Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURITIBA
2018
CAROLINE DEL VECCHIO DE LIMA
CURITIBA
2018
Dados da Catalogação na Publicação
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR
Biblioteca Central
Agradeço aos meus pais, pois sendo grandes entusiastas do assunto (e de qualquer
assunto na verdade) adoraram opinar, nos momentos em que a opinião é bem-vinda
e também nos momentos que nem tanto.
Ao meu pai por me acordar sempre que eu perco o horário e a minha mãe, por corrigir
meus erros gramaticais, sem eles esse trabalho nunca teria sido feito.
RESUMO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
Objetivo Geral .......................................................................................................... 12
Objetivos Específicos ............................................................................................. 13
Problematização ...................................................................................................... 13
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................. 18
1 IMIGRAÇÃO .......................................................................................... 21
1.1 HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL ..................................................... 22
1.1.1 Imigração no Paraná .................................................................................. 25
1.2 A IMIGRAÇÃO ATUAL NO PARANÁ ........................................................... 27
1.3 MEMÓRIA COLETIVA .................................................................................. 30
2 MUSEU .................................................................................................. 33
2.1 A HISTÓRIA DOS MUSEUS ........................................................................ 34
2.1.1 Surgimento ..................................................................................................... 34
2.1.2 Modernismo .................................................................................................... 39
2.2 O MUSEU HOJE .......................................................................................... 42
2.3 MUSEOGRAFIA, MUSEOLOGIA E SUA INFLUÊNCIA NA CONCEPÇÃO
DO PROGRAMA DE NECESSIDADES MUSEAL .................................................... 44
2.4 ASPECTOS TÉCNICOS DAS ÁREAS NÃO EXPOSITIVAS ........................ 47
2.5 O MUSEU E O ESPAÇO URBANO.............................................................. 48
3 ESTUDOS DE CASO ............................................................................ 51
3.1 CASOS INTERNACIONAIS .......................................................................... 51
3.1.1 Kimbell Art Museum ....................................................................................... 51
3.1.2 Museu da Memória e dos Direitos Humanos ............................................... 57
3.2 CASOS NACIONAIS .................................................................................... 61
3.2.1 Fundação Iberê Camargo ........................................................................... 61
3.2.2 Museu Paranaense ..................................................................................... 66
4 RESULTADOS ...................................................................................... 72
4.1 CONCEITO DE IMIGRAÇÃO ADOTADO ..................................................... 72
4.2 PERCURSO MUSEOGRÁFICO SUGERIDO ............................................... 75
4.2.1 Fluxograma do percurso museográfico sugerido: .................................. 81
4.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES E DIMENSIONAMENTO ...................... 82
4.4 ORGANOGRAMA ............................................................................................... 85
4.4 FLUXOGRAMAS .......................................................................................... 85
4.4.1 Fluxograma setor de acesso ao público .................................................. 86
4.4.2 Fluxograma setor de acesso restrito ........................................................ 87
4.5 ÁREA DE INTERVENÇÃO .................................................................................. 87
4.5.1 Terreno escolhido .......................................................................................... 90
4.5.1.1 Zoneamento e hierarquia de vias .................................................................. 92
4.5.1.2 Parâmetros da Guia Amarela ........................................................................ 93
4.5.1.3 Acessos ......................................................................................................... 94
4.5.1.4 Aspectos físicos ............................................................................................ 95
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 98
6 REFERÊNCIAS ................................................................................... 100
APÊNDICE A – ENTREVISTA COM ROSEMEIRE ODAHARA GRAÇA............... 104
FORMULÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO ..................................................................... 109
11
INTRODUÇÃO
_______________
1 Melting pot: Expressão na língua inglesa que representa um “local onde muitas pessoas e ideias
diferentes coexistem, com frequência misturando e criando algo novo” (CAMBRIDGE DICTIONARY.
Dicionário de Inglês. Disponível em: <https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/melting-
pot>. Acesso em: 3 abr. 2018, tradução nossa)
12
Objetivo Geral
_______________
2 A expressão tribos urbanas está aqui utilizada do conceito de “neotribalismo”, empregdo por Michel
Maffesoli (2014, p. 137), para se referir a grupos urbanos que se agregam e se caracterizam “pela
fluidez, pelos ajuntamentos pontuais e pela dispersão,” (p. 137).
13
participação pública, apelando assim para a memória coletiva urbana, de forma que
esse patrimônio seja estudado e discutido, em um local que através do espaço
proporcione conhecimento sobre os diferentes povos que aqui se estabeleceram, ou
ainda se estabelecem, e ajudam a formar a identidade cultural e socioeconômica do
Paraná, de forma a se registrar/celebrar as diferenças culturais de cada etnia e a
compreender a importância do imigrante como agente histórico e social.
Objetivos Específicos
Problematização
_______________
3 GUEDES, Sandra Paschoal Leite de Camargo; ISSBERNER, Gina Esther. O Memorial de Imigração
Polonesa em Curitiba: dinâmicas culturais e interesses políticos no âmbito memoralista. Anais do
Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 427-455, Apr. 2017. Disponível
em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
47142017000100427&lng=en&nrm=iso>. Accesso em 03 Apr. 2018.
15
Justificativa
16
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
que não tem sido valorizado localmente em detrimento de museus maiores e de maior
infuência, como o Museu Oscar Niemeyer. Este estudo de caso foi realizado a partir
de informações coletadas pela autora presencialmente, ao visitar o museu e obter
dados, e é focado principalmente no valor do percurso expositivo proposto e na forma
como lida com a informação passada ao público e o seu acervo.
Por fim, um questionário online foi elaborado para saber a opinião do público sobre
museus, sua relação com a história do Paraná e a herança imigratória. Os resultados
obtidos estão representados em gráficos, mostrados dentro do capítulo de
Resultados.
Essas informações aliadas a todas as outras anteriormente coletadas através de
outras metodologias foram decisivas para a construção do conceito de imigração que
o museu proposto visa difundir, além de todas as informações e conclusões geradas
visando a melhor entendimento do valor deste tema e a melhor forma de difusão do
patrimônio, respondendo assim o problema de pesquisa.
21
1 IMIGRAÇÃO
i·mi·grar
[do latim immigrare]:
vti e vint 1. Estabelecer-se em país estrangeiro, em geral para nele viver.
(MICHAELIS. DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA)
A palavra imigrante se difere de emigrante apenas por uma questão de ponto
de vista. O indivíduo é imigrante para quem observa sua chegada, vindo de outra
região, cidade, estado ou país e se estabelecendo em um novo local. Logo, do ponto
de vista de quem ficou para trás, o indivíduo é um emigrante, aquele que deixa o local.
Ambos provêm do verbo migrar, que representa um movimento.
Esse movimento de pessoas pelos diversos territórios do mundo é tema de
inúmeras pesquisas e trabalhos, pois é característico, dentre tantas outras espécies,
da raça humana, e a acompanha desde o princípio de sua história. Aliada a esse
movimento sempre existe uma causa que o impulsiona, o verdadeiro foco da
relevância deste fenômeno, pois sem nenhuma causa ou motivação o indivíduo
permaneceria onde está.
Essas causas são inúmeras, mas geralmente se reduzem a busca pelas
necessidades básicas do homem: se alimentar, viver em segurança e manter sua
espécie. Isso se traduz na busca por empregos, terras, paz, liberdade religiosa,
independência, liberdade racial, melhores condições ambientais, moradia etc. Uma
vida melhor. Ou seja, o lugar que é deixado para trás representa uma conjuntura
negativa e o lugar de destino, um atrativo. E quanto maior é o número de pessoas em
movimento, ou seja, quanto mais social for esse processo, maior é o impacto gerado,
principalmente no local de destino e na estrutura social desse conjunto de indivíduos.
Com base nisso, foi dada a largada na política de incentivo à imigração. Porém,
as primeiras tentativas foram falhas. O proprietário de terras brasileiro, até então
acostumado com a mão de obra escrava que não tinha opção a não ser viver e
trabalhar com o que lhe era oferecido, não oferecia condições de vida ideais para os
primeiros trabalhadores europeus que aqui chegaram: alemães e suiços. E estes,
24
devido à condições de trabalho tão extenuantes quanto aquelas que haviam deixado
para trás, com dificuldades de adaptação ao novo país por sua cultura ou clima, logo
decidiram ir em busca de terras próprias em outras regiões ou voltar para seus países
de origem.
As tentativas seguintes foram mais bem-sucedidas. O Estado passa a se
preocupar com políticas de estímulo à imigração mais bem elaboradas, como o
Decreto-Lei nº528 (1890) que previa a aquisição de terras, reembolso e custos de
viagem dos imigrantes, proibindo a entrada de imigrantes negros e asiáticos
(OLIVEIRA, 2011), e também leis restritivas, como a “Lei dos Indesejáveis”, que
proibia a imigração de portadores de deficiências, doentes e pessoas acima de 60
anos, visando uma população saudável e capacitada para o trabalho braçal.
Com isso, e alguns anos depois com o advento das guerras mundiais, ocorreu
o boom imigratório, que já estava em curso em outros locais da América, também no
Brasil, e com isso a consolidação da indústria cafeeira como o principal setor
econômico brasileiro movido pela mão de obra imigrante. Italianos, alemães,
espanhóis, entre outros, tornaram-se o elemento chave da economia, principalmente
na região Sudeste, onde o tipo de imigração focada no trabalho em grandes
propriedades cafeicultoras e na oferta de serviços nos grandes centros urbanos,
diferenciou-se do da imigração colonizadora que tomou o Sul do país, tendo esta como
intento a povoação de áreas não ocupadas (OLIVEIRA, 2007).
escrava do meio rural foi o que impulsionou a vinda de trabalhadores imigrantes que
até então se encontravam em colônias próximas como é o caso dos alemães da
colônia Dona Francisca, atual Joinville, SC, que vieram em direção a Curitiba.
A partir de então, começa-se a valorizar, no contexto paranaense, a existência
do imigrante, e este, passa a ser associado positivamente ao trabalho e à
modernização da sociedade. Os imigrantes passam antes mesmo do fim da
escravidão a serem preferidos aos escravos na contratação de empregados e isso
afeta até mesmo a ordem jurídica paranaense quando, em 1861, a Câmara proíbe o
trabalho escravo em lojas comerciais.
O Relatório apresentado pelo vice-presidente da Província em 1875 (Relatório
de Governo de 1875,p. 22) apresenta um trecho onde se reconhece que “hoje (...) a
salutar lei de emancipação dos escravos nos colocou na dependência do braço
europeu”. Este mesmo Relatório também apresenta dados de imigrantes que estariam
se instalando em regiões que viriam a se tornar no que hoje são muitos dos bairros
da capital paranaense, em um dos primeiros movimentos de migração proveniente
das colônias interioranas do estado. Alguns desses bairros são os atuais Bacacheri e
Abranches, tradicionalmente considerados bairros de origem européia da cidade.
É importante salientar que nem todas as iniciativas governamentais foram bem-
sucedidas. Um exemplo disso foi todo o investimento feito tanto no transporte quanto
no assentamento e moradia dos primeiros imigrantes russos (os chamados “Alemães
do Volga”) na região dos Campos Gerais do Paraná. A expectativa era de 20 mil
pessoas, contudo devido a uma série de dificuldades, apenas 3.809 chegaram e
desse número, e desses, apenas 50% se estabeleceu no local de destino (OLIVEIRA,
2007).
Apesar disso, as elites locais estavam obstinadas em se libertar através da
imigração europeia do que entendiam como “vícios de origem” herdados do modelo
escravocrata. Entre 1890 e 1900, o que seria a primeira década republicana e também
o período da chamada “febre imigratória”, estabeleceu-se uma nova política de
incentivo em que, até 1896. passagens a partir do país de origem, transporte dentro
do próprio Brasil, terras ou lotes e um auxílio para sobrevivência nos primeiros meses
foram custeadas pelo governo. Estas ações de apoio a um contexto de imigração de
europeus ja explicado surtiram efeito e de acordo com Andreazza e Nadalin (1994, p.
65), entre 1829 e 1911, um número final de 85.537 imigrantes teriam se instalado no
estado.
27
e demonstra que mais do que uma declaração de cunho discriminatório feita pela
prefeitura, ela se reveste de conteúdo histórico científico. A conclusão é: o
afrodescente realmente não teve impacto direto na história paranaense.
Porém, a imigração e miscigenação de povos não é um acontecimento isolado
e pontual. O fenômeno imigratório continua, e o que foi um fato para a história
paranaense pode não continuar a ser assim futuramente.
De acordo com uma matéria publicada pela Agência de Notícias da Prefeitura
de Curitiba, em 2015, haitianos e sírios estão no centro da atual onda migratória para
o Brasil. Este, apesar de suas inúmeras questões de desigualdade econômica e
social, de degradação urbana e violência, ainda se mantém como um país de relativa
estabilidade se comparado ao Haiti, devastado por catástrofes naturais e o
consequente caos governamental; ou a Síria, mergulhada na guerra civil; e portanto,
é para muitos uma opção de destino válida.
De acordo com a lógica dos grandes centros urbanos mundiais e nacionais, o
que já pode ser visto nos seus espaços públicos, Curitiba segue sendo um ponto de
destino para esses novos imigrantes, que chegam aqui por motivos muito
semelhantes aos dos primeiros colonizadores europeus, mas encontram um contexto
social e econômico bastante diverso daquele de outrora: uma cidade cuja a economia
e a cultura já estão consolidadas, e que a demanda por trabalhadores não é nem de
longe tão emergencial quanto antes.
De acordo com estimativas de 2015 da Casa Latino Americana (Casla),
organização civil que atua com migrantes e refugiados na capital, Curitiba abriga entre
15 e 19 mil imigrantes e refugiados e o Paraná 60 mil, em média. A capital se
consolidou como 4º principal destino brasileiro para refugiados, mas devido a estados
de ilegalidade e ausência de um controle mais eficiente, as estatísticas não são
certeiras.
Além disso, dados da Polícia Federal (Figura 2) – que não incluem os migrantes
laborais por razões humanitárias (como os haitianos), por refúgio e nem os turistas
estrangeiros – mostram que nos últimos 15 anos cerca de 39,3 mil estrangeiros
solicitaram visto de entrada na sede de Curitiba, sendo as nacionalidades que mais
fizeram os pedidos, por ordem: argentinos, portugueses, japoneses, alemães,
italianos e chilenos.
Esses novos fluxos sociais exigem do estado novos planos e políticas para
imigrantes, sendo um exemplo disso a concretização do Plano Estadual de Políticas
29
Além disso, deve se pensar no impacto cultural e social desses novos fluxos
dentro do contexto tanto local quanto do atual recorte de tempo do mundo globalizado
e, as novas formas de sociabilidade que ele implica. De acordo com o autor Otávio
Cezarini Ávila (2016), em seu artigo “As práticas comunicativas e culturais que
30
2 MUSEU
De acordo com o Estatuto do ICOM (International Council of Museums),
adotado na 22ª Assembleia Geral em Viena, Áustria no dia 24 de agosto de 2017, um
museu pode ser definido como:
2.1.1 Surgimento
Fonte: https://medium.com/museus-e-museologia/os-gabinetes-de-curiosidade-e-o-renascimento-
d85eb3f34ff3
37
Foi o contexto da Revolução Francesa, que trouxe em cena pela primeira vez
a acepção do museu atual. Para a autora Françoise Choay (2001), a criação do
ambiente museu como espaço público que tem como função proteger o patrimônio
cultural de uma nação e não o de apenas entreter a burguesia vigente, surge de dois
fatores distintos da época: o primeiro, foi a transferência dos bens da Igreja à Nação,
sendo essa ampla coleção agora era um bem nacional e, portanto, irrestrita ao alcance
de todos os franceses, passando a necessitar de um espaço físico para o público
desfrutá-la. O segundo fator foi a necessidade de desenvolver aparatos que
protegessem esses bens da Igreja, entre tantos outros não necessariamente
relacionados à religião, e que estavam ameaçados de destruição por questões
ideológicas.
O objetivo do governo francês ao tornar todo esse patrimônio público era o
mesmo que de muitos governos anteriores na história da civilização ocidental: o de
educar a população, difundir o civismo e o conhecimento da história do país. Tal
pretensão teve sua materialização com a transformação do Palácio do Louvre em
museu nacional. Com ele, muitos outros países influenciados pelos movimentos
sociais da época também inauguraram o que hoje são alguns dos maiores e mais
importantes museus da Europa: o Belvedere de Viena, o Museu Real dos Países
Baixos de Amsterdã, o Museu do Prado de Madri, o Altes Museum de Berlim, o
Hermitage de São Petersburgo e o Museu Britânico em Londres. Já no Brasil, D. João
VI criou o Museu Real (1818), atual Museu Nacional no Rio de Janeiro, primeiro
exemplo nacional de um museu etnográfico que apesar de celebrar o patriotismo de
forma mais sutil do que os outros museus nacionais pelo mundo, o fazia indiretamente
através da propagação do conhecimento e da preservação das características
culturais, da fauna e da flora brasileira.
Conforme Choay (2001) assinala, foi neste período que a arquitetura da
edificação museal sofreu a influência do neoclassicismo amplamente difundido na
Europa (e consequentemente no mundo já que ainda e por muito tempo seria a Europa
quem ditaria as tendências mundiais) e da necessidade de grandiosidade. As
exposições tinham como objetivo mais do que a clareza, a de possuir uma
organização prioritariamente cenográfica. Visava-se trazer por meio desses museus
que se assemelhavam a palácios romanos e gregos a idéia simbólica da
grandiosidade da nação e de poder e, apesar de pela primeira vez as obras estarem
38
de Durand, com a diferença que possui um segundo pavimento exclusivo para obras
enquanto o térreo servia para esculturas, criando assim um uso alternativo para a luz.
Este museu marca a geração de museus de seu período por suas características
como um todo e, é um ponto referencial para muitos historiadores para entender o
desenvolvimento museológico que se deu a seguir.
2.1.2 Modernismo
FIGURA 6 – CROQUI DO MUSEU GUGGENHEIM EM NOVA IORQUE FEITO POR FRANK LLOYD
WRIGHT
“O raio do ‘espaço para arte’ para o ‘espaço para recepção e acesso’ era de
9:1 no século 19. Atualmente, esse raio aproxima-se a 1:2, isto é, somente
um terço do espaço disponível é utilizado para fins de exposição” (VENTURI,
1988, p. 91).
Pode-se dizer que hoje o museu possui grande importância aos olhos da
sociedade por seu valor simbólico, cultural, científico e urbano. A instituição adquiriu
tamanha importância econômica e social que a grande quantidade de edificações
desse uso em uma cidade representa status elevado e prosperidade. Com isso,
cidades começaram a “encomendar” museus de forma a mudar suas dinâmicas
44
O museu atual tem como principal desafio através das técnicas e pensamentos
contemporâneos o de manter esse título, o de guardião de uma cultura, de um
patrimônio. Contudo, esse título se torna obsoleto se a instituição não faz parte do
cotidiano de uma sociedade e, para isso ela deve se adaptar e se pôr em voga, mesmo
que para tal tenha que ceder às demandas de uma sociedade de consumo cuja forma
de pensar e o desenvolvimento estão em constante mudança.
Nas reservas técnicas estão a maior parte das coleções dos museus, nelas
os “objetos” são catalogados, classificados e armazenados de acordo com as
normas internacionais estabelecidas para conservação dos acervos.
Geralmente, nesse processo de catalogação os objetos são reunidos por
tipologias de materiais deixando de lado a relação com seus antigos
proprietários, o que pode ocasionar a dissociação dos objetos com relação
aos seus proprietários anteriores, acarretando em perda de informação e
consequentemente no empobrecendo de possíveis leituras. (BACHETTINI,
PRIMON, GASTAUD, 2015, pg. 1807)
48
3 ESTUDOS DE CASO
alguns dizem ser a luz o ponto de partida para tudo, outros a estrutura, e ainda alguns
salientam a relação com o entorno. De fato, todas essas questões e muitas outras
foram trazidas para o projeto, mas o que Kahn queria no fundo era criar uma edificação
que não pudesse ser “desvirtuada” dos valores do projeto inicial, assim, a versatilidade
dos espaços internos, muitas vezes requerida no uso museal, é possível até um certo
ponto, aquele em que o arquiteto ainda mantivesse controle.
Alocado em uma zona então periférica de Forth Worth, que hoje se consolidou
como Distrito de Museus, a implantação levou em consideração o vasto entorno da
região cuja edificação de maior relevância era o Amon Carter Museum logo em frente.
Este museu foi ponto de referência para Kahn, pois Phillip Johnson em sua
concepção, teve como partido a valorização do vasto horizonte de Forth Worth, e Kahn
com sua obra não poderia tirar isso dele. Assim, compreende-se o caráter horizontal
de baixo gabarito do trabalho de Kahn.
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-117677/classicos-da-arquitetura-museu-de-arte-kimbell-
slash-louis-kahn?ad_medium=gallery
com Ribeiro (2009) “[...] Kahn nunca aceitou que os texanos iriam utilizar este meio
como prioritário para chegar ao museu — acreditava que se deveria distinguir a
arquitetura para o automóvel e a arquitetura para as atividades humanas. ” Um claro
contraponto ao Estilo Internacional que colocava o automóvel como peça central na
organização dos fluxos. A última questão a ser levada em consideração em relação
ao contexto em que se encontra a obra era o clima árido e quente do Texas e sua
potencialidade solar.
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-117677/classicos-da-arquitetura-museu-de-arte-kimbell-
slash-louis-kahn?ad_medium=gallery
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-117677/classicos-da-arquitetura-museu-de-arte-kimbell-
slash-louis-kahn?ad_medium=gallery
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-117677/classicos-da-arquitetura-museu-de-arte-kimbell-
slash-louis-kahn?ad_medium=gallery
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-117677/classicos-da-arquitetura-museu-de-arte-kimbell-
slash-louis-kahn?ad_medium=gallery
Essa conexão, mais do que um novo percurso para os usuários que por ali transitam,
é uma conexão da cidade, entre seu centro histórico e o futuro Centro Matucana (2ª
etapa do projeto que será um edifício de uso comercial e que contemplará também
áreas de entretenimento como bares e restaurantes), e que permitirá novos visuais.
Segundo Vinuesa (2011), cria-se assim um espaço “micro-urbano”.
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/795304/museu-da-memoria-e-dos-direitos-humanos-mario-
figueroa-lucas-fehr-e-carlos-dias?ad_medium=gallery
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/795304/museu-da-memoria-e-dos-direitos-humanos-mario-
figueroa-lucas-fehr-e-carlos-dias?ad_medium=gallery
A edificação pode ser comparada a uma escultura cravada na pedra, pois além
de possuir a mesma altura da encosta (aproximadamente 25 metros), se ergue como
um elemento monolítico, pois este, feito de concreto branco pelo seu impacto visual,
63
não possui vigas ou pilares, sendo sua estrutura tudo o que se vê por fora sem a
existência de juntas de dilatação. Além disso, o concreto é mais uma demonstração
do valor agregado a obra dos elementos locais, pois a cor branca provém da mistura
das pedras brancas do Rio Guaíba com o concreto na hora de sua confecção.
A intenção do arquiteto foi de criar um elemento que desse continuidade ao
visual da encosta através do uso de elementos curvos e retilíneas, da simetria e
assimetria, sendo que o elemento mais marcante, as rampas, são o que caracterizam
a fachada principal. As janelas aqui, não tem o objetivo de prover luz (função delegada
a outra solução construtiva), e sim de “emoldurar” através de recortes orgânicos
pedaços da paisagem, sem que com isso se perdesse o foco das obras ou espaço útil
para exposição.
Tanto as rampas quanto as janelas são elementos chave da obra que podem
ser facilmente comparados com obras ja realizadas em museus icônicos da
arquitetura modernista. O mais óbvio deles é a relação das rampas com o percurso
helicoidal do Museu do Guggenheim de Nova Iorque (Figuras 19 e 20). Apesar de que
as rampas no caso de Siza não constituem o percurso museológico em si e sim o
caminho percorrido pelo usuário até as galerias de exposição, a semelhança é clara
na centralidade do grande átrio principal iluminado zenitalmente do qual as rampas
giram em torno, e da idéia de um “caminho de descoberta”, do usuário como
explorador do museu.
Fonte: https://www.tonsdaarquitetura.com.br/single-post/2015/08/04/Estudo-de-Caso-em-Projeto-
Arquitet%C3%B4nico
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-2498/fundacao-ibere-camargo-alvaro-
siza?ad_medium=gallery
_______________
4 AN: http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=48 Acesso
em 15 mai. 2018.
67
Fonte: http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=48
Já a partir da passarela que leva ao anexo construído nos anos mais recentes,
a intenção museográfica se faz clara por um enorme painel (Figura 26 a direita) que
ilustra as fases da ocupação humana no estado do Paraná por planalto. Esse painel
define como será a organização expográfica a partir desse ponto: numa sequência
cronológica que vai desde os vestígios do homem pré-histórico no Paraná até a
criação das grandes indústrias paranaenses, esse percurso é ilustrado pelos objetos
do acervo do museu, resultado de inúmeras doações através dos anos, no amplo
espaço iluminado artificialmente que é o novo pavilhão, chamado de Pavilhão da
História do Paraná. Este, se configura por dois andares conectados por rampas que
também são tratadas como áreas de exposição.
69
4 RESULTADOS
Um museu com tema tão específico e ao mesmo tempo tão amplo como é a
imigração pode apresentar diferentes abordagens e visões a serem compartilhadas
com o público. De acordo com a professora da Faculdade de Artes do Paraná,
curadora de inúmeras exposições pelo Brasil e especialista no assunto, Rosemeire
Odahara Graça, em entrevista concedida (ver anexo a), num caso como esse, o ponto
inicial para se decidir sobre o perfil do percurso expositivo e, consequentemente, todo
o conceito do projeto do museu, é a conotação sobre o tema: deve se ter muito claro
o que se entende por imigração, e a abordagem com que esse fenômeno será tratado,
enfatizando-a através da museografia.
A história da imigração está relacionada com diversos fatos, bons e ruins: as
dificuldades passadas por um conjunto de pessoas que as levaram a ir em busca de
um novo local para viver, dificuldades de adaptação culturais, sociais, financeiras; a
saudade. Para a especialista, essas questões podem muitas vezes vir acompanhadas
de um “coitadismo” que, quando traduzido de forma expositiva, traria uma conotação
pesada, triste, para o museu. Porém, a instituição como um local de educação,
proliferação da cultura e mantenimento do patrimônio pode abordar tudo isso de uma
forma mais positiva: a chance de uma nova vida, o Paraná como o início de um novo
capítulo para um povo. Nas palavras de Graça “um clarão após a tempestade”.
Um questionário realizado por 160 pessoas, sendo que dessas 160, 122 são
paranaenses ou já moraram/moram no estado, demonstra que dentre os
entrevistados, 85.6% (137 pessoas) são descendentes de imigrantes de outros
países. Isso comprova como a questão da imigração é pertinente no contexto em que
se planeja colocar o museu, tanto socialmente quanto individualmente: não é apenas
relevante pelo seu papel na formação do Estado do Paraná, mas também em relação
à história individual da maioria dos habitantes que aqui vivem.
Com base no questionário feito conclui-se que diante das respostas das
pessoas o Museu da Imigração do Paraná viria com urgência, sanando uma
necessidade de criar um local para se ter ciência do próprio passado, de forma
positiva, criando um legado para futuras gerações, celebrando o passado e o
presente. Um ambiente pesado, de resgate de memória, com uma conotação
negativa, não cumpriria aqui o papel ideal, pois nem todo o público alvo, os habitantes
75
do estado, apesar de que mesmo sendo em sua grande maioria descendentes dos
protagonistas da exposição, conhecem essa história.
Essa proporção de pessoas que partilham de um mesmo contexto e origem
histórica, mas não a conhecem prova que a forma como isso tem sido divulgado no
Paraná precisa ser repensada, como veremos a seguir ao introduzir o percurso
museológico como principal eixo conceitual de partido do museu.
Desde de que a Museografia foi qualificada como ciência que cada vez mais
percebe-se a influência do percurso museológico proposto no museu como um todo e
na sua relação com o público. Para Graça, o espaço arquitetônico existe quase como
um personagem secundário que assegura o bom desempenho do protagonista, o
acervo e as exposições, em sua função.
Eu creio que o espaço interno do museu deve ser indutivo, para que ele leve
o visitante a saber se comportar em termos de direcionamento (algo beeeem
modernista nesse pensamento), já que ele não é o atrativo principal (que é o
acervo), ele é a sedução, o acolhimento. O espaço "arquitetônico" que deve
ser percebido, admirado é o entre as exposições (ex. corredores de ligação
que permitem ver os jardins, o café, a livraria, etc.) que convidam a estar
neles. (GRAÇA, anexo A, 2018)
“Não costumo frequentar. Não sei explicar o por quê. Gostaria de vivenciar mais
esse “mundo”, mas não saberia por onde “começar”. ” (Respondente 1, 2018)
3. Povo Paranaense: Após a “luz no fim do túnel”, nossa linha do tempo finaliza no
que seria o Paraná dos últimos 100 anos. Este ponto do percurso é um trecho de
78
Este momento do percurso não tem como objetivo ainda separar a exposição
por etnias e sim apresentá-las todas juntas, num mesmo contexto, imitando a
realidade. O espaço em que este trecho da exposição for alocado não precisa oferecer
um percurso óbvio, e sim a liberdade do visitante escolher o que quer observar. A
partir dessa sala se ramificarão inúmeras outras onde o visitante pode ou não entrar
antes de prosseguir com a segunda parte da exposição como veremos a seguir.
Setor Educacional
- Lógica - - 80
“O raio do ‘espaço para arte’ para o ‘espaço para recepção e acesso’ era de
9:1 no século 19. Atualmente, esse raio aproxima-se a 1:2, isto é, somente
um terço do espaço disponível é utilizado para fins de exposição” (VENTURI,
1988, p. 91).
85
4.4 ORGANOGRAMA
4.4 FLUXOGRAMAS
Com base nos estudos feitos, chegou-se a conclusão que o terreno ideal para
o projeto deste tipo de museu seria um terreno amplo, cujos parâmetros construtivos
impostos pela legislação permitam que ele comporte todo programa necessário para
88
o museu, seu apoio e uma área externa de lazer. Além disso, é de interesse para o
usuário que este museu não seja em locais afastados do centro da cidade e de difícil
acessibilidade, seja através do transporte público, por meio de automóveis ou a pé,
pois é um equipamento que visa atender o público de toda a cidade além dos turistas.
O bairro Mercês surge como uma possibilidade interessante por estar de
acordo com essas características apesar de um zoneamento prevalentemente
residencial. É extremamente bem provido de infraestrutura e transporte público de
qualidade, como demonstra a tabela 3, sendo que a maioria dos bairros da regional
Matriz, incluindo as Mercês, possuem linhas de ônibus até 250 metros de distância da
população. Além disso, se encontra ao lado do Centro e de outros bairros adensados
como o Bigorrilho e o Batel.
equipamento para outros bairros com todos os benefícios que estes trazem, além das
limitações que que os parâmetros do Setor Histórico impõem. Ainda por cima, de
acordo com o mapa realizado pelo IPPUC em 2017 (figura 39), apesar de todas as
suas vantagens, o bairro Mercês não conta com nenhum equipamento cultural, e um
museu poderia mudar esse cenário.
1 a cada 12,50m² de área destinada ao público (3180m²), totalizando aqui então uma
necessidade de 255 vagas de carro.
4.5.1.3 Acessos
Bigorrilho e Ecoville, por exemplo) são facilmente feitos através da Rua Martins Afonso
e do norte, como Santa Felicidade e Mercês, através das inúmeras vias locais de duplo
sentido que caracterizam o zoneamento residencial que essa área possui:
FIGURA 46 – MAPA COM O SENTIDO DAS VIAS E PONTOS DE ÔNIBUS NUMA RAIO DE CERCA
DE 250 METROS
O terreno possui declive de 10 metros, sendo que a parte mais alta é a testada
e a mais baixo os fundos. A cota do nível da rua é a de +945 metros.
97
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 REFERÊNCIAS
FRANZINA, Emilio. La grande emigrazione: l'esodo dei rurali dal Veneto durante il
secolo XIX. 1ª ed. Venezia: Marsilio, 1986
GALERIA DA ARQUITETURA. Museu da Memória + Centro Matucana. Disponível
em: <https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/estudio-america_/museu-da-
memoria-centro-matucana/1169>. Acesso em: 28 abr. 2018
GUEDES, Sandra Paschoal Leite de Camargo; ISSBERNER, Gina Esther. O
Memorial de Imigração Polonesa em Curitiba: dinâmicas culturais e interesses
políticos no âmbito memoralista. Anais do Museu Paulista: História e Cultura
Material. São Paulo , v. 25, n. 1, p. 427-455, Apr. 2017.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. 2ª ed.
São Paulo. Ed. Centauro, 2013
HOFFMAN, Felipe. Museus e revitalização urbana: o Museu de Artes e Ofícios e a
Praça da Estação em Belo Horizonte. Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-
563, nov 2014
INFOPÉDIA. Grandes Fluxos Migratórios Europeus do Século XIX. Disponível
em: <https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$grandes-fluxos-migratorios-europeus-
do>. Acesso em 04 abr. 2018.
JULIÃO, Letícia. Apontamentos para a História do Museu. Caderno de Diretrizes
Museológicas. Brasília. Ministério da Cultura. Belo Horizonte: Secretaria do Estado
da Cultura. 2006
KESSEL, Zilda. Memória e Memória Coletiva. Disponível em
<http://www.museudapessoa.net/oquee/biblioteca/zilda_kessel_memoria_e_memori
a_coletiva.pdf>. Acesso em 24 abr. 2018.
KIEFER, Flávio. Arquitetura de Museus. Arqtexto, Porto Alegre, n.01, jan. 2001.
KIMBELL ART MUSEUM. Kahn Building. Disponível em:
<https://www.kimbellart.org/architecture/kahn-building> Acesso em 16 mai. 2018
MENESES, U. T. B. de (2004a). “O museu de cidade e a consciência da cidade”. In:
SANTOS, A. C. M; KESSEL, C. e GUIMARAENS, C. (orgs.). Livro do Seminário
Internacional Museus e Cidades. Rio de Janeiro, Museu Histórico Nacional.
MONTANER, Josep Maria. Nouveaux musées. Barcelona: Editora Gustavo Gili,
1990.
MONTANER, Josep Maria. Museus Para o Século XXI. Barcelona: Editora Gustavo
Gili, dez. 2008.
NEIVA, Simone; PERRONE, Rafael. A forma e o programa dos grandes museus
internacionais. Revista Pós. São Paulo, v.20, n.34, dez. 2013.
OLIVEIRA, Márcio. Imigração e diferença em um estado do sul do Brasil: o caso
do Paraná. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, Débats, mai. 2007. Disponível em
<http://journals.openedition.org/nuevomundo/5287>. Acesso em 24 abril. 2018.
102
Resposta da entrevistada:
Algumas ponderações antes para você definir seu trabalho um pouco mais e
lhe ajudar em seu projeto.
Creio que antes de tudo você precisa ter muito claro para você mesma o que
entende por "imigração" e o quer busca enfatizar na apresentação desse fenômeno.
Veja, imigração está relacionada à uma série de questões como: desejo de uma nova
vida (uma postura muitas vezes individual) e necessidade de uma nova vida (uma
questão muitas vezes grupais); problemas sociais (ex. fome, superpopulação,
antagonismos religiosos e ideológicos, impossibilidade de "emprego" na sociedade de
origem e carência de profissionais na receptora, etc.); expulsão e exílio e
consequentemente desejo ou não de permanência, etc. Muitos deles vêm
acompanhados de uma conotação negativa, de "coitadismo". Um museu é um lugar
para educação, celebração e rememoração, mas essas podem ser questões muito
pesadas e tristes num "museu de imigração". Muitas pessoas que migram não
desejam sair de onde estão, elas precisam. Muitas passam por longos períodos de
dificuldade de adaptação (ex. linguística, alimentar, comportamental, etc.) e saudade
(ex. de pessoas, de lugares e de si mesmos). Como um museu de guerra, o museu
de imigração precisa de algum modo acomodar várias dessas questões, mas pode
dar à elas conotações muito positivas, como um clarão após a tempestade. Existe
uma tendência em se ocupar antigas edificações e localidades que se vinculam aos
105
mas suas condições nem sempre permitem que ele seja apresentado. Menos é mais
na museografia contemporânea. Hoje se busca apresentar materiais de grande
impacto emocional e mnemônico, isso quer dizer objetos de importância para a
"contação" da história, mas que tenham impacto emotivo no visitante, o que
normalmente se dá por aquilo que tange o uso e a aproximação/lembrança ao corpo
do visitante (ex. um colar mais que um casaco; um banquinho desgastado mais que
uma cadeira de sala de visitas, etc.). Chilenos e portugueses tem um trabalho
admirável de museologia e museografia.
De que forma o arquiteto e o curador de um museu, ou museógrafo devem
trabalhar em conjunto? Cada um corresponde a um tempo de trabalho diferente. O
arquiteto deve trabalhar em proximidade durante o projeto do espaço do museu e
depois só ser consultado de tempos em tempos. Ele deve dar feedback também de
tempos em tempos, mas isso raramente acontece. Geralmente o arquiteto só trabalha
no projeto e como muitos não gostam de visitar o trabalho feito anos depois isso faz
com que só se integrem à equipe quando forem requeridos. É uma questão de postura
profissional, questões econômicas e ideológicas. O curador de um museu deve ser
um indivíduo de trabalho constante com o acervo e os estudos sobre esse, já o
museógrafo deve estar atento à recepção das informações pelo público e como isso
muda de tempos em tempos. Esses dois trabalham juntos.
109
FORMULÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO
Título do projeto/programa/plano: N.
Resumo:
Palavras-chave/descritores:
Observações/notas: