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La Serva Padrona

La Serva Padrona, de Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736), foi


estreada em 1733 no Teatro di San Bartolomeo, em Nápoles. Trata-se de
uma obra musical dramática que, em rigor, não é uma ópera, relevando
antes do género dos intermezzi que eram executados nos intervalos das
óperas sérias. Na estreia, ouviu-se com Il prigioner superbo, do mesmo
autor.
A versatilidade e simplicidade formal dos intermezzi opunha-se à rigidez
formal e grandiloquência da ópera séria. Aqui, nada de assuntos retirados
da mitologia ou da História clássicas, tratados de forma convencional; nada
de cenários com falsa perspectiva, nada de máquinas e efeitos cénicos
espectaculares.
No caso de La serva padrona, temos apenas uma simples e divertida
história doméstica, com um desfecho rápido e previsível, tratada com um
mínimo imprescindível de meios musicais: apenas dois cantores, para os
papéis de Serpina e Uberto, e ainda um actor mudo, no papel do criado
Vespone. O efectivo instrumental está, no original, reduzido ao quarteto de
cordas e ao baixo contínuo.
A história de La Serva Padrona cruza-se, alguns anos mais tarde, e já
muito depois da morte de Pergolesi, com a maior polémica que agitou os
meios musicais franceses no período Barroco: a Querela dos Bufões:
Assim, em Agosto de 1752, uma companhia itinerante de bufões italianos
representa em Paris La Serva Padrona, no entreacto de Acis et Galatée de
Lully. Reacende-se a polémica entre os partidários da tradição lírica
francesa e os defensores do estilo buffo italiano. De um lado, os
aristocratas, com Rameau como símbolo; do outro, intelectuais e
enciclopedistas, como Jean-Jacques Rousseau. A polémica traduziu-se num
constante fluxo de panfletos entre os dois lados da disputa, e do campo
operático extravasou para a discussão de ideias estéticas, culturais,
filosóficas, e até políticas. Rameau defendia a solidez e complexidade da
harmonia na música francesa, enquanto Rousseau pugnava pela
simplicidade e naturalidade da ópera italiana. O partido francês combatia a
concepção da música como puro divertimento, o partido italiano atacava a
retórica de uma mitologia e de um classicismo que pouco diziam a um
público burguês. Em comum, a preocupação de dotar a ópera de uma força
dramática vigorosa e duradoura.
A obra é composta por dois intermezzi, cada um dos quais seria
executado num dos intervalos de uma opera seria. No primeiro, Uberto,
um solteirão, confronta-se com o comportamento arrogante de Serpina, sua
criada, que pretende ser tratada como patroa. Desesperado, Uberto pede a
Vespone que lhe arranje uma noiva. Serpina aprova, mas entende que é
com ela que o patrão deve casar-se, e que deve desde já ser tratada como

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patroa. O primeiro intermezzo termina com um duetto em que Serpina tenta
convencer Uberto a casar com ela, invocando todas as suas qualidades.
No segundo intermezzo, Serpina, com a colaboração forçada de
Vespone, e a fim de conquistar Uberto, inventa um pretendente: o temível
capitão Tempestade (representado pelo próprio Vespone), que
supostamente exige um dote para casar com Serpina. Se não o receber, não
casará, e se então Uberto não se casar com a criada, matará os dois. Uberto
aceita casar, e Vespone tira o bigode de disfarce. Uberto e Serpina acabam
por confessar o seu mútuo amor, e a criada alcança enfim o objectivo de se
converter em patroa.
O libreto é da autoria de Gennaro Maria Federico. Quanto a Giovanni
Battista Pergolesi, foi compositor, violinista e organista. Nascido em 1710
em Iesi, junto ao mar Adriático, e falecido de tuberculose em 1736 em
Pozzuoli, perto de Nápoles, com apenas 26 anos de idade, é um dos mais
importantes compositores italianos do período barroco. Estudou
inicialmente na sua cidade natal e mais tarde em Nápoles, no Conservatorio
dei Poveri di Gesù Cristo. A sua obra é vasta, relativamente aos poucos
anos que teve de vida, e abrange desde música de câmara até peças
religiosas, com destaque para o célebre Stabat Mater, composto no seu ano
terminal. Pouco reconhecido em vida, Pergolesi alcançará uma grande fama
depois da morte: vão-lhe ser atribuídas inúmeras obras que,
comprovadamente, não escreveu, e o Stabat Mater, publicado pela primera
vez em Londres em 1749, será a partitura mais vezes impressa durante o
século XVIII. Quanto a La Serva Padrona, e só em Paris (onde foi estreada
em 1746 no Teatro italiano, teve 100 representações na Ópera de Paris
entre 1752 e 1753, antes de passar à Comédie-Française, onde foi
executada 96 vezes.

Audição de “A Serpina penserete” (Ária di Serpina), de La Serva


padrona.
Tradução:

SERPINA
A Serpina penserete Em Serpina pensareis
Qualche volta, e qualche dì algumas vezes e alguns dias;
E direte: Ah! poverina, e direis: ah, pobrezinha,
Cara un tempo ella mi fu. em tempos quis-lhe muito
(Ei mi par che già pian piano (Parece-me que pouco a pouco
S'incomincia a intenerir.) se começa a enternecer....)
S'io poi fui impertinente, Se fui impertinente,
Mi perdoni: malamente perdoai-me. Mal
Mi guidai: lo vedo, sì. me portei, vejo-o, sim
(Ei mi stringe per la mano, (Aperta-me a mão,
Meglio il fatto non puo gir.) as coisas não podiam estar melhor.)

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