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1- Distingo conhecimento vulgar de conhecimento científico.

O conhecimento vulgar forma-se a partir da experiência concreta e quotidiana de cada ser


humano (subjetivo, concreto e empírico). É, por isso, um conhecimento prático, sem
demasiadas preocupações com o rigor nem com a justificação ou explicação (superficial e
espontâneo). Para além disso, é pouco atreito ao questionamento e à revisão (acrítico,
assimétrico e dogmático) e comunica através de uma linguagem corrente, originando
ambiguidades. É particular, marcado pela subjetividade e pela ausência de método
(ametódico).
O conhecimento científico descreve e explica os fenómenos, formulando leis e teorias
fundadas na experimentação (rigoroso e sistemático). É também universal e aspira à
objetividade, apoiando-se num método (metódico e objetivo) e utiliza uma linguagem mais
técnica e exata no sentido de evitar ambiguidades. Este tipo de conhecimento está
constantemente sujeito à crítica e à revisão (crítico e revisível), sendo, por isso, antidogmático.
2- Discuto o valor do conhecimento vulgar e conhecimento científico.
O senso comum é um conhecimento fundamental para a existência quotidiana pois este
permite resolver os problemas imediatos com que nos confrontamos no dia a dia. Podemos
confiar nos resultados obtidos por via deste conhecimento para problemas comuns. Devido à
subjetividade, superficialidade e acriticismo presente neste tipo de conhecimento, os
resultados obtidos por esta via não são suficientes para compreender ou resolver questões mais
complexas. Pelo facto de utilizar a linguagem natural, pode originar ambiguidades e, por isso,
conduzir ao erro.
Por outro lado, o conhecimento científico, pelas suas características, garante um saber mais
exato, rigoroso e objetivo do que o conhecimento vulgar. Pelo facto de assentar em meios
formais de prova e a revisão dos resultados permite que se possa confiar nas suas respostas. A
linguagem técnica utilizada evita ambiguidades, embora também torne os seus enunciados
menos acessíveis.
3- Apresento o problema da demarcação da ciência.
O problema da Demarcação, discutido em filosofia da ciência, é o seguinte: qual é o critério
que possibilita distinguir ciência de não-ciência? O que distingue as teorias científicas das
teorias não científicas?
As respostas apresentadas para este problema baseiam-se no critério da verificabilidade ou no
critério da falsificabilidade.
4- Compreendo o critério de demarcação sugerido por uma conceção indutivista da ciência: o
critério da verificabilidade.
Uma teoria é científica só se consiste em afirmações empiricamente verificáveis. Uma
afirmação empiricamente verificável é aquela cujo valor de verdade pode ser estabelecido
através da observação. Quanto maior o número de casos, maior a probabilidade de esta ser
verdadeiro.
5- Apresento objeções ao critério da verificabilidade.

As leis da natureza exprimem-se em frases universais. Mas como não é possível estabelecer a
verdade das leis da natureza através da observação, o critério da verificabilidade implica que
as leis da natureza não são científicas.
6- Compreendo o critério de demarcação da ciência sugerido pelo filósofo Karl Popper: o
critério da falsificabilidade.
Uma teoria é científica somente se for empiricamente falsificável, isto é, se for possível
conceber um teste experimental que seja capaz de mostrar que a teoria é falsa.
Se não pudermos conceber uma observação para refutar uma dada teoria, então não é
falsificável – e, portanto, não é científica.
Popper não defende que uma teoria tem de estar falsificada (refutada pela observação), mas
sim tem de ser falsificável (ou seja, tem de ser possível refutá-la pela observação).
Teoria falsificável – teoria que tem propriedade de poder ser sujeita a testes e de ser
verdadeira ou falsa.
Teoria falsificada – teoria que já se provou ser falsa.
Para Popper, as teorias com maior grau de falsificabilidade são teorias com maior grau de
informação, ou seja, as teorias informativas são as que correm maiores riscos de ser
refutadas pela observação. Em ciência queremos teorias falsificáveis e muito informativas.
O autor considera que o critério de demarcação entre hipóteses científicas e não científicas é a
possibilidade de uma hipótese ser ou não falsificável, isto é, poder ser sujeito a testes que
permitam tentar provar que é falsa.
7- Formulo expressamente o problema do método científico.
O problema do método científico pode ser formulado do seguinte modo: Em que consiste o
método científico? O que caracteriza o método científico?
Para este problema é apresentada uma resposta indutivista e uma resposta falsificacionista.
8- Explico a perspetiva indutivista do método científico.
Segundo os indutivista, a observação é o ponto de partida da investigação científica pelo que
esta precede a teoria. Antes de conceber qualquer teoria, o cientista observa o mundo
e regista uma grande quantidade de factos observacionais. A sua observação deve ser
totalmente pura ou isenta.
Seguidamente, as teorias científicas são elaboradas mediante um processo de generalização
indutiva. A passagem da observação para a teoria dá-se mediante inferências indutivas, sendo
as proposições universais que captam leis da natureza descobertas por indução.
Depois da teoria ter sido elaborada, tenta-se encontrar confirmações adicionais para a teoria,
ou seja, encontrar mais factos que confirmem a teoria, e usa-se a teoria na procura
de generalizações indutivas mais vastas a fim de se encontrar leis mais gerais.
Em suma, o Indutivista vê a ciência como um corpo de conhecimento solidamente assente
na observação. Todas as teorias científicas resultam de generalizações indutivas feitas a partir
da experiência.
9- Mostra o papel da observação na conceção indutivista
Segundo o indutivismo, a observação (objetiva e imparcial) é o ponto de partida de toda a
investigação científica e as teorias científicas (proposições universais) resultam de
generalizações e previsões solidamente apoiadas na experimentação.
10- Apresento as objeções à conceção indutivista de ciência.

Objeções:

 O Indutivista diz que a investigação científica assenta na observação pura, ou seja, na


observação que é conduzida sem influência de quaisquer teorias. Contudo a observação
pura é impossível. Os cientistas são influenciados de diversas formas por teorias.
 As teorias científicas referem objetos que não são observáveis. O Indutivista diz que as
teorias científicas são generalizações indutivas formadas a partir da observação de casos
particulares. Contudo, muitas teorias científicas referem objetos que não são
observáveis. Por isso, essas teorias não podem ter sido desenvolvidas mediante
simples generalizações indutivas baseadas na observação.
 Hume, admitindo que a indução é injustificável dado que o PUN não tem justificação,
chega facilmente à conclusão de que a ciência não é digna de crédito. Se quisermos
continuar a confiar na ciência e sustentar que a ciência é uma atividade racional,  temos de
rejeitar o indutivismo.
11- Exponho a posição de Popper face ao problema da indução.
O problema da indução é uma crítica formulada ao método indutivo. O problema da indução
deve-se ao fato de que não importa o número de casos que se observe, que jamais será
possível provar que uma afirmação universal é verdadeira. Segundo Popper o método
indutivo não é capaz de gerar um conhecimento seguro e verdadeiro sobre a realidade. Para
Popper, a lógica da pesquisa científica não é indutiva, mas sim hipotético-dedutiva, uma vez
que o princípio da indução leva a inconsistências. Para este autor, o teste de teorias científicas
deve basear-se em procedimentos dedutivos.
1. A indução é injustificável (pois, o PUN é injustificável).
2. Se a indução é injustificável, a ciência não é uma atividade racional.
3. ∴ A ciência não é uma atividade racional.

12- Apresento o método critico das conjeturas e refutações de Popper.

Popper propõe um método hipotético-dedutivo em duas fases. Em primeiro lugar, para Popper
a ciência não começa pela observação, mas pela teoria ou conjetura. Depois a conjetura não
pode ser verificada, apenas falsificada.

O método de Popper designado por método das conjeturas e refutações segue as seguintes
etapas:

 Formulação de um problema.

Uma teoria científica parte sempre de um problema. Se não houver problema, a investigação


não se inicia. Assim, o cientista começa por colocar uma questão cujo interesse e significado
depende de um determinado contexto teórico. Qualquer teoria é sempre uma resposta para
algum tipo de problema, para algo que precisa de explicação pelo que não se parte de
observações.

 Apresentação da teoria como hipótese ou conjetura.

Perante um dado problema, o cientista tem de avançar com uma primeira tentativa de solução,
uma hipótese ou conjetura. Essa hipótese ou conjetura é uma mera suposição. Popper insiste na
importância de propor conjeturas ousadas, pois têm um grau elevado de falsificabilidade, o que
significa que são informativas e que se expõem a um grande risco de serem refutadas.

 Tentativas de refutação da teoria através de testes experimentais.

A observação desempenha um papel crucial apenas na tentativa de refutar teorias. Nesse


momento, a teoria é sujeita a testes. Para isso é necessário deduzir previsões empíricas da
teoria. Os cientistas procuram fazer observações minuciosas cujos resultados
sejam incompatíveis com aquilo que a teoria prevê. Se as previsões se revelarem incorretas, isto
é, se a teoria não resistir aos testes, a teoria será refutada e será posteriormente formulada uma
nova hipótese.

Se as previsões forem corretas Popper defende que se terá de continuar a tentar refutá-la com
testes cada vez mais severos. Se a teoria não for refutada, ou seja, se as previsões
ocorrerem, não podemos dizer que ela é verdadeira. Tudo o que podemos dizer é que, até ao
momento, a teoria não foi refutada. Ou seja, a teoria é corroborada (fortalecida).

Objeções:

 Não é razoável abandonar uma hipótese ou teoria apenas porque foi refutada por um teste

experimental - Em ciência, além de hipóteses e previsões, existem outros fatores envolvidos, ou

seja, caso uma ocorrência prevista por uma hipótese não se confirme, o problema pode não estar

na hipótese, mas sim em algum outro fator, como instrumentos utilizados ou fatores pessoais.

 O falsificacionismo torna irracional a nossa confiança nas teorias científicas - Popper só dá

conta do conhecimento científico negativo e não ao que, em geral, nos leva a dar importância à

Ciência: os seus resultados. Mas se não tivermos razões muito fortes para acreditar que

as teorias científicas atuais são verdadeiras, não é racional presumir algo.


13- Distingo falsificabilidade de falsificação

Uma teoria é falsificada caso esteja refutada pela experiência, ou seja, caso já se tenha
provado que a teoria é falsa. Uma teoria é falsificável caso tenha de ser possível refutá-la pela
experiência, mesmo que nunca chega a ser efetivamente refutada.
14- Reconheço a diferença entre corroboração e verdade.
Verdade e corroboração não são a mesma coisa. A corroboração é um indicador temporal.
Uma teoria corroborada é uma teoria que resistiu aos testes a que foi sujeita num determinado
momento, mas isto não faz dela uma verdade, apenas indica que, até ao momento, é a melhor
teoria. Nada garante, porém, que ela não venha a ser refutada, ou parcialmente refutada num
próximo momento de falsificação.
15- Formulo expressamente o problema da evolução da ciência.
O problema da evolução da ciência é formulado da seguinte forma: Como progride a ciência?
Como evolui o conhecimento científico? As teorias científicas atuais são melhores que as
anteriores? A fim de dar resposta a este problema surgem duas perspetivas distintas: a
perspetiva de Popper de que a ciência progride por aproximação à verdade e a perspetiva de
Kuhn de que a ciência progride sem um fim definido.
16- Clarifico a perspetiva de Popper acerca da Evolução do conhecimento científico.
De acordo com Popper nunca podemos garantir que uma teoria científica é verdadeira pelo que
não precisamos de saber que as teorias são verdadeiras para haver progresso. Basta que as
teorias atuais sejam melhores do que anteriores. Uma teoria é melhor do que a anterior se
resistir aos testes de falsificabilidade a que a anterior não resistiu.
As novas teorias, ao ocuparem o lugar das velhas, preservam alguns dos seus melhores aspetos,
ao mesmo tempo que desfazem os seus defeitos. Mas isto é só possível porque se procuram
ativamente os erros.
Na perspetiva de Popper, a ciência avança por um processo racional de eliminação de erros,
que consiste na substituição de más teorias por teorias cada vez melhores. A evolução científica
é caraterizada como um processo de contínua aproximação da verdade embora a verdade última
seja inalcançável.
17- Clarifico a perspetiva de Kuhn acerca da evolução do conhecimento científico.
Thomas Kuhn defende que a ciência não tem de progredir em direção a um fim previamente
estabelecido, rejeitando a ideia de que a ciência progride em direção à verdade. Para Kuhn, a
história da ciência é uma sucessão de paradigmas.
A mudança de paradigma ocorre seguindo estas fases:
 Pré-ciência:
- Ausência de paradigma.
- Sem paradigma não há comunidade científica (pois é o paradigma que une todos os
praticantes de uma dada área nos mesmos objetivos, valores, regras, metodologias).
- Sem paradigma não há ciência: há apenas tentativas avulsas de explicar e de resolver
problemas acerca da natureza.
 Ciência normal:
- Período em que se estabelece consensualmente um paradigma.
- Refere-se aos longos períodos de ciência que decorrem ao abrigo de um paradigma.
- A função do cientista normal é alargar o âmbito e alcance do paradigma, ao resolver
enigmas ou puzzles, sem pôr em causa paradigma.
- Há uma atitude dogmática em relação às hipóteses e há um progresso cumulativo no
interior do paradigma.
 Crise científica:
- Paradigma em dificuldade.
- Por vezes os cientistas descobrem que os pressupostos do paradigma não estão de
acordo com aquilo que se observa na natureza.
- Quando as tentativas de resolver um enigma fracassam, surge uma anomalia.
- Se as anomalias forem resolvidas à luz do paradigma, este é reforçado, mas se
as anomalias permanecerem sem uma solução satisfatória, começa-se a perder
confiança no paradigma.
 Revolução científica:
- Mudança de paradigma.
- Ao perder-se a confiança no paradigma, dá lugar à crise. O paradigma vigente deixa
de ser o modelo consensual de fazer ciência.
- Uma vez instalada a crise, inicia-se a ciência extraordinária, um período
de competição e escolha de teorias, acabando por surgir uma teoria alternativa que
proporciona um novo paradigma.
- A comunidade científica divide-se entre os conservadores (que defendem o velho
paradigma) e os revolucionários (que defendem o novo).
 Ciência normal:
- Novo paradigma.
- Quando os partidários do novo paradigma triunfam sobre o antigo opera-se
uma revolução científica ocorrendo uma mudança de paradigma.
- As revoluções científicas não representam uma evolução, num sentido cumulativo, em
direção a uma compreensão mais profunda da realidade tal como ela objetivamente é.
- Estabelecido o consenso em torno do novo paradigma, inicia-se um novo período de
ciência normal.
18- Clarifico as noções de paradigma, anomalia, crise científica, revolução científica e
incomensurabilidade.
Paradigma- Um paradigma é uma estrutura teórica que oferece uma visão do mundo e uma
forma específica de fazer ciência numa dada área. Um paradigma estabelece pressupostos
teóricos fundamentais, regras para aplicar a teoria à realidade e princípios metafísicos.
Anomalia- É um enigma, teórico ou experimental, que não encontra solução no âmbito do
paradigma vigente.
Crise Científica- Período em que ocorre uma acumulação de anomalias que o paradigma é
incapaz de resolver satisfatoriamente.
Revolução Científica- Insere-se num período de ciência extraordinária (período de grande
discussão científica que surge na sequência de uma crise e que termina com uma revolução
científica) e corresponde ao abandono e substituição de um velho paradigma por um novo
paradigma.
Incomensurabilidade- Impossibilidade de comparação de paradigmas, em virtude de não haver
entre eles pontos em comum.
19- Compreendo os argumentos a favor da tese da incomensurabilidade dos paradigmas.
A tese da incomensurabilidade dos paradigmas corresponde à impossibilidade de comparação
de paradigmas, em virtude de não haver entre eles pontos em comum pois não existe um
padrão neutro que permita comparar objetivamente dois paradigmas entre si e com a
realidade no sentido de detetar qual deles é o melhor.
Assim, quando ocorre uma revolução científica o novo paradigma não é melhor nem pior do
que o antigo. Eles são simplesmente incomensuráveis.
Argumento baseado na impossibilidade de tradução entre paradigmas:
1. Se os paradigmas são comensuráveis, então não são demasiado diferentes entre si para
poderem ser comparados objetivamente.
2. Mas os paradigmas são demasiado diferentes entre si para poderem ser comparados
objetivamente. Para Kuhn, cada paradigma tem os seus próprios conceitos, os seus
próprios problemas e os seus próprios procedimentos para observar o mundo. É isto que
torna impossível compará-los objetivamente.
3. Logo, os paradigmas são incomensuráveis.
Argumento baseado na insuficiência dos critérios objetivos:
1. Se os paradigmas são comensuráveis, então é possível justificar a preferência por um
paradigma através de critérios puramente objetivos.
2. Mas não é possível justificar a preferência por um paradigma através de critérios
puramente objetivos. A escolha de teorias/paradigmas envolve, além de fatores
objetivos (como a exatidão, consistência, simplicidade, alcance, fecundidade),
também fatores subjetivos importantes. Os critérios de escolha de teorias/paradigmas
são vagos e, portanto, a sua aplicação é muito subjetiva. Assim, não é possível, por
exemplo, determinar com rigor o nível de simplicidade de uma teoria.
3. Logo, os paradigmas são incomensuráveis.
Com base na Tese da Incomensurabilidade pode-se argumentar que não há uma aproximação à
verdade nas mudanças de paradigma:
1. Os paradigmas são incomensuráveis.
2. Se os paradigmas são incomensuráveis, então não podemos saber se as teorias
científicas atuais estão mais próximas da verdade do que as suas antecessoras.
3. Logo, não podemos saber se as teorias científicas atuais estão mais próximas da verdade
do que as suas antecessoras.
20- Formulo expressamente o problema da objetividade da ciência.
O problema da objetividade da ciência: A ciência é objetiva? Para que a ciência
seja objetiva exige-se que a avaliação e escolha de teorias seja feita com base em critérios
imparciais, em critérios que não sejam baseados em razões ou preferências de caráter pessoal.
Para este problema são apresentadas duas perspetivas: a perspetiva de Popper de que a ciência
é objetiva e a de Kuhn de que a ciência não é totalmente objetiva.
21-Clarifico a perspetiva de Popper sobre a objetividade da ciência
Popper defende uma perspetiva racionalista da ciência, considerando que esta
proporciona conhecimento objetivo.
A ciência é objetiva porque:
 A teoria é avaliada por meio de testes cada vez mais severos de falsificação.
 Neste caso, uma teoria só se mantém como científica se passar testes rigorosos e
objetivos, os quais podem ser levados a cabo por qualquer cientista, independentemente
das suas convicções pessoais.
 Neste processo não intervém qualquer aspeto subjetivo.
O conhecimento científico é objetivo porque a sua lógica de justificação é independente de
quaisquer sujeitos, dado que nenhum elemento subjetivo intervém no modo como ele é
testado.
22- Clarifico a perspetiva de Kuhn sobre a objetividade da ciência.
Segundo Kuhn se a escolha entre teorias propostas por paradigmas que competem entre
si depende em grande parte de critérios subjetivos, então a ciência não é totalmente objetiva.
Kuhn reconhece que há critério objetivos, mas são insuficientes, tais como:
1. Exatidão: quanto mais exatas forem as previsões, melhor é a teoria.
2. Consistência: quanto mais uma teoria estiver de acordo com outras amplamente aceites,
melhor é.
3. Simplicidade: quanto mais simples for uma teoria, melhor ela é.
4. Alcance: quanto mais coisas uma teoria conseguir explicar, melhor é.
5. Fecundidade: quanto maior for a capacidade para conduzir a novas descobertas
científicas, melhor é a teoria.
Apesar de tais critérios serem partilhados pelos cientistas, frequentemente estes divergem na
sua aplicação:
 Pois uns cientistas podem dar mais importância a um critério, ao passo que outros
valorizam mais um critério diferente.
 Dada que os critérios não estabelecem com rigor qual o grau de simplicidade, de
fecundidade, etc, são de algum modo vagos.
 Assim, diferentes cientistas podem interpretá-los de modo diferente e chegar a
conclusões diferentes.
Assim, para Kuhn, a ciência não é totalmente objetiva. Pois, há outros fatores subjetivos
(históricos, pessoais e sociais) que a influenciam.
23- Avaliar criticamente a posição de Kuhn acerca da evolução e objetividade da ciência.
A ideia de que os paradigmas são incomensuráveis é implausível pois essa ideia é contrariada
pela própria história da ciência.
Por exemplo, a teoria heliocêntrica foi inicialmente proposta por Copérnico porque permitia
explicar precisamente os mesmos fenómenos observados à luz da teoria geocêntrica, mas de
modo mais simples, exato e eficaz. Foi essa vantagem comparativa que levou Copérnico a
abandonar a teoria geocêntrica.
De um modo geral, as teorias científicas atuais permitem fazer previsões mais rigorosas e
exatas do que as teorias do passado.
A objeção à tese da incomensurabilidade pode ser formulada nos seguintes termos:
1. Se um paradigma resolve as anomalias de outro, então é falso que os paradigmas são
incomensuráveis.
2. Frequentemente um paradigma resolve as anomalias do seu antecessor.
3. Logo, é falso que os paradigmas são incomensuráveis.
Kuhn propõe uma conceção relativista da ciência, colocando-a a par de outro tipo de
explicações, como os mitos e lendas mas se tudo não passar de conceções do mundo
inconciliáveis às quais se adere pelas mais variadas razões, incluindo motivações psicológica,
ideológicas, religiosas ou políticas, então elas não são diretamente confrontadas com o
mundo, sendo antes construções sociais tão justificáveis como os mitos e lendas.
Nesse caso, não se entende como pode a ciência ter o prestígio que tem e nem se entende o
crescente sucesso da ciência.
Esta última objeção pode ser formulada nos seguintes termos:
1. Se os paradigmas são incomensuráveis, então não podemos dizer que as teorias
científicas atuais estão mais próximas da verdade do que as suas antecessoras.
2. Mas uma vez que as teorias científicas atuais têm uma maior capacidade de prever o
comportamento da Natureza do que as suas antecessoras, podemos considerar que estão
mais próximas da verdade do que as suas antecessoras.
3. Logo, os paradigmas não são incomensuráveis.

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