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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE

TECNOLOGIA, INFRAESTRUTURA
E TERRITÓRIO (ILATIT)
ARQUITETURA E URBANISMO

RESUMO DO SEMINÁRIO, COM BASE NO ARTIGO


“REVITALIZAÇÃO PARA QUEM? POLÍTICA URBANA E
GENTRIFICAÇÃO NO CENTRO DE SANTOS” DE ANDRÉ DA
ROCHA SANTOS

YURI JOSÉ ONTIVEROS ESAÚ DOS SANTOS

Aparecida
Ano 2021
Com a respectiva análise do artigo “Revitalização para quem? Política Urbana e
Gentrificação no Centro de Santos, de André da Rocha Santos, foi possível
compreender, de forma exemplificada num estudo de caso, como o processo de
gentrificação, apoiados por um ideal neoliberal e por seus governantes, atingiu o centro
da cidade litorânea por meio de políticas públicas e por parte da própria população que
desconhecendo as causas e efeitos que um avanço infraestrutural para uma certa
camada podem influenciar negativamente naquele espaço.

Essa política pública ao ser caracterizada como um avanço e melhoria para a cidade,
nos quesitos beleza, economia, desenvolvimento, comércio, turismo e etc, ela é
facilmente recebida por parte da população que se vê beneficiada e induzida a apoia-la
e também consequentemente o governo. Não é à toa que se a máquina pública se
utilizou do termo “Alegra Centro” como uma identidade à alcançar o público alvo, além
do marketing para que essa política fosse apoiada pela população que fará o uso
dessas espacialidades comerciais.

Assim, com o governo de Santos se apoiando nessa política público para atrair
investidores, construir sua identidade, demonstrar uma “efetividade” de gestão e sendo
apoiado pela própria população, se chega de fato na revitalização e melhoria do centro,
atingindo beneficamente uma camada mínima de uma população temporária, isto é, a
população que não mora exatamente naquele trecho, mas fazem o uso comercial
daquela área, sendo este o objetivo principal de tal política.

Por outro lado, atinge de modo nocivo as pessoas vulneráveis da área, a população
que mora em cortiços e vielas, a população segregada, marginalizada e invisibilizada,
que não aparece nas propagandas e que não concorrem de maneira proporcional às
revitalizações, inclusive compete com elas. Essa revitalização fez o processo contrário
para essa camada, tornando seus aluguéis mais caros em vista da melhora espacial do
entorno, sendo que a análise demonstra que não houve melhoria alguma de seus
cortiços ou de suas condições de vida, apenas algumas CDHU’s planejadas, mas que
ainda não atenderam a maior parte da população.

Tendo, então, essa referência bibliográfica como ponto de partida para compreensão
do tema gentrificação e de seus impactos pontuais na cidade, ao longo do seminário
proposto por Mariana Barbosa foi possível perceber as diferentes colocações e
exemplificações dos alunos, sendo eles teóricos ou pessoais, demonstrando a gama
que o tema pode atingir ao se apresentar nos mais diversos âmbitos sociourbanos.

A exemplo colocado pela Vanessa, o Gramadão, uma espécie de praça com um palco
localizado no bairro Vila A, cercado por casas está recebendo atualmente uma
remodelação de seu espaço e isso pode se enquadrar na questão da especulação
imobiliária que o espaço circundante sofrerá. Vale ressaltar, que o Gramadão é um
ponto de referência na cidade, com carros de lanches e parques ao final de semana, se
caracterizando como uma zona de lazer e monetização, ou seja, de certa forma já
sofreu seu processo de seleção espacial de moradores em relação à sua renda,
porém, com outra mudança, melhorando-o será iminente uma segunda onda de
seleção espacial.

Explicando a origem do conceito, Joel explicita que a criação do termo gentrificação se


deu pela socióloga britânica Ruth Glass na busca por compreender e descrever o
processo de deslocamento das pessoas de baixa renda das áreas centrais de Londres,
“dando” espaço para a entrada de pessoas de classe mais abastadas nessas
localidades.

Logo se percebeu que esse não era um problema apenas de Londres, mas se
apresentava em todo o globo, com características e formações diferentes, mas ainda
equiparados pela mesma condição de valorização do local em razão da melhora
urbana ou da inserção de moradores de outro poder aquisitivo que começam a
remodelar suas casas e comércios atraindo pouco a pouco pessoas do mesmo nível
econômico, expulsando as pessoas de menor poder aquisitivo. Porém, apontado por
ele, há vertentes que dizem que esse é um processo natural pela condição da
expansão urbana e outros que dizem que mesmo se tratando de um processo um tanto
incontrolável, há como controla-lo ou ameniza-lo em seus impactos abruptos.

Entretanto, controlar o processo de gentrificação, muitas vezes abrupto e caótico


depende da força que o Estado e seus interlocutores demonstrarem interesse. Como
por exemplo e reestruturação do Vale do Anhangabaú como a Rafaela colocou, em
que houve um processo milionário para a reforma do local, mas ao mesmo tempo
invisibilizava as pessoas que de fato faziam o uso do local como moradores cercanos e
comerciantes. Assim, o Estado quando trabalha na omissão ele se demonstra ineficaz
em resolver problemáticas e englobar e relevar a sociedade em um todo nessas
questões, porém quando ele atua de fato como o causador da segregação, acaba
sendo mais dificultoso para se atuar contra tais medidas.

Se tratando da ineficácia do Estado referente à posições contra o processo de


gentrificação e desigualdade, Vitória trouxe um tema muito atual e relevante que se
trata da ocupação que o aplicativo de aluguel de casas e quartos está tomando, no
caso o Airbnb. Como ele é um aplicativo que não possui lei ou parâmetros definidos
pelo Estado, ele está tomando conta de blocos de apartamentos e bairros, tornado
essas localidades estritamente comerciais e ao mesmo tempo “fantasmas”, por não
haver uma utilização do entorno público, já que quem geralmente aluga só está em
busca de acomodação e não necessariamente do entorno.

Além disso, foi colocado que devido ao crescimento deste tipo de comercialização, há
uma precarização nos serviços de hotéis e consequentemente na contribuição que
essas empresas devem fazer ao Governo por meio dos impostos específicos, se
tornando, assim, habitações mais baratas, mas ao mesmo tempo fruto de
transformações espaciais excludentes.
Ainda a respeito de edifícios, moradias e os papéis que eles cumprem no meio urbano,
Tamara pontua algo importantíssimo que está ligado diretamente com a revitalização,
restauração e melhora de prédios como forma de amenização da evasão proletária dos
centros da cidade e como uma questão de segurança, mas não significando
necessariamente uma gentrificação, indo quase que ao oposto dela, isto é, ao se
restaurar um prédio no centro ou áreas circundantes, a depender do poder público, se
ele torna a função desse prédio para uma questão social, acaba que investe na
camada vulnerável, inserindo-os na malha urbana e ao mesmo tempo impede que
aquele prédio sucateado seja local de perigo ou desastre. Dessa forma, não haverá
uma gentrificação pela tomada e melhora daquele edifício para pessoas em
vulnerabilidade social,

Ainda sobre a atuação do Estado e comentado por mim, Teresa Caldeira, de forma
indireta nos induz a refletir sobre o processo de gentrificação ao comentar
especificamente sobre o processo de segregação socioespacial na cidade de São
Paulo, em sua obra Cidades de Muros.

Na parte que tive acesso à esta obra, pude compreender que houve três momentos
diferentes de segregação socioespacial em São Paulo, sendo eles o primeiro referente
à segregação social, evidenciada pela diferença de moradia, pois a malha urbana se
construiu densa e num mesmo local devido as fabricas, já no segundo houve a
segregação socioespacial, processo que afastou a população pobre para as periferias,
formando as favelas e as zonas de vulnerabilidade socioambiental.

Neste segundo momento de segregação é onde se encaixa de fato a questão de


gentrificação, pois só houve a marginalização da camada proletárias devido às
diversas medidas estatais, daí a relação de omissão, contribuição maléfica e ineficácia
do Estado, pois ao passo que houve uma remodelação no centro e a instauração de
transporte público, praças, vias e outros tipos de infraestruturas, ele também favoreceu
a criação de Higienóplis, priorizando questões de saúde apenas para os ricos, além de
congelar aluguéis durante a crise que se seguiu na época, juntando todos esses
fatores que corroborassem com a impossibilidade dos custos elevados de terra e de
aluguéis nas localidades melhoradas, fazendo com que houvesse a segregação
provinda da gentrificação.

E em terceiro e último é referente aos “enclaves fortificados”, a intensa condominização


que São Paulo vem passando. Agora não se trata só da segregação socioespacial,
mas também da estrutural e da relação com o a marginalização do diferente, do público
e racial, já que esses condomínios se localizam nas periferias da cidade, alguns
próximos à grandes complexos de favelas. A questão que fica, é quanto tempo passará
até esses locais próximos começarem a sofrer uma gentrificação por causa desses
condomínios, devido à melhora de vias e calçadas, se tornando assim um efeito
dominó até a próxima característica de expulsão tomar conta e leva-los para outros
locais.
Além deste aspecto teórico, relevei a questão da experiência pessoal em relação à
minha própria cidade, Aparecida. Por ser uma cidade turística e religiosa, observa-se
uma supervalorização dos centro, da rodoviária e dos entornos das igrejas, já que há
predominância de movimento de romeiros, se tornando um local mais bem estruturado
pela prefeitura e estritamente de comércio e hotéis, tornando essas localidades
inacessíveis para outras pessoas, devido ao processo de gentrificação ao peregrino
temporário.

Assim como apontou Monique e Neri, que viveram em cidades turísticas e o processo
de norteamento dos espaços se dá na reformulação e melhora de locais que muitas
vezes nem precisam, mas são melhorados devido ao capital que ali gira para poucas
pessoas que detém comércios e hotéis nas orlas e nos centros históricos,
apresentando a cidade como eles queiram que seja vista, mas não em sua totalidade,
como se os problemas não existissem caso não fossem mostrados.

Também foi citado a gentrificação e segregação espacial em relação à altitude e


consequentemente ao clima, na relação entre El Alto e La Paz, possuindo uma
diferença de mais de 500 metros de altitude entre as duas. Estando ambas numa zona
montanhosa (Andes), a diferença condicionou o habitar, estando as classes mais
abastadas nas zonas mais quentes, no caso em La Paz, demarcando a territorialidade
como um aspecto de conforto e saúde em relação ao clima que lhes toca.

Podemos depreender então que o processo de gentrificação se dá e se apresenta nas


mais diversas formas e âmbitos do contexto social, associando-se ao Estado ou às
pessoas, mas sempre relevando a questão do dinheiro que impactará no local, e que
por sua vez influenciará na saída de pessoas sem condições de arcar com os novos
custos e padrões de vida elevados.

Entende-se que tal processo pode ser natural em razão da liberdade de investimento,
mas ao mesmo tempo o Estado possui direitos garantidores de amenização de
impactos, por mais que as ações sejam “livres” para se investir, mas acaba sendo um
tema capcioso, pois o próprio Governo possui seus interesses e interlocutores que
trarão suas perspectivas, modelando e rearranjando a espacialidade conforme índole e
ideal.

Portanto a luta por políticas públicas e assertividade na garantia de vida e da


amenização de vulnerabilidades se tornam questões totalmente relevantes para o
urbanismo e sua intervenção na construção da malhar urbana, pois só assim é possível
garantir o direito à cidade e à vida digna para as pessoas em vulnerabilidade
socioambiental.

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