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CPF: 081.791.496-09
Belo Horizonte
2018
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APRESENTAÇÃO DA OBRA
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PRIMEIRO ENSAIO
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mentes. Não há momentos preparatórios. Não há momentos comuns. O milagre
da vida acontece o tempo todo.
Para ser um ser humano melhor, não é necessário nos esconder atrás de
religiões. A religião pode trazer para a instituição religiosa valores como a
necessidade de ser bom, sincero, justo e generoso, mas não pode trazer essas
virtudes para as nossas vidas. Cabe a nós mesmos a tarefa de nos conectar com
as nossas virtudes. Não é necessário pertencer a um grupo ou levantar símbolos
e cartazes para ser alguém melhor. Basta sermos mais sinceros com a gente
mesmo, basta olharmos para os nossos defeitos - a nossa arrogância, a nossa
soberba, o nosso preconceito, a nossa impaciência, a nossa vaidade ou o nosso
egoísmo, por exemplo - e ir nos despreendendo deles dia após dia.
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Não são poucas as pessoas que passam grande parte da vida correndo
atrás de uma satisfação financeira que costuma nunca vir. Diante disso,
deveríamos nos perguntar, de tempo em tempos, quem somos em meio a essa
bagunça que é o nosso dia a dia correndo atrás de nossos desejos? E de onde
nasceram esses desejos? Também devíamos frequentemente nos fazer
intimamente a pergunta: Qual é o meu lugar nesse mundo? Aos desejos de
quem eu estou servindo?
Vivemos procurando por algo inalcançável que nos traga maior satisfação
e um sentido maior para as nossas vidas, mas o sentido que buscamos
externamente está bem pertinho da gente o tempo todo. O sentido da vida é
estarmos vivos, algo tão simples e óbvio. Ainda assim, as pessoas permanecem
perdidas no turbilhão das suas tarefas do cotidiano, buscando adquirir cada vez
mais habilidades, mais recursos financeiros e mais reconhecimento social.
Vivem acumulando desejos supérfluos, que, no fundo, pouco sentido tem, até
mesmo pra si mesmas. O cotidiano das pessoas pouco as aproxima de uma
realização real. Assim, atravessam os anos ausentes de si mesmas e presas na
correria para a concretização dos seus incontáveis e constantes desejos.
Buscam ser alguém que não são; como se houvesse nesse mundo algo maior
a se alcançar do que a nossa simples e real presença... Como se houvesse
nesse mundo algo mais valioso a se expressar do que as nossas mais sinceras
e genuínas virtudes.
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SEGUNDO ENSAIO
Com o tempo, aparentar estar feliz e em paz passa a ser mais importante
do que, de fato, estar. Com o tempo, o prazer de aparentar ser algo que não
somos toma o lugar da satisfação de ocupar o nosso lugar real no mundo - um
lugar que, grande parte das vezes, não é um cenário perfeito, muito menos
confortável.
Mas por que essa fuga de quem somos? Por que ocupar o nosso lugar
no mundo não é o bastante? Será que existe algo de legítimo nessa busca por
demonstrar satisfação pessoal na vida? Se há, em que momento e por que
desacreditamos de alcançá-la em nossa própria vida, a ponto de tentar recriá-la
em um mundo falso? Será que é por que, quando crianças, tínhamos uma ideia
de um mundo justo, perfeito e equilibrado e fomos obrigados a lidar com a
frustração de uma realidade imperfeita? Será que não encaramos, de fato, as
desilusões, abandonos, desapontamentos e as dores que encontramos pelo
caminho em nossa vida e preferimos, assim, deixá-los de lado para nos esconder
atrás da imagem da vida gostaríamos de ter, recriando um personagem sempre
novo, mesmo que vazio?
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A lembrança da nossa própria morte seria capaz de nos despertar de
nossas ilusões? Se fôssemos capazes de realmente refletir sobre o fato de que
vamos morrer, tomando esse fato como uma sentença e não como uma ideia
vaga, essa lembrança da morte teria o poder de colocar cada coisa em seu lugar,
fazendo com que as mentiras que contamos para nós mesmos viessem à tona?
Nós não pensamos na nossa própria morte e, quando pensamos, isso não
passa de uma idéia vaga. Não refletimos verdadeiramente sobre a nossa própria
morte. Nós não sentimos que vamos morrer. A morte carrega para nós algo de
pesado e negativo. É certamente doloroso pensar na morte quando sabemos,
no fundo, que não estamos experimentando a vida verdadeiramente. É doloroso
lembrar que vamos perder a vida que nunca nos permitimos vivenciar por inteiro.
Mas lembrar que vamos morrer, não se sabe quando, nem onde, deveria nos
fazer despertar.
Assisti àquele filme infantil que trata do tema da morte - "A Noiva Cadáver"
- junto com uma criança de seis anos. A criança percebeu algo intencional no
filme. Ela me perguntou por que é que no desenho os vivos parecem mortos e
os mortos parecem vivos. Os vivos são cheios de formalidades, vaidades,
aparências e confusões. Os mortos são muito mais leves e aparentam estar
muito mais satisfeitos consigo mesmos, exceto a noiva cadáver, que levou para
a morte fatos trágicos e ilusões de quando estava viva. Na história, tudo flui para
que a noiva cadáver liberte-se, não realizando o seu desejo, mas libertando-se
das ilusões do mundo dos vivos.
Como podemos correr o risco de alimentar ilusões sobre nós mesmos das
quais não podemos nos libertar nem com a lembrança de que nós, e todas as
pessoas que conhecemos, vamos morrer? Ela, a morte, a nossa única certeza
absoluta é também o nosso mistério mais vivo. É a única capaz de nos manter
realmente acordados durante a vida para cumprir com os nossos mais íntimos
objetivos e missões nessa terra. Morte e vida andam lado a lado. Não sabemos
o dia, mas vivemos com a certeza de que a ampulheta do tempo está correndo.
E é a lembrança da morte que poderia nos faz despertar para o porquê de
estarmos aqui nesse mundo, por esse curto período.
TERCEIRO ENSAIO
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Aos poucos vamos percebendo de que não somos a imagem que fazemos
de nós mesmos. Nós não somos o turbilhão de pensamentos que diariamente
passa por nós, nem esse vendaval de emoções que nos atordoa - nós somos a
consciência que presencia isso tudo. Somos uma consciência sem forma
definida e independente de quaisquer condicionamentos externos. Somos uma
consciencia livre.
Eu não vim ao mundo para sustentar uma imagem que não sou. Eu não
vim para carregar rótulos ("quem" que tornei, quais são as minhas capacidades,
o que conquistei, como aparento estar e viver...). Eu não vim para rotular os
outros. Eu não vim para acumular mais dinheiro do que o suficiente para atender
às minhas necessidades básicas, nem vim para deixar que a minha vida
financeira (ou pela falta, ou pela vontade de ter mais do que tenho) comandem
a minha conduta ou me tragam preocupações a ponto de me desviar do que
realmente importa nessa vida. Eu não vim a esse mundo para achar que os
outros precisam ser ou deixar de ser de algum modo, ou pensar de determinada
maneira. Vim a esse mundo para aprender com cada professor que aparecer
nessa jornada e respeitar as escolhas de cada um. Eu não vim a esse mundo
para preservar uma ideia fixa sobre as coisas, mas para observar e rever os
meus pensamentos e as minhas crenças a cada dia. Eu não vim a esse mundo
para me esconder atrás de dogmas religiosos e nem vim para usá-los para
justificar a minha conduta, embora eu seja livre para frequentar e escolher
qualquer doutrina, ideologia ou religião. Eu não vim a esse mundo para passar
a vida trabalhando exaustivamente e excessivamente para adquirir coisas, sem
me questionar se é essa a minha missão nesse mundo.
Eu sei que vou tropeçar e que vou me esquecer. Eu sei que vou me
identificar e vou querer correr atrás de uma felicidade fictícia, numa tentativa de
encontrar nela a minha razão de ser. Sei que vou me perder diversas vezes. Mas
sei, também, que sempre será possível retornar ao meu lar, esse lugar dentro de
mim onde não há predefinições de quem eu devo ser ou o que devo sustentar
diante dos outros. Há somente uma vontade de viver e de realizar nesse mundo
o que há de melhor em mim.
QUARTO ENSAIO
Muitos de nós foram criados para ter medo de muitas coisas; para nos
afastar das situações possam nos fazer sofrer. Aprendemos muito cedo a nos
esconder da dor. Mas as dores serão inevitáveis e só atravessando desafios é
que conseguimos conhecer a nossa força interior. A coragem tem muito a ver
com a fé, mas não "fé" no sentido religioso da palavra, e sim aquela confiança
no desconhecido que precisamos assumir no momento em que decidimos tomar
coragem para agir.
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barreiras que possam surgir, não facilita a viagem, mas apenas a prolonga.
Inclusive, no caminho aparentemente mais fácil podem estar escondidas várias
armadilhas do destino.
A vida não é uma linha reta. Não é possível fazer um mapa de viagem da
vida porque os cenários mudam e o destino também. É preciso maturidade
emocional para realmente aceitar que a vida é feita de tempos bons e tempos
ruins. E é preciso coragem para acreditar que, durante os dias ruins, seremos
capazes de nos redescobrir e nos fortalecer. Por muito tempo tentei antecipar
vários cenários como se isso fosse me trazer segurança. Eu queria que tudo
saísse como eu havia planejado. Com o tempo fui percebendo o quanto essa
atitude interna me impedia de desfrutar da vida com leveza e, principalmente,
com a fé necessária para deixar que ela siga seu fluxo.
Li uma vez que a palavra coragem vem da raiz latina "cor", que significa
"coração" e isso deu todo sentido às descobertas que eu estava fazendo em
relação à busca da força e da coragem dentro de mim, para enfrentar os
obstáculos de outrora. Hoje, compreendo que ser corajoso é aprender a viver
com o coração. A cabeça tenta antecipar cenários, numa tentativa de evitar a
possibilidade de sofrimento. Ela acaba, assim, restringindo as nossas
possibilidades de ação. O coração se coloca em prontidão para enfrentar
riscos e para lidar com as possíveis dificuldades que aparecerem.
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demasiadamente as nossas atitudes - sem deixar que elas nos paralisem, diante
de todas as possibilidades de falha. Pois essas sempre existirão.
QUINTO ENSAIO
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A dor aparece para nos lembrar que algo não está bem. A dor nos conecta
com a nossa verdade interna e externa. Quando fazemos escolhas pensando
em fugir da dor, ou mesmo quando optamos por não escolher, mas
simplesmente fingir que o problema não existe, é aí que ele nos segue como
uma sombra.
Sentir as nossas dores é o que nos faz fortes o suficiente e nos impulsiona
a remover os obstáculos que as desencadearam. Fugir da dor é recusar o
aprendizado que ela nos oferece. Nunca fui de ter medo de sofrer. Meu receio
sempre foi não aprender com o sofrimento, não fazer boas escolhas só pelo
medo das consequências. Mas hoje, mais do que nunca, percebo a importância
de varrer a sujeira que está debaixo do tapete. Isso evita que a gente acabe
arrastando situações mal resolvidas por semanas, meses, anos, ou pelo resto
da vida. E é o espaço que essas situações mal resolvidas, ainda que pequenas,
ocupam em nossas vidas, que nos impede de colocar a atenção plena no agora
e de vivenciar a vida por completo.
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SEXTO ENSAIO
A maioria das pessoas quer realizações apenas pra si, pois o fracasso
dos outros é pra elas a confirmação de que elas estão bem. É assim que muitas
pessoas avaliam se estão alcançando objetivos significativos: É olhando a
própria satisfação e comparando com a satisfação das pessoas ao redor. E, se
por acaso elas tem a sensação de que as pessoas ao redor estão crescendo
mais do que elas em determinada área da vida, isso faz com que elas deixem de
olhar para áreas de maior abundância em suas vidas e as faz olhar para o que
lhes falta.
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O sentimento de inveja vem de uma cegueira em relação às próprias
perspectivas. As pessoas, ao enxergarem as realizações do outro, fecham os
olhos para as próprias realizações, sentem-se vazias e manisfetam a inveja.
Quando nós não torcemos para o crescimento alheio, é porque estamos
conectados com a sensação de incapacidade própria. É essa mesma sensação
de incapacidade, com a qual entramos em contato quando sentimos inveja,
que alimenta as nossas crenças limitantes de fracasso. E essas crenças
assombram o nosso inconsciente e impedem que sigamos seguros em busca de
nossos objetivos.
Às vezes, para realizar algo que nós nos determinamos a fazer, é preciso
transcender muitas vozes que, “gratuitamente”, dizem que não é possível, sem
ao menos ter tentado. Mas não é necessário que você despenda energia
entrando em conflitos com as ideias dessas pessoas. A maior parte das pessoas
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que desestimulam você estão paralisadas pelo medo e pela sensação de
fracasso pessoal, e não percebem isso. Aceite as pessoas ao redor e a trajetória
delas, com maturidade e compreensão. Quando puder perceber isso com
clareza, você vai ser grato, de verdade, às pessoas que duvidaram de você. No
fundo, era delas mesmas que elas estavam duvidando e apenas
inconscientemente projetaram isso em você. Estar diante da cegueira delas
ajuda a enxergar com mais clareza as suas próprias crenças limitantes. E apenas
enxergando as suas próprias bairreiras internas é que podemos encará-las de
frente, com racionalidade e objetividade.
Uma vez que você se aproximou do que quer realizar em sua vida, é bom
estipular metas e traçar estratégias para concretizar. Quando você está
buscando realizar o que o seu coração deseja, cada caminho desse percurso
valerá a pena. Você não mais estará centrado nos resultados ou no
reconhecimento social que isso irá lhe proporcionar, mas na própria
concretização. Quando fazemos o que amamos e o que sentimos como
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propósito do nosso ser, a ansiedade e o medo tem bem menos forças sobre
nós... nós nos perdemos no tempo enquanto fazemos o que amamos.
Durante o percurso, é preciso estar ciente de que você pode não alcançar
aquilo que estabeleceu como meta. Mas será que, por causa disso, você deve
parar de tentar? Será que você deve não dar tudo de si? Pensar assim, é
escolher o fracasso sem ao menos ter participado da batalha. Aliás, o verdadeiro
fracasso acontece quando agimos em prol do que acreditamos.
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Além disso, ao fim e ao cabo de tudo, é isto que nos traz satisfação
pessoal: o nosso aprendizado e a nossa consciência em relação àquilo que
fomos capazes de fazer, com a força e as ferramentas que tínhamos - e não as
medalhas recebidas. As medalhas são para os outros. Você não precisará delas
e quem te apoia e conhece a sua luta também não. O que você leva para sempre
da batalha é a força adquirida. Já as medalhas, quando são conquistadas, com
o tempo acabam enfiadas no fundo de alguma gaveta.
SÉTIMO ENSAIO
Muitas vezes o mundo não nos acolhe e desde criança trata o que
trazemos dentro como algo sem valor. Muitas vezes o mundo se mostrou
completamente hostil. Muitas vezes nós mesmos acabamos desacreditando de
traços e virtudes nossos que não foram bem acolhidos pelo mundo,
principalmente na infância, e acabamos deixando de ser quem somos para ser
quem o mundo quis que fôssemos.
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o espaço vazio deixado pela perda de contato com o nosso ser essencial. Talvez
seja por isso que, muitas vezes, vemos muita autoconfiança, onde há pouco
amor-próprio, vemos muita auto-suficiência e arrogância onde há, no fundo,
muita necessidade de afeto ou muita insegurança.
Muitos dos traços que sustentamos são como balões inflados e parecem
estar ali apenas para preencher o vazio. São como defesas que criamos ao longo
da vida. Como somos incapazes de dar aquilo que não temos, começamos todos
a nos relacionar como mendigos. No fundo sentimos que estamos vazios, que
nos falta algo. Porém, não nos damos conta de que o que falta está dentro, e
não fora. Quando o amor próprio não está presente, quando estamos
insatisfeitos, infelizes e perdidos dentro de nós mesmos, os nossos
relacionamentos (seja com amigos, família, parceiro) são baseados nas
cobranças, nas expectativas, na culpa e na possessividade.
No fundo, é o lado ruim de nós mesmos que nos faz capaz de enxergar o
lado ruim dos outros. E é o lado bom de nós mesmos que nos faz capaz de
enxergar o lado bom dos outros. O outro é o nosso espelho. Por isso é que a
nossa conexão com o o próximo através do amor, analogamente, só pode partir
do reconhecimento de nossos defeitos e da a aceitação plena da nossa
imperfeição. Assim, pouco a pouco, aprendemos a acolher também o próximo
em sua totalidade.
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OITAVO ENSAIO
Aprendendo a meditar
Esse processo parece muito simples, mas nem sempre acontece dessa
forma. Às vezes permanecemos sentados na posição da meditação que fazemos
e os pensamentos incessantes logo nos tomam. Quando percebemos, estamos
‘vivenciando” uma verdadeira novela dentro de nossas mentes - imaginando
situações ou lembrando de coisas passadas. Então, tentamos mais uma vez
trazer a atenção para a sensação do corpo... e simplesmente nos damos conta
de que não somos capazes de sentir plenamente o corpo.
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a consciência do corpo. Entrar em contato com a percepção do corpo parece
algo difícil, a princípio. Podemos passar anos em meditação achando que
estamos sentindo o corpo, quando na verdade estamos quase que apenas
"pensando nele", sem saber. Por isso, meditar para algumas pessoas passa a
ser visto como algo muito difícil. De fato, meditar, principalmente no princípio,
não costuma ser algo confortável.
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percebendo com clareza “o que eu não sou”, é que é possível me aproximar do
que sou.
Após muitos anos praticando meditação, percebemos que o que nos tira
do momento presente são coisas da "mesma natureza". Um dia alguém ofende
o seu ego e aquela lembrança, assim como as emoções provenientes dela, irão
te visitar frequentemente nos dias seguintes. E sempre haverá algo durante a
vida que vai tirar a sua atenção. O exercício repetitivo de não se identificar com
esses pensamentos, sejam pensamentos “bons” ou “ruins”, e trazer a atenção
para o agora pode trazer algumas percepções e experiências muito inusitadas.
Essas experiências, mesmo quando fazem muito sentido para nós,
internamente, podem não despertar a necessidade de relatar aos outros. A
meditação parece ser um caminho solitário. Com o passar dos anos praticando,
um sentido interior para a vida começa a se formar. E quando você entra em
contato com esse lugar dentro de você, o externo passa a não ter a mesma
intensidade e a mesma importância que tinha, pois agora você conhece também
uma outra realidade, diretamente conectada a essa "realidade externa", mas que
não está presa a ela.
À medida que você se torna capaz de tirar um pouco a sua atenção desse
processo incessante de pensamentos e emoções e de colocar essa atenção no
corpo e nas percepções de si mesmo no momento presente, esses processos
automáticos mentais e emocionais acalmam de forma muito natural. Por isso,
não é necessário, e muito menos recomendável, lutar contra os pensamentos.
Qualquer luta seria inútil e prejudicial. Eles não são inimigos. Aliás, estar diante
dos pensamentos, vendo esse processo de pensar e nos dando conta do modo
como nos identificamos com eles em nossa vida é o que pode gerar em nós o
discernimento necessário para que nos conectemos com a nossa consciência
plena.
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com as quais frequentemente nos deparamos. Sendo assim, à medida que
passamos a olhar para dentro e a acompanhar de perto esse processo,
observando como se dão os nossos fluxos diários de emoções e pensamentos
– como medos, angústias, arrependimentos e culpas – e à medida que nos
damos conta do quanto esses aspectos estão relacionados às janelas da
memória e do inconsciente, uma nova possibilidade se abre para nós – a
possibilidade de nos colocarmos de uma maneira nova e ativa diante dos nossos
obstáculos internos decorrentes de reminiscencias de situações já vividas.
A meditação não trata o seu passado, nem o seu futuro. Meditar é estar
aqui e agora. Mas o passado e as expectativas e preocupações em relação a
futuro sempre nos visitam durante a meditação. Eles fazem parte do processo
natural da mente. O passado e o seu futuro são puramente ilusórios. Eles só
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existem dentro de nossas mentes. Só o agora é real. Estamos acostumados a
olhar para o presente através das neblinas das nossas preocupações e
lembranças, mas se você se aproximar melhor dos seus pensamentos e se você
começar a percebê-los repetidas vezes durante a meditação, naturalmente irá
alcançar a percepção de que eles são ilusórios. Talvez nesse momento você
sinta necessidade de rir de toda a importância que você dá a eles no dia a dia.
Toda a importância que você dá a algo que você criou.... que não faz parte da
realidade nesse momento.
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Aprender a alcançar a verdadeira compreensão de que nós não somos o
processo ininterrupto de funcionamento da mente e das emoções que ocorre
dentro de nós, mas sim a pura consciência que presencia todos esses
processos, é o primeiro passo para nos colocar inteiramente livres para nos
conectar com a nossa vida no presente de uma maneira mais plena.
NONO ENSAIO
A Luz está em toda parte, mas, por nem sempre conseguirmos enxergá-
la em toda parte, vamos ao templo. As paredes do templo, construídas com
determinada angulação, em alguns momentos, possibilita que o reflexo da luz
chegue aos nossos olhos. Pode ser que o "templo" que eu visite seja o meu
próprio corpo em meditação, pode ser um retiro, uma oração, o contato direto
com a natureza, uma prática espiritual, a busca do silêncio interno. O templo é
tudo que me faz entrar em contato com essa luz. Não importa qual seja o templo
que eu visite e não importa que as paredes de cada templo reflitam a luz de uma
maneira... a luz continua sendo uma só. A luz não está ligada ao templo. As
paredes do templo apenas a refletem. Diante da luz, o próprio templo é
insignificante.
Se eu busco olhar para a Luz apenas através do seu reflexo nas paredes
do templo que eu frequento, deixarei cada vez mais de enxergá-la em toda parte.
Enquanto faço isso, continuarei ignorando a grandiosidade da luz. Enquanto
estivermos apegados ao caminho que escolhemos, estaremos caminhando na
escuridão. As nossas experiências espirituais acontecem a partir de uma relação
com algo que não é deste mundo e não tem nenhuma relação de dependência
com nada daqui. Às vezes, ir ao templo pode ser necessário. Às vezes, escolher
um caminho pode ser necessário. Mas há momentos em que o que deve ser feito
é destruir as paredes do templo, parar de olhar para o reflexo e começar a olhar
diretamente para a Luz.
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DÉCIMO ENSAIO
Alumbramentos da Noite
A noite tem uma estratégia para nos envolver. Com o passar das horas,
ela vai mesclando pouco a pouco a imensidão do seu vazio ao silêncio da
alma. No silêncio da noite, quando diminuem as vozes, tanto as exteriores
quanto as vozes interiores, ela começa a cochichar verdades sobre nós mesmos
nos nossos ouvidos. Quando escurece lá fora, é possível enxergar com mais
clareza o nosso mundo interior. Quem foge do escuro da noite, foge de si
mesmo. Quem não se sente bem em meio à escuridão da noite é quem habituou-
se a olhar somente pra fora. A noite nos interioriza.
Não importa que a barulheira do dia nos atordoe e nos distraia, a noite
sempre encontrará uma maneira de nos despertar, por dentro. A gente pode
olhar com contemplação para o brilho das estrelas e para a lua, mas se não
estivermos prontos para acolher a noite e permitir que ela nos inunde com o seu
silêncio, o seu vazio e a sua escuridão - se não estivermos prontos para
anoitecer junto com ela - não estaremos verdadeiramente prontos para
contemplar o mistério da nossa própria existência.
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