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40 • Como Elaborar Projetos?

as inovadoras para o enfrentamento de problemáticas social-


mente relevantes;
• desenvolver capacidade de "multiplicação", tornando-se refe-
rência tanto para outras organizações sociais quanto para as
políticas públicas;
• desenvolver a capacidade de atração de novos parceiros/alia-
dos e de novos financiamentos.

Quais são, porém, os fatores-chave dos quais depende o êxito


de um projeto? Listam-se abaixo os mais importantes 13 :
• realizar um diagnóstico consistente é fundamental para a ela- iJ:. _O processo de elaboração
boração do projeto, mesmo com recursos e tempo limitados;
• ter objetivos e resultados claramente definidos, não como ca-
J de um projeto social
misas-de-força, mas como bússolas orientadoras de direção;
• construir unidade de propósitos, um clima de colaboração e
envolvimento e clara divisão de responsabilidades dentro da
equipe executora;
• pessoas certas nos lugares certos: reunir competência técnica
especializada nas áreas prioritárias e capacidade metodológi-
ca para conduzir processos participativos;
• sempre contar com a participação de potenciais beneficiários
diretos do projeto em todas as principais atividades planeja-
das, nos seus momentos de monitoramento e avaliação, au-
mentando as chances de alcançar os objetivos e a sustentabi-
lidade política do projeto;
• ouvir todos os integrantes: desenvolver a capacidade de har-
monizar, quanto possível, as visões, interesses e expectativas
de todos os atores envolvidos-dirigentes da organização pro-
motora do projeto, equipe técnica responsável pela implemen-
tação, beneficiários diretos, instituições parceiras, órgãos pú-
blicos e financiadores - de forma a obter-se consensos pro-
gressivos sobre os principais elementos do projeto;
• dispor de capacidade gerencial técnica, administrativa e fi-
nanceira adequada ao nível de complexidade e ao volume de
recursos do projeto e, não menos importante, "É muito difícil explicar como surgem
• dispor de recursos financeiros suficientes para sustentar a as idéias, às vezes por reação
a uma simples palavra: impossível."
maior parte das atividades previstas.
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· - promotorae
e da sustentabilidade técnica: a orgamzaçao , .
Esta seção tem por objetivo apresentar os passos sucessivos e
• exam . . .. tiva detêm os recursos tecm-
o~ instrumentos utilizados no processo de elaboração de um projeto, seus potenciais aliados na m1cta , . ?
utilizando-se o instrumento do Marco Lógico como parâmetro orien- . d (k how) necessanos.
cos e a capac1da e now-fi . a· qual a dimensão de re-
tador básico. T dade mancetr .
• exame da sustentab1 t - , el e' que os re-
, · ? Quao provav
cursos financeiros necessanos. d. - ? Quando?
cursos sejam captados.? Em que con içoes. .
5.1 Identificação da oportunidade
para uma ação social estratégica
5.3 Diagnóstico
A oportunidade da intervenção pode emergir tanto da avaliação " O vento que não se respeita
de projetos existentes, de desafios resultantes do planejamento estra- é sempre um obstáculo."
tégico institucional ou ainda por delegação de instância superior ou
mesmo por sugestão de agências financiadoras. .dade da intervenção defini·da e a ana'lise prelimi-
-
Com a op~~m sitiva é hora de avançar na compreensao da
Nessa fase inicial, é fundamental: nar da sustentab1hdade po .' d parti·r para a formulação de
t- Assim po e-se
• certificar-se de que a idéia do projeto é coerente com a mis- problemática em queS ao. ' . . d des através do diagnóstico.
objetivos, estratégias, resultados e at1v1 a
são e o planejamento institucionais,
• formular hipóteses explicativas básicas sobre a situação pro-
5.3.1 Orientações gerais
blemática, e
• promover a sensibilização dos atores sociais relevantes sobre . , . não é neutro - ele é conduzido e
a questão e a mobilização de órgãos e instituições potencial- lmportant~: -º dta~~ost~~~oló ica da situação-problema e pe-
mente aliados. estruturado pela v1sao poht1co-1 g dinâmica da problemá-
las hipóteses preliminares sobre a ~s:rutu_:a e
tica, estabelecidos na fase de ident1f1caçao.

5.2 Sustentabilidade preliminar O diagnóstico deve p~o::~:~e dados e informações que pos-
• O levantame~to de ª . _ de vida dos potenciais benefi-
sam caractenzar as cond1çoes . . - da "situ-
"(. .. ) ficou claro que não era nada . - 0 btendo-se assim, uma v1sao
ciários da mtervençao, . . b f'. -: rios É a partir dela que
impossível fazer uma linda viagem sem esse - . . . l" dos potenciais ene icta .
circo de problemas. Mas para isso era açao m1cta . to serão avaliados no futuro.
preciso estar preparado. " os progressos do proJ~ ~ . , cio-políticas, econômicas e
• A identificação das dma11:1cas ~o blema (ver seções 5.3.2
culturais que explicam a s1tuaçao-pro
Passa-se então a analisar de forma preliminar as chances de
êxito do projeto, de acordo com três fatores-chave: e 5.3.3 a seguir). . _ d . . . ativas similares relevan-
• A identificação e avahaçao as imc1 .
• exame da sustentabilidade política: haverá apoio suficiente à 't úblico ou privado.
iniciativa dentre os potenciais beneficiários, dentre outros ato- tes, sejam elas de cara er p - s ex eriências e das expec-
res relevantes e mesmo dentro da organização promotora? • A identificação d~s ~ercepfiço~~•_da m ~elação à problemática.
.
tativas dos potenciais bene icianos e
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• O envolvimento genuíno dos atores sociais e institucionais 5.3.2 Análise da problemática


relevantes no processo.
• O levantamento da bibliografia relevante sobre o tema, tanto do Um dos momentos mais importantes do diagnóstico é a identifica-
ponto de vista teórico quanto da análise de experiências similares. ção dos principais problemas concretos enfrentados e de s~as causas.
Busca-se aqui analisar a problemática enquanto ~rocesso social comple-
O diagnóstico pode ser realizado através de um conjunto diver- xo com múltiplas causas. Deve-se procurar selecionar apenas o_s ?roble-
so de atividades:
mas mais relevantes para a compreensão do fenômeno em anahse.
• reuniões com grupos de beneficiários (grupos focais),
• pesquisa documental, Alguns passos devem ser dados nesse sentido:
• entrevistas qualitativas com informantes-chave, e • Identificar as situações-problema ou desafios que melhor ex-
• oficinas de análise da problemática a partir dos dados e infor- pressam a problemática social em questão.
mações levantados. • Hierarquizar tais problemas/desafios de forma ~ue eles apa-
reçam relacionados numa cadeia de causa e efeito (usando-
O que é o Diagnóstico Rápido Participativo? 14 se uma "árvore de problemas e conseqüências" ou um diagra-
É uma técnica participativa de diagnóstico muito útil para proje- ma de causas e efeitos, por exemplo).
tos de âmbito local, pela qual os atores sociais relevantes são envolvi-
dos no processo de forma a provocar urna reflexão sobre a sua situ-
Representação da problemática
ação, suas experiências e seus interesses, estimulando sua capacida-
de de reflexão e ação autônoma, como condição para que possam
tornar-se sujeitos da ação.
O diagnóstico rápido participativo pode ser realizado como uma
parte do diagnóstico mais amplo, sendo realizado conjuntamente por téc-
nicos e lideranças dos grupos beneficiários em poucos dias, a partir de:
• mapeamento participativo da paisagem local, a partir de con-
sulta documental e de caminhadas dirigidas;
• entrevistas com informantes-chave para que se obtenham
informações sobre suas experiências, histórias, conhecimen-
tos e percepções;
• organização de grupos focais com pessoas-chave da área
para identificarem-se as percepções mais importantes acerca
da problemática em questão;
• pesquisa documental sobre a questão e sobre a área;
• análise da organização social da área, através da montagem
de diagramas ilustrativos a partir da percepção dos morado-
res/beneficiárias;
• seminário final para discussão e sistematização das informa-
ções obtidas.
Causas diretas e essenciais
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• Sintetizar um problema central (o "tronco" da árvore), o qual senso de apropriação do projeto (compartilhamento de sua re-
deve ser chave para mudar a situação problemática e, ao
levância e de seus objetivos);
mesmo tempo, ser passível de mudança pela ação do grupo • ajuda na escolha dos momentos e formas mais adequadas
promotor do projeto.
para viabilizar a participação de diferentes atores nos sucessi-
• Identificar as principais causas do problema central escolhido vos estágios do projeto. Os atores envolvidos num projeto po-
(também chamadas de "nós-críticos"), as quais explicam me-
dem ser de três tipos 16:
lhor o porquê da situação problemática. * atores diretamente envolvidos na promoção do projeto: ins-
• Definir linhas de ação estratégicas relacionadas àquelas cau- tituições executoras, potenciais beneficiários, instituições de
sas principais que estejam ao alcance da ação direta do grupo apoio e assessoria, etc.;
em questão. Tais linhas de ação podem vir a se tornar projetos * pessoas, grupos e associações diversas presentes no con-
específicos ou diferentes objetivos em um único projeto, ou texto no qual o projeto se desenvolve, mas sem envolvimen-
ainda diferentes resultados de um mesmo projeto. to direto com o mesmo; e
Lembre-se: A análise da problemática em questão e de suas * out~os grupos e instituições, não envolvidos com o projeto, mas
causas deverá subsidiar a elaboração da lógica vertical atuantes no mesmo contexto no qual o projeto é desenvolvido.
do Marco Lógico: Objetivo Geral - Objetivo do Projeto - Não esqueça: No processo de planejamento, todos os ato-
Resultados Imediatos - Atividades. res diretamente envolvidos com o projeto devem tomar par-
te. Mesmo a análise do envolvimento deve ser o mais par-
ticipativa possível. Entretanto, é importante atentar para o
5.3.3 Análise dos atores envolvidos 15 Jato de que a análise dos atores envolvidos pode mexer
com questões sensíveis ou delicadas. Nesses casos, é bom
A análise dos atores envolvidos caracteriza-se pelo levantamento pensar bem antes de decidir ir adiante na explicitação dos
dos indivíduos, grupos e instituições que têm algo a perder ou a ga- interesses em jogo.
nhar com determinado projeto social. Isto é, a análise deve levar à
identificação dos seus interesses e do grau de risco que estes podem O processo de análise dos atores envolvidos tem quatro mo-
trazer à viabilidade do projeto. As conclusões da análise dos atores mentos básicos:
envolvidos deve ser integrada ao Marco Lógico do projeto, seja como 1º - listam-se todos os atores com algum grau de envolvimento/
atividade, seja como Premissa (fatores de risco). interesse no projeto;
A utilidade da análise dos atores envolvidos está em que: 2º - identificam-se os interesses, as expectativas, os medos, etc.
• explicita os interesses dos potenciais beneficiários em relação desses atores em relação ao projeto e/ou às questões que ele
à situação-problema em questão contribuindo para a elabora- toca;
ção de objetivos e resultados o mais consensuais possíveis; 3º - avalia-se a importância de cada ator para o sucesso do
• possibilita a identificação de conflitos de interesse entre dife- projeto e do seu relativo poder de influência, assim como o
rentes atores envolvidos num mesmo projeto, levando à expli- provável impacto do projeto sobre eles;
citação de fatores de risco (Premissas); 4º - identificam-se os riscos para o projeto, alguns dos quais
• contribui para a identificação das relações e percepções en- serão integrados no desenho do projeto (com atividades e re-
tre os atores envolvidos, facilitando iniciativas de aproxima- sultados específicos) enquanto outros serão explicitados na
ção, acordos e alianças, contribuindo ainda para aumentar 0 coluna das Premissas da matriz.
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A listagem dos atores pode ser feita listando-se todos os atores Lembramos novamente que a definição desses parâmetros deve
relevantes, identificando-se, para cada um deles, seus interesses em ser feita com a maior participação possível de todos os atores institu-
relação aos problemas/desafios a serem enfrentados pelo projeto e cionais potencialmente envolvidos e/ou afetados pelo projeto, em es-
os seus objetivos. A seguir, deve-se identificar o grau e tipo de im- pecial, seus supostos beneficiários diretos.
pacto provável de seus interesses sobre o projeto e, então, definir A definição do Objetivo Geral, dos Objetivos do Projeto, dos Resul-
uma priorização dos atores envolvidos em termos de que interesses o tados Imediatos e das Atividades preenche a primeira coluna da Matriz
projeto deve assegurar.
Lógica, denominada de "D~scrição Sumária". Tais elementos formam
A análise de cada ator pode ser feita da seguinte forma: uma "hierarquia de objetivos", em que uns devem levar aos outros.
1. Quais são as expectativas de cada ator em relação ao proje- As perguntas a serem respondidas aqui são: .
to?
• Qual o objetivo mais geral para o qual o projeto quer contribuir?
2. Quais são os prováveis benefícios/prejuízos do projeto para • Para que tal contribuição possa se efetivar, qual.deve(m) ser
cada ator?
então o(s) objetivo(s) específico(s) do projeto?
3. Que recursos cada ator tenciona (ou não) disponibilizar para • Para atingir tal objetivo(s), quais as situações e os resultados
o projeto?
essenciais a serem produzidos?
4. Que outros interesses têm os atores que podem entrar em • Para produzir tais resultados, que atividades devem ser desen-
conflito com o projeto?
volvidas?
5. Como cada ator envolvidos percebe/considera os demais • Para realizar essas atividades, que tipo e volume de recursos
atores listados?
devem ser disponibilizados?

O resultado da análise deve levar a: (a) integração de novos objeti- Para facilitar a compreensão da metodologia da matriz do
vos do Projeto, Resultados e Atividades, quando for possível contornar Marco Lógico, utilizaremos daqui para a frente o exemplo de
os riscos identificados, integrando novas ações ao projeto e (b) integra- um projeto concreto na área do atendimento a crianças de rua,
ção dos fatores de risco na coluna das Premissas no Marco Lógico, de o "Projeto Travessia".
forma a indicar-se a necessidade de monitoramento de tais fatores.

5.4.1 Objetivo Geral


5.4 Formulando o projeto
O primeiro passo é definir o Objetivo Geral para o qual o
"(. .. )porque eu tinha, antes de mais nada, projeto,juntamente com outros, deve contribuir. O Objetivo Geral,
uma bússola e um _lugar para it: geralmente, é o objetivo de um programa ou um objetivo setorial da
Um rumo e um destino fazem a diferença instituição, superior, portanto, aos objetivos específicos do projeto em
em qualquer situação. " si. O Objetivo Geral deixa claro a partir de qual perspectiva o projeto
se desenvolverá. Ele expressa o impacto mais geral do projeto, mais
Uma vez que as análises da fase de identificação sejam promis-
além dos efeitos produzidos para os seus beneficiários diretos e/ou
soras em termos da oportunidade e da viabilidade da proposta de
das organizações nele envolvidas. O Objetivo Geral expressa, assim,
intervenção, então pode-se passar à fase de elaboração do projeto
o impacto que as mudanças produzidas no nível de beneficiários/or-
propriamente dito.
ganizações terá em âmbitos fora do seu alcance direto. Em muitas

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