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A CRIANÇA E O ADOLESCENTE COMO SUJEITOS DE DIREITOS: utopia ou


igualdade de direitos - qual o papel da educação no cenário brasileiro

Solange Aparecida Delfina da Rocha1

Deolindo Francisquetti2

Heraldo Felipe de Faria3

RESUMO: Este artigo tem por objetivo fazer uma análise sobre a criança e ao adolescente como sujeitos
de direitos: utopia ou igualdade de direitos, e mais, qual o papel da educação neste cenário brasileiro.
Com o mesmo intuito, o ensaio teórico fará uma breve explanação dos momentos históricos, bem como
os avanços e retrocessos. E, assim, trazer a baila os pontos obscuros e/ou positivos ou negativos dos
direitos da criança e do adolescente, e seu tratamento ao longo dos anos. Após os períodos de transição,
apresentar as legislações que visa proteger os direitos da criança e do adolescente. Dentro deste contexto,
também fazer uma análise do Estatuto da Criança e do Adolescente. E, para fechar este trabalho, analisar
qual o papel da educação no cenário brasileiro, em defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Cumpre ressaltar que o método do qual foi confeccionado este trabalho foi o procedimento documental,
realizado em fontes primárias as legislações nacionais enquanto que as fontes secundárias, foram feitas
por meio de pesquisas bibliográficas.

PALAVRA CHAVE: As Crianças e os Adolescentes são Sujeitos de Direitos; Utopia ou Igualdade de


Direitos; A Educação Ocupa um Lugar de Destaque neste Processo.

ABSTRAT: This article aims to make an analysis on children and adolescents as subjects of rights:
utopia or equal rights, and more, the role of education in the Brazilian scenario. With the same purpose,
the theoretical essay will give a brief explanation of historical moments as well as the advances and
setbacks. And thus bring fore the obscure and / or positive or negative rights of the child and adolescent
points, and its treatment over the years. After the transition period, present the laws that protect the rights
of children and adolescents. Within this context, we make an analysis of the Statute of Children and
Adolescents. And to close this work, which examine the role of education in the Brazilian scenario, in
defense of the rights of children and adolescents. It should be noted that the method which was made this
work was the documentary procedure, performed on primary sources of national legislation while
secondary sources, were made through literature searches.

KEYWORDS: Children and Teens are Subject of Rights; Utopia or Equal Rights; The Education
occupies a prominent place in this process.

SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Breve Relato da História dos Direitos da Criança e do Adolescente no


Brasil; 3. Os Avanços no Estatuto foram mais Significativos do que os Retrocessos? 4. Os direitos
sociais e o Direito da Criança e do Adolescente; 5. Estatuto da Criança e do Adolescente – utopia ou
garantias; 6. Qual o papel da educação no cenário brasileiro, em defesa dos direitos da criança e do
adolescente?; 7. Considerações finais; Referências.

1
ROCHA, Solange Aparecida Delfina da. Bacharelando em direito, X semestre pela AJES – Faculdade
do Vale do Juruena. solangeadrocha2@hotmail.com
2
FRANCISQUTTI, Deolindo. Bacharelando em direito, X semestre pela AJES – Faculdade do Vale do
Juruena. dfrancisquetti@hotmail.com
3
FARIA, Heraldo Felipe de. advogado, autor de vários livros; especialista em Direito Processual Civil
pelo CESUSC - Centro de Estudos Superiores de Santa Catarina; Mestre em Direito pela UNIMAR -
Universidade de Marília - São Paulo.
2

1. INTRODUÇÃO

Este artigo abordará os desencadeamentos e/ou os pontos obscuros, quando se


trata de direitos da criança e do adolescente são paradoxais, mas com o tempo, espera-se
romper os lanços antigos até então entendido dessa forma pela sociedade.
Hodiernamente, é a própria sociedade que pugna por reforma da legislação para que
garantam seus direitos bem como o princípio da dignidade da pessoa humana,
lembrando que as crianças e os adolescentes são sujeitos de direitos, por tal motivo,
merecem a proteção.
Nesse sentido, visando ampliar a proteção aos direitos sociais da criança e do
adolescente, a Constituição Federal de 1988, consubstancia ou objetivando dar reforço
ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Em seu art. 227 estabelece que: é dever da
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Com o mesmo objetivo, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, de
1989, e do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966,
hoje ambos acolhidos pela Organização das Nações Unidas – ONU.
A Legislação Penal também ampliou o foco da proteção jurídica, como afirma
Fernando Capez que: “O valor da pessoa humana passa a ser o objeto jurídico (...).
Procura-se, no entanto, também, com esse amparo legal, impedir o desenvolvimento
desenfreado (...)”4 de exploração de criança e adolescente. Este trabalho almeja dar
peculiar atenção aos sujeitos de direito que são as crianças/adolescentes, a fim instiga a
educação, e fazendo dela um instrumento imprescindível para concretização dos direitos
fundamentais e sociais. Levando em conta que a educação tende a ser o único caminho
para reconstruir a organização da sociedade e do Estado brasileiro.

2. Breve Relato da História dos Direitos da Criança e do Adolescente no Brasil

A origem dos primeiros registros iniciou-se ainda meio tímida com um olhar em
face dos direitos da Direitos da Criança e do Adolescente, ou seja, podemos considera-

4
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. p127.
2013.
3

los como frutos do processo de emancipação progressiva do direito do homem e em


seguida da mulher. Este processo A surge nos séculos XVII e XVIII, com a formulação
dos Direitos Naturais do Homem e do Cidadão.
Até 1900, final do Império e início da República, as populações hipossuficientes
eram entregues aos cuidados da Igreja Católica, com isso criou-se a Santa Casa de
Misericórdia, com objetivo de abrigar as populações de baixa renda. Vale ressaltar que
em 1543 ela foi fundada na Capitania de São Vicente, e tinha como meta tantos os
doentes quanto órfãos, e, ainda, aos que tinham parco recurso financeiro.
Podemos considerar que a influencia europeia no século XIX foi o pontapé
inicial das Santas Casas em amparar as crianças abandonadas. Neste mesmo século,
para manter os padrões da época, as mães solteiras não podiam assumir publicamente a
maternidade, dessa forma foi instituída a Roda, uma espécie de cilindro oco de madeira
que girava em torno próprio, tinha uma janela onde eram colocados os bebês. Mas em
1927 o Código de Menores proibiu o sistema das Rodas, possibilitando que as crianças
fossem entregues a entidades para serem adotadas, mas sempre preservando o
anonimato dos responsáveis.
O ensino obrigatório foi regulamentado em 1854. No entanto, a lei não se
aplicava universalmente, já que ao escravo não havia esta garantia. O acesso
era negado também àqueles que padecessem de moléstias contagiosas e aos
que não tivessem sido vacinados. Estas restrições atingiam as crianças vindas
de famílias que não tinham pleno acesso ao sistema de saúde, o que faz
pensar sobre a influência da acessibilidade e qualidade de uma política social
sobre a outra ou como vemos aqui, de como a não cobertura da saúde
restringiu o acesso das crianças à escola, propiciando uma dupla exclusão aos
direitos sociais5.

Vale ressaltar que no Brasil no começo do século XX iniciaram-se as primeiras


lutas sociais do proletariado. Esta luta foi marcada por trabalhadores urbanos, que
reivindicava além de seus direitos, certas proibições do trabalho de menores de 14 anos
e a abolição do trabalho noturno de mulheres e de menores de 18 anos. Para Maria
Luiza Marcílio “(...) o “direito à democracia”, condição essencial para a concretização
dos Direitos Humanos”6.
Desde os primeiros registros da luta pelos direitos, a sociedade conjuntamente
com o Poder Público, visando amenizar os horrores do passado, levando em conta que
os direitos da pessoa humana encontraram amparo desde 1948 na Declaração dos

5
Disponibilizado em http://www.promenino.org.br/noticias/arquivo/uma-breve-historia-dos-direitos-da-
crianca-e-do-adolescente-no-brasil. Acessado em 06 de agost. de 2014.
6
MARCÍLIO, Maria Luiza. A Lenta Construção dos Direitos da Criança Brasileira. Disponibilizado em:
file:///C:/Users/Solange/Downloads/27026-31464-1-SM.pdf. r e v i s t a u s p, s ã o p a u l o ( 3 7 ) : 4 6 -
5 7 , m a r ç o / m a i o 1 9 9 8. p.48. Acessado em: 04 de agost. 2014.
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Direitos Humanos, a qual prisma pela valoração da família, da comunidade, dos


interesses, das necessidades e anseios da sociedade. Ademais, é, de suma relevância
atentar e identificar que a criança é um ser humano completo, mas em desenvolvimento.
Neste sentido Maria Luiza Marcílio aduz que (...) ênfase está centrada no conjunto de
direitos e responsabilidades necessárias para garantir a cada indivíduo sua participação
plena na sociedade (...)7.
O que se percebe, porém, é que a Declaração e a Convenção das Nações Unidas
sobre os Direitos da Criança foi instituída para dar assistência aos menores bem como
auxiliar os responsáveis sobre suas obrigações para com seus filhos.
Dessa forma, a Convenção define como criança qualquer pessoa com menos de
18 anos de idade (artigo 1), cujos ‘melhores interesses’ devem ser considerados em
todas as situações (artigo 3). Protege os direitos da criança à sobrevivência e ao pleno
desenvolvimento (artigo 6), e suas determinações envolvem o direito da criança ao
melhor padrão de saúde possível (artigo 24), de expressar seus pontos de vista (artigo
12) e de receber informações (artigo 13). A criança tem o direito de ser registrada
imediatamente após o nascimento, e de ter um nome e uma nacionalidade (artigo 7), tem
o direito de brincar (artigo 31) e de receber proteção contra todas as formas de
exploração sexual e de abuso sexual (artigo 34), dentre outros. Podendo, assim, concluir
que, os direitos das crianças e dos adolescentes encontra guarida, sendo assim, há que se
transformar o Estatuto da Criança e do Adolescente em ações concretas visando manter
a prática integrada, contínua e permanente no que tange aos direitos das crianças e dos
adolescentes.

3. Os Avanços no Estatuto foram mais Significativos do que os Retrocessos?

A priori, os avanços foram mais significativos do que os retrocessos, sim.


Percebe-se que o Estatuto teve nos últimos tempos avanços peculiares, sempre
objetivando concretizar a proteção integral da criança e do adolescente.
Pois bem, com a proteção do ordenamento jurídico constitucional, bem como do
Estatuto, conferindo um status de direito fundamental, objetivou-se eliminar as
disparidades, colocando elas em pé de igualdade com os adultos, considerando que o
direito fundamental da criança e do adolescente é uma das bases mais importantes para
o desenvolvimento integral das mesmas, tendo em vista que elas são os futuros do país.

7
MARCÍLIO, Maria Luiza. A Lenta Construção dos Direitos da Criança Brasileira. Disponibilizado em:
file:///C:/Users/Solange/Downloads/27026-31464-1-SM.pdf. r e v i s t a u s p, s ã o p a u l o ( 3 7 ) : 4 6 -
5 7 , m a r ç o / m a i o 1 9 9 8. p.48. Acessado em: 04 de agost. 2014.
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Mas, para que a criança e o adolescente consigam e/ou construam seu espaço
neste reduto, faz-se necessário o apoio da família, pois é ela a base para um
desenvolvimento saudável e relevante para progresso da humanidade.
Para Paulo Freire “somente quando os oprimidos descobrem nitidamente, o
opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si
mesmas, superando, assim, sua convivência com o regime opressor”8. O que se extrai
das ponderações do autor acima é que a sociedade almeja que o Poder Público cumpra a
proteção dos direitos da criança e do adolescente, mas há necessidade de ações
concretas associadas ao empenho também de toda a coletividade nesta luta,
transformando-a em práxis.
No mesmo sentido Carla Canepa esclarece que: “(...) utilizar diversos ambientes
educativos e uma ampla gama de métodos para comunicar e adquirir conhecimentos (...)
acentuando devidamente as atividades práticas e as experiências pessoais9”. O que se
percebe, porém, é que a educação brota para dar resposta aos anseios da sociedade. Mas,
para que isso aconteça, faz-se necessário que a família comungue sua participação neste
processo.
Para Zélia Maria Mendes Biasoli-Alves:
Isso leva a assumir que a atmosfera familiar, as atitudes, os valores e os
relacionamentos na família nuclear são o meio crítico inicial pela qual a
personalidade da criança toma forma; é esse ambiente que lhe dá condições
para elaborar uma imagem a respeito de si mesma, dos outros e do mundo; é
ele que lhe permite moldar valores e provê o arcabouço necessário para que
ela venha a ter sentimento de pertencimento e significado; é nele que estarão
dimensionadas as práticas de educação; nesse ambiente em que a criança vive
os primeiros anos estarão estabelecidas as formas e os limites para as relações
e interações entre as gerações10.
As exposições apresentadas pela autora, bem como mudança de hábitos, pautada
na mutação de comportamento, ética e conscientização, instrumentos, ímpar para o
desenvolvimento bem como a participação ativa da criança e do adolescente,
instigando-as ao aprendizado. Ressalta-se que a escola tem capacidade de articular este
processo pedagógico, garantindo assim, a conexão de múltiplos saberes. Dessa forma,
tem-se que além de outros direitos conferida à criança e o adolescente, a educação
ocupa um lugar de destaque, ou seja, é uma prerrogativa para se construir um processo

8
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra. p.58-59. 2005.
9
CANEPA, Carla. Educação Ambiental: Ferramenta para a criação de uma nova consciência planetária.
Revista dos Tribunais. Direito Ambiental. Vol. I. Revista de Direito Constitucional e Internacional. RDA.
48/158. Jun.-set. p.748. 2004.
10
BIASOLI-ALVES, Zélia Maria Mendes. Crianças e Adolescentes Construindo uma Cultura da
Tolerância. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. p.83. 2001.
6

imutável de aprendizagem. Por outro lado, para se chegar a tal desiderato, faz-se
necessário uma parceria entre Governo e sociedade, com fito de romper os obstáculos
capazes de inviabilizar a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
E, buscando efetivar tal proteção, a Constituição Federal em seu art. 205, onde
legislador entende que: “vincula a educação ao preparo para exercício da cidadania. (...)
Assim, quanto mais educa a criança e o adolescente, mais as mesmas serão capazes de
lutar e exigir os seus direitos e cumprir os seus deveres”11. Isso requer, sobretudo,
alcançar metas necessárias para instigar a participação ativa da sociedade e o Estado ao
ampliar e proteger direitos a educação, cultura, esporte e ao lazer. Hoje, tem-se que a
educação/consciência é um caminho para assegurar-lhes o completo desenvolvimento
físico, mental, espiritual e social. Galgando seu espaço na sociedade. E assim, segundo
Carlos Cabral Cabrera: “retirando-os da situação de objeto e anseios dos adultos, para a
de cidadãos, sobretudo, de titulares de direitos fundamentais”12. Levando em
consideração que a criança e o adolescente têm seus direitos resguardados pelo Texto
Maior, isso quer dizer que, não é utopia.

4. Os direitos sociais e o Direito da Criança e do Adolescente

Em 1830, o Código Penal do Império só considerava inimputáveis aos menores


de 14 (quatorze) anos, os demais menores, caso cometesse algum ato antissociais e/ou
ilícito, responderiam pelos seus atos (arts. 10 e 13).
Danielle Maria Espezim dos Santos afirma que:
Na vigência do Código Criminal da República, de 1890, os menores de nove
anos e aqueles com idade entre nove e quatorze anos, sem discernimento, não
seriam considerados criminosos; já os menores com idade entre nove e
quatorze anos, com configuração de prática delituosa acompanhada de
discernimento, seriam mantidos em estabelecimentos disciplinares
industrializados por período definido segundo o critério do juiz, desde que
respeitado o limite de dezessete anos. Para tanto, deveriam ser levados em
conta métodos subjetivos tais como “vida pregressa, seu modo de pensar, sua
linguagem”13.
Quando a teoria do discernimento foi eliminada pela Lei nº 4.242/1921, e os
menores de quatorze anos passaram a ser considerados totalmente inimputáveis, e, a
partir do Decreto nº 22.213/32 – Consolidação das Leis Penais, os menores de dezoito

11
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. Doutrina e Jurisprudência. 15. Ed. atual.
São Paulo: Editora Atlas. p.156. 2014.
12
CABRERA, Carlos Cabra. (et. al). FREITAS JUNIOR, Roberto Mendes de. (coordenador) Leis Penais
Especiais. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira. p.103. 2006.
13
SANTOS, Danielle Maria Espezim dos. O Sistema de Garantias de Direitos Sociais da Criança e do
Adolescente. Disponibilizado em:
http://www.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/dissertacao___o_sistema_de_garantias_de_direitos_socia
is_da_crianca_e_do_adolescente.pdf. p.14. Acessado em: 06 de agost. de 2014.
7

anos ficariam submetidos ao regime do Código de Menores os direitos sociais ainda não
estavam consolidados no país, nem tampouco no ordenamento constitucional brasileiro.
Diante disso, os atos tidos como antissociais só era punidos quanto fossem evidentes e
causassem danos a sociedade de modo geral.
Com objetivo de proteger os direitos dos menores, em 1924 foi dada ao
magistrado Mello Matos autonomia para averiguar o tratamento entre criança ou do
adolescente (abandonado ou não, delinquente ou não). Com fito de dar tratamento
igualitário aos menores, foi sancionado o primeiro Código de Menores da América
Latina, editado como Decreto n.º 17.943-A, também conhecido como Código de Mello
Matos. Em seu artigo 1.º, definia o menor: “abandonado ou delinquente, que tiver
menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de
assistência e proteção contidas neste código.” Ressalta-se que após a vigência deste
Código, iniciou-se a obrigatoriedade do Estado em face dos menores, e aos poucos foi
estendendo ao trabalho do menor, aos crimes, saúde, alimentação, moradia, dentre
outras prerrogativas.
Ainda na era Militar – 1964, instituíram a FUNABEM – Fundação Nacional
Para o Bem Estar do Menor. Neste período, o Estado aproveitou-se dessa fundação para
fortalecer o exército com mão-de-obra barata. Visando mitigar tal situação, entra em
vigor a Lei 6.697, em seu art. 2º, assim considerados aqueles com menos de dezoito
anos de idade, privados de condições essenciais à saúde e instrução obrigatórias, vítimas
de maus-tratos ou castigos imoderados, em perigo moral, desassistidos juridicamente,
com desvio de conduta e, ainda, autores de infração penal.
Haja vista que mesmo tendo uma lei específica para proteger os direitos dos
menores, o juiz ao prolatar sua decisão ainda agia a seu bel prazer, ou seja, não existiam
critérios específicos para determinar o quantum devido. Mesmo servindo como
parâmetro, o Código de Menores ainda continuava obscuro, pois não tinha uma
definição específica de quais são os interesses de crianças e adolescentes, os menores da
época. Danielle Maria Espezim dos Santos entende que: “(...) as ações ou omissões
públicas e da sociedade, propiciadoras da condição subumana, passavam despercebidas,
atribuindo-se à família a única responsabilidade”14.

14
SANTOS, Danielle Maria Espezim dos. O Sistema de Garantias de Direitos Sociais da Criança e do
Adolescente. Disponibilizado em:
http://www.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/dissertacao___o_sistema_de_garantias_de_direitos_socia
is_da_crianca_e_do_adolescente.pdf. p.18. Acessado em: 06 de agost. de 2014.
8

Com o advento da Constituição Federal de 1988, os direitos e garantias de


crianças e adolescentes estão assegurados em seu art. 6º, em que são direitos sociais a
educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.
O artigo supracitado assegura a criança e ao adolescente um desenvolvimento
saudável, como por exemplo: direitos à vida, a saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade, entre outros, ou seja, percebe-
se que a Carta Magna consubstanciado com o Estatuto da Criança e do Adolescente traz
a ideia de proteção e respeito mútuo, preservando assim os direitos intangíveis.
Esses instrumentos têm como objetivo ímpar ampliar o entendimento dos pais e
responsáveis da importância da família na formação dos futuros do país e sua relação
e/ou convivência em sociedade. Partindo desse entendimento, estará assegurada a
formação de uma sociedade mais justa, voltada para o bem comum com respeito aos
direitos individuais e coletivos.
Ainda no mesmo raciocínio o art. 227 do Texto Maior é claro ao estabelecer que:
é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

5. Estatuto da Criança e do Adolescente – utopia ou garantias

Partindo desse pressuposto e quebrando os paradigmas outrora, o Estatuto da


Criança e do Adolescente com objetivo ímpar de mitigar as disparidades, considera a
criança e os adolescentes sujeitos detentores de direitos, tanto previsto na Carta Magna
bem como no próprio Estatuto.
Em face desta proteção que o ordenamento jurídico lhe proporciona, eis que
surge uma indagação de extrema relevância: Até que ponto o Estatuto da Criança e do
Adolescente contribui para o desenvolvimento social da criança?
O desafio foi disseminado desde as primeiras leis que versavam sobre a proteção
dos menores, ainda que indiretamente. Hodiernamente, significa dizer que tal proteção
referente aos menores são prioridade e efetivação de políticas públicas que estimulem
positivamente o seu desenvolvimento físico e intelectual, oferecendo segurança e
9

proteção contra qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou


constrangedor, viabilizando sua inserção na sociedade, com condições digna para viver
em harmonia.
Após a proteção do ordenamento jurídico adveio a natureza assecuratória das
garantias, caso haja alguma lacuna no Estatuto, a Constituição estará encarregada de
assegurar o seu exercício e gozo dos direitos e garantias.
Visando manter a proteção integral à criança e ao adolescente a Lei nº.
8.069/1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente está definido no
Título I - Das Disposições Preliminares: em seu art. 2º, que: considera-se criança, para
os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela
entre doze e dezoito anos de idade.
Em meio a esta proteção integral, o art. 3º do mesmo diploma legal ensina que a
criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes,
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e
de dignidade.
Insta mencionar que, quais são os direitos e responsabilidades dos pais em face
dos menores? Indagação esta, é de extrema relevância e que merece destaque, no art. 4º
do Estatuto onde estabelece que: é dever da família, da comunidade, da sociedade em
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária.
O Estatuto representa uma das ferramentas mais poderosas para coibir certos
atos que não condiz com o princípio basilar do ordenamento jurídico, que é a igualdade
de direitos. Assim, o art. 5º, do mesmo diploma legal acima mencionado, ensina que:
nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
A interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige,
as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição
peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento (art. 6º).
10

O que se percebe, porém, é que os direitos fundamentais da criança e dos


adolescentes estão regulamentados no Estatuto, senão sejamos:
a) Direito à vida e à saúde;
b) Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade;
c) Direito à convivência familiar e comunitária;
d) Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer;
e) Direito à profissionalização e à proteção no trabalho.
Diante desse rol retro, Danielle Maria Espezim dos Santos afirma que:
As garantias constitucionais assumem as mais variadas formas, por meio das
quais a Lei Maior prevê o respeito ou a restauração dos direitos
fundamentais. Essas garantias se dividem em gerais e especiais. As gerais
dizem respeito às instituições criadas constitucionalmente para formar um
sistema de freios e contrapesos apto a manter, de forma geral, o regime de
respeito à pessoa e a seus direitos. As especiais se referem a todos os
mecanismos e técnicas criados para limitar a atuação de poderes públicos e
privados com o fito de proteger a “[...] eficácia, a aplicabilidade e a
inviolabilidade dos direitos fundamentais de modo especial. São técnicas
preordenadas com o objetivo de assegurar a observância desses direitos
15
considerados em sua manifestação isolada ou em grupos” .
O viés deste instrumento é assegurar os direitos previstos na Constituição bem
como no Estatuto, visando mitigar alguma norma que porventura estiver em descordo,
e, portanto, buscando efetivar os direitos fundamentais resguardados pela Carta Magna.
Dessa forma, Luigi Ferrajoli salienta que em decorrência do que prevê o ordenamento
“as garantias são técnicas criadas pelo ordenamento para reduzir a divergência estrutural
entre normatividade e efetividade, e, portanto, para realizar a máxima efetividade dos
direitos fundamentais conforme o que regulamenta a Constituição”16.
As ponderações do autor acima citado são de extrema relevância ao fazermos a
seguinte indagação? Quais são os paradigmas a serem enfrentados para assegurar os
direitos das crianças e dos adolescentes? Percebe-se que, o ordenamento jurídico ainda
existe lacunas que podem ser sanadas, mas, para que isso aconteça cabe ao Poder
Público identificar os pontos negativos e positivos, objetivando uma prestação
jurisdicional mais célere.
Já que existe apoio Constitucional bem como no §4º do art. 227, onde prevê
punição severamente ao infrator que explorar sexualmente de criança e do adolescente.
Mas, o que se pode notar é que há uma disparidade entre as penas quando se trata dos

15
SANTOS, Danielle Maria Espezim dos. O Sistema de Garantias de Direitos Sociais da Criança e do
Adolescente. Disponibilizado em:
http://www.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/dissertacao___o_sistema_de_garantias_de_direitos_socia
is_da_crianca_e_do_adolescente.pdf. p.84. Acessado em: 06 de agost. de 2014.
16
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón: teoría del garantismo penal. Madri: Trotta. p. 85-100. 2000.
11

crimes contra a criança e o adolescente, no Estatuto e no Código Penal. Tendo em vista


que a criança e o adolescente são totalmente desprovidos de certo conhecimento para
defender-se de quaisquer atos infracionais.
Como por exemplo: no art. 239 do Estatuto ensina que: promover ou auxiliar a
efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com
inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro, onde a pena é de
reclusão de quatro a seis anos, e multa. Mas se houver emprego de violência, grave
ameaça ou fraude, a pena sobe para seis a oito anos. Enquanto que, o art. 217-A, § 3º,
do Código Penal, trata dos crimes sexuais contra a criança e vulnerável, se da conduta
resulta lesão corporal de natureza grave a pena será de dez a vinte anos de reclusão. O
que se extrai dos enunciados, mesmo sendo crimes distintos, é que o Código Penal é
mais protetivo do que o próprio Estatuto. Talvez, este seja motivo que enseja a junção
dos institutos, objetivando reforçar tais direitos.
Pois, é visível a proteção que os dois institutos brasileiros exercem, mas existe,
portanto, conforme José Geraldo da Silva; Paulo Rogério Bonini e Wilson Lavorenti:
“(...) e é o que o tipo penal pretende evitar é que a atuação de tal agente ultrapasse os
limites da legalidade (...)”17. Subtende que, o objeto mais valioso além da vida é a
moralidade da criança e do adolescente. Os caminhos são possíveis, mas a sociedade
não pode agir com hipocrisia, haja vista a importância dos direitos como cidadão
brasileiro na tomada de decisões. A propósito, só iremos conseguir alcançar os objetivos
almejados, através das reivindicações, ou seja, quando exercemos nossos direitos como
verdadeiros cidadãos.
Neste sentindo Damásio de Jesus entende que:
O crime somente é punível a título de dolo, que consiste na vontade livre e
consciente de, com a finalidade de satisfazer a própria luxúria, praticar ato
libidinoso com pessoa maior de quatorze e menor de 18 anos, que se saiba
ainda não corrompida totalmente, ou induzi-la à prática ou à assistência de
ato da mesma natureza. (...) para que possa falar em corrupção de menores, é
necessário que o ato libidinoso tenha o efeito de lavar o ofendido à
degradação moral18.
Desse modo é, extremamente pertinente as observações do autor retro, mas para
revolucionarmos nossos pensamentos e promover novas percepções capazes de
ultrapassar o estado que se encontra rompendo assim os paradigmas das desigualdades,
colocando as crianças e os adolescentes em pé de igualdade com os adultos, tendo que

17
SILVA, José Geraldo da; BONINI, Paulo Rogério; LAVORENTI, Wilson. Leis Penais Especiais
Anotadas. 12. Ed. Campinas, SP: Millennium Editora. p.203. 2011.
18
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. Parte Especial. 3º vol. 18. Ed. São Paulo: Saraiva. p.131. 2009.
12

são eles os futuros do país. Faz-se necessário transformar a práxis libertadora, bem
como a reforma do pensamento e/ou estimular a democracia participativa, com fito de
dar sustentação quando tratarmos de direitos e garantias, garantidos pela Constituição
Federal de 1988.
Daniele dos Santos Guidotti aduz que:
No caso dos direitos de crianças e adolescentes a análise multidisciplinar se
faz ainda mais necessária, pois lida com sujeitos de direito há pouco
reconhecidos como tal, vítimas de uma sociedade que não os reconhecia e de
um sistema que sempre os desprezou. Não se pode negar que avançamos, não
podemos refutar o fato de nossa legislação estatutária ser das melhores do
mundo ao incorporar as ideias internacionais mais sensíveis, mas não se pode
negar, igualmente, a profunda distância entre o ‘ser’ e o ‘dever ser’ das
garantias e direitos fundamentais da infância e da juventude brasileiras, tidas
ainda como ‘menores’, invisíveis e objetos dentro de um aparelho protetivo
teoricamente rico, mas efetivamente falho 19.
A autora supracitada menciona que contamos com um sistema falho, mas, para
estancar esta fala a Constituição Federal determina que: cabe também a coletividade o
dever de identificar as mazelas e cobrar do Poder Público, para que sejam sanadas as
irregularidades, visando resguardar e proteger os direitos das crianças e do adolescente.
Para Valter Kenji Ishida: “O Estatuto da Criança e do Adolescente, neste ponto, como
um microssistema jurídico, cria mecanismos de amparo e proteção à criança e a do
adolescente, garantindo-lhes instrumentos efetivos de defesa”20.
Visando garantir essa efetividade, cabe a toda coletividade uma parcela neste
processo. Assim, estaremos contribuindo para que o Estatuto não seja uma utopia e sim
um instrumento que possam assegurar os direitos dos menores. Haja vista que o
Estatuto foi instituído com o fito para dar respostas aos anseios da criança e o
adolescente. Talvez, esta parcela de colaboração auxiliará a aplicabilidade do Estatuto,
levando em conta que a consolidação do Estatuto mantém-se como processo em
construção, atento às transformações e demandas sociais e ao resguardo do princípio
fundamental da dignidade da pessoa humana.

6. Qual o papel da educação no cenário brasileiro, em defesa dos direitos da


criança e do adolescente?

Diante das explanações ora ventilada, tem-se que o grande obstáculo da


sociedade moderna é ampliar a visão pedagógica, objetivando romper as barreiras

19
GUIDOTTI, Daniele dos Santos. Brasil: a utopia da proteção integral. Disponiblizado em:
http://www.revistacontemporanea.org.br/site/wp-content/artigos/edicao12_brasil_a_utopia.pdf. p.10.
Acessado em: 06 de agost. de 2014.
20
ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. Doutrina e Jurisprudência. 15ª Ed. atual.
São Paulo: Editora Atlas S.A.p.23. 2014.
13

filosóficas, econômicas e sociais. E, permitindo assim, novos pensamentos para os


problemas atuais. Tendo em vista que a responsabilidade não é apenas do Poder Público
em tomar medidas preventivas neste cenário que emerge, cabe também a sociedade sua
parcela de culpa neste processo. Percebe-se que há a necessidade de ampliar novos
atores, preocupados com a realidade do Brasil, neste sentido, quando aumentar a visão
da sociedade, aumenta-se também a práxis educacional.
Pedro Jacobi aduz que:
O momento atual exige que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada
para assumir um caráter mais propositivo, assim como para poder questionar
de forma concreta a falta de iniciativa dos governos para implementar
políticas (...) Para tanto é importante o fortalecimento das organizações
sociais e comunitárias, a redistribuição de recursos mediante parcerias, de
informação e capacitação para participar crescentemente dos espaços
públicos de decisão e para a construção de instituições pautadas por uma
lógica (...)21.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - 9.394/96 estabelece em seu
art. 1º, que: a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. E,
mais, esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente,
por meio do ensino, em instituições. O que se extrai desta lei é que, a educação escolar
deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
Ressalta-se que o professor nas instituições de ensino assume um papel
primordial para instigar o aluno a assumir compromissos condizentes com a realidade,
objetivando a formação de novos saberes, novos valores, novos pensamentos e uma
nova conscientização. Construindo assim, uma sociedade mais responsável, equitativa,
sólida e preparada para enfrentar os obstáculos que possam surgir.
Neste cenário que emerge, a educação representa uma das ferramentas mais
poderosa de todos os tempos. Levando em conta que a educação instiga o senso crítico,
estimula a construção de um novo mundo, pois ela possibilita ampliar o conhecimento,
conscientização, compreensão dos pontos positivos e negativos, para se chegar a um
denominador comum. Assim, a criança e o adolescente estarão aptos para entender seus
direitos e, poderão reivindica-los a qualquer momento.

21
JACOBI, Pedro. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Disponibilizado no site:
<http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2011/04/educacao-e-meio-ambiente.pdf>.
Cadernos de Pesquisa, n. 118, mp. a1rç8o9/-220050,3 março/ 2003. p.203. Acessado em 27 de jun de
2013.
14

Paulo Freire afirma que: “Esta busca nos leva a surpreender, nela, duas
dimensões; ação e reflexão (...). Não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí, que
dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo22”. O autor retro, nos remete a uma
reflexão: a verdadeira práxis educativa possibilitará a interdisciplinaridade no processo
pedagógico ensino-aprendizagem. Quando ele menciona que a verdadeira palavra seja
transformar o mundo, subentende que, a troca de saberes tem um caráter fundamental
para promover transformações relevantes na vida das pessoas. Transformando assim, na
retroalimentação, pois o conhecimento propiciará novos comportamentos.
Neste sentido Gilmar Mendes afirma que: “A educação é o principal instrumento
que as sociedades democráticas possuem para promover a mobilidade social”23.
Conforme as ponderações do autor acima, e, de maneira bastante elucidativa que, o
acesso ao ensino é uma ferramenta de intervenção necessária para o desenvolvimento da
pessoa na tomada de decisões. Pois, é a partir do momento em que ela compõe este
processo educacional estará exercendo novas posturas, bem como apta para as
transformações do novo século.
A canadense Lucy Suavé entende que as práticas pedagógicas, trás maior
credibilidade para a educação, como por exemplo24: na perspectiva educativa, ela tende
a construir no indivíduo a consciência, responsabilidade, respeito mútuo e a ética.
Enquanto que perspectiva pedagógica: ela incluir todos os métodos pedagógicos para
alcançar a uma pedagogia multidimensional, que dê maior credibilidade a educação,
rompendo os laços tradicionais e, investindo numa pedagogia realística.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos pontos articulados neste trabalho, constatou que o processo de


aprendizagem se constrói ao longo da integração, adaptação e readaptação do ser
humano ao seu ambiente de origem. Sendo assim, faz-se necessário a compreensão,
respeito mútuo, ética e comprometimento para com o próximo, objetivando a
valorização do ser humano, em especial da criança e do adolescente.

22
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª, ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra. p.44. 1987.
23
MENDES, Gilmar. Apud. ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. Doutrina e
Jurisprudência. 15. Ed. atual. São Paulo. Editora Atlas. p.156. 2014.
24
Suavé (1997) apud CADERNOS SECAD 1. “Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade”. Ministério da Educação. HENRIQUES, Ricardo; TRAJBER, Rachel; MELLO, Soraia;
LIPAI, Eneida M; CHAMUSCA, Adelaide. Educação Ambiental: aprendizes de sustentabilidade.
Disponibilizado no site: < http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental.pdf>. p.17.
Acessado em 27 de jun. de 2013.
15

A partir do momento em que se respeitam os direitos da criança e do


adolescente, os mesmos terão capacidade de fazer valer seus direitos que muitas vezes
são desrespeitados. Deste modo, podemos definir que a aprendizagem é um conteúdo da
experiência humana e de ações compartilhadas. Trazendo de volta direitos que se
encontravam mitigados pela própria sociedade.
Quando a sociedade de modo geral mitiga algo, tem-se que falta um componente
imprescindível que visa estimular a participação ativa, na construção de novos hábitos.
Para tanto é preciso que a própria sociedade crie condições, sobretudo, na educação,
considerada hoje como pilar para alcançar a proteção integral dos direitos da criança e
do adolescente. Rompendo os paradigmas do passado, viabilizando assim o resgate dos
valores, responsabilidades, compromisso, conscientização e respeito com o próximo.
Neste passo, a educação é um caminho para reeducação do indivíduo em face do
mundo globalizado. Pois o conhecimento assume um papel transformador para moldar
as mazelas que ainda perdura. Diante disso, a proteção do ordenamento jurídico bem
como do Estatuto, levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências
do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da
criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento art. 6º da Lei nº 8.069/90.
Nesta pesquisa, constatou que o Texto Constitucional e o Estatuto da Criança e
do Adolescente, bem como as Normas Internacionais tem cunho social visando garantir
os direitos da criança e do adolescente. Diante de tal proteção, os direitos fundamentais
e sociais correspondem ao principio da prioridade, cabendo ao legislador medidas
protetivas, e, mais garantir a efetivação dessas medidas, inovando nas propostas e
transformando-as em ações ao cidadão criança/adolescente.
Finalmente, este artigo, pretendeu dar uma peculiar atenção aos sujeitos de
direito que são a criança/adolescente, a fim instiga a educação, e fazendo dela um
instrumento imprescindível para concretização dos direitos fundamentais e sociais. A
educação tende a ser o único caminho para reconstruir a organização da sociedade e do
Estado brasileiro.

REFERENCIAS

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Cultura da Tolerância. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. p.83. 2001.
16

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2006.

CADERNOS SECAD 1. “Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e


Diversidade”. Ministério da Educação. HENRIQUES, Ricardo; TRAJBER, Rachel;
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