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1. Primeiro Autor é Pós Graduando do Programa de Pós Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (POSMEX) da Universidade
Federal Rural de Pernambuco. Formado em Medicina Veterinária e licenciando em Ciências Agrícolas pela mesma universidade. Rua Dom Manuel
de Medeiros, s/n – Dois Irmãos – CEP 52171-900 – Recife – PE. yuriujc@yahoo.com.br
2. Segunda autora é Doutora em Ciência da Comunicação pela USP e professora do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e
Desenvolvimento Local (POSMEX) da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos – CEP 52171-
900 – Recife - PE.
renovação da extensão rural no Brasil. Nos anos 90, Local (POSMEX) da Universidade Federal Rural de
vários novos enfoques de estudo ganham evidência no Pernambuco (UFRPE).
papel e na importância que possui a extensão rural não Para alcançar o objetivo desta pesquisa, fizemos uma
mais como transmissora de conhecimentos e de pesquisa de caráter bibliográfico e com inspiração na
tecnologias, mas como uma ferramenta de metodologia da pesquisa participante tendo como sujeitos
transformação da realidade, a partir de uma abordagem do trabalho investigativo as opiniões e construção do
educativa e enfoque participativo na perspectiva de conhecimento sobre a extensão rural contemporânea os
melhorar a qualidade de vida no meio rural. Entre esses estudantes da disciplina Extensão Rural do POSMEX no
novos elementos que compõem a estrutura da extensão primeiro semestre de 2009. Utilizamos vários trabalhos e
rural, destacaremos neste trabalho o desenvolvimento estudos realizados por diversos pesquisadores sobre a
local e as novas concepções do ambiente rural. extensão rural e sua relação com os novos enfoques de
O desenvolvimento local pode ser entendido como estudo, que se intensificaram a partir da década de 90.
um processo que, baseado na sustentabilidade, busca Portanto, leituras de livros e textos, palestras, trabalhos
transformar a economia local, mobilizando pessoas e em grupos e discussões na sala de aula foram fundamentais
instituições da localidade para, a partir da utilização para que pudéssemos nos apropriar dos conceitos e
das potencialidades endógenas, criarem novos fazermos uma reflexão sobre os desafios da extensão rural
mecanismos de emprego e renda, superando as no início do século XXI.
dificuldades e melhorando a qualidade de vida da
população. Pode ser considerado uma transição de uma
prática de produção agrícola baseado na degradação da
Resultados e Discussão
natureza para uma prática apoiada na sustentabilidade É a partir da intensificação do estudo dos novos
econômico-ambiental; uma mudança de uma gestão enfoques de estudos, dos resultados negativos da
burocrática de programas de desenvolvimento para Revolução Verde e das constantes críticas aos modelos de
uma administração que considera a participação da ATER baseados no difusionismo, que surge em 2004, a
sociedade civil como fator essencial. [5] nova Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Já no que diz respeito às novas concepções do meio Rural (PNATER) da Secretaria de Agricultura Familiar do
rural, podemos afirmar que, a partir de meados dos Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA.
anos 80, começa a se construir uma nova conformação Sem pretendermos fazer uma análise profunda do
do ambiente rural, não podendo ser mais visto apenas documento, fica claro que esta nova Política de ATER
como sinônimo de atividades agrícolas. Apesar de representa, no plano teórico, um grande avanço nos
percebemos um conjunto de atividades agrícolas que, serviços de extensão do país, pois deixa de ser uma prática
antes pouco valorizadas e dispersas, passaram a de transferência de conhecimentos e de tecnologias,
integrar verdadeiras cadeias produtivas transformando- passando a se basear em metodologias participativas, com
se em alternativas de emprego e renda no meio rural, uma prática dialógica, privilegiando o potencial endógeno
elas já não respondem pela maior parte da renda da das comunidades e territórios, fazendo uso sustentável dos
população rural, estando esta atividade cada vez mais recursos locais. [8]
individualizada e masculinizada, uma vez que tanto os A nova proposta de Assistência Técnica e Extensão
cônjuges como os filhos vêm reduzindo sua Rural (em várias modalidades voltadas para atender os
participação nestas atividades. [6] agricultores familiares, assentados, quilombolas,
Veiga [7] esclarece que, para desenvolverem-se, as pescadores artesanais, povos indígenas e outros alijados do
populações rurais precisam diversificar as economias processo de desenvolvimento) é resultado das pressões,
locais, valorizando as dinâmicas criadas pelas famílias reivindicações e proposições da sociedade organizada: da
que vão se tornando tanto mais pluriativas quanto mais igreja, sindicatos e movimentos sociais do campo junto
aumenta a produtividade do trabalho agropecuário. O com as instituições governamentais e não governamentais.
autor continua, demonstrando que as articulações Mesmo sendo considerado um grande avanço, não
intermunicipais são extremamente importantes, pois podemos, por outro lado, considerar o documento como
compartilham as vocações do território, formulando um definitivo ou estático. Ao contrário, é necessário estar
plano de desenvolvimento que contemple toda a constantemente se atualizando, sendo fruto de discussões
microrregião. que envolvam as esferas governamentais, não-
Podemos observar, portanto, que os percursos governamentais, pesquisadores e, fundamentalmente,
traçados pela Extensão Rural e os novos vetores de envolvam os beneficiários dos projetos de extensão, como
estudos fornecem elementos necessários para as agentes protagonistas de um modelo de extensão que vise o
organizações governamentais e não-governamentais desenvolvimento social e econômico.
repensarem as suas práticas extensionistas. Outro grande desafio da Política Nacional de ATER é
fazer com que o plano teórico se transforme também no
plano prático. Podemos observar que, mesmo com a
Material e métodos oficialização da PNATER, as práticas extensionistas
Esta pesquisa foi realizada no período de março a continuam a ser, hegemonicamente, verticais e autoritárias,
julho de 2009 na turma 2009.1 do Programa de Pós- com exceção, claro, de pessoas e instituições que
Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento historicamente têm feito o contraponto a este modelo de
extensão. Embora a promulgação da PNATER ser
relativamente nova – está completando apenas 05 anos A educação superior brasileira enfrenta esta questão
-, corre o risco de estar presa ao papel se algumas fundamental: formar politicamente uma juventude pela
antigas estruturas da sociedade brasileira não se criação de uma nova consciência social capaz de mobilizá-
transformarem. la não só para uma atuação concreta e uma participação
Estamos falando da estrutura agrária brasileira. A política no processo histórico real, mas também para um
concentração de terras no Brasil remonta ao período compromisso mais radical de se construir um novo modelo
colonial. De lá para cá, pouca coisa mudou. A grande de civilização humana para o Brasil. [11]. Em igual linha
maioria de terras no país continua na mão de poucos, de pensamento, Lima [12], diz que formar universitário que
enquanto muitos não têm nada. disponha seus saberes para a extensão rural com
Essa histórica concentração de terras traz agricultores familiares é um desafio.
explicitamente outros grandes obstáculos para a prática Pelo pouco que vimos até aqui não é difícil perceber que
extensionista: o trabalho quase servil dos trabalhadores vários são os objetivos da extensão rural no início do
e trabalhadoras do campo; o êxodo rural; além da fome, século XXI. Desafios que não são insuperáveis, ao
insustentabilidade, exclusão social e o desemprego. contrário, como mostra a própria história da extensão rural,
Todos esses agravantes trazem o resultado do os esforços e as lutas encampadas pelas organizações e/ou
empobrecimento cada vez maior das populações rurais. pesquisadores fazem com que a prática extensionista
Dessa forma, Pires [1] pontua que as políticas de resista, se renove e se atualize ao longo dos anos.
extensão precisam representar uma ruptura com o Agradecimentos
modelo pautado na concentração de renda, na exclusão
Agradecemos aos estudantes da turma 2009.1 pelas
social e no empobrecimento do homem do campo. A
discussões em sala de aula, que proporcionaram as
autora continua afirmando que não são as políticas de
inquietações necessárias para nos debruçarmos a este
extensão, enquanto políticas públicas, que devem ser
estudo.
condenadas, e sim o modelo pelo qual esteve
historicamente apoiado.
Referências
Para Lima e Roux [9], as conquistas obtidas são [1] PIRES, M.L.L.S. Extensão rural e desenvolvimento sustentável / Jorge
Roberto Tavares de Lima (org.) – Recife: Bagaço, 2005 – 2º edição.
frutos de reivindicações e devem tomar status de
[2] CALLOU, A.B.F. Extensão rural: polissemia e memória. Recife:
políticas públicas e não somente de governos que em Bagaço, 2007.
sociedades democráticas são transitórios. [3] CALLOU, A.B.F. Extensão rural e desenvolvimento sustentável /
Dentro desse cenário, torna-se iminente que todos os Jorge Roberto Tavares de Lima (org.) – Recife: Bagaço, 2005 – 2º edição.
atores sociais envolvidos na prática extensionista, [4] FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra,
enquanto prática de construção do pleno 2006 – 13º edição.
desenvolvimento das populações rurais, unam esforços [5] JESUS, P. Gestão do desenvolvimento local sustentável.
Organizadores: Adalberto de Rego Maciel Filho, Ivo Vasconcelos
e lutas para uma transformação necessária da estrutura Pedrosa, Luiz Márcio de Oliveira Assunção. Recife: Editora, 2006.
agrária brasileira. Sem essa mudança, corremos o risco [6] DEL GROSSI, M.E. O novo rural: uma abordagem ilustrada / Mauro
da extensão rural, enquanto prática dialógica e Eduardo Del Grossi, José Graziano da Silva. Londrina: Instituto
transformadora, ficar reduzida a experiências pontuais, Agronômico do Paraná, 2002.
[7] VEIGA, J.E. Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que
protagonizadas por poucas pessoas e instituições. se calcula – 2º edição – Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
Por fim, entre os desafios da extensão rural no século [8] BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria da
XXI está a importância da formação universitária para Agricultura Familiar. Política Nacional de Assistência Técnica e
educadores agrícolas, que sejam não apenas tecnicistas, Extensão Rural. Brasília, 2004. Versão final.
[9] LIMA, I.S. e ROUX, B. As Estratégias De Comunicação Nas Políticas
mas que tenham como compromisso a luta pela
Públicas De Assistência Técnica E Extensão Rural Para A Agricultura
transformação da realidade das populações rurais. Familiar No Brasil. In: Gustavo Cimadevilla (org). Comunicación,
A educação necessária para a formação de técnicos tecnologiay desarrollo: trayectorias. Rio Curato: Universidad Nacional de
comprometidos com a prática extensionista dialógica e Rio Cuarto, 2008, v.1, p. 91-112.
[10] FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
comunicacional deve ser entendida como um encontro
1970.
entre sujeitos – educador e educando – mediatizados [11] SEVERINO, A.J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo:
pelo mundo, sendo ambos os sujeitos transformadores Cortez, 2003.
do mundo. Neste tipo de educação há um estímulo na [12] LIMA, I.S. A Formação Universitária para a Agricultura Familiar e
criatividade do educando, na sua insubmissão e na a Educação do Campo: a experiência do Programa Residência Agrária em
Pernambuco. In: Molina, Monica Et Al (orgs): Educação do Campo e
problematização da sua realidade, ou seja, não se busca Formação Profissional: a experiência do Programa Residência Agrária.
transformar a mentalidade dos oprimidos, mas sim a Brasília. MDA, 2009.
situação que os oprime. [10]