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EDUCACIONAL
Resumo
Esta pesquisa buscou verificar como a relação afetiva se desenvolve na dinâmica escolar e quais
os seus reflexos no processo ensino-aprendizagem. Para isso foi realizada pesquisa
bibliográfica consistente que trata da importância da afetividade, visto que a mesma se constitui
em um tema bastante discutido no âmbito educacional, sendo objeto de análises e reflexões
presentes nas principais teorias de desenvolvimento, dentre elas a de Piaget, Vygotsky e
Wallon. Por meio da reflexão a respeito de conceitos elaborados pelas perspectivas piagetianas,
vigotskyana e walloniana procuram-se superar a dicotomia entre cognição e afetividade
presente nas escolas, identificando a importância dos sentimentos, emoções e afetos nas
interações sociais, principalmente a que se refere à relação professor-aluno. Trata-se de destacar
contribuições de uma perspectiva integradora, para a formação do educando concebendo
inteligência e afetividade com naturezas distintas, mas indissociáveis, interdependentes, além
de determinantes na construção do conhecimento e na constituição da personalidade. A
afetividade quando valorizada dentro do processo ensino-aprendizagem traz inúmeros
benefícios aos seus agentes, para o professor oferece confiança, a sensibilidade e o manejo
necessário para entender o que seus alunos estão sentindo em determinados momentos e a
habilidade e competência para encontrar possíveis soluções para certos conflitos. A relação
entre sujeito e objeto, desenvolvimento e aprendizagem estão permeados de afeto, pois a
interação entre o organismo e o meio social se dá de forma interativa, por meio de influências
mútuas que envolvem todos os aspectos do ser humano e não apenas o cognitivo. A afetividade
ocupa lugar de destaque dentro do processo educacional e a maneira como ela acontece pode
ser decisiva na concepção de mundo e de homem construída pelo aluno, assim como na sua
reelaboração do conhecimento culturalmente organizado.
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Graduação em Pedagogia (UNIFAP), Psicopedagoga Clínica e Institucional (UNINTER) e Especialista em
Educação Especial e Inclusiva. Professora da Faculdade Estácio de Macapá (Estácio Macapá). E-mail:
aylla.silva@estacio.br
ISSN 2176-1396
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Introdução
A afetividade é a temática deste trabalho que objetiva verificar como a relação afetiva
se desenvolve na dinâmica escolar e quais os seus reflexos no processo ensino-aprendizagem.
Ideologicamente a razão de existir da escola era a de repassar informações segundo
planos metódicos, garantindo às novas gerações o poder da herança cultural acumulada e o
papel do professor limitava-se especificamente à exploração desses conteúdos. (ANTUNES,
2006, p.1).
Durante muito tempo confundiu-se ensinar com transmitir e, nesse contexto, o aluno era
um agente passivo da aprendizagem e o professor um transmissor não necessariamente presente
nas necessidades do aluno. Acreditava-se então que alunos e professores habitavam mundos
diferentes e que os propósitos da educação eram distintos, nos quais alguns se propunham a
dizer e outros a ouvir.
Entretanto, a escola deve se ocupar com seriedade da questão do conhecimento e da
qualidade de suas relações, visto que as interações afetivas existentes no cotidiano escolar são
de suma importância para o desenvolvimento e a construção do conhecimento.
Sobre isso, Bock et al (1999, p.124) escreve que:
A escola surgirá, então, como um lugar privilegiado para este desenvolvimento, pois
é o espaço em que o contato com a cultura é feito de forma sistemática, intencional e
planejada. O desenvolvimento – que só ocorre quando situações de aprendizagem o
provocam – tem ritmo acelerado no ambiente escolar. O professor e os colegas
formam um conjunto de mediadores da cultura que possibilita um grande avanço no
desenvolvimento da criança.
A interação professor-aluno
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[...] é urgente lembrarmos que, para aprender, é necessário um vínculo afetivo positivo
com o conteúdo a ser aprendido, um ambiente que leve em consideração os aspectos
de Ser Humano, do educador e do aprendiz, e a função social do ensino/aprendizagem.
O cuidado com o aluno vai muito além de dar beijinho, elogiar e acarinhar. Muitas
vezes o afeto é demonstrado de forma contraria: quando o professor é severo. Se ele
é justo e chama a atenção de forma respeitosa, o aluno passa a admirá-lo e busca não
decepcioná-lo. [...] Alunos que se relacionam e se desenvolvem bem são aqueles que
se sentem acolhidos, valorizados por seus talentos e que lidam bem com seus
sentimentos.
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O professor deve ajudar o aluno para que este desenvolva suas capacidades, ou seja,
deve criar um ambiente propício para a aprendizagem, onde o educando aprenda a administrar
suas emoções, e sinta-se motivado a aprender e perceber que seu mundo intelectual cresce em
conjunto com seu mundo emocional. Freitas (2000, p. 211) vem acrescentar afirmando que:
[...] professores na verdade são mestres, pois utilizam em suas aulas não só a
argumentação oriunda da razão, mas também aliada a emoção estabelecendo assim o
ambiente e o contexto necessário para o desenvolvimento da inteligência e da
afetividade de seus alunos. Tocando e convidando significativamente seus alunos à
aventura de se permitirem ser como são.
Portanto, o educador que demonstra satisfação por estar em companhia dos alunos, que
respeita as opiniões dos educandos, que são divergentes das suas, que busca transmitir algo
mais que conteúdos da matéria, conquista a confiança de seus discentes e os ajuda a identificar
nele alguém com quem podem conversar. Para a maioria esse diálogo já é o suficiente.
Jean Piaget foi um importante teórico que dissertou sobre essa questão e mesmo que
não tenha sido sua intenção acabou trilhando caminhos para os trabalhos pedagógicos atuais.
Em sua teoria verifica-se o estreito paralelismo entre os aspectos cognitivos e afetivos,
admitidos como aspectos complementares da conduta humana. Piaget influenciou também
posturas em sala de aula, proporcionando ao professor elementos para que ele reflita sobre si
mesmo e sobre sua relação com os alunos.
Ao se referendar ao pesquisador suíço, Costa (2002, p. 45) contribui afirmando que
professor e aluno:
Nos processos afetivos, tal como Piaget os entende, intervêm tantos os sentimentos e
emoções como as tendências e valores [...]. Em geral reserva para a afetividade a
propriedade de constituir a energética da ação, enquanto que sua estrutura corresponde
à inteligência; ambos os aspectos são solidários.
Piaget ressalta, muito embora não fosse seu objeto de pesquisa, que a vinculação
afetiva com o objeto a ser aprendido é um elemento importantíssimo para que o
desenvolvimento aconteça. Coloca a afetividade como o aspecto energético que
possibilita a mobilidade necessária para que a construção das estruturas possa se
efetivar.
Outro teórico que discorre sobre o tema é Vygotsky, sua teoria apoia-se na concepção
de um sujeito interativo, que em um processo mediado pelo outro consegue elaborar seus
conhecimentos sobre os objetos. Partindo da concepção de um organismo ativo, Vygotsky
defende o princípio da contínua interação entre as mutáveis condições sociais e a base biológica
do comportamento humano.
Vygotsky afirma que as características tipicamente humanas resultam da interação
dialética do homem com o seu meio sócio-cultural, numa ação de transformações recíprocas.
Dessa forma, não estão presentes desde o nascimento do individuo nem são simples resultados
das pressões do meio externo (REGO, 1995, p. 412). Desde o nascimento, as crianças estão em
constante interação com os adultos; estes, por sua vez, procuram incorporá-las a suas relações
e a sua cultura, sendo esses processos, de início, compartilhados entre pessoas (interpsíquicas)
e na medida em que a criança cresce se tornam intrapsíquicos (a criança acaba por executar de
dentro esses processos) (BOCK et al., 1999, p.109).
A Teoria de Vygotsky é hoje referência na questão da aprendizagem, pois para ele, esta
só ocorre nas relações entre as pessoas. Neste sentido Bock et al.(1999, p. 124) enfatiza que:
[...] a relação do individuo com o mundo está sempre mediada pelo outro, não há como
aprender e apreender o mundo se não tivermos o outro, aquele que nos fornece os
significados que permitem pensar o mundo a nossa volta. [...]
Para La Taille et al. (1992, p. 75) Vygotsky, em termos contemporâneos, poderia ser
considerado um cognitivista por ter se preocupado com a investigação dos processos internos
referentes à aquisição, organização e uso do conhecimento em sua dimensão simbólica. Porém,
“Vygotsky concebe o homem como um ser que pensa, raciocina, deduz e abstrai, mas também
como alguém que sente, se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza [...]” (REGO, 1995,
p.120-121).
Vygotsky afirma que na interação humana, a afetividade e a emoção atuam como
elementos básicos, pois são através das interações com os indivíduos mais experientes do seu
meio social que a criança constrói suas funções mentais superiores, e neste caso, a presença do
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adulto dá a criança condições de segurança física e emocional que a levem a explorar melhor o
seu ambiente e, conseqüentemente, a aprender.
Na perspectiva vygotskyana, cognição e afeto se encontram indissociados no ser
humano, se inter-relacionando e se influenciando mutuamente ao longo de toda a história do
desenvolvimento do indivíduo. Afeto e cognição formam uma unidade de dentro do processo
dinâmico do desenvolvimento psíquico, sendo impossível compreendê-los separadamente
(REGO, 1995, p.122).
Dentre os teóricos que escreveram sobre o tema, destaca-se também Henri Wallon, foi
o comandante de uma verdadeira revolução no ensino, efetivada ainda no início do século
passado por defender a idéia de que a escola deve proporcionar formação intelectual, afetiva e
social às crianças.
La Taille et al (1992, p.90) comentando a perspectiva walloniana, afirma que:
A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é
também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que
saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se
lentamente, a vida racional. Portanto, no início da vida, afetividade e inteligência estão
sincreticamente misturados, com o predomínio da primeira.
Conclusão
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. A linguagem do afeto: como ensinar virtudes e valores. 3. ed. Campinas,
SP: Papirus, 2006.
BOCK, Ana Maria Bahia et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed.
São Paulo: Saraiva,1999.
CAVALCANTE, Meire. Como criar uma escola acolhedora. Nova Escola. São Paulo: Abril,
nº. 180, p. 52-57, março de 2005.
COSTA, Maria Luiza Andreozzi da. Piaget e a intervenção psicopedagógica. São Paulo:
Olho d’água, 2002.
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LA TAILLE, Yves; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS; Heloysa. Piaget, Vygotsky,
Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: SUMMUS, 1992.
SALVADOR, César Coll et al. Psicologia do ensino. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.