Love
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sem a prévia autorização da autora da obra.
Esta é uma obra de ficção. Os nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produto da imaginação da
autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Emancipação de orgasmos?
Por Dandara Lopes Carvalho
Os vibradores caíram no gosto das mulheres.
Um parceiro silencioso, que não tem dificuldade de
encontraro clitórise que não ganha uma chupada mentindo que
será bem retribuída,sem contarque não precisamos passar pela
caminhada da vergonha na manhã seguinte, ou então dividir um
café com um completo estr anho que você com certezanão vai
querer ver de novo.
Christian Grey, meu novo parceiro, é preto, tem o
tamanho ideal para me proporcionarum orgasmo incrível e é tão
potenteque me levou a um orgasmo intenso em menos de dez
minutos. Preciso ressaltarque dormi muito bem depois de gozar
gostoso?
Acha que agora serei fiel somente ao Senhor Grey? Que
nada. Hoje mesmo cheguei em casa após um dia cansativo no
trabalhoe resolvi me tornarmais íntima de Pin, um sugador de
clitóris fofo em formato de pinguim.
Usei o lubrificantea base d’água e abri as pernas,
colocando Pin no meu botãozinho do prazer. Fui ao céu em
sessentasegundos. Gozei a ponto das minhas pernas tremereme
os olhos revirarem. O MELHOR ORGASMO DA MINHA VIDA.
Existem vários modelos com preços variados e funções
de acordo com a sua necessidade. Se tem uma coisa que
passamos a dever a emancipação feminina é que agora podemos
serdonas de nossos própriosorgasmos.Quer uma penetraçãocom
a garantia de gozo? O consolo ativado por controle da Luxury
prometeisso e muito mais. Algo discretopara quando não estiver
em casa? O vibrador em formatode batom é pequeno e muito
potente.
E viva o orgasmo! Certezaque se investirno seu prazer
nunca mais irá ficar chupando o dedo e mentindo na hora de
responder a clássica pergunta: foi bom para você?
Com a linha completa da Luxury com certeza será!
*
Acordo sentindo um gosto horrível de sapato na boca e
me viro, aspirando um cheiro de amaciante muito diferente do meu,
mas ainda assim familiar. Esfrego os pés nos lençóis e sinto o botão
da calça jeans esmagando minha barriga.
Abro os olhos e a claridade me faz querer gritar. Sento na
cama e tudo gira e não consigo evitar o berro que dou ao ver um
homem parado no quarto. Esfrego os olhos e então percebo que é
Ethan em frente ao espelho ajeitando a gravata e com mais uma
olhadela tenho noção de que não estou no meu quarto.
— Vai me dizer que é uma daquelas bêbadas que não
lembram o que aprontaram?
Fecho os olhos, sentindo minha cabeça latejar, e me
lembro do quanto bebi no bar na noite anterior e do esforço que
Carlos fez para me colocar no Uber quando foi buscar Milena e
também no escândalo que eu dei para abrir o portão sendo que a
chave estava na minha mão. Isso nem foi o pior e meu rosto queima
de vergonha ao olhar para Ethan.
— Eu sinto muito — digo e percebo que estou no meio da
cama dele. — Eu estava nervosa com o trabalho e bebi demais.
— Eu sei — ele afirma e finalmente me olha. Está bonito
com os cabelos crespos molhados e sem os óculos de nerd. —
Você me contou tudo isso.
Meu rosto queima ainda mais e tenho muita vontade de
me enfiar embaixo das cobertas. Não acredito que contei tudo para
o amigo careta do meu irmão.
— Vai contar para o Jorge? — questiono baixinho.
— Não. Eu não sou o fofoqueiro que pensa, Dandara.
Faço menção de negar, mas Ethan é inteligente demais
para cair nas minhas mentiras.
— Não queria te constranger ontem.
Ele balança a cabeça e se volta para o espelho.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Claro.
Ele coloca o paletó e então me olha, se apoiando na
cômoda de madeira marrom.
— De que forma aquele seu ex-namorado te quebrou?
Mordo o lábio, sabendo muito bem que não deveria ter
falado sobre ele para Ethan. Só Milena e a psicóloga sabem da
extensão do relacionamento que deu errado.
— Ele... Ele me disse coisas horríveis— admito as meias
verdades, sentindo como se meu estômago fosse explodir de tão
agitado que fica. — E quis me obrigar a fazer coisas que eu não
queria também, mas tudo isso já passou, não sei porque disse isso
ontem. A cerveja artesanal me pegou de jeito.
Ethan passa a mão no rosto e se aproxima, sentando na
ponta da cama.
— Você também falou coisas sobre perder a virgindade.
Engasgo, sentindo que poderei morrer de
constrangimento.
— Pois é — falo, completamente sem jeito. — Eu ainda
sou meio que virgem. Não queria contar isso para o dono da minha
casa, mas escapou.
— E precisa deixar de ser por causa do trabalho?
Olho para o lençol azul e passo a mão no tecido macio,
pensando em enrolar e questionar o lugar em que comprou o jogo
de cama.
— Não precisa me responder se não quiser, Dandara.
— Não é isso, eu já te falei tudo o que não deveria ontem
mesmo, mas é que eu tenho que testar certos produtos a dois e ser
virgem me atrapalha nisso, mas já estou pensando em formas de
resolver essa questão.
— Com aplicativos de namoro?
— Sim. Eu sei que te falei coisas constrangedoras e
acabei dormindo na tua cama. Sinto muito. Vou te pagar aquela
pizza que gosta para te recompensar. Só esquece isso, certo?
Levanto da cama dele e por pouco não caio de cara no
chão. Estou tão constrangida pelo que contei, fiz e pedi que só
quero me enfiar em um buraco até toda essa vergonha passar. Não
me importo com o que Ethan pensa, quer dizer, não muito, mas
também não quero que ele ache que eu sou uma irresponsável
completa.
— Dandara...
— Estou com muita vergonha agora. Preciso ir trabalhar,
nem sei que horas são e...
— Sete horas.
— Puta merda! Preciso tomar banho. Obrigada, Ethan.
Até mais.
Pego meus sapatos e a bolsa e corro para fora da casa
dele, pouco me importando com a chuva que me encharca assim
que piso na escada.
Capítulo 5
— Eu nunca mais irei beber — falo para Milena enquanto
estou no ônibus a caminho do trabalho. — Estou com uma dor de
cabeça horrível e perdi completamente a dignidade na frente do
Ethan.
— Não achou a chave de novo?
— Pior. Eu gritei bem alto que nunca tinha dado, meio
que pedi para ele fazer o trabalho e choraminguei sobre como o
Décio me deixou na pior. Aí acordei na cama dele, tive que
responder perguntas constrangedoras e prometer recompensá-lo.
Você consegue me imaginar contando para Ethan sobre a minha
virgindade?
— Hum... não, mas como assim pediu para ele resolver o
problema?
— Eu pedi para ele transar comigo porque o considero
alguém gentil. Tem algo mais idiota do que isso? O seu José lá do
prédio da revista é um solteirão gentil e nem por isso quero pedir
esse negócio para ele.
Milena fica em silêncio e eu olho ao redor para ver em
que lugar estou para puxar a cordinha e então me deparo com a
maioria das pessoas me olhando.
— Esse Ethan é bonito? — questiona uma senhora de
cabelos pretos e um batom vermelho muito bonito.
Afasto o celular da orelha e olho para ela.
— Ele é bonito — respondo, sentindo meu rosto arder.
— Então dá pra ele, bobinha — fala a outra senhorinha
sentada ao lado daquela do batom bonito. — Deus sabe que eu
queria ter dado muito mais na minha juventude.
Algumas pessoas ao redor concordam e eu quero me
enfiar em um buraco pela segunda vez no mesmo dia.
— Dandara?
Lembro que estou falando com Milena e aproximo o
celular da orelha novamente.
— O pessoal aqui do ônibus ouviu tudo o que eu te
contei.
— Você não consegue ser discreta, não é, amiga?
— Eu até tento, mas sempre acabo falando o que não
deveria.
— Espero que o Ethan não fale o que não deve. Já
imaginou a tia Margarida querendo te levar para se confessar?
A menção a minha mãe me deixa arrepiada e eu cruzo os
dedos.
— Ethan não vai dizer nada. Agora eu tenho que ir.
Finalmente chega a minha vez de descer e ainda consigo
ouvir o incentivo das senhoras para que eu perca minha virgindade
com Ethan. Tem gente que é bem intrometida mesmo.
*
Guilhermina está de péssimo humor e isso significa que a
fase compreensiva dela chegou ao fim rápido demais.
— Já é quinta-feira, Dandara — ela fala no momento em
que eu entro na redação, alto e na frente de todos os meus colegas
que parecem tão amedrontados quanto eu. — Eu quero o primeiro
rascunho no meu e-mail até sábado ao meio-dia.
— Pensei que fosse até segunda.
Percebo que foi a coisa errada de se dizer quando
Leônidas tapa os olhos com as mãos e Denise para de lixar suas
unhas.
— Segunda-feira é o prazo final! — ela esbraveja e por
pouco não derruba a xícara de café em cima de uma assustada
Franciele. — Será que eu te julguei mal, Dandara? Se achar que
não consegue tenho certeza que consigo um substituto em um
estalar de dedos. Deus sabe que não se pode olhar para o céu sem
cair dez currículos de jornalistas desempregados na nossa cabeça.
— Pode confiar em mim, Gui — digo, tentando
demonstrar uma força que eu claramente não tenho. — Não vou te
decepcionar.
— Eu espero que não porque aquele último clickbaitque
colocou no ar com duas salsichas sendo confundidas com pernas
rendeu péssimos comentários.
Abaixo a cabeça. Na hora me pareceu uma boa ideia,
mas acho que só eu consegui confundir aquelas salsichas com
pernas magrelas.
— Estou indo para minha sala e só me chamem se algo
importante acontecer, ou então o Léo resolver colocar fogo no
micro-ondas assando batata doce de novo.
Leônidas fica todo vermelho e eu observo Guilhermina
entrar em sua sala, sentindo que estou andando em uma corda
bamba. Se eu perder esse emprego estarei provando para meu pai
que ele tinha razão e ser jornalista é para quem quer viver
desempregado e contando migalhas.
Vou para a minha baia e a primeira coisa que faço é
começar a baixar aplicativos de relacionamentos em meu celular.
*
Reprimo o grito no instante em que vejo o que um dos
meus prováveis candidatos acabou de me enviar. Uma foto
horrenda do seu pau em um ângulo péssimo e que mostra uma
infinidade de pelos, como se ele tivesse um brócolis no meio das
pernas, ou algo igualmente pavoroso.
Manda foto do peitinho.
É permitido se sentir invadida com apenas uma
pergunta? Instintivamente me encolho e seguro o celular com mais
força. É o terceiro pedido que recebo desde que baixei o aplicativo e
até agora não consegui falar com ninguém interessante. A maioria já
pede para me conhecer depois do oi. Será que eu sou antiquada ou
aquela magia de conhecer alguém se perdeu?
— Sua pizza está pronta, Dandara.
Sorrio para o dono da pizzaria do bairro e seguro a pizza
média de calabresa que ele me entrega. Despeço-me em seguida e
ando pelas ruas tranquilas, pensando que estou ferrada porque, a
não ser que eu desenvolva um talento enorme para inventar um
romance erótico, não vou conseguir escrever a bendita matéria no
prazo de Guilhermina. Será que não é melhor eu desistir de uma
vez e poupar meus nervos?
Assim que paro na frente de casa, vejo Ethan regando o
jardim e sinto meu rosto queimar de vergonha por tudo o que
aconteceu na noite anterior.
— Oi — falo assim que abro o portão.
Ele se volta para mim e sorri, ajeitando os óculos em
cima do nariz, dessa vez a armação é transparente e parece
combinar mais com ele do que a preta que normalmente usa.
— Trouxe sua pizza favorita como pedido de desculpas
— digo ao me sentar nos degraus em frente ao sua porta. — Pedido
aceito?
— Não precisava tanto, eu já tinha te desculpado.
Sorrimos um paro o outro e bem nesse momento meu
celular apita. Abro a mensagem do aplicativo de namoro e engulo
em seco.
Gostei do seu perfil no Instagram. Bem gostosinha.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo e por pouco não
jogo o celular longe. Abro o perfil do cara que me mandou a
mensagem sinistra e vejo que ele quer apenas encontros sexuais e
exige que a garota não seja gorda e esteja toda depilada. Acho que
alguns homens realmente se esforçam para gostar de mulher.
— Está tudo bem, Dandara?
Bloqueio a tela do meu celular e ergo a cabeça, vendo
Ethan me olhando com curiosidade.
— Está sim — minto e lhe estendo a caixa de pizza. —
Aproveita.
Ele segura a caixa e seus dedos esbarram nos meus e eu
noto como as bochechas dele ficam coradas. Ethan é o cara mais
tímido que eu já conheci e também o mais educado. É por isso que
me sinto tão segura de morar aqui.
— Venha jantar comigo — diz e faz um gesto para sua
casa.
Já jantamos juntos antes e eu sempre fico encabulada
com a forma como ele é completamente organizado e eu uma
bagunceira nata.
Levanto-me e resolvo aceitar seu convite. Estou tendo um
dia terrível e me livrar de fazer o jantar talvez seja exatamente do
que preciso.
O sigo para dentro da sua casa e tiro os sapatos, não
querendo sujar o chão bem limpo. Ele tem uma diarista uma vez por
semana, a mesma que limpa minha casa, mas de algum jeito minha
bagunça retorna no dia seguinte e a dele nunca dá as caras.
Vamos para a cozinha ampla e com eletrodomésticos
cromados e eu me sento em uma banqueta em frente a bancada, o
observando lavar as mãos e então começar a pegar os pratos no
armário com porta de vidro.
Quando meu celular torna a apitar, eu peço licença e vou
para o banheiro que, apesar de ser do mesmo tamanho do meu,
parece muito maior sem roupas espalhas e lingerie penduradas.
Resolvo ver a notificação antes de lavar as mãos e dou
um pulo ao receber a foto mais esquisita de todas. O tal que me
encontrou no Instagram acabou de me enviar um anexo em que
está em uma cozinha vestido de empregada doméstica e com a
bunda toda de fora. Consigo ver tudomesmo e ele é bem depilado.
Que tal me chupar gostoso aqui?
Sinto uma enorme vontade de colocar meu rosto dentro
da pia e ligar a torneira para lavar meus olhos, mas ao invés disso
lavo as mãos e volto para a cozinha, onde Ethan está colocando
uma fatia de pizza em meu prato.
— Você está vermelha. O que aconteceu?
— Na... Nada — digo e coloco o celular um pouco
distante de mim. — Apenas umas coisas do trabalho.
Ethan enche meu copo de Coca-Cola gelada e se
contenta apenas com água com gelo e limão. Ele senta de frente
para mim e parece querer me dizer alguma coisa, pela forma como
hesita.
— Deu com a línguanos dentes e contou para o Jorge do
meu vexame?
— Não — retorque, parecendo ofendido.
— Então desembucha, Ethan.
Ele sacode a cabeça em sinal negativo e começamos a
comer em silêncio, isso até meu celular começar a vibrar e a apitar
como um louco.
O pego, imaginando se são meus pais e se papai
resolveu consertar algo em casa e acabou se machucando como
sempre acontece, mas ao invés de algo relacionamento a minha
família é o tal fantasiado de empregadinha que está me mandando
centenas de fotos de ângulos diferentes da sua bunda. Gemo de
terror na última foto em que ele está segurando um consolo enorme
em formato de pênis e me pede para enfiá-lo com muito tesão.
Coloco o celular em cima da bancada e tapo o rosto com
a mão na tentativa de esquecer o que acabei de ver. Não julgo as
práticas sexuais de ninguém, mas será que é certo mandar tudo
isso para quem não se conhece?
— Isso não vai dar certo — digo para mim mesma.
— Santo Deus!
Afasto as mãos do rosto e percebo, horrorizada, que
Ethan está segurando meu celular e seu rosto está bem vermelho,
com certeza um espelho do meu porque estou sentindo minhas
bochechas arderem desde o momento em que o cara com fetiche
de ser pego por trás começou a me enviar seu álbum de fantasia na
cozinha.
— Você seguiu em frente e baixou o aplicativo, não é?
— Sim — admito e tomo meu celular da mão dele. —
Minha editora está em cima de mim porque quer a maldita matéria e
meu primeiro rascunho foi descartado. Milena me disse que parece
que eu odeio os homens, mas eu não sei como fazer de forma
diferente e eu não tenho coragem de experimentar os inúmeros
vibradores que me encaram da mesa da sala, como se mostrassem
o quão incompetente eu consigo ser.
Tapo a boca quando percebo que falei demais. Esse é
meu maior defeito. Eu fico bêbada, ou desesperada, ou com
qualquer sentimento conflitante, e começo a falar pelos cotovelos.
— Desculpa te encher com meu problemas — murmuro e
tento disfarçar tomando um gole de refrigerante.
— Isso não vai dar certo com esses caras esquisitos —
Ethan fala com delicadeza. — E pelo que me disse não consegue
confiar em ninguém depois do que aconteceu com seu antigo
namorado.
— Isso — confirmo a contragosto.
Bastou ficar bêbada e desesperada na frente dele uma
única vez para confessar meus pecados a plenos pulmões.
— Você sabe que eu me importo com você, não sabe?
— Acho que sim já que me alugou o andar de cima por
um preço abaixo do mercado.
— Certo, eu não sei direito como dizer isso, mas se
quiser eu posso te ajudar com seu probleminha do trabalho. Pensei
nisso o dia todo e acho que é melhor fazer com alguém que você
conheça do que com esses malucos que encontra online.
Deixo meu garfo cair dentro do prato de forma ruidosa.
— Você bebeu, Ethan?
— Eu não bebo, Dandara — ele diz e esfrega o rosto com
as mãos, parecendo tão desconfortável quanto eu. — Só não quero
que você se machuque novamente. Ouvi o que falou sobre a forma
como o Décio fez com que perdesse a confiança em qualquer um e
agora testemunhei sua tentativa tola de achar alguém que preste e
lembrei das suas palavras quando insistiu para eu pensar na
proposta melhor.
— O que eu disse?
— Que confiava em mim por eu ser gentil.
Lembro exatamente o que eu falei e na forma como
naquele momento, com o álcool correndo por minhas veias, me
pareceu uma ótima ideia.
— Você é realmente uma pessoa gentil e bem decente.
Ele sorri e olha para baixo, provavelmente envergonhado
de olhar para o meu rosto.
— Não quero que pense que eu estou me aproveitando
de você, Dandara.
— Acho que seria eu me aproveitando de você.
Eu estoumesmo cogitandopedir para o melhor amigo do
meu irmão tirar minha virgindade?
Capítulo 6
Nem em um milhão de anos imaginaria que o certinho
Ethan poderia acatar um pedido que eu fiz bêbada e sem pensar
direito, mas aqui estamos nós, nos encarando no pequeno espaço
da bancada, e ele parece prestes a se enfiar em um buraco de tão
vermelho que fica. Homens tímidos são quase tão raros quanto
virgens de vinte e quatro anos.
— Hum... então você transaria comigo se eu pedisse?
Ele apoia os cotovelos na mesa e morde o lábio inferior.
— Eu não vou transar com você, Dandara, apenas te
ajudar nessa reportagem. Você me disse que precisa testar certos
produtos a dois e eu posso ajudar nisso.
— Sem transar?
— Isso. Você deve perder a virgindade com quem gosta e
não com o cara para quem paga o aluguel.
A situação toda é tão hilária que eu tenho uma crise de
riso, isso até meu celular apitar e eu receber mais uma foto do
homem fantasia. Dessa vez ele está com uma sexy roupa de
aeromoça e com a bunda empinada e em uma das nádegas uma
flecha vermelha apontada para seu orifício.
Abuse de mim.
A legenda é quase tão pior do que a imagem em si.
Olho para Ethan, o certinho e engomadinho Ethan, e
acabo sorrindo.
— O que foi? — ele questiona, apoiando o queixo na
mão.
— Estava só pensando que é uma proposta ousada vindo
do melhor amigo do meu irmão, o mesmo cara que é
completamente certinho.
— Acho que porque você é a irmã do meu melhor amigo
que eu não quero que corra riscos se encontrando com qualquer um
apenas para transar e dar continuidade no seu trabalho.
— Eu poderia simplificar tudo e dizer que não consigo,
simplesmente desistir, mas você tem noção da briga que foi quando
eu disse que queria ser jornalista? Meu próprio pai simplesmente
falou que eu morreria de fome e a minha mãe ressaltou que não era
uma carreira muito glamorosa para sua única filha. Cada vez que eu
passava de uma fase na faculdade era motivo de alegria e quando
meu estágio na revista se transformou em efetivação foi o dia mais
feliz da minha vida, mesmo que eu fosse apenas a garota que
escrevia clickbaits.
— Eu sei, Danda — ele concorda de uma forma
carinhosa. — Eu estava lá e vi como lutou para realizar seus
sonhos.
— Foi um longo caminho e quando eu quis morar sozinha
parecia que o mundo estava acabando. Então sim, é muito maluco,
mas eu não quero perder meu emprego e dar passos para trás
porque isso significa não conseguir mais pagar o aluguel e voltar
para a casa dos meus pais apenas porque tenho um hímen.
— Pensei que todas as garotas quisessem que a primeira
vez fosse especial.
— Eu já quis isso — admito sem coragem de olhar para
ele. — Eu quis ter uma primeira vez especial e com um cara que eu
gostava, mas então veio o Décio e aconteceram várias coisas que
me magoaram e me fizeram focar na minha carreira e deixar os
relacionamentos de lado. Eu não quero ninguém que seja capaz de
me machucar de novo, entende Ethan?
— Mais do que você imagina.
Fico curiosa com suas palavras, mas tomo mais um gole
do refrigerante antes de voltar a falar:
— É por isso que vou aceitar o que me propôs. Estar
recebendo fotos de paus e propostas esquisitas está me deixando
mais neurótica do que de costume e conhecer alguém e arriscar
meu coração está fora de questão.
Ele balança a cabeça e começa a roer a unha do polegar.
— Como vai ser? — insisto quando ele não diz nada,
temendo que talvez já esteja desistindo antes de sequer termos
começado.
— Acho... Acho que você pode me dar uma lista do que
quer saber e eu te explicar.
— Eu pesquisei no Google como usa cada coisa e a
minha editora disse que faltava mais experiência pessoal nas
minhas palavras, então eu acho que uma explicação não será
suficiente.
Tapo o rosto com as mãos, com tanta vergonha que só
consigo espiá-lo através dos meus dedos.
— Dá para testar sem transar?
Ethan começa a tossir depois da minha última pergunta e
parece estar achando a fatia de pizza fria fascinante pela forma
como começa a mexer na comida com o garfo.
— Precisa de preliminares antes do sexo, Dandara, e
esses brinquedinhos são exatamente para isso.
— Quer dizer que vai ser meu professor de preliminares?
— Se você quer ver desta forma.
Balanço a cabeça e pego novamente meu celular. Tirei
fotos dos produtos que recebi na revista apenas para ter acesso a
tudo quando precisasse escrever, então fica fácil enviar para Ethan
o que ele precisa me ensinar.
Ele pega o celular no bolso da calça e morde o lábio
conforme percorre a tela com o dedo indicador.
— Acha que pode me ajudar?
— Sim — afirma e coloca o celular em cima da bancada.
— Mas deixa eu me acostumar com a ideia de ensinar tudo isso
para você. Estou me sentindo como um aproveitador, Dandara.
Você é tão jovem e...
— Meu Deus, Ethan, eu tenho quase vinte e cinco anos e
foi você que resolveu aceitar a proposta que eu fiz bêbada, não iria
voltar no assunto.
— Eu sei, Dandara, e também entendo seus motivos,
apenas preciso me acostumar com a ideia, principalmente depois de
ver o arsenal que tem no andar de cima.
Acabo rindo, de puro nervosismo, e ele faz o mesmo.
Terminamos de comer a pizza fria e eu me sinto completamente
sem jeito ao lado dele conforme o ajudo a limpar a cozinha.
— Acho que eu nunca fiquei tão sem jeito com você antes
— admito quando guardo o último copo no armário. — Nem naquela
vez em que você viajou para a praia com a gente e eu perdi a parte
de cima do meu biquíni.
— Eu tive que procurar por aquilo enquanto você estava
histérica com medo de fazer topless.
Começamos a rir diante da lembrança de quando eu tinha
dezessete anos.
— Obrigada, Ethan — eu digo depois de alguns minutos.
— É sério mesmo, poucos caras seriam tão legais com a irmã do
melhor amigo e não preciso nem ressaltar que isso será um segredo
de Estado, certo?
— Vamos levar isso para o túmulo — ele diz bem sério e
ajeita os óculos. — Uma única aula e você se vira, certo?
— Acho que sim.
Ainda nos olhamos sem jeito por um momento antes de
eu me despedir e subir correndo para minha casa.
Assim que me jogo no sofá e chuto uma calça suja para
longe, digito o número de Milena e ela me atende no segundo toque:
— Já arranjou um encontro?
— Mais ou menos...
— Como assim mais ou menos?
— O Ethan resolveu aceitar o pedido que fiz bêbada para
ele ontem.
— O Ethan, o mesmo que eu conheço e é dono da sua
casa?
— Sim, ele mesmo.
Milena dá um gritinho histérico e quase me deixa surda.
— Você vai aceitar transar com ele? A gente sempre o
achou gato mesmo.
— Ethan meio que vai ser meu professor de preliminares.
— Jesus, eu estou amarrotada, passada e passada de
novo.
— Estou com vergonha de toda essa situação, mas ele é
minha melhor opção, Mi.
— Com certeza amiga, mas nenhum dos encontros por
aplicativo vingou?
— Eu recebi uma coleção de fotos de pau e um maluco
com fetiche por ser enrabado.
— A safra de homens para as mulheres da nossa
geração não está nada boa.
Concordo e logo em seguida nos despedimos porque
Carlos chega e Milena quer aproveitar o noivo.
Tomo um longo banho e antes de ir dormir olho para a
sacola em cima da mesa. Espero que tudo dê certo.
Capítulo 7
Dormi mal durante a noite e acordei às seis da manhã
depois de apenas duas horas de sono e tempo além da conta
passado nas redes sociais, um vício do qual não me livro porque
sempre me ajuda no trabalho.
Coloco a depilação em dia assim que entro embaixo do
chuveiro e sinto meu estômago embrulhado diante do que eu sei
que irá acontecer hoje. Não será sexo, mas com certeza será tão
íntimo quanto.
A última vez que deixei um cara se aproximar tanto de
mim, ele me deixou com marcas roxas no pescoço e um trauma
enorme de me envolver com alguém de novo. Talvez seja por isso
que me sinto mais segura com o Ethan. Eu sei que não faço o tipo
dele porque sua antiga namorada, Natalie, parecia uma modelo com
longas pernas, corpo malhado e um cabelo loiro e comprido que
dava inveja em qualquer uma, além de ser sofisticada e com certeza
não ficar bêbada tão facilmente quanto eu.
Ethan também não faz meu tipo. Nunca gostei de caras
certinhos e organizados, sempre tive uma queda pelos rebeldes e
tatuados. Pensar no meu tipo piora meu estado de nervosismo.
Décio era tudo o que eu pensei que queria em um homem e não
hesitou em me jogar na rua embaixo de uma chuva torrencial e
machucada por dentro e por fora.
Organizo um pouco a bagunça da minha casa com
facilidade já que o segundo andar tem apenas uma sala conjunta
com a cozinha, um único quarto grande com banheiro e uma
pequena área de serviço. A parte que eu mais amo é a ampla
varanda aonde posso me deitar e olhar para o céu, ou então ficar
pegando um bronzeado de maneira preguiçosa nos dias de verão.
Termino de me arrumar para o trabalho e calço minhas
inseparáveis sapatilhas, perdendo tempo a procura do passe de
ônibus que ficou dentro da minha calça suja do dia anterior.
Saio de casa e sou saudada por um sol forte e que eu
adoro já que inverno é uma espécie de inferno pessoal para mim
que sou muito friorenta e quero apenas ficar embaixo das cobertas
assistindo a TV.
Assim que desço as escadas, encontro Ethan também
saindo e imediatamente minhas bochechas esquentam, assim como
as dele.
— Bom dia, Dandara — ele fala meio sem jeito, abrindo o
portão para que eu passe.
— Bom dia, Ethan.
Ficamos nos encarando em uma mistura de ansiedade e
constrangimento até que resolvemos falar ao mesmo tempo.
— Fala você — ele diz por fim.
— Então... — começo, sem saber direito como escolher
as palavras certas. — Eu preciso entregar o primeiro rascunho da
reportagem até amanhã.
Ethan morde o lábio e ajeita a alça da bolsa estilo carteiro
que está usando.
— Você queria dizer que desistiu? — suponho ao notar
seu desconforto.
— Não — ele nega com um suspiro. — Apenas para dizer
que as oito horas bato na sua porta, ou você acha que vai ser
melhor na minha casa?
— Acho... Acho que na minha casa.
— Certo, então até lá.
Nós dois estamos com tanta pressa para nos livrarmos da
conversa constrangedora que nos esbarramos na tentativa de
passar pelo portão. Ele me segura pelos ombros e impede que eu
caia na calçada.
Ficamos nos encarando por um momento, os intensos
olhos azuis dele focados completamente em meu rosto, fazendo eu
descobrir que a bordinha de suas íris são de um tom verde e seus
cílios são longos e escuros.
— Tenha um bom dia de trabalho, Dandara — Ethan diz
ao me soltar.
Apenas balanço a cabeça e o observo entrar em seu
carro, estacionado do lado de fora da garagem.
Ainda estou nervosa quando começo a andar até o ponto
de ônibus e não ajuda nada que eu encontre as mesmas duas
senhoras do dia anterior e elas pareçam ainda mais interessadas na
minha vida.
*
Guilhermina me lança um olhar desconfiado quando eu
digo, com uma falsa confiança, que até amanhã ela terá o primeiro
rascunho que tanto quer.
— A revista precisa desse patrocínio, Dandara — ela fala
em um tom mais baixo do que de costume, apesar de só estarmos
nós duas na sala do café. — Com qualquer um podendo ser
jornalista em posse de um celular com uma boa câmera, nós, os
jornalistas de verdade, precisamos nos esforçar em dobro e com a
Ilda como colunista da Amor&Sexo, perdemos muito patrocínio
nessa área pela maneira fechada dela encarar a sexualidade.
Espero que com a sua visão jovem e cheia de vida as coisas
melhorem.
Ela me lança um último sorriso antes de sair carregando
um copo térmico cheio de café. Guilhermina é meu exemplo, apesar
dos surtos ocasionais de mau-humor. Com trinta e seis anos, ela
tem uma carreira sólida e é uma mulher linda, sofisticada e cheia de
estilo com amigos influentes em todas as áreas. Seu cabelo preto e
a pele clara, contrastando com lindos olhos verdes, lhe dão um falso
ar angelical porque quando aquela mulher resolve se colocar na
posição de poder é pernas para quem te quero e ganhar a
aprovação dela é um marco importantíssimo para minha carreira.
É por isso que quando sento em minha cadeira e começo
a pensar sobre o que farei à noite, não me sinto mais envergonhada
por ter feito aquele pedido a Ethan. Eu quero apenas crescer na
vida e provar o meu valor, nem que para isso precise de um
professor de preliminares.
*
Estou uma pilha de nervos e a ajuda de Milena para uma
meditação guiada está apenas me deixando mais frustrada por não
conseguir esvaziar a mente da forma que ela acha que qualquer um
consegue.
— Não dá para ao menos apagar essa vela fedorenta?
Faço a pergunta abrindo apenas um dos olhos. Estou em
seu estúdio de pilates, em uma sala reservada, e na posição de
lótus tentando acalmar minha mente. Será que Milena pensa que eu
tenho uma deusa interior como a Anastacia de cinquenta tons de
cinza?
— Essa vela é ótima.
Apenas bufo e continuo tentando seguir as instruções de
meditação, mas depois de trinta minutos desisto e calço meus
coturnos, pegando a minha bolsa e percebendo que meditar não é
muito a minha praia.
— Vou nessa — digo quando ela se levanta e para na
minha frente. Está usando um conjunto de ginástica lilás e com os
cabelos crespos presos no alto da cabeça, parecendo muito aquelas
garotas dos anos oitenta.
— Boa sorte, amiga — Milena me abraça apertado. — E
goze gostoso. Acho que seu humor vai melhorar bastante depois
disso.
Olho para ela com desdém e então pego um Uber para
casa, mais ansiosa do que nunca para o que vai rolar.
Assim que entro, percebo que o carro de Ethan ainda não
está na garagem e subo para minha casa.
Vou direto para o banho e tento relaxar embaixo da água
morna, pensando na roupa certa para vestir em uma ocasião assim.
Lingerie sexy? Camiseta larga? Pijama de ursinhos?
Acabo optando por um vestidinho de algodão um pouco
acima dos joelhos e prendo meus cabelos em um rabo de cavalo
frouxo. Ainda estou me olhando no espelho quando ouço uma
batida na porta.
Já sei por antecedência que é ele porque tem um
interfone que sempre toca na minha cozinha quando é alguém de
fora que vem.
Respiro fundo, ajeito os cabelos rebeldes para trás da
orelha e olho para a sacola da safadeza uma última vez antes de
me dirigir a porta.
Capítulo 8
Abro a porta e olho para Ethan. Ele está com os cabelos
molhados e usando uma calça de moletom cinza e camiseta branca.
Seus olhos azuis estão bonitos e destacados sem os óculos e o
cheiro do seu sabonete de capim limão é bom.
— Oi — digo forçando um sorriso e dando um passo para
o lado. — Entre. A sacola está em cima da mesa.
Meu rosto pega fogo quando ele entra e eu fecho a porta.
Meu coração acelera tanto que eu sinto a pulsação martelar em
meus ouvidos.
— Você está bem?
Ergo a cabeça e me deparo com ele me olhando.
— Estou nervosa — digo baixinho, me encostando na
porta.
Ethan balança a cabeça, parecendo me compreender, e
vai até a mesa, onde abre a sacola. O vejo dispor os objetos lado a
lado.
— Tem algum que ache mais interessante?
Aproximo-me dele e paro ao seu lado, olhando para os
vibradores de vários tamanhos. Pego o grande pênis vibrador e o
tiro da fileira, assim como um roxo que tem mais de vinte
centímetros e é bem grosso.
Olho para os que restaram: um fofo em formato de
coelho, lubrificante que esquenta, óleo de massagem corporal e o
tal sugador de clitóris.
— Esse aqui você pode testar sozinha — Ethan diz ao
apontar para o pinguim e colocar o lubrificante ao lado. — Acho que
será uma experiência interessante.
— E o coelhinho?
Ethan me olha e arqueia as sobrancelhas grossas.
— É a nossa aula de hoje.
Mordo o lábio enquanto Ethan pega o óleo de massagem
corporal e o pequeno vibrador. Como algo tão fofo pode dar uma
experiência interessante?
— O que eu faço agora? — indago jogando o peso de um
pé para o outro.
— Deita na cama. Eu vou fazer uma massagem em você.
Acho que está muito tensa.
Concordo e ando até meu quarto, sendo seguida de perto
por ele. Olho ao redor em busca de alguma lingerie perdida, mas
tudo está em ordem, até a cama estendida com a minha colcha lilás
favorita. Valeu a pena ter me esforçado e deixado tudo arrumado
logo cedo.
— Acho melhor você deitar — ele fala, completamente
constrangido. — E tirar o vestido.
Ethan desvia o olhar e eu respiro fundo ao chutar meus
chinelos para longe e tirar o vestido, ficando apenas com um
conjunto de lingerie simples rosa escuro.
Ele faz um gesto para a cama e se recusa a me olhar,
como se tivesse mantendo seus princípios, e isso me faz sorrir
porque até em uma situação despudorada dessas está sendo um
cavalheiro.
Deito de bruços e abraço meu travesseiro.
— Coloque esse embaixo da barriga.
Pego o travesseiro que ele me estende e faço o que me
pede, ficando com a bunda mais empinada e imediatamente
sentindo minhas bochechas arderem. Ouço a respiração ruidosa
dele e o exato instante em que abre o óleo de massagem, fazendo o
ambiente ficar com um delicioso cheiro de chiclete.
Fecho os olhos, me sentindo tensa, e sinto quando Ethan
para ao lado da cama. No momento em que os dedos frios dele
tocam a minha pele, fico arrepiada, como se uma corrente elétrica
estivesse passando pelo meu corpo.
— Vou ter que abrir o seu sutiã — ele diz baixinho e a
cama afunda no local em que ele apoia o joelho.
— Não tem problema.
Ethan abre o meu sutiã e as alças descem por meus
ombros. Fico tensa e ansiosa, mas mantenho meus olhos fechados.
Lentamente, ele derrama o óleo em minhas costas e de
forma suave inicia a massagem com as pontas dos dedos. No exato
local em que ele me toca, começa a esquentar e eu arregalo os
olhos com a sensação diferente que passo a sentir.
— Esse óleo esquenta — Ethan diz com voz rouca, suas
mãos fazendo movimentos circulares em minha coluna.
Não digo nada e abraço o travesseiro com mais força,
suas mãos fortes me acariciando de forma lenta fazendo com que
meu coração acelere e o cheiro delicioso de chiclete me de água na
boca.
Ethan pressiona nos locais em que estou tensa com o
polegar e eu sinto uma parte bem específica de mim se contrair
quando seus dedos vão se aproximando das minhas costelas. Não
consigo controlar minha respiração acelerada e ouço como ele
mesmo está respirando de forma ruidosa.
Quando chega próximo da minha bunda, ele derrama
mais óleo de massagem e tudo em mim passa a queimar de uma
forma deliciosa quando cada mão dele para em uma banda minha,
fazendo com que um nó se forme em minha barriga.
Lentamente, Ethan me massageia, descendo pelas
minhas pernas e subindo novamente até as minhas costas, se
detendo em minhas costelas, aonde suas mãos quentes ficam
próximas de meus seios desnudos.
Não quero que ele perceba que estou com tesão e me
esforço para ficar parada, prendendo a respiração quando
massageia meus braços e então faz o caminho por meus ombros,
voltando para a bunda e minhas pernas. Será que ele consegue ver
o quão molhada estou, exposta desse jeito?
Ethan começa a pressionar minha bunda, suas mãos
descendo próximas a meus quadris, fazendo movimentos circulares
que me incendeiam totalmente. Quero gemer e pedir que massageie
outras partes necessitadas de mim, mas continuo parada. Seria
exagero dizer que está sendo a experiência mais torturante e erótica
da minha vida?
Não consigo me controlar quando ele derrama óleo de
massagem entre as minhas pernas, encharcando a minha calcinha.
— Ethan? — o chamo com voz estrangulada?
— Relaxe.
O pedido dele é feito com uma voz tensa e ao mesmo
tempo em que seus dedos se enroscam nas laterais da minha
calcinha e a descem por minhas pernas besuntadas.
A lenta massagem continua, com as mãos dele
deslizando pelas partes internas das minhas coxas e então subindo
para as minhas costas, próximas demais de meus peitos, me
deixando mais molhada do que jamais estive em meus vinte e
quatro anos de vida.
Mordo o lábio com força quando a massagem se torna
mais ousada e os dedos dele se aproximam perigosamente do meu
centro.
De repente ouço o barulho de algo vibrando e meu corpo
se torna mais quente em expectativa.
Lentamente, Ethan desliza o vibrador em formato de
coelhinho por minha bunda, o trazendo para a parte interna da
minha coxa.
— Oh, meu Deus!
Não consigo me controlar quando sinto as orelhinhas de
silicone do coelhinho deslizarem por meu sexo lambuzado de óleo e
da minha própria excitação. Penso em fechar as pernas, mas está
bom demais para que eu consiga sequer me mexer.
A mão de Ethan está espalmada em minha coxa
conforme ele brinca com o vibrador em minha pele, aumentando a
força da vibração ao se aproximar do local em que mais estou
necessitada.
Agarro a colcha da cama quando a cabeça do coelhinho
fica em cima do meu clitóris e empino mais a bunda, ouvindo a
respiração entrecortada dele diante do meu gesto tão ousado.
Um nó começa a se formar em minha barriga e eu sinto
que estou cada vez mais lubrificada. Quero gemer e me esfregar no
vibrador do qual duvidei, mas me esforço para ficar parada, ainda
sentindo as mãos quentes dele deslizarem por minha pele, me
deixando mais tensa ao invés de relaxada como seria o esperado.
Ethan brinca com o vibrador, o esfregando em minhas
dobras, o trazendo próximo do meu centro e então o afastando,
fazendo a agonia sensual que estou sentindo triplicar.
— Ethan? — o chamo com uma voz tão carregada de
tesão que sequer me reconheço. — Acho que você vai me matar se
continuar assim.
Ouço o riso baixo dele e não reprimo o gemido quando a
cabeça do coelhinho fica exatamente em cima do meu clitóris e, de
uma forma bem inesperada, ele aumenta a velocidade da vibração.
Fecho as pernas, sentindo todo meu corpo pulsar no
ritmo do pequeno vibrador, mas com delicadeza Ethan as mantém
afastadas, me deixando sentir toda a intensidade do objeto que eu
havia julgado tão mal.
Os bicos de meus seios parecem mais sensíveis de
encontro ao bojo frouxo do meu sutiã, tudo em mim queima e eu
quero rebolar e colocar fim a melhor agonia que já senti, mas Ethan
me mantém parada.
De repente meu corpo todo tenciona e eu me agarro ao
travesseiro, abafando meu gemido contra o tecido macio enquanto
minha boceta pulsa uma, duas, três vezes até que eu finalmente
exploda em um orgasmo arrebatador que me faz morder o lábio e
fechar os olhos com força enquanto me empino de encontro a
origem de todo o meu prazer.
Ethan desliga o vibrador e eu me deixo cair na cama, a
respiração acelerada e o corpo molenga da explosão que acabei de
sentir. Então é assim que uma mulher goza com a ajuda de um
homem?
Sinto quando Ethan estende o edredom que estava
dobrado nos pés da cama por cima de mim.
— Aula concluída, Dandara.
Viro-me e puxo o edredom para cobrir meus seios que
estão expostos agora que meu sutiã está ao redor dos meus pulsos.
Encontro o olhar de Ethan e ele está bem corado e quando olho
para sua calça, consigo ver o quão excitado está.
— Preciso ir — ele diz quando percebe o que estou
olhando.
— Obrigada — digo, ainda incapaz de desviar o olhar da
sua ereção.
Ele apenas balança a cabeça e praticamente corre para
fora do meu quarto e eu não demoro para ouvir a porta da frente ser
fechada.
Sei que preciso urgentemente de um banho, mas fico
deitada na cama, sonolenta e bem satisfeita. Acho que não terei
dificuldades para escrever aquele rascunho depois dessa aula de
preliminares.
Capítulo 9
Acho que gozar fez toda a tensão se esvair do meu corpo
porque adormeço e só acordo no dia seguinte com o despertador
barulhento do meu celular. A massagem relaxante de Ethan
funcionou bem melhor do que eu esperava.
Queria ter escrito meu primeiro rascunho ontem à noite,
mas estou feliz por ter descansado.
Saio da cama, preparo um bom café da manhã e então
tomo um longo banho para só então tirar o notebook da bolsa e
começar a trabalhar em minha primeira coluna de verdade.
*
Nada se compara a um
homem que te deixa segura
Por Dandara Lopes
Carvalho
Querida Leitora,
Não há nada que proporcionemais tesãoem uma mulher
do que um homem que a deixa segura e sabe o jeito exato de mexer
com sua libido.
Foi assim com o boy quando cheguei e pedi para
testarmos algo diferente.Ao invés de deitarna cama sem roupa e
dizer para eu fazero que bem entendesse,ele se certificou
de que
eu queria mesmo ser tão ousada e se estava preparada.
Inovar a relação é muito bom, mas tem que ser com
brinquedinhos que deixem os dois confortáveise que apimente ao
invés de ser um estopim para brigas homéricas.
Tudo começou com uma massagem bem sensual e longa
que o fez relaxar e somente então o deixei nu e iniciei a
brincadeirinha com muito lubrificante, dedos e boca.
Nunca pensei que ficariatão excitada por apenas estar
proporcionandoprazera alguém, mas senti minha calcinha ficando
arruinada a cada vez que deslizava o masturbadorde vulva
siliconado (Luxury),através do membro ereto do boy
.
Quando ele estavaa ponto de gozar, resolvi apimentara
brincadeiracom um inocenteanel peniano que fez com que o pênis
dele se tornassemais grosso, com veias salientese uma deliciosa
corrosada que me estimuloua literalmentecairde boca e aproveitar
o lubrificante sabor morango.
Ele me implorou para gozar e eu tive uma visão do
paraíso enquanto o via se masturbare finalmentese aliviar na
minha frente. Me senti como uma poderosa e sensual mulher
.
É isso o que essa série de brinquedinhos sexuais está me
proporcionando:experiências significativasque me fazem sair da
zona de confortoe explorar a minha própria sexualidade. Está
esperando o que para entrar no site Luxury
da e se divertirtambém?
As leitoras da revistas ganham desconto ao usarem o cupom
FEMINICES10.
*
O fato de eu ter tido uma semana de trabalho tranquila e
produtiva, me adaptando muito bem a minha nova função, quase
perde o brilho quando o sábado chega e é exatamente a data da
minha visita mensal na casa em que cresci.
Enquanto me arrumo e passo na padaria para levar a
tradicional torta de pêssegos de sobremesa, tento me alegrar com o
fato da Guilhermina ter amado meu novo texto e eu ter escrito mais
nessa semana do que nos dois anos anteriores em que fui
estagiária e a garota faz-tudo.
É empolgante conversar com as leitoras, procurar
ginecologistas para esclarecer dúvidas e também fuxicar a vida e os
gostos sexuais das celebridades. Minha coluna está sendo a mais
acessada da semana e a cada texto que coloco no ar, sinto o frio na
barriga e o gostinho de estar sendo lida e muito compartilhada nas
redes sociais.
Pensar em tudo isso me deixa mais confiante ao descer
do Uber em frente à casa de dois andares pintada de amarelo com
as janelas brancas e cercada por um bem cuidado gramado.
Assim que abro o portão sou recebida por minha mãe.
Ela está usando um vestido tubinho azul e com os cabelos escuros
presos em um coque, suas unhas são longas e com francesinhas e
ela não tem um amassado sequer na roupa e até a cor do batom é
discreta.
Ela me abraça completamente rígida e então me olha,
seus olhos avaliando o vestido longo e floral que uso e se
estreitando ao ver a forma como trancei meu cabelo em uma trança
lateral, até mesmo espremi meus pés em um sapato de salto porque
mamãe detesta as minhas botas.
— Seu cabelo está ressecado — diz ao pegar a torta de
minhas mãos. — Vou marcar um horário para você na Ivone e
também na manicure porque suas unhas estão terríveis.
— É bom te ver também, mãe — digo, engolindo em seco
e olhando para as minhas unhas pintadas de preto.
Assim que entro em casa, vejo meu pai sentado no sofá
ao lado de Jorge e com meu sobrinho brincando próximo aos dois
no tapete. Assim que me vê, Jorginho grita e corre para os meus
braços. Pelo menos uma criança de seis anos parece feliz ao me
ver. Adoro esse moleque.
— Estava com saudade, tia.
O abraço também e só então me aproximo de meu pai,
lhe dando um beijo na bochecha e recebendo o mesmo sorriso de
sempre.
— Venha me ajudar com o almoço — mamãe fala antes
que eu tenha tempo de sentar ao lado do meu irmão.
Deixo a bolsa em cima do sofá e a sigo, encontrando
Maiara, minha cunhada, descascando as batatas com uma
expressão infeliz. Ela é uma cunhada legal, mas minha mãe é
terrível com todo seu decoro e perfeição.
— Escondi uma taça de vinho aqui para nós — ela
sussurra enquanto minha mãe guarda a torta na geladeira.
Sorrio para ela e juntas começamos as intermináveis
tarefas domésticas que eu nunca acerto, mas que fazem parte do
meu dia de visita por eu ser mulher e os homens terem seus
assuntos.
*
É no momento em que nos sentamos a mesa que Ethan
chega. Não é estranho ele estar nos almoços em família porque é
amigo do Jorge desde que tinham vinte anos, mas confesso que
sinto minhas bochechas arderem quando ele entrega o vinho de
presente para minha mãe e senta ao meu lado.
Estamos nos tratando sem tanta vergonha desde o dia
em que fizemos nossa segunda “aula”, mas tudo se resumia a
encontrá-lo nos momentos em que chegava em casa.
Nos servimos ouvindo meu pai falar sobre a queda que
teve no ramo das construções. Esta é uma fonte de assunto
inesgotável para ele já que é engenheiro civil e sempre domina a
conversa.
Minha família vive em um sistema patriarcal onde o
homem sempre tem voz e a mulher está para servir. Então nesses
encontros sempre estou na cozinha e os homens na sala
aproveitando as regalias. Jorge não é assim fora desta casa porque
se fosse já estaria divorciado a esta altura.
Papai pergunta como está indo o trabalho do meu irmão
como diretor financeiro de uma grande empresa com muito
interesse e ainda está empolgado ao questionar Ethan sobre o
banco e taxas que julga importante saber. O sorriso dele esmorece
visivelmente ao me olhar porque não estou na profissão dos seus
sonhos, muito menos casada e procriando.
— Como está o trabalho? — ele finalmente pergunta,
parecendo estar se esforçando muito para dignar a sua filha caçula
a mesma atenção que teve com os demais.
— Está ótimo — digo a verdade.
— Ela está escrevendo coisas mais interessantes agora
— Maiara diz de um jeito empolgado, me olhando com orgulho. — A
cunhadinha virou colunista!
Sorrio para ela. Maiara é um doce e tem as melhores
dicas de comidas saudáveis sendo nutricionista. Confesso que não
sigo muito, mas adoro o jeito como ela se empolga ao me mandar
fotos do que cozinha e dos cardápios acessíveis que cria.
— Tem aumento salarial? — papai questiona de boca
cheia, recebendo um olhar reprovador da minha mãe, uma
verdadeira lady.
— Um pouquinho.
Ele bufa como se estivesse sendo muito difícil suportar
conversar comigo.
— Trabalha oito horas por dia para ter um pouquinho de
aumento, Dandara? — ele coloca o garfo de forma ruidosa na mesa.
— E sobre o que está escrevendo que deixou sua cunhada tão
orgulhosa?
Jorge tosse e olha para a esposa e eu percebo que meu
irmão sabe muito bem sobre o que eu estou escrevendo, assim
como Ethan que fica bem vermelho.
— Amor e sexo — digo de um jeito orgulhoso, ficando
mais ereta e não querendo prolongar o inevitável. — Minha coluna
está sendo a mais acessada do mês.
Jorge e Maiara sorriem, parecendo felizes por mim, até
mesmo Ethan sorri de forma contida, diferente dos meus pais que
me encaram embasbacados e um pouco furiosos.
— Sexo, Dandara? — mamãe pergunta escandalizada.
— Onde já se viu filha minha falando de safadezas na
internet! — meu pai grita, batendo na mesa e fazendo as louças
chacoalharem. — Que pouca da vergonha anda fazendo, Dandara?
Peça já demissão desse emprego e vá estudar algo que preste.
Jornalista? Eu disse que era profissão de morto de fome. Deveria
ser professora como toda moça direita.
Para meus pais ser professora é tudo o que uma mulher
pode desejar. É realmente uma profissão linda, mas não combina
comigo.
— Eu gosto do que faço — digo com uma falsa calma. —
E estou feliz.
— Nunca vai arrumar marido desse jeito — mamãe
comenta desolada. — Homem não gosta de mulher sem vergonha.
— Eu não sou sem vergonha, mãe. Todo mundo faz sexo.
De que forma eu e Jorge viemos, por osmose?
— Não seja mal educada!
Pulo de susto quando meu pai dá um tapa na mesa e faz
meu copo cair e encharcar minha roupa com suco de uva.
— Eu não sou mal-educada, estou apenas falando uma
realidade. Você fica orgulhoso do que Jorge faz e da forma como a
mãe arruma a casa e a Maiara trabalha com consultas online, até
mesmo Ethan é digno da sua atenção porque sabe sobre dinheiro,
mas sua filha não é digna do mesmo tratamento. Quando deixei de
ser importante, pai? Foi quando assinalei a opção que não queria no
vestibular, ou por que sai de casa para viver minha própria vida?
— Não é bem assim, Dandara — mamãe tenta colocar
panos quentes, como sempre. — Seu pai gosta de vocês
igualmente.
— Não parece — falo me levantando e jogando o
guardanapo em cima da mesa. — Tudo o que eu faço é errado.
Para você, mãe, eu não sou boa porque cozinho mal e não coloquei
o casamento como prioridade. Vocês esquecem que eu tenho que
atender as minhas expectativas e não a de vocês. Estou cansada de
em todo almoço ficar humilhada e me sentindo um nada. A partir de
hoje não venho mais aqui enquanto não me aceitarem como sou.
Quase tropeço ao sair da sala e fico com raiva, chutando
os sapatos ridículos e que me machucam para longe e pegando a
minha bolsa em cima do sofá. Meu coração está acelerado e minhas
mãos tremem, mas não volto atrás mesmo que estejam me
chamando. Não terem comemorado minha conquista foi
simplesmente a gota d’água.
*
Estou parada na esquina, tentando encontrar um Uber
nas redondezas, quando o carro de Ethan para na minha frente e
ele abre o vidro.
— Entra, eu te levo para casa.
Concordo e ando com um pouco de dificuldade até o lado
do carona, me sentindo gosmenta com todo o suco de uva grudado
na frente do vestido e meus pés descalços um pouco doloridos
pelas pedrinhas da calçada.
Entro e coloco o cinto, apertando a bolsa contra o peito e
me sentindo péssima. Odeio brigar, principalmente com minha
família, mas certas coisas se levadas adiante apenas pioram e já faz
mais de dois anos que sou formada e um que moro sozinha e eles
continuam a me colocar para baixo.
— Sua mãe começou a chorar e a dizer que você a
odiava de um jeito muito novela mexicana — Ethan começa a falar
assim que acelera em direção à avenida.
— Acho que eu poderia chorar e dizer isso. Estou errada
em fazer o que quero, Ethan?
Ele fica em silêncio por um momento e penso que não vai
me responder porque não faz o estilo dele se meter em brigas de
família, mesmo que seja a minha família, muito amiga da dele.
— Não. Acho que você está certa e deve ter cansado de
todas as críticas, ainda mais em um momento em que está tendo
sucesso profissional. Seus pais são antiquados, mas não deixam de
ser boas pessoas.
— Você está certo e daqui a duas horas, o Jorge vai ligar
e tentar me fazer mudar de ideia e amanhã a mamãe me liga cedo
dizendo que está arrependida, mas dessa vez não vou ceder. Não
quero ter que ouvir as mesmas coisas daqui há vinte anos.
Ele sorri, parecendo estar me achando engraçada, e eu
olho pela janela, não querendo que Ethan veja como meus olhos
estão ficando marejados.
— Eu só queria que eles sentissem orgulho de mim da
mesma forma que de vocês dois.
— Eles já sentem isso.
Ethan está mentindo e sabe disso porque ficamos em
silêncio pelos próximos cinco minutos até ele estacionar na frente de
casa.
— Obrigada — digo ao descer do carro e segui-lo até o
portão.
Assim que a tranca é aberta, entro e começo a subir as
escadas, querendo um banho e uma taça de vinho.
— Dandara?
Olho para trás ao ouvir a voz dele e vejo que está com as
mãos nos bolsos do jeans, parado na pé da escada.
— O que foi?
— Não sei se significa muito, mas eu estou feliz por seu
sucesso e orgulhoso também.
Ele me dá um sorriso tímidoe vai em direção à sua porta,
me deixando muito surpresa.
Capítulo 13
— Sabe, amiga, eu acho que você até demorou para
chutar o pau da barraca.
Milena me diz isso na segunda-feira, quando vou em seu
estúdio depois do trabalho e eu conto tudo o que aconteceu na visita
mensal tumultuada na casa da minha família.
— Essa mania deles acharem que só os homens
importam já passou do limite — prossegue, colocando abaixo nossa
tentativa de meditação semanal.
— Eu sei e odeio brigar, mas sabe quando você não
consegue segurar? Hoje a minha segunda coluna foi publicada e
está tendo uma aceitação incrível e eu queria que eles ficassem
felizes por mim, mas se não fosse você e o Ethan, não teria com
quem compartilhar isso.
— Ethan?
— Ele está me ajudando nessas aulas de preliminares e
disse que sente orgulho de mim, o que é muito mais do que meus
pais já me disseram.
— Sempre achei ele um cara legal.
Eu tinha quatorze anos quando conheci Ethan e me
lembro de achar o jeito tímido dele engraçado no começo, mas
então me acostumei e passei a gostar de conversar com ele porque
apesar das dicas financeiras inoportunas, sempre foi gentil e até me
ajudou em umas questão difíceis de exatas para o vestibular.
— E o que vai ser a aposta da sex shop para a próxima
semana?
Ergo a sacolinha da safadeza e Milena grita de
empolgação ao ver do que se trata.
— Tem como arrumar um desses para mim? —
questiona, encantada pelo que está olhando.
— Serve um cupom de cinquenta por centro de
desconto?
— Com certeza!
*
Ethan não parece surpreso quando eu bato na sua porta
e mostro a embalagem da Luxury.
— O quão pervertido vou ter que ser essa semana?
Dessa vez ele apenas me mandou entrar e está na mesa
de sua sala cercado por papéis. Os óculos na ponta do nariz e uma
expressão cansada no rosto bonito.
— O que te faz pensar nisso? — pergunto ao tirar os
chinelos e sentar com as pernas para cima do sofá macio.
— É segunda-feira, Dandara, e eu estou ficando
acostumado a ter você na minha porta nesse dia com a sua cara de
pau e um sorrisinho inocente.
Começo a rir da afirmação porque ele não fala em um
tom maldoso, mas sim divertido.
— Tem razão. Recebi hoje a tarefa da semana.
— Tenho que ficar com medo?
— Acho que é bem inocente perto do que já fizemos.
Ethan cora quando eu me aproximo dele e tiro o conteúdo
da sacolinha.
— Calcinha vibratória — explico ao colocar um vibrador
de silicone rosa em formato de concha, parecido com o encaixe de
um absorvente, em cima da mesa. — Controlada por um aplicativo
no celular.
— Apenas isso?
— Guilhermina acha que seria legal irmos para um lugar
público e você me deixar maluca com as vibrações, que podem até
estimular de acordo com uma música.
— E como vai conseguir usar isso?
— É magneticamente preso a calcinha — digo ao tirar a
parte redondinha e imantada do vibrador. — É seguro, silencioso e a
nova aposta do sex shop e sabe o melhor e que vai te ganhar?
— Conseguiu uma cueca também?
— Não, nem sei se existe isso.
— Então?
— A revista vai pagar pela nossa pequena aventura. Que
tal um restaurante chique e completamente fora do nosso
orçamento?
— Fechado. Escolha o lugar e me fale.
Ele está sorrindo quando volta ao trabalho e eu saio da
casa dele animada e curiosa para saber como essa experiência
será.
*
Meses depois
Seguro o buquê de flores com mais força ao ouvir a
música e respiro fundo, dando um único passo e pisando no tapete
vermelho.
A igreja está toda decorada com rosas cor de rosa e as
luzes amareladas dão aquele clima acolhedor, apesar de centenas
de pessoas estarem me olhando e sorrindo, algumas das quais eu
sequer me lembro de onde conheço.
Olho para o altar e o vejo sorrindo para mim, usando um
terno preto com a gravata azul e os cabelos cacheados que eu amo
penteados. Os óculos que lhe dão um ar de nerd foram substituídos
por lentes de contato e quando seu olhar encontra o meu, eu sorrio,
sentindo meu coração acelerar ainda mais.
Subo os três degraus que levam ao altar e me posiciono
ao lado dele, olhando para a entrada da igreja e vendo minha
melhor amiga entrar de braços dados com seu pai, lindamente
vestida de noiva.
Carlos soluça enquanto a espera, as lágrimas escorrendo
por seu rosto, e meus próprios olhos transbordam. Ethan me
entrega o lenço que estava em seu bolso e eu me esforço para não
borrar a maquiagem porque não quero ser a madrinha que aparece
feia nas fotos do casamento.
No momento em que Milena chega ao altar e é entregue
a Carlos por seu pai, Ethan pega em minha mão e a aperta e eu o
olho, sorrindo tanto que minhas bochechas chegam a doer.
Os últimos meses foram intensos e maravilhosos. Meu
trabalho triplicou e agora não me importo de ser chamada de guru
do sexo e sempre estar aparecendo nas redes sociais da revista
dando dicas. Eu sempre treino antes de cada coisa que irei falar e
estou muito feliz com a minha coluna.
Meus pais também, mesmo que eles não queiram mais
ler nada por achar que estão invadindo minha privacidade. É fofo e
engraçado ao mesmo tempo, da mesma maneira que foi hilária a
única semana em que Jorge ficou de cara virada com Ethan. Bastou
uma briga com Maiara para meu irmão esquecer a picuinha e se
alojar na sala do meu namorado vendo futebol e bebendo cerveja.
Jorge achou uma vantagem no meu namoro: agora tem
alguém para servir bebida e petiscos enquanto ele fica enchendo a
pança e gritando com os jogadores de futebol.
A cerimônia continua decorrendo e eu me emociono
várias vezes porque é lindo demais ver o sonho da minha melhor
amiga se tornando realidade. Milena não hesitou em chamar eu e
Ethan para sermos seus padrinhos de casamento e ele se entrosou
muito bem com ela e Carlos. Nunca pensei que sair com um casal
de amigos fosse tão legal.
O padre declara Milena e Carlos casados e as pessoas
começam a sair da igreja, fazendo duas fileiras para jogar arroz nos
noivos. Minha amiga me abraça apertado antes de entrar no carro.
— A próxima é você — sussurra em meu ouvido e então
provoca Ethan, balançando a mão com a aliança.
Eles entram no carro e todos começam a se preparar
para seguirem até local da festa. Estou prestes a descer as escadas
quando Ethan me puxa pela cintura de encontro a seu peito.
— Posso te confessar uma coisa?
Estranho seu pedido, mas acabo concordando.
— Eu amo você.
Arregalo os olhos diante das palavras. Ethan nunca disse
que me amava nesses seis meses de namoro e mesmo eu sabendo
exatamente o que sinto por ele, resolvi esperar. Quero que as coisas
aconteçam no tempo certo entre a gente. É por isso que continuo
morando na minha casinha, mesmo que na maior parte das vezes
acabe na cama dele.
— Eu também te amo — afirmo, sentindo meus olhos se
encherem de lágrimas.
O abraço com força, ficando na ponta dos pés para
conseguir passar os braços ao redor do seu pescoço.
— Obrigado por ter deixado minha vida mais colorida —
Ethan diz, beijando meus cabelos. — Eu pensei na melhor forma de
te confessar isso, mas hoje, ao ver esse casamento lindo, não
consegui mais me controlar.
Afasto-me e noto que os olhos dele também estão
marejados.
— É o momento perfeito, assim como cada coisa que
aconteceu com a gente.
Ethan concorda e me beija e eu colo meu corpo no dele,
suspirando de encontro a sua boca. Afasto-me dele rápido demais e
arfando.
— Estamos na frente da igreja — digo em meio ao riso.
— Você me deixa louco, Dandara.
— Imagina quando você descobrir o que estou testando
para o trabalho hoje.
Ele arregala os olhos, as bochechas ficando
deliciosamente rosadas.
— E o que é?
Aproximo-me dele e encosto a boca em sua orelha.
— Uma pequena joia em um lugar bem sexy e que ainda
não testamos.
Ethan me segura pelos ombros, parecendo surpreso.
— Está me dizendo que resolveu testar aquilo?
Concordo e ele pega rápido minha mão, me ajudando a
descer as escadas e me conduzindo até o local em que deixou o
carro, um estacionamento que agora está completamente vazio.
Ethan me puxa até a parte de trás do carro, que fica de
frente para um muro, e toca a minha cintura.
— Deixa eu ver.
Faço o que me pede e ergo a barra do vestido,
empinando a bunda e deixando claro que estou sem calcinha e
usando somente um plug anal em formato de joia com um coração
cravejado de pedrinhas brilhantes.
— Vou ficar duro a festa toda sabendo que está assim pra
mim.
Abaixo o vestido e me viro para ele, passando os braços
ao redor do seu pescoço.
— A proposta dessa semana consiste também numa
rapidinha em um lugar proibido. Não faltarão lugares assim na festa.
— Quando foi que ficou tão safada?
— No momento em que aceitou ser meu professor de
preliminares.
Ethan sorri e aproxima o rosto do meu.
— E não é que foi a melhor decisão da minha vida?
As palavras mais simples dele ainda são capazes de me
deixar com o estômago cheio de borboletas e as pequenas
confissões que guarda para momentos como este, me arrancam os
mais sinceros sorrisos, como agora, em que ele aproxima a boca da
minha e me beija em meio ao riso, me fazendo ter a certeza de que
ser uma virgem em apuros foi a melhor coisa que já me aconteceu.
Fim.