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Competências do Designer

Principais correntes epistemológicas do


processo de ensino-aprendizagem
Instrucional para Mediação
da Aprendizagem

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Créditos

Professoras-autoras
Isabelle Aguiar Prado
Stephanie Matos Silva
Paola Trindade Garcia
 
Validadoras Técnicas
Deborah de Castro e Lima Baesse
Mizraim Nunes Mesquita

Validadora Pedagógica
Regimarina Soares Reis
 
Revisora textual
Camila Cantanhede Vieira

Designer Instrucional
Stephanie Matos Silva
 
Designers Gráficos
Priscila Penha Coelho
Carlos Haide Sousa Santos

Como citar este material: PRADO, I.A. SILVA, S.M, GARCIA, P.T. Competências do Designer
Instrucional para Mediação da Aprendizagem. In: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO.
Curso Produção de Recursos Autoinstrucionais para EAD (PRA-EAD). Design instrucional
para produção de recursos autoinstrucionais para EAD. São Luís: PRA-EAD; UFMA, 2020.
Professoras-autoras
Isabelle Aguiar Prado
Graduada em Odontologia (UFMA). Mestra em Odontologia (UFMA) e doutoranda
em Saúde Coletiva (UFMA). Designer Instrucional do Núcleo Pedagógico da
Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS/UFMA).

Stephanie Matos Silva


Graduada em Psicologia (UFMA). Especialista em Gestão em Saúde (UFMA) e
em Avaliação Psicológica (IPOG/São Luís). Atualmente é mestranda em Saúde
Coletiva (UFMA) e atua como Designer Instrucional do Núcleo Pedagógico da
Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS/UFMA).

Paola Trindade Garcia


Graduada em Fisioterapia pela Faculdade Santa Terezinha (CEST). Residência
Multiprofissional em Saúde na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Especialista em Saúde da Família (CEST) e em Gestão do Trabalho e Educação
na Saúde (UFMA). Mestra em Saúde Coletiva (UFMA). Doutora em Saúde
Coletiva (UFMA). Atualmente é docente da Universidade Federal do Maranhão
e coordenadora do Núcleo de Produção Pedagógica da Universidade Aberta do
SUS (UNA-SUS/UFMA).
Sumário
Apresentação ......................................................................................................... 5

Breve Contexto Histórico e Teórico do Design Instrucional .............................. 6

Design Instrucional na Mediação da Aprendizagem .........................................12

Competências do Designer Instrucional ............................................................16

A Formação em Design Instrucional .................................................................. 20

Considerações Finais .......................................................................................... 22

Referências .......................................................................................................... 23
Apresentação
Olá, aluna(o)!
O Design Instrucional, enquanto campo do
saber ancorado nas ciências humanas, da informação,
administração e gestão de projetos, tem como foco a
pesquisa e a teorização acerca do planejamento e da
elaboração de estratégias educacionais.
Você sabe como esse campo do conhecimento
surgiu? Conhece as competências dos profissionais
que atuam nessa área, os designers instrucionais?
Sabe de que forma esses profissionais atuam
na mediação da aprendizagem nos cursos
autoinstrucionais?
Pensando no contexto da educação mediada
por tecnologias e, especialmente, nos cursos
autoinstrucionais, este profissional tem papel central
na construção de estratégias de aprendizagem
que potencializem o sucesso educacional dos
alunos. Neste material, você saberá mais sobre o
surgimento do Design Instrucional enquanto campo
teórico e prático educacional e terá acesso a alguns
direcionamentos para o entendimento da mediação da
aprendizagem, com destaque para as competências do
profissional do Design Instrucional.

Bons estudos!

OBJETIVO

Ao final deste recurso, espera-se que você compreenda como surgiu o


Design Instrucional e qual o seu papel na mediação da aprendizagem,
considerando as competências dos profissionais da área.

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Breve Contexto Histórico e Teórico do Design Instrucional

O Design Instrucional surgiu na época da Segunda Guerra Mundial, com


finalidade militar. Nesse período, vários psicólogos e educadores, utilizando
teorias behavioristas, desenvolveram pesquisas objetivando encontrar estratégias
para o treinamento de recrutas, buscando o ensino do manejo dos armamentos
de guerra em um curto espaço de tempo (REISER, 2001). No período pós-guerra,
os pesquisadores responsáveis pelo sucesso do método foram convidados para
aplicá-lo em outros contextos e, assim, o Design Instrucional foi firmando-se
como campo teórico e prático voltado para análise, implementação e avaliação
de ações educacionais (FILATRO; CAIRO, 2015; REISER, 2001).
Paralelamente às pesquisas behavioristas, Benjamin Bloom e seus
colaboradores, em 1956, elaboraram um esquema de categorização e
classificação de objetivos educacionais que deu origem à taxonomia de objetivos
cognitivos: a Taxonomia de Bloom (FERRAZ; BELHOT, 2010). A definição de
objetivos educacionais influenciou diretamente os estudos na área do Design
Instrucional (RANAUT, 2016). Nesse sentido, Ferraz e Belhot (2010, p. 422)
pontuam que:

“A definição clara e estruturada dos objetivos instrucionais [...] direciona


o processo de ensino para a escolha adequada de estratégias, métodos,
delimitação do conteúdo específico, instrumentos de avaliação e,
consequentemente, para uma aprendizagem efetiva e duradoura.”

Neste período, um dos pesquisadores que marcaram a história do Design


Instrucional foi Robert Gagné. Pautado em aspectos positivos das teorias
behavioristas e cognitivistas publicou o livro “The Conditions of Learning”, no
qual propôs um modelo de planejamento de ensino.

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VOCÊ CONHECE?
Robert Mills Gagné (1916 - 2002) foi um psicólogo americano
que estudou sobre processos de aprendizagem e instrução. O trabalho
de Gagné foi conduzido juntamente ao trabalho de Leslie J. Briggs,
sendo os primeiros desenvolvedores do conceito de Sistemas de Design
Instrucional. O trabalho desses autores teve uma profunda influência na
educação americana e no treinamento militar e industrial. No Brasil, essa
corrente de pensamento foi apropriada na década de 60 pelo regime
militar, tendo sido implantada em muitas escolas. Foi a chamada era do
tecnicismo. Gagné desenvolveu uma série de estudos na área, escreveu
e editou muitos livros e artigos. Dentre eles estão: The Conditions of
Learning (1965, 1970, 1977, 1985) e o clássico Principles of Instructional
Design, escrito com Leslie J. Briggs e Walter Wager (1974, 1979, 1992).

Na década de 1970, muitos teóricos de Design Instrucional começaram


a adotar uma abordagem baseada no processamento de informações para o
projeto de instrução (RANAUT, 2016). Ao final desta década, mais de quarenta
modelos de Design Instrucional já haviam sido propostos para as mais diversas
situações de ensino (SILVA; SPANHOL, 2014).
As décadas de 80 e 90 trouxeram um foco em instrução baseada em
computador, modelos educacionais com maior colaboração dos alunos entre
si para a resolução de problemas reais e complexos e para visualização de
diferentes perspectivas, exigindo deles mais responsabilidade sobre a própria
aprendizagem (RANAUT, 2016).
O início do século XXI presenciou a consolidação dessa educação mediada
por tecnologias, com a formação dos campos do e-Learning, da aprendizagem
on-line e, mais recentemente, da aprendizagem móvel (RANAUT, 2016). Nesse
contexto, as atividades de Design Instrucional têm sido constantemente ligadas
ao planejamento de ofertas educacionais para a Educação a Distância (EaD), na
medida em que esta modalidade exigiu a ressignificação do processo de ensino-
aprendizagem, tanto pela separação física entre alunos e professores quanto
pela mediação da aprendizagem por tecnologias.

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OBSERVAÇÃO DAS AUTORAS

Há diversas terminologias para o design voltado para educação:


Design Instrucional (FILATRO, 2008), Design Educacional (MATTAR, 2014),
Desenho Pedagógico (TORREZZAN, 2009), Design Didático (AMARAL et
al., 2007), Design de Aprendizagem (ALVES, 2016) etc. Estes diferentes
termos buscaram a aproximação do trabalho do Design Instrucional no
campo educacional a partir do incômodo na utilização da tradução do
termo instructional para ‘instrução’, que é relacionado a direcionamentos
rígidos de executar uma tarefa.
Aqui, utilizaremos Design Instrucional, considerando que os termos
acima apresentados podem ser vistos como sinônimos, visto que o termo
em inglês instruction remete a ensino, apesar da tradução ‘instrucional’
não ser tão representativa deste aspecto. Já a palavra design remete ao
projeto, ao planejamento de soluções (ROMISZOWSKI; ROMISZOWSKI,
2008).

Hoje podemos reconhecer que o Design


Instrucional, na sua essência, consiste no
planejamento, na efetivação e na avaliação
de soluções educacionais.

Para Filatro (2018), o Design Instrucional é o processo de identificar um


problema ou necessidade educacional e desenhar, implementar e avaliar uma
solução para esse problema. A autora acrescenta que essa definição pode
ser considerada em três dimensões: Design Instrucional como teoria, Design
Instrucional como processo e Design Instrucional como produto, como ilustrado
a seguir.

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Figura 1 - Dimensões do Design Instrucional

Fonte: FILATRO, Andrea. Como preparar conteúdos para EaD. Ed 1. São Paulo: Saraiva Educação,
2018.

Pensando especificamente no contexto da EaD, definimos o Design


Instrucional como o processo de gestão, elaboração, implementação e
avaliação de soluções educacionais a partir da utilização de tecnologias
digitais da informação e comunicação (TDIC). Concluímos, então, que o
Design Instrucional, cujo grande objetivo é propor soluções educacionais,
pode estar presente em diferentes níveis do planejamento do ensino.

Isso leva à compreensão de que, muitas vezes, o processo de Design


Instrucional permeia o próprio planejamento didático-pedagógico, na medida em
que o trabalho do DI na dimensão macro inclui a realização de uma análise prévia
de necessidades de aprendizagem, caracterização do público-alvo, questões
organizacionais envolvidas e limitações, inclusive de orçamento e cronograma.
Por outro lado, quando falamos do trabalho de DI na dimensão micro não
estamos implicando ignorar a dimensão macro, mas sim considerando que
ela já foi delineada e concluída, com seus resultados (definição de objetivos
e caracterização da situação de aprendizagem) servindo de subsídio para as
decisões a serem tomadas posteriormente.
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Desde o surgimento do Design Instrucional, muitas proposições
metodológicas foram construídas no intuito de solucionar questões específicas
do processo de ensino-aprendizagem. Alguns autores marcaram este percurso,
como foi o caso de Robert Gagné, Leslie Briggs e Walter Wager (1992), que
propuseram eventos de instrução para o alcance da aprendizagem humana,
pautando-se em teorias behavioristas. Nesse sentido, os autores destacaram
nove princípios de instrução:

Após décadas das propostas iniciais e com o surgimento de diversas


estratégias para conduzir o trabalho de elaboração de soluções educacionais,
a maior parte dos desenhos metodológicos de Design Instrucional segue
apresentando ações para o alcance da aprendizagem similares às sinalizadas
por Gagné, Briggs e Wager (1992), que podem ser agrupadas em três etapas:

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Como você pode notar, essas etapas consistem no planejamento,
desenvolvimento e avaliação da aprendizagem, que são reconhecidas como
essenciais na maioria das estratégias educacionais. Dentro dessas etapas
ainda há muitas outras a depender da amplitude do projeto educacional, dos
profissionais envolvidos e dos recursos financeiros e tecnológicos para o
desenvolvimento das soluções educacionais.

PARA SABER MAIS

Para saber mais sobre a história e o desenvolvimento do Design


Instrucional enquanto campo teórico e prático da educação, leia o livro
Design Instrucional na prática, da Andrea Filatro, publicado pela primeira
vez em 2008.

Considerando o que foi apresentado


até aqui, você consegue perceber
como os conhecimentos na área
do Design Instrucional podem ser
mobilizados para realizar a mediação
da aprendizagem na Educação a
Distância?

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Design Instrucional na Mediação da Aprendizagem

Planejar o percurso de aprendizagem, bem como os recursos educacionais


que serão utilizados para essa finalidade, é parte fundamental do processo de
ensino-aprendizagem, seja no ensino presencial ou a distância.
Nos cursos autoinstrucionais, na ausência
da figura de um tutor, as soluções educacionais
e a utilização de Tecnologias Digitais da
Informação e da Comunicação (TDIC) são
etapas ainda mais importantes. Isso porque,
considerando a autoaprendizagem, a mediação
da aprendizagem torna-se mais complexa, por
incluir outros atores/ferramentas.

A inclusão das TDIC no ensino reflete todas as transformações


ocorridas na sociedade a partir da inserção de novas tecnologias, que fazem
emergir paradigmas e comportamentos a cada dia. No campo educacional,
são constantes as mudanças nas formas e nos processos de produção, na
disponibilização e na recepção do conhecimento, sobretudo quando pensamos
na EaD, majoritariamente mediada por tecnologias.

Em um cenário de constante inovação e com o surgimento de


diferentes tecnologias, é importante considerar que as TDIC (no contexto
educacional) não podem ser vistas como um “mero aparato ou somente
como suporte midiático, mas, especialmente, devem ser reconhecidas como
um elemento revelador da inter-relação Comunicação-Educação” (FOFONCA;
SCHONINGER; COSTA, 2018).

Podemos dizer que, nos cursos autoinstrucionais, a mediação do processo


de construção do conhecimento é realizada primordialmente pelos recursos
educacionais (apoiados pelas TDIC) disponibilizados na plataforma de ensino, o
que transforma todo o espaço pedagógico, uma vez que as “aulas” passam a ser
as lições contidas no material didático (BARRENECHEA, 2001).

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Atualmente, com todo o Tais ambientes são sistemas
desenvolvimento tecnológico dos destinados à mediação da aprendizagem
últimos anos, os cursos EaD vêm a partir da disponibilização de recursos
ganhando mais expressividade, multimídia, da disponibilização de
sendo disponibilizados, em sua comunidades virtuais entre aprendizes,
quase totalidade, de maneira on- da aprendizagem colaborativa a partir
line, nos chamados Ambientes de fóruns etc. (FOFONCA; SCHONINGER;
Virtuais de Aprendizagem (AVA). COSTA, 2018).

Nesse cenário, o designer instrucional atua como principal agente na


facilitação do processo de ensino-aprendizagem, planejando os caminhos de
mediação a serem percorridos pelos alunos nestes ambientes de aprendizagem,
tendo sempre em vista os princípios pedagógicos e didáticos na tomada de cada
decisão.
Para que você compreenda melhor como o designer instrucional poderá
desenvolver esta função, é necessário que alguns conceitos, como o de mediação
pedagógica, sejam apresentados.
A aprendizagem mediada ou mediação foi objeto de estudo do psicólogo
Lev Vygotsky (1896-1934), que desenvolveu conceitos relevantes nessa área.
A mediação perpassa toda a obra de Vygotsky, tornando-se o princípio central
fundante de sua teoria, na qual apresenta conceitos fundamentais, como os
de mediadores como instrumentos (elementos interpostos entre o homem
e o mundo) e signos (objetos ou formas que representam algo diferente de si
mesmo). Oliveira (2010) afirma que a mediação é a intervenção de um elemento
intermediário em uma determinada relação, e que essa relação não é direta, mas
mediada por um terceiro elemento.
VOCÊ CONHECE?
Vygotsky, psicólogo russo, socioconstrutivista, nasceu no ano de 1896,
na Bielorrússia, e faleceu de tuberculose em 1934. Para o teórico, a
aquisição de conhecimentos se dá pela interação do sujeito com o
meio. Isto é, o sujeito adquire conhecimentos a partir de relações intra e
interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado
de mediação. O seu principal interesse de estudo era compreender a
relação existente entre o pensamento e a linguagem e sua implicação
no processo de desenvolvimento cognitivo. Para Vygotsky, a linguagem
tem papel fundamental na organização do pensamento por agir sobre
ele, reestruturando as várias funções, como a memória, a formação de
conceitos e a atenção (FOSSILE, 2010; COELHO; PISONI, 2012).
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As TDIC exercem a função de instrumentos mediadores dos processos
de aprendizagem no contexto da EaD (COSTA; DUQUEVIZ; PEDROZA, 2015). Tal
conceito não pode levar à confusão de que as TDIC são apenas uma mediação
tecnológica, sendo erroneamente entendidas como mera ponte estabelecida
entre as práticas pedagógicas ou entre essas práticas e outras práticas sociais
consideradas de forma independente umas das outras (OLIVEIRA, 2001).
Baseando-se em Vygotsky, Carvalho e Peixoto (2011) pontuam que:

“a atividade é um processo de transformação da realidade, que subentende


um mecanismo de mediação, porque essa transformação só pode ser feita
com a ajuda de ferramentas e de meios que conduzam ao desenvolvimento
da atividade reflexa e à construção da consciência. Tal transformação se faz
pelo uso das ferramentas, que são os signos, os quais fazem a mediação não
apenas da relação com os outros, mas também da relação da pessoa consigo
mesma” (CARVALHO; PEIXOTO, 2011).

Compreendendo que a mediação é a própria relação entre os sujeitos e os


instrumentos envolvidos no processo de aprendizagem, podemos dividi-la ainda
em (LENOIR, 2009):

MEDIAÇÃO PEDAGÓGICO-
MEDIAÇÃO COGNITIVA
DIDÁTICA
Ocorre entre o sujeito e o Ocorre entre o professor
objeto de conhecimento e o aprendiz

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Seguindo tal linha de pensamento, o papel do professor é de mediador
do processo de aprendizagem, agindo diretamente na mediação cognitiva e
aproximando o aprendiz e o objeto de conhecimento. Para isso, este agente
deve estar atento às estratégias que possam “enfatizar o prazer em descobrir,
em investigar, em ter curiosidade e em (re)construir o conhecimento” (OLIVEIRA,
2011).
Tais estratégias também são válidas para a EaD. Contudo, nesse contexto,
esses pressupostos não parecem ser tão óbvios, por não haver a presença física
do professor. Contudo, se considerarmos todo o processo de planejamento
educacional, é possível entender que as TDIC não são apenas objetos técnicos
participantes de tal processo, mas artefatos capazes de interagir e de modificar
a maneira que o aprendiz lida com a informação, o que possibilita situações
pedagógicas particulares.
Nesse sentido, toda a atenção deve estar voltada para a utilização da
tecnologia na mediação didático-pedagógica e não apenas para a inserção das
mais novas e complexas tecnologias sem nenhuma justificativa pedagógica.
Assim, é a partir da compreensão da complexidade das relações que ocorrem
no processo de aprendizagem, que se pode superar a utilização vazia das
TDIC, inserindo-se no processo estratégias que valorizem a atividade mental do
aprendiz, provocando diálogos e reflexões do aluno com ele mesmo, enquanto
sujeito do processo de aprendizagem (CARVALHO; PEIXOTO, 2011).
Os recursos educacionais propostos pelo designer instrucional devem ser
planejados e implementados de modo que o aluno não seja apenas o receptor,
visto que um dos pressupostos básicos dessa modalidade educacional é a
presença central do aluno no seu próprio percurso de aprendizagem, buscando
sempre a construção do conhecimento a partir do desenvolvimento de atividades
reflexivas.

PARA SABER MAIS


Para aprofundar os conhecimentos acerca da mediação tecnológica/
pedagógica na EaD, sugerimos a leitura do artigo “A Mediação
Tecnológica e Pedagógica em Ambientes Virtuais de Aprendizagem:
contribuições da Educomunicação”, de Fofonca, Schoninger e Costa,
publicado na revista Tempos e Espaços em Educação, em 2018.
Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/revtee/article/view/6031.

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Competências do Designer Instrucional

A profissão de designer instrucional é reconhecida nacionalmente pelo


Cadastro Brasileiro de Ocupações, sob o número 2394-35. Segundo esse órgão,
essa é uma atividade ligada aos profissionais de ensino que inclui programadores,
avaliadores e orientadores de ensino. De acordo com o site da instituição, é
função do designer instrucional:

Implementar, avaliar, coordenar e planejar o desenvolvimento de projetos


pedagógicos/instrucionais nas modalidades de ensino presencial e/ou a
distância, aplicando metodologias e técnicas que facilitem o processo de
ensino e aprendizagem;

Atuar em cursos acadêmicos e/ou corporativos em todos os níveis de


ensino de modo a atender as necessidades dos alunos, acompanhando e
avaliando os processos educacionais;

Viabilizar o trabalho coletivo, criando e organizando mecanismos de


participação em programas e projetos educacionais, facilitando o processo
comunicativo entre a comunidade escolar e as associações a ela vinculadas.

Dessa forma, as competências do profissional da área, o designer
instrucional, abrangem diferentes domínios, tais como os próprios fundamentos
da profissão, análise e planejamento, design e desenvolvimento, avaliação e
gestão, o que nos dá a dimensão do trabalho deste profissional.

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16
O perfil de competências mais difundido mundialmente para designers
instrucionais é o proposto pelo International Board of Standards for Training,
Performance and Instruction (IBSTPI, 2018). Segundo Koszalka et al. (2013),
algumas das competências essenciais para a atuação profissional do designer
instrucional são:

Comunicar-se efetivamente por meio visual, oral e escrito;

Identificar e descrever as características do público-alvo;

Analisar as características dos ambientes de aprendizagem;

Analisar as características das tecnologias existentes e emergentes e seu


potencial de uso;

Utilizar o modelo de Design Instrucional apropriado para cada projeto;

Organizar o planejamento do ensino e dos produtos a serem projetados,


desenvolvidos e avaliados;

Selecionar ou modificar materiais didáticos existentes;

Desenvolver materiais didáticos;

Avaliar a efetividade das soluções propostas com base em dados;

Aplicar habilidades gestão para o gerenciamento do trabalho de DI.

PARA SABER MAIS


Quer conhecer outras competências do designer instrucional? Acesse
o site da IBSTPI e confira o escopo das competências essenciais,
avançadas e de gestão. Clique aqui para acessar: http://ibstpi.org/
instructional-design-competencies/.

Como discutimos, o designer instrucional é um profissional central e


transversal ao processo de planejamento educacional, inserindo-se no processo
desde a concepção até a oferta de um determinado recurso educacional, estando
presente em todas as fases de construção de um curso on-line. A figura abaixo
realça uma representação síntese do papel do designer instrucional nesse
processo.
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Figura 2 – Papel do designer instrucional na produção de recursos educacionais
para EaD.

Professores-autores

Coordenadores Validadores
Pedagógicos Técnicos

DI

Designers Profissionais
Gráficos de Tecnologia
da Informação
Fonte: Equipe de produção pedagógica. UNA-SUS/UFMA, 2020.

O designer instrucional faz a mediação entre diferentes atores e equipes


envolvidas no processo de produção de recursos educacionais, ligando os
aspectos pedagógicos, tecnológicos e gráficos. Assim, no contexto da EaD, este
profissional tem como função orientar o processo de elaboração de situações
de aprendizagem e a proposição de recursos educacionais a serem utilizados,
sempre pontuando as peculiaridades do ensino. Por fim, compete também ao
designer instrucional adequar os produtos elaborados e gerenciar a produção
destes nas demais equipes envolvidas (NEVES et al., 2016).
Pensando na educação a distância autodirigida, o papel do designer
instrucional inclui tarefas específicas relacionadas ao maior cuidado na interação
aluno-situações de aprendizagem, visto que não haverá a figura de um tutor.
Assim, dentre outras tarefas, é função do designer instrucional avaliar se há a
necessidade da existência de acesso linear aos recursos educacionais ou se a
navegação não linear é a mais adequada ao contexto de aprendizagem; avaliar
a necessidade da inserção de contextos; inserir links com outros materiais que
possam subsidiar o processo de ensino-aprendizagem, dentre outras ações.

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A constituição das equipes de produção de recursos educacionais pode
variar significativamente a depender das condições institucionais, financeiras
e organizacionais. Considerando-se esse contexto múltiplo e o que aprendeu
até aqui, você já consegue pensar nos tipos de atividades que um Designer
Instrucional pode ser chamado para desenvolver? Veja alguns exemplos abaixo.

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A Formação em Design Instrucional

Você já conhece algumas das competências que precisam ser desenvolvidas


por profissionais que querem trabalhar como Designers Instrucionais e já viu
exemplos de atividades que eles podem desenvolver. Mas e a formação na área?

Como se capacitar para atuar como Designer Instrucional?

Assim como as atividades do Designer Instrucional são diversificadas, já


que ele pode atuar em todas as etapas de uma oferta educacional (planejamento,
desenvolvimento e avaliação), tanto na modalidade presencial quanto a distância,
a formação na área costuma ter um caráter multi e interdisciplinar. Hoje há
numerosas opções de cursos sobre Design Instrucional, normalmente na forma
de pós-graduações. Exemplos de instituições que trabalham nessa perspectiva
são o Senac e o Instituto de Desenho Instrucional. Pode-se mencionar também
o curso superior de Tecnologia em Design Educacional que confere o grau
de tecnólogo, ofertado desde 2017 pela Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP).
Barreiro (2016) ressalta que o profissional desta área deve possuir uma
formação ampla e, preferencialmente, dominar pelo menos conhecimentos
básicos em áreas como Comunicação, Design, Gestão de Processos e Pessoas,
Pedagogia e Tecnologia da Informação. Por isso, geralmente não há restrições
quanto à formação de base para ingressar em cursos sobre Design Instrucional.
As formações nessa área costumam incluir temas como:

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PARA SABER MAIS
Conheça mais sobre o curso de especialização em Design
Instrucional do Senac visitando o endereço eletrônico: https://www.ead.
senac.br/pos-graduacao/design-instrucional/
Leia também sobre a proposta do curso do Instituto de Desenho
Instrucional em: https://www.desenhoinstrucional.com/design-
instrucional

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Considerações Finais
As escolhas pedagógicas coerentes e
fundamentadas são pontos centrais da construção
da aprendizagem por meio de tecnologias,
especialmente nos cursos autoinstrucionais.
A mediação da aprendizagem, seja cognitiva
ou pedagógico-didática, é construída a partir
das intervenções educacionais do designer
instrucional em sua prática profissional.

O profissional de Design Instrucional tem


papel central no processo de planejamento
educacional, seja em âmbito de gestão ou
operacional, na medida em que é capaz de
construir estratégias adaptadas ao cenário
dos cursos autoinstrucionais mediados por
tecnologias educacionais.

Até a próxima!

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Referências
ALVES, Flora. Design de Aprendizagem com uso de Canvas. São Paulo:
DVS Editora, 2016.

AMARAL, Sérgio B. et al. Dialética da educação a distância. Ed. PUC-


Rio, Rio de Janeiro, 2007.

BARRENECHEA, C. Planejamento de material didático. In: MARTINS,


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BARREIRO, Rommulo Mendes Carvalho. Um breve panorama sobre o


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eademfoco.cecierj.edu.br/index.php/Revista/article/view/375/187

COELHO, L; PISONI, S. Vygotsky: sua teoria e a influência na educação.


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http://www.scielo.br/pdf/ pee/v19n3/2175-3539-pee-19-03-00603.
pdf.

FERRAZ, Ana Paula do Carmo Marcheti; BELHOT, Renato Vairo.


Taxonomia de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações
do instrumento para definição de objetivos instrucionais. Gest. Prod.,
São Carlos, v. 17, n. 2, p. 421-431, 2010.

FILATRO, Andrea. Design Instrucional na prática. São Paulo: Pearson


Education do Brasil, 2008.
FILATRO, A.; CAIRO, S. Produção de conteúdos educacionais. São
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FOFONCA, E.; SCHONINGER, R. R. Z.V.; COSTA, C. S. da. A mediação


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