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PESQUISA E MÚSICA:
Práticas, Formação Docente e Estudos
Musicológicos
São Luis
2019
Organizadores
João Berchmans de Carvalho Sobrinho
Cássio Henrique Ribeiro Martins
PESQUISA E MÚSICA:
Práticas, Formação Docente e Estudos
Musicológicos
São Luis
2019
Copyright © 2019 by EDUFMA
CONSELHO EDITORIAL
PREFÁCIO
PREFÁCIO. .......................................................................... 09
ELOMAR
ELOMAR:: O T rovador Contemporâneo
Trovador
Caio César Viana de Almeida
Feliciano José Bezerra Filho ................................................ 69
(RE)
(RE)PP ensando o Ensino de Instrumentos Musicais a
partir das Metodologias Ativas
Cássio Henrique Ribeiro Martins
Maria Isabel de Almeida ...................................................... 91
Bom proveito!
1
Mestre em Letras (UESPI); especialista em Docência do Ensino Superior (UESPI); graduado em
Licenciatura Plena em Educação Artística - Música (UFPI); Professor do Ensino Básico, Técnico
e Tecnológico do Instituto Federal do Piauí (IFPI).
2
Doutorando em Música (UFMG); Mestre em Letras (UESPI); graduado em Licenciatura Plena
em Educação Artística - Música (UFPI); Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do
Instituto Federal do Piauí (IFPI).
da arte brasileira, que a diferenciasse da cultura importada, e neste
contexto político, social e cultural, buscou o reconhecimento através
de sua forma de escrever e de sua musicalidade, tendo o violão como
instrumento acompanhador de suas modinhas.
Jairo Severiano (2013, p. 66-67) afirma que Catullo foi "o letrista
brasileiro de maior popularidade no início do século XX". Poeta
maranhense que introduziu a temática sertaneja na literatura e na
canção brasileira, Catullo marcou sua trajetória artística ao compor
letra para muitas melodias já existentes, "que passavam a ser editadas
como 'as modinhas de Catullo'". Ele foi tão importante para a sua época
que chegou a servir de inspiração para a construção do personagem
seresteiro Ricardo Coração dos Outros, uma das figuras mais
importantes da obra Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto
(TABORDA, 2007).
O vate sertanejo também foi o primeiro músico popular a se
apresentar por meio do canto e do recital de poesias, acompanhando-
se ao violão, no Instituto Nacional de Música. Fato que, segundo alguns
pesquisadores, serviria para a aceitação deste instrumento no seio das
famílias tradicionais brasileiras, pois o violão era considerado um
instrumento impudico pela sociedade, por estar associado à boemia e
às rodas de chorões, um sinônimo mesmo de malandragem
(TINHORÃO, 1974, p. 29).
As canções de Catullo possuem melodias e harmonias compostas
por uma relativa simplicidade, que caracterizam a maior parte de sua
obra, se comparada à complexidade formal da música romântica
produzida por compositores europeus como Wagner, Liszt e Verdi. No
entanto, o modus operandi de sua escrita fez com que fosse questionada
a dicotomia entre o erudito e o popular, já que havia no Brasil uma
separação meticulosa que classificava a música executada na época
como uma forma de dar conta de separar - ou hierarquizar - tradições
musicais distintas, uma brasileira e outra europeia (PEREIRA, 2006,
p. 415).
CABÔCA DE CAXANGÁ
Pesquisa e Música 13
Leal & Barbosa (1982, p. 26) acrescentam que os membros do
Grupo Caxangá se apresentavam com uma vestimenta típica sertaneja:
sandálias de couro, lenços no pescoço e chapéus de palha, no qual
eram escritos os nomes daqueles que foram os seus mestres na arte de
tocar e/ou cantar. Como exemplo, no chapéu de João Pernambuco
estava escrito o nome de Guajurema, fazendo menção ao violeiro Cirino
da Guajurema, e no de Caninha o de Mané do Riachão, que era um
cantador de feiras.
Eduardo Sebastião das Neves (1874-1919) - cantor, compositor,
letrista e palhaço de circo - foi o primeiro intérprete a gravar Cabôca
de Caxangá, no ano de 1913, embora o selo do disco identificasse os
intérpretes como Bahiano, Júlia Martins e Grupo da Casa Edison.
Segundo Vasconcelos (1977, p. 282), Dudu das Neves, como era
conhecido, foi uma das figuras mais importantes na cena artística do
Rio de Janeiro no início do século XX. Em sua trajetória, lançou
algumas coletâneas de canções: O cantor de modinhas (1900), Trovador
da malandragem (1902) e Mistérios do violão (1905); todas pela Livraria
Quaresma.
Reitera-se que na época da trajetória/atuação de Dudu das Neves,
muitas vezes, os cantores gravavam canções de outros artistas sem a
indicação do autor, além disso, geralmente registravam-nas com letras
diferentes das "originais". Isso também aconteceu com suas
composições, e, dirigindo-se à Casa Edison para reclamar do abuso,
acabou sendo contratado por Fred Figner como artista da casa
(SEVERIANO, 2013, p. 61).
Jairo Severiano (2013, p. 61) assegura que Dudu das Neves era
o artista negro brasileiro de maior sucesso no início do século XX. Ele
estava tão envolvido com a cena musical do Rio, que chegou a ser
expulso do emprego como soldado do Corpo de Bombeiros por participar
de rodas boêmias fardado.
ANÁLISE DA CANÇÃO
Pesquisa e Música 15
Apesar das diferenças da letra de Catullo em relação à letra
gravada por Dudu das Neves, acredita-se que os sentidos gerados não
apresentam diferenças significativas, de uma em relação à outra, a
ponto de excluir a possibilidade de relacioná-las.
Segue a letra de Cabôca de Caxangá registrada por Catullo:
Pesquisa e Música 17
cantador, sua empreitada é sempre bem sucedida ("cumo ponho im
desafio u cantadô logo nu chão").
Além dessa questão da valentia, o sujeito do discurso está sempre
associando a sua tristeza com o canto dos pássaros, o que demostra a
comunhão total que há entre homem e natureza. Não há como separar
o homem das matas, dos bichos, das águas e das flores do sertão -
todos esses elementos são um só fenômeno na perspectiva do sujeito
lírico:
Pesquisa e Música 19
Ao adentrar do novo século, Catulo elegeu para sua poesia,
prioritariamente, um tema que lhe seria muito caro. A
representação do tipo de vida e hábitos do homem do sertão
será o mote principal de suas modinhas. Poesias que remetem
à vida no campo, à ingenuidade característica e presumida
do mundo rural, serão objeto de interesse e dedicação do
poeta modinheiro.
Figura 1
Pesquisa e Música 21
chamada por eles próprios de toque e/ou "estilo 3". Esse aspecto
direciona-se ao âmbito discursivo da canção, em que há uma reiterada
referência à prática do "desafio" entre os cantadores: "tudo chora numa
prima, i tudo quer ti traquejá". Segundo Gomes (2008, p. 52):
Para os cantadores, a palavra "estilo" tem um significado abrangente, que vai desde a forma da
3
criação poética do repente até a sua expressão, seja ela cantada ou tocada (RIBEIRO, 2009).
Pesquisa e Música 23
Partindo para a observação da forma composicional da letra, no
que diz respeito à rima e métrica, nota-se a seguinte configuração ao
se escandir a letra de Cabôca de Caxangá:
Pesquisa e Música 25
Figura 2
Figura 3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisa e Música 27
sobremaneira para instituir um modelo composicional na canção
brasileira. Baseados na dicção poético-musical de Catullo, outros
artistas, seus sucessores na trova sertaneja, como é o caso de Luiz
Gonzaga, adentraram os grandes centros urbanos do Brasil, levando
consigo o cheiro do campo, a sensibilidade dos violeiros e dos cantadores
das feiras do Nordeste. Luiz Gonzaga, na mesma linha do compositor
maranhense, marcou a sua trajetória no campo artístico do Rio de
Janeiro-São Paulo, levando em seu "matulão" os ritmos e variados
elementos da cultura nordestina, constituindo-se como um
orquestrador de um "novo" gênero: o baião; penetrando
"hegemonicamente nos meios radiofônicos e de comunicação de massa
por um período de dez anos" (MORAES, p. 22-23).
A vertente sertaneja da obra catulliana está repleta de
significados. É perceptível que, além da voz do cancionista, há a
presença de uma "voz que fala" por trás da "voz que canta". Como se
destacou, o "outro" das obras catullianas é o próprio sertanejo, o
morador do campo, o caboclo sofrido e batalhador que sobrevive tendo
que superar as adversidades climáticas e as dificuldades de se viver
longe dos centros urbanos.
Em suma, Catullo foi um poeta-músico que causou polêmica ao
produzir obras coerentes (e convincentes) em duas dicções distintas:
erudita e popular (TATIT, 2002, p. 32). Entretanto, sua personalidade
marcada pela altivez - pois ele mesmo se creditava o mérito de ser um
grande poeta - suscitou críticas fervorosas de artistas, intelectuais e
pessoas de grande influência política e cultural, que, ora o elogiavam,
ora o depreciavam.
Quanto às peculiaridades da dicção de Catullo, argumentou-se
que ele foi detentor de uma poética que valorizou a musicalidade ao
invés da métrica rigorosa do verso, e um tipo de rima que quebrava a
previsibilidade das formas composicionais poéticas vigentes na época,
além de uma temática que valorizou o modus vivendi do homem do
sertão nordestino. Um luar, um olhar, uma voz lapidada nas noites
boêmias da capital, às janelas das "moçoilas românticas" (MAUL, 1971,
p. 10) são imagens que sintetizam a trajetória músico-literária de
Catullo e revelam a sua importância na cena artística brasileira.
Pesquisa e Música 29
LEAL, Jose de Souza & BARBOSA, Artur Luiz. João Pernambuco,
arte de um povo. Rio de Janeiro. Funarte, 1982. 72 p. (Coleção
MPB, 6).
MAUL, Carlos. CATULLO: sua vida, sua obra, seu romance. Rio de
Janeiro: Livraria São José, 1971.
Pesquisa e Música 31
POR UMA MUSICOLOGIA GEO -HISTÓRIC
GEO-HISTÓRIC
-HISTÓRICA:A:
Repensando os Problemas de P eriodização
Periodização
nas Sínteses Musicológicas Regionais.
Regionais.
Alberto Dantas Filho1
Pesquisa e Música 35
Para Adler, a musicologia histórica lidava com disciplinas
que instrumentassem o tratamento de documentos, e a
discussa?o conceitual histo?rica e filosófica da mu?sica. As
cie?ncias afiliadas da musicologia histo?rica eram, ale?m
da histo?ria e da filosofia, filologia, arquivologia,
muse`ologia, paleografia musical, histo?ria da literatura,
histo?ria das artes mime?ticas, bibliografia.
Atualidade
Pesquisa e Música 37
significados que, sem coordenação relacional perde completamente o
seu sentido estrutural ou funcional. A ideia, baseada em Max Weber
de que, "...o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele
mesmo teceu,...", onde Geertz assume a cultura [...] como sendo essas
teias e sua análise: portanto, não como uma ciência experimental, mas
como uma ciência interpretativa, à procura de significado." GERTZ, 2008).
Esta assertiva impeli-nos a pensar não somente na história, mas
nas fontes e toda a sorte de testemunhos como portadores de narrativas
significativas e altamente instáveis, porque relacionais.
Importa saber, com precisão, de onde partimos para a
compreensão semiótica do conceito de teia utilizado por Geertz.
Segundo este autor a base para a interpretação parte de uma escolha,
de uma tomada de decisão que implicará uma tarefa decifratória.
Podemos dizer, como o próprio Geertz, que a tarefa investigatória (e aí
também incluímos a nova história e, por extensão, a nova musicologia),
terá como elemento relacional o trabalho de campo. Vejamos o que diz
Geertz a respeito: "Fazer a etnografia é como tentar ler (no sentido de
"construir uma leitura de") um manuscrito estranho, desbotado, cheio de
elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito
não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios
de comportamento modelado" (GERTZ, ibdem).
Lourdes de Ita em seu muito importante artigo "La importancia
del análisis transnacional y transregional en los estudios geo-históricos
para América Latina" (ITA, s.d.) recoloca o papel exercido pela geografia
histórica na composição dos estudos do período pré-nacional da
América Latina, em que a necessidade da utilização de diferentes
"escalas espaciais" seriam imprescindíveis para a compreensão das
esferas da paisagem e da população, do econômico, social e cultural.
Considerando qualquer forma cumulativa documental, mesmo
as mais regulares, um entrecruzar de trajetórias diversas em relação
às fontes e, sobretudo, àqueles materiais como as partes cavadas ou as
partituras, para citar dois exemplos, observamos uma dinâmica em
suas histórias não linearidade e inteiramente interrelacional,
espelhando as relações sociais em rede que as engendraram. Isso em
todos os níveis do aparato documental: a obra autógrafa, as cópias, as
interpretações lexicais ope ingeni, ope codicum, versões editoriais (como
em Grier), ou mais recentemente toda a sorte de nuances fonográficas
e mediáticas (como em Nicolas Cook).
Por outro lado, temos as questões relativas à própria construção
de uma narrativa histórica que, na relação com a música, tem
ontologicamente tensões irreconciliáveis quanto ao objeto que, por
Pesquisa e Música 39
Uma justificação para novas periodizações: eixo das
sucessões e o eixo das coexistências
Pesquisa e Música 41
modalidades de território, em um outro plano, os espaços de criação e
fruição como a inserção em estilos e escolas, aspectos gerais da posição
ou topos (como lugar comum retórico), como a representação de dada
situação, que de forma funcional observamos no interior dos arquivos,
das coleções e em tantas outras modalidades. Seguimos na tentativa
de propor um modelo de periodização histórica para a nossa música.
Abaixo a ilustração proposta por Marcelo Wener da Silva para o
"eixo das sucessões das coexistências:
Pesquisa e Música 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
À Daíse Cardoso
I Introdução
In: CHICO: artista brasileiro. Produção de Miguel Faria Júnior. Rio de Janeiro: Sony Pictures,
2
Pesquisa e Música 47
entanto, as ressonâncias das ideias modernistas chegaram até esses
músicos. Santuza Naves (2015, p. 42) afirmou que "o projeto musical
de Mário, voltado para o ideal de formação, foi atualizado pelos
mentores da ideia de MPB, que procuraram 'costurar' o Brasil através
da música". Em uma observação aguda, a pesquisadora disse ainda
que Mário deixou como herança "um modelo edificante, sério e uma
visão de arte como empreendimento didático e construtivo" (Idem).
Oswald de Andrade, por seu turno, transmitiu como legado "uma
postura anárquica, zombeteira, descrente de qualquer intuito instrutivo
e tendente a desconstruir ideias cristalizadas" (NAVES, 2015, p. 47).
Movimentos como o Tropicalismo e a bossa nova estabeleceram
um diálogo fecundo com os autores modernos. A poesia como "síntese,
invenção e surpresa" (ANDRADE, 2011, p. 63) e o tom zombeteiro de
Oswald de Andrade encontraram eco nas experiências tropicalistas;
enquanto a dicção mais depurada, a simplicidade e o espírito apolíneo
de Mário de Andrade encontraram eco em diversas letras da bossa
nova. Basta pensarmos na fragmentação e na linguagem de obras
como "Sampa", "Domingo no Parque", "Pela internet", que nos
lembraremos da poesia oswaldiana. De outro modo, se pensarmos na
linguagem prosaica e concentrada de obras como "Tarde em Itapoã",
"Cotidiano", "Iracema voou", perceberemos uma aproximação com o
estilo do autor de Pauliceia desvairada.
Como mencionado anteriormente, a distância entre compositores
e escritores acadêmicos se estreitou a partir do surgimento da bossa
nova na década de 1960, principalmente por causa da presença de Vinícius
de Moraes, que fez amizade e parceria musical com músicos populares
como Toquinho, Tom Jobim, Carlos Lyra e Baden Powell. No entanto, a
confluência entre modernismo e música popular é anterior à eclosão das
canções bossanovistas. No livro O violão azul: modernismo e música
popular, Santuza Naves (1998, p. 16) defende a ideia de que a música
popular "concretiza certo ideal modernista que valoriza o despojamento
e rompe com a tradição bacharelesca, associadas a determinadas
concepções de erudição". Para a pesquisadora há, portanto, uma
convergência entre os músicos populares da década de 1920 e 1930 e
os poetas e ideólogos do movimento modernista. Estes artistas, sejam
músicos ou escritores, foram envolvidos em um projeto coletivo
consciente em torno da simplicidade e do sermo humilis3 . Embora,
Termo utilizado por Santuza (1998) - em sintonia com o pensamento de Erich Auerbach - para
3
Pesquisa e Música 49
Caingá candeia, é o Matita-Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
Pé de capim
Bico de pena pio
De bem te vi
Amanhecendo sim
Perto de mim
Perto da claridade
Da manhã
A grama a lama tudo
É minha irmã
A rama o sapo o salto
De uma rã
(VELOSO, 2003, p. 217)
Dia de luz,
Festa de sol
E o barquinho a deslizar
No macio azul do mar
Tudo é verão,
O amor se faz
No barquinho pelo mar
Que desliza sem parar
Sem intenção,
Nossa canção
Vai saindo desse mar
E o sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis
pelo excesso e pela gravidade. Ela se manifesta na música através das obras sinfônicas, da
abundância e diversidade de instrumentos musicais, dos extremos dinâmicos, da quantidade de
temas diferentes e da complexidade do desenvolvimento (NAVES, 1998).
Pesquisa e Música 51
Um velho calção de banho
O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar
Depois, na Praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de coco
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
Pesquisa e Música 53
1930. Canções como "Flor da idade", "Até o fim", "Cara a cara", por
exemplo, fazem alusão a poemas de Carlos Drummond de Andrade. A
relação, na maioria das vezes, não é manifesta, pois o seu trabalho é
tecido por meio de uma intertextualidade implícita5. Algumas operações
estilísticas utilizadas pelos escritores da literatura moderna brasileira
estão presentes na construção de suas composições. Destaco as
seguintes: I. A inserção do cotidiano ("Logo eu?", "Cotidiano'); II. A
linguagem coloquial ("Meu caro amigo", "Feijoada completa"); III. A
concisão ("A Rita", "Iracema voo"); IV. A ironia ("Acorda amor"; "Partido
alto"); VI. A utilização da paródia ("Doze anos", "Até o fim").
Algumas dessas constantes estéticas também podem ser
percebidas na construção musical stricto sensu, uma vez que o contato
entre os signos musicais e literários faz com que um sistema de
significação afete o outro. Há, portanto, uma "contaminação feliz"
(WISNIK, 2004, p. 218) entre os elementos advindos da literatura
moderna e os componentes musicais. Nesse processo de
"contaminação", vemos que o material literário manifesta-se no
musical por meio de arranjos econômicos e elaborados com uma
textura musical leve, de melodias com poucas notas e da voz cantada
de forma mais intimista. As gravações da bossa nova contribuíram
para estabelecer essa nova estética, em especial o trabalho de João
Gilberto, músico que procura atingir o perfeito equilíbrio entre o texto
e a melodia através do canto falado, do violão tocado em contraponto
com a voz e da eliminação de tudo que seja capaz de desintegrar a
estabilidade dos elementos formadores dessa composição. No mesmo
registro, o disco As cidades é um dos trabalhos de Chico Buarque que
se filia a essa concepção músico-literária.
Utilizo esse termo na mesma concepção de Ingedore Villaça Koch. Para essa estudiosa, a
5
Pesquisa e Música 55
desenrola uma estória com espaço, personagens, confluência de tempos,
intertextos:
Iracema voou
Para a América
Leva roupa de lã
E anda lépida
Vê um filme de quando em vez
Não domina o idioma inglês
Lava chão numa casa de chá
Pesquisa e Música 57
da bateria. Essa gradação sonora reforça o sentimento de aflição de
Iracema que, "afoita", chega a ligar a cobrar para sua terra natal.
Sugestivo também é a proximidade dessa canção com o estilo do foxtrote
norte-americano. A presença desse ritmo, além de cumprir com uma
função de localização espacial da personagem (a música, por si só, é
capaz de situá-la no ambiente dos Estados Unidos), imprime uma
elegância, típica do gênero musical, que não deixa a letra resvalar
para um sentimento de angústia e dor.
Em "Injuriado", Chico Buarque cria um eu lírico que manda um
recado desaforado para o seu interlocutor, bem ao estilo das obras de
Noel Rosa. Na época de seu lançamento, a canção foi entendida por
alguns analistas e apreciadores de música popular como uma crítica
destinada ao político Fernando Henrique Cardoso, que havia chamado
Chico de artista da elite tradicional, um compositor "convencional". O
cancionista negou esse fato em entrevista dada à Folha de São Paulo
em 1998, dizendo que associar a sua música com o político tratava-se
de "uma piada", pois jamais chamaria FHC de "meu bem"6.
Essa controvérsia em torno da canção, apesar de não ser
essencial para entendê-la, mostra que há uma ambiguidade em seu
conteúdo, o que a torna mais sugestiva em seus aspetos literários.
Estaria o eu lírico mandando um recado para um desafeto ou se trata
de uma mensagem ressentida de um sujeito separado de seu objeto de
desejo? Há, de fato, uma tensão não revolvida, porque a letra aponta
para as duas isotopias7: uma desavença entre dois desafetos e uma
separação amorosa.
6
A referida entrevista foi realizada por Pedro Alexandre Sanches para a Folha de São Paulo em
novembro de1998. In: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq06119835.htm. Acesso em:
20 de ago. 2018.
7
A isotopia é o conjunto de procedimentos que dá coerência semântica ao texto e garante ao
discurso-enunciado a homogeneidade. Para José Luiz Fiorin (2011, p. 112), ela se revela através
de recursos como reiteração, redundância, repetição e a recorrência de traços semânticos.
Pesquisa e Música 59
nome de canções figurativizadas. "Injuriado", na mesma linha de "Meu
caro amigo" e "Jorge Maravilha", é uma típica canção figurativizada,
pois nela a melodia se molda às instabilidades da prosódia, "dando-
nos a impressão de que as frases cantadas poderiam também ser frases
ditas no cotidiano" (TATIT, 2016, p. 126).
Os aspectos musicais dessa canção reforçam determinados efeitos
de sentido da letra. "Injuriado" é um samba construído a partir de
uma economia de timbres: violão, bateria, piano e contrabaixo. A
introdução é elaborada simplesmente com dois compassos, nos quais
o acorde de função tônica é tocado sucessivas vezes, resultando em
uma impressão de imediatez. Dito de outro modo: a introdução passa
a sensação de que o sujeito lírico deseja dar seu recado com veemência
e de forma mais breve possível. Em síntese, as marcas de oralidade da
letra, o registro prosaico, a melodia que acompanha os influxos e as
instabilidades prosódicas da fala, o tratamento musical marcado pela
concisão e o uso da ironia fazem de "Injuriado" uma obra que dialoga
com expedientes estéticos do modernismo.
Retrato que mimetiza a dinâmica do quotidiano do Rio de
Janeiro, "Carioca" é uma canção que resume a concepção geral do
disco. As paisagens fragmentadas da cidade, os diferentes tipos de atores
sociais, as formas de catarse coletiva e o mundo do trabalho são tópicos
abordados pela letra. Aqui, temos uma linguagem poética
eminentemente visual, orquestrada com um ritmo que remete à fluidez
de planos cinematográficos:
Gostosa
Quentinha
Tapioca
O pregão abre o dia
Hoje tem baile funk
Tem samba no flamengo
O reverendo
No palanque lendo
O apocalipse
O homem da Gávea criou asas
Vadia
Gaivota
Sobrevoa a tardinha
E a neblina da granja
O povaréu sonâmbulo
Ambulando
Que nem muamba
Pesquisa e Música 61
lírico para a cidade do Rio é, a um só tempo, encantado e crítico.
Dentre as obras do disco que se relaciona estritamente com a
literatura canônica destaca-se também "Sonhos sonhos são", que possui
uma letra mais densa do que as demais, composta por imagens oníricas
e, assim, fugindo do estilo coloquial de Chico Buarque. Aqui,
certamente, é o momento em que o cancionista e o escritor mais se
aproximaram estilisticamente, pois o clima onírico dessa canção é
muito semelhante ao ambiente narrativo do romance Estorvo (1991).
O lirismo moderno de "Sonhos sonhos são" evidencia-se em sua
imagens inusitadas, em suas divagações poéticas e na sensação que o
texto passa, assim como "Carioca", de simultaneidade sonoro-visual.
Porém, ao invés de paisagens visuais e sonoras do cotidiano do Rio de
Janeiro, esta obra traz uma confluência de países e de situações
imaginadas, criando uma tensão entre sonho e realidade:
Negras nuvens
Mordes meu ombro em plena turbulência
Aeromoça nervosa pede calma
Aliso teus seios e toco
Exaltado coração
Então despes a luva para eu ler-te a mão
E não tem linhas tua palma
Em Lisboa
Faz algazarra a malta em meu castelo
Pálidos economistas pedem calma
Conduzo tua lisa mão
Por uma escada espiral
E no alto da torre exibo-te o varal
Onde balança ao léu minh'alma
Pesquisa e Música 63
Buarque explora outras temáticas que estão para além da questão da
oposição binária sonho/realidade, como o tema da disjunção amorosa,
mas não há como negar o diálogo empreendido com o poeta espanhol,
a começar pelo próprio título da canção. Os seguintes versos são
bastante reveladores, porque, como na peça, eles colocam em crise o
fio invisível que separa o mundo real do mundo dos sonhos: "Que sonho
é esse de que não se sai/ E em que se vai trocando as pernas / E se cai
e se levanta noutro sonho".
Em "Sonhos sonhos são", as imagens poéticas, composta de
recortes da memória do sujeito lírico, apontam para uma estética mais
preocupada em expressar um lirismo poético do que precisamente em
apresentar uma mensagem verbal clara. Alguns versos são reveladores:
"E no alto da torre exibo-te o varal" / "Onde balança ao léu minh'alma"
e "Então despes a luva para eu ler-te a mão" / "E não tem linhas tua
palma". O texto de Chico Buarque faz uma junção, pouco usual no
universo da música popular brasileira, do tema lírico amoroso (Aliso
teus seios e toco/ Exaltado coração) com o tema das relações políticas
(Sei que é sonho / Incomodado estou, num corpo estranho/ Com
governantes da América Latina), através de uma linguagem visual e
metafórica que suplanta a mensagem verbal. Esse clima de tensão
lírica entre realidade e devaneio, aliada a uma sintaxe não linear, nos
faz lembrar novamente do pensamento estético de Mário de Andrade
(2010, p. 56) para quem o poeta deveria substituir "a ordem intelectual
pela ordem do subconsciente".
Os mesmos efeitos poéticos da letra podem ser observados na
estrutura musical da canção. O arranjo de Luiz Cláudio Ramos é
composto por um colorido timbrístico (acordeom, cordas friccionadas,
percussão com instrumentos latinos, violão, baixo, bateria) que
potencializa o clima de algo fantástico8. As frases tocadas pelas cordas
friccionadas, por meio de um constante movimento de notas
ascendentes e descendentes, transmitem a sensação de instabilidade,
como a própria realidade cambiante apresentada pela letra. Na mesma
direção, a densidade musical aumenta de forma gradativa - isto é,
novos timbres são incorporados ao arranjo -, de acordo com a
intensificação da atmosfera de delírio existente no plano do texto.
Tárik de Souza, em sua crítica "A lira atemporal de Chico Buarque", afirmou que no arranjo de
8
"Sonhos sonhos são" há inspiração literária. Segundo informações do crítico, o violonista Luiz
Cláudio Ramos declarou que o seu arranjo seguiu a linha do realismo fantástico de Gabriel García
Márquez. In: http://www.chicobuarque.com.br/critica/crit_cidade_lira.htm. Acesso em: 20 de
ago. 2018.
Pesquisa e Música 65
"Sonhos sonhos são" - inter-relacionam-se com o pensamento estético
do poeta paulista por meio de dois procedimentos principais: I - Em
relação ao plano da letra, há um processo de construção que mantém
estreita ligação com a série literária. As letras buscam atingir a síntese
e a rapidez do lirismo moderno, além de um efeito poético polifônico.
Para tanto, procuram se desvencilhar da sintaxe linear (a seriação dos
planos), engendrando uma linguagem que mimetiza a dinâmica das
cidades, entendidas como espaços multifacetados, sem zonas definidas,
em virtude do processo de globalização. II - Em relação ao plano da
música, há uma relação substancial entre o processo de criação poética
do texto e a concepção musical. Isso pode ser observado nos arranjos
musicais concisos, compostos com texturas musicais leves e fortemente
interligados com o conteúdo das letras.
REFERÊNCIAS
Pesquisa e Música 67
MENESES, Adélia Bezerra de. Desenho mágico: poesia e política
em Chico Buarque. 3 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.
felicianofilho@uol.com.br
Pesquisa e Música 69
Esse álbum foi lançado no ano de 1983 por uma editora e
gravadora independente, a "Rio do Gavião", propriedade do próprio
Elomar, que, a partir de seu segundo álbum, desligou-se da grande
gravadora Philips/Polygram, alegando necessidade de maior liberdade
criativa. O álbum completo consiste de um livro de capa dura em
formato quadrado contendo o enredo da ópera, as letras das canções,
textos do narrador, partituras e dois discos de vinil com a gravação.
Além dos componentes sonoros e textuais, a publicação conta com
ilustrações do artista plástico e professor baiano Juarez Paraíso, cujo
percurso artístico é tão robusto quanto o de Elomar. O livro traz também
um glossário para os termos do dialeto catingueiro e comentários
críticos e elucidativos organizados pela dupla de pesquisadores Ernani
Maurílio e Adelina Renault.
Segundo Massaud Moisés (2004, p. 45), o termo "auto"
corresponde a toda peça breve de tema religioso ou profano, encenada
na Idade Média com intenção de propagar os valores da fé católica.
No Brasil esse gênero literário e teatral ficou conhecido no século XVI,
através do trabalho do Padre José de Anchieta, que compunha e
encenava "autos" para catequizar os povos indígenas e africanos. Na
variante brasileira do auto, foram assimilados elementos das matrizes
culturais indígenas e africanas, e o gênero acabou por se tornar
autêntica manifestação folclórica teatral na qual o enredo era
composto, além do texto teatral puro, de cantos e danças.
Em "Auto da Catingueira" Elomar aproxima-se uma vez mais
dos compositores medievais quando escreve uma peça com estrutura
semelhante ao correspondente arcaico, uma vez que é de curta duração,
tem enredo simples e linear e apresenta temas sobrenaturais e religiosos.
Todavia, por apresentar referências às matrizes culturais indígenas,
como no uso de alguns nomes e termos em idioma tupi, confirma
características do "auto" brasileiro.
O corpo da peça é desdobrado em cinco cantos, sendo os dois
primeiros desenvolvidos inteiramente pelo narrador, que conta,
cantando, a biografia de Dassanta, a protagonista do auto. Trata-se
de uma mulher trabalhadora do sertão, que cria cabras, planta e colhe,
fazendo de tudo para sobreviver na terra seca do sertão. Ainda no
início da narrativa, ela conhece o personagem Francisco das Chagas,
tropeiro retirante vindo das terras do norte em busca de uma vida
melhor. O romance entre os dois evolui ao longo do quarto e do quinto
Cantos, culminando em um desafio de cantoria entre Francisco das
Chagas e o cantador profissional, pelo amor de Dassanta.
Pesquisa e Música 71
compõem Das Barrancas do Rio Gavião trazem em germe os
temas, linguagem, musicalidade e visão de mundo foram
ganhando a dimensão de um maciço com o tempo. Há em
Elomar uma lógica fractal, em que cada pequena peça parece
trazer todo um conjunto de inspirações e, ao mesmo tempo,
se torna elemento fundamental para o entendimento da
construção completa. (CUNHA, 2008, p. 20)
Pesquisa e Música 73
Ao longo do discurso, "A" poderia ganhar força em detrimento do
enfraquecimento de "B", e vice e versa, ou mesmo o discurso poderia
estar em equilíbrio entre as duas isotopias, sem fortalecer ou
enfraquecer nem "A" nem "B".
Em nosso caso, por exemplo, a força entoativa estaria para "A",
assim como a forma musical estaria para "B". Ao ouvirmos uma canção
de rap, veríamos fortalecida a força entoativa e, quanto mais próximo
de um recitativo chegássemos, mais atraído estaria o discurso para
esse valor, ao passo que, ao apreciarmos a performance de um cantor
de ópera, perceberíamos, em alguns casos, que o canto tornar-se-ia
quase ininteligível, aproximando-se de uma performance instrumental
qualquer. Assim, se alimentaria o valor forma musical, enquanto a
força entoativa estaria perdendo força.
A semiótica da canção, desenvolvida por Luiz Tatit (2010), baseou
muito de seus procedimentos de análise na teoria da semiótica tensiva
de Claude Zilberberg, o qual, por sua vez, aprofundou sua teoria de
investigação do sentido discursivo a partir das contribuições do
semioticista lituano Algirdas Julien Greimas, nas décadas de 1960 e
1970.
Zilberberg (2011) explica que a semiótica tensiva é um conjunto
de pressupostos teóricos e ferramentas metodológicas que visam
encontrar unidades mínimas de sentido, bem como compreender os
percursos geradores de sentidos em diferentes camadas semióticas que
coexistem paralelamente na estrutura de um texto. Para isso estabelece
que há um sujeito enunciador de um discurso que tem como meta
alcançar um sujeito receptor, sendo que, nessa relação comunicativa
esses sujeitos assumem diferentes papéis, dependendo da maneira que
engendram o discurso.
Zilberberg (2011) comenta ainda que em todo discurso há
situações de conjunção e disjunção, seara na qual a semiótica tensiva
estuda os mecanismos conjuntivos e disjuntivos inerentes ao percurso
de geração do sentido de um discurso qualquer.
De uma maneira geral, o que fazemos ao aplicarmos os
procedimentos da semiótica tensiva é encontrar no texto valores de
comparação opostos que sejam equivalentes aos valores tensivos de
conjunção e disjunção. Aqui é onde entram em cena as isotopias,
citadas anteriormente.
Tatit (2002) esclarece que a semiótica da canção se baseia em
parte nas relações tensivas observadas por Zilberberg (2011) no que
diz respeito à produção de sentido textual, mas suas contribuições
foram além, uma vez que tem como objeto de estudo a poesia cantada,
O Príncipe da Caatinga
No Brasil, até 1967, o que hoje chamamos de Ensino Médio era dividido em três opções de
3
cursos. O curso Normal (destinado a formação de professores), curso Científico (dava ênfase ao
estudo das ciências exatas) e curso Clássico (maior aprofundamento na área de letras clássicas e
filosofia), conforme Decreto-lei n° 4244, de 8 de abril de 1942, documento que estabelecia os
parâmetros da educação básica brasileira. (BRASIL, 1942).
Pesquisa e Música 75
rodas era comum declamar poemas e romances de Castro
Alves, Omar Kayyan. Alphonse Lamartine, Rabelo da Silva,
Raimundo Correia, Luís de Camões e cantar em serestas
Francisco Alves, Noel Rosa, Carlos Galhardo, Vicente
Celestino, Augusto Calheiros, Silvio Caldas, Orlando Silva,
Ary Barroso e Mário Lago. (GUERREIRO, 2007, p. 29).
Entrevista concedida na Fazenda Santa Cruz, Lagoa Real - BA, em agosto de 2006. (GUERREIRO
4
2007, p. 284).
Pesquisa e Música 77
e a proximidade que há entre o fazer artístico de Elomar e o fazer
artístico medieval.
Comecemos a partir da etimologia da palavra "sertão", termo
que adquiriu diversas conotações ao longo da história do seu uso,
conforme os estudos da pesquisadora baiana Jerusa Pires Ferreira
(2004).
O intelectual cearense Gustavo Barroso (1962, p. 17) afirma que
"nenhuma palavra é mais ligada à história do Brasil e, sobretudo, à do
Nordeste do que a palavra sertão". Segundo esse autor, o vocábulo
"sertão" teria provavelmente derivado de um vocábulo da língua banto
de Angola, sendo produto da transformação da palavra "mulcetão".
Já para Câmara Cascudo (2012) a palavra sertão teria vindo do
termo latino "desertanu", transformado em "desertão" e, por fim, em
"sertão", uma forma contrata do suposto vocábulo original.
Joseph Piel (1961) propõe que a palavra "sertão" poderia ter sido
derivada do latim "sertum", plural do substantivo "serta", que poderia
ser traduzido como tranças, grinaldas ou coroa. Nesse caso específico,
diria respeito ao que está entrelaçado, fazendo referência à vegetação
da caatinga, que é contínua, entrelaçada e fechada.
Esse autor esclarece ainda que o vocábulo "sertão só é registrado
do século XV em diante", apontando para o fato de que se pode pensar
que se trata de um termo estrangeiro empregado para atender à
necessidade de nomear territórios remotos nas novas terras descobertas
pelos portugueses no período das grandes navegações. O termo acaba,
assim, por se tornar "signo linguístico da expansão portuguesa, depois
é que se tornou expressão bastante abrangente para se fazer referência
a diversos cenários da geografia brasileira.
No Brasil a palavra "sertão" foi usada tanto para fazer referência
ao território do semiárido nordestino, quanto para outras regiões não
necessariamente secas e pouco amigáveis à vida. Segundo Ferreira
(2004, p. 29), "De um lado, Sertão estaria ligado ao conceito de
fertilidade da terra, de abundância vegetal, de mata, e por outro lado,
encontra-se o sentido de aridez de despovoamento que remeteria à
acepção de deserto".
Pesquisa e Música 79
Elomar, ainda segundo Guerreiro (2007, p. 215), "constrói uma
geografia distinta, particular, inventada e, simultaneamente,
encantada, onde abriga a cultura do sertão não representada pela
baianidade oficial".
Pesquisa e Música 81
chuva, ordena que a moça pegue as ferramentas para o plantio do
feijão, considerando ser o melhor momento para o plantio das sementes.
Pede também que Josifina chame sua irmã e vá, célere, colher o alho
plantado por sua avó, chamada Mãe Purdença, já que a tempestade
representava um grande risco de perda da lavoura, que demora mais
que outras culturas para ser colhida. O patriarca também lembra que,
com a chegada da lua nova, se aproximará de seu sítio a onça
suçuarana, que, da última vez, havia ceifado seu bode reprodutor,
causando-lhes prejuízo. Nos últimos versos, o agricultor expressa o
temor de ter suas posses usurpadas pelos ciganos que haviam chegado
à região próxima de sua propriedade. Configura-se assim um ciclo de
injustiças para com um homem idoso, visto que a integridade de suas
posses era constantemente ameaçada pelas intempéries, por predadores
e por ladrões. Mesmo assim, havia ainda a esperança representada
pela possibilidade de plantar o feijão antes da chegada da chuva,
aumentando a chance de crescimento exuberante e saudável da
lavoura familiar.
Darcília Simões (2012), no artigo intitulado "Parcela da Língua
Sertaneza de Elomar Figueira Melo", esclarece que, durante o
desenvolvimento da língua portuguesa período, a escrita era
inteiramente fonética, o que explica a ocorrência de mais de uma grafia
da mesma palavra num mesmo texto. A língua portuguesa escrita
apresentava assim grande variação dialetal, decorrente da necessidade,
na época, de se representar a fala de maneira icônica.
A pesquisadora comenta que, num dado momento, fez-se
necessária, por questões políticas, a formatação de um acordo
ortográfico, sob o pretexto de se unificar a escrita a fim de facilitar a
comunicação.
Pesquisa e Música 83
decorrência da globalização e do avanço das tecnologias de informação
e comunicação. Sobre a configuração lexical, Simões (2002, p. 32)
explica:
Pesquisa e Música 85
Segundo Simone Guerreiro (2007), o próprio Elomar destaca três
de suas canções como feitas aos moldes da lírica galego-portuguesa.
São elas: Cantiga de Amigo; Incelença pro Amor Retirante e Canto do
Guerreiro Mongoió. A primeira remete à cantiga de amigo; a segunda,
à cantiga de amor; a terceira, à cantiga de escárnio e maldizer, embora,
segundo a pesquisadora, "em alguns aspectos, as composições se
distanciam do modelo ibérico e sofrem atualizações" (GUERREIRO,
2007, p. 193).
Carvalho Mello (2002) corrobora a opinião de Guerreiro (2007),
afirmando que relacionar as obras musicais de Elomar ao estilo
medieval é um ato leviano, pois as semelhanças com os métodos
medievais correspondem a uma pequena fração da obra elomariana,
visto que o compositor por diversas vezes se afasta da formalidade
estilística medieval e se aproxima, musical e poeticamente, de elementos
de outros estilos composicionais de épocas distintas na história da
música, com a incidência em sua obra de procedimentos renascentistas,
barrocos e até impressionistas.
Todavia o sertão nordestino representado na obra de Elomar
acabou por conservar diversos traços da cultura medieval ibérica
trazidos pelo colonizador português, os quais, segundo Guerreiro (2007,
p.190), "Estão presentes na cultura do sertão e são visíveis na
linguagem, narrativas e contos populares, manifestações da literatura
oral, novelas tradicionais, cordéis, dramatizações, folguedos, ainda que
de modo fragmentado."
Também presente se faz a figura do cantador, que é um músico,
um errante contador de histórias, propagador da cultura e das tradições
sertanejas, semelhante aos jograis e menestréis do medievo. Câmara
Cascudo (2012, p. 170) define "cantador" como
REFERÊNCIAS
Pesquisa e Música 87
MELLO, João Omar de Carvalho. Variações motívicas como
princípio formativo: Uma abordagem fraseológica sobre a
Dança de Ferrão para violão, flauta e pequena orquestra,
do compositor Elomar Figueira Mello. Dissertação (Mestrado
em Música - Regência Orquestral) - Universidade Federal da Bahia,
Escola de Música de Salvador. 2002
CD:
FIGUEIRA MELLO, Elomar. Auto da Catingueira. Vitória da
Conquista: Editora Rio Gavião, 1983.
SITES:
http://www.elomar.com.br/discografia/index.html
Pesquisa e Música 89
(RE)Pensando o Ensino de Instrumentos
(RE)Pensando
Musicais a partir das Metodologias Ativas.
Introdução
1
Professor Adjunto na Graduação em Música da Universidade Federal do Piauí. E-mail:
martinscassio@yahoo.com.br
2
Professora Pós-Doutora e Livre Docente na Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo. E-mail: mialmei@usp.br
Pesquisa e Música 91
Segundo Kraemer (2000, p. 54), "as ações da teoria e da prática
pedagógico-musical estão voltadas para o tempo presente, mas ainda
ligadas a ideias de gerações passadas". Para esse autor, essa transmissão
oral ainda é muito presente no ensino-aprendizagem dos instrumentos
musicais, principalmente em aulas individuais. Hallan (1998, p. 232)
define a concepção do ensino de instrumento de duas formas: o ensino
como "transmissão do conhecimento" e como "facilitação da
aprendizagem". Segundo esse autor, em vez de usar uma abordagem
autoritária, em que o professor é o único detentor do saber, seria
interessante exercitar com músico em formação uma reflexão crítica
sobre seu aprendizado. Kerman (1987) acrescenta que essa transmissão
acontece mais por exemplificações, na utilização de linguagem
corporal, do que por palavras.
A necessidade de mudanças de estratégias educacionais na área
da música vai além da utilização de novas técnicas de ensino-
aprendizagem. A tarefa de lidar com novas e diferentes estratégias é
algo complexo e exige mudanças de hábito e paradigmas. Entre os
professores de música há a predominância de ensinar como se
aprendeu, ou seja, o ensino é centrado em estratégias funcionais
voltadas para a transmissão de informações. Esse hábito reforça a ação
de transmissão de conteúdos prontos, acabados e pré-determinados,
semelhantes a práticas pedagógicas.
No meio acadêmico tem crescido o reconhecimento da
necessidade de transformações na educação de profissionais de música
e de novas formas de trabalhar com o conhecimento musical. As
Instituições de Ensino Superior de Música têm sido provocadas a
exercitarem a reflexividade em torno dessa realidade a fim de
perceberem as mudanças necessárias no processo da educação musical,
reconhecendo a importância de seu papel social, bem como de enfrentar
os desafios atuais de romper com estruturas cristalizadas e com o
modelo de ensino tradicional para formar profissionais de música
capazes de atuar de forma criativa, interativa com os demais atores,
nos espaços de trabalho e nos demais espaços sociais. Este aspecto
coloca a importância de buscarmos métodos inovadores de ensino-
aprendizagem, centrados em uma prática pedagógica ética, crítica,
reflexiva e transformadora, ultrapassando os limites do treinamento
puramente técnico.
Assim, a presente pesquisa propõe-se a discutir as limitações da
estrutura de ensino transmissivo no atual contexto de transformações
sociais e tecnológicas e no sentido da viabilização de um ensino-
aprendizagem de instrumentos musicais friccionados centrado na
Sobre a Pesquisa
Pesquisa e Música 93
político-pedagógicas presentes nesses documentos, as orientações aos
processos formativos de professores e alunos que usam instrumentos
de cordas; como são formalizadas as competências didático-
pedagógicas construídas durante o desenvolvimento das práticas
pedagógicas de docentes e como se desenvolvem os conhecimentos, as
habilidades, as capacidades práticas e teóricas dos discentes que usam
esses instrumentos.
Após a leitura dos dois PPPs, iniciamos a observação do processo
de ensino-aprendizagem dos projetos. A realização das observações
do ensino-aprendizagem com os instrumentos de cordas foi registrada
por meio de um diário de prática pedagógica. Para uma melhor
organização do que seria observado, dividimos o diário em categorias:
1- O contexto socioeducativo; 2- O processo formativo docente/
discente; 3- Os saberes docentes e discentes; 4- O desenvolvimento das
práticas docentes; 5- Uso de metodologias ativas. Com essa
configuração, tivemos uma visão do ensino-aprendizagem desses
instrumentos musicais, como os professores e alunos atuam nesse
processo.
Durante a etapa da observação dos projetos foi possível perceber
que os professores dominam os saberes voltados para o tocar do seu
instrumento, mas a maioria das aulas é ministrada no modelo centrado
na transmissão, repetição e memorização de conceitos e habilidades
técnicas. Esse achado do campo de investigação reforça a justificativa
de nossa pesquisa, pois evidencia a necessidade de repensarmos o
processo de ensino-aprendizagem de professores e estudantes de
instrumentos de cordas nos projetos sociais. Para tanto, é preciso buscar
novas metodologias de ensino-aprendizagem que transcendam o
modelo tradicional de ensino, centrado na transmissão e repetição de
conteúdo.
Acreditamos que as metodologias ativas podem se mostrar
favorecedoras da autonomia dos alunos e fortalecedoras da motivação
pelo aprendizado dos instrumentos de cordas nos dois projetos.
Investigamos como as "Aprendizagem baseada em problemas" e
"Aprendizagem baseada em projetos" podem transcender esse modelo
de ensino-aprendizagem e promover práticas mais criativas e
significativas a todos os estudantes de instrumentos de cordas. Para
tanto, vários autores vêm nos ajudando com suas teorias a
compreender o fenômeno social em estudo e situar nossa pesquisa no
contexto do ensino-aprendizagem em metodologias ativas e do ensino
dos instrumentos musicais (coletivo e tutorial).
Pesquisa e Música 95
e para a mudança do foco do professor para o aluno, em que este
passa a assumir também a responsabilidade pelo seu aprendizado e a
valorizar o processo do aprender com desenvoltura e autonomia. Assim,
o processo que centraliza a aprendizagem no estudante valoriza a
autonomia e, consequentemente, desenvolve o potencial da
aprendizagem.
Em decorrência dessa compreensão, dizemos que o bom professor
é aquele que instiga seu aluno a buscar a apreensão da realidade com
comprometimento e motivação e juntos se relacionam de forma
dialógica na busca de uma educação decente e inovadora. Nesse
sentido, é necessário reconhecermos o ensino como uma arte prática,
que requer criatividade, intuição e improvisação docente para resolver
satisfatoriamente situações, conforme afirmam Pearson e Cage (1989,
apud CONTRERAS, 2002). Nessa mesma direção, Cunha comenta: "[...]
aprender não é estar em atitude contemplativa ou absorvente, frente
aos dados culturais da sociedade, e sim estar ativamente envolvido na
interpretação e produção destes dados" (CUNHA, 1989, p. 31).
Ampliando essa discussão, Candau (2013) refere que a didática
no contexto de ensino-aprendizagem precisa ser repensada, devendo
buscar uma "didática fundamental", que valorize a
multidimensionalidade do ser humano em seu processo formativo,
incluindo o aprender e o avaliar, o que implica abandonar a "didática
instrumental", na qual o professor é alguém que detém o saber e o
aluno é alguém que apenas o imita. Ausubel (1982) defende que o
conhecimento prévio do aluno é a chave para uma aprendizagem
significativa, ou seja, um fator importante que repercute positivamente
no aprendizado do aluno. Desconsiderar esses aspectos, ocorre o que
Ausubel define como aprendizagem mecânica, ou seja, uma
aprendizagem que não interage com conceitos importantes existentes
na estrutura cognitiva dos alunos, de modo que estes passam somente
a decorar conteúdos e a realizar procedimentos ensinados pelos
professores. Ainda segundo esse autor, para que, de fato, haja uma
aprendizagem significativa são necessárias duas condições: (i) é preciso
existir uma disposição do aluno para aprender algo e (ii) o conteúdo a
ser aprendido tem que ser potencialmente lógico e psicologicamente
significativo para o aluno.
Outros autores, como Bruner (1971; 1977) e Dewey (1973),
trazem também contribuições significativas para o ensino-
aprendizagem. Defendem uma participação ativa do aluno no processo
de aprendizagem. Bruner argumenta que ensinar não é transferir
conhecimentos, mas ensinar o aluno a pensar e a resolver problemas
Pesquisa e Música 97
são estrangeiros, formando músicos eruditos exclusivamente para
bandas e orquestras, como salienta Vasconcelos (2001, p. 7):
Pesquisa e Música 99
Metodologias Ativas no Ensino de Instrumentos Musicais
Considerações Finais
Referências
1 Introdução
6
"Liamaremos os mecanismos al conjunto de reflejos adquiridos que hacen posible tocar la guitarra".
7
"[...] la capacidad concreta de poder tocar un pasaje determinado de la manera deseada".
8
Carlevaro também utiliza o termo aparato motor para se referir a este.
Todas as figuras e imagens contidas neste texto são de produção dos autores.
9
10
"Cada una de estas presentaciones requiere una actitud levemente distinta del brazo y los
dedos, y por ende una sensación diferente, o más bien una constelación diferente de sensaciones"
11
É importante frisar que o que chamamos de sobreposição Carlevaro e Fernandez chamam de
contração. Consideramos que o termo contração, em português, remete uma ideia de tensão
muscular indesejada e que as transversalidades devem ser utilizadas justamente para evitar tais
enrijecimentos, transferindo o trabalho de ajuste e colocação dos dedos para o braço e punho
esquerdo. Para nós, o termo contração é mais bem utilizado em passagens nas quais os dedos
(ao invés de todo complexo motor esquerdo) são responsáveis diretos pela diminuição do
alcance longitudinal de mão esquerda.
12
Novamente, Fernandez conceitua contração, justamente, como esta sobreposição de dedos
causada por uma apresentação não-retilíneas em âmbito reduzido (FERNANDEZ, 2000, p.34).
13
Para el tratamiento de ambos casos, contracciones y distensiones, propongo que nos atengamos
a la siguiente hipótesis: toda situación de contracción o distensión (o ambas simultáneamente,
cosa que puede ocurrir de acuerdo a las definiciones sugeridas) puede ser construida a partir de
una presentación en diagonal o a partir de una longitudinal. Esta hipótesis nos será muy valiosa
en la construcción de la sensación neuromotora que necesitamos, mientras que por otra parte la
idea misma de la construcción de una posición a partir de otra, o sea, la idea de una deformación
de cierta posición base para obtener otra, nos será de invalorable ayuda en el trabajo sobre
técnica.
14
(…) los dedos no trabajan aisladamente sino, por el contrario, actúan formando una unidad con
la mano y el brazo. Antes dela actitud de movimiento de un dedo es imprescindible pensar en
la actitud del brazo, porque de él depende casi siempre el movimiento y la ubicación de los
dedos. La actuación de un solo dedo debe ser consecuencia de la disposición de todo el complejo
motor (mano-muñeca-brazo). Es más aun, lo que comúnmente se atribuye a un problema
netamente digital, exclusivamente de los dedos, se torna en algo mucho más complejo y
equilibrado que parte directamente de la mente, haciendo participar todo el brazo y la mano,
para que, como consecuencia final, actúe el dedo. En esta forma además de las posibilidades
técnicas, se logra un mayor control, se consigue el "relax" muscular y se evita el cansancio
prematuro.
15
Es de destacar que, con respecto al tiempo, podemos definir dos etapas bien diferenciadas
aunque unidas para un mismo fin. La primera corresponde a la actuación del brazo asociado con
la mano, obedeciendo ésta al trabajo del primero. Y recién en la segunda etapa los dedos, una
vez ubicados por el brazo, estarán en condiciones de disponerse sobre el diapasón.
16
Debemos mencionar a esta altura que como las distancias entre los trastes no son uniformes,
sino que disminuyen a medida que la altura de las notas aumenta, el estudio de la posición
longitudinal debe tener en cuente este hecho. Esta presentación se coloca desde el dorso de la
mano. Una de las posibles maneras de aprender y adquirir las diferentes presentaciones
longitudinales correspondientes a diferentes posiciones es simplemente practicar la colocación
de la presentación longitudinal en diferentes posiciones. De este modo, se establecerá
paulatinamente en la memoria neuromotora esta importante dimensión del mecanismo de la
mano izquierda, no olvidemos que al estudiar mecanismo, lo que estamos haciendo es construir
en nuestro cuerpo nuestra propia guitarra, y es deseable que haya una correspondencia estricta
entre esta construcción mental y la guitarra física. Otro punto importante a mencionar, es que
cuando se toque en posiciones superiores a la IX la presentación no puede ser la misma que
para posiciones más bajas. El brazo, y aun a veces todo el cuerpo, debe ayudar para que las
puntas de los dedos lleguen a la cuerda en dirección perpendicular al plano de las cuerdas; en
este caso, la posición deberá necesariamente ajustarse.
17
En la medida que la mano se va alejando del cuerpo (hacia la primera posición), la mecánica
requiere una participación de la muñeca que, doblándose a través del movimiento del brazo,
permite presentar los dedos transversalmente. Esta participación complementaria de la muñeca
se hace necesaria en aquellas posiciones en las que el brazo va perdiendo su ámbito de acción.
18
Creo necesario insistir en que el manejo de la sensación es la clave para el aprendizaje, y ruego
al estudiante que se abstenga de tratar de ver el movimiento "desde afuera", a menos que lo haga
con la intención expresa de construir un mecanismo diferente al expuesto. Aún así, cuando lo
haya concebido, le será necesario internalizarlo.
19
El pasaje de un presentación cualquiera a otra del mismo tipo, combinado o no con un cambio
de posición, debe practicarse como un caso especial de traslado, donde todo el aparato motor
del brazo izquierdo actuará como un conjunto. Si se ha adquirido la sensación de presentación,
y el bloque de acción de los traslados, la integración de ambos elementos no debería ser
problemática. El pasaje de una presentación cualquiera a otra de un tipo diferente no requiere
mayor comentario, dado que por el proceso construcción que hemos realizado todos los
bloques de presentación y de acción estarán incorporados.
20
Como en todo el trabajo sobre cambios de presentación, es importante permitir que el pulgar de
la mano izquierda acompañe el movimiento; por lo tanto, la parte del pulgar que se apoya sobre
el mástil será diferente antes y después del cambio de presentación. La omisión de este elemento
causaría un aguda tensión que se sentiría en la base del pulgar de la mano izquierda.
5 Conclusões
21
(...) la presentación debe ser a la vez estable (lo que implica que sea posible mantenerla por un
tiempo prolongado sin realizar un esforzó excesivo) y eficiente (las acciones necesarias para
colocar y mantener la presentación deben realizarse con el mínimo de esfuerzo muscular
posible). As formas combinadas de Carlevaro não podem ser inseridas na tabela devido a sua
irregularidade.
22
As formas combinadas de Carlevaro não podem ser inseridas na tabela devido a sua irregularidade.
23
Todo lo que implique un práctica en condiciones variables, creativas, inventivas no solamente
nos ayudará a afirmar y acelerar el aprendizaje del mecanismo, sino que además, desterrará
totalmente la rutina.
INTRODUÇÃO
2 RELATO DE EXPERIÊNCIA
Instituição
Especificação
UFRN UDESC UFSJ UFSCar Pesquisada
Ano de criação do curso 1996 1994 2006 2007 2007
Ano da consulta 2003 2007 2008 2007 2012
Salas exclusivas do curso 26 10 4 3 3
Laboratórios 1 1 5 7 1
Salas de estudo de discentes 20 5 10 1 0
Auditórios de Música 2 1 1 0 0
Gabinetes de professor 2 1 17 2 1
Bibliotecas de Música 1 0 1 0 0
Depósitos ou Almoxarifado 1 1 1 0 1
Somatório de espaços 53 19 39 13 6
Continuando:
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de ter sido uma fase de intenso trabalho, esta etapa como
coordenador de curso permitiu consolidar administrativamente uma
estrutura básica para o desenvolvimento e realização de atividades
musicais na instituição. É fundamental reforçar que o conhecimento
específico da área de Música - suas particularidades, problemáticas e
desafios - foi essencial para situar o curso perante a realidade nacional,
e assim propor mudanças à altura das instituições mais qualificadas
da área. Não se pretende falar aqui em "qualidade do ensino", pois
como afirmam Souza e Rodrigues, "o conceito de qualidade tornou-se
repetitivo nos documentos e discursos que acompanham as propostas
de ação no campo educativo e é utilizado para justificar determinadas
estratégias de políticas educativas" (SOUZA; RODRIGUES, 2014, p.1),
esvaziando assim o sentido do termo. Logo, pensa-se em defender e
concretizar os ideais vistos como mais adequados à área de Música,
com base na própria experiência como pianista e professor, acreditando
que este exemplo trará benefícios para discentes, docentes e toda a
comunidade ligada ao curso.
Apesar do escopo limitado da coordenação de curso, procurou-
se uma gestão para além dos limites institucionais, a partir da
participação e organização de trabalhos e eventos em nível regional e
nacional. Por fim, a essência de profissão de músico é viver de um
sonho, nos levando a enfrentar todos os preconceitos e dificuldades no
longo percurso da profissão. Espera-se que este espírito sonhador, possa
servir como exemplo, para assim continuarem batalhando na
realização de seus sonhos. É importante lembrar que no caso do
coordenador de curso, ele também vive os sonhos de outros.
INTRODUÇÃO
1
VILLA-LOBOS, Heitor. Boletim Latino-Americano de Música, Rio de Janeiro, fev.1946, p.
544.
As Canções Escolares focalizadas no presente artigo fazem parte
do repertório constituído para o projeto de canto coletivo conhecido
no Brasil como Canto Orfeônico, desenvolvido pelo músico e educador
Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e adotado oficialmente no ensino
público brasileiro. Esta proposta musical-pedagógica foi implantada
na década de 1930 e tornou-se obrigatória, inicialmente na então
capital da República. Depois, se multiplicou pelos estados brasileiros
em diferentes estabelecimentos de ensino primário e secundário.
Na Era Vargas, para a implantação e ampliação da disciplina
Canto Orfeônico, houve a necessidade da organização de materiais
específicos que se desdobraram em novos materiais da cultura escolar.
O Maestro Villa-Lobos2 brasileiro, com o objetivo de atender à demanda
daquele período, sistematizou as canções num conjunto de coletâneas.
Dentre outros cancioneiros pedagógicos desse período, no presente
artigo focalizam-se as Canções Escolares do Canto Orfeônico - Volume I.
Vale destacar que o primeiro volume da coleção aqui em questão, de
1940, está dividido pelas seguintes temáticas: Canções de Ofício, Canções
Militares, Canções Patrióticas, Canções Escolares e Canções Folclóricas.
As peças da categoria Canções Escolares, de um modo geral, são
de execução mais simples devido à finalidade sinalizada no próprio
tema da seção. Em outras palavras, essas músicas foram compostas e
direcionadas à necessidade de repertórios para serem cantados por
alunos ainda pequenos ou muito jovens, em seu dia a dia nas escolas.
Enquanto as músicas dos outros agrupamentos são mais difíceis pelo
seu caráter performático - uma vez que essas, musicalmente mais
apoteóticas, eram utilizadas nas grandes concentrações orfeônicas -
as Canções Escolares possuem letras e construções melódicas bem
acessíveis para utilização no interior das instituições de ensino.
Portanto, estas eram composições mais ligadas à cultura escolar do
período, à rotina e ao interior das comunidades educativas, em geral
com poesias e paisagens sonoras vinculadas à organização do tempo e
do espaço escolar. Assim, a partir de tal recorte, neste estudo são
valorizadas as peças entendidas como mais expressivas da coleção,
para uma reflexão sobre a cultura material da escola.
2
Doravante os termos com letra maiúscula referem-se aos seguintes elementos: Conservatório e
Instituição - ao Conservatório Nacional de Canto Orfeônico; Maestro - ao músico Heitor Villa-
Lobos; Hinário e Cancioneiro - ao Canto Orfeônico - Volume I.
3
Instituição que foi criada para o controle da formação dos professores legalmente habilitados
para atuar como educadores musicais, em todo território nacional, e para produzir o material
didático do projeto pedagógico musical villalobiano.
1.º Período
Cópia de Música
1) Cópia em papel liso e com pentagrama.
2) Execução de matrizes para mimeógrafo.
Gravação Musical
1) Preparação de chapas de chumbo para gravação.
2) Tiragem de provas de chapas.
3) Gravação.
Impressão Musical
1) Impressão em mimeógrafo.
2) Reprodução de cópias heliográficas.
2.º Período
Cópia de Música
1) Cópia em papel vegetal.
2) Execução de matrizes para mimeógrafos.
Gravação Musical
1) Gravação
Impressão Musical
1) Impressão em máquina rotativa.
2) Reprodução de cópias em Rotofóto.
4
Há peças em que os autores não são mencionados no Hinário, apenas consta o nome de Villa-
Lobos como arranjador.
5 Nessa peça,
VILLA-LOBOS, Heitor.aCanto
criança, ao Rio
Orfeônico. cantar, chama
de Janeiro, um
1940. 1.º dos p.
volume, elementos da
4. Fonte: Acervo
do Centro de Memória da Educação Brasileira - ISERJ.
6
Do italiano, significa desligado. Durante a execução de uma música, separam-se "as notas das
suas vizinhas por um perceptível silêncio de articulação que recebe uma certa ênfase." O seu
oposto é o legato. "O staccato é notado com um ponto, um traço vertical ou um sinal em forma
de cunha". (GROVE, 1994, p. 896).
7
VILLA-LOBOS, Heitor. Canto Orfeônico. Rio de Janeiro, 1940. 1.º volume, p. 5. Fonte: Acervo
do Centro de Memória da Educação Brasileira - ISERJ.
Vamos colegas,
Findo é o estudo
Esqueçamos tudo
Vamos recrear
Todos em alas
Como bons soldados
Bem perfilados
Já marchar, marchar!
Todos alerta,
De cabeça erguida,
Posição correta,
Vamos dois a dois
Em linha certa
Todos aprumados,
E bem ritmados,
Caminhemos, pois!
Todos em fila,
Num alegre bando,
A' vóz do comando,
Marchemos, assim!
No campo aberto,
Como é bom a gente
Ir livremente,
Recrear, enfim!
8
VILLA-LOBOS, Heitor. Canto Orfeônico. Rio de Janeiro, 1940. 1.º volume (p. 16 - 17). Fonte:
Acervo do Centro de Memória da Educação Brasileira- ISERJ.
Marcha Escolar11
(Volta do Recreio)
9
Seção preparatória, geralmente em andamento lento, acrescentada como início de um movimento
extenso. O conceito é antigo, mas o termo está associado principalmente à música dos períodos
clássico e romântico. Em alguns casos, a introdução é tão importante que a palavra é incluída no
título da obra. (GROVE, 1994, p. 4).
10
A última parte de uma peça ou melodia; um acréscimo a um modelo, um forma padrão. Na fuga,
a coda é o material musical que surge após a última entrada do sujeito e, na forma sonata, o que
vem após a recapitulação. (GROVE, 1994, p.205).
11
VILLA-LOBOS, Heitor. Canto Orfeônico. Rio de Janeiro, 1940. 1.º volume (p. 14 - 15). Fonte:
Acervo do Centro de Memória da Educação Brasileira - ISERJ.
12
VILLA-LOBOS, Heitor. Canto Orfeônico. Rio de Janeiro, 1940. 1.º volume (p. 8 -9). Fonte:
Acervo do Centro de Memória da Educação Brasileira - ISERJ.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
13
Caixa, tarola, tarol caixeta clara ou, na designação original em inglês, snare drum, é um tipo de
tambor, debimenbranofone composto por um corpo cilíndrico de pequena seção, com duas
peles fixadas e tensionadas através de aros metálicos, com uma esteira de metal, constituída por
pequenas molas de arame colocadas em contato com a pele inferior que vibram através das
ressonâncias produzidas sempre que a pele superior é percutida, produzindo um som repicado,
característico das marchas militares. (GROVE, 1994).
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
1
Graduando em música pela Universidade Federal do Piauí, artigo apresentado para obtenção de
titulo de licenciatura em música. e-mail: franciscoadrianoviolao@gmail.com.
2
Professor Doutor da Universidade Federal do Piauí, Doutor em Música - Musicologia/
Etnomusicologia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, e-mail.
berchmans@ufpi.edu.br
3
KOSTER, Henry. Onordeste.com (website). disponível em< http://onordeste.com/onordeste/
enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Henry+Koster<r=h&id_perso=1674> visitado em:
22/07/2016.
1749 Os jesuítas tentaram criar o Seminário do Rio Parnaíba com a intenção de formar sacerdotes.
Não chegou a funcionar sendo transferido para Caxias.
1757 Foram criadas as primeiras escolas primárias a que se tem notícia, eram duas, uma para
meninos e outra para meninas. Porém, estas escolas não obtiveram êxito.
1795 Junta Governativa solicitou à coroa em vão que fosse criada em Oeiras uma cadeira de
primeiras letras, pois em todo vasto território piauiense não havia uma só escola.
O governador Luiz Antônio de Sarmento Maia suplicou à coroa a criação de escolas porem
1805 somente em 1815 foi criada uma cadeira de primeiras letras, bem como nas Vilas de Parnaíba
e Campo Maior. Chegaram a funcionar, mas por pouco tempo.
1824 O ensino público no Piauí estava resumido às cadeiras de Latim de Oeiras e Parnaíba, e às
escolas primárias de Oeiras, Campo Maior e Valença.
NOTICIAS E
FACTOS
DIVERSOS, A nossa
música dos Educandos
vai retrogradando a
O
Teresina – olhos vistos. As peças
PROPAGA 1858 03/06/1858, ano I, pag. 3.
Piauí que ella executa são
DOR
velhas e de màu gosto,
alem de desagradarem
pela constante
repetição. [Opinião do
redator]
NOTICIAS E
FACTOS
DIVERSOS, O dia 7
de Setembro
[comemoração pela
independência do
O Brasil]
Teresina – 11/09/1858. Ano I, num.
PROPAGA 1858 À noite a musica dos
Piauí 33, pag. 4
DOR Educandos percorreo
as ruas da cidade,
acompanhada de
cidadaos de todas as
classes, reinando
sempre harmonia e
ordem.
BAILE pela
Teresina- independência do
A EPOCA 1880 1880, pag.4,
Piauí Brasil com a presença
da banda da policia.
Espetáculo – Theatro
A Teresina- 13/06/1882. Num. 3 ou Concordia, espetáculo
1882
FLORESTA Piauí pag. 4. em 5 atos. “Os dois
regenerados”.
MOCIDAD
AULAS DE
E Teresina-
1886 30-09-1886, pag. 2 MUSICA, relação de
PIAUHYEN Piauí
professores.
SE
ESTADOS,
Amazonas,
Desembarque.
Esperado para o dia 10
de agosto, vindo no
paquete [navio de
Teresina- luxo] D’Antelia, a
A NOTICIA 1899 3 de Agosto 1899.
Piauí companhia de
portuguesa de operolas
regida pelo maestro
portuense Thomas del
Negro. Destaque para
a cantora e atriz
Amélia Lopiccolo.
GRANDE
COMÍCIO, [...]
CORREIO
Encerrada a sessão, a
DE Teresina- 04/04/1916, ano IV, num.
1916 massa popular desfilou
THERESIN Piauí 164, pag. 2
pela Rua Barroso; ao
A
som da banda de
música do partido.
MAXIXE DAS
FLORES, letra da
música vencedora de
CHAPADA um concurso phatazia
Teresina-
DO 1918 1918, pag . 11, teatral, no teatro 4 de
Piauí
CORISCO Setembro, tocada pela
banda de musica da
policia e cantada por
um grupo de senhoras.
PROGRAMA
Das festas
comemorativas do
centenário da
independência do
O Teresina – 24/01/1923, Anno IX,
1923 Piauhy
ARRIBOL Piauí num. 28, pag. 5
24 de Janeiro
As 5 horas da manhã:
alvorada pela banda de
musica, cornetas e
clarins[...].
Quadro 2 música nos periódicos piauiense. Fonte: do autor
4
A referida praça está localizada por trás da igreja matriz do Amparo (A primeira igreja de
Teresina) e é uma das mais antigas de Teresina.
5
Abertura.
6
Refere-se a partes solistas ou monólogo.
7
Teatro particular idealizado pelo artista francês Joseph Arnaud, proprietário e empresário que
pretendeu. dar à casa de espetáculos a feição dos cabarés de Paris. Inauguração em 17 de
fevereiro 1859. Fechamento 1877.
8
Companhia dramática da empresa Rocha Pereira.
5 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA
1 INTRODUÇÃO
1
Professor assistente da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Doutorando em musicologia pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e Mestre em composição pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Outras publicações em: https://ufpi-
br.academia.edu/RafaelFortes.
2
Anglicismo do termo Audiation: "Audiação se dá quando se ouve música por meio de lembrança
ou criação (o som não estando fisicamente presente) e se infere significado musical de modo
similar a percepção aural em que se ouve música que está de fato sendo performada" (GORDON,
1976, tradução do presente autor).
Esta relação é pensada por meio do conceito de escritura
(écriture), que busca se distanciar do termo "escrita" e a mera função
transcritiva nele compreendida. Neste sentido, em música, o conceito
de escritura sugere o entendimento do processo composicional como
um pensamento literal (pensée à la lettre), "interiormente normatizado
por seus próprios dispositivos de escritura3" (NICOLAS, 2005, p.1). Ou
seja, com este conceito, a relação entre "o ato de registrar e o ato de se
pensar, conceber e organizar o que será registrado", adquire caráter
endógeno: o pensamento se origina, desenvolve e transforma a partir
da textualidade que o caracteriza. Pensar e escrever são um só e mesmo
processo, em uma relação de espelhamento, de interconectividade.
Mas quais as consequências destas afirmações? Se existe uma
forma de pensamento musical que é intrínseca ao seu processo de
escrita, o que isso nos diz sobre a composição musical? O que entra
em jogo quando se afirma que existe uma instância intrínseca ao
pensamento, que é, no entanto, ao mesmo tempo, externa? A questão
parece circundar um certo solipsismo: a relação entre os processos de
escrita e pensamento é subjetiva demais para ser posta à luz de um
debate filosófico, compartilhável entre uma comunidade acadêmica e
passível de desenvolvimentos. De modo que o melhor seria o seu
abandono, relegando-a à categoria de falsa questão filosófica. No
entanto, um certo incômodo parece acompanhar esta condição, um
incômodo que parece estar presente no desenvolvimento de muitas
das linguagens humanas. Leia-se, por exemplo, esse misterioso relato
de Pierre Boulez:
3
"intérieurement normées par leur propre dispositif d'écriture"
4
Desenvolve-se em paralelo à história alguns comentários por parte dos interlocutores acerca de
sua veracidade. Sócrates a prenuncia afirmando que esta lhe "foi transmitida pela tradição
antiga", não podendo então afirmar se é verdadeira ou falsa, mas justificando: "se por nós
mesmos pudéssemos descobrir a verdade, importar-nos-íamos com o que os homens dizem?".
Ao fim da história, Fedro desafia a fala de Sócrates: "Com que facilidade inventas, caro Sócrates,
histórias egípcias e de outras terras, quando isso te convém". A tréplica de Sócrates apela para
o estatuto da verdade que sua lenda contém, assim como as falas dos oráculos antepassados,
que, não importando de que material provinha sua mediunidade, no caso, o carvalho, ainda assim
falavam a palavra dos deuses.
5
A filosofia de Derrida é uma importante referência bibliográfica nos estudos feministas e na
teoria Queer. Ver, por exemplo, as coletâneas de artigos Derrida and feminism: recasting the
question of woman (1997) e Derrida and queer theory (2017).
6
Para um exemplo deste tipo de postura, ver RORTY (1982), expoente do pragmatismo norte-
americano.
7
Arconte: Magistrado da Grécia Antiga, originalmente com poder de legislar e dignidade vitalícia
próxima à realeza.
8
entendida como comunicação, relação, expressão, significação, constituição do sentido ou do
pensamento etc., deixando de designar a película exterior, o duplo inconsciente de um significante
maior, o significante do significante.
9
No pensamento semiológico, contemporânea a essa fase de Derrida, esta condição é expressada
da seguinte forma: "[a semiologia] interpreta uma exigência difundida nas várias disciplinas
contemporâneas, que justamente procuram, aos mais variados níveis, reduzir os fenômenos que
estudam a fatos comunicacionais" (ECO, 2013 [1967], p.3), fatos que podem ser traduzidos em
"unidades de informação ou bits" (ibid., p.11).
10
Vitalismo: "uma hipótese científica ultrapassada que defende que organismos vivos são
fundamentalmente diferentes de entidades inanimadas por conterem elementos não físicos ou
serem governados por princípios próprios. É a posição filosófica caracterizada por postular a
existência de uma força ou impulso vital sem a qual a vida não poderia ser explicada." (BECHTEL
e ROBERT, 1998.)
11
"For music is directly and primarily experienced as a process or a performance, and not as a
form which confronts the listener. It forces itself upon one instead of being observed from a safe
distance."
12
Staff notation [...] is the notational form associated with the work concept".
13
[...] The architectonic aspect of form, the clarity achieved by the repetition of sections [...] the
logical aspect, the development of themes and motifs whose distribution over a whole movement
imparts an inner coherence to the musical process".
14
Atualmente em posse de Coleção National Gallery of Australia em Camberra, AU.
15
Ver MATHIESEN, 2011, p.257-272.
16
"Dans la première, la musique est en position d'objet pour l'écriture: il s'agit d'écrire la
musique; dans le seconde, elle est en position de sujet (grammatical): c'est la musique qui écrit,
qui s'écrit."
17
"intérieurement normées par leur propre dispositif d'écriture"
18
"Há, agora, a tendência a designar por "escritura" [...] não apenas os gestos físicos da inscrição
literal, pictográfica ou ideográfica, mas também a totalidade do que a possibilita [...] tudo o que
pode dar lugar a uma inscrição em geral literal ou não, e mesmo que o que ela distribui no espaço
não pertença à ordem da voz: cinematografia, coreografia, sem dúvida, mas também, 'escritura'
pictural, musical, escultural etc. Também se pode falar em escritura atlética e, com segurança
ainda maior, se pensarmos nas técnicas que hoje governa estes domínios, em escritura militar ou
política" (2008, p.11).
18
Sua trajetória discursiva estabelece diálogo explícito com os três momentos do Ritornello, de
Deleuze e Guattarri, principalmente o terceiro momento.
4 Conclusão/preâmbulo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(Ronald Pinheiro)
1
Laboratório de Expressões Artísticas, fundado em 1972 com a participação de um grupo de
artistas de várias linguagens.
2
Companhia Barrica do Maranhão, fundado em 1985
3
O Boi da ilha é um dos sotaques aceitos atualmente, característico principalmente da região de
São Luís do Maranhão.
4
Nós fomos contemporâneos no curso da UEMA, e apresentamos nossos trabalhos na mesma
época.
5
A Madre Deus é um dos redutos culturais mais antigos da cidade de São Luís. Podemos destacar
duas casas de tambor de mina: a Casa de Nagô e a Casa das Minas, referência da religiosidade
afro-maranhense. O Boi da Madre Deus, um dos mais antigos batalhões da ilha de São Luís, e
a escola de samba Turma do Quinto, além da batucada dos Fuzileiros da Fuzarca e de inúmeros
Blocos Tradicionais.
Pesquisa e Música 235
do samba da Turma do Quinto e das diversas brincadeiras presentes
naquele bairro.
Desta forma o terceiro e também o quarto capítulos estão
conectados com essas releituras e resignificações da música tradicional
do Bumba-Boi da Ilha. A presença da musicalidade desse sotaque,
notadamente na ilha de São Luís, proporcionando outras apropriações
e um diálogo com os outros sotaques e gêneros musicais.
Atualmente, essas formas simbólicas das culturas populares (suas
músicas), em especial o Bumba-Boi, e mais especificamente o Bumba-
Boi Sotaque da Ilha, representam um bem cultural cobiçado por
diferentes segmentos da arte e da cultura, como por exemplo, nos 400
anos da cidade de São Luís do Maranhão, com concerto da OSB,
Orquestra Sinfônica Brasileira (Anexo 26), nas diversas composições
que utilizam essa matéria prima, o hip-hop do Clã Nordestino, a "Ópera
Boi" do TAA6, os grupos de samba e pagode que já fazem o uso das
toadas em seu repertório, como exemplo o grupo "Sindicato do Samba"
e o grupo "Argumento", dentre outros, e principalmente nas canções
da música popular urbana elaboradas por compositores. Há vários
contextos, diferentes dos tradicionais, onde encontramos a presença
dessa musicalidade.
A análise desse capítulo busca entender esse processo de
identidade musical popular e urbana a partir das culturas populares
tradicionais, sobretudo as células rítmicas e a percussividade do Bumba-
Boi da Ilha e como se articularam com novas propostas artísticas,
estéticas e consequentemente pedagógicas as quais construíram novas
formações musicais nas pessoas, utilizando esta matéria prima cultural
para a formação de músicos, como nos sugere a professora Alda
Oliveira (2006) em um título de um artigo seu. "Educação musical e
identidade: mobilizando o poder da cultura para uma formação mais
musical e um mundo mais humano." (Oliveira, 2006).
6
Teatro Artur Azevedo
8
Sala de espetáculos que faz parte do Laborarte, seu nome é em homenagem ao teatrólogo
maranhense Cecílio Sá.
9
Esse período representou para os músicos um tempo de muitos trabalhos através da formação
de um mercado consumidor interessante da música popular feita no Maranhão, em cidades
como São Luís, Imperatriz, Bacabal, Pedreiras, dentre outras. naquela época.
10
Espetáculo carnavalesco da Cia Barrica.
11
Espetáculo Junino da Cia Barrica.
12
Canções urbanas, semelhante às toadas tradicionais, mas com novas influências.
13
Título do livro que também é a tese de doutoramento de Dante Moreira Lima, que aborda esse
temperamento cultural brasileiro na década de 1960.
Aspectos Históricos
14
O professor e musicólogo Alberto Dantas defende que a nomenclatura para esse trabalho de
pesquisa do Padre João Mohana seja a de Coleção Mohana.
15
Salientamos que a música "Urrou do Boi", do amo Coxinho, já foi gravada pela cantora Maria
Betânia.
O Laborarte
A Companhia Barrica
16
A música Boi de Lágrimas já foi gravada por inúmeros artistas, destacamos a cantora e
compositora carioca Leci Brandão.
ROGÉRIO LEITÃO
Possui graduação pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA-
2011). Possui mestrado pela Universidade Federal do maranhão (UFMA-
2018) Desde 1997 é professor de bateria da Escola de Música do
Maranhão Lilah Lisboa de Araújo (EMEM). Autor do livro "Batucada
Maranhense: análise rítmica dos ciclos culturais, a visão de um
baterista" (2013). Músico da Companhia Barrica (Cia. Barrica) desde
1997. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Música.