Infelizmente, depois da época dos Padres o rito foi perdendo grande parte da
sua transparência, impondo-se mais pela grande intensidade cerimonial que havia
assumido, passou a apresentar-se na pratica como realidade em si mesmo sagrada e
sacralizante , com valor salvífico objectivamente activo: como algo que contem a graça
que se achava simplesmente à espera de ser administrada, distribuída e aplicada para os
vivos e defuntos. A Liturgia não é mais momento nem razão da teologia e volta a ser –
como havia acontecido no Judaísmo – aquilo que ela traz inserido no seu nome:
operação sagrada. Em outras palavras a Liturgia terá sempre , no mistério de Deus em
Cristo, o seu conteúdo essencial(objectum formale quod). Agora, porem, ela so o
possuira para transmiti-lo operativamente, isto é, de tal modo que a accao liturgica não
mais será teologia ou seja, não será mais vista como revelação actual e experimental
(objectum formale quo) da fé.
A voz de Beauduin é ouvida e acolhida por outras vias e com outra amplitude no
ambiente que se forma em torno do Movimento Litúrgico de que se torna centro a
Abadia de Marialaach na Alemanha. É aí que encontramos a primeira tentativa real de
dar à Liturgia o seu estatuto teológico próprio.
materialismo cultual. Assim para que que se produza uma vida espiritual nova é preciso
voltar–se para uma profunda vida interior , orientada para a imitação de Cristo, e que se
deve alcançar através da meditação e da oração pessoal. É o verdadeiro chamado
Individualismo religioso (a salvação não é tanto obra alcançada através dos mistérios de
Cristo (Sacramentos), que realizam o mistério de Cristo total, que é a Igreja, mas é
resultado de um esforço psicológico. A devotio moderna não pretendia abolir a Liturgia
mas transformar a Liiturgia em meditação para voltar a ser aquilo que devia ser.
Por seu lado Lutero defende a abolição da Liturgia a fim de restituir capital
importância a Palavra de Deus (meditação). Segundo Lutero a pregação ou o sermão é a
única cerimonia e o único exercício de culto que Cristo instituiu para que neles os
cristãos se recolham, se exercitem e se mantenham devotos.
É esta questão que ficará como principio para uma compreensão finalmente
teológica da Liturgia.
Teologia da Liturgia
Não existe ainda uma Teologia da Liturgia mas começa-se a descobrir elementos
dela e sobretudo o estudo das fontes litúrgicas vai redescobrir uma riqueza de
pensamento que obriga a uma reflexão que será já não mais só histórica a mas também
teológica .
Em 1909 se engajou pela causa da Liturgia que tinha caído em desuso e pelo
seu renovamento. Pouco antes da sua profissão solene, ensinou dogmática que
aprofundou no âmbito da relação entre Teologia e Liturgia. Esta missão o acompanhará
durante toda a sua vida. De entre os vários projectos nos quais estava empenhado de
1910 a 1914, estavam as sessões de Liturgia para sacerdotes, sacristãos, cantores e
também para os leigos.
Teologia da Liturgia
Em 1914 publicou a obra a piedade da Igreja em Mont Cesar, Lovaina. Esta obra
publicada sucessivamente em várias línguas é na verdade uma grande carta que levou a
Liturgia às raízes mais profundas e a alavancou. É também por assim dizer uma
declaração pública do Movimento Litúrgico.
Visão Teológica
Assim propõe:
Dada a Ignorância dos fiéis se tornava necessária uma reeducação destes sobre
aquilo que a Igreja ensina por meio de ritos sagrados. Não é uma questão de cerimónias,
é mais profundo. Consiste n facto de que, tendo perdido o sentido do sagrado, dos
dogmas da comunhão dos santos, etc. A constatação, sem dúvida, é suficientemente
sincera para compreender que não se trata de um trabalho fácil e tanto menos rápido.
Visão Eclesiológica
Na pessoa de Cristo, Deus constitui a Igreja, uma raça, um povo, para fazer-nos
partícipes da sua vida interior. Há uma relação entre Cristo e a Igreja: pelo seu mistério
de redenção Cristo forma a Igreja que é o seu Corpo místico. A leitura das cartas de
Paulo e o estudo dos trabalhos preparatórios do Concilio Vaticano II levam-no a pensar
na noção de Corpo místico de Cristo.
fundador a missão de transmitir a vida divina. Esta missão responde à vontade de Deus
de conduzir os homens à redenção através do seu próprio Filho.
Jesus Cristo antes de subir aos céus, fundou a Igreja de modo que fosse sinal da
sua presença e dispensadora da sua graça.
Visão Litúrgica
A Liturgia é vida da Igreja. O Povo cristão deve abeirar-se desta fonte que é a
Liturgia, rezar com ela, falar a sua língua. Insiste na dimensão celeste e terrestre da
oração litúrgica para mostrar a totalidade do culto da Igreja. A participação dos fiéis na
Teologia da Liturgia
grande oração da Igreja é necessária para que se tenha uma verdadeira piedade litúrgica.
A piedade dos fiéis se torna sólida e autentica quando se alimenta da oração litúrgica da
Igreja. Sem a Liturgia a oracao individual desemboca facilmente nas devoções que não
são essenciais à mesma experiência litúrgica, sacramental e espiritual.
A Igreja é vista como uma sociedade hierárquica na qual vive uma única
autoridade que regulamenta a liturgia e o culto. A natureza do culto se estabiliza sob
plano natural e se baseia na relação do homem com Deus.
Teologia da Liturgia
unitário e vital – já que ela é vida misticamente vivida-do homem –Deus que se faz
caminho para o Pai, quanto a forma , que se apresenta como acção unitária de palavra e
de rito numa celebração que inclui oração, sacrifício e transmissão de graça.
Isto leva Guardini a concluir que a Liturgia como teologia não só se diferencia
de todos os ramos de conhecimento cientifico natural ., mas ainda dentro da teologia
tem o seu método próprio de pesquisa. Deb facto ele a considera como ciência teológica
em sentido estrito que se ocupa da doutrina da fé tal como se acha conscientizada na
Igreja pela própria vida cultual. Para Guardinia a Liturgia é pois Teologia mas segundo
modalidade própria que consiste em ver e conhecer o conteúdo da fé na manifestação
que ele tem da vida cultual da Igreja.
A forte afirmação de Guardini, que faz da Liturgia uma teologia com sentido e
método próprios, foi melhor actualizada, no mesmo ambiente de Maria Laach em que
nascera sobretudo graças à accao de Odo casel (1886 -1948), para o qual a Liturgia, se
no seu exercício é realização do mistério de Cristo, como ciência nada mais é do que
Teologia do próprio mistério de Cristo
Com os seus escritos fez uma reflexão teológica fundamental acerca do sentido
da Liturgia cristã e as suas relações com a figura antropológica do culto.
Neste seu escrito deteve-se na analise atenta das tendências muito exclusivas,
que ele identificou em três perigos presentes no Movimento litúrgico:
Teologia da Liturgia
-O Practicismo
-O Delentatismo litúrgico
Por outro lado falou da relação simbólica que seria propriamente a relação alma
e corpo. O símbolo nasce quando qualquer coisa de interior, de espiritual, encontra a sua
expressão no exterior , no corpóreo; como quando como na alegoria, qualquer
realidade espiritual é arbitrariamente ligada ao exterior na correspondência de qualquer
coisa de material (ex. Justiça – balança). Aquilo que é interior deve traduzir-se
vitalmente no exterior , como necessidade que flui da sua essência. Assim, o corpo é
símbolo natural da alma.
Sendo a Liturgia uma realidade de vida, não se pode aproximar dela como a um
objeto para explicar, como se fosse um elemento isolável e depois analisável. Não é
suficiente sequer uma investigação histórica privada da paixão hermenêutica .
A atenção é virada para a formação que pode ser considerada o núcleo vital do
interesse de Guardini pela Liturgia.
Todos os seus escritos estão ligados mais ou menos directamente com o tema
central da doutrina do mistério.
Teologia da Liturgia
O culto cristão foi acima de tudo a actualização real da mesma obra de redenção
sob o véu dos ritos e dos símbolos da Liturgia. Os Monges de Maria Laach baptizaram
esta presença da obra redentora nos actos de culto com o nome de mistériorio, uma
expressão de rico conteúdo e de gloriosa história na tradição da Igreja. De facto
mistério quer dizer acção concreta que torna presente uma acção passada.
Porem não foi usado somente o tema misterio mas também outros termos como
memorial, celebração, presença de Cristo, que exprime aspectos fundamentais do
mistério, tornando possível uma leitura teológico-litúrgica do evento salvífico
celebrativo.
A obra de Casel pode ser dividida em três principais períodos que indicam três
diversas e distintas fases da sua pesquisa e da sua posição diante dos críticos.
Para Odo Casel Liturgia não é apenas culto ritual com função comunitária, que
ao lado da profissão de fé e da lei moral cristã se coloca como terceiro elemento dentro
do contexto da Igreja. O seu objectivo especifico e primordial é na verdade, o de ser
acção que torna objectivamente presente toda a obra salvifica de Cristo. Isso quer dizer
que a obra salvifica de Cristo quando se torna presente na celebração litúrgica, não é
simplesmente artigo de fé que os fiéis creêm mas também e sobretudo realização da fé
segundo uma determinada forma simbólica –ssacramental(litúrgica); consequentemente,
faz-se teologia verdadeira e autentica quando se procura ter conhecimento dessa obra
salvífica no e pelo símbolo ritual que a contem e a revela em nível de realidade capaz de
produzir efeito.
Também para Casel, como já acontecera com Guardini, não se trata mais de uma
teologia daLiturgia, que consiste em descobrir na teologia as verdades de fé com que,
em nível de ciência, a teologia se ocupa, e que a esta deveriam ser encaminhadas para o
seu enriquecimento. Em Casel se delineia e se afirma com energia verdadeira a Teologia
Liturgica ou seja um modo novo de fazer Teologia, isto é, modo não só iluminado e
esclarecido pela liturgia, porém fundamentado nela.
Segundo Casel a Teologia nasce da Liturgia como experiência de fé. Esse modo
de encarar as coisas era fruto da concepção mistérica que ele tinha da Liturgia.
Casel rejeita a Teologia dogmática do seu tempo porque segundo ele é incapaz
de entender a Liturgia. Daí a sua intenção em imprimir mudanças na Teologia de modo
que a Teologia só é tal quando é Teologia Litúrgica.
Teologia volta a ser o que era na origem: τεολογια,ou seja, um falar concreto e factivo
de Deus de Deus.
Casel afirma que o mistério é o próprio Deus, Jesus Cristo e a Igreja, a qual o
homem não pode aproximar-se sem morrer. Trata-se do homem na sua condição
limitada que reconhece diante de Deus a sua miséria, a sua impureza e o seu pecado,
como refere o profeta Isaías: “sou um homem de lábios impuros”(Is 6,5). Trata-se de
Deus segundo o Antigo Testamento. No mistério da revelação, Ele não se manifesta
ainda plenamente ao mundo profano, mas se esconde, manifestando-se somente aos
eleitos, aos crentes e justo. A essência de Deus, superior ao criado e ao próprio tempo,
transcendente e imanente, sustém as suas criaturas na virtude da sua presença universal.
O cume será alcançado no momento em que este propósito será completado com
a vinda na forma humana, do seu amantíssimo filho, ao contrário da lei hebraica que
mostrava com rigidez os confins (limites) entre Deus e o homem.