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Hitler e as artes – Entrevista com Arno Breker

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Arno Breker é um dos maiores escultores do nosso tempo. Atacado, minimizado, silenciado
por toda a sorte de invejosos e epígonos, pelos detratores do Fascismo e do Nacional-
Socialismo, pela coligação dos vencedores democráticos e dos vários esquerdismos, Arno
Breker, o amigo e companheiro de Maillol, Despiau, Rudier, Cocteau, Derain, Vlaminck,
Pascin, Cortot, Guitry, etc., o autor de obras imortais, permanece uma das grandes figuras
das Artes Plásticas contemporâneas e um homem corajoso, verdadeiro, leal. Recentemente,
deu uma entrevista à revista “Découvertes”, da qual extraímos hoje alguns trechos onde se
desmascaram calúnias, dentre as muitas que buscam soterrar os vencidos.

Arno Breker defende a sua independência artística, ao mesmo tempo que sublinha o
respeito hitleriano pela Arte e pelos artistas:

- Dizem-me sempre: “Você trabalhou para o partido nazi, sob consignas, proibições…” É
estúpido! Hitler tinha um enorme respeito por mim e não queria nunca atrever-se a dar-me
qualquer diretiva para o meu trabalho. Ele nunca punha a questão de saber se a arte deste
ou daquele correspondia ou não às suas próprias concepções; a qualidade, a qualidade
apenas, é que contava. De resto, era um homem perfeitamente dotado, um temperamento
artista, um excelente desenhista. Em tempo normal, haveria feito provavelmente carreira
como artista e não, como se chegou a dizer, como pintor… de construção!

Certos críticos do pós-guerra pretendem que a arte de Arno Breker era uma arte de
encomenda, e o seu trabalho um trabalho de funcionário…

- É absolutamente ridículo! Hitler era menos ditador, a meu respeito, do que um pároco
que pede a um artista para executar uma Nossa Senhora para a sua igreja.

Dizem frequentemente que a época nacional-socialista foi para a Alemanha um período de


obscuridade total sob o ponto de vista artístico e literário, o reino da barbárie. Que pensa
disto?

- Ridículo e insensato. Temos de fazer algumas precisões. Após a Primeira Guerra


Mundial, a situação era dura para toda a gente. Estávamos em plena inflação e as
conseqüências do Tratado de Versalhes eram para nós extremamente penosas. Em 1930,
tínhamos perto de oito milhões de desempregados. A Alemanha estava por terra, oferecida
ao comunismo. A Alemanha balanceava sobre um fio. Nessa época, eu vivia em Paris.
Lembro-me de ter recebido a visita do Chefe de Gabinete de Brunnning: “Não há nada a
fazer, disse-me ele, o governo francês não quer compreender a nossa situação… Vamos
direitos ao comunismo ou ao nacional-socialismo!” Tinha razão, Hitler chegou ao poder
e, coisa esquecida muitas vezes, por meios democráticos.

Durante estes anos, os artistas, a maioria enorme dos artistas estavam numa situação
penosa. No domínio da Pintura, era o reinado absoluto do expressionismo; todo o resto
era desprezado, ignorado. A maior parte destes artistas abandonados tornaram-se então
fervorosos nacionais-socialistas, para protestar contra esta situação insustentável contra a
ditadura dos ‘marchands’ de quadros. Deste modo, a ascensão do Nacional-Socialismo
provocou declínio da corrente expressionista. Outros artistas puderam então, revelar-
se(1).

Pelos fins de 1943, Hitler tinha decidido confiar-me a direção das Artes na Alemanha.
Disse-me abertamente que a campanha contra “a arte degenerada” era um erro
fundamental; eu era, para ele, o único homem capaz de repor as coisas no lugar certo.

Houve, portanto, uma produção artística e literária notável nessa época?

- Sem dúvida alguma! Repare, no domínio do Cinema, por exemplo, produziu-se toda uma
série de filmes excelentes, alguns dos quais ficarão (ou deveriam ficar!) como autênticas
obras-primas na História da Sétima Arte.

Se um realizador como Lang abandonou a Alemanha, aliás com desgosto de Hitler,


bastantes outros o substituíram, e com igual talento.

Entre tantas obras marcantes, podemos citar: “Vitória a Oeste” de Walter Rutmannm, que
era um realizador de vanguarda. O seu «Deutsche Panzer» é também notável. Rutmann
morreu, em consequência das feridas que recebeu na Frente Leste.

Veit Harlan é um dos nomes representativos desta época. Entre os seus melhores filmes “O
Judeu Süss”, “O Grande Rei”, “A Cidade Dourada”.

Pabst, realizador de Quatro de Infantaria, voltou à Alemanha, nas vésperas da guerra, e


realizou vários filmes, entre os quais “Paracelsus”.

É conhecido o “Aventuras fantásticas do Barão Münchausen”, de Joseph Von Baky. Trata-


se de uma espantosa grande realização colorida.

E Leni Riefensthal, essa maravilhosa mulher, com a imortal obra: “Os Deuses do
Estádio”!

E os excelentes documentários “Hitler-Junge”, “Quex”, “Krüger” e o extraordinário


“Rembrandt”, de Hans Steinhof!

E as comédias musicais de Willy Forst.

E os sensacionais documentários científicos da UFA, que apaixonavam os espectadores do


mundo inteiro.

Nessa altura, tínhamos uma plêiade de grandes actores: Emil Jannings (o protagonista de
“Der Herrscher — O Dominador”); Heimich George, o actor de “Chefe de Posto” (um
dos maiores êxitos do Cinema Alemão, em plena guerra, não só na Alemanha, mas nos
outros países), que morreu prisioneiro das tropas soviéticas; Zarah Leander; Hans
Alberts; o herói de “Münchausen”; Kristina Söderbaum, a heroína de “Cidade Dourada”.
E Marika Rök, a grande artista do filme musical “A Mulher dos Meus Sonhos” que foi,
igualmente, um dos maiores êxitos cinematográficos, no tempo da guerra, não só na
Alemanha mas nos outros países.

E quanto às Belas Artes?

- Exceto Belling, todos os escultores continuaram na Alemanha. O único pintor que


abandonou o seu país foi Beckmann, que era um homem com uma boa fortuna. O pintor
Hofer, um dos primeiros a ser atacado pelo Nacional-Socialismo, fez sempre o possível
para obter encomendas do Estado… Não conseguiu; continuou tranqüilamente a pintar os
seus quadros, mesmo durante a guerra, com tintas a óleo francesas (que já não se
obtinham na Alemanha) e sobre telas francesas…

Mas é decerto, no campo musical onde encontramos o mais belo exemplo da “barbárie
nazi”?

- Realmente…! Posso citar, a tal respeito, o testemunho de um autor insuspeito de


complacências para a Alemanha desta época, numa volumosa obra sobre o Nacional-
Socialismo: “Contrariamente aos escritores, a maior parte das grandes figuras do mundo
musical alemão preferiram ficar na Alemanha nazi, e deram mesmo o seu nome e o seu
talento à Ordem Nova. Wilhem Furtwaengler, um dos maiores chefes de orquestra deste
século, ficou… Richard Strauss também ficou e tornou-se mesmo Presidente da Câmara de
Música do Reich. Walter Giescking… Wilhelm Kempff… Herbert von Karajan… A
Orquestra Filarmônica de Berlim era aplaudida no mundo inteiro, e a Ópera de Berlim
estava na primeira fila das grandes formações sinfônicas(2).

Poucos escritores emigraram, contrariamente ao que diz aquele autor. Se Thomas Mann,
Zweig, Zuckmayer deixaram a Alemanha, Ernst Jünger, Ernst Wieche, Gehrart Hauptmann
e inúmeros outros continuaram ali a trabalhar. O mundo da Edição era próspero.
Conheci, aliás, muito bem, o editor Fischer que prossegue atualmente uma bela
carreira...”(3).

A propósito dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936, da cerimônia de abertura e do


encontro de Hitler com Loues Spiridou, o capitão da equipa grega, Arno Breker responde:

- Ah sim! Loues Spiridou tinha então 70 anos. Fora um grande campeão de Maratona e
ainda era muito vigoroso. Pastor, mas muito culto e a par dos acontecimentos políticos.
Quando avançou para entregar a Hitler o ramo de oliveira simbólico, estava imensamente
comovido, mas recompôs-se rapidamente. Não parava de falar! O tradutor sentia-se aflito,
porque o que Spiridou dizia não se reduzia ao papel preparado. Hitler estava, aliás,
seduzido pela franqueza deste homem.

As Olimpíadas foram, para todos quantos a elas assistiram, uma lembrança inesquecível!
Infelizmente, também a esse respeito espalharam bom número de mentiras. Por exemplo,
ainda há pouco ouvi dizer que Hitler se recusara a apertar a mão ao grande atleta
americano Jesse Owens, quatro vezes campeão olímpico. É ridículo e completamente
falso! Hitler felicitou pessoalmente todos os campeões. Eu estava ao pé dele, um pouco
acima, e pude ver tudo o que ele fazia, inteiramente! É uma lenda que fabricaram. Reinava
a maior camaradagem entre as equipas e, especialmente, entre alemães e americanos.
A propósito da aproximação artística franco-alemã, Arno Breker responde:

- Como sabe, trabalhei para a aproximação entre a França e a Alemanha desde o fim da
1.ª Guerra Mundial. Como o meu amigo Bénoit-Méchin, na França. Com espanto,
verifiquei, na altura da visita a Paris, que Hitler era um grande admirador da cultura
francesa, do que ninguém tinha suspeitado. Percebi todo o partido que podia tirar desta
verificação. Perguntei-lhe se era possível artistas franceses participarem nos grandes
trabalhos de Berlim. Então, Hitler encomendou uma fonte a Maillol e um grande mosaico
a Derain. Ele não tinha preconceitos. Queria, antes de tudo, preservar um clima de
entendimento mútuo, apesar dos acontecimentos.

Falando da visita de Hitler, a Paris, na qual o acompanhou, Arno Breker conta:

- Hitler estava fascinado.

E, depois de se referir à demorada ronda dos lugares, monumentos, recantos, da Ópera


(Hitler conhecia a fundo a obra de Garnier), Breker continua:

- Eu estava espantadíssimo de ver que Hitler estava melhor preparado do que eu para esta
visita, e, no entanto, como ‘velho Parigot’ (Breker vivera muitos anos em Paris), eu
conhecia muitas coisas. Mas ele sabia tudo: as datas históricas, as medidas, o local dos
monumentos… Hitler estava muito comovido, quase completamente perturbado. Lembro-
me de que, no cimo da colina de Montmartre, me disse: “Precisávamos,
indispensavelmente, de preservar esta maravilha da cultura ocidental, estendida perante
nós. Precisávamos guardá-la intacta para a posteridade. E conseguimos”.

Depois da visita a Paris, não esqueço o instante em que, mesmo em frente de mim, Hitler
perdeu a contenção, de tal modo estava perturbado pelas lembranças do dia. Este orador
excepcional buscava as palavras, balbuciava… Finalmente, ouvi-o murmurar: “Foi uma
pesada responsabilidade”. Estava visivelmente comovido, ao evocar o desencadear das
hostilidades entre a França e a Alemanha.

Quando se escutaram tais frases, quando se assistiu a tais cenas, quando se visitou Paris
com Hitler, como se pode acreditar no famoso: “Queima-se Paris?” Um homem que dera
ordem às tropas para contornar Paris e evitar todo o combate na sua periferia, podia
quatro anos depois, ordenar a destruição da mesma cidade?

Os russos tentaram atrair Arno Breker. Isto sabe-se e o entrevistador interroga-o a tal
respeito. Breker conta como Stalin mandava ir, por correio diplomático fotografias de todos
os seus trabalhos e como o mandou convidar por Molotov.

- Ainda estou a ouvir Molotov: “Temos baixos relevos que nos esperam, cem metros de
comprimento por quatro de altura. As pedras estão prontas, mas não temos escultores na
URSS…”. A segunda vez foi em 1945, por intermédio de dois oficiais americanos.
No entanto, à recusa de Arno Breker só corresponde a perseguição dos ocidentais. Nessa
mesma época, o seu atelier e o conjunto da sua obra artística foram postos em ruínas.

- Totalmente destruídos! Os americanos destruíram o meu atelier. Completamente! A


guerra terminara! O meu atelier era muito grande, era a perfeição, mesmo. Não sofrera
absolutamente nada com a guerra. Os americanos chegaram, procuraram um depósito,
escolheram o meu atelier! Esvaziaram-no por completo! Quebraram tudo! Tudo!

E, noutra ocasião, relata:

- Ao fim da guerra, era o inferno. Eu tinha deixado Berlim, os meus ateliers… Perdera
tudo, tudo quanto possuía, a minha biblioteca, a minha coleção de quadros (muitos dos
quais me tinham sido oferecidos pelos meus amigos, pintores franceses). Então, achei-me
sem nada, sofrendo completamente com os acontecimentos. Caí doente e tive de ficar numa
clínica vários meses. Recomecei a trabalhar progressivamente em 1948, mas nunca pude
receber verdadeiras encomendas. Nada tinha a fazer. Um dos meus amigos, que tem um
negócio de seguros na Romênia, pediu-me que o ajudasse, como arquiteto. Trabalhei
assim durante quinze anos. Só abandonei a arquitetura há quatro anos. Depois disso, faço
retratos e pequenas estatuetas, mas hoje, ainda, sou para a Alemanha uma existência
incômoda, uma espécie de fantasma que se afasta. Felizmente, alguns amigos ajudaram-
me, mas o futuro não é róseo… Tenho grandes dificuldades, para alimentar a minha
família.

Referindo-se à incriminação da Alemanha e dos nazis e de si mesmo, Arno Breker explica:

- Há uma certa analogia entre a minha situação pessoal e a do meu país. Da mesma
maneira, que sou sempre culpado, o meu país é sempre culpado! No entanto, certos
valores são indestrutíveis. E não se pode ser eternamente culpado! Assim, não consigo
expor, porque sou culpado! Não consigo trabalhar como queria, porque sou culpado! E,
se alguém me suja, me injuria, na imprensa e noutro lado, não posso defender-me,
porque não encontraria juiz bastante corajoso para me prestar justiça. Sou inexistente!
Como o vencido! Sou vencido, e é tudo!

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