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Name of the Book Name of the Author Sample Chapter

Nome do Livro

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Em lembrança de Becca, que levava luz onde quer que fosse.

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TESSA
21º Dia

A caminhonete preta avança, feito um raio, o sinal vermelho, vindo direto em nossa
direção. Meu sangue congela nas veias. Eu quero gritar, avisar a vovó, sentada ao meu
lado, no banco do motorista – mas minha voz não sai.

Escuto tocar, repetido na minha cabeça, ‘Ele vai nos acertar. Ele vai nos matar. ’, cada
vez mais alto, ao passo que o borrão preto se aproxima mais e mais. Eu me encolho,
virando as costas para a porta e cobrindo meu rosto.

Ouço o estrondo

enorme da batida

como o de uma bomba.

Meu pescoço leva um tranco e minha cabeça bate contra algo duro atrás de mim. A
dor atravessa todo o meu corpo.

O mundo escurece.

De repente, venho a mim, mal consigo respirar. Abro os olhos, mas não vejo nada.

Nada.

Na-da.

Escuridão total.

Sinto frio, apesar de estar toda suada. Ouço um zunido em meus ouvidos, enquanto
outros sons parecem abafados e distantes, como um enxame de moscas dentro da
minha cabeça. Posso sentir os lençóis sobre mim, embaixo de mim, apertados dentro
das minhas mãos, fechadas e úmidas.

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Estou deitada na minha cama.

Estou em casa.

Está tudo bem.

Estou em casa.

É só um sonho, outra vez. Apenas meu subconsciente me torturando de novo.

De novo, de novo, de novo.

As pessoas chamam de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, o de novo, de novo, de


novo. Mas eu tenho um nome melhor: inferno.

Tateio os cobertores, vendo se encontro meu telefone. (‘Vendo’ é uma palavra no


mínimo inadequada para usar quando se é cego.) Ainda estou me habituando à ideia
de tatear para encontrar as coisas. É preciso tatear de leve e com cuidado, não dá pra
simplesmente sair varrendo tudo com as mãos. Você acaba derrubando tudo se fizer
isso. Você derruba seu telefone da cama, direto para o chão, em queda livre, quando
faz isso.

Passados alguns minutos, eu o encontro, um retângulo liso com apenas um botão. A


única coisa que ainda dou conta de usar no telefone. Aperto e seguro o botão, até que
um som familiar toca.

- Que horas são? - eu pergunto, tão baixo que me surpreendo do telefone ter
detectado a minha voz.

A Siri responde em seguida. - São sete e vinte e três da manhã. Bom dia!

Minha respiração sai corrida, alterada e irregular. Deixo o telefone nas cobertas.

É difícil dizer o que é pior: o sonho com a batida, em que vejo tudo com uma precisão
de detalhes assustadora... ou quando estou acordada, e tudo que consigo ver é o breu e
a escuridão. Os dois são aterrorizantes. Pelo menos, no sonho, sei que é um sonho. O
ruim é que não tenho como mudar nada disso. Não tenho como evitar ter batido com a
cabeça.

Não tenho absolutamente como evitar ter perdido a visão.

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Os médicos disseram que a tontura deveria durar no máximo duas semanas. Não sei
quem eles eram, mas sei agora que estavam errados. Conforme eu me levanto, mesmo
devagar, parece que o mundo gira ao meu redor.

Empurro as cobertas empapadas de suor de cima de mim e balanço minhas pernas na


lateral da cama. Meus pés tocam o carpete. Com a mão direita, encontro a beirada da
mesinha de cabeceira.

Está tudo bem. Eu estou em casa.

Eu sei como é a minha casa. Posso me situar no meu quarto. Encontro as minhas
gavetas. Eu me visto sozinha. Não preciso de qualquer ajuda.

O que você faz quando algo ruim acontece e você sabe que poderia ter feito algo para
impedir? Em quem você põe a culpa?

Não foi culpa só do motorista bêbado. Foi culpa minha também. Não por algo que eu
tenha feito, mas por algo que eu poderia ter feito.

E se tivéssemos chegado ao cruzamento um momento antes, ou um momento depois?

E se fosse mesmo minha culpa termos estado ali, naquele ponto exato, naquele exato
momento?

E se eu não tivesse demorado tanto arrumando meus cachos? Ou caprichando no


delineador? Ou escolhendo meus brincos?

A Vovó estava me levando ao shopping nesse dia. O que fica mais perto é a 75 km de
distância, por isso que não costumamos ir sempre. Eu não sou mesmo de sair muito.
Mas a vó me convenceu de arredar pé de terminar de postar no meu blog, com a
promessa de passarmos na livraria. (Duas coisas atraentes o suficiente para me separar
do meu laptop: livros e waffles.) Assim, larguei meu post pela metade e fui para o
shopping com a Vovó.

Mas nós não conseguimos chegar lá. Tudo por causa dum motorista bêbado numa
caminhonete preta.

Foi tão alto. Essa é parte de que me lembro com mais intensidade sobre o acidente. De
como foi tão alto.

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Minha cabeça bateu com força em algo. Daí, veio a escuridão. E daí, ela não foi mais
embora.

Que sentimento estranho, acordar no hospital e não enxergar nada, apenas ouvir. O
‘beep’ dos aparelhos, passos e vozes das pessoas ao redor. Foi quando ouvi a vó, e senti
quando ela pegou minha mão. Percebi que não estava sonhando. E comecei a chorar.

Poderia ter sido bem pior. O único dano que sofri foi o que os médicos chamam de
concussão cerebral, o que quer dizer que havia um hematoma no meu cérebro,
inchado o suficiente para afetar meu córtex visual. Inchado o suficiente para causar
cegueira. Cegueira cortical transitória pós-traumática. Eles disseram que ambos os
lados do meu cérebro haviam sido afetados e que, com o tempo, muito provavelmente
minha visão voltaria. Mas não deram quaisquer garantias ou certeza. E nem disseram
quando.

O motorista da caminhonete não se feriu. Ele foi preso, mas o estrago já estava feito.

A Vovó não se feriu, exceto por alguns arranhões. Ela ficou comigo no hospital.
Sempre ao meu lado, sempre pedindo perdão. Perdão, Tessa. Eu sinto muito. Mas eu
sentia que a culpa era minha, Foi por minha causa que ela quis que saíssemos. Eu
poderia ter dito, “Outro dia, Vovó.” Eu poderia ter feito algo de outro jeito, algo que
teria evitado tudo aquilo.

Depois que eu voltei pra casa, do hospital, fomos ver outro neurologista. O nome dela
era Dra. Carle e eu a imaginei loira, de olhos azuis e rosto fino. Ela disse o mesmo que
todos os outros médicos haviam dito. Impacto contundente sobre a cabeça, concussão
cerebral e cegueira cortical. Então ela disse, “Eu não creio que isso seja permanente. É
de se esperar que observemos uma melhora dentro de doze a quatorze semanas.”

“É mesmo?!”, disse a Vovó, com a voz cheia de esperança.

“Sim, estou bem otimista”, disse a Dra. Carle.

Mas não é bem assim.

Quatorze semanas são noventa e oito dias. Eu perguntei a Siri quando chegamos em
casa naquela tarde. Foi então que comecei mentalmente a contagem regressiva.

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Hoje é o vigésimo primeiro dia.

Eu transito pelo meu quarto e me visto sozinha. Coloco o par mais macio de calças de
moletom que consigo encontrar – sem ter a mínima ideia de que cor é – e visto um
sutiã por baixo da blusa do pijama.

As manhãs são péssimas para mim. Eu me sinto tonta, já acordo cansada, pelos sonhos
em que essas três palavras me assombram constantemente.

Tudo culpa minha.

Tudo culpa minha.

Tudo culpa minha.

O que eu sou agora? Quem eu sou? Uma prisioneira. Pelo menos é como me sinto.
Presa no meu quarto, meu refúgio. Que mais parece uma gaiola agora. Eu antes
adorava ficar olhando meu quarto, tão branco e lindo e organizado. Minha estante
com livros, arrumados por cores. A luz do sol que entra pela janela e projeta formas
pelo chão. Mas agora a luz do sol é um fantasma – que eu sinto, mas não vejo. Quente,
desconexa, desencontrada. É isso que se tornou. É isso que sempre foi, afinal.

Meu laptop segue intocado na escrivaninha, desde o acidente que eu não mexo nele.
Desde o acidente que eu não checo meu blog, não olho os comentários, não falo com
nenhum dos meus amigos da internet. Desde então eu não fui capaz de escrever um
único verso, uma única linha, nenhuma poesia.

Eu não tenho mais vontade, desejo nenhum, muito menos inspiração. É como se tudo
isso tivesse acabado pra mim.

A Vovó e o Vovô acham que eu devia continuar como se tudo ainda estivesse normal –
pude ouvi-los quando conversavam. Era noitinha e eu fingia estar dormindo no sofá.
Eles falavam baixo, mas eu pude ouvir suas vozes, desde a cozinha.

- A Tessa precisa voltar a escrever - a Vovó disse. - Ela sempre é mais feliz quando
está escrevendo.

O Vovô concordou. - Há de haver uma maneira.

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Uma maneira de quê? De escrever? De manter o blog? De voltar ao normal?

Não tem como fazer nada mais ser normal.

Tudo de “normal” foi simplesmente arrancado da minha vida – assim como a vida
normal foi arrancada de mim.

Eu estou cega.

Eu estou cega.

Eu estou cega.

Tudo bem, deixa-os pensar que possa haver uma maneira de me ajudar. Deixa que
eles tentem, e fracassem, em encontrar uma solução para esse caos. Só assim mesmo
cairão em si de quão ruim a situação realmente é. Eu já aceitei esse fato – mas acho
que sou a única que já fez isso.

É fácil pra todo mundo mais falar.

Todo mundo mais enxerga!

As pessoas dizem, “Sinto muito! Imagino como deve ser difícil pra você!”. Mas eles não
imaginam não. Nem mesmo os médicos – o que eles fizeram que os faça saber? Leram
‘sobre’ em seus livros de medicina. Mas eles não sabem como é passar por isso de fato.

Nas primeiras duas semanas, eu só chorava.

Na semana seguinte, eu já não sentia nada.

Mas agora, eu estou cheia de raiva.

Faz exatos vinte e um dias que a Dra. Carle me examinou. E até agora, nem sinal da
melhora que ela previu.

É por isso que eu ainda me faço levantar da cama, me vestir e descer as escadas. É
perigoso ficar tempo demais sozinha com meus pensamentos, no meu mundo de
escuridão.

Desço devagar as escadas, sentindo a beira dos degraus com meus dedos dos pés. Da
cozinha, sinto vir o cheiro de café acabado de passar, bem como a voz do Vovô.

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Tudo aqui em casa me é familiar, cada parede, cada cadeira, cada obstáculo em meu
caminho. Posso ver tudo com os olhos da mente. Eu costumava pensar que fazer coisas
do dia-a-dia deveria ser fácil, mesmo sem visão. Lembro até de brincar disso quando
eu era pequena: eu fechava os meus olhos, esticava as mãos à frente e tentava me
mover pra cá e pra lá, sem cair nem derrubar nada. Eu achava isso divertido, afinal eu
sempre podia abrir meus olhos na hora que eu quisesse e ficar achando graça.

Mas agora, não está sendo nem um pouco divertido.

- Bom dia, Tessa - diz a Vovó ao me ver entrar na cozinha. Sei que ela está sorrindo
pra mim, só pela sua voz. Eu quero sorrir de volta, quero dar bom dia pra ela também,
mas simplesmente não consigo. Detenho-me na passagem, com a mão na parede.

Vovô também me cumprimenta com um bom dia animado. Ouço o café sendo servido
nas xícaras.

- Você precisa de ajuda, querida? - Vovó pergunta.

Eu faço que ‘não’ com a cabeça, mas me arrependo na mesma hora. É o que basta para
ficar completamente tonta, de repente.

O Vovô vem até mim, damos os braços e ele me conduz até a mesa.

- A cadeira - diz o Vovô, posando minha mão sobre ela. Tateio as traves de madeira
com meus dedos e me sento, com cuidado.

- Obrigada, vô.

- E você, como está hoje, Tessa? - Posso dizer que pela voz que a Vovó continua
sorrindo, o que me deixa realmente intrigada quanto ao porquê. Não acredito que seja
apenas esse tal otimismo realista, que parece que do dia pra noite virou tendência aqui
em casa.

- Nem sei, vó - é a minha resposta.

- Está cansada?

- Sim...

- Está se sentindo tonta?

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- Também...

Ouço a Vovó suspirar, sentada na cadeira do meu lado esquerdo. Gentilmente, ela põe
sua mão sobre a minha, dando uma leve apertadinha. Sempre que alguém me toca –
até mesmo para ajudar a me guiar até uma cadeira ou por uma porta – eu sinto um
pequeno sobressalto. Não tenho como prever o toque. Mas a Vovó e o Vovó, eu já
conheço tão bem, que é como se eu pudesse de fato pressentir quando eles vão tocar
em mim.

- E como está o seu sono? - continua a Vovó com o interrogatório diário.

- Está igual - respondo, encolhendo os ombros.

- Você ainda tem aquele sonho?

- Sim.

O que eu não digo a ela é que eu sonho apenas com o acidente e nada mais. Todo
mundo insiste em me dizer como eu devo descansar mais – mas como é que eu posso,
quando dormir é mais exaustivo do que ficar acordada? Pelo menos, quando estou
acordada, posso me distrair, posso me forçar a pensar em outras coisas. Já quando eu
sonho, não tenho qualquer controle. Nos meus sonhos, eu tenho que reviver a batida,
em alto e bom som, vez após vez.

Tudo minha culpa.

Vovô serve uma xícara e a desliza para perto de mim.

- Café - diz Vovô. - Se você quiser.

- Sim, vô, eu quero. Obrigada.

Posso sentir na voz do Vovô também – um leve toque de otimismo. Esses dois sabem de
algo que eu não sei. É com certeza algum tipo de surpresa – o tipo bom de surpresa.

Por alguns momentos, eu não digo nada, Apenas bebo meu café enquanto espero que
um deles se manifeste.

- Okay, estou esperando - Eu finalmente digo, ao baixar minha xícara à mesa e


romper o silêncio. - Quem é que vai me contar a novidade?

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A Vovó dá uma risadinha de nervoso. – Bem - ela diz, de modo hesitante, - seu avô é
quem vai te falar.

- Me falar o quê? Se é sobre ir à igreja, pessoal, me desculpem mas eu simplesmente


não estou pronta para...”

- Não, Tessa - Vovô me interrompe. Sei que ele está sentado à minha frente. - Não tem
nada a ver com ir à igreja. Sabemos que você voltará a ir quando estiver pronta...
embora, é claro, já sintamos falta da nossa mais prezada congregante.

Faço-me sorrir um sorrisinho meio forçado, pro Vovô não perceber que não achei
assim tão engraçado.

Ele inspira pesadamente. - Sua avó e eu estávamos conversando sobre diferentes


maneiras de sermos capazes de te ajudar. Uma coisa em que ambos estamos de acordo
é que pode ser muito bom para você voltar a escrever poesia.

- Sim, mas assim como estou, eu não posso...

Novamente, Vovó pousa a mão sobre a minha, literalmente um “toque” para que eu
entenda que, agora, eu devo ouvir, e não falar.

Instintivamente, endureço meu queixo, bebo meu café, e me preparo para escutar.

Vovô então continua. - Então, eu tive uma idéia. Tudo que você precisa é alguém que
digite para você a sua poesia – alguém que digite e poste no seu blog. Correto?

- Pode ser, Vovô... - eu concordo com a cabeça. - Mas o senhor e a Vovó são muito
ocupados e não tão habilidosos assim no quesito tecnologia.”

- Sim, você não está errada, não! - ele consente, rindo.

- Quem faria isso, então?

- Era precisamente isso que discutíamos - continuou o Vovô. - E nos parece que a
melhor maneira de encontrar alguém é pondo um anúncio no jornal, sendo muito
criteriosos quanto aos requisitos, claro. Teria que ser uma moça como você, por volta
da mesma idade que a sua, e nós a entrevistaríamos primeiro.

- Hã?! De jeito nenhum! Mas nem pensar, vô!

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Tudo que a Vovó faz é dar um longo suspiro, - Tessa!

- É sério, vovó! Vovô! Isso não vai rolar! Eu não vou ficar à vontade com uma
desconhecida, como é que vocês esperam que eu saia assim, de cara, declamando
minha poesia? Não tem nem como isso funcionar! Olha, eu realmente agradeço vocês
se importarem o suficiente, muito mesmo, mas simplesmente não há o que possa ser
feito para me ajudar!

- Tessa - Vovô tenta continuar, - eu acho apenas que você deve tentar. Tente, daí, se
você não gostar, a gente pensa em outra coisa.

- Não, Vô, sem chance! Não estou pronta nem pra escrever, nem pra atualizar o blog,
nem pra conhecer ninguém novo! - eu respondo, cruzando os braços, resoluta e
obstinadamente. - Eu prefiro até a gente nem falar mais sobre isso, pode ser? Eu tô
bem, eu tô lidando numa boa, eu não preciso escrever agora!

Um longo silêncio se segue às minhas palavras. O ar na cozinha agora está pesado e


eu sei que o assunto ainda não morreu, nem foi enterrado!

- Apenas diga que vai pensar no assunto, por favor, Tessa! - a Vovó insiste, alisando
meu braço com sua mão quentinha. - Ser capaz de voltar a fazer algo que você sempre
fez antes de tudo isso acontecer...

- Eu já disse que não, vó! - eu solto, num ímpeto desprovido de sequer um pingo de
sensibilidade. - De mais a mais, não é como se vocês já tivessem publicado o anúncio
no jornal, nem nada, então é só a gente esquecer esse assunto... Peraí! Vocês já
publicaram o anúncio?

Silêncio.

Surpresa! Então era isso! Meu Deus, como é que eu não percebi antes?

- Publicaram? Vô?!

- Desculpa, Tessa. Eu pensei que você ia adorar a idéia!

Sinto meu coração como que afundar e, de repente, a tontura volta com força total.

- Oh, não!

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A Vovó tenta tomar a palavra. - Querida, escute...

- Eu não consigo acreditar que vocês foram capazes disso! - As palavras saem
impensadamente de mim, sem que eu possa impedir, - Como é que vocês puderam
fazer isso comigo? Me expor publicamente no jornal? Vocês foram e publicaram o
anúncio sem nem me consultar! Ainda não tô acreditando!

- Tessa, não se exceda. - diz a Vovó, agora em tom firme - Nós só estamos tentando
fazer o melhor pra você.

- Por convidarem, pelas minhas costas, uma perfeita estranha para se imiscuir na
minha vida? - Meu peito contrito, meu rosto pegando fogo. Tudo que posso fazer é
sacudir a cabeça em desaprovação e tentar engolir o bolo que se forma em minha
garganta. - Vocês obviamente não fazem ideia do que seja melhor pra mim!

- Aí é que você se engana, querida. O fato é que eu e seu avô sabemos muito melhor
do que qualquer um! Não temos a menor dúvida de que o melhor para você é você
poder voltar a escrever. Agora, se você realmente sente que não está pronta, é só
ligarmos para o jornal e retirarmos o anúncio. Se não me engano ele ainda não foi
publicado.

- Ah, pois sim! Fazendo o favor! - Minhas mãos tremendo tanto ou mais que a minha
voz. - Eu sei que você e o Vovô estão apenas tentando ajudar... mas isso não está
ajudando. Não está, okay?! Eu só queria que todo mundo me desse mais tempo. Eu
preciso de mais tempo. - Escondo meu rosto com as mãos, apoiada com os cotovelos à
mesa.

- Nós entendemos, Tessa. - É a primeira vez que o Vovô diz algo desde minha
explosão. - E está claro agora que nós devíamos ter conversado com você primeiro.

Exatamente!

- Vou ligar agora mesmo pro jornal.

Escuto o vovô mover a cadeira ao se levantar. Escuto seus passos. Ele pega o telefone da
parede.

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Meu coração ainda acelerado, pura frustração queimando pelas minhas veias. Vovó
senta do meu lado, séria e em silêncio. Eu queria que ela falasse algo, algo que
justificasse minha raiva. Mas no fundo eu sei que ela é injustificada, que nem minha
cegueira é o bastante para justificar minha reação.

Eles queriam apenas me ajudar, à maneira deles.

Mas não há o que fazer.

Eu estou cega.

Permaneço ali, sentada, enquanto escuto o vovô discar o telefone.

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WESTON
17 de JUNHO
O telefone na escrivaninha do meu pai começa a tocar. Ele atende a ligação e diz, - O
Diário de Rockford. David falando.

Eu ando de um lado para o outro, observando as paredes. Meu pai gosta de frases
motivacionais, ele as emoldura e pendura na parede por todo o escritório. Sempre há
ao menos uma nova, cada vez que eu venho, o que acontece uma vez por semana no
verão.

Passar tempo no ‘Diário’ é como voltar no tempo. Somos um dos menores jornais locais
no estado de Nova York, e meu pai diz que isso é algo de que devemos ter orgulho,
acredite se quiser. Sobreviver em desvantagem é mais difícil do que sobreviver em
vantagem, e isso faz o sobrevivente tanto mais forte. (Estou certo que não foi o meu pai
que inventou essa fala. Ela está emoldurada na parede do seu escritório, e dá crédito ao
nome de W. M. Penn, logo abaixo das palavras.)

- Sim, Sr. Dickinson - meu pai diz para o homem ao telefone - Estou sim lembrado do
anúncio que o senhor contratou ontem. Como posso ajudá-lo?

Ele contrai as sobrancelhas, enquanto escuta a resposta. - O senhor gostaria de retirar


o anúncio? Claro. Considere feito.

Eu desvio o olhar da parede de citações. Papai escreve algo numa pedaço de papel. Ele
consente com a cabeça, embora o tal Sr. Dickinson não possa vê-lo fazer isso.

- Eu entendo - papai diz, uma ponta de empatia em sua voz. - É... é uma situação
complicada.

Nesse ponto, eu decido prestar ativamente atenção, pra ver se entendo afinal o que está
havendo. Por que me pai soa tão consternado? Será que o anúncio era tão bom assim?
Ele então trata brevemente do reembolso com o homem do outro lado da linha e diz,

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- Bem, eu desejo a ela uma rápida recuperação!

Então há alguém doente. Talvez gravemente doente. Talvez até morrendo.

Espero sentando em uma das cadeiras para clientes, enquanto meu pai termina a
ligação.

- Obrigado, mais uma vez. Um bom dia para o senhor também. Até mais!

Ele desliga o telefone e dá um suspiro – um suspiro grande, demorado, daqueles que se


dá quando algo está indo muito mal.

- O que foi? - eu pergunto.

Papai balança a cabeça, olhando para a notinha. - Uh, só esse anúncio que foi
cancelado.

- Por quê? Sobre o que era o anúncio?

- Precisa-se de uma digitadora. Mas porque não é da sua conta.

Eu inclino a cabeça para o lado. - Ah, pai, deixa disso! Sabe que eu não vou falar nada
com ninguém!

Ele titubeia por um minuto, suspira novamente. - O Sr. Dickinson tem uma neta que
sofreu um acidente de carro recentemente. Ela bateu forte com a cabeça e... perdeu a
visão.

A seriedade da situação me impacta mais do que eu poderia ter previsto. - Uau. Que
tristeza.

- Sim - meu pai concorda. - Aparentemente, ela é uma escritora e os avós dela
queriam contratar alguém para ajudá-la a voltar a escrever, alguém que pudesse
digitar o texto por ela, enquanto ela dita. Mas o Sr. Dickinson falou que ela não gostou
da ideia de uma assistente, então ele desistiu de publicar o anúncio.

- Quer dizer que o avô contratou o anúncio sem ter falado com a neta antes?

- É o que parece.

- Por quê?

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Meu pai respira fundo, pega o papel anotado e levanta da cadeira.

- Como eu disse, isso já não é da nossa conta.

- Okay, mas só mais uma pergunta.

Ele para e me olha meio já sem paciência.

- Qual o nome dela?

- Tessa - papai diz com um pequeno sorriso, e sai do escritório, ao que a porta de
vidro jateado se fecha atrás dele.

- Tessa - eu repito baixinho.

Tessa Dickinson, escritora.

Tessa Dickinson, cega.

Precisa-se de digitador.

De repente, tenho uma ideia. Provavelmente uma ideia estúpida. Mas agora, parece
uma ideia sensacional.

- Ei, pai? - eu levanto de um pulo e abro a porta, bem rápido.

Lá se vai meu pai, já na metade do corredor, passando a anotação mal afortunada para
a Rachel e explicando porque o anúncio foi retirado. Rachel acena que compreende
com a cabeça, desde detrás do monitor de computador em sua mesa.

Então, eu volto atrás. Não vou perguntar ao meu pai. Ele já está suspeitoso da minha
curiosidade.

Em vez disso, eu fico quieto na minha um pouco, analisando as citações motivacionais


do corredor. Tudo aqui cheira a toner de impressora e café fraco. Afinal, meu pai
desaparece pra dentro de uma porta no fim do corredor e eu posso dar meu próximo
passo.

Rachel é uma deusa da Mesopotâmia. Ela tem os cílios mais longos que eu já vi, veio do
Brooklyn e tem uma crush secreta em mim.

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- Oi, Rachel.

Ela me olha e sorri, sem parar de digitar.

- Bom dia, Weston!

- Como você vai? - eu tento manter viva nossa fascinante conversa.

- Bem. E você?

- Melhor do que nunca!

Ela dá uma risada. - Ouvindo você assim, parece até que você está tramando algo...

- Mas eu sempre falo assim.

- Exatamente!

Eu a presenteio com meu sorriso mais cativante e vou direto ao ponto.

- Meu pai acabou de falar com você sobre um anúncio de ‘Precisa-se’, não foi?

Ela consente com a cabeça, sem jamais parar de digitar.

- Bem, eu queria saber se posso dar uma olhadinha nele, já que vai ser descartado
mesmo.

Seus dedos param de se mexer sobre o teclado. Ela olha pra mim e pisca os olhos com
seus cílios gigantes. - Por quê?

- Porque... hum... - Eu esfrego ansiosamente a nuca, enquanto tento bolar uma


explicação plausível. - Uh...

- Você quer se candidatar à vaga?

Eu encolho os ombros. - Talvez.

Rachel sorri e mexe numa pilha de papéis no canto da mesa. - Bem, Sr. Ludovico, o
senhor talvez perceba o seu, digamos... despreparo para a função! - Ela me entrega um
papel cartonado com um pequeno texto escrito nele.

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PRECISA-SE: digitadora/ assistente de home office. Meio-período, aprox.


10h/ semana. Organizada e responsável. Preferência por experiência em
manutenção de blogs e boa digitação. $10/ hora inicialmente. Contato:
Joshua Dickinson, 541-555-4579.

- Ah, nem tanto assim! - eu digo com uma risada. - Gênero errado. E nada
organizado. Digitação sofrível, a não ser que texting no celular conte. Mas fora isso,
sou o candidato ideal!

Rachel sorri. Ela aprecia minha ironia. Ou talvez ela tenha sorrido só mesmo pelo fato
de ter uma baita crush em mim. Acho que são as duas coisas.

- Obrigado por isso - eu digo a ela mostrando o cartão - Eu não vou contar pro meu
pai, se você também não contar.

Ela revira os olhos e volta ao trabalho.

No cartão, um número de telefone. Com certeza, é o da residência dos Dickinsons, para


onde ligar resultaria apenas em outra desapontante interação com o avô. E não é com
o avô que eu quero falar. Mas fico com o cartão para não esquecer o nome.

Tessa Dickinson.

E onde estão os pais? Será que ela vive com o avô, ou será que ele é superprotetor e
controlador? Baseado no pouco que pude saber até agora sobre Tessa Dickinson, só
posso especular.

Ela é escritora e tem um blog, ou seja, deve passar bastante tempo na internet. Eu
nunca tinha ouvido falar dela e com certeza não a conheço pessoalmente, o que
significa que ela não é da minha escola. Talvez ela estude em casa ou algo do gênero.
O avô dela contratou o anúncio sem falar com ela primeiro, o que parece indicar que,
ao passo que ele tinha em mente o melhor interesse dela, também sabia que ela ia
achar ruim ter que lidar com alguém lhe dando assistência. E ela recentemente perdeu
a visão em um acidente de carro, ou seja, o mundo dela virou de ponta-cabeça.

Eu sei como bem como é isso.

É por isso que eu quero falar com ela. É por isso que eu quero ajudar.

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Digito no Google, “Joshua Dickinson em Rockford”, e de imediato me sinto como um


stalker. De acordo com o resultado da busca, ele é pastor numa igreja não
denominacional local. Ele mora a dois bairros de distância, na Rua West Elm, número
cinquenta e dois. Com o endereço anotado na palma da mão, lá vou eu para uma
caminhada vespertina. Para encontrar Tessa Dickinson.

O bairro dela não é muito diferente do meu, apenas mais árvores e calçadas melhores.
A casa é branca, de dois andares, com venezianas verde-escuro. Respiro fundo e me
pergunto, pela primeira vez, se afinal, essa não é uma ideia besta. Mas, ei, eu vim até
aqui, então, agora vou tentar.

Bagunço meu cabelo loiro, endireito minha camisa e bato na porta da frente. Um
minuto depois, a porta abre – e vejo uma mulher de meia-idade, cabelo
castanho-avermelhado e olhos bondosos. Ela faz o que todo estranho faz num
primeiro encontro: primeiro observa meu rostinho bonito, depois dá uma ‘geral’... e
então seu olhar se detém nas minhas pernas.

Nas minhas próteses.

É então que eu, normalmente, solto uma piada sofrível, tipo, “Desculpe, eu esqueci as
de verdade em casa!”. Mas não hoje. Hoje eu tenho uma missão, e não quero afugentar
essa senhora.

Ela olha novamente pra cima, para o meu rosto, sorri um sorriso reservado e diz,

- Posso te ajudar?

Em retorno, eu dou o meu melhor sorriso. - Você é a mãe da Tessa?

- Oh, não, de jeito nenhum! Eu sou a avó dela.

- Sério?! Puxa, eu nunca ia desconfiar!

- Ora, obrigada - diz a senhora, sorrindo acanhada - E você é...?

- Weston Ludovico - eu digo, enquanto alcanço o cartão no meu bolso. - Meu pai é o
dono do jornal, a senhora sabe, O Diário de Rockford? Então, eu estava lá no escritório
quando o Sr. Dickinson ligou para cancelar o anúncio. E eu acabei vendo o anúncio e
eu também... Bem, eu não estou aqui na sua rua por mero acaso. Eu só... bem eu ouvi

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sobre o que aconteceu com a sua neta. E eu sei que vocês cancelaram o anúncio e que
ela não quer uma assistente, e mesmo se ela quisesse, eu não sou a pessoa mais
indicada, mas... eu também sei um pouco do que ela está passando. E acho que posso
ajudar.

A senhora Dickinson ficou me olhando por algum tempo. Na verdade, ela fez isso,
meio de ficar me encarando e pensando com seus botões o tempo todo enquanto eu
falava. Daí ela caía em si e parecia que estava pensando “Eu não devia ficar
examinando o rapaz assim, não é nada gentil da minha parte”. Mas o fato é que todo
mundo faz a mesma coisa e eu já nem me importo mais.

- Porque você não entra? - disse ela, trazendo a atenção de volta ao que eu
dizia. - Nós podemos... podemos pensar melhor nisso.

Eu não sei se é a empatia falando mais alto, mas, dessa vez, estou feliz pelo tratamento
diferenciado. Se eu fosse uma pessoa comum, a senhora Dickinson teria batido a porta
na minha cara. Entretanto, o que acontece é que ela me convida a entrar, e eu
prontamente aceito.

- Posso te servir alguma coisa? - ela pergunta enquanto me dirige à cozinha de


paredes amarelas, ordeira e cintilante de tão limpa.

- Não, eu tô bem!

- Chá gelado?

- Okay!

Há um milhão de perguntas que quero fazer, mas como diz a minha mãe, não pega
bem agir feito íntimo sem de fato ser. Lembro que ela me aconselhou a sempre esperar
cinco segundos antes de falar novamente. Vejo um relógio na parede, por isso, conto.

Um, dois, três, quatro, cinco.

- Então, Sra. Dickinson. Me conte sobre a Tessa.

A Sra. Dickinson respira fundo. - A Tessa... não tem sido a mesma de antes. Você soube
do acidente, certo?

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- Sim, pelo meu pai, apenas. O Sr. Dickinson contou pra ele.

Ela me estende o copo de chá gelado.

- Obrigado.

- Faz três semanas - explica a senhora Dickinson. - Fomos atingidas por um motorista
alcoolizado.

- A senhora estava no carro também?

Ela acena que sim com a cabeça. - Mas não me feri. Não tanto quanto a Tessa.

Mais outros cinco segundos. Aliás, dez dessa vez, porque fiquei sem saber o que dizer.
Há algo sobre essa casa, algo que sinto no ar... é familiar e sufocante ao mesmo tempo.

É desespero.

A Sra. Dickinson então franze a testa, olha curiosa para mim, e pergunta, - Quantos
anos você tem, Weston?

- Dezesseis, senhora.

Ela sorri. - Igual à Tessa!

Que alívio! Eu estava com medo que a Tessa fosse super novinha – algum gênio
precoce de dez anos de idade que, de algum modo, gerencia um blog e mídias sociais
melhor que uma grande corporação.

A Sra. Dickinson gesticula para irmos até a mesa da cozinha. - Por favor, venha
sentar-se.”

Eu puxo uma cadeira e me sento. - A Tessa vive com a senhora?

Ela faz que sim. Tomo um gole do meu chá. Um, dois, três, quatro, cinco.

- E os pais dela?

- A mãe da Tessa mora em Pittsburgh...

Decido não perguntar sobre o pai.

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- Quer dizer então que a Tessa é escritora?

Ela faz que sim de novo. - Ela escreve desde que se tornou capaz de fazê-lo. Ela foi
escolarizada em casa. Às vezes, eu gostaria que ela saísse mais de casa, mas ela
realmente gosta de ficar no quarto e trabalhar no blog o dia inteiro. - Ela pausa, daí
respira fundo. - Mas isso era antes do acidente. Agora? Bem, agora ela não enxerga
mais.

- Isso é definitivo?

- Não. Os médicos nos disseram que ela deve recuperar a visão dentro de doze a
quatorze semanas, se tudo correr como o esperado. - Ela meneia com a cabeça, como
quem busca convencer a si própria a acreditar na palavra dos médicos. Mesmo
sabendo que os médicos, mais vezes do que não, se enganam redondamente.

- Doze a quatorze semanas não é tão ruim assim - eu acrescento. - Mas imagino que
soe como um tempo enorme quando se está cego.

A Sra. Dickinson olha pra baixo da mesa, como quem não sabe como é que vai dizer
algo desagradável. Ela obviamente quer me dar a má notícia que eu já sei – de que a
Tessa não quer um assistente, de que o anúncio foi um engano grosseiro e que eu não
devia ter me dado o trabalho de vir até aqui. Mas como é que você diz tudo isso para
um garoto para quem não sobrou nada do joelho pra baixo?

Decido poupá-la do sofrimento.

- Escute, senhora - eu começo a falar, - eu sei que a senhora não esperava alguém
responder ao anúncio, até porque vocês o cancelaram antes que fosse publicado. E eu
sei que não sei o que é ter ficado cego, mas... eu sei como é ter tido algo importante ser
tirado de você... e se sentir impotente.

A Sra. Dickinson ouviu, enquanto me olhava com olhos tristes. Tive medo que ela fosse
começar a chorar, eu não saberia como agir.

- A Tessa está? - eu pergunto.

- Ela está no quarto, descansando.

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Eu queria ter sido capaz de fazer uma pausa mais longa, mas sete segundos foi o meu
máximo. - Será que eu poderia falar com ela? - eu arrisco, - bem rapidinho?

Posso ver que ela está comovida, os olhos enchendo d’água, feito nuvens de
tempestade. Eu não quero fazê-la chorar nem nada, mas sei que é o único jeito de
conseguir que ela me deixe tentar ajudar a neta dela.

Finalmente, ela diz, - Okay. - Daí, levanta da mesa. - Vou ver se ela está acordada.

Missão cumprida! Quer dizer, mais ou menos.

- Obrigado - respondo, levantando por me sentir compelido a fazer o mesmo. - Ah, e,


Sra. Dickinson?

Ela para antes de chegar às escadas. - Sim?

- Será que posso pedir só um favor?

- Sim, certamente.

Eu hesito, incerto sobre se devo ou não pedir.

A Sra. Dickinson espera pelo meu pedido, encafifada, a testa franzida pela curiosidade.

- Eu agradeceria muito mesmo se a senhora não dissesse nada para a Tessa... sobre...

Engraçado como, mesmo já fazendo três anos, eu ainda não seja capaz de verbalizar e
tudo que consigo fazer, toda vez, é apontar para minhas próteses.

- ... sobre isso.

A senhora Dickinson sorri com aquele olhar de compaixão.

- É só que, sabe, isso não afeta minha habilidade de usar o computador – nem de fazer
a maioria das coisas, na verdade. Acho que vou me sentir mais confortável se ela não
souber.

- Eu entendo - a senhora Dickinson me assegura. - Eu não vou contar.

- Obrigado.

Então, ela vira e sobe as escadas, enquanto eu espero na cozinha.

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TESSA
21º DIA
Pelo menos o anúncio foi cancelado antes de ser publicado e alguém ler! Pelo menos
não vou ser constrangida publicamente no jornal local. Pelo menos não vou ter que
tolerar a insolência de estranhos pretendendo compreender o que estou passando.

Foi realmente por muito pouco. Mas foi poupada dessa tortura.

- Tessa?

Escuto a voz da Vovó me chamar, abafada, do outro lado da porta do meu quarto.
Estou deitada e sei que não preciso nem responder, a porta está destrancada, ela vai
acabar abrindo e repetindo meu nome.

- Tessa?

Minha garganta está seca, talvez de tanto chorar.

- O quê? - respondo baixinho, meio a contragosto.

Em vez de responder direto, a vó entra e fecha a porta trás de si com cuidado para não
fazer barulho. Parece ser algo sério. Pelo jeito eu não estava mesmo imaginando coisas
quando pensei ter ouvido uma voz diferente lá embaixo. E parece que, quem quer que
seja lá embaixo, tem algo a ver comigo.

- Quem é que está aqui em casa, Vovó? - eu pergunto, para que ela não precise me
contar o que eu já sei.

Ela, então, inspira fundo, expirando bem devagar – o quê, de novo, me faz saber que se
trata de algo sério.

Diante da demora, eu a interpelo, ansiosa, - Vovó?

- É o filho do David Ludovico.

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- Quem?

- O dono do jornal.

Sinto meu coração afundar de novo. - Por favor, Vovó, não me diga que eles já
publicaram o anúncio...

- Não. - a vó fala. - Eles não publicaram o anúncio.

- Então o que o filho do dono do jornal está fazendo aqui?

Vovó hesita, mas não por muito tempo. - Ele disse que estava no escritório quando seu
avô ligou. Ele viu o anúncio antes de se desfazerem dele. Ele... pensou que poderia
ajudar.

Solto uma risada carregada de cinismo. - Nada presunçoso. Espero que a senhora já
tenha se livrado dele.

- Tessa. A voz da vovó é firme, com um tom de aviso como de quem diz “você está
passando da conta”. - Acho que seria bom você falar um pouco com ele. Penso que ele
pode sim, ser capaz de te ajudar.

Eu me levanto, de um pulo, uma bomba relógio detonando no meu peito. - Pensei que
isso tinha acabado! Eu te disse que não quero ajuda nenhuma! Menos ainda eu quero
um estranho mexendo no meu notebook! Eu não quero escrever! Eu não quero um
perfeito estranho vindo à minha casa sentir peninha de mim! Eu só quero ficar
sozinha! Eu preciso ficar sozinha!

- Tessa, acho que sei o que você, precisa melhor até do que você mesma.

Dou meia volta e procuro me dirigir à janela. A luz do sol da tardinha entra pela
janela em quentes feixes desconexos. Eu cruzo os meus braços, abraçando apertado
meu próprio peito.

Sinto o sangue pulsando nas minhas orelhas. Quero gritar, quero quebrar alguma
coisa, quero jogar uma pedra pela janela, quero espatifar a vista de um mundo que já
não posso ver.

Não. Eu já chorei tudo que podia. Eu não vou chorar.

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Mas sou incapaz de conter as lágrimas, que agora escorrem dos meus olhos. Lágrimas
quietas, quentes, raivosas.

Eu não vou chorar.

- Vou mandar o Weston subir - vovó diz. - E você vai falar com ele por cinco
minutos. Entendido?

Ela não espera minha resposta. Ela não me dá a chance de opinar. Ela simplesmente
fala e sai.

E me deixa plantada junto à janela.

Fervendo.

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WESTON
17 de JUNHO
- Você pode subir agora - a Sra. Dickinson me diz, ao retornar à cozinha. - Mas devo
te avisar, ela está de péssimo humor.

Eu encolho os ombros. - É de se compreender.

Mas a maneira como a Sra. Dickinson fala me faz pensar que talvez eu deva ter um
pouco de medo dessa tal de Tessa. Talvez ela pense que a neta vai me arrancar a
cabeça. De qualquer modo, fico intrigado.

A Sra. Dickinson me conduz escada acima ao segundo pavimento da casa (e parece


surpresa de eu não ter dificuldade em subir) e para na primeira porta do lado
esquerdo. A porta está entreaberta e a luz branca do sol sai do quarto e se espalha pelo
chão.

- Eu vou esperar aqui - diz a Sra. Dickinson, acenando com a cabeça para que eu
entre.

Eu entro direto, sem ter qualquer discurso preparado. Apenas abro a porta e entro.

O quarto parece de fotografia de revista de decoração. Tudo é branco e organizado.


Nenhuma roupa jogada sobre os móveis, nenhuma sinal de que a vida dela fuja do
comum.

Ela está parada junto à janela, de costas para mim. Calça de moletom, camiseta, cabelos
dourados desarrumados. Parada, em silêncio, imóvel.

Deixa pra lá.

Eu nem sei o que dizer.

Eu nem sei o que fazer.

Agora vejo que essa foi uma ideia bem estúpida mesmo.

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- Oi, Tessa - eu começo, minha voz evidenciando toda a minha insegurança. - Prazer
em te conhecer. Eu sou o Weston.

Ela não me responde. Ela nem se mexe.

- Sua avó estava me contando sobre o acidente e o que aconteceu com você. - Eu
pauso, não porque eu deva, mas porque eu sinto aquele sentimento no ar mais uma
vez. Desespero. – Chato mesmo, isso.

Tessa solta uma risada aguda, sarcástica. Apenas esse único som me diz muito sobre
ela. Daí, depois de alguns segundos, ela resolve falar.

- Escute - ela diz, ainda de costas para mim. - Não me importa o que a minha avó te
falou. Eu não quero ajuda. Eu não preciso de ajuda. E eu com certeza não preciso da
sua ajuda.

- Eu sei. Eu sei que você não precisa de mim. Mas você precisa escrever.

Ela sacode a cabeça, irredutível e resoluta.

- Tessa... eu sei como isso deve estar sendo difícil pra você...

- Você não sabe de nada! - ela explode, virando-se em minha direção. - Você não
sabe nada sobre mim!

Por um instante, fico sem palavras. É a primeira vez em três anos que alguém me trata
sem medo de que eu vá quebrar. A primeira vez que alguém olha pra mim, mas não
repara em mim. A primeira vez que alguém – alguém que tem as pernas perfeitas –
fica diante de mim e reclama da própria vida e dos próprios problemas.

O sentimento é revigorante.

- Você é cego, Weston? - Tessa grita, seus olhos marejados, lágrimas escorrendo pelo
seu rosto.

- Eu perguntei se você é cego!

- Não. - Eu respondo, minha voz não mais do que um sussurro.

- Então você não faz ideia de como é, faz?

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Ela olha para mim. Mas ela não pode me ver. Ela não pode ver minhas pernas.

- FAZ?

Eu aceno devagar com a cabeça, incapaz de falar depois de ter sido atingido por um
furacão chamado Tessa. - Não.

- Então não queira dar uma de que sabe do que está falando. - Tessa finalmente
abaixa a voz, embora ainda esteja chorando. - Você não sabe de nada. Agora, por
favor, vá embora e não volte mais. A vaga não está mais aberta – nunca esteve na
realidade. Foi um abuso da sua parte ter vindo.

Um abuso, hein?

Então ela é turrona, amargurada e rude. E está disposta a ‘descascar’ quem quer que
seja que cometa a imprudência de tentar ajudá-la.

Que vença o melhor.

- Com todo o respeito, moça, essa casa nem é sua. É dos seus avós. E, enquanto eles
estiverem de acordo, eu vou voltar sim. Amanhã.

Por um instante ela apenas fica ali, arfando com a cara cheia de lágrimas. Ela parece
pasma – chocada até.

Espero uma nova explosão.

E, claro, ela vem.

- Mas que absurdo! Quem você pensa que é para me tratar assim? Eu não quero ver a
sua cara nunca mais! - Ela para subitamente, ao tomar consciência da péssima escolha
de palavras que acabou de fazer - Eu não quero falar com você, eu não quero que você
fale comigo. Apenas vá e não volte mais!

Um silêncio se forma entre nós, muito maior do que cinco segundos. Nós dois ficamos
ali, cada qual fincando pé, ninguém disposto a ceder nem um milímetro.

Passados alguns instantes, decido que é melhor ir embora. Isso não está nos levando a
lugar nenhum. Pelo menos não por hoje.

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- Tchau, Tessa.

Ela não responde. Apenas fica ali, a respiração aos poucos voltando ao normal.

Saio do quarto e fecho a porta atrás de mim.

A Sra. Dickinson está esperando no hall. Com certeza, ela, além de toda a vizinhança,
ouviu toda a discussão. Ela parece preocupada – e bastante sem jeito – mas espera até
descermos e estarmos de volta na cozinha, antes de falar.

- Deixe-me me desculpar pelo comportamento da Tessa...

- Não tem necessidade - eu a interrompo, balançando a cabeça. - Na verdade, eu até


que gostei.

Ela ergue as sobrancelhas, surpresa. Daí, me olha como se eu fosse maluco.

- Ela não está brava, - eu explico, embora pareça não fazer muito sentido. - Ela está
assustada. É por isso que está chateada desse tanto. Não é nada comigo nem com
ninguém. É com ela mesma. - Nesse momento eu paro e rio porque sinto que não falei
coisa com coisa. - Eu não tenho mesmo vocação para psicólogo!

A Sra. Dickinson sorri, a mesma gentileza tristonha nos olhos. Me pergunto se o olhar
dela é sempre assim. - Em qualquer caso, nada justifica ela ter te tratado dessa
maneira.

- Não se preocupe! - eu insisto. - Tudo bem se eu voltar amanhã?

Surpresa, ela consente, - Se você quiser...

- Mas é claro que eu quero!

A Sra. Dickinson aperta os lábios e diz, - A Tessa não teria agido assim se soubesse...

- Por favor, eu não quero que ela saiba. - Tento não aparentar ansioso. - Acho que só
vai complicar as coisas se ela souber. Além do mais, ninguém vê a luz por ser
informado sobre a escuridão.

A Sra. Dickinson sorri para mim, como quem não entendeu direito o que eu falei.

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- É bom saber que existe pelo menos uma pessoa no mundo que não sente pena de
mim. - Eu sorrio mais uma vez para a Sra. Dickinson, enquanto me encaminho para a
porta. - Até amanhã, então, Sra. Dickinson!

TESSA
21º, 22º e 23º DIAS
Eu nunca fui tão ignorante e descortês com alguém antes - muito menos um completo
estranho. Antes do acidente, não havia nada que pudesse me fazer ser tão rude, me
fazer gritar e chorar na frente de alguém que eu nunca nem havia visto antes.

Vovó insiste que ele estava apenas querendo ajudar, mas se ele de fato entendesse, ele
deveria ter sabido que eu só quero ficar sozinha. Eu não preciso de ajuda e eu não
quero ajuda.

Eu

não

quero

ajuda.

Agora ele já se foi, assim como o sol que eu havia sentido entrando pela minha janela.
Está frio no meu quarto, apesar de ser meados de Junho. Me sento no chão, com o rosto
nas mãos. A porta do quarto está trancada, e a Vovó já parou de tentar abri-la.

Eu me sinto feia como pessoa, tendo agido como agi. Me tornei coisas que eu nunca
quis ser – coisas que eu abomino de todo o meu coração.

Me tornei auto-centrada.

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Me tornei derrotista.

Me tornei depressiva.

Me tornei amarga.

Me tornei cínica.

E hoje, provei tudo isso sem sombra de dúvidas, por gritar com um garoto que só
queria me ajudar. Além de chorar na frente dele também. Um garoto. Acho que
nenhum outro garoto jamais esteve no meu quarto. E se é assim que é pra ser, acho
que não quero outro aqui nem tão cedo.

Sim, eu fui prepotente com ele. Mas ele mereceu. Ele veio à minha casa e supôs
entender a situação pela qual eu passo sem nem mesmo me perguntar primeiro o que
eu sinto. Ele simplesmente entrou pela porta, como se me conhecesse, e decretando,
“Você precisa escrever!”.

Como é que ele pode saber do que eu preciso? Como é que alguém pode saber?

“Chato mesmo, isso.” Foi isso que ele disse sobre o acidente. Não, “Nossa, eu sinto
muitíssimo!”. Isso é o que a maioria das pessoas teria dito. E eu já estou farta de ouvir
isso também. Mas que tipo de pessoa diz só “Chato mesmo, isso”? Que tipo de pessoa
não sabe nem ter empatia, por alguém na minha situação? Por alguém cujo mundo
simplesmente implodiu do dia para a noite?

A sensação que tenho é de ter passado num liquidificador. Meu sentimentos, todos
misturados, como numa sopa tóxica – um coquetel de tudo, ao mesmo tempo, agora.
Raiva num instante, tristeza no momento seguinte. Frustração, daí medo. Fúria, e então
arrependimento.

Sou como um pêndulo.

Como um tornado.

Caótica.

Me sinto tentando impedir um tsunami com as mãos. Estou na beira do mar, gritando
para dentro da escuridão, sozinha.

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E estou me afogando.

Me

afogando.

Deus me ajude.

Me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me


ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude
me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me
ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude
me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude me ajude.

Me ajude.

Fiel à sua palavra, o garoto teimoso volta, no dia seguinte. Escuto a voz dele lá
embaixo, conversando com meus avós. Escuto a risada dele, abafada, através do piso.
Nossa casa é antiquada, com pouco ou nenhum revestimento térmico. É fria no
inverno e quente no verão. No inverno, me aconchego debaixo de enormes cobertores
de tricô, um chá quentinho e meu notebook, e escrevo poesia enquanto a neve cai lá
fora.

Quer dizer, eu fazia isso.

Antes.

Agora é verão, e eu estou cega.

Fico ali, deitada na minha cama em posição fetal, meu rosto quase todo coberto pelo
edredom. Sinto minha cabeça pesada, pela exaustão.

Por que ele voltou? Como é que ele convenceu minha avó a deixá-lo me perturbar?
Um completo estranho. O que tanto assim ele pode saber? O que é que a Vovó sabe,
para deixar isso acontecer? O que o Vovô sabe, que o fez causar tudo isso?

Algo dentro de mim ainda grita, berrando de encontro à ventania do tornado. Mas
estou esgotada hoje. Estou tão cansada, não poderia discutir com Weston mesmo que
eu quisesse.

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Escuto passos subindo as escadas. A porta do quarto abre e percebo, de algum modo,
que é a Vovó. Ela não diz nada. Daí ela sai e alguém mais se faz presente.

O Weston.

- Oi, Tessa - ele diz, como se ontem não tivesse jamais acontecido.

Sua voz é suave e gentil.

Já a minha voz é úmida e rouca. - Eu te disse pra não voltar.

- E eu te disse que você precisa voltar a escrever - ele retruca.

Sinto um nó no estômago. Eu não vou chorar. Mas é possível que eu exploda.

- Isso quem decide sou eu - eu digo, com os dentes cerrados.

- Eu só consigo escrever se estiver inspirada.

- E você está? Inspirada?

- O que você acha? - Weston fica em silêncio.

Eu fecho meus olhos tentando respirar devagar e com calma.

- Tudo bem, então - ele finalmente diz, - Amanhã eu volto!

Abro meus olhos, atônita, embora continue a não ver nada. - Não, você não vai voltar
amanhã não. Não sei como você convenceu meus avós de que o que você está fazendo
é aceitável, mas não é. Quero que você pare de vir aqui, entendeu? Quero que você
pare de me perturbar.

- Mas, Tessa...

- Não tente soar como se você me conhecesse - eu disparo, fechando meus


punhos. - Você não me conhece, Weston. Você não tem a menor ideia do que eu estou
passando e não pode me ajudar. Apenas me deixe em paz.

Silêncio.

- Weston?

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Ele já se foi. Deve ter saído do quarto enquanto eu ainda falava, aproveitando-se do
fato de que eu não posso ver. O que mais eu poderia esperar dum garoto tão sem
consideração?

- Cretino! - eu balbucio, fechando meus olhos novamente, encostando meu rosto no


edredom.

Por um bom tempo, escuto os sons do andar debaixo. A voz do Vovô, baixa e grave.
Pratos na cozinha. Me pergunto que horas são. Hoje está bem nublado, de acordo com
o que a Siri me disse mais cedo. Desde ontem não senti mais a luz do sol entrar pela
minha janela.

- Eu não sou cretino.

Eu engasgo, a bem dizer com o meu coração na garganta.

Ele não foi embora. Cretino.

- Eu só estou tentando ajudar - ele diz, como toda calma e naturalidade do mundo.

A porta abre. A porta fecha. Escuto os passos dele, descendo as escadas.

Dou um longo suspiro, mas não é exatamente de alívio. Porque estou me sentindo mil
vezes pior do que antes de ele ter vindo ao meu quarto.

Por que ele insiste tanto em vir aqui? Será que não dei conta de assustar ele ainda?
Qualquer pessoa normal já teria me deixado em paz. Talvez eu não seja tão
intimidante quanto gosto de pensar que sou.

Talvez eu seja apenas

patética.

De todo modo, eu preciso descobrir como fazê-lo parar de vir. Pareço impotente em
persuadi-lo. Em compensação, lutar contra ele talvez seja a abordagem errada.

Talvez eu deva dar a ele o que ele quer. O que meus avós querem.

E assim provar que ele está errado.

Provar que estão, todos eles, errados.

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E que eu é que estou certa.

***

- Vovó?

- O que é, querida?

Estou no chuveiro, enrolada na toalha. Desde o acidente, Vovó fica comigo no


banheiro, enquanto tomo banho, para me ajudar com qualquer coisa – mas lá pelo 23º
dia, eu já consigo tomar banho quase sem precisar de praticamente nenhuma
assistência.

- O Weston vai voltar amanhã? - eu pergunto, e me surpreendo com quão fraca


minha voz sai.

- Sim”, a vó responde. - Tudo bem, por você?

Agora a senhora me pergunta?!

- Não deixe ele ir até o meu quarto. Mas deixe ele voltar. Na terça. Às três.

Eu praticamente ouço a cara de surpresa da vovó. Posso ouvi-la sorrir, na sua fala – da
mesma maneira como pude ouvi-la na deplorável manhã do lance com o jornal.

Ela está feliz com a minha decisão.

Ela acha que eu cedi.

Mal ela sabe que, na verdade, é bem o contrário.

Dei uma volta neles todos.

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FIM DA AMOSTRA

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