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Causas extintivas da punibilidade

As causas extintivas da punibilidade acham-se previstas no art. 107 do CP, que não é um rol taxativo. Ou
seja: há outras causas extintivas do ius puniendi fora do art. 107 (morte do ofendido nos casos de ação
privada personalíssima – CP, art. 236 –, ressarcimento do dano no peculato culposo – CP, art. 312, § 3.º –,
art. 89, § 5.º, da Lei 9.099/95, término do sursis, término do livramento condicional, pagamento da multa
etc.). Vejamos cada uma delas:

Morte do agente - CP, art. 107, I


A morte elimina, em relação ao agente do fato, todas as consequências penais decorrentes de uma infração
penal. O Código Penal fala em morte do agente (CP, art. 107). Agente pode ser o indiciado, o acusado ou o
sentenciado. Em qualquer fase da persecutio criminis (fase da investigação preliminar, fase processual ou
fase executiva), morrendo o agente, deve-se reconhecer extinta a punibilidade (ou seja: o direito de o
Estado impor a pena cominada ao fato), mesmo porque nenhuma pena pode passar da pessoa do
condenado (CF, art. 5.º, XLV) (princípio da personalidade ou pessoalidade da pena).

Morte do agente após o trânsito em julgado: a sentença penal condenatória pode ser executada no cível,
porque já formado o título executivo. E se ocorre antes do trânsito em julgado: a sentença não pode ser
executada no cível. Cabe à vítima valer-se da via da ação civil para efeito do ressarcimento.

A morte é causa pessoal de extinção do ius puniendi. Logo, não se comunica entre os agentes. A morte do
corréu “A” não beneficia o corréu “B”.

Como se comprova a morte? Por certidão de óbito original. Com base nela julga-se extinta a punibilidade
(CPP, art. 62), depois de ouvidas as partes. E se se tratar de certidão de óbito falsa? A questão é
controvertida.

QUESTÃO CONTROVERTIDA: No caso de certidão de óbito falsa surgem duas correntes: (a) para a doutrina
vale a coisa julgada porque não existe revisão pro societate (processando-se o réu por uso de documento
falso); (b) para o STF trata-se de decisão inexistente (logo, não possui valor jurídico). O réu deve cumprir a
pena que foi (por equívoco) julgada extinta. Mais justa e acertada é a segunda posição (do STF).

No caso de morte presumida (CC, art. 6.º), uma vez expedida a certidão de óbito, extingue-se a punibilidade
(no âmbito criminal). No caso do art. 7.º do CC, uma vez registrada a decisão do juiz que declara a morte
presumida, com base nessa decisão, julga-se extinta a punibilidade na esfera criminal.

Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes,
nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.

Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente
provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou
feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A
declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas
as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

A morte da vítima extingue a punibilidade do réu? Não, em regra. Excepcionalmente sim: quando morre a
vítima na ação privada personalíssima (caso do art. 236 do CP – casamento mediante erro essencial ou
ocultação de impedimento). A morte da vítima nessa hipótese provoca a perempção e, em consequência, a
extinção da punibilidade concreta.

A morte do condenado impede a revisão criminal? Não (porque se trata de ação de impugnação da coisa
julgada, que visa a restabelecer a dignidade do condenado). A morte do condenado impede a reabilitação
criminal? Sim (porque impossível declarar regenerado quem já morreu).

Anistia, Graça e Indulto – Art. 107, II – DO PERDÃO JUDICIAL - CP, ART. 107, IX
INDULGÊNCIA SOBERANA
ANISTIA GRAÇA/INDULTO PERDÃO JUDICIAL
Legislativo Executivo Judiciário
Somente após a condenação
A qualquer momento Durante a sentença
com trânsito em julgado
Só afasta a execução da pena
Extingue todos os efeitos Afasta os efeitos
imposta (os demais efeitos
penais (os civis são mantidos) penais e civis
penais e civis são mantidos)

A anistia pode ser própria (quando concedida antes do trânsito em julgado) ou imprópria (após o
trânsito em julgado); geral (quando não exclui pessoas) ou parcial (quando exclui pessoas);
condicional (quando impõe condições) ou incondicional (quando não impõe condições); restrita
(quando exclui crimes conexos) e irrestrita (quando não os exclui). Em tese a anistia não deveria
ser parcial ou restrita pois sendo concedida pelo Poder Legislativo deveria obedecer a essência de
atuação daquele poder, sendo portanto genérica e abstrata. Quem concede a anistia é o Congresso
Nacional, por lei, que deve ser sancionada pelo Presidente da República. É uma lei penal e portanto
retroativa e que não pode ser revogada mas, caso fosse, não eliminaria a anistia concedida
anteriormente. A lei revogatória, sendo prejudicial, não teria retroatividade.

O indulto é a indulgência soberana concedida pelo Poder Executivo. Pode ser coletivo ou
individual. Este último chama-se também graça. Ambos são causas extintivas da punibilidade
concreta e perdoam total ou parcialmente a pena do réu. O indulto é concedido para pessoas,
enquanto a anistia é concedida para fatos. O indulto nada tem a ver com as saídas temporárias do
preso (no natal, na páscoa etc). Indulto coletivo e individual: o indulto individual precisa ser
solicitado ao Presidente da República (o pedido tem tramitação pelo Ministério da Justiça); o
coletivo é concedido de ofício, pelo Presidente da República (ou pessoa delegada: Ministro de
Estado, Procurador-Geral da República ou Advogado-Geral da União), por decreto (isso vem
ocorrendo todos os anos com o chamado indulto natalino). O indulto pressupõe sentença penal
irrecorrível, ou seja, em regra o indulto (coletivo ou individual) só é concedido após o trânsito em
julgado final da sentença condenatória. Excepcionalmente pode haver indulto quando a sentença já
transitou em julgado (só) para a acusação. Efeitos: o indulto só alcança a execução da pena imposta.
Não afeta a sentença penal, que permanece íntegra, sobretudo para efeito da reincidência,
antecedentes etc. O indulto, em suma, não rescinde a sentença penal condenatória. Nesse ponto é
totalmente distinto da anistia. Espécies de indulto: há o indulto pleno (ou total) (quando extingue
toda a pena imposta) e o indulto parcial. O parcial pode consistir em redução de pena ou em sua
comutação (substituição: substituição da prisão por multa, por exemplo). Cabe indulto quanto às
medidas de segurança mas na prática não tem ocorrido, porque sem exame de cessação da
periculosidade não se pode dar por concluída a medida de segurança. O indulto da pena de prisão
afeta a pena de multa? Se a multa não foi excluída expressamente pelo decreto presidencial, sim. A
extinção da punibilidade da pena de prisão acaba afetando também a pena de multa. O indulto pode
alcançar o sursis (ou seja: réu condenado em sursis pode ser beneficiado com o indulto).

O perdão judicial consiste na possibilidade de o juiz deixar de aplicar a pena cominada nas hipóteses
expressamente previstas na lei penal. Pressupõe que o juiz examine o mérito do caso e reconheça a
culpabilidade do agente. A sentença que concede o perdão judicial, por conseguinte, é autofágica:
reconhece o crime e a culpabilidade e em seguida julga extinta a punibilidade. Impossível o arquivamento
do inquérito policial no caso do perdão judicial. O processo necessariamente deve ser instaurado, para que
se reconheça o crime e a culpabilidade. Depois disso é que tem incidência o perdão judicial. O fundamento
é a desnecessidade concreta de aplicação da pena. Hipóteses legais: art. 121, § 5.º, do CP, art. 129, § 8.º,
art. 140, § 1.º, 176, parágrafo único etc. Obs.: a lei de proteção as testemunhas (lei 9.807/99) criou uma
cláusula geral de perdão judicial uma vez que ela se aplica indistintamente a qualquer tipo penal; o perdão
judicial será cabível em caso de delação premiada sempre que o infrator for primário; caso haja o conflito
de normas entre as demais hipóteses previstas no ordenamento de delação premiada (Lei dos Crimes
contra o sistema financeiro, Lei dos Crimes contra a ordem tributária, Lei de Drogas , Lei dos Crimes
Hediondos , Lei dos Crime Organizado, Código Penal – art. 159 p. quarto, Lei de Lavagem de Capitais) e o
artigo 13 da lei de Proteção as Testemunhas esta tem preponderância pois possui conseqüências mais
abrangentes (Perdão Judicial e não apenas a diminuição de pena). Natureza jurídica da sentença que
concede o perdão judicial- há três correntes sobre o assunto: (a) absolutória, uma vez que não há imposição
de pena; (b) condenatória, uma vez que para se perdoar primeiro devemos reconhecer que o fato é típico,
ilícito, culpável e punível, caso contrário outro será o fundamento da isenção de pena (só podemos extinguir
a punibilidade quando constatamos que ela efetivamente existiu); (c) declaratória de extinção da
punibilidade (Súmula 18 do STJ). A terceira posição nos parece a correta. Logo, essa sentença não vale para
efeito da reincidência (CP, art. 120). Nessa matéria, sendo infraconstitucional, a última palavra é do STJ (daí
a proeminência da Súmula 18). Não sendo condenatória a sentença, não pode ela ser executada na cível.
Cabe à vítima valer-se da via da ação civil para efeito de reparação dos danos. Ocorrendo prescrição da
pretensão punitiva (PPP), em qualquer das suas modalidades, não há que se falar em perdão judicial. Se
extinta a punibilidade, perde sentido perdoar o agente. Perdão só existe quando a punibilidade continua
vigente.

Da retratação do agente - CP, art. 107, VI


Retratar significa voltar atrás, desdizer, reconhecer o erro praticado. A retratação do agente em regra não
afeta a punibilidade do fato. Excepcionalmente, sim.

Hipóteses: art. 143 do CP (calúnia ou difamação); art. 342, § 2.º, do CP (falso testemunho ou falsa perícia,
desde que a retratação ocorra antes da sentença a ser proferida no processo em que houve o falso
testemunho ou a falsa perícia; e no júri: até à pronúncia).

Depende de aceitação? Não. É unilateral. A retratação, de outro lado, deve ser inequívoca, indiscutível.

Natureza jurídica: é causa extintiva da punibilidade concreta. No caso de concurso de pessoas não se
comunica aos demais. A retratação é personalíssima. Exceção: no crime de falto testemunho ou falsa
perícia, porque, nesse caso, o fato deixa de ser punível.

DO PERDÃO DO OFENDIDO - CP, ART. 107, V - DA RENÚNCIA - CP, ART. 107, V - DA PEREMPÇÃO -
CP, art. 107, IV - DA DECADÊNCIA- CP, art. 107, IV
Formas de disponibilidade da ação penal privada: de muitas maneiras pode o ofendido ou seu
representante legal dispor da ação penal privada: (a) decadência (que se dá quando a vítima
permanece inerte e não exercita o direito de ação no prazo legal – CP, art. 103); (b) renúncia; (c)
perdão judicial e (d) perempção. Uma quinta possibilidade se dá nos crimes contra a honra que
refogem da competência dos juizados (injúria racial, por exemplo), por meio da desistência, nos
termos do art. 522 do CPP. A decadência é relacionada ao princípio da oportunidade. Ação penal
pública e ação penal privada se diferenciam pela oposição de três princípios, e a partir deles
conseguimos localizar quatro causas de extinção de punibilidade vinculadas diretamente a tais
princípios nas ações privadas, vejamos

Ação Penal Pública Ação Penal Privada


Obrigatoriedade ou Compulsoriedade: o MP Oportunidade: a vítima exercerá a ação apenas
tem dever funcional de exercer a ação, desde se lhe for conveniente. Ocorre antes da
que presentes os requisitos legais. propositura da ação.
Obs.: Princípio da Obrigatoriedade Mitigada ou Institutos correlatos
da Discricionariedade Regrada: ela se traduz pelo Decorre da inércia Decadência
instituto da transação penal como alternativa a do ofendido
denúncia no âmbito das infrações de menor Depende de Renúncia
potencial ofensivo – art. 76 da lei 9099/95. manifestação de
vontade do
ofendido
Indisponibilidade: MP não poderá desistir da Disponibilidade: informa que a vítima poderá
ação, mas nada impede que o MP requeira a desistir da ação deflagrada. Ocorre após a
absolvição, recorra em favor do réu ou até propositura da ação
mesmo que impetre HC e isso não é Institutos correlatos
incompatível com a indisponibilidade. Decorre da inércia Perempção
Obs.: Princípio da Indisponibilidade Mitigada – do ofendido
se apresenta por força da suspensão condicional Depende de Perdão
do processo, art. 89 da Lei 9099/95, em que por manifestação de
iniciativa do MP o processo é paralisado e depois vontade do
extinto uma vez cumpridas todas as obrigações ofendido
impostas.
Divisibilidade: Segundo STJ e STF a ação pública Indivisibilidade: no concurso de pessoas, caso a
admite desmembramento e complementação vítima opte por exercer a ação, deverá faze-lo
incidental por meio do aditamento sendo assim contra todos que contribuíram para o delito. Cabe
divisível. ao MP, como custos legis, fiscalizar o respeito a
indivisibilidade – se o MP detectar que a vítima
VOLUNTARIAMENTE não processou todos os
concorrentes deve baixar parecer opinando pela
declaração da renúncia em prol dos não
processados o que extingue a punibilidade em
favor de todos; por sua vez se a omissão é
INVOLUNTÁRIA a própria vítima vai ADITAR a ação
incluindo os demais réus. O perdão oferecido a
parte dos réus se estende a todos que desejem
aceitar

Quando se trata de ação penal privada ou pública condicionada à representação da vítima, a queixa
ou a representação deve ser oferecida no prazo de seis meses, sob pena de decadência. Ou seja a
decadência também ocorre na ação penal pública, mas apenas quando esta é condicionada. A vítima
pode escolher entre ingressar com a queixa ou a representação ou, de acordo com sua conveniência
e oportunidade (daí o nome do princípio) simplesmente deixar o prazo se esvair. Prazo para a
representação ou para o oferecimento da queixa: é de seis meses, contados do dia em que o
ofendido (ou seu representante legal) vier a saber quem foi o autor do crime; é um prazo
decadencial (portanto, não se prorroga, não se suspende e não se interrompe). O Estado, no caso da
ação penal pública condicionada, transferiu ao particular o poder de decidir sobre o processo. Mas
esse poder não pode ser exercido em todo momento. Tem prazo. Diga-se o mesmo em relação à
ação penal privada. Ação Penal Privada Subsidiária da Pública: por força da Constituição, art. 5º,
LIX, admite-se o exercício de ação privada em delito de iniciativa pública desde que o MP não atue
nos prazos que a lei lhe confere (5 dias se o agente está preso e 15 se está solto). O prazo para
deflagração da Ação Penal Privada Subsidiária da Pública são de seis meses contados do
esgotamento do prazo que o MP dispunha para atuar. Neste caso o prazo é decandencial mas ele não
tem o efeito de gerar a extinção da punbilidade uma vez que o MP continua legitimado para
ingressar com a denúncia. Essa é uma hipótese de decadência que se diferencia da regra geral por
três razões: a) a ação penal é pública e não privada; b) o termo inicial do prazo decadencial começa
a ser contado no dia em que se encerrou o prazo para o oferecimento da denúncia e não do dia que
se conheceu a autoria; c) o decurso dos 6 meses sem o oferecimento da queixa subsidiária não
extingue a punbilidade. Súmula 594 do STF: dizia que “os direitos de queixa e de representação
podem ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal”. Quando a
vítima tem entre 18 e 21 anos o direito de representação (e de queixa) era duplo (até o advento do
Código Civil de 2002). Atualmente a vítima com 18 anos tem o poder de representar sozinha e,
portanto, a Súmula 594 do STF perdeu sentido. Importante sublinhar que essa Súmula só regia a
situação da dupla titularidade do direito de queixa ou de representação. Por isso é que já não possui
validade.

A renúncia é a abdicação do direito de oferecer queixa ou representação: cabe renúncia ao direito


de representação? Sim, desde a Lei dos Juizados já não se discute esse tema (Lei 9.099/95,
parágrafo único do art. 74). Ação pública condicionada e ação privada admitem renúncia pela
vítima. Renúncia na ação privada subsidiária da pública não produz nenhum efeito. Renúncia não se
confunde com desistência: aquela acontece antes do início da ação penal; esta só ocorre depois de
iniciada a ação penal (e juridicamente consiste no perdão da vítima ou na perempção). A renúncia
está vinculada com o Princípio da Oportunidade da Ação Penal Privada. A renúncia, de outro lado, é
unilateral (não depende do consentimento). Momento: só cabe renúncia antes da queixa ou antes da
representação. Ela é sempre extraprocessual. O que se chama de desistência na verdade, em geral, é,
tecnicamente, renúncia. Aspectos formais: a renúncia pode ser: (a) expressa ou (b) tácita. É expressa
quando há declaração formal, firmada pela vítima; é tácita quando a vítima pratica ato incompatível
com o direito de queixa. Recebimento de indenização significa renúncia? Não. Há uma exceção na
Lei dos Juizados (art. 74, parágrafo único), onde o recebimento de indenização significa renúncia.
Hipótese de coautoria: a renúncia em favor de um coautor estende-se a todos (CPP, art. 49). Essa
consequência deriva do princípio da indivisibilidade da ação penal privada. Hipótese de várias
vítimas: a renúncia de uma vítima não afeta o direito das outras vítimas. Dupla titularidade do
direito de ação e Código Civil de 2002: agora a vítima com 18 anos, sozinha, pode renunciar. Houve
alteração do CPP nesse ponto. Sua renúncia não depende da anuência de ninguém mais. Com 18
anos a vítima pode praticar todos os atos da vida civil.

Perempção, no sentido técnico, significa a morte da ação penal já proposta (da ação em curso). É
uma sanção imposta ao querelante inerte ou negligente. Implica a extinção da punibilidade. Só
ocorre na ação penal privada (art. 107, IV) exclusiva ou personalíssima; na subsidiária, o Ministério
Público assume a ação quando o querelante se mantém inerte (não há que se falar em perempção na
ação penal privada subsidiária da pública). A perempção é vinculada ao princípio da disponibilidade
da ação penal. As hipóteses de perempção estão no art. 60 do CPP. A morte do querelante no caso
de ação penal privada personalíssima também caracteriza o instituto. Como ninguém pode
prosseguir na ação, dá-se perempção. Na hipótese de dois querelantes: a perempção para um não
afeta o direito do outro. Diferença entre perempção e perdão do ofendido: a perempção é unilateral
enquanto o perdão é bilateral. A primeira deriva da inércia, o segundo deriva de um ato de
benevolência, isto é, ato ativo de perdoar. Diferença entre perempção e preclusão: a perempção
extingue a ação, logo extingue o processo e, portanto, a punibilidade. A preclusão impede a prática
de um ato processual, ex.: sujeito perde o prazo recursal. Ocorrida a perempção, pode a ação penal
ser reiniciada? Não, impossível. Com a perempção dá-se a extinção da punibilidade. E uma vez
extinta a punibilidade, nada pode ser feito. Diferença entre perempção e renúncia: a perempção só
existe após o início da ação penal. A renúncia só existe antes do início da ação. Mais informações
sobre a renúncia serão trazidas a seguir.

Perdão significa esquecimento, indulgência. Não se pode confundir perdão do ofendido (que é concedido
por ele, quando lhe aprouver) com o perdão judicial (que só pode ser concedido pelo juiz nas hipóteses
legalmente previstas): o perdão do ofendido só cabe na ação penal privada (exclusiva ou personalíssima).
Na ação penal pública não existe. Na ação penal privada subsidiária o perdão não produz efeitos; diante
dele o Ministério Público assume a ação. O perdão do ofendido está vinculado com o Princípio da
Disponibilidade da Ação Penal Privada. Efeitos do perdão do ofendido: (a) o perdão obsta o prosseguimento
da ação; (b) é causa extintiva da punibilidade (CP, art. 107, V). Momento: depois do início da ação e até o
trânsito em julgado final. Perdão concedido antes do início da ação penal significa renúncia. Aspectos
formais: o perdão pode ser: (a) expresso ou (b) tácito. É expresso quando há declaração formal/escrita; é
tácito quando a vítima pratica ato incompatível com a vontade de processar.Bilateralidade do perdão: o
perdão depende da aceitação do querelado. Se o querelado recusar o perdão a ação prossegue
normalmente. A aceitação pode ser expressa ou tácita: é expressa quando o querelado declara
formalmente a aceitação; é tácita quando o querelado não se manifesta no prazo de 3 dias após cientificado
do perdão (isso significa que ele aceitou). Hipótese de vários querelados: perdão concedido a um estende-se
a todos (princípio da indivisibilidade). Hipótese de vários querelantes: o perdão dado por um deles não
prejudica o direito dos outros (CP, art. 106, II). Diferença entre perdão e renúncia: o perdão do ofendido é
ato bilateral e só pode ser dado após o início da ação penal; a renúncia é ato unilateral e só pode ocorrer
antes do início da ação penal. Perdão parcial: sim, é possível. Exemplo: na hipótese de dois crimes a vítima
pode perdoar o crime A e não o B.
Quadro comparativo decadência x prescrição

Decadência Prescrição

Somente para crimes de ação privada


Tipo de Persecução
ou pública condicionada à Qualquer tipo de crime
Penal
representação
Varia de acordo com a pena prevista
Prazo 6 meses
para o crime

Só ocorre antes da propositura da


Momento A qualquer momento
ação penal

Direito de ingressar com a queixa ou


Extingue diretamente o direito de
Direito atingido representação (por via oblíqua o
punir
direito de punir)
Prorrogação,
Não se prorroga, não se suspende Não se prorroga, mas pode ser
Suspensão e
não se interrompe suspenso ou interrompido
Interrupção do prazo

Prescrição
Todos os crimes são prescritíveis? Em princípio, sim. Exceções: (a) racismo (CF, art. 5.º, XLII); (b)
ação de grupos armados contra o Estado Democrático (CF, art. 5.º, XLIV). Há também os crimes
contra a humanidade que são considerados imprescritíveis pelo jus cogens (direito da ONU), assim
como pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos.

Obs.: a Constituição possui três mandados criminalizantes consecutivos, nos incisos 42, 43 e 44 do
art. 5º. Os incisos 42 e 44 como vimos veiculam delitos imprescritíveis; o inciso 43 no entanto,
apesar de ser o dispositivo que trata de delitos hediondos e equiparados, não traz hipótese de
imprescritibilidade

Imprescritível XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à


pena de reclusão, nos termos da lei

Prescritível XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a


prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem

Imprescritível XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,


civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático

Obs.: a hipótese do art. 366 do CPP não é hipótese de imprescritibilidade. Lembrando que o art. 366
do CPP aduz que caso o réu citado por edital não compareça nem nomeie procurador o processo
ficará suspenso aguardando seu retorno, ficando suspensa também a prescrição. A posição que hoje
prevalece é que a prescrição não ficará suspensa ad aeternum, o que criaria uma hipótese geral
(cabível para qualquer crime) de imprescritibilidade infraconstitucional, mas sim que a suspensão
dura o prazo máximo previsto em abstrato relativo ao crime de acordo com a regra do art. 109 do
CP. Findo esse prazo a prescrição suspensa volta a correr. Em termos práticos o que o art. 366 do
CPP faz é dobrar o prazo de prescrição. Neste sentido vide STJ HC 84. 982/SP, rel. Min. Jorge
Mussi, 5ª Turma, 21/02/2008. Visualizemos o exemplo:

Delito de furto simples 06 meses após o início Prescrição fica Caso o réu não
prescreve em 08 anos. da ação a mesma é suspensa por 08 anos retorne, após oito anos
Réu é denunciado por suspensa pela aguardando o retorno de iniciada a
furto: com o verificação da hipótese do réu. Com seu suspensão a prescrição
recebimento da do 366 do CPP (réu retorno ela volta a volta a correr pelos
denúncia começa a citado por edital não correr de imediato. sete anos e 06 meses
contagem do prazo compareceu nem restantes. Findo
prescricional de 08 nomeou procurador) também esse prazo o
anos crime estará prescrito.

O STF no entanto já entendeu em sentido contrário, aduzindo que a hipótese não criaria uma
situação de imprescritibilidade mas apenas de prescritibilidade condicionada (condicionada ao
retorno do réu), e por isso a suspensão poderia se dar por prazo indefinido, conforme STF RE
460.971/RS Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, 13/02/2007.

Não há trânsito em prescrição pela pena máxima em


julgado para abstrato
Não há acusação ou defesa
trânsito em
julgado Prescrição da
pretensão punitiva Não há trânsito em prescrição retroativa
julgado para a
defesa (mas já há
para a acusação) * prescrição intercorrente ou
superveniente

Há trânsito Prescrição da pretensão executória


em julgado

* Pode não haver o trânsito em julgado para a acusação se: 1) o recurso não discute a quantidade de pena;
2) a quantidade de pena a maior almejada pela acusação no recurso não modifica o prazo prescricional pela
regra do art. 109 do CP.

Algum setor da doutrina ainda menciona uma outra modalidade:

- Prescrição virtual ou antecipada ou em perspectiva.

Vejamos cada uma delas.

23.3.5.1. Prescrição da pretensão punitiva pela pena máxima em abstrato - CP, art. 109

É regulada pela pena máxima (em abstrato) de prisão. É espécie de prescrição da pretensão punitiva (PPP),
isto é, da punibilidade concreta.

Os prazos prescricionais dessa modalidade de prescrição (de PPP) estão no art. 109 do CP. Vejamos:

Máximo da pena prevista em abstrato Prazo prescricional


Inferior a 01 ano 3 anos
Igual ou superior a 01 ano, mas não superior a 02 anos (até 02
4 anos
inclusive)
Superior a 02 anos, mas não superior a 04 anos (até 4 inclusive) 8 anos
Superior a 04 anos, mas não superior a 08 anos (até 08 inclusive) 12 anos
Superior a 08 anos, mas não superior a 12 anos (até 12 inclusive) 16 anos
Superior a 12 anos 20 anos

Observação: 20 anos não é o maior prazo prescricional previsto na lei brasileira; o art. 125, I, do CPM
estabelece o prazo prescricional de 30 anos em caso de pena de morte.

Como se descobre o prazo prescricional? Verificando-se a pena máxima do fato narrado na denúncia (o que
importa é o fato narrado, não a sua qualificação jurídica) e as escalas do art. 109. Se o fato for
desclassificado a posteriori, conta-se a prescrição pelo fato desclassificado (não pelo fato inicialmente
narrado). A decisão desclassificatória tem efeito retroativo. E se houver aditamento da denúncia? Leva-se
em conta o fato narrado mais o aditamento.

Levam-se em conta as causas de aumento ou de diminuição da pena? Sim, em regra. Quando for variável,
leva-se em conta o cenário menos favorável ao réu (ou seja, o percentual maior nas causas de aumento de
pena e o menor nas causas de diminuição).

Exceções: (a) concurso formal; (b) crime continuado. Nessas duas hipóteses a prescrição deve ser contada
em relação a cada crime isoladamente (CP, art. 119).

Levam-se em conta as agravantes e atenuantes? Não, em regra, porque não alteram os marcos legais
mínimo e máximo da pena (STJ, Súmula 231). Exceção: a menoridade e a senilidade (CP, art. 65, I), no
entanto, podem reduzir o prazo pela metade (CP, art. 115).

A reincidência não influi (STJ, Súmula 220), seus reflexos ficam adstritos à prescrição da pretensão
executória (PPE)

Visualizando o cálculo:

Passo 01 Encontrar a pena máxima prevista em abstrato

Desprezar circunstâncias judiciais (art. 59 do CP) e agravantes e atenuantes (61 a 66 do


Passo 02 CP), exceto a menoridade e a senilidade (art. 65, I e 115 do CP – que reduzem o prazo
prescricional pela metade)
Levam-se em contas as causas de aumento (no patamar máximo) e de diminuição (no
patamar mínimo) encontrando a pior hipótese de dosimetria possível para o réu. Não se
Passo 03
leva em consideração a causa de aumento em concurso formal ou crime continuado (a
contagem da prescrição dos delitos é feita isoladamente)
Encontrada a maior pena possível verifica-se o enquadramento deste resultado na
Passo 04
tabela do art. 109 do CP

Visualizando os períodos prescricionais:

Crimes comuns
1º período Da hipótese do art. 111 verificada até o recebimento da inicial
2º período Do recebimento da inicial até a sentença condenatória ou acórdão condenatório
recorrível

Crimes da competência do Júri


1º período Início do prazo (art. 111) até o recebimento da inicial
2º período Do recebimento da inicial até a decisão de pronúncia
3º período Da decisão de pronúncia até o acórdão confirmatório da pronúncia
4º período Do acórdão confirmatório da pronúncia até a sentença condenatória ou acórdão
condenatório recorrível

a) recebimento da denúncia ou queixa: ocorre com a publicação do despacho de recebimento; caso a


inicial seja aditada não haverá nova interrupção, a não ser que seja incluído novo crime e, apenas em
relação a este novo crime, haverá então a interrupção. Em caso de rejeição do recebimento da inicial caberá
recurso em sentido estrito (art. 581, I do CPP). Caso o tribunal dê provimento ao recurso essa decisão
equivale ao recebimento da inicial, havendo a interrupção da prescrição a partir da sua publicação
conforme a Súmula 709 do STF (“salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o
recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela”). Se o recebimento da inicial
for anulado a interrupção da prescrição ficará sem efeito. Por fim denúncia ou queixa recebida por juiz
absolutamente incompetente não interrompe a prescrição (art. 567, do CPP), uma vez que se trata de
inequívoco ato com conteúdo decisório;

b) publicação da pronúncia: pronúncia é uma decisão interlocutória mista não terminativa típica do rito
escalonado do Júri, pertinente ao julgamento dos crimes dolosos contra a vida. No entanto ela interrompe a
prescrição também com relação aos crimes conexos. De acordo com a Súmula 191 do STJ: “A pronúncia é
causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime”. Ou seja, neste
caso, mesmo ao final se constate que não se tratava de crime doloso contra a vida, ou crime conexo a crime
doloso contra a vida, haverá um marco interruptivo a mais (e por isso um período prescricional a mais) pois
a pronúncia continuará valendo como hipótese de interrupção.;

c) acórdão confirmatório da pronúncia;

d) publicação da sentença ou acórdão condenatório recorrível: a publicação da sentença condenatória


recorrível se dá nos moldes do art. 389 do CPP ( Art. 389. A sentença será publicada em mão do escrivão,
que lavrará nos autos o respectivo termo, registrando-a em livro especialmente destinado a esse fim). Se
houver acórdão confirmatório da condenação ele não interrompe a prescrição novamente. Isso é válido
ainda que a pena fixada na primeira instância seja modificada pelo Tribunal. O acórdão só interrompe a
prescrição quando reformar a decisão monocrática de absolvição. Em suma o que interrompe a prescrição é
a primeira decisão condenatória recorrível. Se a primeira decisão condenatória não for recorrível (como no
foro por prerrogativa de função) ela não interromperá a prescrição.

Nas quatro hipóteses de interrupção da PPP, há duas regras importantes que devem ser observadas: (a) na
hipótese de concurso de pessoas, a interrupção da prescrição em relação a uma delas, produz efeito em
relação a todos. Ex.: condenação de um deles e absolvição de outro. A interrupção para um, produz efeito
em relação ao outro; (b) na hipótese de crimes conexos, objeto do mesmo processo, a interrupção da
prescrição em relação a qualquer um deles estende-se aos demais. Ex.: condenação por um crime e
absolvição em outro.

Causas suspensivas da prescrição (CP, art. 116): Antes de transitar em julgado a sentença final a prescrição
(PPP) não corre: (a) enquanto não resolvida, em outro processo, questão prejudicial; (b) enquanto o agente
cumpre pena no estrangeiro; (c) enquanto o processo está suspenso (art. 89, § 6.º da Lei 9.099/95); (d)
enquanto o processo está suspenso nos termos do art. 366 do CPP; (e) em hipótese de suspensão
parlamentar do processo (art. 53, §3º da CF); (f) citação via carta rogatória do acusado no estrangeiro em
lugar sabido (art. 368 do CPP); (g) em caso de acordo de leniência (art. 87 da Lei 12.529/11) nos crimes
contra a ordem econômica (8130/90), nos relacionados a prática de cartéis, na fraudes em licitação
(8666/93) e no 288 do CP; (h) parcelamento do débito nos crimes contra a ordem tributária (8137/90, 168-A
do CP, 337-A do CP todos com fundamento no art. 9º da Lei 10.684/03).

Visualizando os períodos prescricionais:

1) Antes da lei 12.234/10

Crimes comuns
1º período Da hipótese do art. 111 verificada até o recebimento da inicial
2º período Do recebimento da inicial até a sentença condenatória ou acórdão condenatório
recorrível
Crimes da competência do Júri
1º período Início do prazo (art. 11) até o recebimento da inicial
2º período Do recebimento da inicial até a decisão de pronúncia
3º período Da decisão de pronúncia até o acórdão confirmatório da pronúncia
4º período Do acórdão confirmatório da pronúncia até a sentença condenatória ou acórdão
condenatório recorrível

2) Depois da Lei 12.234/10


Crimes comuns
1º período Do recebimento da inicial até a sentença condenatória ou acórdão condenatório
recorrível

Crimes da competência do Júri


1º período Do recebimento da inicial até a decisão de pronúncia
2º período Da decisão de pronúncia até o acórdão confirmatório da pronúncia
3º período Do acórdão confirmatório da pronúncia até a sentença condenatória ou acórdão
condenatório recorrível

Características da prescrição retroativa: (a) pressupõe sentença condenatória (ou acórdão condenatório);
(b) leva-se em conta a pena aplicada (não a pena em abstrato); e se a pena for diminuída pelo Tribunal?
Leva-se em conta a pena diminuída (não a aplicada na sentença); (c) os prazos prescricionais são os mesmos
do art. 109; (d) conta-se o prazo prescricional retroativamente, ou seja, da data do recebimento da
denúncia ou da queixa até a publicação da sentença condenatória. No júri, devemos ter por base os três
períodos prescricionais possíveis (já examinados acima).

E se o réu foi absolvido em primeiro grau e condenado pelo Tribunal? Conta-se a prescrição retroativa da
data do recebimento da denúncia ou queixa até a publicação do acórdão condenatório recorrível. Note-se:
acórdão confirmatório de sentença condenatória não interrompe a prescrição; já o acórdão condenatório
sim (interrompe a prescrição). Acórdão condenatório acontece quando o réu foi absolvido em primeiro grau
e condenado pelo tribunal.

A prescrição intercorrente e prescrição retroativa possuem o mesmo lapso prescricional? Sim, porém
períodos prescricionais distintos. A intercorrente conta-se da publicação da sentença condenatória para
frente (é a prescrição que acontece nos tribunais); a retroativa, depois que saiu a sentença condenatória,
conta-se para trás (olhando-se o tempo passado). A retroativa acontece e é reconhecida na primeira
instância (em regra).

Eventual recurso da acusação pode alterar o prazo da prescrição retroativa? Depende: se a acusação
ingressar com recurso, se o recurso da acusação visa ao aumento da pena, se for provido (pelo Tribunal), se
a pena for aumentada (pelo Tribunal) e se alterar a escala do prazo prescricional, é possível.

ILUSTRANDO: Condenação a um ano de prisão, prescreve em quatro. Se o Ministério Público recorrer


visando ao seu aumento, se o Tribunal der provimento ao recurso, se o Tribunal aumentar a pena para três
anos, sim, altera-se o prazo prescricional. Porque três anos prescreve em oito anos (mudou a escala).

Pode a prescrição retroativa ser reconhecida em primeiro grau? Sim, desde que a pena fixada tenha
transitado em julgado para a acusação. Após o trânsito em julgado para a acusação o juiz pode, inclusive de
ofício, reconhecer a prescrição retroativa.

Efeitos da prescrição retroativa: (a) rescinde a sentença condenatória (que não produz nenhum efeito
penal); (b) impede o exame do mérito do caso etc.

23.3.5.3. Prescrição intercorrente ou superveniente - CP, art. 110, § 1º

Natureza jurídica: é espécie de PPP (portanto, dá-se antes do trânsito em julgado final).

Características: (a) pressupõe sentença (ou acórdão) penal condenatória(o); (b) o que vale é a pena aplicada
na sentença (ou no acórdão), não a pena em abstrato (STF, súmula 146). Concurso formal e crime
continuado? Leva-se em conta a pena isolada de cada crime, sem o aumento respectivo (CP, art. 119). No
caso de concurso material, do mesmo modo, o que importa é a pena de cada crime, não a soma total.

E se o Tribunal diminuiu a pena? É a pena diminuída que rege a prescrição intercorrente; (c) os prazos
prescricionais são os mesmos do art. 109 do CP; (d) conta-se a prescrição superveniente ou intercorrente a
partir da publicação da sentença condenatória até a data do trânsito em julgado final (detalhes: não há
interrupção da prescrição pelo acórdão confirmatório da condenação; não há interrupção da prescrição
pelos embargos infringentes; no caso de RE ou de REsp o prazo continua contando normalmente). E se o
agente foi absolvido em primeira instância e condenado pelo tribunal? Conta-se a prescrição a partir da
publicação do acórdão condenatório; (e) não se exige recurso da defesa (leia-se: no recurso da acusação
pode dar-se a prescrição intercorrente); (f) pressupõe trânsito em julgado para a acusação no que se
relaciona com a pena aplicada.

Eventual recurso da acusação pode alterar o prazo da prescrição intercorrente? Depende: se a acusação
ingressar com recurso, se o recurso da acusação visa ao aumento da pena, se for provido (pelo Tribunal), se
a pena for aumentada (pelo Tribunal) e se alterar a escala do prazo prescricional, é possível.

Qual é o período prescricional da prescrição intercorrente? Começa com a publicação da sentença ou


acórdão condenatório e vai até o trânsito em julgado final da decisão. Como é uma das espécies de
prescrição da pretensão punitiva ela se encerra com o trânsito em julgado pois com o trânsito em julgado
da decisão condenatória a pretensão de punir do Estado restou concretizada.

Período Prescricional da prescrição intercorrente


Início Publicação da sentença ou acórdão condenatório
Final Trânsito em julgado final da decisão

Prescrição da pretensão executória – PPE - CP, art. 110, caput

É a perda do direito do Estado de executar a pena fixada numa sentença irrecorrível.

Pressuposto lógico: não ocorrência de nenhuma hipótese de PPP. Havendo prescrição da pretensão punitiva
(qualquer que seja a sua modalidade), não se examina a PPE.

Características: (a) pressupõe sentença condenatória com trânsito em julgado definitivo para ambas as
partes; (b) a pena aplicada irrecorrível é que regula a PPE; (c) os prazos prescricionais são os mesmos do art.
109 do CP. Em caso de reincidência, reconhecida na sentença, aumenta-se o prazo em um terço.

Durante a execução da prisão, corre a PPE? Não. Durante o sursis ou livramento condicional, corre a PPE?
Não. Se o Estado está executando a pena (se está agindo), não há que se falar em prescrição.

No caso de prisão cautelar, debita-se esse tempo para a contagem da PPE? Não, segundo jurisprudência
dominante. Mas isso é questionável, porque tudo que o réu já cumpriu deve ser computado.

Efeitos da PPE: (a) extingue a pena aplicada; (b) não rescinde a sentença condenatória (que produz efeitos
penais e extrapenais).

Conta-se a PPE: (a) regra geral: do dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a acusação;
(b) regras especiais: do dia em que foi revogado o sursis ou o livramento condicional; (c) do dia em que o
preso evadiu-se do cárcere. Leva-se em conta a pena total ou a pena que resta? A pena que resta.

Depois do trânsito em julgado, a prescrição (PPE) não corre durante o tempo em que o condenado está
preso por outro motivo.

O curso da prescrição da pretensão executória (PPE) interrompe-se: (a) pelo início ou continuação do
cumprimento da pena; (b) pela reincidência a posteriori (novo crime cometido no curso da PPE):
interrompe-se a PPE na data do novo crime, embora seja necessário aguardar a condenação por esse novo
crime. A reincidência só afeta a PPE, jamais a PPP (Súmula 220 do STJ).
Períodos prescricionais: Via de regra, a PPE teria apenas um período prescricional – do trânsito em julgado
para a acusação até o início do cumprimento da pena. No entanto existem contingências que podem
acontecer durante a execução da pena ensejando nova contagem: fuga do preso, revogação do sursis ou do
livramento condicional. Como esses eventos futuros são incertos, via de regra, a PPE possui apenas um
período prescricional, mas pode ter mais de um. Reforça essa ideia o fato de uma das hipóteses de
interrupção também ser contingente (reincidência). Então não é correto imaginar os períodos prescricionais
da PPE como obrigatórios e sucessivos, vez que eles podem não acontecer.

Período Prescricional da prescrição da pretensão executória – regra geral


Início Trânsito em julgado para a acusação
Final Início do cumprimento da pena
Período Prescricional da prescrição da pretensão executória – hipótese contingente
Início Fuga
Final Reinício do cumprimento da pena
Período Prescricional da prescrição da pretensão executória – hipótese contingente
Início Revogação do sursis ou livramento condicional
Final Reinício do cumprimento da pena
Período Prescricional da prescrição da pretensão executória – hipótese contingente
Início Reincidência
Final Início ou reinício do cumprimento da pena

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