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Departamento de Filosofia
No presente texto, pretende-se apresentar sucintamente algumas das ideias essenciais de Bauman
sobre o mundo líquido. O autor usa o conceito modernidade líquida em oposição a modernidade
sólida. Este para se referir a época da revolução científica, do iluminismo, e aquele para se referir
a esta época pós-moderna, predominantemente caracterizada pela tecnologia e o consumismo
excessivo. Portanto, para o desenvolvimento do texto, usar-se-á a obra Modernidade líquida do
autor, como texto base, e outros como auxiliares.
Para Bauman, o projecto da modernidade foi desde os primórdios, o de dissolver os sólidos; mas
a dissolução não tinha como intento a liquefacção, mas sim, forjar uma nova realidade mais
sólida e perene. A pretensão de criar uma realidade mais sólida e duradoura, que movia os
modernos, era motivada pela expectativa que o autoconfiante e exuberante espirito moderno
tinha em relação a sociedade que a considerava estagnada demais; pretendendo assim moldá-la.
Contudo, a realidade actual é marcada pela fluidez, impermanência, interrupção, incoerência,
surpresa, que como afirma Bauman “são as condições comuns da nossa vida”. E nesta ordem de
ideias ele acrescenta que as tais condições “se tornaram mesmo necessidades reais para muitas
pessoas, cujas as mentes deixaram de ser alimentadas por outra coisa que não mudanças
repentinas e estímulos constantemente renovados…” (Bauman: 2001, p. 7). Devido a esta fluidez
registada na sociedade actual, Bauman acaba usando a metáfora dos “líquidos” para caracterizá-
la, pois diferentemente dos sólidos (que são estáveis, duradouros, e conservam a sua forma); os
líquidos movem-se com muita facilidade (“fluem” “escorrem”, “esvaem-se”, “transbordam” ,
“vazam”, “inundam”), adaptando-se a qualquer forma . E a extraordinária mobilidade dos
líquidos faz com que sejam associado à leveza.
O esforço dos intelectuais modernos prendia-se em emancipar as maças que eram ignorantes, e
conduzi-las a um mondo promissor, pois a ordem e o progresso constituíam a força motriz para a
libertação dos indivíduos, rumo a uma sociedade desvinculada da autoridade tradicional e tudo
aquilo que era considerado entraves para o desenvolvimento do mundo moderno. De entre vários
exemplos, Bauman cita o caso do comunismo, que projectava criar uma sociedade organizada a
partir de um planeamento racional. Que na visão de Lenine, segundo Bauman, o socialismo
podia se transformar em realidade se os comunistas conseguissem “combinar o poder soviético e
a organização soviética da administração com o último progresso do capitalismo”, que para
Lenine, realça Bauman, significava a “organização científica do trabalho” que devia extrapolar
os limites da fábrica e reflectir-se na vida social como um todo.
Nos últimos tempos, tudo se modifica rapidamente, sem nenhuma permanência; a única
permanência é a constante impermanência. No trabalho as incertezas são praticamente certas.
Outrora o trabalho era movido pelo “capitalismo pesado” onde os trabalhadores estavam unidos
por laços mais fixos que impedia sua mobilidade, e a carreira era previsível- Enquanto hoje o
mundo do trabalho é movido pelo capitalismo lev, e nada é previsível. Para demostrar isto,
Bauman usa o exemplo da Microsoft apresentado por Cohen, que diz: “quem começa uma
carreira na Microsoft hoje não sabe onde ela vai terminar” )(Bauman: 2001, p. 70).
A outra diferença existente entre o mundo sólido e o mundo líquido, é que no mundo sólido, o
tempo não era tido como preponderante; mas no mundo líquido é inconcebível desvalorizar o
tempo. Como observa o autor, “os sólidos suprimem o tempo; para os líquidos, ao contrário, o
tempo é o que importa”. Deste modo, Bauman defende que “ao descrevermos os sólidos
podemos ignorar inteiramente o tempo; ao descrevermos os líquidos deixar de fora os fluidos
seria um grave erro” (Bauman: 2001, p. 7).
Assim, a humanidade encontra-se numa correria em que para a realização dos objectivos não
exige muita reflecção. “No mundo líquido “a pergunta ‘o que fazer?’ passou a dominar a acção,
minimizando e excluindo a questão ‘como fazer da melhor maneira possível aquilo que tenho
que não posso deixar de fazer?’” (Bauman: 2001, p. 74). Estamos vivendo num mundo repleto de
oportunidade uma mais atraente que a outra, e nos prepara cada vez mais para a mudança para a
seguinte, e é uma experiência divertida.
A fluidez da realidade verifica-se em todas as esferas da sociedade, mesmos nos laços afectivos,
pois o denominador comum é a valorização do simulacro, do instantâneo, do flexível. As pessoas
já não se prendem em relações que sejam duradouros. Nem mesmos nos casamentos o princípio:
“até que a morte nos separe” perdeu o seu valor.
Decerto, o dinamismo que caracteriza as relações afectivas, compara-se a facilidade que se tem
de descartar os bens de consumos. Portanto, no mundo líquido, há um consumismo selvagem, em
que os indivíduos, de sujeitos são transformados em objectos, pois são os bens que consomem os
indivíduos, perdendo assim a sua liberdade.
Referências Bibliográficas
LYOTARD, Jean-François (2009) A condição pós-moderna, 12ª Ed. Rio de Janeiro: José
Olímpio.