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em Situação
de Emergência
Contextualização Histórico-Social
Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Cássia Souza
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Contextualização Histórico-Social
• Introdução;
• Fundamentos Históricos da Psicologia das Emergências;
• Desastres, Emergências e Catástrofes;
• Importância dos Órgãos de Controle e Fiscalização;
• Contribuições da Psicologia nas Emergências e Desastres.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Contemplar aspectos que fundamentam historicamente a psicologia das emergências;
• Definir conceitos primordiais como desastres, emergências e catástrofes;
• Apresentar a importância dos órgãos de controle e fiscalização, como a defesa civil.
UNIDADE Contextualização Histórico-Social
Introdução
Não é incomum sermos envolvidos por inúmeras notícias sobre casos dos mais
diversos tipos de eventos adversos, que levam a emergências e a desastres. Tais
eventos podem ser exemplificados como o terremoto no Haiti e no Chile, no início
de 2010, as inundações na Austrália, no final de 2011 e início de 2012, o sismo e
o tsunami ocorridos na Ásia, em 2004, e o furacão Katrina, nos EUA, em 2005.
Um dos desastres não naturais que abalaram o país foi o acidente aéreo que acor-
reu em 1996, com o Fokker 100 da TAM, que registrou 99 óbitos (DESASTRESA-
EREOS, 1996). Outro desastre foi a colisão aérea do Boeing 737 com a aeronave
Embraer Legacy 600, que entre a tripulação e os passageiros, foram constatadas
154 mortes, sem nenhum sobrevivente (DESASTRESAEREOS, 2006). Ou o aci-
dente com mais mortes na história da aviação brasileira, o acidente do Airbus 3054,
que no pouso encontrou problemas ao frear e ultrapassou o limite da pista, colidindo
contra um prédio da TAM Express e um posto de gasolina. Os 187 passageiros e tri-
pulantes a bordo e 12 pessoas em solo morreram. Houve uma mobilização nacional
e desencadeou-se a crise “apagão aéreo”, em que foi criada, inclusive, CPI no Senado
Federal (SENADO, 2007).
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estados do Maranhão e Piauí e, em 2010, em Alagoas e Pernambuco, e que acar-
retaram grandes prejuízos humanos e materiais com grandes dimensões (MELO;
SANTOS, 2011).
Outro evento adverso ocorrido no Brasil foi a tragédia da boate Kiss, em 2013,
uma das experiências mais dolorosas que marcou a história do estado do Rio Grande
do Sul, no município de Santa Maria. Um incêndio que ocasionou 242 óbitos e cen-
tenas de vítimas ficaram com sequelas graves (DE FREITAS et al., 2013).
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UNIDADE Contextualização Histórico-Social
Dessa forma, como salienta Paranhos e Werlang (2015), o foco nas necessidades
psicológicas das vítimas de emergências e de desastres possibilitou para a Psicologia
uma nova área de atuação, trazendo assim a necessidade de uma capacitação por
parte dos profissionais para a atuação e para o planejamento das intervenções em
situações de emergência, desastres e catástrofes.
Dessa forma, esta unidade tem por objetivos apresentar aspectos que fundamen-
tam historicamente a Psicologia das Emergências, definindo conceitos primordiais
como desastres, emergências e catástrofes, bem como a importância dos órgãos de
controle e fiscalização. Para tanto, abordaremos os seguintes tópicos:
• Fundamentos Históricos da Psicologia das Emergências;
• Desastres, Emergências e Catástrofes;
• Importância dos Órgãos de Controle e Fiscalização;
• As Contribuições da Psicologia nas Emergências e Desastres.
Fundamentos Históricos
da Psicologia das Emergências
Até o século XX, poucas eram as pesquisas desenvolvidas na área de emergências
e desastres. Os trabalhos iniciais versavam sobre a Psiquiatria e a Segunda Guerra
Mundial, objetivando diagnosticar as reações das pessoas diante de um desastre,
devido a, nessa época, trabalharem com a ideia de uma guerra nuclear (ASSIS;
FERREIRA, 2013).
O primeiro estudo da história das emergências e desastres foi realizado pelo suíço
Edward Stierlin. Ele foi um médico psiquiatra que teve um dos seus trabalhos publicados
em 1909, buscando compreender as emoções das pessoas que vivenciavam um desas-
tre. O trabalho foi desenvolvido com familiares das vítimas de uma explosão nas minas
de carvão, na França. Incidente no qual mais de mil mineiros não sobreviveram. Apesar
de pouco divulgado, esse primeiro ensaio possibilitou entender as questões relacionadas
às emoções das pessoas que estiveram envolvidas em desastres (COGO et al., 2015).
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No entanto, a primeira pesquisa científica da área data do ano de 1920, desen-
volvida por Samuel Prince, em Hallifax, Canadá. Seu trabalho foi de um desastre
marítimo ocasionado pela colisão entre dois navios, um deles carregando explosivos,
provocando um tsunami na Nova Escócia (COELHO, 2006).
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UNIDADE Contextualização Histórico-Social
O início dos anos 2000 foi marcado por uma série de movimentos do Conselho
Federal de Psicologia para o desenvolvimento da área de atuação em emergências e
desastres, e, segundo os registros, o I Congresso União Latino Americano da Psico-
logia – ULAPSI – aconteceu em 2005, em São Paulo (TRINDADE; SERPA, 2013).
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Em 2006, ocorreu o I Seminário de Psicologia das Emergências e dos Desastres,
em Brasília, organizado pela Secretaria Nacional de Defesa Civil, em conjunto
com o Conselho Federal de Psicologia. Neste mesmo evento, houve a 1a Reunião
Internacional por uma Formação Especializada em Psicologia das Emergências e
dos Desastres, procurando sintetizar as diretrizes curriculares que deveriam compor
a formação dos futuros profissionais em Psicologia, preparando-os para atuar junto
à Defesa Civil. A segunda edição do evento (II Seminário Nacional de Psicologia
em Emergências e dos Desastre) aconteceu em 2011, também em Brasília, quando
foi criada a Associação Brasileira da Psicologia em Emergências e Desastres
(ABRAPEDE), tendo por intuito ajudar a desenvolver o trabalho dos psicólogos nessa
área (TRINDADE; SERPA, 2013).
Desse modo, fica evidente que a Psicologia vem promovendo atividades para
auxiliar nos casos de emergências e desastres, direcionando a atenção para o tema,
oferecendo congressos e seminários com o objetivo de unir profissionais com inte-
resse em abordar e aprender sobre este campo. No entanto, mesmo com todas as
discussões produzidas em torno dessa área de atuação e das pesquisas já realizadas,
podemos observar pouca expressividade no contexto da realidade brasileira, care-
cendo ainda de muitos estudos. Assim, conhecidos alguns aspectos históricos, faz-se
importante pensarmos sobre os conceitos de desastre, emergências e catástrofes.
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UNIDADE Contextualização Histórico-Social
Será que esses termos são realmente usados como sinônimo na área das emergências e
desastres? Qual a importância prática em fazer uma distinção entre esses acontecimentos?
Apesar de o senso comum, muitas vezes ter o hábito no uso indiscriminado des-
sas palavras, elas se referem a situações diferentes, que trazem consigo uma série de
características que nos dão a possibilidade de enquadrar tais termos adequadamente.
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que interfere com as atividades em andamento de certas pessoas envolvidas (as vítimas)
e causa certa crise em outras pessoas periféricas (PUY; ROMERO, 1998). Esses auto-
res entendem ainda como acidente um tipo de ruptura muito localizado em um grupo
específico de vítimas, mas não nos níveis sociais da maior população.
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UNIDADE Contextualização Histórico-Social
desses. Dessa forma, o autor coloca as emergências como situações que poderiam
ser resolvidas com serviços assistenciais locais, tanto de médicos como de resgate
(exemplo: acidentes de tráfico). Já os desastres têm uma proporção maior e exigiriam
maior infraestrutura devido à falta de serviços locais, ou à magnitude excessiva do
evento para prestar auxílio aos feridos que se encontram em maior quantidade, bem
como já existe um grau de destruição em uma área maior, ocasionando, assim, um
custo socioeconômico mais elevado. E as catástrofes podem ser chamadas de “de-
sastre maciço”, em que as consequências destrutivas são mais generalizadas, afetam
um maior número de pessoas e bens materiais e, portanto, envolvem um grande
esforço por parte das instituições públicas e/ou privadas dedicadas à ajuda e à pro-
teção das pessoas afetadas em todo o território nacional. Por isso, são consideradas
os eventos mais graves nesta escala.
Importante!
Como está o seu entendimento até esse tópico? Se tiver alguma dúvida, releia o texto
ou procure o seu tutor. É muito importante que você obtenha total entendimento para
poder prosseguir com seus estudos.
O moral: disposição de espírito para agir com maior ou menor vigor diante de circuns-
tâncias difíceis.
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tendendo a reduzir a incidência de desastres ou minimizar os danos e
prejuízos consequentes deste. (BRASIL, 2008 apud MELO; SANTOS,
2011, p. 174)
A Defesa Civil tem como um dos princípios uma atuação integrada (articulação
intersetorial). Essa articulação só é possível por meio de ações coletivas junto à rede
social (escolas, unidades básicas de saúde, associações de moradores e organizações
não governamentais, entre outros) e à rede socioassistencial (benefícios, serviços,
programas e projetos).
Importante!
A intersetorialidade pode ser compreendida como uma articulação de saberes e experi-
ências no planejamento, implementação e avaliação de ações para lidar de maneira in-
tegrada com os problemas sociais de uma determinada localidade visando uma gestão
social que atue diretamente no desenvolvimento social.
Ou seja, é uma atuação de maneira integrada da Defesa Civil com a saúde, a edu-
cação, a habitação, a defesa civil, as comunidades, os voluntários e as organizações
não governamentais. As principais organizações não governamentais parceiras na
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UNIDADE Contextualização Histórico-Social
Você Sabia?
Você poderá consultar essas Organizações não governamentais digitando seus nomes
em sites de pesquisa. Confira!
A Defesa Civil foi uma das grandes responsáveis pela ampliação da participação
da Psicologia das Emergências e dos Desastres, atentando para a importância da
atuação dos psicólogos nos ciclos de gestão preconizadas pela Defesa Civil, a saber:
a prevenção de desastres, a mitigação do desastre, a preparação para emergências
e desastres, a resposta aos desastres e a reconstrução (BRASIL, 2010). Essas temá-
ticas serão abordadas no tópico subsequente.
Você pode saber mais sobre o trabalho da Defesa Civil, acessando a página da Secretaria
Nacional da Defesa Civil em: https://bit.ly/30gDsB5
Kessler et al. (2006), por exemplo, desenvolveram uma pesquisa com o objetivo
de estimar o impacto do furacão Katrina nas doenças mentais e no suicídio, compa-
rando os resultados de uma pesquisa pós-Katrina com os de uma pesquisa anterior.
Participaram da pesquisa pós-Katrina 1043 pessoas. Como resultado, foi observado
que os participantes da pesquisa pós-Katrina tiveram uma prevalência estimada sig-
nificativamente mais alta de doença mental grave do que os participantes da pesquisa
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anterior (11,3% após o Katrina versus 6,1% antes) e doença mental leve-moderada
(19,9% após o Katrina versus 9,7% antes).
A primeira fase é a prevenção, e tem como intuito evitar que o desastre aconteça,
e/ou atenuar as consequências. A mitigação é a fase de minimização dos desastres,
ou seja, a “diminuição ou a limitação dos impactos adversos das ameaças e dos de-
sastres afins (ESTRATÉGIA, 2009, p. 21). Em algumas situações, é impossível fazer
uma prevenção completa das ameaças, nesses casos, procura-se atuar de forma a
diminuir consideravelmente sua escala e severidade.
Cabendo ao psicólogo, nessas duas fases, uma atuação voltada para a capacitação
da comunidade por meio de uma psicoeducação, para o reconhecimento do risco e
adoção de medidas de segurança, realização de um mapeamento de áreas de riscos,
determinação do grau de vulnerabilidade sociais da comunidade e implementação de
projetos que visem à diminuição dessas vulnerabilidades (RAMÍREZ, 2011; SOUZA,
2012). Segundo Ramírez (2011), quando as pessoas estão informadas sobre seus
riscos, sensibilizadas e capacitadas para oferecer apoio, são capazes de responder
adequadamente, minimizando o impacto do evento em sua saúde mental.
A etapa de preparação tem por objetivo otimizar a comunidade frente aos de-
sastres para atuar em casos emergenciais. Nessa fase estão incluídos os sistemas de
alerta antecipado, que são considerados elementos fundamentais, pois evitam a per-
da de vidas e diminuem os prejuízos e os impactos econômicos e sociais decorrentes
dos desastres. A atuação do psicólogo deve ser a de auxiliar as comunidades no
planejamento, no estabelecimento e estruturação de planos de contingência, reserva
de equipamentos e de suprimentos, desenvolvimento de rotinas para a comunicação
de riscos, capacitações e treinamentos; e os exercícios simulados de campo.
Importante!
Sistema de alerta antecipado é a transmissão rápida de dados que acionem mecanismos
de alarme em uma população previamente treinada para reagir a um desastre.
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UNIDADE Contextualização Histórico-Social
Já a fase da resposta, que ocorre durante o desastre, tem por intuito principal am-
parar e auxiliar vítimas, traçando intervenções para a redução dos danos causados e
estruturando os sistemas que são importantes para o funcionamento da comunida-
de. As atuações podem se dar em três etapas:
• Pré-impacto: acontece entre a ameaça da ocorrência e o desencadeamento do
desastre. O foco de atuação será o treinamento de resposta e a construção de
um plano de emergência;
• Impacto: refere-se ao momento em que a situação adversa está acontecen-
do. Uma atuação importante são os planos de controle hospitalar para as
pessoas vulneráveis;
• Pós-impacto: situação posterior à fase de impacto. Momento em que as ações
estão centradas nas atividades assistenciais e de reabilitação, tendo em conta os
impactos psicológicos de todas as pessoas envolvidas (vítimas de primeiro grau
e as equipes de resgate) (BRASIL, 2010; COELHO, 2012).
Esse tópico será abordado em maiores detalhes nas unidades subsequentes, in-
clusive com apresentações de casos práticos com as intervenções realizadas e o
desfecho de eventos com repercussões mundiais. É importante que fique claro que
a atuação da Psicologia nos casos de emergências e desastres deve ter por trás uma
estratégia, não sendo uma atuação isolada, mas fazendo parte de equipes multidisci-
plinares, levando sempre em consideração o ambiente e as contribuições de outras
áreas de conhecimento (SOUZA, 2012).
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Estudos de Psicologia
BRAGA, A. P. A.; MARTINS-SILVA, P. O.; AVELLAR, L. Z.; et al. Produção
científica sobre psicologia dos desastres: Uma revisão da literatura nacional.
Estudos de Psicologia, v. 23, n. 2, p. 179–188, 2018.
Estudos de Psicologia
SCHMIDT, B.; CREPALDI, M. A.; BOLZE, S. D. A.; et al. Saúde mental e
intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19).
Estudos de Psicologia (Campinas), v. 37, p. e200063, 2020.
Caderno de Graduação
PAULINO, A. F.; SANTANA, F. G. F. A atuação do psicólogo frente às emergências
e desastres. Caderno de Graduação. v. 5, p. 16, 2018.
Vídeos
Diálogo Digital Atuação da Psicologia – Emergências e Desastres
https://youtu.be/ZMByE5RFoek
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UNIDADE Contextualização Histórico-Social
Referências
ASSIS, L. D. F.; FERREIRA, C. I. Gerenciamento de crise: a psicologia atuando em
situações de emergências e desastres. 2013. Disponível em: Acesso em: 20/07/2020.
22
KRAEMER, B.; WITTMANN, L.; JENEWEIN, J.; SCHNYDER, U. 2004 Tsunami:
long-term psychological consequences for Swiss tourists in the area at the time of the
disaster. Australian and New Zeland Journal of Psychiatry, v 43 n 5, 420-5, 2009.
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UNIDADE Contextualização Histórico-Social
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Psicologia em
Situações de
Emergência
Psicologia das Emergências: Do Preparo Técnico
à Compreensão do Comportamento Humano
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Cássia Souza
Psicologia das Emergências: Do
Preparo Técnico à Compreensão do
Comportamento Humano
• Introdução;
• Saúde Mental Frente ao Contexto das Emergências;
• O Atendimento Psicológico em
Emergências e os Vários Tipos de Settings;
• O Comportamento Humano e Resposta ao Estresse.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Abordar questões importantes sobre o papel do profissional da saúde mental, especifica-
mente do psicólogo, frente ao contexto das emergências, bem como o preparo técnico;
• Contextualização do setting terapêutico (clínico x emergencial), além de compreender o
comportamento humano frente a situações de desastres.
UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
Introdução
Iremos apresentar a você quais as possibilidades de atuação do profissional de
saúde mental frente ao contexto de situações de emergência. Para isso, é importante
iniciar alguns conceitos básicos sobre o que é saúde mental e como se pode preser-
vá-la diante de situações com elevado nível de estresse e sofrimento. Posteriormente,
serão apresentadas as habilidades técnicas do profissional de saúde mental, bem
como o atendimento psicológico e o setting terapêutico.
No entanto, situações como essas podem nos levar a uma sensação de perigo
iminente ou que ameaça a nossa integridade física, social, econômica e emocional,
podendo gerar muito medo, ansiedade, tristeza, depressão, ou qualquer outro desa-
juste ou desequilíbrio emocional.
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Entretanto, mesmo sabendo da importância indispensável da atenção psicosso-
cial em situações de emergência, apenas nos últimos anos é que se começou a
prestar atenção a este tipo de intervenção, englobando ações não só para enfrentar
o quadro físico, mas também as questões psíquicas e emocionais nesses contextos.
(SÁ; WERLANG; PARANHOS et al., 2008)
Diante desse cenário, nota-se que tal conceito ainda se faz complexo na literatura
psiquiátrica e das ciências psicológicas.
• Assim, qual seria a melhor forma de trazer esse conceito, para que a partir dele pudéssemos
estabelecer práticas eficientes que corroborassem para a real promoção da saúde mental
no contexto das emergências e desastres?
• As situações de emergências e desastres por si só já são carregadas de profundo sofrimento
e dor, dessa forma, por que estamos falando de saúde mental nesse contexto?
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UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
vida. Os autores Gama, Torres e Ferres (2014) trazem uma discussão muito pertinente,
que nos permite refletir principalmente nos cenários de desastres e emergências:
A existência de uma pessoa inclui os erros, os fracassos, as privações, as
opções de vida, os desejos, as angústias existenciais, os desafios e as con-
tradições. Quando criamos um conceito de saúde que impede uma conexão
com a vida cotidiana, que exclui as oscilações, as possíveis aventuras e as es-
colhas singulares, relacionando qualquer afastamento da regra a uma espé-
cie de crime e merecedor de um determinado castigo, estamos, ao contrário
de produzir saúde, normatizando o comportamento. (FERRES, 2014, p. 72)
Dessa forma, segundo esses autores, a definição de saúde mental estaria atri-
buindo, ou incluindo, os paradoxos e sofrimentos encontrados em nosso dia-a-dia.
Assim, análise poderia ficar mais centrada na capacidade de enfrentamento dos
problemas. No entanto, parece pertinente falar que saúde mental é a busca pelo
bem-estar emocional e psíquico, incluindo a capacidade em lidar com as emoções
positivas ou negativas.
Saúde mental pode ser considerada também a forma como reagimos e o signifi-
cado que damos às situações, mudanças, exigências e aos desafios da vida, podendo
até mesmo ser tida como a habilidade em manejar de forma positiva ou realista as
adversidades e conflitos, reconhecendo e respeitando os limites e deficiências. É bus-
car sempre respeitar os próprios limites, sensações e reações.
Dessa forma, ao sujeito não foi permitido ou ensinado lidar com as emoções
negativas, ou com os seus medos, tristezas, angustias, ansiedade, raiva, e, automati-
camente, nos julgamos e tentamos a todo custo buscar sair desses sentimentos, sem
compreendê-los, sem dar a real atenção a eles ou sem acolhê-los. Muitas vezes tais
sentimentos são negados, negligenciados, o que pode vir a gerar uma enorme dor
emocional, muitas vezes irreparável.
Existem várias abordagens psicológicas que buscam olhar para o sofrimento e para a
dor, não como um problema, mas como uma resposta para nossas percepções e cren-
ças disfuncionais. A terapia cognitiva comportamental (TCC) é uma delas, e segundo
essa abordagem, não é a situação em si que gera sofrimento ou dor, mas a maneira
como o sujeito atribui significados e percebe tais situações. Falaremos mais profunda-
mente dessa abordagem e de outras da terceira geração da TCC (terapia da Aceitação
e compromisso, terapia comportamental dialética e outras abordagens contextuais).
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Saúde Mental x Contexto das Emergências
Entende-se que diante de uma situação de catástrofes e desastres, o trauma é um
sintoma ou uma consequência psíquica importante que merece a atenção dos profis-
sionais de saúde mental.
Segundo Shapiro (1997) apud Weintraub et al. (2015), existem duas correntes de
pensamento e intervenção que atribuem ao trauma o resultado principal do desastre,
fazendo com que a intervenção muitas vezes ocorra apenas a nível individual ou em
grupo, excluindo, por consequência, a intervenção nos fatores mais sociais e comu-
nitários. Por outro lado, segundo os autores, existem outras correntes que buscam
valorizar justamente estes dois fatores (social e comunitário) reservando a noção de
“trauma” para situações mais específicas, por sua menor incidência, embora não
sejam menos importantes.
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UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
Segundo Cesar et al. (2015), a saúde mental dos atingidos pelos desastres costuma
apresentar-se de forma estigmatizada, gerando preconceito e exercendo assim um
poder patologizante sobre as vítimas, sendo essas muitas vezes consideradas incapa-
zes de reconstruírem suas vidas a partir dos eventos traumáticos. Para isso, segundo
o autor, é de fundamental importância que haja um processo de psicoeducação dos
agentes e autoridades envolvidas nas tomadas de decisões que envolvem as ações e
intervenções nos contextos emergentes.
Figura 1
Fonte: Getty Images
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a circunstância (a própria emergência atendida), o curso temporal (antes, durante e
depois do evento) e os sujeitos implicados (as vítimas, os intervencionistas e as orga-
nizações que se inserem).
Antes de seguirmos nesse assunto, pense em quais habilidades e preparo técnico o pro-
fissional psicólogo precisa apresentar para atuar no contexto de emergências e desastres.
Vamos lá?
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UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
Figura 2
Fonte: Getty Images
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É possível perceber que a presença do psicólogo nas várias fases de um processo
de desastre envolve habilidades distintas e técnicas específicas. Segundo Greenstone
(2008) apud César et al. (2015), existem outras habilidades fundamentais que devem
ser executadas pelos profissionais de saúde mental, sendo necessário muito treina-
mento e atualização. Portanto, cabe ao psicólogo das emergências:
• Treinamento para intervenção em crises geradas pelos desastres;
• Psicoeducar sobre repostas a desastres para membros da equipe;
• Triagem e entrevista psicossocial;
• Interrogar a equipe;
• Treinamento em primeiros socorros (ressuscitação cardiopulmonar).
Figura 3
Fonte: Getty Images
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UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
Os autores destacam ainda que, muitas vezes, o atendimento em grupo é mais uti-
lizado do que o atendimento individual, pois permite o uso mais eficiente dos recur-
sos daquela comunidade, bem como melhora a relação com os serviços prestados,
reduzindo também o estigma associado à saúde mental e assistência psicossocial.
Magliavacca (2008, p. 222) denomina o setting como uma moldura, sendo essa
“suficientemente clara, firme, consistente, rigorosa e flexível ao mesmo tempo, den-
tro da qual os conteúdos psíquicos possam encontrar a possibilidade de se manifes-
tarem com suficiente liberdade para serem examinados”.
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grupais ou individuais podem ser efetuados, desde que se tenha clareza do
que mantém o grupo e do que se coloca como individual.
Psicólogos atuando com os familiares das vítimas da boate Kiss em Santa Maria.
Disponível em: https://bit.ly/2GgbkqZ
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UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
O Comportamento Humano
e Resposta ao Estresse
Abordamos até o momento aspectos que norteiam a prática do psicólogo em
situações de emergências e desastres, bem como a construção de uma práxis que
se estrutura no seu próprio fazer contínuo e diário. As mudanças nas intervenções
realizadas por psicólogos nessas situações decorrem do cenário e demanda em que
o desastre ocorre. No entanto, outro elemento se faz importante para a construção
dessa prática, que é a compreensão do comportamento humano e como esse se dá
em situações de emergências.
O fato de não ter controle sobre o que irá acontecer faz o cérebro se sentir em
perigo, dessa forma, ele manda respostas para o corpo como se algo estivesse
acontecendo de ruim, tais como, disparo do coração, sudorese, tremores, respiração
ofegante, entre outras, que são reações que o corpo manda para que possamos fugir
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da ameaça que criamos. Segundo Brunoni (2008), os sintomas de ansiedade podem
ter características tanto a nível cognitivo ( percepções de ameaça, perigo), bem
como características físicas/somáticas (como taquicardia, falta de ar, sudorese fria,
dor abdominal, entre outros).
Mas, muitas vezes, certo de nível de ansiedade é fundamental para que possamos
nos preparar para a situação, motiva-nos a caminhar, bem como nos prepara para
reagir a determinada situação para nos proteger, dessa forma ela funciona como
uma alerta sobre a possibilidade da ocorrência de danos físicos e ameaça a nossa
integridade (BRANDÃO, 2004).
O medo é um sentimento primário que todos nós temos quando estamos diante
de uma situação real de ameaça, enquanto que na ansiedade, muitas vezes anteci-
pamos essa ameaça, e isso é o suficiente para o cérebro reconhecer que existe um
perigo, mesmo ele não sendo real. Daí ele funciona como se algo ruim estivesse
acontecendo, mas não está, formando um medo recorrente em situações cotidianas.
A pessoa fica sempre em estado de alerta, como se o pior fosse acontecer a qualquer
momento. O medo nos ajuda a criar estratégias de lutar e fugir, o medo pode ser
protetor, pois isso faz com que tomemos decisões que irão preservar nossa vida. Mas
o que realmente acontece?
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UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
Reação do estresse
Ativação do eixo HPA
Hipotálamo
Ativação do sistema nervoso simpático
Figura 4
Fonte: Adaptada de MARK, 2017
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Bases Neurobiológicas da Ansiedade – por Ariadne Belavenutti Magrinelli – extraído do
livro “Tópicos em Neurociência Clínica” – Elisabete Castelon Konkiewitz – editora UFGD-2009.
Disponível em https://bit.ly/3jgltSK
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UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Atuação dos psicólogos nas emergências e desastres – a experiência de Santa Maria
https://youtu.be/2qKMAZFq8gQ
Leitura
A psicologia das emergências: um estudo sobre angústia pública e o dramático cotidiano do trauma
BRUCK, N. R. V. et al. A psicologia das emergências: um estudo sobre angústia
pública e o dramático cotidiano do trauma. 2007.
Psicologia: Ciência e Profissão
PARANHOS, M. E.; WERLANG, B. S. G. Psicologia nas emergências: uma nova
prática a ser discutida. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 35, n. 2, p. 557-571, 2015.
A Intervenção psicológica em emergências: fundamentos para a prática
TORLAI, V. C. et al. A Intervenção psicológica em emergências: fundamentos
para a prática. Summus Editorial, 2015.
22
Referências
ALVES, R. B.; LACERDA, M. A. de C.; LEGAL, E. J. A atuação do psicólogo diante dos
desastres naturais: uma revisão. Psicologia em estudo, v. 17, n. 2, p. 307-315, 2012.
BRUNONI AR. Transtornos mentais comuns na prática clínica. Rev Med (São Paulo).
out.-dez.;87(4):251-63, 2008.
CESAR et. al. A psicologia diante das emergências e desastres. In: TORLAI, Viviane
Cristina et al. A Intervenção psicológica em emergências: fundamentos para a
prática. Summus Editorial, 2015.
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UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
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Psicologia
em Situações
de Emergência
Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Cássia Souza
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Manejo Psicológico Frente
às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
• Introdução;
• Avaliação dos Riscos, Suporte
às Vítimas, Auxílios Emergenciais;
• Manejo Emocional dos Profissionais e
Socorristas bem como dos Familiares;
• A Saúde Emocional dos Psicólogos
que Atuam nas Emergências;
• A Mídia em Situações de Emergência e
Desastres: Influência na Saúde Mental.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Compreender e avaliar as reações emocionais das pessoas diante do momento dos desas-
tres, ou da ocorrência do evento, fazendo avaliação dos riscos, o suporte às vítimas, os auxí-
lios emergenciais;
• Compreender quem são as vítimas, diretas ou indiretas, manejo emocional dos profissionais
e socorristas, bem como dos familiares. A saúde emocional dos psicólogos que atuam nas
emergências e o papel das mídias e imprensa no contexto dos desastres e influência na
saúde mental.
UNIDADE Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
Introdução
Eventos de emergência e desastre em larga escala, resultantes de causas naturais,
tecnológicas ou humanas, geralmente afetam comunidades inteiras. Invariavelmen-
te, produzem lesões, perdas humanas e de capital significativas, juntamente com
perturbações sociais e de infraestrutura prolongadas. Além disso, emergências e
desastres normalmente impõem uma carga significativa e persistente à saúde mental
para aqueles afetados direta e indiretamente (Ver quadro de classificação das vítimas)
(GÉNÉREUX et al., 2019).
Esta unidade tem por objetivo compreender e avaliar as reações emocionais das
pessoas diante do momento dos desastres, ou da ocorrência do evento. Compreender
quem são as vítimas, diretas ou indiretas, o manejo emocional dos profissionais e
socorristas, bem como dos familiares. A saúde emocional dos psicólogos que atuam
nas emergências e o papel das mídias e imprensa no contexto dos desastres e influ-
ência na saúde mental.
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• Manejo emocional dos profissionais e socorristas bem como dos familiares;
• A saúde emocional dos psicólogos que atuam nas emergências;
• A mídia em situações de emergência e desastres: influência na saúde mental.
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UNIDADE Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
Assim, o que se precisa ter em conta para realização de uma intervenção psico-
lógica em um momento de crise, é que a maioria das pessoas, quando se depara
com situações de emergências e desastres, possuem condições para restabeleceram
o equilíbrio e superar de forma positiva o estresse desencadeado (em torno de qua-
tro a seis semanas após o ocorrido), e que a intervenção precisar ter como pilar a
prevenção, para que esse fluxo aconteça da melhor forma possível (PARANHOS;
WELANG, 2015; YEAGER; ROBERTS, 2015).
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Apesar de serem amplamente utilizadas, as intervenções baseadas em debriefing
psicológico não apresentam estudos científicos que comprovem a sua eficácia para
a redução de sofrimento ou prevenção de reações pós-traumáticas. No entanto, as
intervenções fundamentadas nos primeiros auxílios psicológicos (PAP) são apresen-
tadas na literatura como uma alternativa mais segura de intervenção preventiva nas
situações de emergência e desastre. (SILVA et al., 2013)
Esses PAP se fundamentam na ideia de que os indivíduos que passaram por de-
sastres poderão desenvolver uma série de reações psicológicas, emocionais e físicas,
sendo um dos principais objetivos da intervenção o foco na reconstrução das capa-
cidade dessas pessoas se recuperarem, amparando-as na identificação das suas
necessidades imediatas, bem como suas próprias forças e habilidades.
Dessa forma, a abordagem inicial às vítimas nesse tipo de situação consiste numa
avaliação inicial das necessidades e preocupações das pessoas envolvidas, com intui-
to de propiciar um ambiente de assistência e segurança (MELLER, 2015). Segundo
salientam Paranhos e Bertuzzi (2019), são ações centrais dos PAP, promoção de
conforto e segurança, a observação de condutas, a escuta das preocupações e dú-
vidas, identificação das emoções consideradas atípicas em situações anormais. É
sempre importante ficar atento às vítimas que demandam auxílio especializado para
realizar encaminhamento.
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UNIDADE Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
Nessa mesma direção, Salikeu (1996) propõe cinco passos: (1) realização de con-
tato e aproximação; (2) identificação de necessidades e preocupações; (3) resoluções
de problemas; (4) oferecimento de informações estratégias positivas e (5) conexão à
rede de apoio e manutenção da segurança.
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Alguns outros protocolos disponíveis são: National Child Traumatic Stress Network e National
Center for Posttraumatic Stress Disorder (2006).
Importante!
A utilização dos protocolos deve estar em acordo com os planos de contingência que
devem ser traçados junto à comunidade, levando em consideração suas peculiaridades,
para que não se torne algo imposto pelos profissionais e perca o objetivo principal - ajudar
da melhor maneira possível a quem precisa.
Para saber mais sobre o PAP, leia “Primeiros Cuidados Psicológicos: guia para trabalhadores
de campo” disponível em: https://bit.ly/30rqFf4
Figura 2
Fonte: Getty Images
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UNIDADE Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
De acordo com Scremin, Ávila e Branco (2009), umas das funções importantes
do trabalho do psicólogo deve ser a de mediador na relação entre a equipe/paciente/
família, atuando como um porta-voz das necessidades dos sujeitos, intervindo para
diminuir os desencontros de informações que são comuns nesses contextos.
O atendimento oferecido aos familiares é de grande relevância, visto que eles tam-
bém querem esclarecimentos das informações sobre o evento e sobre seus parentes.
Algumas das informações mais urgentemente solicitadas pelos familiares são: se o
familiar está consciente e orientado, qual a gravidade da situação, quais são seus com-
prometimentos físicos, quais documentos são necessários para dar entrada no hospital.
Outra questão é que, em muitas ocasiões, os familiares desenvolvem níveis de estresse
e ansiedade tais como a própria vítima, tamanho o envolvimento deles com o evento.
Assim, realizar o apoio psicológico com os familiares é de suma importância, cabendo
a utilização de técnicas de diminuição da ansiedade, ajudando a transformar os familia-
res em agentes facilitadores no auxílio ao paciente (ALMONDES et al., 2016).
Outra proposta salientada por Almondes et al. (2016) foi o atendimento aos fami-
liares das vítimas nas viaturas SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência),
tendo o intuito de proporcionar o alívio do impacto direto do evento traumático.
A proposta de intervenção do Serviço de Psicologia no SAMU visa ga-
rantir ações de cuidado aos profissionais, auxiliando-os no preparo para
lidar com a dimensão subjetiva que toda prática de saúde supõe, fortale-
cendo o processo de humanização da atenção e do cuidado prestado ao
paciente e ao trabalhador através da Política Nacional de Humanização
(PNH). (ALMONDES et al., 2016, p. 453)
Relato de experiência da inserção do Serviço de Psicologia no SAMU 192 RN, que tem como
proposta intervenções com as vítimas atendidas em resgate por condições clínicas, aciden-
tes ou violência, assim como com seus familiares, a comunidade envolvida e com os profis-
sionais de saúde do serviço. Disponível em: https://bit.ly/33l7RA1
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A Saúde Emocional dos Psicólogos
que Atuam nas Emergências
Nota-se, no decorrer do conteúdo, que as situações de desastres e catástrofes exi-
gem um trabalho físico e mental dos profissionais envolvidos em todas as etapas que
envolvem o evento, estejam esses profissionais atuando de forma direta ou indireta
nas ocorrências. Dessa forma, é de extrema importância o cuidado e manejo da saú-
de emocional da equipe envolvida, para que esses possam dar o suporte necessário
à população.
Ainda assim, segundo Cesar et al. (2015), é necessário que haja, antes de qual-
quer intervenção, um cuidado com a saúde mental dos profissionais da psicologia
envolvidos em situações de desastres, pois segundo os autores, os psicólogos, como
parte da comunidade e integrantes de uma sociedade, também são atingidos pelas
tragédias ao terem que lidar com tanta dor e sofrimento. Segundo Magalhães e Melo
(2015) apud Andery et al. (2020), “o contato com a vulnerabilidade dos pacientes
convoca o enfrentamento com o seu próprio despreparo, o que pode ocasionar so-
frimento emocional agudo” (p. 29).
O desgaste físico e emocional faz com que “o indivíduo se sinta exigido e reduzido
nos seus recursos emocionais, o que afeta as relações interpessoais profissionais e
familiares, tornando se assim ineficaz em se doar emocionalmente para as pessoas
ao seu redor” (ANDERY et al., 2020, p. 30).
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UNIDADE Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
Pelo fato do profissional psicólogo lidar diariamente com as perdas, dores, lutos
e sofrimento das pessoas atingidas pelos desastres, tal cuidado pode “trazer à cons-
ciência, por vezes de forma dolorosa, as próprias perdas do profissional que se vê
impactado podendo interferir no tratamento, como também promovendo e amplian-
do a consciência da morte pelo cuidador” (WORDEN, 1998, apud ANDERY et al.,
2020, p. 29).
Dessa forma, o cuidado com a saúde emocional da equipe envolvida deve ser
primordial, e realizada em primeira instância, para que assim os profissionais con-
sigam oferecer o cuidado integral e eficaz ao próximo e às vítimas. Vamos destacar
alguns pontos fundamentais que auxiliam nesse suporte e que garantem mais apoio
ao profissional de saúde mental.
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risco, possibilitando ao profissional psicólogo um lugar de refúgio, amparo e
proteção, promovendo a segurança e cuidados necessários.
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UNIDADE Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
Figura 3
Fonte: Conselho Regional de Psicologia – Rio Grande do Sul
A rede de apoio também pode ser promovida pela própria equipe envolvida
nos processos de intervenção, permitindo as trocas de experiências e supervisões
caso necessário.
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A Mídia em Situações de Emergência e
Desastres: Influência na Saúde Mental
Qual a importância da mídia em situações de desastres? E como ela pode influenciar a saúde
mental da população?
Iniciar este tópico com uma questão de análise sobre a importância da mídia é
fundamental, pois permite uma leitura mais crítica e uma aprendizagem mais signi-
ficativa sobre o assunto.
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UNIDADE Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
A mídia atinge uma extensão imensa de espectadores que, com a exposição di-
ária, recorrente e exaustiva de um evento por meio jornalístico, podem desenvolver
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diversas reações emocionais na população, mesmo que esta não tenham vivenciado
diretamente o evento (GIANINI et al. 2015).
A comunicação desse tipo de notícia, quanto mais inadequada for sua divulga-
ção, mais danos emocionais pode causar, muitas vezes, pela conotação que se dá,
associada a imagens, sons e tonalidade da informação, pois esses são elementos que
levam a população a reagir de diversas forma às divulgações das notícias.
”Em 22 anos morando no Líbano, nunca senti medo como hoje”, diz brasileira em Beirute.
Disponível em: https://bit.ly/3jgnAGd
Lendo a matéria anterior, o que a imagem, associada à fala da vítima, te faz pensar e sentir?
Para evitar maiores danos à população, oriundos das veiculações das notícias, a
Organização Mundial da Saúde, criou um manual de comunicação eficaz com a
mídia durante emergências de saúde pública.
Nesse documento, você irá encontrar a descrição de sete passos para ajudar os
agentes de saúde pública e outros a comunicarem-se eficazmente pela mídia durante
emergências, permitindo que ações positivas promovam a interação com a mídia e
propiciando uma cobertura eficaz das notícias aos eventos, ao invés de simplesmente
responder à cobertura resultante, a fim de assegurar que as mensagens sejam preci-
samente transmitidas, altamente visíveis e claramente ouvidas.
Isto aumentará a probabilidade de êxito ao informar às pessoas, encora-
jando comportamentos proveitosos entre os atingidos ou ameaçados e
reduzindo significativamente o impacto dos eventos. (OMS, 2009)
Comunicação eficaz com a mídia durante emergências de saúde pública, disponível em:
https://bit.ly/2SfYQSB
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UNIDADE Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Enfrentamento de Crises em situações de Emergências e Desastres
https://bit.ly/30oYlKh
Comunicação eficaz mídia durante emergências
https://bit.ly/2SfYQSB
Síndrome de Burnout: o que é, quais as causas, sintomas e como tratar.
https://bit.ly/36njyrT
O Autocuidado da Saúde Mental de Psicólogos: uma revisão bibliográfica
DE MELO, M. R.; RAUPP, L. M. O Autocuidado da Saúde Mental de Psicólogos:
uma revisão bibliográfica. Revista Perspectiva: Ciência e Saúde, v. 5, n. 1, 2020
https://bit.ly/3l7wR3I
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Referências
ALVES, R. B.; LACERDA, M. A. DE C.; LEGAL, E. J. A atuação do psicólogo diante
dos desastres naturais: uma revisão. Psicologia em Estudo, v. 17, n. 2, p. 307–315,
jun. 2012.
EVERLY, G. S.; LATING, J. M. Crisis Intervention and Psychological First Aid. In:
EVERLY, G. S.; LATING, J. M. (Eds.). A Clinical Guide to the Treatment of the
Human Stress Response. New York, NY: Springer New York, 2019a. p. 213–225.
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UNIDADE Manejo Psicológico Frente às Reações Emocionais,
Psicológicas e Sociais Emergenciais
PARANHOS, M. E. et al. Psicologia nas Emergências: uma Nova Prática a Ser Dis-
cutida. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 35, n. 2, p. 557–571, jun. 2015.
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Psicologia em
Situação de
Emergência
Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Cássia Souza
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Manejo Psicológico e as
Alterações Emocionais Pós Evento
• Introdução;
• Transtornos Relacionados ao Trauma;
• Transtorno de Estresse Pós Traumático;
• Transtorno de Estresse Agudo;
• Intervenções Psicológicas e suas Abordagens;
• Intervenção em Crise com Crianças e Adolescentes;
• Luto Desencadeado por Desastres e Rituais de
Luto e sua Função Reconstrutora em Desastres.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Aprender como se realiza o manejo psicológico das vítimas de desastres, bem como as prin-
cipais alterações emocionais decorrentes desses eventos;
• Compreender os processos de luto e a função reconstrutora dos rituais de despedida, e as
consequências desse luto complicado;
• Apresentar abordagens com crianças e adolescentes, bem como as linhas de intervenção
baseadas na Terapia Cognitiva Comportamental.
UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
Introdução
Ao longo desta Disciplina, vocês já tiveram contato com vários conceitos funda
mentais para a compreensão do papel do psicólogo em situações de emergência.
Esses conceitos darão suporte para compreendermos os elementos que iremos
abordar nesta Unidade.
Antes de prosseguirmos, pense em quais possíveis reações que podemos esperar das pes-
soas nessas situações.
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estressante, o que pode levar a certa desorganização psíquica, levando até mesmo a
um quadro crônico de sintomas (SÁ; WERLANG; PARANHOS, 2008, p. 3).
Figura 1
Fonte: Adaptado de HOROWITZ,1976, apud SÁ; WERLANG; PARANHOS, 2008
O processo apresentado acima pode ser vivenciado por qualquer pessoa que
passa por uma situação de crise.
Dessa forma, a percepção que o sujeito faz em termos de ameaça ou dano para si,
assim como da avaliação dos recursos disponíveis para o necessário enfrentamento
da situação, pode ou não leválo a desenvolver um transtorno decorrente da situação
de crise (SÁ; WERLANG; PARANHOS, 2008).
Quanto mais rápido for a intervenção, melhor será o resultado em longo prazo,
na resolução da crise.
Slaikeu (1996 apud SÁ; WERLANG; PARANHOS, 2008) postula três princípios
clínicos para a prática da intervenção em crise (Quadro 1):
Quadro 1
Princípios para
Objetivos
Intervenção em Crise
Avaliar e diminuir o perigo, avaliando também o nível de motivação
Oportunidade do paciente para propor nova estratégia de enfrentamento com as cir-
cunstâncias atuais de vida.
Promover ajuda aos envolvidos na recuperação do nível de equilíbrio que
Meta tinha antes ou a atingir um nível que permita superar o momento crítico.
Engloba tanto os “aspectos fortes” quanto as “debilidades” de cada um
Avaliação dos sistemas implicados na crise, bem como informações do que está
funcional e disfuncional na vida do indivíduo.
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UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
Para isso, é fundamental que o profissional envolvido nesse processo realize trei
namentos específicos, pois é necessário que esse especialista saiba como fazer uma
boa avaliação do processo, bem como o grau da crise, assim como reconhecer o
funcionamento e as características do evento, para que possa determinar a relevân
cia e o resultado das intervenções propostas.
No entanto, caso não haja intervenção e tratamento adequado dos sintomas agu
dos apresentadas, os indivíduos podem evoluir para um quadro crônico de sinto
mas, levando ao desenvolvimento de outros transtornos ou doenças, que necessitem
de acompanhamento e tratamento especializado, como no caso do Transtorno de
Estresse Pós-Traumático (TEPT), sendo um transtorno prevalente pós situações de
estresse, podendo vir acompanhado de outras patologias, como transtorno depres
sivo, fobias e transtorno de ansiedade generalizada.
Leia o texto “The Lancet: uma em cada cinco pessoas que vivem em áreas afetadas por
conflitos sofrem com condições de saúde mental”. Disponível em: https://bit.ly/3iZh4DK
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características clínicas mais evidentes são sintomas anedônicos e disfóricos, externa
lizações de raiva e agressividade ou sintomas dissociativos:
Em virtude dessas expressões variáveis de sofrimento clínico depois da
exposição a eventos catastróficos ou aversivos, esses transtornos foram
agrupados em uma categoria distinta: transtornos relacionados a trauma
e a estressores. Ademais, não é incomum que o quadro clínico inclua
uma combinação dos sintomas mencionados (com ou sem sintomas de
ansiedade ou medo). (DSM V, 2014, p. 265)
O TEPT pode ocorrer em qualquer idade a partir do primeiro ano de vida. Os sin
tomas, geralmente, manifestamse dentro dos primeiros três meses depois do trauma,
embora possa haver um atraso de meses, ou até anos, antes de os critérios para o
diagnóstico serem atendidos.
Critério Diagnóstico
• Exposição a episódio concreto ou ameaça de morte, lesão grave
ou violência sexual em uma (ou mais) das seguintes formas:
1. Vivenciar diretamente o evento traumático;
2. Testemunhar pessoalmente o evento traumático ocorrido com
outras pessoas;
3. Saber que o evento traumático ocorreu com familiar ou amigo próximo.
Nos casos de episódio concreto ou ameaça de morte envolvendo um
familiar ou amigo, é preciso que o evento tenha sido violento ou acidenta;
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UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
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1. Comportamento irritadiço e surtos de raiva (com pouca ou nenhuma
provocação) geralmente expressos sob a forma de agressão verbal ou
física em relação a pessoas e objetos;
2. Comportamento imprudente ou autodestrutivo;
3. Hipervigilância;
4. Resposta de sobressalto exagerada;
5. Problemas de concentração.
6. Perturbação do sono (p. ex., dificuldade para iniciar ou manter o
sono, ou sono agitado).
• A perturbação (Critérios B, C, D e Hipervigilância) dura mais de
um mês;
• A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo e pre-
juízo social, profissional ou em outras áreas importantes da vida
do indivíduo;
• A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma subs-
tância (p. ex., medicamento, álcool) ou a outra condição médica.
(DSM, 2014 p. 271)
Notase que o TEPT pode ser uma condição debilitante, levando a alterações
no funcionamento diário do indivíduo, e pode ser associado a outras comorbidades
como depressão e ansiedade: “O TEPT está associado a relações sociais e familiares
empobrecidas, ausências ao trabalho, renda mais baixa e menor sucesso acadêmico
e profissional” (DSM V, 2014, p. 274).
A manifestação do trauma pode acontecer em qualquer idade e, principalmente,
dentro dos primeiros 3 meses após o evento traumático, podendo sofrer variações
quanto ao tempo de sua manifestação.
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UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
Intervenções Psicológicas
e suas Abordagens
As intervenções psicológicas em situações de desastres podem variar de acordo
como tipo de evento, o cenário e a demanda apresentada, como já discutimos.
Por isso, é fundamental mapear as variáveis e o campo para uma atuação eficaz
e satisfatória.
Já a intervenção de segunda instância diz respeito à terapia para a crise, que pode
ser definida como:
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Uma estratégia de ajuda indicada para auxiliar uma pessoa e/ou família
ou grupo, no enfrentamento de um evento traumático, amenizando os
efeitos negativos, tais como danos físicos e psíquicos e incrementando
a possibilidade de crescimento de novas habilidades de enfretamento e
opções e perspectivas de vida. O tipo de crise não importa, pois o evento
é emocionalmente significativo e gera uma mudança radical na vida da
pessoa. (SÁ; WERLANG; PARANHOS, 2008)
A escolha por essa abordagem se dá pelo fato da TCC se mostrar eficaz no trata
mento das respostas emocionais decorrentes de eventos traumáticos.
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UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
Segundo Errazuriz et. al (2019), essas são abordagens que, segundo as evidên
cias científicas internacionais, devem ser consideradas tratamentos de primeira linha
nesses casos. Cabe ressaltar que algumas intervenções usadas para tratar o trauma
ainda não apresentam evidências científicas suficientes em intervenções pós desas
tres (por exemplo, terapia psicodinâmica breve).
A TCC pós desastre é uma terapia de grupo de curto prazo (10-12 sessões), cujo
objetivo é identificar e intervir nas crenças não adaptativas relacionados ao desastre.
É de suma importância que seja realizada uma avaliação global, reunindo infor
mações relevantes para que se possa realizar uma intervenção efetiva. Para isso, é
necessário considerar alguns aspectos: características do evento que causou a crise,
processos envolvidos no funcionamento psicológico do indivíduo e impacto sofrido
pela situação que desencadeou a crise no nível das respostas biológicas, emocionais,
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comportamentais e cognitivas, antecedentes individuais (características físicas e de
personalidade prémórbidas); Características do contexto físico e social (SALAZAR;
CABALLO; GONZÁLEZ, 2007).
Geralmente, as terapias com foco em trauma têm como objetivos permitir e expor
sistematicamente o paciente a memórias traumáticas, permitindo, assim, dessen
sibilização e habituação à resposta emocional e angustiante. Essa técnica permite
que o paciente compreenda que, muitas vezes, suas respostas emocionais inten
sas não necessariamente estão associadas ao evento real, ou seja, o risco inicial
objetivamente não existe mais (ERRAZURIZ et al., 2019).
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UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
O Defusing é uma técnica que visa a diminuir a intensidade das reações, colo
cando o indivíduo em perspectiva, psicoeducando e promovendo informações sobre
o evento, criando rede de apoio social, ampliando o suporte social diminuindo a
sensação de isolamento, bem como levantando e avaliando as necessidades reais de
prosseguimento em relação ao tratamento.
Essa é uma intervenção breve, que se inicia até 24 horas após a ocorrência
do evento.
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3. Pensamentos;
4. Reações emocionais;
5. Sintomas;
6. Informação;
7. Reentrada, sendo reorganizadas em quatro componentes:
a) fase de introdução, onde o profissional se apresenta e na qual são ex
plicados: os objetivos, metas e benefícios da intervenção;
b) fase de narração na qual os participantes relatam os fatos vivenciados
e descrevem seus pensamentos e ideias acerca do mesmo;
c) fase de reação, na qual se promove a liberação de emoções associa
das à experiência vivida; e
d) fase pedagógica em que se informam os sintomas comuns do TEPT2,
normalizamse as reações, entregase material informativo gráfico acerca
de estratégias de enfrentamento (coping), listamse sintomas etc.
Essa técnica precisa ser realizada por profissionais da saúde, treinados adequa
damente, atendendo às vítimas, nas primeiras 24 e 72 horas pós o evento. Dessa
forma, as intervenções psicológicas em emergências se tornam fundamentais, pois
permitem que os indivíduos afetados aumentem sua capacidade de resiliência, adap
tação e enfrentamento, frente às situações de perdas (TORLAI, 2008).
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UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
Nesse caso, os relatos e as experiências das crianças podem ser realizados por
pais, professores ou responsáveis, o que muitas vezes pode ser superficial e não
fidedigno, sendo, portanto, fundamental perguntar diretamente à criança sobre seus
sentimentos e emoções. (AMERICAN ACADEMY OF CHILD AND ADOLESCENT
PSYCHIATRY, 1998 apud KAR, 2009).
Uma fase fundamental é o apoio psicológico, pois essa etapa irá permitir às crian
ças darem sentido a seus sentimentos e pensamentos.
Para isso, é recomendado sempre seguir o exemplo dado pela criança, evitar son
dar e responder apenas ao que a criança tem apresentado espontaneamente, para
apoiar a contenção de sentimentos opressores.
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Luto Desencadeado por Desastres
e Rituais de Luto e sua Função
Reconstrutora em Desastres
O luto é um processo inevitável quando estamos falando de uma situação de
emergência e desastres.
A perda, não só associada a morte de parentes, mas a perda pela segurança físi
ca, financeira e social pode ser um fator complicador para o luto.
Várias são as manifestações desse processo e várias são as etapas para a conso
lidação e enfrentamento do luto.
Primeiramente, é necessário trazer aqui alguns conceitos breves sobre morte e luto.
A representação que temos sobre a morte irá nos direcionar na forma como ire
mos vivenciar essa perda.
Todos nós temos essas representações que, são pautadas em nossos valores, ideias
e experiências. Assim a morte é uma norteadora das relações sociais. Para Kovács
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UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
(1992), é a morte que envolve basicamente a relação entre pessoas que, se acontece de
maneira brusca e inesperada, pode gerar desorganização, paralisação e impotência.
Segundo Bowlby (1985 apud KOVÁCS, 1992), as quatro fases do luto compreendem:
1. Fase de choque que tem a duração de algumas horas ou semanas e pode
vir acompanhada de manifestações de desespero ou de raiva;
2. Fase de desejo e busca da figura perdida, que pode durar também meses
ou anos;
3. Fase de desorganização e desesper.
4. Fase de alguma organização.
Já Kübler-Ross (2005 apud BASSO; WAINER 2011), apresenta cinco fases do luto.
Sendo elas:
• Negação e o isolamento: dificuldade em aceitar e encarar a situação. Ocorre
em quem é informado abruptamente a respeito da morte. Embora considerado
o primeiro estágio, pode aparecer em outros momentos;
• Raiva: considerada a reação de externar a revolta e busca por culpados, na
tentativa de aliviar a dor;
• Barganha: é a busca por acordos e promessas, na tentativa de aliviar ou adiar
o medo de enfrentamento da situação;
• Depressão: apresenta duas etapas: preparatória e reativa. A depressão reativa
ocorre quando surgem outras perdas decorrentes da perda por morte, como a
perda de um emprego, papel social etc. Já na depressão preparatória, pode-sedizer
que a pessoa se aproxima do processo de aceitação, no qual há mais reflexão
e introspecção;
• Aceitação: nesta fase, a pessoa consegue expressar melhor seus sentimentos,
e a pessoa que sofreu a perda renova o interesse pelas atividades cotidianas.
A maneira como cada indivíduo passará por esse processo é única e subjetiva.
Quando nos deparamos com a perda e morte, o luto pode ser considerado um pro
cesso natural, desde que seja encarado como uma transição existencial, ou seja, que
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esse processo seja reconhecido, que haja alguma reação ou manifestação referente à
perda ou à separação, bem como possibilidade de se reajustar a uma nova situação.
No entanto, alguns processos de luto podem vir a ter um desfecho não muito
saudável, o que consideramos um luto complicado.
Segundo Kovács (2008), existem diversas situações que podem dificultar a elabo
ração desse processo, como, por exemplo:
• Negação e repressão ligadas à perda e à dor;
• Distorções na expressão do luto como o adiamento, inibição ou cronificação;
• Sobrecarga de luto;
• Mudanças sociais: desvalorização dos ritos funerários. Ao viverem perdas
significativas, as pessoas sentemse sozinhas, sem saber o que fazer;
• Aumento de mortes violentas e traumáticas;
• Perdas múltiplas: mais de uma morte ao mesmo tempo;
• Perdas invertidas: pais enterrarem filhos;
• Mutilamento;
• Desaparecimento de corpos;
• Cenas de violência;
• Tipo de morte;
• Suicídios e acidentes são os mais graves, pelos aspectos da violência e culpa que
promovem;
• Mortes de longa duração com muito sofrimento;
• Mortes em situações de emergências e desastres.
O processo de luto pode apresentar dois desfechos, o que chamamos de luto nor
mal e o luto complicado.
No luto normal, a pessoal apresenta uma reação saudável diante um fator estres
sante. Nesse caso, a perda de alguém querido. Tal reação, muitas vezes, implica a
capacidade de expressar e sentir a dor dessa perda.
Dessa forma, muitos não recebem apoio adequado ou suficiente para amenizar
o sofrimento, ou não são orientados procurar algum tipo de auxílio (CREPALDI;
LISBOA, 2003 apud BASSO; WAINER 2011).
23
23
UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
Primeiro, o fato de ser uma morte repentina, segundo o tipo e o motivo de morte,
o número de mortes, bem como mudança nos rituais/funerais, sendo esses coletivos,
com corpos danificados ou carbonizados e, muitas vezes, sem a presença deles.
Esse Transtorno pode ser diagnosticado após a morte de um ente querido quando
a resposta ao luto vem acompanhada de intensidade, qualidade e a persistência não
corresponde ao esperado para essa condição: “Um conjunto mais específico de sin
tomas relacionados ao luto foi designado como transtorno de luto complexo persis
tente. Os transtornos de adaptação estão associados a um risco maior de tentativas
e consumação de suicídio” (DSM V, 2014, p. 287).
Podem ocorrer sentimentos ambivalentes, tristeza pela perda e raiva pelo aban
dono, desejo da morte para alívio do sofrimento, que pode provocar culpa, podendo
ser este um fator de risco para o luto complicado (KOVÁCS, 2008).
Torlai (2010) ressalta que, para estudar a relação de luto em situações de desas
tres, adotou o modelo dual como o mais indicado para explicar tal relação.
Segundo a autora, esse modelo tem como princípio que a elaboração do luto é
uma adaptação a um modelo operativo interno e que se dá por meio da oscilação
entre o enfretamento orientado pela perda e o enfrentamento orientado pela rees
truturação, sendo essa oscilação considerada um processo natural de elaboração do
luto, pois permite o enfrentamento adaptativo por meio de um processo regulatórios
e dinâmico.
24
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Crises e desastres: a resposta psicológica diante do luto
FRANCO, M. H. P. Crises e desastres: a resposta psicológica diante do luto.
O Mundo da Saúde, São Paulo, v. 36, n. 1, p. 5458, 2012.
https://bit.ly/3cufNC0
Diretrizes do IASC sobre saúde mental e apoio psicossocial em emergências humanitárias
Inter-Agency Standing Committee (IASC, Comitê Permanente Interagências).
Diretrizes do IASC sobre saúde mental e apoio psicossocial em emergências
humanitárias. Tradução de Márcio Gagliato. Genebra: IASC, 2007.
https://bit.ly/3kMobzW
Primeiros Cuidados Psicológicos: guia para trabalhadores de campo
Organização Mundial da Saúde. War Trauma Foundation e Visão Global
internacional. Primeiros Cuidados Psicológicos: guia para trabalhadores de campo.
OMS: Genebra, 2005.
https://bit.ly/3kLyMuR
Folha informativa – Transtornos mentais
https://bit.ly/3kMPWYT
25
25
UNIDADE Manejo Psicológico e as Alterações Emocionais Pós Evento
Referências
BASSO, L. A.; WAINER, R. Luto e perdas repentinas: contribuições da Terapia
Cognitivo-Comportamental. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 35-
43, jun. 2011.
26
SAMOUEI et al. Positive psychology in disasters, International Journal of Health
System and Disaster Management, Online, v. 2, issue 4, out.dez. 2014.
27
27
Psicologia das
Emergências e
Desastres
Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Cássia Souza
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Intervenções Psicológicas em
Emergências: Análise da Prática
• Introdução;
• O Caso da Barragem em Brumadinho e Mariana;
• Massacre na Escola em Suzano;
• Incêndio na Boate Kiss;
• Acidente com o Voo da Chapecoense.
OBJETIVO
DE APRENDIZADO
• Apresentar as intervenções realizadas por profissionais da saúde, nos casos da barragem de
Brumadinho, no massacre na escola em Suzano, no atendimento às vítimas do acidente com
o voo da Chapecoense e o incêndio da boate Kiss. A escolha por esses eventos se deu pelo
fato de cada um apresentar causas diferentes em suas ocorrências, como desastres naturais,
acidentes aéreos, entre outros.
UNIDADE Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
Introdução
Os casos apresentados serão baseados em estudos e intervenções que foram rea-
lizados com essa população, considerando as várias fases para esse processo.
O Caso da Barragem
em Brumadinho e Mariana
O Brasil, em um intervalo de menos de 5 anos, protagonizou dois desastres de
enormes consequências e proporções. Os efeitos catastróficos na área ambiental,
social e econômica dos frequentes rompimentos de barragens de rejeitos dão impor-
tância à discussão sobre a psicologia das emergências e desastres na área ambiental.
Os impactos dos desastres ocorridos em Brumadinho e Mariana geraram enorme
indignação por causa da quantidade de morte de trabalhadores das mineradoras e
pessoas que moravam ou estavam por perto na hora em que aconteceu a ruptura
(PEREIRA et al., 2019).
Importante!
A atividade de extração de minério de ferro é feita através da separação do material
que tem valor comercial do que não é valioso (nãos e vende). Durante esse processo de
separação, todo o material que não será aproveitado, denominado de rejeito, de acordo
com as leis ambientais precisa ser guardado em reservatório para evitar danos. Essas
estruturas que têm a função de reservatórios são feitas de terra compactada e são cha-
madas de barragem.
Segundo o Felix (2020), esse desastre não se trata de desastre ambiental, mas sim
de acontecimento social. Ao não se preocupar com o estado da barragem, focando
muito mais na redução das responsabilidades civis e criminais e garantir seus ganhos
8
pela valorização no mercado global, a empresa responsável levou a inúmeros impactos
ambientais e danos à saúde da população.
É importante salientar que esse desastre poderia ser sido evitado, pois a empresa
responsável pela barragem em Brumadinho-MG teve um alerta alguns anos antes:
um desastre semelhante ocorrido em 2015, no município de Mariana-MG, mais pre-
cisamente no dia 5 de novembro de 2015. No distrito de Bento Rodrigues, na cidade
de Mariana, em Minas Gerais, teve início um grande desastre que mudou a vida e o
destino de milhares de pessoas em uma extensão de 663 quilômetros, desde o dis-
trito de Bento Rodrigues, em Mariana-MG, passando pelo Estado do Espírito Santo,
até atingir o mar territorial brasileiro (MPF, 2015).
Figura 1
Fonte: observatoriosocioambiental.org
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9
UNIDADE Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
10
Estratégias de Saúde Mental e
Atenção Psicossocial: Relatos e Experiências
Assim, em desastres como o de Mariana e Brumadinho, as pessoas sofrem gran-
des perdas (casa, trabalho, animais, dentre outros) que provocam uma mudança em
suas vidas, mudando sua forma existir. Dessa forma, um dos aspectos mais valoriza-
dos em relação à psicologia é a sua contribuição nesses cenários de emergências e
desastres, atuando sempre de forma protagonista na orientação de ações de mudança
(ANTUNES, 2019).
Um dos agravantes à saúde mental dos afetados de acordo com Noel et al. (2019)
foi devido à maioria dos óbitos ter sido de trabalhadores da mineradora onde a bar-
ragem rompeu, fazendo com que os sobreviventes tivessem que lidar com perda de
vários amigos, colegas de trabalho e do trabalho. Essas questões são importantes
por causar alterações nas relações socioafetivas da comunidade, acarretando grande
possibilidade para o desenvolvimento de transtornos psicopatológicos em médio e
longo prazos. No que se refere às reações imediatas, a Figura 2 mostra as reações
mais esperadas.
Figura 2
Fonte: Adaptado de NOAL et al., 2019
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UNIDADE Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
12
compostas de psicólogos e psiquiatras na realização de uma ação emergencial de
ajuda psicossocial (ROSA, 2019).
Dentre os principais pontos para atuar para superação do trauma, segundo espe-
cialistas que deram entrevista ao G1 (2019), são:
• Trabalho coletivo: é importante que a comunidade escolar faça um trabalho
coletivo com os estudantes oportunizando a eles a possibilidade de falarem
sobre o que estão sentindo;
• Psicoeducação com os familiares: para que fiquem atentos a sinais como
mudança de comportamento, insônia, crises de angústia;
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13
UNIDADE Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
• Escuta psicológica: não se deve forçar ninguém a falar, mas estar aberto para
escutar, caso seja necessário.
Foi formada uma rede de apoio, por instituições públicas e privadas, que atuou no
fim de semana logo após o massacre, prestando atendimento psicológico e especia-
lizado na Diretoria Regional de Ensino de Suzano e no Capes do município, além de
visitas domiciliares às famílias das vítimas (IG, 2019).
14
Vamos exercitar?
Pensando nas faltas de estratégias publicadas por profissionais psicólogos em relação às
intervenções nesse caso, propomos, nesta unidade, que você realize em duplas, um modelo
de intervenção possível, levando em consideração todo embasamento apresentado até o
momento. Seja criativo(a): o que você precisaria considerar para implementação de um pla-
no de ação psicossocial?
O acidente foi causado por um incêndio provocado por fogos de artifícios e pirotéc-
nicos durante a apresentação de uma banda que se apresentava no local. Esses fogos
utilizados durante o evento não eram adequados ou propícios de serem utilizados em
locais fechados, apenas em locais abertos. “O teto da boate pegou fogo e, em decorrên-
cia do mau funcionamento do extintor de incêndios, as chamas rapidamente se espalha-
ram por toda a boate lotada, liberando uma fumaça espessa e tóxica” (ATIYEH, 2013).
Além disso, o forro do teto da boate tinha em sua composição material inflamável,
e outro agravante era que a boate não contava com sistema de segurança contra
incêndios, como alarme ou sistema de aspersão adequados. Além disso, o local de
entrada e saída da boate era estreito e estava bloqueado para saídas, por esse motivo,
o fluxo de saída e escapes das pessoas foi dificultado, tendo os bombeiros que abrir
uma parede externa para permitir a saída das pessoas.
Esse acidente também deixou cerca de mil pessoas feridas, com queimaduras
graves e problemas respiratórios importantes, algumas em estado crítico até hoje.
Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons
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15
UNIDADE Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
Pré-Evento
• Levantamento do panorama geral da cidade antes do incêndio, como dados
sociodemográficos;
• Durante o período do evento, a cidade passava por uma transição em relação à
equipe de gestão em saúde, bem como quanto ao planejamento, preparação e
prontidão das políticas públicas para atuar nas situações de desastres;
• Município também contava com um ambulatório de saúde mental que não man-
tinham articulação em rede com os demais serviços, sem oferta de dispositivos
terapêuticos para além do atendimento individual e sem um trabalho georrefe-
renciado do território;
16
• Apresentava um sistema de saúde frágil quanto à composição da rede de aten-
ção básica, da gestão das políticas e de articulação intra e interinstitucional, mas
tal fragilidade não impediu com que processo de construção e implantação de
uma estratégia de oferta de cuidado psicossocial e de saúde mental para os
sobreviventes e familiares fosse realizado.
Durante o Evento
• Foi realizada uma reunião na manhã seguinte ao evento, que contava com a
presença dos membros da gestão municipal, estadual e federal de saúde, onde o
objetivo foi compartilhar o quadro específico de cada uma das áreas prioritárias
para a saúde;
• Foram mapeadas as estruturas e serviços que poderiam ser acionadas como
apoio. Esse mapeamento teve como intuito contemplar os primeiros cuidados
psicossociais;
• Estruturar rede de apoio com a presença tanto de intuições governamentais e
não governamentais, bem como voluntários e diversos profissionais, para aten-
dimento às pessoas afetadas (in)diretamente pelo evento;
• Foram definidos e pactuados eixos de cuidado e equipes de trabalho para con-
formação dessa rede, os quais deveriam funcionar de acordo com os princípios
estruturantes do SUS;
• Definição dos eixos de atuação: núcleo de gestão da estratégia de saúde mental;
educação permanente; regulação de saúde mental; seis eixos de apoio psicossocial:
» Núcleo de Gestão: esse eixo foi responsável por definir as ações na elabora-
ção de boletins informativos para o Gabinete de Crise. Também contava como
atribuição desse eixo, o alinhamento dos fluxos de trabalho, bem como a reali-
zação de reuniões diárias com o integrante responsável de cada eixo, no intuito
de melhor compreensão das reais demandas e necessárias diárias da emergên-
cia. Esse eixo tinha também como função, auxiliar na produção de indicadores
e dados que possibilitassem ao Gabinete de Crise compreender a problemática
da demanda psicossocial e dos possíveis encaminhamentos institucionais;
» Educação Permanente: esta etapa teve como objetivo contribuir para a for-
mação básica dos profissionais e voluntários que estavam atuando na resposta
direta ao evento. Essa formação no primeiro momento contemplava as estra-
tégias utilizadas em cada eixo, bem como realização de diagnostico situacional
das estruturas, das demandas apresentadas, considerando a importância da
articulação em rede. Nesta etapa, também foram organizados grupos de su-
pervisão presencial, apoio institucional e matricial, por meio de discussões de
casos realizados por mídias e telefone. Tais supervisões visavam o alinhamento
das estratégias de suporte as vítimas (sobreviventes e familiares);
» Regulação de Saúde Mental: esse eixo contava com uma equipe de profissio-
nais do município e profissionais que foram contratados para atuarem no fluxo de
encaminhamentos e auxílio das pessoas que buscavam informações e cuidados;
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17
UNIDADE Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
Nessa etapa de intervenção, também foi realizada uma análise dos prontuários de
atendimento realizados aos pacientes durante o período de intervenção inicial, com
o objetivo de compreender quais as principais reações e dificuldades encontradas.
Outro ponto avaliado nessa etapa foi mapear a necessidade dos pacientes que precisa-
vam ser recontatados para dar seguimento aos processos iniciais, caso fosse necessário.
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Durante essa fase da intervenção, várias medidas foram realizadas, dentre elas, a
contratação de profissionais da saúde como médicos, psicólogos, enfermeiros, entre
outros, bem como formação de uma nova equipe de profissionais, no qual foi neces-
sária a realização de um nivelamento da equipe atual, pois ela não acompanhou o
processo de resposta desde o início.
Por fim, durante esse período, aumentaram os acolhimentos realizados por telefone
(de 345 em março para 446 em abril), diminuindo os atendimentos domiciliares,
bem como houve redução importante quanto aos atendimentos emergências em
saúde mental.
Conclusão
Nota-se que esse relato de experiência em atendimento psicossocial a vítimas
e familiares do acidente na Boate Kiss apresentou uma estrutura de atendimento
pautada nas diretrizes referentes às intervenções em situações de emergências, bem
como estabeleceu protocolos próprios, mas com rigor e sistematização muito coe-
rentes e eficazes.
O Contexto do Acidente
O acidente ocorreu em 29 de novembro de 2016 em Medelin, na Colombia, o
qual deixou 71 pessoas mortas e 6 feridos. O avião contava com a delegação do time
de futebol da Chapecoence, que iria realizar um jogo na cidade colombiana.
19
19
UNIDADE Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
Figura 4
Fonte: elderhsquill.org
De acordo com a Aeronáutica Civil, o acidente foi causado pela falta de combustí-
vel da aeronave. Foi acionado o sistema de emergência cerca de 40 minutos antes da
queda, naquele momento, o controle de tráfego aéreo desconhecia a situação do voo.
A empresa Lamia foi a responsável pela causa do acidente (nsctotal.com.br, 2019).
20
saúde/assistência social, sendo a abordagem psicológica realizada de forma distinta
em cada grupo, levando em consideração a demanda e o perfil de cada um, como
apresentado abaixo no quadro abaixo:
Equipe de saúde/ • Suporte psicológico aos profissionais de saúde e de linha de frente, com o objetivo
assistência social em estabelecer um atendimento de qualidade, eficiência e necessário às vítimas.
Vamos exercitar?
Pensando nas faltas de estratégias publicadas por profissionais psicólogos em relação às
intervenções nesse caso, propomos nesta unidade que você realize em duplas, um modelo
de intervenção possível, levando em consideração todo embasamento apresentado até o
momento. Seja criativo, o que você precisaria considerar para implementação de um plano
de ação psicossocial?
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UNIDADE Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Desastres naturais: contribuições para atuação do psicólogo nos desastres hidrológicos
DÁRIO, P. P.; MALAGUTTI, W. Desastres naturais: contribuições para atuação
do psicólogo nos desastres hidrológicos. JMPHC | Journal of Management &
Primary Health Care | ISSN 2179-6750, v 10, 2019.
https://bit.ly/3iWueBv
O impacto na saúde mental dos afetados após o rompimento da barragem da Vale
NOAL, D. da S.; RABELO, I. V. M.; CHACHAMOVICH, E. O impacto na saúde
mental dos afetados após o rompimento da barragem da Vale. Cadernos de Saúde
Pública, v. 35, n. 5, p. e00048419, 2019.
https://bit.ly/2FOBuRa
Primeiros Socorros Psicológicos: relato de intervenção em crise em Santa Maria
SILVA, T. L. G; MELLO, P. G.; SILVEIRA, K. A. L. et al. Primeiros Socorros
Psicológicos: relato de intervenção em crise em Santa Maria. Rev. bras. psicoter.
2013;15(1):93-104
https://bit.ly/3hM7J0q
Nota da Cruz Vermelha Brasileira sobre acidente aéreo na Colômbia
VELOSO. J. Nota da Cruz Vermelha Brasileira sobre acidente aéreo na
Colômbia. 2016.
https://bit.ly/33JuXj3
22
Referências
ATIYEH, B. Desastre na boate kiss, Brasil. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica,
v. 27, n. 4, p. 502-502, 2013.
TENENTE L.; COELHO T.; OLIVEIRA, E. Apoio psicológico pode ajudar vítimas
de traumas como o do massacre em Suzano. Disponível em: <https://g1.globo.
com/ciencia-e-saude/noticia/2019/03/14/como-o-apoio-psicologico-pode-ajudar-
-vitimas-de-traumas-como-do-massacre-em-suzano.ghtml>. Março de 2019.
LIRA. N. Mais de 1,3 mil pacientes ligados ao massacre em Suzano esperam atendi-
mento psicológico: disponível em: <https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/
noticia/2019/04/25/mais-de-13-mil-pacientes-ligados-ao-massacre-em-suzano-es-
peram-atendimento-psicologico-profissionais-estao-exauridos-diz-secretario.ghtml>.
Sites Visitados
CRP-MG. Ação em Brumadinho realça a atuação plural da Psicologia. CRP_
MG, 2019 Disponível em: <https://crp04.org.br/acao-em-brumadinho-realca-a-atu-
acao-plural-da-psicologia/>. Acesso em: 07/09/2020.
https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2019/03/13/tiros-dei-
xam-feridos-em-escola-de-suzano.ghtml
https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2019-03-17/suzano-escola-reabertura.html
https://direcionalescolas.com.br/caso-suzano-impactos-psicologicos-saude-socioe-
mocional-e-estrategias-de-seguranca/
23
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UNIDADE Intervenções Psicológicas em Emergências: Análise da Prática
https://www.portalveneza.com.br/psicologia-unesc-auxilia-familiares-delegacao-cha-
pecoense/. Novembro 2016
REDAÇÃO DC. Tudo que se sabe até agora sobre o acidente com o time da
Chapecoense. Disponível em: <https://www.nsctotal.com.br/noticias/tudo-que-se-
-sabe-ate-agora-sobre-o-acidente-com-o-time-da-chapecoense>. Novembro 2019.
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Psicologia em
Situações de
Emergência
Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Cássia Souza
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
COVID-19: Saúde Mental e
Manejo Frente uma Pandemia
OBJETIVO
DE APRENDIZADO
• Contemplar uma situação emergencial da nossa atualidade, buscando reflexões e compre-
endendo a complexidade de uma pandemia e todas as consequências emocionais, sociais,
psicológicas, econômicas e políticas e o impacto disso na saúde mental da população. Quem
são as vítimas? Como intervir? Como evitar ou lidar com a ansiedade e o medo?
UNIDADE Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
Figura 1
Fonte: Getty Images
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As pandemias são conhecidas como epidemias que se espalham rapidamente por
diversos países e afetam uma quantidade relativamente grande de pessoas e que,
de forma geral, geram consequências do nível micro ao macrossistêmico, impondo,
pelo tempo em que duram, novas regras e hábitos sociais para a população mundial
e mobilizações de diversas naturezas para suas contenções (DUARTE et al., 2020, p. 2).
O contágio é feito no contato pessoa a pessoa, por meio das gotículas com vírus,
que são expelidas pelas pessoas infectadas ao tossir ou espirrar. Essas gotículas têm
a possibilidade de contaminar objetos e superfícies. Assim, a transmissão pode acon-
tecer quando uma pessoa toca nessas áreas contaminadas e, em seguida, levar as
mãos à boca, nariz ou olhos (VELAVAN; MAEYER, 2020).
No que se refere ao tratamento para a COVID-19, até o momento, não foi confir-
mado como eficaz nenhum tratamento antiviral específico.
Em relação aos pacientes infectados com COVID-19 tem sido recomendado apli-
car tratamento sintomático apropriado e cuidados de suporte. Ademais, não foram
realizadas ainda pesquisas conclusivas sobre a imunização (ADHIKARI et al., 2020).
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UNIDADE Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
Assim, esta Unidade tem por objetivo contemplar uma situação emergencial da
nossa atualidade, buscando reflexões e compreendendo a complexidade de uma
pandemia e todas as consequências emocionais, sociais, psicológicas, econômicas e
políticas e o impacto disso na saúde mental da população.
Quem são as vítimas? Como intervir? Como evitar ou lidar com a ansiedade e
o medo?
A mesma situação pode não ocorrer nas pandemias, visto que os profissionais
de saúde, cientistas e gestores focam suas pesquisas e atenções nas questões físi-
cas, com o intuito de entender os mecanismos fisiopatológicos envolvidos e propor
medidaspara prevenir, conter e tratar a doença.
O número de pessoas que têm sua saúde mental afetada no decorrer das pande-
mias tende a ser maior que o número de pessoas infectadas pelo vírus.
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Nessa linha, a pandemia e as medidas de contenção, como quarentena, distan-
ciamento social e autoisolamento, podem ter impacto prejudicial na saúde mental
das pessoas.
Outra questão relevante é que a mídia vem explorando a temática diariamente, haja
vista os reflexos da pandemia no sistema de saúde, na política, na economia e na edu-
cação, apresentando a todo momento o quantitativo de infectados e de óbitos decor-
rentes da infecção pelo COVID-19, gerando em uma parcela da população um pânico.
Wang et al. (2020) desenvolveram uma pesquisa com a população da China sobre
implicações na saúde mental diante da pandemia do novo Coronavírus.
Esses profissionais que estão na linha de frente se deparam com a exaustão mental,
carga horária exaustivas, redução do contato com a família, pressão, frustração na per-
da de pacientes e pessoas próximas, além do medo de contágio e progressão ruim de
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UNIDADE Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
familiares e amigos, o que pode gerar maiores danos em longo prazo para o desenca-
deamento ou a intensificação de sintomas de ansiedade, estresse, depressão, insônia.
Segundo Bao et al. (2020), as principais doenças mentais que esses profissionais
podem apresentar são ansiedade, depressão e TEPT (LIMA et al., 2020).
Vale ressaltar que esses profissionais vêm sendo orientados a minimizar as interações
de maneira próxima com outras pessoas, aumentando o sentimento de isolamento.
Dessa forma, Chen et al. (2020) sinalizam que na China foi observado, nas equi-
pes de saúde mental que trabalham na linha de frente, sintomas de sofrimento psico-
lógico, irritabilidade aumentada e recusa a momentos de descanso.
Zhang et al. (2020) desenvolveu uma pesquisa com o objetivo de investigar a taxa
de prevalência de insônia e confirmar os fatores psicológicos sociais relacionados à
equipe médica em hospitais durante o surto de COVID-19.
12
No entanto, os enfermeiros que não trabalham na linha de frente além de empatia
pelas pessoas que têm COVID-19, apresentam, também, empatia e preocupação
com os colegas da linha de frente.
Outra questão é que enfermeiros que trabalham na linha de frente podem ter
maior preparo e habilidades psicológicas para lidar com emergências de saúde em
comparação àqueles que não trabalham na linha de frente. Dessa forma, sugere-se
a importância da atenção psicológica a essa população no contexto de pandemias.
Intervenções Psicológicas no
Decorrer da Pandemia: Principais
Possibilidades e Desafios
Pesquisas têm demonstrado (BAO et al., 2020; SHOJAEI; MASOUMI, 2020;
ZHOU, 2020) que intervenções psicológicas desempenham papel fundamental para
lidar com questões relativas à saúde mental durante a pandemia do novo Coronavírus.
Algumas orientações têm sido divulgadas para atuação no atual contexto (AMERICAN
PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2020; JUNG; JUN, 2020; WHO, 2020b).
No Brasil, essa prática foi legalizada em 26 de março de 2020, pela Resolução CFP
nº 4/2020, que permite a prestação de serviços psicológicos por meios de Tecnologia
da Informação e da Comunicação (TICs) após a realização do “Cadastro e-Psi”.
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UNIDADE Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
Temáticas que ganharam destaque nos trabalhos dos profissionais da saúde men-
tal junto à população geral são:
• Informações sobre reações esperadas no contexto de pandemia, como sintomas
de ansiedade e estresse, além de emoções negativas, como tristeza, medo, soli-
dão e raiva (WEIDE et al., 2020);
• Promoção de bem-estar psicológico por meio de estratégias, como cuidado e
higienização do sono, incentivo a prática de atividades físicas e técnicas de rela-
xamento e táticas para organização da rotina (BANERJEE, 2020);
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• Fortalecimento das conexões com a rede de apoio social, ainda que os contatos
não ocorram face a face, considerando que instituições como escolas, empresas
e igrejas costumam estar fechadas, o que pode gerar sentimentos de solidão e
vulnerabilidade (SHOJAEI; MASOUMI, 2020);
• Controle da exposição excessiva a informações nas diferentes mídias
(BARROS, 2020).
Intervenções Voltadas
aos Profissionais da Saúde
Psicólogos podem colaborar na prevenção de implicações psicológicas negativas,
bem como colaborar para a promoção da saúde mental nos profissionais da saúde,
haja vista que fatores psicológicos são de extrema importância na forma como os
profissionais de saúde respondem à doença e gerenciam as demandas de seu am-
biente de trabalho.
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UNIDADE Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
Figura 2
Fonte: Getty Images
Assim, o manejo terapêutico por parte dos psicólogos no atendimento aos profis-
sionais de saúde que estão em contexto de enfrentamento do COVID-19 são: identi-
ficar reações de crise e refletir sobre intervenções para o alívio emocional imediato,
facilitar a adaptação, promovendo saúde mental e prevenindo o desenvolvimento ou
o agravamento de doenças mentais.
Também é importante ter em mente que o modo como as pessoas reagem depen-
de de muitos fatores, incluindo: natureza e severidade do(s) evento(s) ao(s) qual(ais) foi/
foram exposta(s), vivência anterior de situações de crise, apoio que elas recebem (ou
receberam) de outras pessoas durante a vida, estado de saúde física, históricopessoal
e familiar de problemas de saúde mental, cultura e tradições pessoais (ALMONDES;
TEODORO, 2020).
16
• Acolhimento e escuta ativa: disponibilize um ambiente on-line que seja
adequado e sem distrações. Proporcione abertura para que o profissional
exponha suas dificuldades (medos e dúvidas). Identifique reações de desespero,
desamparo, desesperança e ideações suicidas;
• Psicoeducação: explique sobre os sentimentos que podem ser mais corriqueiros
nesse contexto de pandemia. Ajude-o a entender que outros profissionais estão
passando por situação semelhante, e que ele não é o único a ter essas dúvidas
sobre a vida e o futuro. Cabe ao psicólogo informar sobre a situação de crise,
sobre quais serviços e suportes estão disponíveis e, também, sobre as questões
de segurança e proteção;
• Aborde o desamparo: junto com ele, encontre pessoas importantes da família
e do trabalho. Tente fazer com que ele fale sobre situações passadas que foram
agradáveis. Faça uma avaliação do nível de desamparo atual. Tente encontrar,
junto com o profissional, pessoas relevantes do círculo de amizade, que podem
ajudá-lo. Estruture, junto com ele, uma possível rede de apoio social;
• Aborde o desespero e o ajude a enfrentar os seus medos: faça uma avalia-
ção dos principais medos na vida do profissional de saúde (por exemplo, “temos
medo de pegar a doença e a levarmos para casa”). Leve em consideração cada
um dos medos, procurando, conjuntamente, fazer uma avaliação do risco de
cada um, bem como as possibilidades do que pode ser feito para impedir que
eles aconteçam;
• Foque na esperança: fique cauteloso para sinais que denotam falta expectativa
em relação ao futuro ou desesperança. Tente explorar quais possíveis planos
para o futuro, o que ele pretende fazer quando tudo acabar;
• Avalie a ideação suicida: avalie a presença de pensamentos de morte com
ou sem planejamento, sua intensidade e o estado mental (delírio, alucinação,
depressão, desesperança, desespero, ansiedade, colapso existencial, instabilidade
do humor).
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UNIDADE Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
“não tenha receio… estamos aqui para ajudar você… estou ouvindo você”.
Fazer mais perguntas abertas, parafrasear e clarificar;
Fazer “mm”, “sim” para que se saiba que nos mantemos em linha.
• Ter a habilidade de respeitar o silêncio e, por outro lado, saber quando inter
rompê-lo, dando atenção à última coisa que foi dita e a quem o disse;
• Conseguir fazer uma escuta atenta, não fazendo muitas perguntas ou dando
informações em demasia para quem está do outro lado da linha. É pertinente
não disponibilizar mais informação do que a necessária, para não dispersar a
atenção do interlocutor;
• Saber controlar o tempo da chamada. O indicado são chamadas com o tempo
médio entre 20 e 30 minutos, podendo, caso necessário, ser menos (desejável)
ou mais (excepcional);
• Ser assertivo e ter o manejo para lidar com chamadas difíceis, não sendo
manipulado. Caso necessário, repetir as mesmas informações, reconhecendo
quando é importante finalizar o contato.
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No que se refere às fases do atendimento a OPP (2020) preconiza quatro:
1. Abrir a comunicação: fazer um enquadre, apresentando-se e explicando
a intervenção, deixando claro que não se trata de uma intervenção longa,
mas tendo a duração do contato;
2. Escutar/avaliar necessidades: identificar o pedido de ajuda, as preocu-
pações, o apoio prático e emocional da pessoa que entrou em contato:
• Avaliar possíveis riscos para a saúde física e psicológica que podem afetar
a pessoa;
• Focar e definir a situação.
3. Informação e/ou apoio personalizado:
• Estar calma, atenta/compreensiva/disponível;
• Comunicar-se de forma simples e direta, baseando-se em conhecimento
com evidências cientificas;
• Ter o cuidado de resumir a informação;
• Certificar se pessoa está entendendo o que o que você está falando:
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UNIDADE Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
Estou preocupada(o) com você e gostaria de encaminhá-lo(a) para alguém que pode
ajudar mais”. Fornecer informação sobre formas de acesso a esses serviços.
“Há mais alguma pergunta que queira fazer?... Se tiver mais dúvidas. pode voltar a ligar.”
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo Coronavírus (COVID-19)
SCHMIDT, B.; CREPALDI, M. A.; BOLZE, S. D. A.; et al. Saúde mental e
intervenções psicológicas diante da pandemia do novo Coronavírus (COVID-19).
Estudos de Psicologia, Campinas, v. 37, p. e200063, 2020.
https://bit.ly/2FWOeFI
Enfrentando o estresse em tempos de pandemia: Proposição de uma cartilha
WEIDE, J. N.; VICENTINI, E. C.C.; ARAUJO, M. F. Enfrentando o estresse
em tempos de pandemia: Proposição de uma cartilha. Porto Alegre: PUCRS/
Campinas: PUC-Campinas, 2020.
https://bit.ly/3666CX9
Guia de Orientação de Atendimento Telefônico em Fase Pandêmica COVID-19
OPP (OPP). Guia de Orientação de Atendimento Telefônico em Fase Pandêmica
COVID-19. Documentos de Apoio à Prática OPP, Portugal, 2020.
https://bit.ly/3kLRSko
Guia Preliminar como lidar com os aspectos Psicossociais e de Saúde mental
referente ao surto de COVID – 19
Inter Agency Stadium Committee [IASC]. Guia Preliminar como lidar com os
aspectos Psicossociais e de Saúde mental referente ao surto de COVID – 19.
Versão 1.5. Tradução de Dr. Mario Gagliato. Março. Recuperado em 03 de agosto
de 2020.
https://bit.ly/36bRw2m
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UNIDADE Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
Referências
ADHIKARI, S. P. et al. Epidemiology, causes, clinical manifestation and diagnosis,
prevention and control of coronavirus disease (COVID-19) during the early outbreak
period: a scoping review. Infectious Diseases of Poverty, Online, v. 9, n. 1, p. 29,
dez. 2020.
BANERJEE, D. The COVID-19 outbreak: Crucial role the psychiatrists can play.
Asian Journal of Psychiatry, Online, v. 50, p. 102014, abr. 2020.
22
GOYAL, P. et al. Clinical Characteristics of Covid-19 in New York City. New
England Journal of Medicine, Online, v. 382, n. 24, p. 2372–2374, 11 jun. 2020.
ORNELL, F. et al. “Pandemic fear” and COVID-19: mental health burden and strategies.
Brazilian Journal of Psychiatry, Online, v. 42, n. 3, p. 232–235, jun. 2020.
SCHMIDT, B.; CREPALDI, M. A.; BOLZE, S. D. A.; et al. Saúde mental e interven-
ções psicológicas diante da pandemia do novo Coronavírus (COVID-19). Estudos de
Psicologia, Campinas, v. 37, p. e200063, 2020.
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UNIDADE Covid-19: Saúde Mental e Manejo Frente uma Pandemia
WHEN health professionals look death in the eye_ the mental health of
professionals who deal daily with the 2019 coronavirus outbreak. Elsevier.
Disponível em: <https://reader.elsevier.com/reader/sd/pii/S016517812030669
7?token=4782DBEB4BD8D0EC7F05278BE102BD999D55B3D9C361E9239
8E1D35B767B878D0406E38620695DF60A4020B772EC72D6>. Acesso em:
03/09/2020.
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Psicologia em situação de emergência – unidade 1
Pergunta 1
0,0625 em 0,0625 pontos
Acerca das contribuições da psicologia nas emergências e desastres, julgue os itens a seguir.
II. A atuação do psicólogo será feita nas três fases: no pré-desastre, durante o desastre e no pós-
desastre. É por meio da percepção dos comportamentos dos indivíduos em todas as etapas do desastre
que as intervenções da Psicologia devem ser desenvolvidas.
IV. A Psicologia das emergências e desastres busca estudar as reações dos indivíduos e dos grupos
humanos no antes, durante e depois da situação de emergência ou desastre, bem como implementa
estratégias de intervenção psicossocial orientadas à mitigação e preparação da população.
Pergunta 2
0,0625 em 0,0625 pontos
As possibilidades de atuação da Psicologia na área de emergência e desastres são extensas e
importantes. Tais ações devem abranger cinco fases preconizadas pela Defesa Civil, são elas:
Pergunta 3
0,0625 em 0,0625 pontos
É possível localizar e representar esses três tipos de crises social em um continuum, indo do maior ao
menor estresse coletivo. Com base nessa informação, preencha os quadros na ordem sequencial em
que são classificadas essas crises, da menor para a maior.
1. Emergência
2. Acidente
3. Catástrofe
4. Desastre
Resposta Selecionada: c.
c) Acidente, Emergência, Desastre e Catástrofe.
Pergunta 4
0,0625 em 0,0625 pontos
Sobre a Defesa Civil, é correto afirmar.
Resposta e.
Selecionada: b) A atuação da defesa civil tem como principal objetivo a redução de riscos e de
desastres.
UNIDADE 2
Pergunta 1
0,0625 em 0,0625 pontos
Assinale a alternativa correta com relação às afirmações abaixo:
Pergunta 2
0,0625 em 0,0625 pontos
Saúde mental é a busca pelo bem-estar emocional e psíquico, incluindo a
capacidade em lidar com as emoções positivas ou negativas.
Resposta Selecionada: b.
d) I e III
Pergunta 4
0,0625 em 0,0625 pontos
Leia a sentença abaixo.
III) ________________, é durante essa fase que o evento ocorre, no assim, nessa
fase, o psicólogo tem por finalidade socorrer e dar suporte e auxilio às pessoas
atingidas.
Resposta a.
Selecionada: a) Fase de prevenção, Fase de preparação, Fase de
resposta, Fase de reconstrução.
UNIDADE 3
ergunta 1
0,0625 em 0,0625 pontos
Acerca dos primeiros auxílios psicológicos (PAP), julgue os itens a seguir.
I. Os PAP objetivam reduzir o estresse inicial causado pelos eventos potencialmente traumáticos e
engajar os sujeitos em estratégias de enfrentamento funcionais de curto e longo prazo.
II. Os PSP podem ser aplicados apenas por profissional na área da saúde mental, mas especialmente
por psicólogos e psiquiatras.
III. A PAP tem foco na reconstrução das capacidades dos indivíduos que passaram por desastre se
recuperarem, amparando-as na identificação das suas necessidades imediatas, bem como suas próprias
forças e habilidades.
IV. A questão cultural, não é importante, tendo em conta a necessidade de uma padronização na forma
de falar e portar-se independentemente da cultura, idade, gênero, costume e religião do indivíduo.
É correto o que está contido em:
Resposta Selecionada: e.
c) I e III.
Pergunta 2
0,0625 em 0,0625 pontos
A saúde mental do profissional de psicologia em situações de emergências, ainda é pouco estudada,
por isso, o número de publicações sobre o assunto é escasso. Ainda assim, é possível compreender que
a própria condição de trabalho desse profissional pode ser um fator de adoecimento. Em relação a essa
afirmativa, leia as sentenças abaixo:
Pergunta 3
0,0625 em 0,0625 pontos
_____________________ é uma intervenção conduzida nos primeiros dias após a exposição
traumática, focada na expressão de sentimentos e relato da situação traumática e na psicoeducação
sobre as reações esperadas.
Resposta Selecionada: c.
b) Debriefing psicológico
Pergunta 4
0,0625 em 0,0625 pontos
Os conceitos que tradicionalmente têm sido assinalados como “Intervenção em Crise”, apontam
diferenças na sua aplicação em situações de emergência e na prática clínica devido às características
específicas da urgência na atenção psicológica/psiquiátrica e na dificuldade em estabelecer protocolos
adequados para tais intervenções (SÁ, WERLANG, PARANHOS, 2008). Pode-se considerar que os
métodos de intervenção de crise focam no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento práticas e
eficazes, que buscam identificar problemas e necessidades:
II) Pode ser necessário, em alguns casos, um tempo maior para o sujeito ressignificar o evento
estressante.
III) Pode levar a uma certa desorganização psíquica, levando até mesmo a um quadro crônico de
sintomas
Resposta Selecionada: a.
d) I, II, III.
Pergunta 3
0,0625 em 0,0625 pontos
Leia o trecho a seguir:
Resposta Selecionada: b.
e. As assertivas 1 e 2 estão corretas e são coerentes com a sentença citada.
Pergunta 4
0,0625 em 0,0625 pontos
Leia as assertivas a seguir:
I) O processo de enfrentamento de crise pode ser vivenciado por qualquer pessoa que passa por uma
situação de crise.
II) Deve-se compreender que não é a maneira que cada indivíduo interpreta que dará significado a
uma situação, mas a própria situação é que definirá a forma de enfrentamento, de elaboração ou de
sofrimento e adoecimento mental.
III) Quanto mais rápido for a intervenção, melhor será o resultado a longo prazo, na resolução da crise.
Resposta Selecionada: a.
d) I e III.