiros
estabeleceram para diminuir riscos e aumentar
lucros. É só segui-los e você alcançará resultados
impressionantes em todos os seus investimentos.

a) Qual é o assunto de que trata o documento?


b) Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses?
c) O assunto contém uma ação, um processo?
d) O documento trata do agente dessa ação?
e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais?
f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico?
g) Foram identificadas variáveis?
h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar?

116
3 O corpo fala (Pierre Weil)

O corpo fala – a linguagem silenciosa da comunicação


não verbal tenta desvendar a comunicação não
verbal do corpo humano. O livro é indicado para
profissionais de qualquer área, ou seja, para todo o
ser humano.

a) Qual é o assunto de que trata o documento?


b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses?
c) O assunto contém uma ação, um processo?
d) O documento trata do agente dessa ação?
e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais?
f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico?
g) Foram identificadas variáveis?
h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar?

4 Título: Poderá um avião voar eternamente?

Publicado em: Newsweek, set/1987

Conteúdo: teste realizado no Canadá com protótipo de uma aeronave movida


a eletricidade, que não precisa de qualquer combustível convencional. A
eletricidade é transmitida do solo sob a forma de energia de micro-ondas,
sendo reconvertida em eletricidade por meio de dispositivos instalados no
avião. Teoricamente, o avião pode permanecer por meses no ar sem piloto.
Entre suas aplicações incluem-se pesquisa científica, vigilância militar,
previsão do tempo e transporte de passageiros. Os possíveis riscos das micro-
ondas para a saúde seriam um obstáculo a sua ampla aplicação.

a) Qual é o assunto de que trata o documento?


b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses?
c) O assunto contém uma ação, um processo?
d) O documento trata do agente dessa ação?
e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais?
f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico?
g) Foram identificadas variáveis?
h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar?

5 Título: A erosão e o agricultor

Conteúdo: descreve como o vento, a chuva e a neve derretida podem erodir


valiosas terras de cultivo, e avalia o volume das perdas agrícolas devidas a
essas causas na Europa Setentrional. Examina possíveis soluções, a saber, a
rotação da cultura de grãos com a de gramíneas protetoras do solo e o emprego
de árvores e terraços como quebra-ventos.
117
a) Qual é o assunto de que trata o documento?
b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses?
c) O assunto contém uma ação, um processo?
d) O documento trata do agente dessa ação?
e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais?
f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico?
g) Foram identificadas variáveis?
h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar?

118
UNIDADE 3
TÓPICO 3

PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS

1 INTRODUÇÃO
A parte técnica da biblioteconomia, tanto do ponto de vista descritivo,
quanto temático, é considerado, como vimos anteriormente, o núcleo duro da
área. É o que faz a biblioteconomia ter as características que tem. E, como toda
atividade de caráter técnico, a prática é parte indispensável para a compreensão
mais integral das etapas e processos que compõem essa técnica. Por isso, o que
propomos neste tópico é a elaboração de resumos.

Não podemos esquecer que resumir é também representar, e, tal qual a


indexação, ao ler um resumo, um usuário de um dado sistema de informação
deve conhecer as informações essenciais do texto original e decidir se deve ou
não consultá-lo. Para tanto, veremos que existem técnicas específicas que nos
permitem tal resultado.

Neste tópico aprenderemos técnicas que permitirão a elaboração de


resumos indicativos, informativos, além da compreenção das diferentes formas
de identificar quais elementos devem estar presentes em um resumo considerado
adequado à representação do documento original.

2 ELABORAÇÃO DE RESUMOS
Passaremos agora a praticar a elaboração de resumos que, como vimos
anteriormente, também são importantes formas de representar os conteúdos
de documentos originais. Veremos nesta unidade como se dá a elaboração dos
principais tipos de resumos, ainda utilizadados nos dias atuais.

Iniciemos com um resumo indicativo. Vamos ler o texto original e, em


seguida, elaborar um resumo indicativo.

Extrativismo Mineral no Brasil

Antônio Gasparetto Júnior

O Extrativismo Mineral no Brasil é importante elemento na balança comercial


do país. Desde o descobrimento do Brasil, nosso país esteve atrelado a
atividades que envolviam o extrativismo. Este tipo de atividade consiste em

119
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

obter da natureza os produtos que serão usados para comercialização direta


ou indireta pelo homem. Ocorrem então três tipos possíveis de extrativismo, o
animal, o mineral e o vegetal.

O Extrativismo Mineral tem por característica e alteração drástica do ambiente


onde é promovido. Tal tipo de extrativismo tem por fim o uso direto ou
indireto. Ele é direto quando, como no caso da água mineral, o produto mineral
extraído é utilizado em sua forma natural. É considerado indireto, que é o caso
da maioria dos minerais, quando o produto extraído é destinado a indústrias
para passar por transformações que darão origens a produtos com maior valor
agregado. A tecnologia de extração também pode variar entre simples e mais
complexa.

O Extrativismo Mineral no Brasil é uma importante fonte de recursos para a


economia do país, já que o Brasil é um dos grandes exportadores de minérios no
mundo. Por possuir um território amplo, o Brasil desfruta de ampla variedade
de recursos naturais para utilização interna e comércio externo, entretanto o
país não é autossuficiente em tudo e, em alguns casos, precisa também adquirir
tais tipos de produtos. Uma das críticas feitas ao Extrativismo Mineral no Brasil
é de que vendemos o minério para comprar o produto que é com ele fabricado,
perdendo assim a possibilidade de utilizar o recurso mineral em território
nacional para vendê-lo com maior valor agregado.

Considerando a oferta de recursos minerais que o Brasil possui, são vários os


produtos com importante representatividade para o país. Um deles é o Ferro,
cuja reserva brasileira representa a sexta maior do mundo e com elevada
qualidade. Minas Gerais é o grande estado produtor do minério na região do
Quadrilátero Ferrífero.

Apesar de possuir apenas 1% das reservas mundiais, o Manganês é um


produto que tem crescido na pauta de exportação nacional e é muito utilizado
nas siderúrgicas para produção de aço.

O Brasil está em terceiro lugar na produção mundial de Alumínio e possui um


elevado índice de reciclagem do produto.

Nos estados de Amazonas e Rondônia estão as principais áreas de produção


de Estanho, minério também utilizado na composição do aço nas indústrias.

Bahia e Pará concentram a produção de Cobre no país, a qual necessita de


importação por não dispor suficientemente do recurso natural.

Já o Ouro, que no Brasil é encontrado em jazidas e na forma de aluvião, atende


ao mercado interno e externo. É certo que a quantidade de tal minério produzido
no Brasil é bem maior do que se tem registrado por conta do extrativismo ilegal.

120
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS

Minas Gerais, Amazonas e Goiás são detentores da produção de Nióbio no


Brasil. Tal mineral é muito aplicado nas indústrias aeronáutica, naval, espacial
e automobilística por ser utilizado em ligas metálicas que oferecem resistência
e leveza.

O Brasil possui quase a totalidade mundial de Quartzo em estado natural. Esse


minério para a indústria da informática e também eletroeletrônica.

Por possuir um litoral muito extenso, o Brasil desfruta de ampla produção de


Sal Marinho, sendo que o estado do Rio Grande do Norte é o maior produtor.

O Chumbo é outro minério com baixa produção no Brasil e que necessita de


importações.

Além de todos esses recursos naturais disponíveis para exportação, o


Extrativismo Mineral no Brasil ainda conta com o merecido destaque para
Cimento, Caulim, Diamante, Enxofre, Magnesita, Níquel e Tungstênio.

FONTE: GASPARETTO JÚNIOR, Antônio. Extrativismo no Brasil. 2019. https://www.


infoescola.com/geografia/extrativismo-mineral-no-brasil/. Acesso em: 19 maio 2019.

Resumo: O Extrativismo Mineral no Brasil é importante elemento na balança


comercial do país. Tal tipo de extrativismo tem por fim o uso direto ou indireto.
No Brasil, é uma importante fonte de recursos para a economia, já que o país é
um dos grandes exportadores de minérios no mundo. São vários os produtos
com importante representatividade para o país: Ferro, Manganês, Estanho,
Cobre, Ouro, Nióbio, Quartzo, Sal Marinho e chumbo. Além dos recursos
naturais disponíveis para exportação, o Extrativismo Mineral no Brasil ainda dá-
se destaque para Cimento, Caulim, Diamante, Enxofre, Magnesita, Níquel e
Tungstênio.

Vale lembrar que é recomendado o uso de frases curtas, sempre que
possível, o uso de algarismos para números e que não se inclua nos resumos
informações descritivas, símbolos e siglas não convencionais.

Agora, vejamos a elaboração de um resumo informativo. Segue o texto


original.

MEC inaugura novos programas de incentivo à leitura

Associação Brasileira de Livreiros de Livros Escolares

O Ministério da Educação, por intermédio do Fundo Nacional de


Desenvolvimento da Educação (FNDE), está inaugurando três novos
programas de incentivo à leitura: Biblioteca Escolar, Biblioteca do Professor e
Casa da Leitura.

121
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

A Casa da Leitura, inspirada no programa “Mala do Livro”, que foi desenvolvido


pelo governo do Distrito Federal na gestão democrática e popular de 1995
a 1998, pretende distribuir no próximo ano 50 mil minibibliotecas para uso
comunitário. Elas serão instaladas em casas de particulares e gerenciadas por
associações de moradores.

O programa será executado em parceria com o Ministério da Cultura e com as


secretarias municipais e estaduais de educação, que receberão as bibliotecas
contendo os 144 títulos das 24 coleções do acervo do Programa Nacional
Biblioteca da Escola (PNBE) 2003. Em contrapartida, as secretarias fornecerão
as caixas para guardar os livros, cujo modelo foi desenvolvido e adaptado
para esse fim pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). As
secretarias ficarão encarregadas também de remunerar os agentes comunitários
encarregados de administrar as bibliotecas domésticas. Serão investidos cerca
de R$ 8 milhões na distribuição de 7,2 milhões de livros, que beneficiarão 50
milhões de pessoas. A Biblioteca Escolar tem a meta de atender a 2 milhões
de alunos de 10 mil escolas, com um acervo de 115 obras do PNBE de 1998, a
serem reeditadas pelo FNDE. No acervo destacam-se livros de ficção e de não
ficção, com ênfase na formação histórica, econômica e política do Brasil. Para
a distribuição de 1,2 milhão de livros estima-se o investimento de cerca de R$
20 milhões. 

Já a Biblioteca do Professor, ainda sem orçamento definido, pretende beneficiar,


inicialmente, os 730 mil professores de 1ª a 4ª série do ensino fundamental de
todas as escolas da rede pública do país. Cada professor receberá dois livros por
ano, a serem escolhidos por eles próprios, dentre o mesmo acervo da Biblioteca
Escolar, por meio de formulário ou pela Internet, como acontece no processo de
escolha do Programa Nacional do Livro Didático, que beneficia a 32 milhões de
alunos com livros lecionados democraticamente pelos professores. Nos títulos
disponíveis para os professores encontram-se obras de autores consagrados,
como Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Darcy Ribeiro, Gilberto
Freyre, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Mário Quintana,
Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato, Ferreira
Gullar, entre outros.  

Resumo: O Ministério da Educação está inaugurando três novos programas de


incentivo à leitura: Biblioteca Escolar, Biblioteca do Professor e Casa da Leitura. 
A Casa da Leitura pretende distribuir no próximo ano 50 mil minibibliotecas
para uso comunitário. A Biblioteca Escolar tem a meta de atender a 2 milhões
de alunos de 10 mil escolas. No acervo destacam-se livros de ficção e de não
ficção, com ênfase na formação histórica, econômica e política do Brasil.
A Biblioteca do Professor pretende beneficiar os 730 mil professores de 1ª a
4ª série do ensino fundamental de todas as escolas da rede pública do país.
Cada professor receberá dois livros por ano, por meio de formulário ou pela
internet. Nos títulos disponíveis para os professores encontram-se obras de

122
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS

Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre,
Graciliano Ramos, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Mário Quintana, Raquel de
Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato e Ferreira Gullar.

Vale lembrar que para a elaboração do resumo indicativo recomenda-se o uso


da mesma terminologia do autor, a representação dos objetivos ou finalidades
da pesquisa, quando houver, bem como sua metodologia e resultados da
pesquisa. Algarismos devem ser usados para representar números. As frases
devem, na medida do possível, apresentar-se de forme curta. Deve-se omitir
símbolos, equações e informações descritivas.

123
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

LEITURA COMPLEMENTAR

Resumo acadêmico: uma tentativa de definição

Andréa Lourdes Ribeiro1, letras@faminasbh.edu.br


1. Doutora em Estudos Lingüísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Belo Horizonte; professora na Faculdade de Minas-BH (FAMINAS),
Belo Horizonte, e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Introdução

No contexto universitário, verifica-se que o resumo é uma atividade didática


bastante solicitada pelos professores de inúmeros cursos de graduação. No
entanto, é comum presenciar também um desencontro entre o que foi pedido
pelo professor e o que foi produzido pelo aluno. Isso sem mencionar as constantes
dúvidas de ambos os lados quanto à definição e o processo de produção do
resumo no meio acadêmico.

Diante desse panorama, este trabalho busca discutir a noção de resumo,


considerando sua situação contextual, os agentes envolvidos e as características
do gênero, tentando lançar algumas luzes sobre a compreensão e produção do
que denominamos de resumo acadêmico.

I – Um passeio pelo conceito de resumo

Ao pesquisar sobre as práticas de linguagem nos gêneros escolares, Schneuwly


e Dolz, voltando seus estudos para o nível fundamental de ensino, revelam que
a cultura do sistema escolar define o resumo como uma representação sintética
do texto que será resumido, “sendo o problema de escrita reduzido a um
simples ato de transcodificação da compreensão do texto” (1999, p. 14). Essa é a
perspectiva encontrada em livros de metodologia científica e afins que orientam
os universitários quanto ao uso de algumas normas na elaboração de trabalhos
acadêmicos. Salvador, ao discutir métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica,
define o gênero como “uma apresentação concisa e frequentemente seletiva do
texto de um artigo, obra ou outro documento, pondo em relevo os elementos
de maior interesse e importância” (1978, p. 17-19). Com relação aos objetivos,
baseando-se nas normas da ABNT, o autor classifica o resumo em três categorias,
relacionadas ao tipo de informação que divulgam: • resumo indicativo, que não
dispensa a leitura do texto, uma vez que apenas descreve a natureza, a forma e o
propósito do escrito; • resumo informativo, que contém as principais informações
apresentadas no TF, dispensando assim a leitura desse; • resumo crítico, também
chamado de resenha crítica, que formula julgamento sobre o trabalho que é
resumido. Ainda descrevendo a finalidade do resumo, mas tendo em vista o
produto final, Salvador define um outro gênero textual: o resumo de assunto.
Denominado também de estudo de atualização ou estado da questão, como os
nomes evidenciam, esse gênero tem a função de apresentar uma visão geral de

124
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS

investigações feitas sobre uma determinada questão, com o objetivo de reunir


conhecimentos sobre o tema que deve ser exposto e também, ainda segundo o
autor, “sem discussão ou julgamento” (p. 17).

Outros autores bastante consultados no meio acadêmico tais como Severino


(1986) e Salomon (1971/2001), ambos em consonância com as normas da ABNT,
adotam a mesma definição e classificação para o resumo. Medeiros (1991) inova
ao apresentar uma quarta categoria que conjuga duas já existentes:

o resumo indicativo/informativo, que dispensa a leitura do texto-fonte quanto à


conclusão, mas não quanto aos aspectos tratados. Medeiros também trata de outros
gêneros textuais que circulam no âmbito acadêmico, tais como o fichamento. O
autor propõe que o fichamento pode ser realizado pelo estudioso com diferentes
funções, do que derivam variados tipos de fichas: ficha de indicação bibliográfica;
ficha de assunto; ficha de transcrição; ficha de resumo; ficha de comentário. De
acordo com esse autor, a ficha de resumo “apresenta uma síntese das idéias do
autor” (1991, p. 55). Essa definição confunde-se com a de resumo que o mesmo
autor oferece. Afinal, não fica claro se a síntese das idéias do autor registra-se
como um fichamento ou como um resumo.

Entre os autores consultados, verifica-se que sob o rótulo geral de resumo são
reunidos diferentes gêneros textuais (ou sub-gêneros) – resumo indicativo,
resumo informativo, resumo crítico ou resenha – que se distinguem na forma e na
função. As diferentes categorias estabelecidas para o resumo pautadas na ABNT
acentuam a confusão terminológica, uma vez que as nomenclaturas adotadas
confundem-se com a denominação dada por outros manuais aos mesmos
gêneros acadêmicos, como por exemplo: resumo indicativo e fichamento; o
resumo crítico e resenha. Essa confusão terminológica traz consequências para
a produção do resumo tanto para o professor como para os alunos que muitas
vezes não conseguem chegar a um consenso quanto à expectativa um do outro.
Além disso, as definições apresentadas são de cunho estruturalista e oferecem
uma visão simplista do processo de produção, uma vez que, de acordo com elas,
para resumir, bastaria ao leitor descodificar o texto-fonte para depois codificá-
lo sinteticamente. Elas desconsideram o funcionamento discursivo em jogo no
processo de elaboração do resumo. Por isso, rever o conceito de resumo, a partir
de perspectivas que tenham como base a teoria da enunciação e que partam da
noção de gênero, torna-se fundamental.

II – Gênero textual

Segundo a concepção de Bakhtin (1952/1992, p. 279), os gêneros são padrões


relativamente estáveis de texto, do ponto de vista temático, composicional
e estilístico, que se constituem historicamente pelo trabalho linguístico dos
sujeitos nas diferentes esferas da atividade humana, para cumprir determinadas
finalidades em determinadas circunstâncias. As atividades e expectativas
comuns, que definem necessidades e finalidades para o uso da linguagem, o
círculo de interlocutores, que define hierarquias e padrões de relacionamento, a

125
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

própria modalidade linguística (oral ou escrita), ligada ao grau de proximidade


e intimidade dos interlocutores, tudo isso acaba definindo formas típicas de
organização temática, composicional e estilística dos enunciados.

Os gêneros se realizam empiricamente nas mais diferentes espécies de texto, orais


ou escritas, que circulam em nosso uso cotidiano e são denominados de receita
culinária, telefonema, carta, romance, manuais de instrução, bula de remédio,
lista telefônica, notícias, dentre muitos outros. Para produzir qualquer um desses
textos, o sujeito aciona, além de suas representações sobre a situação de ação
linguagem, seus conhecimentos sobre os modelos portadores de valores de uso
elaborados pelas sociedades anteriores, ou seja, os gêneros indexados disponíveis
no intertexto (BRONCKART, 1999, p. 137).

Embora qualquer falante da língua portuguesa consiga identificar facilmente


qualquer dos textos listados anteriormente, isso só é possível porque esses
gêneros são formas convencionais de enunciados, mais ou menos estáveis,
histórica e socialmente situadas. No entanto, o aspecto convencional não impede
a tendência à inovação e à mudança, que confere aos gêneros dinamicidade e
complexidade variável. Isso porque eles se definem não apenas por propriedades
linguísticas, mas predominantemente por propriedades funcionais e pragmáticas
(MARCUSCHI, 2002, p. 19-36).

A tendência à inovação e à mudança gera a necessidade de os gêneros serem


apreendidos no dia a dia pelos membros de uma comunidade. Isso porque,
tal como postulou Bakhtin (1952/1992), os gêneros são modelos comunicativos
utilizados socialmente, que funcionam como uma espécie de padrão global que
representa um conhecimento social localizado em situações concretas e que nos
permitem identificar um texto individual como membro de uma classe mais geral.
Por isso, para Marcuschi (2002, p. 20-21), os gêneros não dependem de decisões
individuais e não são facilmente manipuláveis, eles operam como geradores de
expectativas de compreensão mútua, sendo as propriedades inalienáveis dos
textos empíricos guias que direcionam produtor e receptor.

Uma outra consideração de Marcuschi (2002, p. 21) sobre os gêneros é que esses
podem apresentar-se bastante heterogêneos com relação à forma linguística. Isso
porque há muitos casos em que não é a forma que determina o gênero, tal como
exemplifica o autor, um texto pode ser considerado como um artigo científico se
publicado numa revista científica, já se o mesmo texto for publicado num jornal
diário ele passa a ser um artigo de divulgação científica. O que muda não é o
texto, mas sim sua função e principalmente os seus aspectos sócio-comunicativos.
Assim, para definir um gênero Marcuschi defende que é preciso considerar os
papéis dos atores, as funções e objetivos do evento comunicativo e o modelo
disponível no intertexto.

Essas considerações atestam que dominar um gênero não é dominar suas


características linguísticas, mas sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos
específicos em situações particulares de uso (MARCUSCHI, 2002, p. 35-36).

126
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS

A perspectiva teórica sócio-interacionista postula que a comunicação humana


é realizada através de uma forma textual concreta, produto de uma atividade
de linguagem em funcionamento numa dada formação social. De acordo com
Bronckart (1999, p. 137), as formações sociais elaboram os diferentes gêneros
em função de seus objetivos, interesses e questões específicas. Para o autor, as
formações sócio-discursivas designam “as diferentes formas que toma o trabalho
de semiotização em funcionamento nas formações sociais” (p. 141). Bronckart,
tal como Marcuschi (2002), baseando-se também em Bakhtin, postula ainda que,
se os gêneros são meios sócio-historicamente construídos para realizar objetivos
comunicativos determinados, “a apropriação dos gêneros é um mecanismo
fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas
humanas” (1999, p. 103). Por isso, para a realização de uma comunicação eficiente,
é fundamental o conhecimento do gênero envolvido numa determinada prática
social. Diante desse quadro teórico, podemos considerar o resumo como um
gênero na medida em que ele é uma realização linguística em funcionamento em
diferentes instâncias da sociedade atual, entre elas o ensino superior.

III – Gênero resumo

Como os gêneros definem-se predominantemente por propriedades funcionais


e pragmáticas, é preciso, antes de tecer o conceito de resumo acadêmico, fazer
uma breve consideração sobre a esfera social na qual esse gênero circula. Também
é preciso conhecer os estudos atuais sobre o resumo que o redefinem a luz das
teorias que se fundamentam nas noções bakhtinianas de gênero textual. Diante
dessas considerações, será realizada em primeiro lugar uma investigação sobre
o meio de circulação desse gênero, o contexto acadêmico, abordando também os
papéis dos atores, configurando também as funções e os objetivos desse evento
comunicativo. Em seguida serão levantadas as contribuições de alguns linguistas
que se preocuparam em entender o resumo como um gênero textual.

3.1– Contexto acadêmico

Resumir é uma das práticas linguísticas mais frequentes na vida cotidiana. Saber
resumir textos lidos é uma capacidade necessária, nas sociedades letradas, para
o desempenho de várias funções e atividades profissionais. Por exemplo: um
advogado precisa resumir o que leu num processo; um administrador, o que leu
num projeto; um jornalista, o que ouviu numa entrevista e assim por diante.

O autor baseia esse conceito no de “formação discursiva” desenvolvido por


Foucault (1969). Resumir é também um saber-fazer necessário ao universo do
ensino. Schneuwly e Dolz acreditam que o resumo constitui-se num “eixo de
ensino/aprendizagem essencial para o trabalho de análise e interpretação de
textos e, portanto, um instrumento interessante de aprendizagem” (1999, p. 15).

Na prática acadêmica, a atividade de resumir é frequentemente solicitada


pelos professores de ensino superior que propõem a produção de resumos de
gêneros em circulação no contexto universitário. Esses gêneros caracterizam-

127
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

se por possuírem um enunciador autorizado pelo meio científico a veicular


conhecimentos advindos de estudos e pesquisas. Essa autorização, somada
ao poder da escrita, pode criar para o leitor um efeito de verdade, situando o
discurso científico num espaço do saber que encontra respaldo na ciência. Como
lugar de práticas discursivas, o contexto acadêmico também estrutura um saber-
fazer. Nas ciências humanas, o saber no meio acadêmico é um saber de teorias, de
modelos de outros. A origem desses diferentes saberes e a forma de apropriar-se
dos mesmos podem ou não se manifestar linguisticamente nos textos teóricos.

No entanto, tal como aponta Bakhtin (1929/2002) ao referir-se ao discurso


retórico, o discurso científico não é tão livre na sua maneira de tratar o enunciado
pelo outro. “Ele tem, de forma inerente, um sentimento agudo dos direitos de
propriedade da palavra e uma preocupação exagerada com a autenticidade” (p.
153). Em virtude disso há no meio acadêmico determinações específicas sobre
como representar o discurso do outro, as regras de citação. Esse fazer obedece a
convenções normatizadas, no caso do Brasil, pela ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas) (FRANÇA, 2003).

As regras estabelecidas pela ABNT para a citação nos resumos colocam à


disposição do textualizador duas maneiras de expressar as vozes secundárias em
seus resumos: a citação direta e a indireta. Tal como apontou Bakhtin (1929/2002,
p. 147), embora essas formas sejam convencionadas socialmente, elas traduzem
de maneira ativa e imediata uma apreensão ativa e apreciativa do discurso do
outro.

Quanto ao funcionamento discursivo da linguagem, adaptando-o às considerações


de Orlandi (1983), no contexto acadêmico, o estabelecimento da cientificidade
no discurso pode ser observado em dois pontos: a) a metalinguagem; e b) a
apropriação do cientista feita pelo aluno. Como a “metalinguagem tem um espaço
para existir” (ORLANDI, 1983, p. 13), a expectativa no meio acadêmico é que o
aluno-textualizador empregue as convenções estabelecidas para a linguagem em
uso nesse contexto, ou seja, que reproduza com suas próprias palavras o saber
legitimado pela instituição.

Por isso, este trabalho acredita que a origem da voz veiculada no texto-fonte seja
apontada pelo textualizador, através da referência bibliográfica e até mesmo do
uso de citações, revelando assim para o professor-avaliador a origem do saber
veiculado.

Quanto aos parâmetros da situação de ação da atividade didática, o resumo parece


ter objetivos diferentes para os sujeitos envolvidos no processo comunicativo.
Para o aluno, o resumo tem como função cumprir uma exigência do professor
para a obtenção de nota, fonte de estudo, apreensão de conteúdos importantes. Já
para o professor, o resumo é uma atividade que garante a leitura do texto pedido,
além de ser um instrumento que possibilita verificar o que o aluno compreendeu
do que foi lido. Definem-se, dessa forma, os papéis discursivos representados
pelos sujeitos da produção textual, de um lado o aluno que deve demonstrar

128
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS

que está cumprindo com as exigências da disciplina e que está se apropriando


dos saberes e do modo de fazer legitimados por essa esfera social; e de outro, o
professor que tem a função de avaliar o grau dessa apropriação.

Diante do exposto, produzir um resumo no meio acadêmico requer do sujeito


um conhecimento do saber que circula nessa esfera e do fazer, prática discursiva
definida pela comunidade da qual emerge esse gênero. Nessa perspectiva, a
produção do gênero resumo, mais do que um simples procedimento de ensino-
aprendizagem, é também um modo de inserção nas práticas de formação de
futuros profissionais.

Vejamos então como o resumo é definido a partir das teorias que o consideram
como um gênero em funcionamento no interior desse contexto específico.

3.2 – Revendo o conceito de resumo

Como a elaboração de resumo é uma das propostas didáticas mais frequentes


do meio acadêmico, vários pesquisadores têm se preocupado em definir esse
gênero. A seguir serão apresentados alguns dos trabalhos que propõem um novo
conceito para o resumo, partindo das concepções que consideram o texto como
produto de uma ação de linguagem em um contexto específico.
Enfocando o resumo a partir do seu contexto de produção, Machado (2002),
adotando as categorias do interacionismo sócio-discursivo de Bronckart (1999),
acredita que a análise do contexto de produção de um texto é um poderoso auxiliar
na classificação desse como pertencente ou não a um determinado gênero. Da
mesma maneira que Bronckart, a autora define o contexto de produção como
constituído pelas representações interiorizadas pelos agentes sobre o local e o
momento da produção, sobre o emissor e o receptor considerados do ponto de
vista físico e de seu papel social, sobre a instituição social onde se dá a interação
e sobre o objetivo ou efeito que o produtor quer atingir em relação ao seu
destinatário.

Embora a autora aborde brevemente o resumo no contexto acadêmico, a análise


dos parâmetros estabelecidos a permite concluir que os resumos são:

Textos autônomos que, dentre outras características distintivas, fazem


uma apresentação concisa dos conteúdos de outro texto, com uma
organização que reproduz a organização do texto original, com o
objetivo de informar o leitor sobre esses conteúdos e cujo enunciador
é outro que não o autor do texto original, podem legitimamente
ser considerados como exemplares do gênero resumo de texto
(MACHADO, 2002, p.150).

Pensando o resumo como atividade didática no ensino superior, Costa Val (1998)
aborda características do gênero tais como configuração, tamanho e grau de
explicitude, tratando-as como dependentes do objetivo que o resumidor tem ao
produzir textos desse gênero. A autora admite inclusive a técnica de simplesmente
copiar do texto-fonte as idéias principais quando se trata de produzir um registro de
leitura para uso pessoal, desde que o resumidor articule essas idéias em seu texto.

129
UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA

Também abordando o gênero no interior da comunidade acadêmica, as pesquisas


de Matencio (2003) revelam que, para produzir nesse meio, é preciso estar
inserido na prática acadêmica, ou seja, não só ter se apropriado de conceitos e
procedimentos em circulação nessa formação sócio-discursiva, mas também de
maneiras de referenciar e textualizar esses saberes.

De acordo com essa autora, o resumo é um gênero que pode ser encontrado sob
diferentes formas nas práticas acadêmicas de acordo com a função que exerce,
podendo ser agrupado em duas categorias:

• resumos envolvidos no processo de elaboração de pesquisa que têm a função


de mapear um campo de estudo, integrando a discussão do estado da arte;
• resumos colocados geralmente antes de um texto científico (artigos, dissertações,
teses), que têm a função de apresentar e descrever o modo de realização do
trabalho ao qual se refere – são os résumés ou abstracts.

Para a autora, o primeiro tipo de resumo “implica um alto grau de subordinação”


ao texto-fonte, já que permite ao leitor recuperar as macroproposições desse. Já os
résumés ou abstracts, contidos no segundo grupo, não se preocupam em descrever
a estrutura do texto-fonte, mas de enforcar o modo de realização do trabalho
científico. Para ela (2003, p. 9), esses diferentes resumos poderiam ser entendidos
como estando num continuum que vai dos que se aproximam mais do texto-fonte
até aqueles que apenas se referem brevemente a ele.

Há também de acordo com Matencio (2003, p. 9), uma terceira categoria, os


resumos que são solicitados pelos professores universitários com o propósito
oferecer aos alunos a apropriação dos conceitos necessários a sua formação e de
integrá-los às práticas discursivas do meio acadêmico. É nesse contexto que se
insere o resumo como atividade didática, neste trabalho denominado resumo
acadêmico. Esse tipo é no continuum proposto pela autora, o que mantém um
maior grau de fidelidade com relação à configuração do texto lido.

IV – Resumo acadêmico

Diante de todas essas considerações, define-se como resumo acadêmico um texto


que explicita de forma clara uma compreensão global do texto lido, produzido
por um aluno-leitor que tem a função demonstrar ao professor avaliador que
leu e compreendeu o texto pedido, apropriando-se globalmente do saber
institucionalmente valorizado nele contido e das normas as quais o gênero está
sujeito. Nessa esfera de circulação, a função do resumo acadêmico é ser um texto
autônomo, que recupera de forma concisa o conteúdo do texto lido numa espécie
de equivalência informativa que conserva ou não a organização do texto original.
Quanto à função, verifica-se que o resumo no contexto acadêmico serve tanto
ao aluno, como eficiente instrumento de estudo dos inúmeros textos teóricos e
científicos que tem que ler, quanto ao professor, como instrumento de avaliação
que permite verificar a compreensão global do texto lido. Além disso, o resumo
acadêmico pode ser considerado um gênero que proporciona ao aluno a

130
TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS

inserção nas práticas acadêmicas, uma vez que através desse gênero ele tem a
oportunidade de manifestar sua compreensão de textos científicos e exercitar a
escrita nos moldes acadêmicos.

Referências bibliográficas

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
______. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec-Annablume, 2002.
BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um
interacionismo sócio-discursivo. Tradução de Anna Rachel Machado e Péricles
Cunha. São Paulo: EDUC, 1999.
COSTA VAL, Maria da Graça. Produção de textos com função de registro de
leitura ou compreensão de texto oral – esquema, resumo e resenha crítica.
Belo Horizonte: Programa de Inovação Curricular e Capacitação de Professores
de Ensino Médio. Coordenação da Revisão do Ensino Médio da Secretaria de
Estado da Educação do Estado de Minas Gerais, 1998.
FRANÇA, Júnia Lessa. Manual para normalização de publicações
técnicocientíficas. 6. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.
MACHADO, Anna Rachel. Revisitando o conceito de resumos. In: DIONISIO,
Ângela Paiva et al. (Org.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna,
2002, p. 138-150.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In:
DIONISIO, Ângela Paiva et al. (Org.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2002.
MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles. Atividades de (re) textualização
em práticas acadêmicas: um estudo do resumo. In: Scripta, Belo Horizonte:
PUCMG, v. 1, n. 1, p. 109-122, 1997.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos,
resenhas. São Paulo: Atlas, 1991.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do
discurso. São Paulo: Brasiliense, 1983.
SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 10. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
SALVADOR, Ângelo Domingos. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica.
Porto Alegre: Sulina, 1978.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares: das práticas
de linguagem aos objetos de ensino. Revista Brasileira de Educação, Rio de
Janeiro, n. 11, p. 5-16, 1999.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 14. ed. São
Paulo: Cortez, 1986.

FONTE: RIBEIRO, Andréa Lourdes. Resumo acadêmico: uma tentativa de definição. Rev.
Científica da FAMINAS. v. 2, n. 1, jan./abr. 2006. Disponível em: http://periodicos.faminas.edu.br/
index.php/RCFaminas/article/view/155/138. Acesso em: 20 maio 2019.

131
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A elaboração de resumos indicativos se dá a partir da aplicação de uma técnica


específica que permita a indicação dos temas essenciais de um dado texto.

• A elaboração de resumos informativos, da mesma forma, se dá a partir de


técnicas que permitam não apenas indicar elementos essenciais de um texto,
mas que também informam dados específicos como a metodologia utilizada e
os resultados obtidos, em caso de pesquisas, por exemplo.

• É possível identificar elementos que devem estar presentes em um resumo


considerado adequado à representação do documento original.

132
AUTOATIVIDADE

1 Elabore um resumo indicativo e um informativo para os textos a seguir.

Texto 1

Desigualdades no uso e acesso aos serviços de saúde entre idosos do


município de São Paulo
 
Marília Cristina Prado Louvison; Maria Lúcia Lebrão; Yeda Aparecida
Oliveira Duarte; Jair Lício Ferreira Santos; Ana Maria Malik; Eurivaldo
Sampaio de Almeida.

INTRODUÇÃO
A transição demográfica e o envelhecimento populacional introduzem grandes
desafios às políticas públicas, em particular nos grandes centros urbanos.
Nestes, em especial, convive-se com altos graus de pobreza e desigualdades,
baixa escolaridade e arranjos domiciliares pouco continentes. Isso gera
necessidade de intervenções mais rápidas e equânimes, além de respostas
às novas demandas assistenciais que transcendem os núcleos familiares e os
possíveis cuidadores, familiares ou não. As doenças que comumente ocorrem
no envelhecimento ganham maior expressão no conjunto da sociedade. O
idoso utiliza mais serviços de saúde, as internações hospitalares são mais
frequentes e o tempo de ocupação do leito é maior se comparado a outras
faixas etárias.19

Ao medir a utilização dos serviços e estudar sua acessibilidade, pode-


se, indiretamente, avaliar a equidade de um sistema de saúde. Segundo
Whitehead,22 a equidade em saúde é a superação das desigualdades injustas
em determinado contexto histórico e social, implicando que necessidades
diferenciadas da população sejam atendidas por ações governamentais também
diferenciadas. Nesse sentido, a iniquidade é considerada uma "desigualdade
injusta", desnecessária, que pode ser evitada, daí sua importância para os
planejadores e gestores de políticas públicas.
Os indicadores mais adequados para avaliar a existência de desigualdade na
atenção à saúde devem estimar a chance de os indivíduos obterem tratamento
quando acometidos por alguma doença ou de receberem cuidados específicos
de proteção à saúde nos casos tradicionalmente recomendados e permitir
quantificar a contribuição das diferenças entre grupos e no interior deles como
um índice de desigualdade.3,18

O modelo teórico de utilização de serviços descrito por Andersen1,2 agrupa


os perfis de consumo em três dimensões: de capacitação, de necessidade e
de predisposição. Os fatores de capacitação se referem à capacidade de
um indivíduo procurar e receber serviços de saúde; diretamente ligados às

133
condições econômicas e à oferta de serviços: renda, planos de saúde, suporte
familiar, disponibilidade, proximidade e quantidade de serviços ofertados. Os
fatores de necessidade estão ligados às percepções subjetivas das pessoas e
ao estado de saúde. Os fatores de predisposição referem-se às características
individuais que podem aumentar a chance de uso de serviços de saúde como,
por exemplo, as variáveis sociodemográficas e familiares: idade, sexo, nível
de escolaridade e raça. Segundo esse modelo, em estudos de desigualdade, o
acesso é considerado equitativo quando somente a necessidade determina o
uso.

A Organização Pan-Americana de Saúde coordenou um estudo multicêntrico


denominado Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE)10 para traçar o perfil
dos idosos na América Latina e Caribe. Participaram desse estudo a Argentina,
Barbados, Brasil, Chile, Cuba, México e Uruguai.

O presente estudo teve por objetivo analisar os fatores relacionados à


determinação e às desigualdades no acesso e uso dos serviços de saúde por
idosos.
 
MÉTODOS

No Brasil, a população do estudo SABE foi composta pelos idosos residentes,


no ano 2000, no município de São Paulo.

A amostra total de 2.143 idosos foi composta por dois segmentos: o primeiro,
resultante de sorteio, correspondeu à amostra probabilística formada por 1.568
entrevistas. O segundo correspondeu ao acréscimo efetuado para compensar a
mortalidade na população de maiores de 75 anos e completar o número desejado
de entrevistas nesta faixa etária, composto por 575 residentes nos distritos em
que se realizaram as entrevistas anteriores. Para sorteio de domicílios usou-se
o método de amostragem por conglomerados em dois estágios sob o critério
de partilha proporcional ao tamanho. Essa amostra foi tomada do cadastro da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 1995, composto por
263 setores censitários sorteados sob o critério de probabilidade proporcional
ao número de domicílios. O número mínimo de domicílios sorteados no
segundo estágio foi aproximado para 90. Para complementação da amostra de
pessoas de 75 anos e mais utilizou-se a localização de moradias próximas aos
setores selecionados ou, no máximo, dentro dos limites dos distritos aos quais
pertenciam os setores sorteados.

Os dados foram colhidos simultaneamente, por meio de entrevistas


domiciliares, feitas com um instrumento constituído por 11 blocos temáticos
(Projeto SABE10): dados pessoais, avaliação cognitiva, estado de saúde, estado
funcional, medicamentos, uso e acesso aos serviços, rede de apoio familiar
e social, história laboral e fontes de ingresso, características da moradia e a
antropometria e os testes de flexibilidade e mobilidade.

134
A maior parte das entrevistas (88%) foi feita diretamente com o idoso,
para os demais utilizou-se um proxi-respondente quando o idoso estava
impossibilitado de responder às questões por problemas físicos ou cognitivos.
A descrição detalhada da metodologia empregada pode ser encontrada em
Duarte & Lebrão.10 Foi considerada como variável dicotômica dependente
a utilização ou não de serviços ambulatoriais nos quatro meses anteriores
à entrevista. Para a identificação de desigualdades analisou-se a associação
com a condição socioeconômica, representada pelos quintis de renda total,
categorizando-os em menor renda (sem renda, primeiro e segundo quintis) e
maior renda (terceiro, quarto e quinto quintis).

A associação da escolaridade e seguros privados com a renda indicam a


capacidade de demandar e consumir serviços de saúde. As variáveis de
predisposição consideradas foram sexo e idade. Como variáveis de necessidade
de saúde, foram utilizadas a autoavaliação de saúde e a presença de, pelo
menos, uma doença crônica autoreferida: hipertensão, diabetes e problema
nervoso ou psiquiátrico, todas como variáveis qualitativas dicotômicas.

O método estatístico utilizado foi o da regressão logística multivariada, por


passos, procedimento por eliminação (backwards). Baseou-se nas frequências
ponderadas e a odds ratio (OR), com intervalo de confiança de 95%, ajustada
mediante análise de regressão logística múltipla.5,8 Foram analisados dados
da amostra expandida para a base populacional, na qual cada registro tem
peso específico. Após descrição das frequências ponderadas e ajustadas para
o efeito do delineamento de amostra complexa, a regressão logística múltipla
foi utilizada para investigar a associação independente entre a utilização de
serviços ambulatoriais e cada uma das características socioeconômicas e de
saúde incluídas no estudo.

O estudo SABE foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde


Pública da Universidade de São Paulo e pela Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (Conep).
 
RESULTADOS

A amostra de idosos obtida no SABE representa o universo populacional de


836.204 idosos do município de São Paulo no ano 2000, constituída por 58,6%
de mulheres. Destes, 77,9% eram de pessoas idosas com até 75 anos. Observou-
se que os idosos do sexo masculino (41,4%) distribuíam-se nas faixas etárias
mais novas, pois 19,2% tinham mais de 75 anos.

A maioria dos idosos era brasileira (91,3%), se declarou branca (70,1%),


católica (70,9%), morou por mais de cinco anos em zona rural até os 15
anos (62,6%), foi casada (95,1%), teve filhos (89,9%) e não vivia só (86,8%).
Com relação à escolaridade, 79,0% frequentaram escola, 78,3% sabiam ler e
escrever um recado, e 56,5% estudaram de um a quatro anos. Dos que foram à
escola, 6,1% referiram não saber ler e escrever um recado e dos que referiram

135
saber ler e escrever um recado, 5,2 % não frequentou a escola. A população
estudada era em grande parte aposentada (48,7%), da qual 23,5% disseram
estar trabalhando na semana anterior ao inquérito; 86,3% recebiam algum tipo
de recurso financeiro e destes, 66,2% tinham outras pessoas que dependiam
deste recurso, com diferenças entre os sexos; 67,5% deles reconheceram não
ter recursos suficientes para suas necessidades diárias.

Verificou-se que 46,0% das pessoas idosas autoavaliaram sua saúde como
excelente/muito boa/boa e 54,0% regular/má. A autopercepção positiva
de saúde diminui à medida que aumenta o número de doenças referidas.
Observou-se que 18,6% dos entrevistados referiram apresentar três ou mais
doenças crônicas concomitantes, sendo hipertensão a mais prevalente (53,3%).
As comorbidades foram mais predominantes (21,9%) entre as mulheres
longevas (75 anos e mais).

Quanto à posse de seguro saúde, 41,4% não estavam cobertos por um plano
e/ou seguro privado de saúde, dos quais 53,4% referiram ter seguro social.
O tipo de seguro variou de acordo com a renda e a escolaridade e os idosos
com baixa renda e sem escolaridade dependiam mais do seguro público.
Os seguros/planos privados não cobriam a totalidade de consultas médicas,
tinham baixa cobertura de próteses (4,7%) e de medicamentos (1,3%).

Os idosos que tinham seguro privado referiram sua saúde como melhor
(55,7%) em relação aos que tinham apenas seguro público (40%), apesar
de apresentarem pequena diferença quanto à presença de pelo menos uma
doença crônica (77,7% e 76,1%, respectivamente). A maioria (60,2%) dos
idosos vacinou-se contra gripe nos 12 meses anteriores à entrevista, com
maior predominância das mulheres (61,3%). Das mulheres, 43,7% relataram
ter realizado exame citológico para prevenção de câncer ginecológico e 38,9%
exame de mamografia nos dois anos anteriores à entrevista. Quanto aos
homens, 40% referiram realização de exame clínico para prevenção de câncer
de próstata nos dois anos anteriores à entrevista.

Os idosos estudados apresentaram altas taxas de utilização de serviços de


saúde: 83,3% referiram ter realizado pelo menos uma consulta nos 12 meses
anteriores à entrevista, dos quais 4,7% referiram pelo menos uma internação
hospitalar; 64,2% referiram a utilização de serviços de saúde ambulatoriais
nos quatro meses anteriores à entrevista. Verificou-se que 85,9% dentre os
idosos que referiram internação hospitalar o fizeram apenas uma vez.

Os principais motivos citados para a não utilização dos serviços, mesmo


precisando, foram relacionados às questões da gravidade da doença, à
automedicação e, ainda, à qualidade, distância e custo dos serviços. Quando
analisados os idosos de menor renda, os motivos citados foram o problema
não ser grave, distância e qualidade dos serviços de saúde.

136
A Tabela 1 mostra a utilização dos serviços nos quatros meses anteriores
à entrevista. Em relação aos atendimentos ambulatoriais, não foram
observadas diferenças entre atendimento público e privado (24,7% e 24,1%
respectivamente), mas entre o local do atendimento, 14,5% ocorreram em
hospitais e 33,7% ocorreram em clínicas privadas. Os idosos com menor renda
utilizaram mais a clínica e os hospitais públicos enquanto os idosos com maior
renda e mulheres mais novas utilizaram mais os consultórios e hospitais
privados. As mulheres mais velhas se utilizaram mais de consultórios privados,
mesmo nas menores rendas; o hospital privado só foi mais utilizado no quintil
de maior renda. O atendimento domiciliar foi pouco referido tanto por quem
tinha seguro público quanto privado. Dos que utilizaram os serviços, 40,9%
realizaram apenas uma consulta e a média de utilização foi de 2,5 consultas
nos quatro meses anteriores à entrevista. Para a população total, a média foi
de 1,6 consultas por idoso nos quatro meses anteriores à entrevista.

Com referência à última consulta ambulatorial, observou-se que os tempos


para agendamento de consulta, ir ao serviço e ser atendido na última consulta
foram maiores entre os idosos que não frequentaram escola (Tabela 2). Na
última consulta ambulatorial 66,6% referiram a solicitação de exames, mas 7,4%
não os realizaram; desses, 2,7% não o fizeram por falta de recursos financeiros.
Em 62,4% das consultas foram prescritos medicamentos, mas 8,1% referiram
não os ter conseguido. O pagamento por exames e consultas foi semelhante,
mas para as internações praticamente não ocorreram desembolsos diretos.
Na Tabela 3 observa-se que 70% dos medicamentos foram pagos diretamente
pelo idoso. Na regressão logística, descrita na Tabela 4, observou-se que o
diagnóstico de doenças crônicas e a autopercepção de uma pior condição de
saúde foi determinante para o uso de serviços de saúde, independentemente
de outras variáveis, inclusive da renda, escolaridade e ter seguro saúde
privado.

137
138
No modelo de regressão final, a frequência à escola continuou como fator de
proteção, ou seja, ter ido à escola diminui a chance de usar serviços de saúde,
mesmo na presença de outros fatores. A variável renda isolada foi excluída do
modelo, sendo utilizada sua interação com escolaridade.

O uso de serviços foi maior em idosos com pior autopercepção de saúde


(OR=1,92), presença de doenças (OR=2,73), seguro de saúde privado
(OR=1,57) e sexo feminino (OR=1,55). A presença de diabetes apresentou
uma associação mais forte (OR=1,50) que as outras doenças. A escolaridade
apresentou comportamento contrário à renda. Apesar de renda, escolaridade
e a interação entre elas não terem sido significativas na regressão univariada,
interação renda e escolaridade (OR=1,40), assim como ter frequentado a escola
(OR=0,66) foram significativas na regressão multivariada.
 
DISCUSSÃO

A posse de seguro privado é maior na população idosa com maior renda,


maior escolaridade, menor idade e que apresenta melhor situação de saúde.
No entanto, evidenciou-se associação entre posse de seguro saúde privado e
uso de serviços de saúde, o que traduz desigualdades, independentemente
da temporalidade. Em outras palavras, ter seguro de saúde porque usa
mais os serviços ou usar mais os serviços porque tem seguro de saúde. As
desigualdades em saúde com relação à capacidade de acessar os serviços
identificam o movimento da busca, da capacidade do idoso acessar e usar
os serviços de saúde conforme sua disponibilidade e necessidade. Essa
capacidade está diretamente relacionada, além da renda e escolaridade, à
posse de seguro saúde privado, por considerar a disponibilidade da oferta
da rede pública e privada. Além disso, outros estudos são importantes no
sentido de qualificar o uso, pois a maior utilização não está necessariamente
relacionada a uma melhor atenção à saúde do idoso.

139
As desigualdades socioeconômicas indicam diferentes tempos e formas de
adoecer e diferentes necessidades e capacidades de procurar e usar serviços
de saúde. Conforme estudos de desigualdades que utilizaram a base de dados
do SABE da América Latina,15,21 idosos com pior escolaridade apresentam pior
estado de saúde em função de piores hábitos maior exclusão e menor nível de
informação e condições socioeconômicas para acessar serviços precocemente.
No entanto, o uso de serviços de saúde, maior em quem apresenta pior estado
de saúde, também sofre a influência da maior ou menor escolaridade.

Assim como na análise dos dados da PNAD 1998 e em outros estudos,11,12 as


pessoas de menor renda e piores condições de saúde apresentaram menor
utilização de serviços de saúde. Os dados da PNAD identificam que a cobertura
por plano de saúde é maior para as pessoas que avaliam seu estado de saúde
como muito bom e bom e a existência de desigualdades em favor dos mais
privilegiados. As chances de procurar serviços de saúde aumentam à medida
que os indivíduos envelhecem e não acumulam anos de estudo.14

No presente estudo, a escolaridade também apresentou um comportamento


distinto das outras variáveis, a exemplo de que os que frequentaram a escola
utilizaram menos os serviços. Renda e interação de renda e escola foram
significativas, ou seja, ter maior renda é determinante do uso mesmo tendo
frequentado escola. Isso pode indicar que frequentar a escola diminui a
necessidade do uso dos serviços, protegendo das desigualdades de acesso
determinadas pela renda. Portanto, observou-se que frequentar escola é,
independentemente das características de necessidade, um fator de menor
utilização de serviços de saúde. Nesse sentido, a escolaridade não responde,
isoladamente, como característica de condição socioeconômica para estudos
de desigualdades no uso de serviços de saúde.

O fato de a escolaridade também ser determinada em fases mais iniciais da


vida e não mudar posteriormente pode ser uma desvantagem para utilizá-la
em estudos de idosos. César & Pascoal4 verificaram que os idosos com até
quatro anos de escolaridade utilizam prioritariamente os serviços públicos,
primeiramente o hospital, seguido da clínica pública. Noronha & Andrade,15
comparando os países do Estudo SABE,10 sugerem a presença de desigualdades
sociais em todos eles, favorecendo os grupos socioeconômicos privilegiados.
Esses autores referem ainda que a probabilidade de o idoso reportar um
melhor estado de saúde é maior entre os mais escolarizados.15

O diagnóstico de doenças crônicas e a autopercepção de saúde como regular


ou má é determinante para o uso de serviços de saúde, independentemente
de outras variáveis, inclusive da renda, escolaridade e da posse de seguro
saúde privado. O diabetes é a doença autoreferida que manteve significância
na determinação do uso de serviços em contrapartida à hipertensão e doença
mental, por exemplo, que perderam força na presença das outras variáveis
relacionadas. No estudo SABE10 identificou-se uma redução na prevalência
apenas de diabetes na velhice avançada, indicando ocorrência precoce de

140
óbitos. Assim, o diabetes apresenta provável maior gravidade e maior
dependência dos serviços de saúde tanto diagnóstica quanto terapêutica.

A tipologia de uso indica pior acesso à rede ambulatorial no momento de


maior necessidade, ou seja, para os mais velhos. Os idosos mais pobres
utilizaram mais a clínica e os hospitais públicos enquanto os idosos mais ricos
utilizaram mais os consultórios e hospitais privados. A relação direta de uso
de serviços privados por quem possui seguro privado e de serviços públicos
por quem não os possui mostra que o tipo de seguro é determinante para o uso
e é utilizado quando disponível. Observou-se menor uso dos serviços entre
os homens de 60 a 64 anos, principalmente entre as classes de menor renda.
Isso pode indicar uma dificuldade de acesso por ainda estarem inseridos no
mercado de trabalho e a organização dos serviços de saúde não estar voltada
a essa necessidade.

O maior uso das internações hospitalares nos atendimentos ocorridos nos


serviços públicos indica prováveis desigualdades no acesso à consulta e, ao
mesmo tempo, mostra que a capacidade de utilização da rede pública pelo
idoso pode estar ocorrendo no limite da urgência, do descontrole das doenças
crônicas e da menor continência familiar às doenças de maior gravidade.
A frequência de internações está relacionada com a autorreferência de
doenças crônicas e apresenta pouca associação com renda e escolaridade.
A desigualdade no acesso é observada, porém menos evidente que no caso
do uso das consultas ambulatoriais, provavelmente por maior impacto dos
fatores de necessidade. Entre os que relataram não possuir seguro, nenhuma
internação foi citada, podendo indicar a total ausência de acesso a serviços
por esses idosos. A taxa de reinternação de 14,1% nos quatro meses anteriores
à entrevista é semelhante à observada na população geral, vista na PNAD
2003, que foi de 20,7%, para as internações ocorridas no último ano.

O presente estudo mostra que os idosos brasileiros apresentam altas taxas


de utilização de serviços de saúde. O uso de serviços de saúde no último ano
(83,3%) foi pouco maior que a PNAD 2003 que identificou 79,5% para maiores
de 65 anos. A população de 60 a 65 anos pode explicar essa diferença, pois
apresenta alta utilização de serviços de saúde, além do fato de que os dados
do SABE11 referem-se à cidade de São Paulo.

No município de São Paulo, durante o período do estudo, estava em


funcionamento o Plano de Assistência à Saúde (PAS) com foco no pronto-
atendimento de urgência e não na estruturação da rede de cuidados às doenças
crônicas. Não se observa uma reorganização da atenção adequada à mudança
epidemiológica que tenha ênfase na atenção às doenças crônicas.16 A equidade
dos sistemas de saúde é um direito do cidadão, que possibilita a igualdade no
acesso à atenção à saúde, mediante necessidades semelhantes. Em saúde, as
mesmas necessidades devem pressupor a utilização dos serviços de saúde,
dadas determinadas condições de acesso. No entanto, observa-se que o acesso
à saúde tende a ser pior para aqueles em piores condições socioeconômicas.6

141
Em ambos setores, público e privado, é necessário o desenvolvimento de
modelos de atenção voltados às necessidades dos idosos, que permita
identificação de demandas, criação de serviços, estabelecimento de redes
intersetoriais e gestão integrada dos cuidados crônicos.8,20 A efetiva
implementação de redes de atenção à saúde no Sistema Único de Saúde
(SUS), com centralidade na atenção básica, permite a ampliação do acesso e o
uso regular de serviços de saúde com equidade.

Considerando o direito universal à saúde, a redução das desigualdades deve ser


política pública prioritária e pressupõe ampliação de acesso à rede ambulatorial
e domiciliar com financiamento adequado, regulamentação e capacitação nos
seus vários níveis de complexidade, ajustados às necessidades dos idosos, tanto
na rede pública quanto na rede privada.13 Em política defendida pelo SUS e pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), o fortalecimento da atenção primária
amplia o acesso e permite aos idosos viverem na sociedade sem pressões para
institucionalizações em equipamentos sociais e de saúde, o que não interessa
a ninguém, tampouco à própria sociedade.9 Além disso, é necessário enfrentar
a fragmentação dos equipamentos de saúde e sociais com estabelecimento de
redes de atenção integral e com aumento da capacidade de regulação do Estado,
em busca de uma verdadeira rede de suporte social com foco na equidade e na
integralidade e que considerem o envelhecimento populacional.17

Em conclusão, a associação de renda, escolaridade, sexo e morbidade referida


traduz a grande necessidade e a baixa capacidade de utilização de serviços
de saúde pelos idosos, de acordo com o Modelo de Andersen, e indica
presença de desigualdades no uso e acesso aos serviços de saúde. A relação
dos idosos com os serviços de saúde é intensa, podendo traduzir injustiças e
inadequações que impactam na qualidade de vida dessa população e que, por
sua vez, depende de políticas públicas integradas e efetivas.

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FONTE: LOUVISON, Maria Cristina Prado et al. Desigualdades no uso e acesso aos
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v.42, n.4, ago./ 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0034-89102008000400021. Acesso em: 19 maio 2019.

144
Texto 2

SEGURANÇA QUÍMICA, SAÚDE E AMBIENTE – PERSPECTIVAS


PARA A GOVERNANÇA NO CONTEXTO BRASILEIRO

Carlos Machado de Freitas


Marcelo Firpo S. Porto
Josino Costa Moreira
Fatima Pivetta
Jorge M. Huet Machado
Nilton B. B. de Freitas
Arline S. Arcuri

Introdução  

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento


(CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro (Brasil) em 1992, teve como um
de seus objetivos o estabelecimento de princípios e compromissos comuns
entre as diferentes nações que guiassem um desenvolvimento sustentável da
comunidade global, resultando na Agenda 21 (CNUMAD, 1992). Reconhecendo
que os países com menor capacidade – institucional e financeira – para
enfrentá-los são os mesmos que possuem os maiores desafios em termos de
ameaças à sustentabilidade, foi reconhecido, na Agenda 21, que para alcançar
os objetivos e as propostas para as ações estabelecidas tornar-se-ia necessário
um significativo fortalecimento dos esforços nacionais e internacionais. Isto
incluiria tanto a responsabilidade dos países industrializados em cooperar com
os países em industrialização para a solução dos problemas referentes ao meio
ambiente e a sustentabilidade, como uma cuidadosa revisão das prioridades
e orçamentos visando, progressivamente, internalizar nas economias locais
os custos da proteção ao meio ambiente (CGG, 1995; FINKELMAN, 1996).

É exatamente neste contexto que a segurança química, entendida como um


conjunto de estratégias para o controle e a prevenção dos efeitos adversos
para o ser humano e o meio ambiente decorrentes da extração, produção,
armazenagem, transporte, manuseio e descarte de substâncias químicas,
insere-se na Agenda 21. É reconhecido como um dos muitos e sérios
problemas essenciais a serem enfrentados globalmente, necessitando-se
para tanto ampliar não só a colaboração com os governos, mas também
com inúmeros outros atores não governamentais tais como, por exemplo,
indústrias, sindicatos, consumidores, organizações não governamentais
(ONG), grupos de cidadãos, corporações profissionais e instituições
científicas, transformando-se em um problema não só de governabilidade,
mais restrita ao papel dos Estados e governos, mas de governança, nos níveis
internacional e nacionais.

O Brasil passou, em outubro de 2000, a presidir o Fórum Intergovernamental


sobre Segurança Química (FISQ) – seu mandato vai até o ano 2003 –

145
assumindo um papel de liderança internacional no que se refere ao tema. Isto
exigirá, mais do que nunca, que os setores saúde, trabalho e meio ambiente,
nas suas diversas vertentes de atuação, assim como inúmeros outros setores
do governo e atores sociais representando os trabalhadores, os empresários
e as comunidades e consumidores expostos, sejam capazes de trabalhar de
forma integrada para que possamos formular propostas amplas e efetivas
para o enfrentamento dos problemas relacionados à poluição química.
O desenvolvimento de metodologias integradas, contextualizadas aos
nossos problemas e participativas, assim como processos decisórios mais
transparentes e democráticos estão entre os desafios a serem enfrentados.

A segurança química como tema de preocupação internacional  

A segurança química como tema de preocupação internacional aparece já


na Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano
(CNUMH), realizada em Estocolmo (Suécia), em 1972. As recomendações
dessa conferência conduziram ao estabelecimento em 1980 do Programa
Internacional de Segurança Química (PISQ), uma joint venture da Organização
Mundial da Saúde (OMS), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e
do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) (ARCURI;
FREITAS, 2001; PLESTINA; MERCIER, 1996). O objetivo inicial do PISQ
era prover uma base científica reconhecida internacionalmente, para que os
diversos países pudessem desenvolver suas próprias medidas de segurança
química (PLESTINA; MERCIER, 1996).

Vinte anos após a conferência de Estocolmo, foi realizada em 1992, no Brasil,


a CNUMAD, que teve como um dos principais documentos aprovados
a Agenda 21, onde se encontra o Capítulo 19, exclusivamente dedicado ao
tema. Neste capítulo são apontados os problemas de poluição química em
grande escala, presentes e futuros, reconhecendo ser a situação mais grave
nos países em industrialização por conta da: (1) falta de dados científicos para
avaliar os riscos inerentes à utilização de numerosos produtos químicos e; (2)
falta de recursos para avaliar os produtos químicos para os quais já se dispõe
de dados (CNUMAD, 1992).

Dentre o conjunto de estratégias internacionais fixadas no capítulo 19, foram


estabelecidas seis áreas programáticas, que são: (1) expansão e aceleração da
avaliação internacional dos riscos químicos; (2) harmonização da classificação
e da rotulagem dos produtos químicos; (3) intercâmbio de informações
sobre os produtos químicos tóxicos e os riscos químicos; (4) implantação
de programas de redução dos riscos; (5) fortalecimento das capacidades e
potenciais nacionais para o manejo dos produtos químicos; (6) prevenção do
tráfico internacional ilegal dos produtos tóxicos e perigosos.

Ainda em relação às estratégias internacionais, em 1994 foi criado o FISQ, com


o objetivo de constituir um novo mecanismo de cooperação entre governos
para promover a avaliação dos riscos das substâncias químicas e sua gestão

146
ecologicamente racional, buscando integrar e unificar os esforços nacionais e
internacionais e, ao mesmo tempo, evitar a duplicação de atividades e gastos
(IFCS, 1997). Embora se trate de um fórum intergovernamental, é reconhecido
que as questões relativas à segurança química, particularmente as referentes
às seis áreas programáticas do Capítulo 19, não podem ser levadas a cabo
somente pelos governos, tornando-se necessária a participação da indústria,
dos diferentes grupos de interesse não governamentais representando
comunidades expostas, trabalhadores e organizações intergovernamentais e
científicas, entre outros.

Todos estes esforços internacionais referentes à segurança química não


podem ser compreendidos de modo descontextualizado. Como é observado
pela Comissão sobre Governança Global (CGG, 1995), o crescimento nas
quantidades de produtos químicos produzidos tem resultado em níveis de
poluição em uma escala tal que vem alterando a composição química das
águas, do solo, da atmosfera e dos sistemas biológicos do planeta, colocando
em perigo não só o bem-estar, mas também a sobrevivência do planeta.

Especialmente a partir da II Guerra Mundial, o desenvolvimento tecnológico


nos processos químicos industriais, impulsionado pela concorrência
capitalista e a globalização da economia de escala, vem resultando na
expansão da capacidade de produção, armazenamento, circulação e consumo
de substâncias químicas em nível mundial. A comercialização de substâncias
orgânicas em patamar global é um exemplo disto, passando de sete milhões
de toneladas em 1950 para 63 milhões em 1970, 250 milhões em 1985 e mais
trezentos milhões no início da década de 90 (KORTE; COULSTON, 1994).

Segundo o PISQ, existem mais de 750.000 substâncias conhecidas no meio


ambiente, sendo de origem natural ou resultado da atividade humana (IPCS,
1992). Cerca de setenta mil são cotidianamente utilizadas pelo homem, e
aproximadamente quarenta mil em significantes quantidades comerciais (IPCS/
RPTC, 1992). Desse total, calcula-se que apenas cerca de seis mil substâncias
possuam uma avaliação considerada como minimamente adequada sobre os
riscos à saúde do homem e ao meio ambiente. Acrescente-se a este quadro
a capacidade de inovação tecnológica no ramo químico, que vem colocando
disponível no mercado, a cada ano, entre mil e duas mil novas substâncias.

Este processo de crescimento do setor químico se encontra estreitamente


relacionado ao desenvolvimento de uma economia global altamente
interdependente e iníqua, em que a produção, o comércio e os investimentos
vêm consolidando um processo de divisão internacional do trabalho, que tem
conduzido a uma divisão internacional dos riscos e dos benefícios. Enquanto
cerca de 20% da população mundial, situada principalmente nos países
industrializados, consomem aproximadamente 80% dos bens produzidos,
os outros 80%, situados em geral nos países em industrialização, consomem
apenas 20% (MACNEILL et al., 1992). Na Índia, por exemplo, onde houve
o acidente químico ampliado mais grave registrado em toda a história da

147
humanidade (mais de 2.500 óbitos imediatos na cidade de Bhopal, em 1984),
o consumo de produtos resultantes da tecnologia química era de 1kg per
capita, enquanto nos países industrializados esse consumo era de 30 a 40kg
per capita (MURTI, 1991).

Diante da complexidade e amplitude dos problemas provenientes da


poluição química ambiental, que vem desafiando cada vez mais a capacidade
dos governos no que tange à segurança e à saúde dos cidadãos, notadamente
nos países industrializados, a segurança química converte-se em uma das
questões globais de governança. Expressa a constatação de que o nosso futuro
comum depende não somente do crescimento econômico, mas também da
melhoria da qualidade de vida, sobremodo para as populações mais pobres,
tendo por base os princípios de universalidade, solidariedade e equidade,
que devem ser mantidos, além de orientar as decisões e ações sobre segurança
química nos níveis global e local (CGG, 1995; FILKENMAN, 1996).

Segurança química e governança no contexto da complexidade e da


vulnerabilidade

Conforme é afirmado no relatório da CGG (1995), a mobilização do poder


coletivo das pessoas para tornar a vida no século XXI mais democrática, mais
segura, mais sustentável e com equidade é o grande desafio de nossa geração.
Isto implica a necessidade das nações e da comunidade mundial assumirem
a grande responsabilidade coletiva que lhes é colocada em relação a estas
questões, que se encontram intrinsecamente relacionadas e em que a segurança
deixa de ser a dos Estados, mas passa a ser prioritariamente a das pessoas.
A segurança química, entendida como um dos tantos e importantes aspectos
relativos à segurança da saúde, da vida e da proteção ao meio ambiente,
em virtude das ameaças presentes e futuras, coloca-se neste contexto como
uma questão de governança, nos níveis global e local, não se restringindo
aos governos e às inter-relações governamentais. É um desafio ainda maior
em países como o Brasil, em que as questões concernentes à democracia, à
segurança, à sustentabilidade e à equidade, fundamentais para a governança,
se encontram ainda pouco resolvidas e incipientes e, por isso, devem ser
integradas à questão da segurança química no País.

A construção de políticas de segurança química nos países em industrialização


como o Brasil, além de levar em consideração o enfrentamento da
complexidade e das incertezas referentes à compreensão do problema, as
quais se ampliam por conta da diversidade e da precariedade dos mesmos,
deve considerar também os aspectos referentes aos diferentes modos e níveis
de vulnerabilidades, na busca de construção de conhecimentos e processos
decisórios mais contextualizados e participativos, nos níveis local e global,
como pré-requisitos básicos para a governança.

A noção de complexidade aplicada aos problemas relacionados à poluição


química implica que não podemos reduzir suas análises a componentes

148
isolados, como operado pelas abordagens tradicionais da ciência, uma vez
que implicaria tanto perdas importantes na compreensão dos problemas,
ampliando as incertezas, como na limitação na formulação de estratégias
de prevenção e controle de tais riscos (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1993).
Em relação a isto, Funtowicz & Ravetz (1993) distinguem três níveis de
incertezas. As incertezas técnicas, relacionadas à inexatidão dos dados e das
análises, e que podem ser gerenciadas por meio de rotinas padronizadas
adequadas desenvolvidas por campos científicos particulares. As incertezas
metodológicas, relacionadas à não confiabilidade dos dados e que envolvem
aspectos mais complexos e relevantes da informação, como valores e
confiabilidade. Finalmente as incertezas epistemológicas, relacionadas às
margens de ignorância do próprio conhecimento científico, sendo este nível
envolvido quando irremediáveis incertezas encontram-se no centro do
problema (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1993).

Enfrentar as incertezas inerentes ao nosso atual modo científico de avaliar os


problemas de origem química e compreender o problema de modo amplo
e sistêmico envolve, então, integrar os múltiplos e simultâneos aspectos
de diferentes naturezas. Nesta perspectiva, as políticas globais e locais de
produção, transporte, comercialização, armazenamento, descarte e segurança,
assim como as direções dadas ao desenvolvimento da tecnologia química
estarão, simultaneamente e de modo inextricável, interagindo com as emissões
de substâncias químicas que atingirão solos, águas, atmosfera e cadeia
alimentar. Estas emissões, mediadas por reações químicas e relações sociais,
culturais, econômicas e de poder, resultarão tanto nos diferentes níveis de
contaminação dos seres humanos e ecossistemas, como nos diferentes níveis
de capacidade de resposta social ao problema. Isto implica que os processos
decisórios sobre riscos químicos com vistas à governança não podem
ser realizados tendo-se por base somente as limitadas predições técnico-
científicas, exigindo-se que considerações acerca dos inúmeros aspectos
apontados, assim como, também, os inerentes valores e interesses em jogo,
façam parte dos mesmos, complementado os aspectos de políticas públicas
(FUNTOWICZ; RAVETZ, 1993). Como observam De Marchi & Ravetz (1999),
muitos dos novos riscos, como os de origem química, combinam extremas
incertezas com possibilidade de danos extensivos e irreversíveis, exigindo
novas formas de processos decisórios.

Para que novas abordagens e novos processos decisórios sejam minimamente


viáveis, particularmente no contexto dos países em industrialização, devemos
considerar o conceito de vulnerabilidade (HORLICK-JONES, 1993). Para nós,
a vulnerabilidade deve ser subdividida em duas, que se inter-relacionam.
A primeira refere-se à vulnerabilidade populacional (MORROW, 1999) e
relaciona-se à existência de grupos populacionais vulneráveis, de acordo com
suas características em termos de status social, político e econômico, etnicidade,
gênero, incapacidade, idade etc., sendo isto derivado de variadas formas e
níveis de exclusão social. A segunda refere-se à vulnerabilidade institucional
(BARRENECHEA, 1998) e relaciona-se ao funcionamento da sociedade em

149
termos das políticas públicas, processos decisórios e das instituições que
atuam nos condicionantes estruturais ou pressões dinâmicas que propiciam
ou agravam as situações e eventos de riscos. No Brasil, consideramos que
muito ainda deve ser feito, a fim de que a segurança química na sua interface
com a governança possa ser realizada, especialmente quando se considera
que no atual contexto o Estado vem sendo continuamente desestruturado,
tornando-se incapaz de controlar e prevenir os problemas de origem química,
caracterizando uma vulnerabilidade institucional. Este quadro é agravado
pelo fato de determinados grupos sociais estarem sendo expostos a substâncias
químicas em situações sociais e ambientais precárias, caracterizando uma
vulnerabilidade populacional.

Nesta perspectiva, a governança só poderá florescer se fundada em um forte


compromisso com os princípios de equidade e democracia baseados na
sociedade civil. Os princípios da governança se encontram em consonância
com as perspectivas da saúde coletiva, devendo orientar as decisões e ações
para o setor saúde no Brasil, particularmente quando envolvem questões
ambientais, em que o leque de atores e interesses heterogêneos se amplia.

Segurança química e governança na realidade brasileira

O Brasil, dentre outros países em industrialização, como Índia e México,


sofreu um processo de intensificação de seu crescimento econômico entre os
anos 60 e 80 mediante grande endividamento externo – se encontra entre os
países com maior dívida externa –, aumento da participação de indústrias
multinacionais no processo de industrialização e forte intervenção do Estado
na economia. Em 1990, dentre os segmentos constituintes do setor industrial,
o químico representava cerca de 19% da produção do país. De acordo com a
Pesquisa Industrial Anual do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), ano de 1997, do total da receita líquida de vendas de todo o setor
industrial brasileiro, a indústria química respondeu por cerca de 22% (IBGE,
1997) e na atualidade ocupa um lugar de destaque no mundo, encontrando-se
em oitavo lugar.

No Brasil, o modelo de desenvolvimento econômico adotado, sustentado


pela ausência de um sistema político democrático – particularmente entre
os anos 60 e 80 – e grandes transformações na sociedade, combinando
concentração de capital, exploração da mão-de-obra e abandono ou omissão
do poder público no controle e prevenção dos riscos químicos, resultou em
rápida e desordenada industrialização. Paralelamente, ocorreu um intenso
e incontrolado processo de urbanização, acompanhado de grande fluxo
migratório do campo e das regiões mais pobres para os grandes centros
urbanos, relegando ao plano secundário os problemas sociais, humanos ou
ambientais (BECKER; EGLER, 1993). Uma das consequências desse processo
foi o assentamento de parte dessas populações pobres e com baixo nível de
escolaridade, que migraram do campo na busca de melhores condições de
vida e trabalho, nas áreas periféricas dos grandes centros urbanos, passando

150
a viver em condições precárias e sem acesso aos bens e serviços básicos de
saneamento, saúde e educação. Situação similar, em termos de condições
precárias de vida e trabalho, ocorreu também para aqueles que ficaram nas
áreas rurais. O resultado foi a constituição de padrões inferiores de segurança
e de proteção ambiental e à saúde não só no nível internacional, mas também
no nível interno dos países de economia periférica, definindo, assim, as áreas
salubres e seguras e as insalubres e inseguras (BARBOSA, 1992; GUILHERME,
1987; TORRES, 1993).

Nas áreas rurais, são bem conhecidos os casos de contaminação por agrotóxicos
de trabalhadores e de suas famílias, bem como moradores das áreas próximas
expostos à contaminação ambiental (águas, ar e solos) e da cadeia alimentar,
num circuito de complexas interações químicas e sociais. Tendo origem também
nos problemas estruturais resultantes dos modelos de desenvolvimento
adotados no país, a ausência de uma política de reforma agrária e de oferta
de trabalhos estáveis contribuiu para fluxos migratórios do campo não só
para as cidades, mas também para áreas de mineração, caso dos garimpos de
ouro na região amazônica. Se, por um lado, as atividades de mineração do
ouro fornecem a maior taxa de empregos da região (10,7%), coexistindo com
precárias condições sanitárias e um quadro de doenças endêmicas como a
malária e a leishmaniose, por outro, tais atividades vêm resultando na intensa
degradação do meio ambiente e profunda desorganização e exclusão social
(MMA, 1995). Frequentemente, trata-se de atividade ilegal que envolve força
de trabalho precarizada, não qualificada, móvel e sem direitos trabalhistas
– algumas vezes envolvendo até o trabalho escravo –, que se organiza em
núcleos, em torno das minerações, e estabelecem interfaces entre as formas
de exploração mecanizadas das empresas e as manuais dos garimpeiros. Pelo
fato de, em grande parte, as técnicas adotadas serem rudimentares, acabam
por empregar grandes quantidades de mercúrio (Hg), resultando em elevados
níveis de poluição do ar, sedimentos e águas dos rios, contaminando os
trabalhadores garimpeiros e de casas de queima. Além destes trabalhadores,
populações urbanas que vivem próximas a casas de queima e aos garimpos,
bem como as ribeirinhas, acabam, por interações ambientais e vias diretas ou
indiretas, sendo contaminadas com metilmercúrio (CÂMARA; COREY, 1993;
MMA, 1995).

A complexa trama social que envolve a atividade de mineração do ouro


se conjuga com a complexidade ambiental associada à capacidade de
biotransformação do Hg para sua forma mais tóxica – o metilmercúrio. Isto é
agravado pelas incertezas oriundas tanto da ausência de dados científicos sobre
o seu comportamento em ambientes tropicais, bem como as relacionadas aos
problemas que poderão ocorrer com o ciclo do mesmo devido às mudanças
climáticas globais que poderão contribuir para enriquecer a remobilização e
bioacumulação deste agente químico. O resultado será o aumento do risco de
exposição pela exalação deste agente, convertendo-se em bombas químicas
de tempo (NRIAGU, 1999).

151
Nos grandes centros urbanos os problemas de origem química se manifestam
de diversas formas, indo da produção em pequenas indústrias – como no
caso das fábricas ou reformadoras de baterias – e grandes indústrias do setor
químico – envolvendo as químicas, petroquímicas e petroleiras –, até o destino
final dos resíduos químicos. Um dos mais conhecidos e paradigmáticos casos
de contaminação ambiental por resíduos perigosos envolvendo a combinação
de vulnerabilidade institucional e populacional é o da Cidade dos Meninos,
no Município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Neste local houve, em
1954, o fechamento de uma fábrica do Ministério da Saúde (MS), ocorrendo
o abandono de cerca de setecentas toneladas de resíduos da produção de
HCH (grau técnico) utilizados em campanhas contra a malária. Esta área é
hoje habitada por cerca de 1.500 pessoas e os resíduos foram encontrados
em todos os segmentos ambientais, nos habitantes e biota locais em níveis
extremamente elevados (OLIVEIRA et al., 1995).

Outro sério problema se refere às pequenas fábricas que empregam substâncias


químicas, muitas de fundo de quintal. Reformadoras de baterias, por exemplo,
se localizam, em sua quase totalidade, em áreas residenciais e comerciais em
que vivem populações de baixa renda. Estas indústrias empregam, em geral,
perto de dez trabalhadores, caracterizados por possuírem baixa escolaridade
e nenhum tipo de treinamento e informações quanto aos riscos e às atitudes
de proteção e segurança que deveriam ser tomadas. Suas instalações
são inadequadas e utilizam um processo de trabalho simples e arcaico,
provocando a contaminação por chumbo não apenas dos trabalhadores, mas
atingindo também as áreas em torno e populações circunvizinhas (SILVA;
MATTOS, 1999). Funcionam com elevados custos marginais, ficando ao
largo dos programas de incentivos econômicos relacionados a melhorias de
desempenho ambiental; raramente são alvos de fiscalização pelos órgãos
públicos que, no atual quadro, se atuassem efetivamente, poderiam acirrar a
crise social pelo possível fechamento das mesmas, resultando no aumento do
número de desempregados.

Diferentemente dos exemplos anteriores, os casos de poluição crônica


e acidentes nas grandes indústrias têm, frequentemente, envolvido os
trabalhadores da indústria química, que possuem alto nível de qualificação
técnica, educação formal e maior capacidade de organização local – pelos
sindicatos – e nacional e, por conseguinte, maior poder de mobilizações
e pressões sociais. Apesar dos eventuais limites desta participação,
algumas experiências ocorridas na década de 90, como a participação
destes trabalhadores em acordos e comissões nacionais que envolveram e
vêm envolvendo, de maneira conjunta, representantes das indústrias e do
governo, como nos casos do benzeno, da norma sobre vasos e caldeiras,
e ainda sobre a construção de uma legislação nacional sobre os acidentes
industriais ampliados demonstraram a possibilidade de se produzirem
processos decisórios mais democráticos e na perspectiva da governança.

152
Tendo como referência os casos citados, podemos considerar que houve no
Brasil um crescimento dos problemas relacionados à segurança química em
uma intensidade e amplitude maior do que a capacidade do Brasil enfrentá-
los. Neste contexto, a reconhecida complexidade socioambiental do Brasil
associada às vulnerabilidades populacional e institucional, vem, por décadas
seguidas, propiciando a utilização indiscriminada dos recursos naturais e sua
contaminação pela coexistência de modos de produção arcaicos com os de
tecnologia avançada, resultando em diferentes formas e níveis de inserção
social e poluição química.

Hoje, a gestão da segurança química no Brasil pelos governos federal,


estadual ou municipal, vem sendo desenvolvida de maneira ineficiente e com
pouca integração entre os vários setores e grupos sociais envolvidos, tendo
como consequências o conflito de competências entre diferentes órgãos dos
governos, omissões e a falta de capacidade instalada de recursos humanos e
técnicos, mormente no que se refere à proteção da saúde e do meio ambiente.
Embora o arcabouço legal disponível possa ser considerado relativamente
vasto, na prática não se mostra factível frente à contínua desestruturação dos
órgãos de governo, sendo isto em parte o resultado das descontinuidades das
políticas públicas e da falta de recursos financeiros para os setores ambiental
e de saúde.

No atual contexto, políticas autorregulatórias, como a certificação pela


norma ISO 14.000 ou programas voluntários como o Atuação Responsável
da indústria química, correm o risco de substituir de forma inapropriada
a carência de políticas públicas. Ainda mais quando se considera que,
com a relativa estagnação econômica das últimas duas décadas, aliada ao
desemprego estrutural inerente ao modelo de desenvolvimento econômico
atualmente em vigor, a exclusão social vem se acentuando e reduzindo o
poder de pressão da sociedade, mesmo dos trabalhadores industriais, um
importante grupo social de pressão na questão da segurança química e que
tiveram papel ativo e fundamental em alguns exemplos apresentados, os
quais minimamente atendiam aos princípios para a governança.  

Conclusão  

O Estado no Brasil, tanto quanto em outros países em industrialização, tem


caminhado em um sério e perigoso processo de deterioração, com crescente
alienação e indiferença às necessidades e demandas da população. Em um
contexto como este, Finkelman (1996) observa que se torna premente a
redefinição do papel do Estado em cada um dos níveis e ações que concernem
à segurança química, em particular nas áreas que possuem responsabilidades
mais diretas em relação ao tema, como as instituições que proveem diretamente
atenção à saúde das populações e as que são responsáveis pelo controle e a
proteção do meio ambiente.

153
A segurança química, como um sério problema a ser enfrentado por países
como o Brasil, coloca a necessidade e o desafio de se constituírem novos
arranjos societários nos níveis global, regional, nacional e local em busca de
um modelo de desenvolvimento sustentável que tenha por base a equidade e
a democracia. Outro desafio é se constituir, concomitantemente, uma ciência
mais contextualizada na nossa realidade, baseada em abordagens integradas
e participativas que possam incluir a análise de reações químicas, físicas e
biológicas combinadas com reações sociais, políticas, culturais, éticas e morais,
contribuindo para a busca de soluções mais amplas e duradouras.

A segurança química não é um tema descontextualizado do mundo atual,


em que a maioria da população do planeta vive excluída dos benefícios da
modernização/globalização. Esta mesma população, no papel que lhe cabe na
divisão internacional do trabalho, vem arcando com os riscos de um modelo
de desenvolvimento iníquo em sua natureza e dinâmica. Poucas tentativas têm
sido realizadas em anos recentes para retificar tal situação. Ainda que possa se
considerar que muitos indicadores de progresso social – mortalidade infantil,
educação, expectativa de vida e nutrição – melhoraram significativamente em
termos de médias globais, milhões de pessoas no planeta, expostos à poluição
química, ainda vivem a ausência de água potável e saneamento (CGG, 1995).

FONTE: FREITAS, Carlos Machado et al. Segurança química, saúde e ambiente:


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