9 de julho de 2012
Ricardo da COSTA
Sidney SILVEIRA
(ISBN 978-85-98472-23-2).
Resumo : O presente artigo analisa a doutrina do Aquinate sobre a morte do ser
humano. Inicia-se com uma breve contextualização histórica e social da noção da
morte na sociedade medieval para, a seguir, abordar, o tema a partir das
perspectivas teológica (a morte do homem como um castigo decorrente do
pecado original) e ontológica - e por fim , trata ainda acerca da imortalidade da
alma humana, devido a sua intrínseca incorruptibilidade.
Assim, tinha tempo para preparar o seu ritual coletivo, pois a boa morte cristã deveria
ser lenta, nunca súbita.2 Nessa morte preparada, ninguém morria só. O trespasse desse
mundo se transformava em festa, momento máximo da amizade entre os homens, do
convívio social e, sobretudo, da confirmação dos votos vassálicos.3 Todos
acompanham a passagem do moribundo para o além - inclusive as crianças, suas e dos
seus.4 Todos contemplavam o fim do corpo e como a morte é justa, pois iguala os
diferentes em vida.
Mas cabe indagar: qual o lugar, nessa sociedade eminentemente analfabeta, para os
escritores, os pensadores? O que diziam sobre a morte? Como esse era um tema
presente no imaginário de todos os medievais, era natural que muitas páginas tenham
sido escritas por eles, já que, na Idade Média, os homens viviam para morrer . Para a
nossa breve análise deste tema tão caro aos medievais, selecionamos um pensador,
talvez, o maior de sua época, Tomás de Aquino (1225-74), cuja obra, embora tenha se
alimentado da seiva comum das verdades da fé cristã, alçou -se muito acima do seu
tempo, buscando, pelo viés filosófico, a conciliação entre a fé e a razão.
Por esta razão, é conveniente destacar que, segundo Tomás de Aquino, o ato
propriamente humano orienta-se pela vontade15, a qual é movida pela razão.16 Sendo
assim, como é natural no homem agir com algum grau de conhecimento do fim em
vista do qual idade, de qualquer um dos atos só pode dizer-se “bom” ou “mau” quando
for voluntário, pois uma ação involuntária - não movida pelo apetite racional (expressão
com que o Doutor Angélico designa a vontade) - não pode ser considerada boa ou má
sob o aspecto moral.17
Aqui nos deparamos com o cerne desta primeira linha mestra: a morte humana como
conseqüência do mal moral , que a tradição judaico-cristã convencionou chamar de
“pecado original”, um ato de livre escolha para cuja execução ocorreu o concurso da
razão e da vontade .
Para Santo Tomás, a vida eterna não é outra coisa senão a própria bem-aventurança18 à
qual o homem foi destinado a Deus. Contudo, para alcançá-la, se requer dele a retidão
da vontade19, que tem a sua consecução na liberdade e, por isso, o Aquinate afirma que
é essencial para qualquer pena (e a morte, para ele, é uma pena, decorrente do pecado
original) ser contrária à vontade20 e, por conseqüência, à liberdade, que é o seu
sucedâneo.21
A segunda linha orientadora deste escrito se configura no plano ontológico. Uma das
dificuldades de abordar o tema da morte em filosofia e, mesmo em teologia, é que se
trata do evento único na vida humana não suscetível de se transformar em experiência .
Como frisa Aristóteles, muitas recordações de uma mesma coisa chegam a constituir
uma experiência.34 Mas como seria possível recordar de algo irrepetível, justamente o
episódio singular que põe fim à existência? Henrique de Lima Vaz salientea que duas
coisas concorrem para qualquer tipo de conhecimento e, particularmente, o filosófico: a
anámnesis (recordação) e nóesis (pensamento).35
Por isso, a morte pode tão-somente ser pensada, testemunhada, observada, etc., mas
nunca será um experimento, passível de verificação posterior, e isto faz dela,
necessariamente, um mistério para qualquer campo de conhecimento.36Na melhor das
hipóteses, o homem está condenado a ter um simulacro de experiência da morte, a
partir da que sobrevém aos seus semelhantes. Como frisa José Ignácio Murillo, a
resposta ao enigma da morte acaba por se dar, geralmente, no âmbito da religião.37Mas
isto não implica dizer que a filosofia não pode dizer nada a respeito do fato
inquestionável da finitude da vida. E o Aquinate o faz.
Para Santo Tomás, a morte pode ser natural com respeito ao corpo, mas não é com
respeito à alma. Na tentativa de dimensionar o problema da morte humana como
sendo a do corpo , em Tomás de Aquino, lembramos o seguinte: ontologicamente, o
mal físico que decorre da corrupção do corpo e faz o homem sofrer e, cujo grau
máximo, é a morte, com a destruição conseqüente do corpo, não é a negação de um
bem possível, mas a privação de um bem natural, isto é, de uma perfeição devida à
natureza de determinado ser, como diz Leonel Franca.38
Por esta mesma razão, não é um mal físico para uma pedra não ter pernas, pois
naturalmente não as têm. Nela, não ter pernas é negação; mas no homem, não tê-las é
privação de um bem específico, integrante de sua natureza.39 Para Leonel Franca, a
morte não entrou no mundo pela corruptibilidade intrínseca (e filosoficamente
inquestionável) da matéria, mas por uma iniciativa infeliz do espírito, o qual perdeu o
dom de preservar a matéria da corrupção.40
Neste horizonte, ele considera o perfectivo próprio do homem , segundo a alma, como
algo incorruptível, pois a operação própria do homem é o conhecimento intelectivo,
segundo o qual ele se diferencia dos animais irracionais. “Ora, o conhecimento
intelectivo tem por objeto os universais e os incorruptíveis como tais. Como as
perfeições de um ser são proporcionadas aos sujeitos perfectíveis, também a alma será
incorruptível ”.42
O filósofo argumenta medieval contra os que dizem que a alma separada do corpo não
efetiva nenhuma operação, dizendo que há operação da alma humana, como a
intelecção e a volição, que independem da situação.43 Para Santo Tomás, o intelecto
apreende a coisa abstraindo da matéria, que é princípio da individuação, o que não
acontece com os sentidos, pois estes se referem às coisas particulares, e o intelecto
chega aos universais pela abstração da matéria individual44, pois, enquanto o intelecto
elabora o conceito universal de “homem” e de “cadeira”, os sentidos captam apenas
este homem e esta cadeira.
Todavia, como a substância intelectual, no caso do homem, está unida ao corpo, alguns
filósofos anteriores ao Aquinate pensaram que todas as operações da alma humana
beneficiam às operações do corpo, ou ainda que a união corpo / alma não era
substancial, mas acidental - como Platão nos induz a concluir, com uma proposição
famosa de que a alma se encontra no corpo como o piloto em seu navio e, por isso, a
alma apenas se serve do corpo - como faz o piloto com o navio, no sentido de que este
o conduza ao seu fim.49
Tem-se aqui um esboço sumário da doutrina tomista sobre a morte humana50, a qual se
respalda na perspectiva teológica - a da morte como decorrência do pecado original - e
se consuma na análise da estrutura ontológica da alma racional, em duas (dentre as
várias) obras em que Santo Tomás aborda o tema, com diferentes relatos acerca da
impossibilidade de sua extinção, pelo fato de ser intrinsecamente incorruptível e
subsistente.
2. Além disso, nenhuma coisa corrompe-se naquilo que constitui a sua perfeição,
porque as mudanças para a perfeição e para a corrupção são contrárias. Ora, a
perfeição da alma humana consiste em certa abstração do corpo. Com efeito,
aperfeiçoa-se a alma humana pela ciência e pela virtude, pois, pela ciência, tanto mais é
aperfeiçoada quanto mais considerações como coisas imateriais, e a perfeição da
virtude consiste em o homem não seguir como paixões corpóreas, mas em refreá-las e
temperá-las pela razão. Logo, a corrupção da alma não consistirá em ela separar-se do
corpo.
4. Além disso, o perfectivo próprio do homem segundo a alma é algo incorruptível, pois
uma operação própria do homem, enquanto o homem, é o conhecimento intelectivo,
segundo o qual ele se diferencia dos animais, das plantas e dos corpos inertes. Ora, o
conhecimento intelectivo tem por objeto os universais e os incorruptíveis como tais.
Como as perfeições de um ser são proporcionadas aos sujeitos perfectíveis, também a
alma humana é incorruptível
Notas
1. Georges DUBY, O ano mil . Lisboa: Edições 70, 1986, p. 80-83.
2. A melhor narrativa sobre a morte na Idade Média é ainda, a nosso ver, o
pequeno livro de Georges DUBY, Guilherme Marechal, ou o melhor cavaleiro do
mundo (Rio de Janeiro: Graal, 1987). Também cabe ressaltar que, para toda a
tradição assentada desde o protocristianismo, a morte lenta é bem vista, por ser
uma oportunidade de santificação para a alma, que, no sofrimento, torna-se capaz
de se voltar para Deus. Por sua vez, a morte súbita era temida na medida em que
reduzia como chances de arrependimento do pecador, chances para que
meditasse sobre os seus pecados e os confessasse a Deus, representado pelo
sacerdote in persona Christi .
3. G. DUBY, “Quadros”. In : G. DUBY, Georges e Ph. ARIÈS, (dir.). História da vida
privada 2. Da Europa feudal à Renascença . São Paulo: Companhia das Letras,
1990, p. 65-66.
4. Ph. ARIÈS, Sobre a História da Morte no Ocidente desde a Idade Média . Lisboa:
Teorema, 1989, p. 24
5. G. DUBY, Damas do século XII. A lembrança das ancestrais . São Paulo:
Companhia das Letras, 1997, p. 20-21.
6. E. LE ROY LADURIE, Montaillou. Cátaros e católicos numa aldeia francesa - 1294-
1324 . Lisboa: Edições 70, s / d, p. 282.
7. G. DUBY, Guilherme Marechal ou o melhor cavaleiro do mundo . Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1987, p. 10
8. E. LE ROY LADURIE, op. cit ., p. 289.
9. G. DUBY, “Quadros”, op. cit. , p. 95
10. Llibre dels fets del rei en Jaume . Barcelona: Editorial Barcino, 1991, vol. II, I, 34-
38, p. 6
11. Heitor MEGALE, “Apresentação”. In: HÉLINAND DE FROIDMONT. Os Versos da
Morte. Poema do século XII. São Paulo: Editorial Ateliê, 1996, p. 09
12. HC de LIMA VAZ, Escritos de Filosofia I - Problemas de Fronteira . São Paulo:
Edições Loyola, 1998, p. 37
13. “Tardiloquum te esse iubeo et tarde ad locutorium accedentem”. TOMÁS DE
AQUINO - De modo studendi , § 3 (tradução para o português do filósofo Paulo
FAITANIN [Uff], em versão ainda não editada, gentilmente cedida pelo autor).
14. Suma Teológica, Biblioteca de Autores Cristianos (BAC ), p. 34. Santiago
Ramírez, em outra edição da Suma Teológica da BAC, afirma de modo semelhante
que na Primeira Parte da Suma , Tomás de Aquino apresenta Deus em si mesmo
- um em essência e trino em pessoas -, além de criador, conservador e governador
de todas as coisas; na Segunda Parte , investiga e analisa os meios adequados
para conduzir como criaturas racionais e livres à posse do fim último e supremo
que é Deus, assim como os objetivos e tropeços que podem apartá-las desse
ditoso fim; e, na Terceira Parte, assinala o caminho que conduz a Deus, na pessoa
do Cristo. Vide TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Salamanca: Biblioteca de
Autores Cristianos (BAC), 1947, Introdução, p. 2-3.
15. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , Iª IIª, q. 1. a. 1, Resp .; Suma Teológica ,
Iª IIª, q. 6. a. 1., Resp.
16. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , Iª IIª, q. 9. a. 1. Para Tomás de Aquino,
não tocante como suas operações, a vontade humana, que ontologicamente é
perfeita para querer o bem, pode dizer-se imperfeita quando a razão, que a
alimentação, está em erro e leva o agente a inclinar-se a um bem (ou falso bem)
que lhe seja impróprio (“Praecedit igitur in voluntate peccatum accionis defectus
ordinis ad rationem”, Suma contra os Gentios , III, cap. 10, 9. A edição que
compulsada no trabalho é a editada em Caxias do Sul, pela Escola Superior de
Teologia São Lourenço de Brindes, 1990. A tradução desse texto é de lavra de D.
Odilão de Moura OSB e D. Ludgero Jaspers OSB.
17. TOMÁS DE AQUINO, Suma contra os Gentios , III, cap. X, 6.
18. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , I, q. 64. a. 2, Resp.
19. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , Iª IIª, q. 4. a. 4. Ressalve-se que, embora
necessária à beatitude ou bem-aventurança, a retomada é apenas um ponto de
partida, pois, para o Aquinate, a bem-aventurança é uma operação da parte
intelectiva da alma humana, porque, após alcançá -la, a vontade repousa e como
que pára de querer, pois se move buscando o fim somente quando este não está
presente. Assim, a essência da bem-aventurança consiste em um ato do
entendimento (ver Suma Teológica, Iª IIª, q. 3. a. 4), quando a vontade gozosa
descansa no fim já conseguido. A infelicidade máxima, em contrapartida, é a
impossibilidade formal de alcançar a bem-aventurança, caso dos demônios e dos
condenados à pena eterna, que tanto mais obrigado porque neles ainda requer
uma necessidade natural à virtude e o desejo de beatitude. Eis a situação aflitiva
dos condenados ao inferno: trata-se da permanência do apetite racional do bem,
associada à impossibilidade de alcançá-lo. Ver Suma Teológica , Iª IIº q. 85. a. 2,
Ad.3.
20. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , I, q. 94. a. 3, Resp.
21. Ao longo da Prima Secundae da Suma Teológica , há uma explicação
circunstanciada das causas que anteriores o “ato livre”: a razão é causa formal do
ato livre humano, enquanto os paixões do apetite sensível influenciam sobre uma
maneira pela qual o objeto se apresenta à vontade. Por fim, a vontade é movida
em função do fim que persegue, que é uma beatitude perfeita, o bem supremo que
é Deus. Veja Jean-Pierre TORREL, OP Iniciação a Santo Tomás de Aquino - sua
pessoa e sua obra . São Paulo: Edições Loyola, 2004, p. 285.
22. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , I, q. 94. a. 4
23. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , I, q. 48 a. 6
24. Há um consenso entre pensadores de orientação tomista de que como
paixões diminuem a liberdade humana, pelo ofuscamento da razão, embora os
atos continuem sendo voluntários. Neste sentido, diz-se que o ato propriamente
humano (voluntário e racional) pode não se dar em sua perfeição, por
impedimentos próximos ou remotos. Os impedimentos próximos serão: a )
cognoscitivos (ignorância, inadvertência, erro e esquecimento); b ) volitivos
(concupiscência, medo, paixões e hábitos); c ) executivos (violência). Já os
impedimentos remotos seriam: a ) naturais (temperamento, caráter, propriedade,
idade e sexo) b ) patológicos (neurastenia, histeria, epilepsia, etc.); c )
sociológicos (educação, ambiente social etc.). Antonio Royo MARIN. Teología
moral para seglares . Madrid, (BAC), 1957, p. 49-65.
25. Dado que para o Doutor Angélico, uma culpa consiste em um ato desordenado
da vontade, e a pena, na privação de algumas coisas de que a vontade se utiliza
para operar, Santo Tomás diz que a culpa tem maior razão de mal do que a pena ,
sendo esta uma dada privação da graça e da glória. Suma Teológica , I, q. 48 a. 6
26. TOMÁS DE AQUINO, De Malo , q.1, a.1, Resp.
27. TOMÁS DE AQUINO, A unidade do intelecto contra os averroístas . Lisboa:
Edições 70, 1999, p. 47; e ARISTÓTELES, De anima , II, 1, 412 b.
28. Para Santo Tomás, nas procissões divinas, tudo o que procede do Verbo se
chama geração. Mas ele adverte que usa o termo em dois sentidos: no primeiro,
trata-se da passagem do algo do não-ser ao ser, chamada criação; no segundo,
trata-se da origem de um ser vivente a partir do seu princípio vital e de movimento.
Este último tipo de geração, dá o nome de nascimento. (“Sciendum est quod
nomine generationis dupliciter utimur. Uno modo, communiter ad omnia
generabilia et corruptibilia, et sic generatio nihil aliud est quam mutatio de non
esse ad esse. Alio modo, proprie in viventibus, et sic generatio significat originem
alicuius viventis a principio vivente coniuncto. Et haec proprie dicitur nativitas ”).
Ver Suma Teológica , I, q. 27. a. 2. Resp.).
29. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , I, q. 90. a. 2. Resp. (“Respondeo
dicendum quod anima rationalis non potest fieri nisi per creationem”).
30. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , I, q. 90. a. 4. (“Anima autem, cum sit
pars humanae naturae, non habet naturalem perfectionem nisi secundum quod est
corpori unita. Unde non fuisset conveniens animam sine corpore creari”). O
Aquinate ressalta que, sendo o homem um composto de forma e matéria, no qual
a alma é (a única) forma substancial, esta só está em estado de perfeição
enquanto unida ao corpo, embora possa subsistir de modo imperfeito sem ele, por
ser incorruptível. Por esta razão, não seria congruente que a alma fosse criada
antes do corpo, mas juntamente com ele, porque Deus cria tudo sempre
complementar à perfeição. Ela não recebe o existir antes de estar unida ao corpo
(“Non igitur competit naturae ordini quod anima fuerit prius creata a corpore exuta,
quan corpori unita”,Suma Contra os Gentios , II, cap. 83, 1660).
31. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , Iª IIª, q. 85. a. 5. (“... per peccatum primi
parentis sublata est originalis iustitia, per quam non solum inferiores animae vires
continebantur sub ratione absque omni deordinatione, sed totum corpus
continebatur sub anima absque omni defectu, ut in primo habitum est”).
32. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , III, q. 2. a. 2. Anúncio. 3
33. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , I, q. 48 a. 6
34. ARISTÓTELES, Metafísica , I, 1, 981a.
35. “A filosofia assume como tarefa pensar tematicamente o seu próprio passado
- anámnesis e nóesis - e nesta rememoração pensante, reinventar os problemas
que deram origem” - Marcelo PERINE (org.). Diálogos com a cultura contemporânea
- homenagem ao Pe. .Henrique C. de Lima Vaz , São Paulo: Edições Loyola, 2003, p.
66
36. Mesmo a Medicina, embora tão próximo do fenômeno da morte, não pode
fazer dela uma “experiência”, no sentido aqui, pois todos os seus avanços dizem
respeito antes de tudo à preservação da vida e da saúde humana, sendo a morte,
justamente , a frustração de todos os seus esforços.
37. José Ignacio MURILLO. El valor revelador de la muerte - estudio from Santo
Tomás de Aquino . Navarra: Cuadernos de Anuario Filosófico de la Universidad de
Navarra. 1999, p. 13
38. Leonel FRANCA. A psicologia da fé - O problema de Deus . São Paulo: Edições
Loyola, 2001, p. 316.
39. José Ignacio MURILLO, op. cit ., p. 55: “La naturaleza (...) no es otra cosa que
la realidad irredutível de algo, en cuanto principio de actividad. En el caso del
hombre, la naturaleza es la unión de un alma espiritual con un cuerpo that
necesita to llevar a cabo su actividad propia, entendre ”.
40. Leonel FRANCA, op. cit ., p. 327
41. TOMÁS DE AQUINO, Suma contra os Gentios , II, cap. 79, pág. 1599.
42. TOMÁS DE AQUINO, Suma contra os Gentios , II, cap. 79, pág. 1601.
43. TOMÁS DE AQUINO, Suma contra os Gentios , II, cap. 79, pág. 1624.
44. TOMÁS DE AQUINO, Suma contra os Gentios , II, cap. 82, pág. 1641 e 1642.
45. TOMÁS DE AQUINO, Suma contra os Gentios , II, cap. 91
46. É importante observar que, para o Aquinate, não ser humano as operações
anímicas do entendimento e da vontade não são a mesma coisa do que se passa
com os anjos. Enquanto as primeiras, de acordo com Santo Tomás, são passíveis
de demonstração racional, quanto aos anjos, propriamente, o Angélico antigo que
a sua existência não é demonstrável pela razão humana, mas uma verdade de fé
ratificada pela autoridade das Escrituras, embora um seja dado razoável e
fundamentalado, mas não o termo de uma demonstração filosoficamente
necessária. Santo Tomás afirma que os anjos são realidades intermediárias entre
Deus e as criaturas corpóreas, e estão sempre em movimento porque estão
“sempre entendendo”. Ver TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica , I, q. 50 a. 1
47. TOMÁS DE AQUINO, Suma contra os Gentios , II, cap. 96, 1812.
48. TOMÁS DE AQUINO, Suma contra os Gentios , II, cap. 55, 1306-1307.
49. No artigo intitulado “Tese de Platão sobre a união da alma intelectiva com o
corpo” (Positio platonis de unione animae intelectualis ad corpus), na Suma
Contra os Gentios (II, 57, 1326), Santo Tomás cita ad tertium a tese de Platão de
que a alma está no corpo como o marinheiro no navio, concluindo que, sendo
assim, a união de ambos se daria por um contato apenas virtual, mas não
substancial. Cumpre observar, contudo, que não obstante esta diferença
ontológica fundamental, que resultará em teses diametralmente opostas, como a
de que a alma é mais perfeita e conhece melhor quando despojada do corpo
(Platão), e a de que a alma humana, sem o corpo , subsiste de modo imperfeito
(Santo Tomás), há aproximações entre os dois filósofos. Uma delas consiste na
tese - desenvolvida n'A República - de que os machos próprios de cada ente os
corrompe. Mas, no caso da alma humana, o seu mal, que é o vício, por maior que
seja, não a destrói nem a corrompe, pois, mesmo na maldade, a alma continua a
existir. Por isto, se a alma não pode ser destruída pelo mal do corpo, que lhe é
totalmente alheio, nem pelo seu próprio mal, que é o vício, ela será, portanto,
indestrutível. Ver, PLATÃO, A República , 610-611a.
50. Com respeito à morte dos animais irracionais, o ponto de vista de Santo
Tomás é totalmente diverso, pois a alma deles, para o Angélico, não sendo capaz
de efetivar nenhuma operação sem a intermediação de algum órgão corporal, é
necessariamente, mortal, e se extingue juntamente com o próprio corpo deles.
51. Edição citada, vol. I, p. 319.