Hoje eu vou me acabar no samba. Se Belinda não tivesse com aquele barrigão
ela teria vindo comigo. Júlia está dando voltas com aquele traste do marido. Que
amigas essas que eu tenho, as duas têm um dedo podre para homem.
Eu, que não sou boba, não tenho compromisso com ninguém. Quando eu
encontrar o cara certo, ele vai comer na palma da minha mão. Não tenho tanto
trabalho cuidando do meu corpinho para qualquer um vir e se aproveitar dele.
Entro no barzinho que costumo vir às sextas-feiras, pois normalmente é dia de
pagode e eu adoro. Quero sair daqui com os pés doendo de tanto dançar.
— Lúcia, achei que você não vinha, mulher! — Viviane me recebe na porta.
— E você acha que eu iria perder a chance de rebolar meu pandeiro? É o
grupo do Tuco que vai tocar hoje?
— É sim! Só partido alto! — fala, rebolando os quadris.
— Então vamos requebrar porque a noite é uma criança!
Estou exausta. Já tem mais de três horas que estou sambando. Viviane, aquela
vaca, já saiu com um bofe qualquer. Aff! Não sei como elas conseguem arranjar
macho tão ligeiro. Estávamos começando a sambar e ela já saiu com um cara.
Nem dançou comigo direito, aquela traíra. Agora estou sozinha, mas nem liguei
porque me acabei no pagode mesmo assim.
Peço uma caipirinha e me escoro no balcão do bar. Preciso descansar um
pouco.
— A morena está a fim de companhia? — Ouço alguém falar atrás de mim.
O que esses caras têm? Uma mulher não pode estar bebendo sozinha? Todas
tem que, necessariamente, estar à procura de homem? Viro-me para dar o maior
fora no cara, mas não consigo porque fico presa nos olhos verdes mais lindos
que já vi. Fico totalmente muda por muito tempo. O cara é simplesmente lindo!
Loirão com corpaço. Ele é enorme!
— Então, está ou não está a fim de companhia? — ele insiste.
— Por que não? — respondo, abrindo um sorriso.
— Meu nome é James e o seu?
— Lúcia — falo, ainda abobalhada com tanta beleza.
É permitido alguém ser tão bonito? Isso deveria ser crime!
Conversamos um pouco, ali mesmo, no balcão do bar. Ele me conta que é
tenente do Corpo Militar de Bombeiros. E eu conto que sou, bem… garçonete.
Fazer o quê? Detesto mentiras e esse é o meu emprego, tenho muito orgulho
disso.
James é bem-humorado, inteligente e muito, muito sedutor. Após muita
conversa, ele me convida para ir até o seu apartamento. Penso em recusar, mas
nunca choveu assim na minha horta. Normalmente, só os idiotas e pé rapados
que me procuram. Um cara assim? Nem em um milhão de anos. Já disse que ele
é bombeiro? Pois é. Cara, quem nunca fantasiou com um bombeiro?
Vou dar para ele só para futuramente dizer aos meus netos “A vovó já teve um
bombeiro na cama dela!".
Tenho vinte e quatro anos, não sou nenhuma virgenzinha santa. Não tive
tantos caras assim na minha vida, na verdade, só tive três. Todos foram meus
namorados, nunca tive um caso só de uma noite. Mas James é tão gato e parece
saber o que faz… Ah o que é que tem? Só hoje! Só hoje vou fazer essa loucura,
pois a vida é curta! Quando um bombeiro lindo desses vai me dar esse mole
novamente?
Aceito ir para o seu apartamento.
Ele se despede de um amigo, que está agarrado em uma loira, e nós
caminhamos até seu carro. Estou um pouco nervosa… Será que foi uma boa
ideia? Agora não posso voltar atrás. Só espero que valha a pena, ou melhor, o
pinto.
— Fique à vontade! — ele diz assim que chegamos em seu apartamento e
deixa as chaves sobre uma mesinha. — Quer beber alguma coisa?
— Não, obrigada. Por hoje já bebi o suficiente! — Observo o ambiente com
atenção. Não é nada muito luxuoso, tem o básico, mas é tudo muito organizado,
provavelmente deve ser porque ele é militar.
Sento-me no sofá e ele se senta ao meu lado. Ainda estou meio sem jeito, sem
saber como agir.
— Vem mais para perto… — diz ele e eu me aproximo dele. Suas mãos
rodeiam minha cintura, levando-me para perto de seu corpo. Meu coração está
aos saltos no peito.
Calma, Lúcia, é só um cara! Vocês vão transar e só! Nunca mais vamos nos
ver. OK, mas quem disse que meu coração pensa isso? Está descompassado e só
deixa minha respiração mais pesada.
— Está nervosa? — Suas mãos agora passeiam por meus ombros desnudos.
Estou usando um tomara que caia curtinho.
— Para falar a verdade, estou. Olha, James, eu acho que não foi uma boa
ideia. Não durmo com caras que acabei de conhecer e…
De repente, ele me toma em um beijo quente. E que beijo! Rouba-me todo o
ar, o raciocínio. Paralisa até meus neurônios! Esqueci quem sou, não sei nem
meu nome.
Nós nos separamos e ambos estamos ofegantes, olhando um nos olhos do
outro.
— Você dizia…
— Esquece o que eu disse, só me beija de novo.
Ele me puxa para cima do seu corpo e me beija novamente daquele jeito que
me faz ver estrelas. Sua língua trabalha fervorosamente em minha boca,
explorando cada cantinho. As mãos ágeis deslizam pela pele nua que o vestido
não cobre. Ainda recatado, como se me pedisse permissão para avançar o sinal.
Voltamos a nos encarar. Sentada sobre ele, com uma perna de cada lado, sinto
sob mim o quanto ele está excitado.
— Mais tranquila?
— Muito pelo contrário. Tranquilidade é a última coisa que estou sentindo,
loirão.
Desta vez, sou eu quem o beijo. Suas mãos agora avançam por minhas pernas,
levantando meu vestido, parando na minha bunda.
— Eu te vi rebolar esse pandeirão por três horas. Já estava quase fazendo
como aqueles homens das cavernas e te jogando sobre os ombros para te trazer
para casa.
Seus olhos vidrados em mim me mostram que ele diz a verdade.
— E depois? O que faria comigo?
— Não faria… Eu farei. Pode apostar que você vai gostar muito. — Sinto
minha pele se arrepiar com suas palavras. Ele me toma novamente em um beijo
ardente enquanto o ajudo a tirar a camisa.
Meu Deus, o que é isso?
O cara tem o corpo saradíssimo. Não resisto e passo a língua por seu peitoral
lisinho e definido. E esses gominhos na barriga? Que perdição.
— Gosta do que vê?
— Muito.
— Pois eu também gosto muito do que vejo.
Só então percebo que meu tomara que caia realmente caiu. Meus seios estão
desnudos à sua frente e ele aproveita para segurar um em cada mão, passando os
polegares nos bicos, deixando-os túrgidos. É impossível segurar o gemido que
sai da minha garganta.
James levanta comigo, encaixando minhas pernas na sua cintura, e me leva
para o seu quarto, onde me deita na cama. Ele retira meu vestido e me deixa
somente de calcinha e salto alto.
— Linda… Gostosa! Vou me acabar nesse corpão, morena. — Termina de
tirar minhas roupas. Eu o observo nu à minha frente. O cara é bem dotado, se é
que me entendem. Essa noite, definitivamente, vou ser bem servida.
Ele desliza minha calcinha lentamente por minhas pernas, depois retira meus
sapatos e vem distribuindo uma trilha de beijos por minhas pernas, passando a
mão levemente por elas. Quando para em meu centro, James inspira. Não
acredito que vou ganhar um oral! Isso é que é sorte. O cara é lindo, safado e
ainda vai me fazer um oral!
Onde é que James esteve escondido que eu não tinha o encontrado ainda?
Ainda bem que me depilei lá no salão da Sônia ontem, então está tudo em dia
aqui embaixo.
Sinto seu hálito quente aproximando-se, até que ele começa com seus beijos,
deixando-me louca com sua língua.
— Isso é muito bom… — Sai da minha boca sem querer, antes que eu
perceba.
Sinto que ele ri, mas não para de me lamber, chupar e morder, até que
finalmente sou atingida pelo melhor orgasmo da minha vida.
— Uau! — exclamo e ele sorri.
James se ergue e vem deslizando sua boca em meu corpo até me tomar em um
beijo escaldante. Ele se inclina em direção à gaveta do criado-mudo e tira um
preservativo. Rapidamente desliza sobre seu membro e se deita sobre mim em
seguida.
Ele entra em mim, encaixando-se em meu corpo. Sai lentamente e me enche
de beijos.
Que cara gostoso! Eu não posso ser tão sortuda assim.
— Morena gostosa da porra! — diz enquanto me deixa na borda com seus
movimentos de vai e vem. Então, de repente, ele muda nossas posições e estou
sobre ele.
— Quero você rebolando essa boceta gostosa no meu pau, gostosa.
Hum… Ele é safado mesmo! Adooooro.
— Com muito prazer, loirão!
Começo a subir e descer enquanto ele segura minha bunda, ajudando-me a
fazer da maneira que ele deseja. Nossos corpos estão suados devido ao calor
intenso que faz dentro deste quarto. Suas mãos passeiam por meu ventre até
chegar em meu ponto sensível. Estou arfante com as sensações que esse homem
me provoca.
Chego novamente ao clímax e desabo exausta sobre ele.
— Ainda não acabei com você, morena. — James deita novamente sobre
mim, investindo com força, fazendo com que a cabeceira bata na parede. —
Mulher gostosa do caralho.
Dizendo isso, sinto-o gozando e em seguida cai exausto sobre meu corpo.
Meu coração está batendo acelerado e é muito gostoso sentir sua respiração
ofegante em meu pescoço.
— Uau! Você acabou comigo — digo e ele ri.
Eu tenho um pressentimento de que James me estragou para os outros
homens.
Durante a madrugada, ainda tivemos mais uma rodada de sexo selvagem e
quente até cairmos exaustos no sono. Ele dormiu à noite toda bem agarradinho a
mim. O gesto pareceu tão certo, foi tão bom. Mas eu sei que não é nada sério.
Ele, com certeza, muito em breve, nem se lembrará de mim.
Já está amanhecendo quando acordo. Tenho que me desvencilhar dos braços
de James. Vou ao banheiro e vejo refletida no espelho a imagem de uma mulher
que foi lindamente fodida. Meu corpo tem marcas que só uma noite de foda pode
deixar.
Visto minha roupa e pego meu celular. Vejo que tem um monte de chamadas
perdidas de um número que não conheço, então retorno para saber do que se
trata.
— Alô? — diz uma voz masculina.
— Aqui é Lúcia Alves, tem um monte de ligações perdidas desse número aqui
no meu celular. Desculpe, só vi agora.
— Ah sim! A senhora Belinda Pereira deu a luz e pediu que a avisássemos.
— Oh meu Deus! Onde ela está?
— Na maternidade Carmela Dutra.
— Estou indo para aí.
Desligo e volto para o quarto. Meu loirão está sentado na cama apenas com
um lençol cobrindo-o da cintura para baixo. Que gostoso!
— Bom dia, morena. — Ai que tentação de homem. Olha esse peitoral, esse
tanquinho. — Dormiu bem?
— Só as horas que você permitiu. — Coloco meus sapatos rapidamente.
— Aonde vai? Hoje é sábado, ainda temos o dia todo. Ou você trabalha?
— James, foi uma noite maravilhosa, mas tenho um compromisso inadiável
agora. Preciso ir. — Ele levanta enrolado no lençol e beija meu pescoço,
deixando meu corpo todo mole.
— Vamos nos ver novamente? — pergunta.
— Me dá seu número que eu te ligo.
— Geralmente quem faz isso sou eu. E, sendo bem sincero, nunca ligo de
volta. — Ele me arrebata em um beijo quente.
—Ah, loirão, depois dessa noite… Eu ligo com certeza.
Ele dita o telefone e anoto em meu celular. Dou mais um beijo nele e saio
correndo. Pego um ônibus e vou para casa, pois preciso pegar umas coisas antes
para levar para minha amiga.
Assim que chego à maternidade, Belinda me conta tudo.
— Amiga, a Geórgia morreu— diz, chorando.
— E agora, o que vai fazer com o pimpolho?
— Não sei. Está uma confusão. Eu dei a luz dentro do carro de um bombeiro.
Se ele não tivesse aparecido, o bebê teria nascido na rua.
Bombeiro? Que coincidência. Enquanto minha amiga era socorrida por um,
James e eu colocávamos fogo na cama.
— Você sabe o nome dele? Ele era bonito?
— Não consegui ver seu rosto.
— Amiga, o cara vê a tua vagina e você nem sabe como ele é!
Isso é bem a cara da Bel. A coitada é tão desligada que se um cara falar para
ela olhando diretamente nos seus olhos que ela é gostosa, capaz de nem
perceber.
— Eu comprei um cobertor. Sei que Geórgia era rica e tudo mais, mas vi na
vitrine e achei tão lindo.
Entrego a sacola.
— Ai, amiga, é lindo. — Pronto. A manteiga derretida já está chorando. —
Não sei o que vou fazer, pois tudo o que ele tinha está na casa de Geórgia.
— Não liga para isso. Minha irmã deu a luz e bebês perdem roupas com
facilidade, vou falar com ela. Tudo vai se ajeitar.
***
Belinda está morando na minha casa tem um mês, agora todo o dinheiro que
ela tinha acabou.
— Esse menino não tem mais ninguém além dos avós nojentos? — pergunto.
— Uma vez, Geórgia falou para mim que seu Moacir, o marido dela, tinha
outro filho. Ele é mais velho que ela, se não me engano é bombeiro. Qual é
mesmo o nome dele? Daniel! Daniel Mendonça.
— Por que não me disse isso antes? Eu sei quem pode nos ajudar. Mês
passado saí com um cara, muito gostoso por sinal, ele é tenente do Corpo de
Bombeiros. Vou tentar arrancar essa informação dele. Ainda tenho um motivo
para ligar. — Ligo e ele atende rapidamente.
— Alô?
— Oi, James! Sou eu, a Lúcia. Não sei se lembra de mim…
— Claro que lembro de você, morena. Achei que não ia mais me ligar. Então,
sentiu saudade?
— Bem, na verdade, eu preciso da sua ajuda.
— Com o quê?
— Eu preciso do endereço de um bombeiro. O nome dele é Daniel Mendonça,
por acaso você o conhece?
— Eeê! O que quer com ele? Você saiu com ele?
— O quê? Não! É para uma amiga. Ela precisa muito falar com ele, o assunto
é muito sério mesmo!
— Só se você prometer sair comigo hoje. Eu te pego e vamos lá para o meu
apartamento — fala.
— Tudo bem, mas me passa o endereço de Daniel antes.
James fala o endereço e, de quebra, ainda vou transar com esse gostoso.
Despeço-me dele após agradecer.
— Belinda! Aqui está! — Entrego o papel a ela. — Não me espere hoje
porque vou me acabar nos braços do meu loirão gostosão!
Saio do quarto sambando e mal posso esperar por essa noite.
A partir deste momento, James Figueiroa se tornou o centro do meu mundo,
meu homem e meu sol. Com seus belos olhos verdes, ele ganhou meu coração
para sempre.
Uma pena que ele se esqueceu de tudo isso.
***
Hoje, James não sabe quem sou. Não se lembra dos momentos lindos que
tivemos juntos. Dói muito olhar para os seus olhos e não me ver refletida neles.
Estamos saindo do hospital e não sei o que será da nossa vida daqui para
frente. Estou esperando uma filha dele e ele nem se lembra disso. James abriu os
olhos e não me reconheceu. Frequentemente me ignora, quase não fala comigo.
Ainda está incapacitado e precisa de mim. Não sei se vou suportar ficar tão perto
do meu loirão e não poder amá-lo como desejo. Seremos dois estranhos. Os
médicos não sabem se ele um dia vai se lembrar de mim de novo. Mas ainda
tenho esperanças.
Ele ficou em coma por dois meses, e, contra todos os prognósticos,
sobreviveu. A única sequela foi essa perda de memória.
James é o amor da minha vida e não vou desistir tão fácil dele. Nossa filha
precisa dele, assim como eu. Ainda que ele nunca lembre, eu o farei me amar
novamente porque eu o amo. Farei tudo o que for possível para voltarmos a ser
como antes.
Capítulo 1
— Lúcia, sua menina safada! Vem cá! — Minha tia, mais uma vez, grita
comigo. Com certeza vai me culpar por alguma coisa que uma das minhas
primas fez. Deixo a roupa suja no tanque e vou até a cozinha, onde ela está
segurando um cinto de couro na mão.
— A senhora me chamou, tia? — pergunto, morrendo de medo ao ver aquele
cinto. Sei o que me espera. Já endureço meu corpo e me preparo para a surra.
Tia Deise é parecida com a minha mãe, só que é bem mais gorda.
Minha mãe me abandonou aqui já tem cinco anos. Eu não entendia muito bem
na época, pois estava com apenas oito anos, mas hoje, aos treze, sei que ela era
viciada em crack. Para ela, a droga era mais importante do que suas duas filhas.
Minha tia acolheu minha irmã e eu, mas não perde nunca a chance de jogar isso
em nossa cara.
— Foi você quem comeu os biscoitos de chocolate que comprei ontem?
Já sei que não vai adiantar dizer que não, pois independente do que eu diga, a
culpa é sempre minha. Roseli, minha irmã, fez bem em ir embora daqui com o
namorado. Qualquer dia, vou fazer o mesmo.
— Não, tia. Não fui eu! — respondo em uma vã tentativa de me defender.
— Garota mentirosa! Mal agradecida! Eu te dou um teto para morar, comida e
roupas limpas! Como me agradece? Roubando! Agora vou bater em você para
que aprenda a não fazer mais isso.
Nem tenho tempo de me defender e ela já me acerta logo o cinto, primeiro em
meu bumbum e depois nas pernas. Ainda lhe sobra força para acertar minhas
costas. Dói muito, mas não dou o gostinho para ela de me ver chorando. Eu
aguento tudo caladinha. Um dia, Tia Deise vai implorar o meu perdão.
— Não derramou nenhuma lágrima! Eu sabia que tinha culpa no cartório!
Agora volte para o tanque e termine de lavar aquela roupa. Fique já sabendo que
vai ficar sem jantar, afinal deve estar cheia dos biscoitos que comeu.
Sigo quieta até o tanque e esfrego todas as roupas, pensando que um dia eu
vou embora daqui. Nunca mais quero ver a cara da minha tia, da minha mãe,
nem mesmo da minha irmã, que foi embora sem se importar comigo. Enquanto
esfrego as roupas, deixo cair algumas lágrimas. Levanto a cabeça e então vejo
minha prima Janaína rindo de mim. Com certeza foi ela quem comeu os
biscoitos.
Enxugo as lágrimas e juro que nunca mais nenhuma delas me verá assim.
Depois de deixar a roupa no varal, vou para o meu quarto, que fica ao lado da
lavanderia. É muito pequeno, só tem uma cama velha e uma cômoda caindo aos
pedaços, onde guardo minhas poucas peças de roupa. Fico aqui só para esperar a
hora que tia Deise vai vir me chamar para lavar a louça do jantar.
Uma menina de treze anos não deveria passar por isso, mas infelizmente essa
é a minha sina. Não tenho ninguém para me defender, me amar ou que esteja
disposto a cuidar de mim. Aqui, nesta casa, eu não passo de uma escrava. Lavo,
passo, cozinho e ainda apanho sem motivo algum.
De uns tempos para cá, notei meu tio Gerson olhando para mim de um jeito
estranho. Até pensei em contar para minha tia, mas sei que ela não acreditaria
em mim. Um dia, eu saía do banheiro depois de tomar banho e ele estava parado
perto da porta. Aquilo me arrepiou inteira, fiquei tão apavorada que saí correndo
para meu quarto e tranquei a porta.
Hoje, enquanto eu lavava a louça, eu vi que ele estava olhando para mim
novamente, então decidi terminar tudo logo e correr para o meu quarto. Entro e
acendo a luz, mas quando vou trancar a porta, vejo que a chave não está aqui, ela
sumiu.
Que droga! Deve ter sido alguma das minhas primas, aquelas pestes! E agora?
Minha cômoda não dá para deixar na porta porque se eu mexo do lugar, vai
despencar inteira.
Minha tia está em casa, com certeza ele não vai tentar nada.
Coloco uma camiseta velha e um short para dormir. Deito-me, mas demoro a
pegar no sono por causa dos vergões deixados pelas cintadas que levei à tarde.
Ainda estão ardendo. Mas devido à exaustão e a fome que estou sentindo, acabo
dormindo. Acordo meio grogue com alguém passando as mãos por minhas
pernas. Assustada, dou chutes para tentar sair dali.
— Shii! Fica quietinha, Lúcia. O tio Gerson não vai te fazer mal. — Ouço
aquela voz medonha falar na escuridão e sinto o hálito de álcool que ele sopra
em meu rosto.
Meu corpo inteiro gela e começo a tremer de tanto pavor. Preciso sair daqui.
— Fica quietinha, pois não queremos acordar sua tia, não é?
Ele segura minha cintura com força. Meu Deus, me ajuda…
Ouvimos um barulho e ele afrouxa o aperto do meu corpo, então eu aproveito
para chutar sua cara e sair correndo.
— Lúcia, o que faz acordada? — pergunta minha tia, mas eu não respondo,
apenas giro a chave na porta e saio para a rua. — Lúcia! Lúcia! Volte aqui,
garota! — ela grita, mas não dou ouvidos.
Não posso continuar vivendo naquela casa.
Nem sei que horas são, só continuo andando sem rumo. O que será de mim?
Uma garota de treze anos, sozinha pelas ruas. Começo a chorar, enquanto ando
morrendo de medo. Desço uma ladeira e avisto uns homens parados numa
esquina. Escondo-me atrás de um muro e abraço minhas pernas.
E agora, meu Deus? O que vai ser de mim?
Rose, por que você foi embora e não me levou? Só consigo chorar, mas tenho
que fazer isso bem baixinho, pois os homens ainda estão ali. Espero que eles
saiam e continuo a andar a procura de um lugar para dormir. Encontro um
parquinho e vejo que tem um castelinho onde as crianças brincam de escorrega.
Entro ali e pelo menos terei um “teto” sobre minha cabeça até o dia amanhecer.
***
O barulho dos carros me acorda. Ainda bem que faz sol. Começo a
perambular pela rua e sinto meu estômago doer devido à fome. Quem sabe se eu
pedir um pedaço de pão para alguém? Algumas pessoas passam apressadas pela
rua. Eu estou com tanta fome.
— Moça, me dá um trocado? Estou com fome. — A mulher bem vestida me
olha com nojo e se afasta.
Vejo um homem passando e tento mais uma vez.
— Moço, me dá um trocado? Estou com fome.
— Sai para lá, menina suja! — diz.
Como as pessoas podem ser tão más e egoístas? Não veem que sou apenas
uma menina com fome? Ele me olha como se eu tivesse alguma doença
contagiosa… Sou uma menina alta e magra, pareço ter mais que treze anos.
Talvez por isso não me ajudem.
Por três dias, vago pelo centro da cidade pedindo a um e a outro. Tive pouca
sorte. Ainda estou morrendo de fome. Continuo dormindo naquele castelinho da
praça e por sorte ainda não fui descoberta.
Hoje vou tentar alguma coisa na feira. Quem sabe se eu ajudar alguma
senhora com as sacolas eu não ganhe uns trocados? Sigo até lá, mas a feira já
está acabando, de novo não tive muita sorte. Todas as pessoas que tento ajudar
me escorraçam como se eu fosse um cão sarnento.
— O que uma garotinha linda como você faz aqui na feira, toda suja e
descabelada? — pergunta uma velhinha com um sorriso no rosto, ela tem os
cabelos brancos e olhos azuis.
— Estou tentando ajudar alguém com as sacolas para ganhar umas moedas.
Preciso comer, eu tenho muita fome — falo em uma tentativa de comover a
velha senhora com olhos meigos.
— Sabe, as minhas sacolas estão pesadas demais, eu já não tenho mais idade
para carregar tanto peso. Pode me ajudar? É claro que vou pagar muito bem por
isso.
Nem posso acreditar em suas palavras.
— Sério? A senhora quer minha ajuda?
— Ué, não é isso que está oferecendo? — indaga com um sorriso fraco no
rosto.
— Sim!
— Então, trate de pegar minhas sacolas.
Faço o que ela me pede e seguimos até seu apartamento, que fica em uma
comunidade, mas é bem aconchegante. Nós entramos e ela me pede para deixar
as sacolas na cozinha.
— Venha, minha querida, vou te servir um pedaço de bolo e um suco de
laranja. — Meu estômago ronca alto quando ela diz isso. — Pelo visto está com
fome mesmo! — Ela ri.
— Sim, muita. — A senhora me entrega o prato com uma generosa fatia de
bolo e um copo de suco. Eu me sento à mesa e começo a comer com vontade. É
um simples bolo de milho, mas para mim é o melhor bolo do mundo.
— Como se chama, minha pequena?
— Lúcia! — digo, afoita.
— Lúcia… Que nome lindo. Meu nome é Hilda. Você está sozinha pelas ruas,
posso saber o motivo? — Deixo o garfo sobre o prato e paro de comer. Não
quero falar sobre isso. — Meu anjo, não precisa ter medo. Se não quiser me
contar, eu entendo. Agora volte a comer.
Faço o que ela diz e como todo meu pedaço de bolo. A senhora ainda me
serve outra fatia.
— Obrigada, dona Hilda, estava uma delícia!
— Lúcia, minha linda, me diga uma coisa… Você está morando nas ruas? —
Eu apenas balanço a cabeça afirmativamente. — Mas não é bom que uma
mocinha tão bonita fique vagando pela rua. Sabe, eu sou sozinha. Meu filho
mora em outra cidade e meu esposo já é falecido, gostaria de ter a companhia de
alguém para conversar e assistir minhas novelas. Você gosta de novelas?
— Sim! Eu gosto de assistir as novelas da Thalia, sabe? A Maria do Bairro.
Era a que estava assistindo quando minha tia deixava.
— Por acaso eu também estou assistindo essa novela. O capítulo já vai
começar, quer ver comigo?
Ela me leva até a sala e liga a televisão. Damos muitas risadas com as brigas
da Maria e da Soraya. Nem me dou conta de que começou a chover. E agora?
Dona Hilda, percebendo que estou olhando para a janela, diz:
— Você pode ficar aqui comigo só por esta noite. Eu vou preparar uma sopa
de legumes, o que acha de me ajudar?
— Tudo bem! — Enquanto descasco as batatas, dona Hilda, muito esperta, vai
tirando tudo o que quer saber de mim e acabo contando tudo para ela. Conto
sobre as surras, sobre o marido da minha tia e choro muito. Ela prontamente me
envolve em um abraço gostoso. Parece que isso era tudo o que eu queria.
Alguém para me abraçar e dizer que tudo vai ficar bem. Essa estranha e bondosa
alma me deu a única coisa que eu desejava: carinho.
— Fique calma, minha linda, tudo vai mudar a partir de hoje. Você vai ficar
morando aqui comigo. Eu vou amar você como uma neta. — Ela seca minhas
lágrimas e sinto no fundo do meu coração que diz a verdade.
Depois de jantarmos, ela me dá uma roupa e uma toalha.
— Agora tome um banho enquanto vou arrumar sua cama.
Dias depois, ela me leva até a casa da minha tia e pede para que ela me deixe
morar com ela. Tia Deise está pouco se importando comigo, então aceita, afinal
sou uma boca a menos para comer da comida dela. Pego meus poucos trapos e
dona Hilda leva meus documentos.
Saio sem olhar para trás, pois aqui não pretendo voltar. Quando estamos quase
chegando em casa, dona Hilda pega minha sacola com minhas roupas e joga em
uma lixeira.
— Sabe por que fiz você andar até aqui com esses farrapos?
— Não…
— Para que você nunca mais esqueça o caminho que te trouxe até aqui. Para
que você se torne uma mulher digna e se lembre sempre que, um dia, Deus
mandou alguém te tirar do lodo, do fundo do poço porque sabia que você tinha
valor. Nunca deixe que te digam o contrário. Você é linda e tem um valor
inestimável. É uma pedra preciosa do senhor! E eu já amo tanto você…
Ela me abraça e juntas choramos. Não é um choro de tristeza, mas sim de
alegria porque uma vida nova começa para mim. Desta vez, sei que serei muito,
muito feliz.
Capítulo 2
Coloco meu uniforme, pois é meu primeiro dia naquela escola de riquinhos.
Eu falei para minha mãe que não queria estudar lá, mas ela insistiu nisso. Aos
quatorze anos, já fui expulso de três colégios. Como ela trabalha neste novo
como faxineira, conseguiu uma bolsa de estudos para mim.
Ela me deu mais um sermão, falando sobre eu acabar como meu pai, preso e
sozinho. Tenho pensado sobre isso e não quero ser como ele. Não quero ser um
bandido. Então, prometi a ela que vou me esforçar nesse novo colégio.
Estou no sétimo ano. Reprovei por dois anos seguidos, então os garotos da
minha turma são menores que eu. Todos têm doze anos e, como sou muito alto,
aparento ser bem mais velho.
Passo as três primeiras aulas achando tudo entediante, não presto atenção em
nada. Os garotos da turma não param de cochichar, olhando e apontando para
mim. O sinal do intervalo toca e ando pelo pátio. Encontro três garotos batendo
em outro menino. Ele é gordinho e os meninos remexem na sua mochila.
— O que será que o rolha de poço trouxe de lanche hoje? — pergunta um
menino bem maior, enquanto os outros dois seguram o garoto assustado.
— Ei! O que estão fazendo? — digo com raiva.
— Não se mete! Senão vai sobrar para você!
Com quem ele pensa que está falando? Ando a passos largos e decididos até
os três e tomo a mochila de sua mão.
— Isso aqui não é seu — falo.
— Dá o fora! — Ele me empurra e eu lhe acerto um soco no olho. Os outros
garotos partem para cima de mim e acabam apanhando também. Vendo que não
vão conseguir me vencer, eles saem correndo.
— Uau! Onde você aprendeu a brigar assim? — o garoto gordinho pergunta,
ajeitando sua roupa engomadinha.
— Eu vim de um colégio que era barra pesada — digo e dou de ombros. —
Meu nome é James, e o seu?
— Igual ao James Bond! Me chamo Daniel. — Ele estende a mão para mim e
eu retribuo seu gesto.
— Bem, Daniel, preciso ir agora. Acho que aqueles caras não vão mais mexer
com você.
— Obrigado, James.
Viro-me e volto para a sala de aula. Só então me dou conta que o garoto
gordinho é da minha turma. Ele senta na carteira à minha frente. Como eu não
percebi antes?
— Bem, alunos, hoje vamos começar com as expressões numéricas. Peguem
seus livros e abram na página quarenta e sete — diz a professora. —
Formaremos duplas para que comecem a resolver os exercícios.
Todos formam duplas e sobramos somente Daniel e eu.
— Ei, cara, quer formar dupla comigo? — pergunta e eu aceito, já que ele tem
cara de nerd. Vai me ajudar a tirar uma boa nota.
— Tudo bem.
Eu estava certo, Daniel é muito inteligente, mas não fez tudo sozinho como eu
esperava. Ao invés disso, ele me explicou a matéria e consegui entender tudo. Já
ao final da aula, entregamos o exercício com todas as respostas e, pela primeira
vez, me sinto capaz. Com certeza minha mãe se orgulhará de mim.
Saindo no portão da escola, vejo Daniel esperando-me perto de um carro
muito bonito. É claro! Como todos os garotos dali, ele é de família rica. O único
pobretão daqui sou eu.
— Ei, James! Quer uma carona? — oferece.
Por que não? Eu teria que pegar dois ônibus para chegar em casa.
— Eu aceito.
No trajeto, ele me diz que começou a fazer aulas de jiu-jitsu.
— Eu sempre quis fazer aulas de artes marciais, mas minha mãe não tem
como pagar, sabe? Ela é a faxineira da escola.
— Eu sei. Vi você e ela chegarem juntos hoje.
De carro, nós rapidamente chegamos à minha humilde casa.
— Obrigado, cara.
— Eu que agradeço por ter me livrado daqueles três, já têm dois anos que eles
ficam fazendo isso. Entrei nas aulas para poder revidar, mas faz pouco tempo.
Acho que agora eles vão me deixar em paz, pelo menos por um tempo.
Saio do carro.
— Até amanhã!
Daniel é um menino legal. Quem sabe ainda não seremos ótimos amigos?
***
Já estou na escola há dois meses e Daniel e eu acabamos tornando-nos amigos
inseparáveis. Depois daquele episódio com os garotos, fui chamado à diretoria. É
claro, ganhei uma advertência. Daniel bem que tentou me defender, até o pai
dele esteve no colégio, mas não adiantou, pois o olho roxo do garoto depunha
contra mim.
Daniel me convidou para assistir uma de suas aulas hoje e eu aceitei.
Chegando aqui, vejo um senhor usando uma farda, o homem não tira os olhos
dele. Assim que Daniel o vê, corre até ele.
— Tio Josué! Que bom que veio.
— Como não viria? Você me convidou, não foi? — diz o homem.
— Sim! Lembra daquele meu amigo que eu contei? O que me defendeu?
— Sim, claro — fala e me olha.
— Ele também veio! Esse é o James. James, esse é o capitão Josué, ele é
bombeiro. Quando eu crescer, vou ser como ele — Daniel fala sorrindo.
— Como vai James?
— Bem.
— Ele queria fazer as aulas, mas a mãe dele não pode pagar! É uma pena, pois
James leva jeito — Daniel comenta.
— Sim, é uma pena… — capitão Josué concorda.
Daniel volta para sua aula e fico ali o observando, sentado ao lado do capitão
Josué.
— Então, James, onde está o seu pai?
— Meu pai está na cadeia — falo logo de uma vez, assim ele já pode se
afastar como todos os outros. Mas, ao contrário do que penso, o homem continua
falando comigo.
— Hum, entendo. E você mora somente com sua mãe?
— Sim! Ela trabalha de faxineira na escola onde estudo.
— A aula acabou por hoje! — Ouço uma voz e vejo que Daniel começa a
guardar suas coisas na mochila.
— O que acham de sairmos para tomar um sorvete?
— Não sei, tio. Acho que minha mãe não vai gostar — Daniel diz, indeciso.
— Deixa que depois eu me entendo com Cecília — o capitão responde.
— Então tudo bem! Mas eu preferia um bolo de chocolate.
***
— Filho, o jantar está pronto — chama minha mãe. Ela está cada vez mais
magra e doente, até faltou o trabalho hoje.
— Mãe, a senhora está bem? — pergunto, sentando à mesa.
— Sim, filho, não se preocupe. É só um resfriado — diz, olhando-me com
seus belos olhos verdes que eu herdei, assim como os cabelos claros. Somos
muito parecidos e agradeço a Deus por não me parecer com meu pai. Lembro-
me dele agredindo minha mãe quando estava bêbado.
Eu o odeio por isso.
Estamos quase comendo quando alguém bate na porta.
— Quem será a essa hora? — Ela vai abrir. — Pois não?
— Olá, me chamo Josué Tavares. Vim porque conheci seu filho.
— James, por favor, não me diga que andou aprontando novamente. — Logo
deduz ao ver um homem fardado parado na porta da nossa casa.
— Senhora, por favor, sou amigo do seu filho. Não pense mal dele —
responde o capitão.
— Amigo? Desde quando um menino tem um amigo tão mais velho? O
senhor não é nenhum tarado aproveitador de meninos, não é? Vou chamar a
polícia!
Que vergonha! Por que minha mãe está fazendo isso?
— Mãe, por favor! O capitão Josué é bombeiro e é muito legal. Ele tem uma
fazenda e a mulher dele, dona Telma, também é muito boa. — Minha mãe olha
para o capitão ainda com desconfiança.
— Hum… Mas o que o senhor quer?
— Posso entrar? — Ela dá espaço para que ele entre. — Me desculpe por vir
sem avisar, mas eu gosto muito do seu filho. Ele me contou sobre o pai dele,
disse que a senhora trabalha na escola como faxineira. Sei o quanto deve ser
difícil cuidar sozinha de um filho…
— Sim, e o que o senhor quer? — Minha mãe sempre foi desconfiada, só
piorou depois que meu pai foi preso. Aí ela ficou assim.
— Eu sei o quanto James quer fazer aulas de jiu-jitsu. Quero pagar as aulas
dele — o homem fala e eu arregalo os olhos.
— Mas por que o senhor faria isso? Essas aulas de judso juidso, sei lá como se
diz esse trem, devem ser caras. O que o senhor quer em troca? Já vou lhe
avisando que meu filho não é nenhum prostituto, hein. Se o senhor pensa que vai
se aproveitar dele, está muito enganado! Antes eu te mato, entendeu?
— Mãe, para de me fazer passar vergonha! — exclamo.
— E você, James, se eu souber que você anda fazendo coisa errada, te dou
uma surra que vai fazer você esquecer até seu nome. Que historia é essa de
convidar esse homem e pedir que ele pague suas aulas, filho? Somos pobres,
mas honrados, não precisamos de esmolas. Eu trabalho duro para te dar o que
posso. Se eu não posso pagar essas aulas, então você não vai fazer. Quando
puder trabalhar, aí você mesmo paga. — Minha mãe está furiosa. — E o senhor,
sinto muito, mas não posso aceitar. Me desculpe… — Ela já vai empurrando o
capitão para a porta.
— Espere! E se eu arrumar um trabalho para que ele mesmo possa pagar as
aulas? — pergunta, deixando minha mãe pensativa.
— Como assim? — ela indaga.
— Como James já falou, eu tenho uma fazenda. Trabalho lá é o que não falta.
Ele pode ir para lá aos finais de semana e assim pagar pelas aulas.
— Não sei… O que você acha, filho? Você quer?
Ela deixa a decisão em minhas mãos.
— Eu quero muito fazer essas aulas, mãe! — digo, empolgado.
— Tudo bem! Mas eu vou com ele para conhecer essa fazenda.
— Obrigado, mãe! — Corro até ela e a abraço.
— Por nada, filho.
— Obrigado, capitão! — Eu a abraço também.
— Não me agradeça, filho. Você vai trabalhar duro para pagar as suas aulas.
***
Como o capitão Josué falou, eu realmente trabalho duro. Ajudo a cuidar dos
cavalos para pagar as minhas aulas, mas tudo vale a pena. Dani vai aos finais de
semana também para a fazenda. Ele já está bem mais magro e já consegue se
defender sozinho dos garotos que zoam ele.
Em um domingo, volto da fazenda e estou doido para mostrar ao capitão Josué
a faixa que eu troquei na aula de jiu-jitsu. Abro a porta e encontro minha mãe
caída na sala.
— Mãe! Mãe!
Ajoelho-me ao seu lado e o capitão Josué chama uma ambulância. Ela é
levada para o hospital e lá descobrimos que ela está com enfisema pulmonar. O
caso dela já não tem mais cura.
Dois dias internada e os médicos me dizem para me despedir dela. Nunca vou
esquecer o dia em que disse adeus a minha querida mãe Lucinda. Entro no
quarto e ela olha para mim. Tenta sorrir e respira com dificuldade.
— Filho… — Sua voz é quase um sussurro. — Chegue mais perto — pede.
Eu me aproximo e seguro em suas mãos, que estão geladas.
— Você está com frio? — pergunto, não sabendo o que fazer.
Eu sei que é a nossa despedida, mas não sei como fazer isso.
— Meu querido… Amor da minha vida. Meu sonho de menina não será
realizado. Infelizmente, não verei você casado, com filhos. Não o verei vestir a
farda de bombeiro. — Ela diz isso porque comentei que quero ser como o
capitão Josué. — Mas quero que saiba que tenho muito orgulho de você.
Sua respiração se torna cada vez mais pesada.
— Saiba, meu amor, que tudo, exatamente tudo valeu a pena somente por
você. Por você, James. Meu filho…
Sinto meu coração apertar. Nunca pensei que doeria tanto dizer adeus, olhar
para esses olhos lindos pela última vez, tocar seus cabelos. Minha garganta
queima com as lágrimas que insisto em segurar. Não posso chorar, pois não
quero que ela me veja chorando.
— Quero que me prometa… Que me prometa que será um homem de bem.
Um homem de palavra. Que nunca cometerá o erro de abandonar um filho, pois
um filho é o maior tesouro de um homem. Você é minha herança, minha
continuação. Seja bom e amoroso. Não se revolte. Eu vou partir, mas Deus
colocou o capitão Josué e a dona Telma em seu caminho para que não fique
sozinho. — Ela tira a máscara de oxigênio. — Eu te amo, meu amor. Eu…
Então, os olhos verdes se fecham para sempre e só agora me permito chorar,
deixando toda a dor que estava presa em minha garganta sair. Sinto meu coração
partindo-se com a perda daquela que sempre me amou acima de tudo, que esteve
ao meu lado em qualquer circunstância.
Capitão Josué entra no quarto e me encontra abraçado à minha mãe.
— Filho, vem cá… Ela não está mais aí.
Ele me abraça apertado.
— Agora eu estou sozinho…
— Você nunca estará sozinho! Telma e eu o amamos e sempre estaremos com
você. — Ele me aperta contra si e posso sentir a verdade em suas palavras. Sei
que posso contar com ele como se fosse meu pai.
— Você pode ser o meu pai? — pergunto, olhando para ele.
— Eu já sou, meu filho. Eu já sou.
***
O funeral de minha querida mãe foi pago pelo capitão Josué. Daniel está
presente e eu sei, neste momento, que poderei contar com ele para sempre, pois
somos mais que amigos, somos irmãos.
Quando descem o caixão à sepultura, eu me lembro de tudo o que ela me
pediu. Neste momento, as palavras escorrem da minha boca com um sussurro.
— Eu prometo, mãe…
Capítulo 3
Bem que eu queria que minha mãe estivesse aqui. Hoje é o dia em que me
torno tenente do Corpo Militar de Bombeiros. Que saudade que sinto da minha
querida mãe. Mas apesar de ela não estar aqui, agora tenho outra amável e
carinhosa vendo tudo e chorando muito.
Dona Telma me assumiu como filho, me amou como uma verdadeira mãe.
Hoje, aos trinta anos, sinto-me orgulhoso e agradecido a Deus por ter colocado
esses seres humanos tão maravilhosos em minha vida, meu pai Josué e minha
mãe Telma.
Há um tempo, parei de chamá-lo de pai e o chamo somente de capitão porque
passo a maior parte do tempo no quartel. Desde que entrei para a brigada, achei
melhor chamá-lo assim. Não quis que pensassem que tenho algum tipo de
regalia por ser filho do capitão. Se soubessem que ele me cobra ainda mais por
isso… Hoje, Daniel e eu estamos subindo de patente depois de quase dez anos
de esforço.
A mãe de Daniel está na Argentina e o pai casou com outra mulher, agora os
dois não se falam. Na verdade, ele também acabou assumindo o capitão Josué e
dona Telma como sua família. Pelo que sei, dona Cecília, mãe de Daniel, era
amiga de infância de Telma e o capitão Josué é primo do pai dele. São quase
irmãos. Só que os dois se afastaram também.
Depois da cerimônia, convido Daniel e alguns rapazes para comemorar em
uma casa noturna que abriu há pouco tempo e eles aceitam rapidamente.
Comemoramos em grande estilo, com muita bebida e, é claro, mulheres.
Daniel e eu temos um pacto: nós não vamos nos casar. Por que ficar com
apenas uma quando podemos ter todas? Meu amigo usou a seguinte comparação:
é como entrar em uma confeitaria e comer somente o bolo chocolate, é dose ter
que olhar para os outros sabores e ficar somente na vontade. Ele e sua mania por
doces. Às vezes, eu acho que ele ainda vai acabar sendo pego por uma
confeiteira, é até capaz de casar com uma só para comer bolo todos os dias.
***
Faz dois anos desde que nos tornamos tenentes, mas mesmo assim ainda
participamos dos resgates e salvamentos. Foi por isso que nos tornamos
bombeiros, exatamente para salvar vidas.
Agora, estamos dirigindo-nos para um resgate, é um acidente na rodovia.
Daniel chega e vai direto para o carro que capotou. O veículo está
completamente destruído.
— Temos que cortar a lataria! — grita para os soldados.
A cena é grotesca. Tem muito sangue, provavelmente os ocupantes do carro já
estão sem vida, mas ele quer conferir mesmo assim. Eu o ajudo a serrar a lataria
e nós retiramos os corpos que estão irreconhecíveis. As vítimas são um homem e
uma mulher. Ela teve o braço separado do corpo e ele teve as duas pernas
esmagadas. A cabeça do homem também foi completamente destruída. De todos
esses anos como bombeiro, creio que esse é o pior acidente que eu presencio, só
pela forma com que os corpos ficaram.
Um dos soldados encontra os documentos dos ocupantes e entrega a Daniel,
que fica em estado de choque. Meu amigo cai sentado no asfalto com as duas
mãos sobre a cabeça e se desespera. Corro até lá e pego os documentos das suas,
vendo o nome do ocupante do carro. Fico completamente estarrecido. É Moacir
Mendonça, o pai de Daniel.
— Meu Deus, James. É o corpo do meu pai que está aí. Eu não acredito nisso,
cara. Isso não pode ser verdade. Ele está morto… — Eu o abraço e meu amigo
chora muito. Compreendo-o mais do que ninguém. — Meu pai morreu e a
última coisa que eu falei para ele foi "Eu te odeio".
O carro do IML chega, leva os corpos e eu levo Daniel para casa.
— Tem certeza de que quer ficar sozinho? — pergunto a ele.
— Tenho sim. Obrigado, James.
Entro no carro e vou até a casa do meu pai. Assim que ele abre a porta, eu o
abraço forte.
— Obrigado! Obrigado por ser o melhor pai. Tudo que sou hoje é por você,
porque você me ensinou.
— James, o que deu em você, meu filho? — pergunta, olhando em meus
olhos.
— Hoje fomos atender uma ocorrência, mas essa foi muito dura. Era o pai do
Daniel. Seu Moacir morreu em um acidente terrível e meu amigo ficou arrasado.
Só soubemos quem eram as vítimas depois que retiramos os corpos.
— Mas isso é terrível! Como ele está? Onde ele está? — indaga, parecendo
muito abalado.
— Eu o deixei em casa porque ele queria ficar sozinho.
— Mas não podemos permitir! Daniel é como um filho para mim. Eu o vi
crescer. Ele nunca vai ficar sozinho. Vamos agora mesmo para a casa dele.
Chegamos à casa de Dani e ele abre a porta, completamente bêbado.
— O que fazem aqui? Eu já falei que quero ficar sozinho! — Ele nos dá as
costas e anda pela sala cambaleando e segurando uma garrafa.
— Filho… — Capitão Josué tenta se aproximar.
— Eu não sou seu filho! Meu pai morreu! — Daniel grita. — Você é o meu
capitão, só isso… Meu pai estava lá no meio de todo aquele sangue. — Ele
chora alto. — Foi horrível tirar meu próprio pai do meio daqueles ferros
retorcidos. Por que Deus fez isso comigo?
— Filho… Não se culpe. Você não sabia — fala o capitão.
— Nós brigamos. Ele queria que tudo ficasse bem entre nós, mas eu não o
perdoei. Disse que eu o odiava. Agora ele morreu… — Ele joga a garrafa contra
a parede. — Acabou tudo! Acabou a raiva, acabou o ressentimento, o ódio, a
mágoa. Mas de que adianta? Ele não está mais aqui! Meu pai se foi… — Daniel
cai de joelhos e esconde o rosto entre as mãos. Capitão Josué se ajoelha ao seu
lado e o abraça. Eu o sigo e faço o mesmo, pois no meu momento de maior dor
foi isso o que meu amigo fez por mim. Daniel me deu um forte abraço de amigo,
que era tudo o que ele tinha para mim naquele momento.
***
Passou um mês desde a morte de seu Moacir e Dani já está melhor. Pelo
menos agora ele consegue disfarçar um pouco da sua dor. Sei que o fato de o pai
ter partido sem que os dois se acertassem ainda o machuca, mas Daniel não
gosta de falar sobre isso.
— Cara, a mãe da Geórgia, a falecida esposa do meu pai, me ligou. Ela quer
que eu entregue as chaves da casa deles.
— E você vai entregar? — pergunto.
— Vou. Não quero aquela casa. Eu já tenho a minha e gosto de onde vivo.
Além do mais, o que eu faria com aquele lugar? Não tem nada meu lá. Os pais
dela que fiquem com a casa. Ainda tem o testamento que será lido em dois dias.
Estou cansado de ter que lidar com advogados e os acionistas da empresa. Eu
nunca quis isso para mim.
— Mas como único herdeiro, você terá que assumir os negócios.
— Nem pensar. Vou nomear um representante. Minha vida está boa do jeito
que está.
— Sério, não sei como você consegue viver naquela casa velha. Já tem dois
anos que você está reformando e isso nunca acaba — murmuro e ele faz uma
careta.
— James, essa é que é a graça. Faço tudo bem devagar até que ela fique como
eu quero.
Os rapazes estão jogando cartas. Hoje o dia está tranquilo.
— Já deu minha hora. Ainda tenho que entregar essas malditas chaves.
— Ei, cara, espera aí. Hoje me convidaram para ir num pagode. Quer ir? —
Ele coça a cabeça e pensa.
— Pagode, cara? Sabe que não curto muito.
— E quem disse que eu curto? Vou só por causa das mulheres.
— OK. Me passa o endereço que te encontro lá.
Ele entra na caminhonete e sai.
***
Já estou aqui esperando pelo Daniel há um tempão. O cara resolveu me dar o
cano, mas eu hoje vou aproveitar. Só tem mulher linda aqui! É como estar em
uma sorveteria. Não preciso escolher um só sabor, pois tenho um cardápio
inteiro à minha frente. Aqui tem sorvete de creme, baunilha, chocolate, morango,
enfim… Muitos sabores.
Observo enquanto elas sambam e rebolam seus pandeiros. Isso aqui é a
perdição para qualquer homem.
— Ei, cara, limpa a baba. Está escorrendo na camisa! — Daniel chega de
repente e me dá um tapa nas costas.
— Poxa, cara! Já estava desistindo de te esperar.
— Nem te conto! Eu estava indo lá para levar as chaves para a Aurora, mãe da
Geórgia que te falei, quando começou a cair um aguaceiro. No meio da estrada,
tinha uma mulher toda encharcada fazendo um sinal. Eu parei o carro e não é
que ela estava em trabalho de parto?
— Não! Deixa eu adivinhar… Você fez o parto? — Ele só balança a cabeça
afirmativamente, parecendo empolgado ao se lembrar. — Esse é o quê? O quinto
bebê que nasce por suas mãos?
— O sexto! — Daniel pede uma cerveja.
— Sério, não sei como você consegue comer uma boceta depois de ver uma
criança saindo dali — digo e bebo um gole da minha caipirinha.
— Bem, eu nunca comi nenhuma boceta que eu vi sair uma criança. E depois,
dizem que elas voltam ao normal, nem parece que saiu um bebê por ali.
Nós dois rimos e, neste momento, eu vejo entrar no bar simplesmente a
mulher mais bonita que já vi. Ela tem cabelos cacheados enormes, uma pele cor
de chocolate que tenho vontade de lamber todinha, um corpo escultural, sem
falar no sorriso mais lindo do mundo. Por hoje, já decidi qual vai ser o meu
sabor de sorvete favorito: chocolate.
— Oi, gatinho! — Uma loira chega em Daniel, que não perde a chance e se
afasta com ela.
Eu fico aqui mesmo no bar, só esperando uma oportunidade de conhecer a
deusa que acordou todos os meus sentidos. Ela está acompanhada de uma amiga,
as duas conversam e riem e eu apenas observo. A minha morena convida a
amiga para dançar. Vê-la rebolando aquele pandeiro lindo enquanto samba me
deixa ainda mais louco. O vestido que ela usa não deixa nada para imaginação,
ela com certeza veio para arrasar. Vejo os outros caras olhando para ela, babando
tanto quanto eu.
Estou quase indo até ela e jogando-a sobre os ombros. Preciso tirá-la daqui
logo, pois não quero nenhum gavião dando em cima dela. Fico de olho até que
ela finalmente vem para o bar. A beldade pede uma caipirinha e eu me aproximo,
sentindo o perfume maravilhoso que me atinge em cheio. Fico um pouco
nervoso, com receio de chegar nela.
Mas o que está acontecendo comigo? Eu nunca frouxei para mulher nenhuma!
Tomo coragem e finalmente falo com ela.
— A morena está a fim de companhia? — Ela se vira e é como se um raio
tivesse me atingido em cheio. A mulher fica só olhando para mim sem falar
nada. — Então, está ou não está a fim de companhia? — insisto.
— Por que não? — diz finalmente com um sorriso enorme e fico mais
aliviado.
— Meu nome é James e o seu? — apresento-me logo de uma vez.
Eu quero essa morena para mim.
— Lúcia. — Até o nome dela é bonito. Nós conversamos por um tempo e
digo a ela que sou tenente do Corpo de Bombeiros. Isso sempre funciona, pois as
mulheres piram em um bombeiro.
Ela me conta que é garçonete e trabalha na Lanchonete do Japonês. Faz um
bom tempo que não vou lá, mas sei da fama daquele japonês safado que está
sempre contratando mulheres bonitas para ficar se engraçando com elas. Depois
de um bom tempo conversando, eu não seguro mais o desejo e a beijo. Essa boca
carnuda é ainda melhor do que imaginei. Emaranhar meus dedos nesses cabelos
era tudo o que eu mais queria desde que a vi entrar.
— Vamos para o meu apartamento? — Faço o convite. Não vejo a hora de ter
essa mulher nuazinha em meus braços.
— Tudo bem… — Ela aceita e me sinto o cara mais sortudo do mundo, pois
vou ter comigo simplesmente a mulher mais bonita do lugar. A mulher que foi o
motivo de muitos olhares de cobiça. Muitos homens a queriam, mas ela me
escolheu. Hoje à noite, eu vou fazê-la delirar em meus braços.
Falo com o Daniel, que está agarrado com a loira. Apenas aviso que estou
saindo e levo minha morena. Antes de entrar no carro, eu a agarro e a beijo mais
uma vez, prendendo seu corpo contra o veículo. Faço questão de mostrar a ela o
quanto estou com tesão.
— Vou me acabar nesse corpo hoje, morena… — falo entre beijos.
— Só espero não me arrepender desta noite com você, loirão.
— Pode ter certeza que será inesquecível… — exclamo com a voz rouca de
desejo.
— Uau! Isso é que é autoconfiança! — Ela me enlaça pelo pescoço e me dá
um beijo quente, aumentando ainda mais a vontade que estou dela.
— Vamos logo para a minha casa!
Lúcia entra no carro e sigo com o carro o mais rápido que posso. Não sei o
porquê, mas sinto que esta noite vai mudar minha vida para sempre.
Capítulo 5
— Estou pronta! — James olha para mim e me sinto a mulher mais bonita do
mundo. Eu o amo demais, ainda mais usando essa farda. Que calor! — Amor,
vai trocar essa roupa! Não podemos sair com você vestido assim. Não vai tomar
um banho?
— Já tomei lá no quartel. Você está linda! Vem cá, minha nega.
Ele me envolve pela cintura e beija meu pescoço. Sinto meu corpo todo
arrepiando. James continua com seus beijos até tomar minha boca e pronto!
Estamos pegando fogo. Ele me prende entre a parede e seu corpo e ergue meu
vestido.
— James… James! A gente não ia naquele barzinho? — pergunto entre beijos.
— Tenho uma ideia melhor. — Ele me ergue e envolvo seu corpo com minhas
pernas. Rapidamente se senta no sofá comigo sobre ele. — Você vai gostar muito
mais.
Estou usando um vestido frente única, amarrado atrás do pescoço. James vai
até o laço e o desfaz, deixando meus seios completamente livres à sua frente. Ele
toma um em sua boca enquanto estimula o outro com a mão. O calor familiar
toma conta do meu corpo e só meu bombeiro pode apagar esse fogo. E James
sabe fazer isso muito bem, afinal é tenente do Corpo de Bombeiros e sabe usar a
mangueira como ninguém.
— Eu não aguento você esfregando essa boceta assim no meu pau, gostosa…
Ele é tão safado. Adoro quando ele fala essas safadezas em meu ouvido, eu
fico toda molhadinha.
— O que você acha de apagar esse incêndio aqui, tenente? — Esfrego-me nele
mais pouco.
— Tenente? Sabe o que faz comigo quando me chama assim? — Beijo seu
pescoço e sussurro seu ouvido:
— Sei sim, te-nen-te. Por que acha que falei?
— Se é um incêndio que está acontecendo, eu sou o cara certo para apagar. —
Desabotoo sua camisa e me esbaldo nesse corpo perfeito, abdome marcado por
gominhos e um peitoral perfeito. James não é exagerado em seus músculos, mas
é perfeito para mim, com tudo no lugar certo. Não resisto e dou uma boa
lambida. O que eu posso fazer se James é completamente lambível?
— Ah…
Sei que ele gosta das minhas carícias, então começo a passar as unhas
levemente por seu corpo.
— Você é tão bonito… — Lambo novamente. — E gostoso.
— Ah, Lúcia, eu vou foder você a noite toda.
— Não prometa nada que não possa cumprir, tenente. Acha que pode dar
conta de tudo isso? — Enfatizo o "tudo isso" ficando em pé à sua frente,
gesticulando em direção ao meu corpo e deixando meu vestido deslizar para cair
aos meus pés. — Não acha que sou muita areia para o seu caminhão?
Coloco uma mão na cintura e mordo o indicador da outra, fazendo uma cena
erótica. Ele já está desabotoando a calça e me mostra seu pau enorme que me
estragou para os outros homens.
— Será que isso é o suficiente para você? — pergunta, abrindo um sorrisinho
presunçoso.
— Não basta ser grande, meu amor. — Retiro minha calcinha, virando de
costas para ele e empinando meu bumbum. Depois fico novamente de frente e
começo a rodar a calcinha no meu indicador. — Tem que saber usar.
Jogo a calcinha sobre ele, que a segura e cheira.
— Senta aqui que eu mostro como sei usar. — Ando lentamente até ele e me
coloco sobre seu corpo com uma perna de cada lado.
— Onde está o preservativo? — pergunto.
— Merda! Eu… esqueci de comprar — fala, fazendo uma careta.
— Então não tem brincadeira hoje. — Faço menção de sair de cima dele, mas
ele me mantém ali, segurando minha cintura.
— Ah não, nega… Vai me deixar neste estado? Só hoje vai… — Começa a
beijar meu pescoço e cariciar meus seios, deixando-me fora de mim. Ele desliza
lentamente em meu corpo e é tão bom. Eu nunca tinha transado sem camisinha
antes e essa sensação de pele contra pele é maravilhosa.
— Ai, morena, você acaba comigo. Eu nunca fiz isso sem preservativo.
— Nem eu… — Ele me beija de maneira possessiva e depois me deita no
sofá, onde me ama com a paixão e loucura que o momento pede.
— Gostosa demais! — Sinto meu orgasmo chegando e o abraço, arranhando
suas costas. Eu o sinto se contrair por causa da força com a qual aperto meus
dedos em suas costas. — Goza para mim, morena… — Ao ouvir isso, meu
corpo obedece como se fosse um comando e explode em um prazer intenso.
Perco até o ar.
Não demora para que James encontre seu prazer e caía com seu corpo pesado
e suado sobre o meu.
— Uau! Isso foi demais… — exclamo, ofegante.
— Bem, pelo visto meu caminhão deu conta de toda essa areia.
— E em uma viagem só! — brinco e ele me beija. Encaro os olhos verdes
esmeralda lindos, cheios de amor por mim. Sinto-me a mais feliz das mulheres
por estar com o dono do meu coração e do meu corpo também.
— Então, sei ou não usar minha mangueira? Apaguei seu incêndio? —
pergunta todo debochado e dou uma gargalhada.
— Por enquanto sim, tenente! — Nós nos beijamos novamente.
— Eu te amo… — ele diz.
Meu coração congela por um segundo. Desde que estamos juntos, essa é a
primeira vez que James me diz isso.
— Eu nunca pensei que fosse acontecer, mas eu estou amando. Lúcia, promete
que nunca vai sair da minha vida? Fica comigo para sempre, morena?
— James, eu… — Fico sem fala. O cara que não queria casar, que vivia
dizendo que seria solteiro para sempre está falando isso para mim.
— Sei que já estamos morando juntos, mas quero mais. Quero me casar com
você. Depois que o capitão Josué falou aquelas coisas e vi Daniel pedir a
Belinda em casamento, eu fiquei pensando… Por que não eu?
— Casamento é um passo muito grande! — exclamo.
— Eu sei, mas tenho trinta e três anos e já vivi muito tempo sozinho. Eu amo
você, Lúcia. Não estou falando que vamos nos casar amanhã, porém já podemos
começar a pensar nisso.
— Sim, podemos… — murmuro, a emoção querendo me dominar. — Eu
também te amo, tenente.
Estou chorando já! Merda! A chorona é a Bel, não eu. Ele seca minhas
lágrimas e eu o beijo.
— Além do mais, eu não tenho alternativa — digo e James franze a testa. —
Você me estragou para os outros homens com esse pau enorme.
Ele gargalha e me beija.
***
Hoje vamos sair os quatro. Dani e Bel ficaram de nos encontrar na casa
noturna. Olho-me no espelho e estou linda com meu tomara que caia vermelho e
meus saltos quinze. Deixo meus cabelos soltos, pois hoje meus cachos estão
lindos e definidos. Falta só um último retoque no meu batom e pronto.
— Como estou? — Paro em frente a James e dou uma voltinha.
— Linda, como sempre! — Ele me agarra pela cintura.
— Ah, nem vem, tenente! Desta vez, nós vamos sair mesmo. Nada de ficar
transando no sofá. Apesar de ser uma delícia.
— Tem certeza? Podemos fazer as duas coisas. — Ele beija meu pescoço e já
vou derretendo-me toda. Só que resisto bravamente. Hoje a mangueira do meu
tenente só me pega quando a gente chegar em casa.
— Não! Vai estragar minha maquiagem e cabelo. Vamos, tenente. Depois que
a gente dançar muito, nós voltamos e aí sim você apaga meu fogo com essa sua
mangueira enorme.
— Então tá, se não tem outro jeito. Fazer o quê? — fala ele, ajeitando sua
ereção. — Não esquece, viu? Meu pau tem um encontro marcado com essa sua
boceta gostosa! — Ele me beija novamente e o empurro.
— Vou arrumar o meu batom.
Assim que termino, nós saímos e não demora para chegarmos à casa noturna.
Estamos aqui há meia hora e nada da Bel chegar com Daniel.
— Eles estão demorando!
Mal termino de falar e vejo Bel chegando. Como sempre, ela está linda. Há
um bom tempo eu não a via tão bonita assim.
— Até que enfim! Já estava criando raízes esperando vocês! — Bel revira os
olhos. Sei que ela me acha exagerada. Sou mesmo, mas fazer o quê? Faz parte
do meu lado leonino, além de ser exagerada, eu ainda me amo demais. Bel,
aquariana como só ela, não está nem aí para o que os outros pensam.
Pedimos nossas bebidas e hoje me permito tomar uma caipirinha. James e
Daniel bebem cerveja sem álcool. Eca. Só que eles estão dirigindo e nunca vi
dois caras para serem certinhos feito esses dois. Bel fica na sua Coca-Cola, pois
ela é fraca para bebida. A última vez que saímos juntas, ela ficou bêbada com
dois coquetéis de frutas que só tinham dois por cento de álcool.
Finalmente começa o agito quando toca uma música que adoro. Puxo minha
amiga para a pista de dança, pois se tem uma coisa que Belinda sabe fazer bem
além de bolos, isso é dançar. Também! Com esse corpo cheio de curvas.
Ela acha que não percebi que está provocando Daniel. Claro que eu estou
fazendo o mesmo com meu tenente, que não tira os olhos de mim enquanto bebe
outro gole de sua cerveja. Daniel se aproxima para dançar com Belinda e James
vem em seguida, pegando-me pela cintura e colando seu corpo ao meu. Ele nos
balança no ritmo da música.
Já tínhamos dançado antes, mas hoje tem algo diferente no ar. Sinto que
quando chegarmos em casa, vamos pôr fogo nos lençóis. Ainda bem que ele é
bombeiro, assim não corremos o risco de incendiar a casa. Mas nossos corpos…
Ah, eles com certeza vão arder.
Bel e Dani sumiram. James e eu continuamos a dançar. Umas cinco músicas
depois, eu começo a me sentir mal. Bate uma tontura e náuseas.
— James, não estou me sentindo bem! — grito para ele ouvir e saio correndo
até o banheiro. Deve ter sido a caipirinha. Sim! Só pode ter sido isso.
Têm duas peruas retocando a maquiagem em frente ao espelho. Entro logo em
um dos boxes e jogo tudo o que comi durante o dia dentro do vaso.
— Amiga, tudo bem?
Após um tempo, ouço Bel batendo na porta e saio do banheiro, mas mal
consigo ficar em pé. Escoro-me na pia e sinto tudo rodar. Minhas vistas
escurecem e o ar parece que fica impossibilitado de entrar em meus pulmões.
— Bel, pede para o James me levar para o hospital…
E a escuridão me toma.
***
Acordo em um ambulatório, com James ao meu lado.
— James? O que aconteceu? — pergunto, sentindo-me desnorteada.
— Você desmaiou, minha linda, mas já está tudo bem.
— Senhorita Alves, que bom que acordou! — A médica chega para me
examinar. — O que sentiu exatamente?
— Eu me senti tonta e tive um enjoo, acabei vomitando. Acho que desmaiei
depois, pois acordei aqui.
— Vocês têm uma vida sexual ativa? — a médica pergunta e James fica sem
jeito.
— Sim! — respondo, já que James está vermelho feito um tomate maduro e
completamente mudo.
— Toma algum tipo de contraceptivo, senhorita Alves?
Essa pergunta faz a minha ficha cair na hora.
— Não, usamos apenas preservativo — respondo.
— Sempre? — insiste a médica.
— Não usamos apenas uma vez. — Minha voz sai em um sussurro.
— Sua menstruação está regular?
— Na verdade, minha menstruação é um tanto irregular. Têm meses que nem
menstruo. Faz dois meses que isso não acontece.
— A senhorita tem todas as evidências de uma gravidez. Quero que faça um
exame de sangue para confirmar, mas se deite na maca. Vou examiná-la.
Deito-me na maca novamente e a médica me examina.
— Posso dizer com quase cem por cento de certeza que está gravida.
Olho para James, que está branco feito papel. Acho que agora quem vai
desmaiar é ele.
— James? James! Você está bem? — pergunto.
— Eu preciso sair um pouco!
Eu o vejo sair porta a fora, meio atordoado.
— Foi a emoção de saber que será pai — a médica diz, parecendo querer me
consolar.
— Já posso sair, doutora?
— Espera, vou te dar a ordem para fazer os exames. Eu sou ginecologista e
obstetra, me procure em meu consultório. Aqui está o endereço. Você deve
começar o pré-natal o quanto antes.
— Obrigada. — Saio do ambulatório com os papéis e James vem ao meu
encontro.
— Tudo bem, amor? — pergunta, todo preocupado.
— Eu vou te matar! — Estou furiosa. — Eu te disse que aquela rapidinha ia
dar nisso. Viu o que aconteceu? Você enfiou um filho em mim! — Vou para cima
dele e o encho de tapas.
— Amor, calma! Olha o bebê! — Lembro que dentro de mim está crescendo
um pimpolho e me acalmo. — E pelo que eu saiba, você que veio para cima de
mim aquele dia. Lembra?
— Você estava tão gostoso usando aquela farda… Por que você tinha que ser
tão bonito e gostoso, James? — falo com o dedo em riste e ele me puxa para
perto.
— Para com isso, sua boba, vamos ter um filho! — Ele me aperta em seus
braços e me beija calidamente.
Depois de nos parabenizar, Daniel e Belinda nos dão uma carona até a casa
noturna onde deixamos o carro. Chegamos em casa e, assim que entramos,
James me segura nos braços e rodopia comigo na sala.
— Eu vou ser pai! Obrigado, meu amor… — Ele se abaixa e beija meu
ventre, deixando o ouvido colado ali.
— O que está fazendo?
— Quero ouvi-lo! — exclama em êxtase.
— James, isso é impossível. — Ele levanta e me beija de novo.
— Um filho, Lúcia! Seu e meu. Eu te amo!
Ele me dá mais um beijo e, após ele, mais uma noite de amor nos braços do
meu tenente loirão.
***
Eu e Belinda estamos assistindo aflitas ao noticiário em que está sendo
transmitido ao vivo o combate ao incêndio em um conjunto habitacional. James
veio buscar Daniel para irem para lá.
Neste momento, os dois estão dentro do prédio em chamas. Já não tenho mais
unhas. Meu homem está lá dentro há muito tempo. Vemos Kléber descendo com
uma das meninas e outro soldado descendo com a outra. Quando estão lá
embaixo, uma explosão acontece. Meu coração fica pequeno de tão apertado
quando a fumaça se dissipa. Vejo James pendurado na escada. Está muito alto e
ele está sem o capacete.
— Se segura, amor. Se segura — falo como se ele pusesse me ouvir.
Daniel aparece na varanda e tudo acontece em um piscar de olhos. A varanda
de cima desaba e cai sobre ele e a escada. James despenca e cai todo desajeitado.
Um grito de horror sai da minha garganta e Bel também está desesperada.
— Oh, meu Deus. Oh, meu Deus. Não! — grita de joelhos em frente à
televisão.
— Isso não pode estar acontecendo! Não, não, não…
Lágrimas rolam por meu rosto enquanto Bel continua estática em frente à
televisão como se estivesse em choque. De repente, nós vemos os homens
tirando Daniel em uma maca. James já foi levado por outra ambulância. Minha
amiga finalmente reage e pega o telefone, ligando para o capitão Josué.
— Capitão, por favor, para onde os levaram? — Ela escuta a resposta e acena
com veemência. — Sim! Obrigada! — Bel corre para pegar sua bolsa e as
chaves e eu vou com ela. — Júlia, por favor, pode ficar com meu filho? Logo
dona Telma vem e você pode ir para casa.
— Claro, Bel, não se preocupe.
Vamos até o hospital com o coração na mão. Meu Deus, não posso perder meu
amor. Eu choro de desespero.
— Amiga, não posso perder meu loirão… — murmuro, atônita.
— Você não vai! Nossos homens vão ficar bem. — Ela segura em minha mão
e a aperta.
— O que vai ser de mim sem ele? Eu o amo mais que tudo no mundo.
Escondo meu rosto nas mãos e choro copiosamente. Nunca me senti assim,
sempre fui a mais forte de nós duas. Eu nunca, nunca choro.
Bel estaciona e saímos praticamente correndo para dentro do hospital. Já na
recepção, vejo os colegas de Daniel e James.
— Como ele está? — Bel vai logo perguntando.
— E James? Ele morreu? — Ninguém responde. — Digam alguma coisa! —
grito, aflita.
— Lúcia, minha filha… — diz o capitão Josué. — James está na sala de
cirurgia, pois ele teve um traumatismo craniano e a sua coluna foi prejudicada na
queda.
— Não! — Eu me desespero. — Não, não! Não…
Sento em uma cadeira e começo a chorar. Kléber tenta me acalmar. Capitão
Josué olha para Bel e se aproxima.
— Filha, o caso de Daniel não é tão grave. Ele teve algumas escoriações, mas
Daniel é experiente e não sofreu nenhum dano mais grave. O caso de James é
mais grave devido ao impacto que sofreu ao cair.
A família de Bel chega e vão logo a abraçar.
— Filha, vimos tudo na televisão e viemos o mais rápido possível.
Seus irmãos também me abraçam e seu padrasto apenas acena com a cabeça.
— Eu pensei que ia perder o Daniel, mãe! — Minha amiga chora e só consigo
observar tudo, sentindo meu coração apertado.
— Com quem ficou meu netinho?
Enquanto eles conversam, sinto tudo rodando e o capitão Josué me ampara.
Acordo não sei quanto tempo depois, em um quarto que não reconheço. Dona
Telma está aqui ao meu lado.
— O James… Ele morreu? — pergunto, porém temo que sua resposta seja
aquilo que não quero ouvir.
— Não, minha filha, ele ainda está vivo — diz e solta um suspiro sofrido.
— Eu quero vê-lo!
— Você não pode. Ele está no CTI. Vamos orar e esperar. É o que nos resta.
***
Por dois meses é só o que tenho feito todos os dias: orado e esperado.
Hoje estou aqui mais uma vez neste quarto, apenas esperando que meu amor
desperte e me tire dessa agonia.
— Amor, quando você vai voltar para mim? Por favor, acorda… Nossa filha e
eu precisamos de você! Estou com tanta saudade de ver esses olhos verdes.
Acorda, por favor.
Sinto minha filha movimentando-se dentro de mim como se ela também
pedisse pelo pai. Só que parece que tudo é em vão, pois ele não se move. Eu o
observo mais um pouco enquanto respira através dos aparelhos. O único som
que ouço é o bipe dos equipamentos que monitoram seus batimentos cardíacos.
Já começo a me preparar para sair quando o vejo ter espasmos sobre a cama.
— James? James! — Ele abre os olhos e eu saio correndo para chamar um
médico.
Depois de todos os procedimentos, eu me aproximo da sua cama e afago seus
cabelos.
— Meu amor, isso é um milagre! Você finalmente voltou para mim. — Ele me
olha estranho e retira minhas mãos dele. Não entendo. Com muito esforço para
falar, James pergunta: — Quem… é você?
Capítulo 6
Quando abro meus olhos, o primeiro rosto que vejo é o dela, da mulher que
apareceu em meus sonhos, mas não sei quem é. Seus olhos castanhos são lindos,
os lábios carnudos e a pele cor de chocolate me chamam a atenção
imediatamente. E então ela sorri… Bum! Meu coração acelera na hora. Mas
quem é ela?
— Quem é você? — Assim que pergunto, seu sorriso lindo morre e vejo
lágrimas em seus olhos.
Por quê? Por que tem tanta tristeza nesses belos olhos?
O que aconteceu comigo? Deve ter sido algum acidente, já que sou bombeiro.
Daniel, meu melhor amigo, deveria estar comigo, pois sempre atendemos as
ocorrências juntos.
— O que aconteceu? — pergunto, mas antes que a bela morena me responda,
meu pai Josué entra no quarto.
— Meu filho… Você acordou!
— O que aconteceu? — insisto e começo a ficar nervoso com a presença da
mulher.
— Você sofreu uma queda da escada a uma altura muito grande. No impacto,
bateu a cabeça e teve traumatismo craniano. — Ouço-a falar com sua voz macia
e sedosa.
Meu pai chama o médico e a bela mulher fica ali comigo, esperando que ele
chegue, sem tirar os olhos de mim. O doutor me examina e faz algumas
perguntas. Respondo a todas, mas não consigo tirar os olhos da bela mulher que
vi logo que abri os olhos.
***
Hoje eu finalmente saio deste hospital. Já estou cansado de olhar para essas
paredes brancas. Nas últimas duas semanas, a mulher que perturbou meu juízo
tem vindo muito aqui, mas não se aproxima muito. Descobri que seu nome é
Lúcia e que é amiga da mulher de Daniel. Mulher de Daniel… Isso sim é
novidade! Meu amigão de festas e baladas está praticamente casado e será pai
pela segunda vez, já que cria seu irmão como filho.
As coisas mudaram mesmo! Belinda é o nome da mulher dele, ela veio aqui e
é uma mulher muito bonita. Já dá para notar sua barriga. Meu amigo está muito
feliz, pois serão duas meninas. Quem diria que eu estaria vivo para ver Daniel
Mendonça casado e pai de família.
— Temos uma coisa para te contar — fala Daniel, todo sério. — Lúcia, vem
aqui. — Ela se aproxima, ainda relutante
Lúcia usa um vestido floral, coberto por um cardigã. Seus belos cabelos
cacheados estão soltos, dando a ela um ar de mulher poderosa. Não sei o que ela
tem, mas me sinto extremamente atraído por seus olhos. É como um imã que nos
puxa um para o outro.
— James, nesse tempo muitas coisas mudaram… Eu não fui o único a
encontrar uma mulher para amar. Você também encontrou. Lúcia é sua mulher.
No dia do nosso acidente, você tinha planejado um jantar para pedir a mão dela
em casamento. — Essa notícia me atinge em cheio como um raio. Olho para ela,
que tem seu rosto molhado pelas lágrimas. Isso é surreal. — E ela espera uma
filha sua… — Olho para sua barriga e então entendo os vestidos largos que ela
sempre usa.
— Uma filha? Mas isso… — Não consigo falar nada, só tenho pensamentos
desconexos. Tento absorver tudo, mas uma confusão se forma na minha cabeça.
Eu ia pedi-la em casamento. Não só isso, eu também serei pai.
— James, querido, sei que é muita coisa para assimilar, mas conversamos com
o médico. Esperamos por duas semanas para ver se você se lembrava de mim,
meu amor. Mas isso não aconteceu, então ele nos aconselhou a te falar a
verdade. — Ela segura minha mão e trato logo de me soltar de seu aperto.
— Eu ia me casar por que você está grávida?
Essa é a única explicação plausível.
— Não… Você dizia que me amava, esse era o motivo. — Não sei o que dizer.
Ela olha para mim com lágrimas rolando por seu belo rosto. — Não posso ficar
aqui. Me desculpe…
A bela mulher sai correndo do quarto.
— Daniel, isso é tão estranho — digo, soltando um suspiro. — Como posso
não me lembrar dela? Se eu a amava tanto, por que não lembro?
— Na verdade, você se esqueceu do que aconteceu no último ano. Somos
tenentes. Você também não se lembra disso? — pergunta, franzindo a testa.
— Sim, eu me lembro de sairmos para atender uma ocorrência. Era um
acidente… — Forço minha mente para me lembrar das coisas. — Seu pai…
Cara, ele morreu.
— Isso tem quase um ano. James, é a última coisa que lembra?
— Sim. Quando eu a conheci? Cara, isso é estranho, eu nunca vou me casar.
Aliás, nós dois nunca iríamos casar, não se lembra disso? — falo e ele me olha
estranho.
— Muita coisa mudou nesse ano, James. Eu me apaixonei e vou me casar em
breve. Minha mulher está gravida e você também ia pedir a Lúcia em casamento.
— Ele me entrega uma caixinha. — Você me pediu para que eu guardasse isso.
Abro e noto que dentro tem um anel de noivado com uma única pedra azul.
— Eu comprei isso? — indago, confuso.
— Sim, e eu ajudei a escolher.
Sinto algo estranho, mas não sei o que é. É como se eu tivesse caído em uma
armadilha. Agora essa estranha carrega um filho meu em seu ventre. Sinto-me
como a Alice caindo na toca do coelho.
— Eu quero ficar sozinho — digo.
— Tudo bem. Só não magoe a Lúcia, cara. Ela não merece e você pode se
lembrar dela a qualquer momento.
Daniel sai do quarto e fico ali pensando nas coisas impossíveis que ele me
contou.
— O que vou fazer agora? — pergunto baixinho para mim mesmo.
O bebê é meu, pois Daniel não mentiria para mim.
***
Já estou liberado e, finalmente, voltando para minha casa. Daniel vem me
ajudar, pois ainda não posso ficar em pé por muito tempo. Saio em uma cadeira
de rodas com Lúcia acompanhando-nos.
Ainda não digeri essa história de casamento. Sei que moramos juntos em meu
apartamento, só ainda não entendi o motivo. Lúcia é sempre prestativa, mas
prefiro manter distância até que eu assimile o que está acontecendo.
A mulher tem um cheiro tão bom, seus cabelos macios me convidam a tocá-
los o tempo todo quando ela se mexe. E essa bunda? É linda! Em pensar que já
usufrui desse corpão e não me lembro. Mesmo com a barriga de grávida ela é
atraente. Pelo menos eu me sinto atraído por ela. Isso é bom, já que dizem que é
minha mulher.
Lúcia me ajuda a sair da cadeira de rodas para sentar no carro e sinto bem de
perto o perfume de seus cabelos, infelizmente isso me deixa ligado. Ela roça os
seios lindos em mim enquanto me ajuda e só fico ainda mais duro. Espero que
não tenha percebido, pois não quero que saiba o quanto me afeta. Pelo menos
não enquanto não sei quem ela é.
Chegamos em casa e Daniel me ajuda a entrar.
— Mas que porra aconteceu com o meu apartamento? — pergunto, furioso ao
ver minha casa totalmente diferente.
— Você quem quis trocar os móveis, amor — fala Lúcia, tentando me
explicar.
— Eu jamais faria isso! Gostava do meu apartamento simples e funcional.
Não consigo esconder o meu desgosto.
— Calma, cara! Está nervoso à toa, são apenas alguns móveis — Daniel diz,
querendo me acalmar.
— Alguns móveis, Daniel? Está completamente diferente, merda! — Lúcia
me olha assustada com as mãos na boca, tentando conter o choro. Mas as
lágrimas a traem e escorrem pelo seu rosto. Olho ao redor e não tem nada que
lembre minha casa. Achava que voltando para cá eu me sentiria melhor, mas
tudo fica ainda mais confuso.
— Quero ir para o meu quarto.
Daniel me ajuda e me deito na cama, que é claro não é mais a minha. Assim
como o armário, a cômoda… Cômoda? Eu nem tinha isso! Agora tem cortinas
diferentes, tapetes e toalhinhas de crochê por todos os lados.
— Bem, agora tenho que ir para casa porque minha família me espera.
— Manda um beijo para a Bel. Obrigada, Dani.
Lúcia beija Daniel no rosto e o acompanha até a porta. Aproveito que ela saiu
para tentar ficar em pé sozinho. Sinto muita dor na coluna e tenho que me sentar
novamente.
— Amor, você não deve se esforçar ainda! — Ela me auxilia a deitar
novamente na cama.
— Isso é tão estranho… Saber que você é minha mulher e que carrega um
filho meu em seu ventre — digo, confuso.
— É uma menina. Já tínhamos até escolhido o nome dela. — Lúcia passa a
mão sobre o ventre e sorri.
— Qual foi? — pergunto.
— Jamile…
— É um nome bonito — digo sem emoção nenhuma.
— É para combinar com o seu.
— Para quando é? — indago, apontando para a barriga dela.
— Pouco mais de dois meses.
Um silêncio constrangedor toma conta do quarto. Eu não sei o que dizer. Na
verdade, não tenho nada para dizer. Lúcia fica olhando para mim como se
esperasse um gesto de carinho meu, mas não sei como agir. Para mim as
mulheres sempre foram uma transa e nada mais. Ainda não entendo como acabei
nessa situação.
E se ela me deu o golpe da barriga? Daniel e eu sempre conversamos sobre
isso, que se algum dia uma mulher engravidasse de nós, seríamos os melhores
pais. Os pais que nunca tivemos. Nossos filhos sempre estariam em primeiro
lugar. Deve ter sido isso! Mas como caí nessa? Sempre usei preservativo. Pode
ter se rompido…
Minha cabeça ferve e começo a sentir um pouco de dor.
— Pode me fazer o favor de me entregar os analgésicos que foram receitados
a mim? — peço, fazendo uma careta.
— Está com dor? Onde? — Lúcia parece preocupada.
— Pode, por favor, só trazer os remédios?
Vejo mágoa em seu rosto pela maneira estúpida com que falo com ela, mas é
mais forte que eu.
— É claro… — Sai do quarto e me sinto aliviado. A presença dela deixa o ar
tenso e eu me sinto na obrigação de tratá-la bem, de lhe dar atenção. Esse não
sou eu. — Estão aqui.
Lúcia os deixa sobre o criado-mudo com um copo de água e sai, mas antes
para na porta e diz:
— Vou preparar o jantar. Se precisar de algo é só me chamar.
Tomo os analgésicos e me ajeito na cama, pensando no redemoinho de
emoções que estou sentindo. Na bagunça que se tornou minha vida.
— James, querido… — Acordo com Lúcia chamando-me.
— Hã? — respondo meio grogue.
— O jantar está pronto. Quer comer aqui?
— Sim, por favor.
— OK. Volto em um minuto.
Ela sai e não consigo deixar de me sentir assim, estranhamente vazio. Um ano
inteiro foi apagado da minha mente. Um ano que parece ter sido muito
importante. Lúcia entra segurando uma bandeja e ostentando o sorriso mais
bonito do mundo.
— Espero que goste!
Na verdade, não estou com fome, mas começo a comer para não fazer mais
uma desfeita. Está tudo muito bom. Ela fica observando-me e isso me deixa
nervoso. Então, meu olhar vai para o ventre dela, onde consigo ver o bebê
mexendo. Coloca a mão sobre a barriga e esfrega delicadamente.
— Posso? — pergunto, levando minha mão próximo a ela, que parece
surpresa.
Lúcia se aproxima e toco seu ventre, sentindo minha filha se mexer ali. Um
sentimento diferente de tudo o que já senti toma conta de mim. É um misto de
felicidade e medo. Como se essa criança se tornasse a minha prioridade, o meu
mundo.
— Minha filha… — digo orgulhoso e ao mesmo surpreso por me sentir assim.
É um pedacinho meu crescendo ali.
É por ela que eu vou continuar nesse relacionamento, por minha filha. Serei o
melhor pai do mundo, um pai que nunca tive.
— Lúcia, quero falar com você sobre um assunto sério.
— Sim, meu amor, pode falar — diz, sorridente.
— Isso não é fácil para mim, mas você está esperando um filho meu. Ela é
minha responsabilidade. — Lúcia se afasta de mim. — Eu não me lembro de
você, não me lembro de ter te beijado, abraçado ou de termos feito amor, mas
acredito que essa criança seja minha. Olhe para minha casa… Tudo está
diferente e só se eu estivesse muito apaixonado que permitiria essas mudanças.
Só que… isso não significa nada para mim agora.
— Você vai lembrar… — ela sussurra.
— E se isso nunca acontecer? Não podemos viver esperando por isso.
— O que quer dizer? Quer que eu vá embora? — Seus olhos estão cheios de
lágrimas.
— Não! Eu jamais pediria isso. Não com minha filha crescendo dentro de
você.
— Isso é o que sou agora para você? A mulher que carrega sua filha?
— Lúcia, me desculpe, mas não sinto nada por você agora. Sei que estou
sendo duro, mas quero ser sincero. Porém, uma criança inocente, que não tem
culpa de nada, está quase nascendo. Tenho uma proposta a te fazer. — Seus
olhos estão fixos em mim. — Vamos continuar morando juntos, mas cada um
terá o seu quarto. Você até pode ficar com este aqui, se quiser.
— Eu não quero viver assim, James. Eu te amo. Como viver na mesma casa
sem me magoar? Prefiro ir embora.
— Não, pense na nossa filha. Eu quero acompanhar o crescimento dela. Não
quero perder nada — murmuro.
— Eu não vou impedir você de ver a nossa filha.
— Não seria a mesma coisa. Eu sei o que é viver com um pai que apenas
visita a cada quinze dias, não quero isso para ela. Por favor, vamos pensar na
nossa filha. Sei que não será nada fácil, não será para mim também, mas
podemos fazer isso por ela.
— Não sei… — diz, indecisa.
— Pelo menos pense na minha proposta.
Lúcia pega a bandeja e sai do quarto, fechando a porta e deixando-me aflito
com sua indecisão. Não vou permitir que minha filha cresça longe de mim. Sei o
quanto isso pode prejudicar uma criança, pois até os meus oito anos foi assim
que vi meu pai. E eu me sentia muito triste com isso. Quero que seja diferente
para minha filha.
Capítulo 7
— Como andam as coisas, amiga? Já tem quase dois meses que James saiu do
hospital. Você anda tão calada. Ele tem te maltratado? — Belinda vem até a
estufa, onde estou trabalhando com as flores para mais um casamento.
— Antes ele me tratasse mal, Bel. James é completamente indiferente à minha
presença. Agora que voltou a trabalhar, eu quase não o vejo em casa. Está tão
difícil. Dói demais ver que ele não sente nada por mim. — Meu coração se
aperta e Bel me abraça.
— Ai, amiga, vocês estavam tão felizes.
— Eu já perdi a esperança de que ele se lembre de mim. Estou procurando um
lugar para mim. Já que Júlia e seu irmão estão morando no meu apartamento,
decidi vendê-lo para eles — digo, desanimada.
— Tem certeza? James fala o tempo todo para Daniel que não vê a hora de sua
filha nascer. Ele montou aquele quarto lindo e…
— Bel, ele só liga para ela. Não está nem aí para mim. Mas eu também estou
aqui. Às vezes, eu me sinto uma barriga de aluguel. Desculpa, eu não quis… —
Sinto-me envergonhada por tocar nesse assunto, já que prometemos nunca mais
falar sobre isso.
— Tudo bem, eu entendi. — Daniel aparece na porta da estufa.
— Amor, as meninas acordaram. Está na hora de elas mamarem.
— Estou indo, amor.
As meninas de Bel e Dani já estão com um mês, o parto dela foi complicado.
Minha amiga foi sequestrada pelo Vito, um bandido barra pesada, e entrou em
trabalho de parto. Ainda bem que a mãe dela, que é enfermeira, e Dani estavam
lá. Eles realizaram o parto. Ela me contou a confusão que foi. Hoje rimos de
tudo, mas quando o fato aconteceu, ficamos apavorados. No fim, tudo deu certo
e as meninas acabaram nascendo pelas mãos de Daniel, igual Thiago. Daniel
vive gabando-se disso.
— Daqui a pouco eu volto, amiga.
Ela sai e continuo preparando os arranjos. Já estou quase acabando quando
sinto uma dor muito forte nas costas, irradiando até meu ventre.
— Ai meu Deus, chegou a hora! — Sento-me e a dor passa, mas minutos
depois ela volta.
— Lúcia? O que foi? — Júlia entra na estufa.
— Acho que está na hora, a Jamile vai nascer. Ai… — Tenho outra contração.
— James acabou de chegar! Vou avisar a ele!
Poucos minutos depois, a estufa está lotada de pessoas.
— Está na hora? Vamos logo para a maternidade! — Ele me ergue nos braços
rapidamente. Nossa… Fazia tempo que eu não o sentia tão perto. Merda! Outra
contração.
— Precisamos passar em casa e pegar minha mala — falo entredentes.
— Nós vamos até lá, fica calma! — Júlia fala e Felipe rapidamente está ao seu
lado.
— Obrigada… Aii! — Outra contração.
James me leva até o carro e sai dirigindo que nem um louco.
— Ei, quero chegar viva no hospital! — protesto.
— Desculpe, eu estou nervoso.
— Nervoso? Não é você que vai sentir um melão saindo do lugar que mal
cabe um limão! — Ele ri e por um momento me permito matar a saudade que eu
senti do seu sorriso. — Ai! A bolsa estourou. James, sujei todo seu carro.
— Isso não importa agora.
— Ai meu Deus, que dor horrível! — grito de desespero.
— Você tem respirar — ele orienta, parecendo mesmo nervoso.
— James, estou respirando!
— Não, respira assim… — Ele faz a respiração que a obstetra ensinou e eu o
imito. — Isso, respira assim.
— Isso. não. está. adiantando! Aii! Pelo amor de Deus, vamos logo! Não
aguento mais essas dores — reclamo.
— Estamos chegando — diz e estica o pescoço, olhando mais a frente. —
Merda!
— O que foi?
— Não sei, o trânsito está parado. Acho que aconteceu um acidente. — Ele
olha para trás e depois dá ré. — Vamos por outro caminho.
Demoramos um pouco mais que do que deveríamos, mas chegamos.
— Minha mulher entrou em trabalho de parto, as contrações estão
acontecendo a cada dois minutos! — James vai logo falando, mas quando ele
conseguiu monitorar minhas contrações? Ah, esqueci que ele é bombeiro.
“Minha mulher”. Quem dera isso fosse verdade. Droga! Outra contração.
— É seu primeiro filho? — a enfermeira pergunta.
— Sim — respondo, fazendo uma careta.
— Os primeiros filhos tendem a demorar mais para nascer — a mulher diz.
— A bolsa estourou há vinte minutos e acabei de constatar que as contrações
estão diminuindo o tempo entre uma e outra.
— Fique calmo, tenente, vamos cuidar bem da sua mulher. Assim que ela
estiver pronta, nós o chamamos para que assista o parto. — Elas me levam em
uma cadeira de rodas e me preparam para o parto. Essa dor é insuportável. Agora
entendo a Bel quando ela falou que achou que iria morrer.
— Moça, não tem um remedinho aí que faça essa dor passar? Por favor, eu
não estou aguentando.
— Fique calma, querida, a médica já vai ver quanto está a dilatação do seu
colo do útero. Pela minha experiência, daqui a pouco seu filhinho estará em seus
braços.
Ela sai e me deixa aqui, sentindo toda essa dor. Em seguida, vejo James vindo,
usando um avental e uma touca. Aproxima-me de mim e fica parado ao meu
lado, parecendo meio sem jeito enquanto olha para mim. Rapidamente a médica
chega.
— Olá, Lúcia! Ansiosa? — Ela é sempre muito gentil. — Tenente? Está
preparado para segurar sua filha pela primeira vez? — James apenas meneia a
cabeça. — Deixa eu te examinar… — A médica faz o procedimento, verifica os
batimentos da nossa filha e depois faz o exame de toque. — Está na hora.
— Finalmente! — exaspero.
— Vamos para a sala de parto.
***
— Quero que force bastante quando a contração vier, OK?
Já estou há mais de meia hora aqui e nada de a minha filha nascer. Eu já não
tenho forças, estou exausta.
— Não dá mais, eu não consigo! — grito, ofegante.
Neste momento, James segura minha mão com força.
— Você vai conseguir sim. Nossa menina precisa de você! Vamos, Lúcia, faça
um último esforço. Ela já está quase saindo. — Olhar esses olhos verdes que
amo me dá forças para empurrar mais uma vez assim que a contração vem. Junto
todas as forças que me restam e empurro.
Segundos depois, ouço o chorinho fino que preenche a sala. É inevitável a
emoção que sinto. Choro de alívio porque tudo finalmente acabou. Choro porque
James está segurando minhas mãos, mas principalmente porque minha filha está
aqui, tão linda e saudável. Agora sou mãe!
A médica a traz para mim e sinto sua pele macia sob o toque dos meus dedos.
É mágico… Seus dedinhos são minúsculos, o cabelinho parece mais claro do
que eu imaginei, a pele também é mais clara que a minha. Pelo jeito nossa
Jamile se parece mais com James do que comigo.
Olho para ele, que está com lágrimas nos olhos. Entrego nossa filha a ele.
— Ei, filha! Que linda você é, minha princesa… — Choro ainda mais com
essa cena.
— Tenente, precisamos examiná-la. A Lúcia precisa ir para a sala de
recuperação. Em breve, o senhor estará com elas novamente. — Ele entrega
nossa filha à enfermeira e sai da sala.
Só isso. Nenhum beijo de amor, nenhum gesto de carinho. James voltou ao
modo automático.
***
Meu quarto está repleto de pessoas. Amigos, minha irmã, que quase nunca me
vê, veio conhecer a sobrinha. Belinda e Daniel ficaram pouco tempo por causa
das gêmeas. É claro que eu entendo minha amiga, o importante é que ela veio,
mesmo que por pouco tempo. Ainda tem Kléber, sua irmã Larissa, Felipe, Júlia e
Fábio. E claro, capitão Josué e dona Telma, que não poderiam faltar.
A enfermeira entra, trazendo em seus braços minha princesinha enrolada em
um cobertor cor de rosa. James trata logo de pegá-la.
— Oun, James, que linda! — Júlia diz. — Ela parece com você.
— Eu só vejo um bebê todo enrugado. Onde vocês veem semelhança? —
Felipe, irmão de Belinda, diz.
— Ah, Felipe, você não entende dessas coisas — Júlia briga.
— Pessoal, o horário de visitas acabou. A mamãe precisa descansar — avisa a
enfermeira. Todos vão embora, deixando meu quarto lotado de flores. — Ela
precisa mamar… — A enfermeira me ajuda a amamentar pela primeira vez e
sinto meu peito aquecido ao saber que tudo o que minha filha precisa está aqui
comigo.
James fica observando de longe e a enfermeira nos deixa a sós. Chegou a hora
de falar a James a minha decisão. Daqui eu vou para o apartamento que aluguei.
Não sei como ele vai reagir, mas isso será o melhor.
Após nossa filha mamar, eu a coloco no berço que tem ali no quarto e me
ajeito na cama, respirando fundo.
— James, preciso te dizer algo — digo, criando coragem.
— O que é?
— Eu tomei uma decisão. Quando eu sair daqui, não vou voltar para sua casa
— falo com firmeza.
— O quê? Mas por quê?
— Eu aluguei um apartamento. É para lá que minha filha e eu vamos. Não
posso continuar a viver com você da maneira que estamos. — Ele anda de um
lado para o outro. — Eu sofro muito quando você me ignora. Sinto que sou um
fardo em sua vida.
— Você não é um fardo, é a mãe da minha filha…
— Mas eu não quero ser só isso. Quero ser sua mulher no sentido literal da
palavra. Não posso mais viver assim. — Começo a ter dificuldade para falar
porque um nó se forma em minha garganta.
— Não faz isso… Não me afasta dela! Por favor! Com certeza eu devo ter te
contado como foi minha infância, não quero que minha filha passe por isso.
Podemos tentar por ela. Olha, eu sei que não me lembro do nosso
relacionamento, mas eu prometo que não vou sair com outras mulheres. Eu vou
respeitar você, só não me afasta dela. Vou ser o melhor pai do mundo. Podemos
ser amigos, cuidar dela juntos. Por favor… Eu montei aquele quarto com todo o
carinho. Não faça nada por impulso. Nossa filha precisa de você e de mim. De
nós dois juntos…
James segura minha mão e seu olhar é suplicante. Eu o amo tanto. Acho que a
sua amizade é melhor que nada. Quem sabe ele se lembre de mim um dia.
— Tudo bem — concordo.
— Obrigado! — Ele me beija levemente nos lábios, mas fica sem jeito. —
Desculpe, eu…
— James, não se desculpe. Isso não me deixa magoada — digo. — Foi só um
beijo.
***
James e eu conseguimos conciliar nossa vida e colocamos Jamile como nossa
prioridade. Deixamos nossos sentimentos de lado, no caso dele, a falta de
sentimentos, para nos dedicar inteiramente a ela.
Durante os primeiros dias após o nascimento de Jamile, James estava sempre
por perto, queria participar de tudo, das trocas de fraldas, dos banhos. Ficava
assistindo enquanto eu a amamentava. Porém, toda a sua preocupação e carinho
eram somente por nossa filha.
Eu agradeço todos os dias por ele ser esse pai maravilhoso e atencioso, mas
sinto falta do meu homem abraçando-me e beijando-me.
Quando não está no trabalho, ele está em casa cuidando da nossa filha. Eu
voltei a trabalhar com Belinda e levo nossa filha quando James está no trabalho,
afinal ela ainda mama.
Belinda montou um berçário aqui no nosso trabalho para que pudéssemos
ficar tranquilas durante o trabalho, já que as mulheres que trabalham aqui têm
filhos. Com exceção de Roberta, a garota que foi resgatada por Felipe naquele
dia na Columbia, a mesma que arrancou o pênis do Vito com uma mordida. Ela
está estudando fotografia e é a responsável pelos álbuns de casamento.
Eu percebi que certo bombeiro anda tempo demais por aqui, sei que o motivo
é ela.
— Kléber, você não tem mais o que fazer não? Deixa a Roberta trabalhar,
cara! — Daniel diz, levando-o para a casa. Ela fica vermelha e todas rimos dela.
Júlia e Felipe decidiram se casar em breve e nós já estamos cuidando dos
preparativos. Os próximos talvez sejam Fábio e Larissa, mas o irmão mais novo
de Belinda ainda está relutante quanto a isso. A irmã de Kléber também, afinal
ela tem um filho pequeno e só pensa em cuidar dele. Só que qualquer um pode
ver que os dois se amam, apenas de não se darem conta ainda.
Todos parecem estar ajeitando-se no quesito relacionamento. Exceto eu.
Minha vida continua naquela mesma solidão de algum tempo atrás.
Jamile completou um aninho e James decidiu dar uma festa. Ele é um pai
maravilhoso, dedicado, atencioso e muito amoroso. Quanto a mim, James
continua indiferente. Trata-me com educação e é só.
Se antes eu não saí de sua casa, agora é quase impossível, pois a nossa filha é
super apegada a ele. Várias vezes eu chego do trabalho e os encontro dormindo
juntos. James faz questão de ficar com ela quando não está no trabalho. Hoje é
um desses dias.
Chego em casa já são nove da noite. Estou exausta e, como sempre, a primeira
coisa que faço é ir até o quarto da minha filha. Não a encontro lá e já posso
imaginar onde está. A porta do James está entreaberta e ando até lá, encontrando
os dois dormindo.
Meus dois amores… Pena que apenas um deles me ama de volta.
Estamos há um ano nessa situação. Eu estou com meu coração em frangalhos.
Deixei de pensar em mim e penso somente na minha filha. Ela é tudo o que
importa e a convivência com o pai não tem preço. Eu farei qualquer coisa para
que minha Jamile seja feliz. Até mesmo sufocar esse amor tão grande dentro do
meu peito.
Capítulo 8
— Amiga, você não acha que essa sua situação com James já deu o que tinha
que dar? — Bel me puxa até uma cadeira depois de me pegar chorando pela
milésima vez. — Não aguento mais te ver sofrer assim! Você sempre foi tão
forte e tão alegre. Isso não está te fazendo bem.
— Acha que não sei? Sinto meu coração despedaçar todos os dias quando
vejo James me olhar com indiferença. Isso dói demais! — Minha amiga me
abraça e choro tudo aquilo que não me permiti chorar em casa. — Acho que
chegou a hora de acabar tudo logo de uma vez. James nunca vai lembrar e essa
situação só está me machucando.
— Amiga, faça uma última tentativa. Por que não usa suas armas?
— Do que você está falando?
— Lúcia, olhe para você! Sabe o quanto é bonita! Depois que a Jamile nasceu
esse bumbum ficou enorme, acha que ele iria resistir? — fala, abrindo um
sorriso de incentivo.
— O que está propondo? Que eu me humilhe e me jogue para cima dele? —
Levanto e volto a trabalhar com as rosas.
— Lúcia, isso não é humilhação! Se chama sedução — fala.
— Sei… Continue… — Decido ouvir o absurdo de Bel até o final.
— Hoje ele está de folga, não é? Quando você chegar, a Jamile já estará
dormindo. Você toma um banho e coloca uma camisola bem provocante, sem
calcinha.
— Bel! — brigo.
— O quê? É isso o que eu faço quando Dani fica zangado com algo que faço.
Vai por mim, eles não resistem.
— OK. E depois de andar seminua pela casa, o que eu faço? — Fico ali
ouvindo só para ver até onde essa ideia mirabolante de Belinda vai dar.
— Como quem não quer nada, você senta ao lado dele no sofá. Hoje é dia de
jogo e com certeza James vai assistir. Aí você pega um frasco de hidratante e
começa a passar lentamente, ali mesmo, perto dele. O resto deixa que ele faz…
— Não sei, Bel. E se eu fizer papel de ridícula? — pergunto, duvidosa.
— Vai por mim. Se não der certo, você vai ter a sua resposta e pode sair de
uma vez da vida de James. Agora vou voltar para o meu bolo, as massas já
devem estar assadas.
Ela me dá um beijo na bochecha e sai, deixando-me ali cheia de pensamentos.
***
Chego em casa um pouco mais tarde. Como Bel previu, Jamile já está
dormindo. Entro em seu quarto e lhe dou um beijinho.
— Ela acabou de dormir — James fala, escorado no batente. Ele está sem
camisa e usa apenas uma bermuda. O safado é lindo e sabe disso. Acho que
posso jogar com suas armas, loirão.
— Fiquei até agora terminando os arranjos do casamento de amanhã. Vou
tomar um banho.
Passo por ele e faço questão de roçar meus seios no seu peitoral. Vou
rebolando até o banheiro. Antes de fechar a porta, ainda tenho um vislumbre de
James olhando para a minha bunda com sua boca aberta. Hum… Talvez a Bel
tenha razão.
Tomo um banho demorado e saio só de toalha do banheiro. Ele está na
cozinha arrumando alguns petiscos para a hora do jogo. James é um doido
fanático pelo Figueirense, como metade da cidade de Florianópolis. A outra
torce para o Avaí.
Vou até a pia e pego um copo, aproveitando para me esfregar nele “sem
querer”. Depois de beber a água, vou até meu quarto e procuro algo bem
provocante. Encontro uma camisola branca que mal cobre meu bumbum.
— Perfeita! — exclamo e a visto.
Pego meu hidratante e sigo para a sala, torcendo para não estar fazendo um
papel ridículo. Respiro fundo e coloco meu plano em prática.
James está concentrado no jogo, mas percebo que me olha com o canto do
olho. Sento-me e começo a passar o hidratante pelos meus braços. Não vejo
nenhuma reação de James, mas não desisto. Levanto e coloco um pé sobre o
sofá, espalhando o creme por minha perna. O loirão já não está mais olhando
para a televisão. Mudo para a outra perna e agora James pode ver que estou sem
calcinha. Vejo-o engolir seco.
— Gosta do que vê? — Lembro-me que ele disse isso a primeira vez que
ficamos juntos. Nem preciso de sua resposta, basta apenas olhar para o seu
calção com uma tenda armada.
Baixo minha perna e me aproximo. Seus olhos não saem de mim. Subo no
sofá, ficando de joelhos, um em cada lado de seu corpo, e acaricio seu peito. Ele
respira pesadamente, mas não me afasta.
— Isso não é bom? — indago com uma voz sedutora.
Continuo deslizando minhas mãos por seu corpo. James fecha os olhos. Isso é
sinal de que está gostando. Então, aproveito para beijar seu pescoço e sinto suas
mãos em minha cintura. Continuo com meus beijos até chegar em sua boca.
Deixo um beijo suave, esperando sua reação. Suas mãos em minha cintura me
apertam um pouco. Dou outro beijo, um pouco mais demorado. Começo a
rebolar sobre ele, que solta um gemido. Seguro seu rosto entre as mãos e olho
em seus olhos lindos.
— Lúcia, por favor…
— Se você não quiser, é só me dizer. Sei que não se lembra, mas também
posso sentir o quanto me deseja, James. A escolha é sua. — Ele não diz nada,
não faz nenhum movimento. Esses segundos esperando por sua resposta duram
uma eternidade.
Meu coração aperta com a possibilidade de sua rejeição. Faço um movimento
para sair de cima dele, sentindo-me derrotada, mas suas mãos em minha cintura
me mantêm presa ali.
De repente, James me toma em um beijo ardente. Um beijo que esperei por
mais de um ano. As mãos deslizam por minhas costas e ele me aperta ao seu
corpo. Ainda me beijando, levanta do sofá e me leva para o meu quarto, onde me
deita na cama e se encaixa sobre mim.
Ainda que seja apenas desejo e atração, eu quero aproveitar este momento e
imaginar que o meu James está de volta, que continua apaixonado por mim.
Ele cessa o beijo e me encara ofegante.
— Você está tomando pílula? — Respondo com um aceno positivo, pois
minha respiração arfante não permite que minha voz saia.
Novamente ele me beija e começa a explorar meu corpo com as mãos. Por
onde elas passam, sinto minha pele em chamas.
— James, por favor… — suplico.
Seus olhos estão em mim e vejo desejo puro e cru. Somos duas pessoas
agindo pelo instinto primitivo da paixão, necessitados um do outro para aplacar
o desejo latente que nossos corpos anseiam. Ele toma um dos meus seios na
boca, ainda por cima da camisola, fazendo-me delirar. Em seguida, repete o
gesto no outro. James emaranha seus dedos em meus cabelos e inspira o cheiro
deles.
— Seus cabelos têm um cheiro tão bom, são tão macios. — Não tenho tempo
de raciocinar sobre o que ele fala, pois o vejo se despir e ficar nu em toda sua
beleza. Lembro-me o tanto que eu sou apaixonada por esse corpo perfeito que
tantas vezes me amou.
Fico de joelhos sobre a cama e o acaricio com a ponta dos dedos. O peito liso,
o abdome trincado. É lindo até tocá-lo intimamente. James solta um gemido e
me agarra, apertando-me com força.
— Nunca senti tanto tesão por uma mulher. Lúcia, você está me
enlouquecendo…
— Então faça logo amor comigo, James. — Ele me beija e depois retira minha
camisola, deitando-me na cama e pairando sobre mim. Encaixa com um pouco
de dificuldade em meu corpo, pois já tem um tempo.
Como senti falta do meu loirão amando-me, adorando meu corpo com seus
toques e suas carícias. Com movimentos lentos, ele começa a me amar, o suor
formando-se em nossos corpos devido ao calor que o ato de paixão nos provoca.
Os sons dos nossos gemidos e o cheiro familiar que exalamos me deixam
inebriada.
Seus beijos quentes e possessivos vão deixar marcas no dia seguinte. Serão a
prova de que o que está acontecendo aqui é real, que não é apenas mais um
sonho em que acordo frustrada por ver que não era verdade.
— Você é muito gostosa… — diz enquanto suas estocadas aumentam de
velocidade. A paixão é quem dita nosso ritmo.
Eu o abraço, sentindo suas costas suadas sob meus dedos. Somos uma
confusão de bocas, dentes e língua nos beijos sôfregos e cheios de luxúria que
trocamos. Meu orgasmo chega de maneira avassaladora, deixando-me quase sem
forças sob seu corpo. Então, ele inverte nossas posições.
— Agora quero que você remexa essa boceta gostosa no meu pau. — O meu
James safado está aqui, consigo ver isso em seus olhos. — Vai, gostosa, quero te
ver gozando para mim novamente.
Suas mãos deslizam por meu ventre e sobem até meus seios, que ele segura
com força, estimulando-os com o polegar. A sensação é maravilhosa.
— Ah, James… — gemo.
— Goza para mim, vai. — Uma de suas mãos desliza para meu ponto sensível
e começa a dedilhar. Sou arrebatada com outro orgasmo, ainda mais intenso do
que o primeiro.
James me vira e fico completamente exposta com meu bumbum inclinado
para ele, que segura meus quadris com força e me penetra duro e firme até que
ele mesmo atinja seu clímax com um gemido de satisfação, caindo exausto sobre
mim. Rapidamente ele rola para o lado e eu o abraço.
— Foi incrível! Eu te amo, James. — Ele apenas me abraça e deixa um beijo
sobre minha testa.
Ficamos assim até que nossas respirações voltem ao normal.
Após tomarmos um banho, nós nos amamos novamente embaixo do chuveiro.
Quando saímos, vejo James indo se vestir e andando até a porta do meu quarto.
— Você não vai dormir aqui? — pergunto sem conseguir disfarçar a mágoa
em minha voz.
— Lúcia, foi ótimo o que aconteceu entre a gente, mas é melhor irmos com
calma.
— Irmos com calma? Depois de você ter me fodido de todas as maneiras? Isso
é meio controverso, não acha? — pergunto, deixando escapar a raiva na voz.
James solta a maçaneta e vira para mim. Sim, ele nem ao menos estava
olhando para mim.
— Não posso te dar o que espera de mim, Lúcia. O que aconteceu foi bom,
mas foi apenas sexo. Me desculpe, mas não quero te enganar. — Ando até ele
com raiva.
— O que eu sou para você, James? Um fardo que você tem que carregar para
manter sua filha por perto?
— Não diga isso! Você é uma mulher extraordinária! Me deu o maior presente
que eu poderia ter recebido. Eu tenho respeito por você e sou muito grato.
— Pegue a sua gratidão e enfie… — Neste momento, é impossível evitar as
lágrimas de raiva e decepção que rolam por meu rosto. Ele se aproxima de mim,
mas me afasto. — Não me toque! Já basta de humilhações. Não preciso de sua
pena, James! O que quero, parece que você é incapaz de dar. Me deixa sozinha!
— Lúcia, eu…
— Por favor, James. — Ele abre a porta e sai. Eu a fecho logo em seguida
com força. Sinto meu coração despedaçar mais uma vez ao ver meu amor me
lançar um olhar de arrependimento que me quebra em milhares de pedaços.
Parece que os cacos do meu coração se espalham pelo chão. Ando até minha
cama, como se estivesse pisando sobre eles, quase consigo senti-los ferindo de
verdade meus pés a cada passo que dou.
Agora, finalmente me dou conta de que perdi meu James para sempre. Esse
que está nesta casa é apenas uma casca do homem que amei.
Enrolo-me em meus lençóis que ainda tem o seu cheiro e torço para que
minhas lágrimas levem minha dor. Pena que nem todas as lágrimas que eu chore
serão capazes de arrancar do meu peito a dor lancinante que me rasga por dentro.
***
No dia seguinte, levanto e James está na cozinha dando papinha para nossa
filha. Pego uma xícara de café e bebo enquanto arrumo minhas coisas para ir ao
trabalho.
Depois de passar a noite chorando, decidi sufocar o sentimento em meu peito
e trancá-lo a sete chaves. Nunca mais James me fará chorar por ele.
— Quero que saiba que vou procurar um apartamento para minha filha e eu.
Assim que conseguir, vou embora com ela. Não quero mais te importunar com
minha presença incômoda em sua casa. Já entendi que você não vai se lembrar
de mim e não quero mais viver essa situação. Não vou mais viver assim.
— Lúcia, por favor, por que fazer isso? Nossa filha está bem aqui. Dividimos
as contas e sei que financeiramente vai ficar pesado para você, pois seu
apartamento foi vendido. Você usou o dinheiro para investir na sociedade com
Belinda. Sei que a empresa está crescendo e o capital de giro ainda é pequeno.
— Não importa! Não posso mais viver assim, James! Tem ideia de como me
senti ontem? Me senti usada! Eu nunca tinha me sentido assim e foi horrível.
Sempre fui uma mulher decidida e nunca permiti que homem nenhum me
humilhasse, mas você fez isso muito bem! — Aponto para ele.
— Me perdoe… Você ficou me provocando. Eu sou homem e…
— E eu sou uma mulher que merece respeito! Mais do que isso, eu também
mereço ser amada, querida e desejada, sem que o homem me dê um olhar de
arrependimento após ter transado comigo. Foi isso o que vi em seus olhos e doeu
muito. Nunca mais quero ver aquele olhar, nem em você, nem em ninguém.
— Escuta, eu tenho que ir para o quartel. Não faz nada de cabeça quente.
Quando eu voltar, vamos conversar de cabeça fria, OK? — Ele faz um
movimento com a mão como se fosse me tocar, mas me afasto.
— Por favor, não me toque! — James rapidamente abaixa a mão.
— Só não faça nada até eu voltar, Lúcia, por favor!
— Tenho que ir. — Pego minha filha, sua bolsa e saio. Coloco-a na cadeirinha
e me sento atrás do volante. Choro. Choro muito, mas não adianta, pois a dor
simplesmente não passa.
Eu perdi o James naquele dia do acidente. O incrível é que naquele dia ele me
pediria em casamento. Mas que droga! Por que meu coração não entende de uma
vez? Por que não posso simplesmente esquecer isso, assim como ele? Evitaria
toda essa dor.
No dia em que James decidiu ser meu, eu o perdi para sempre.
Já chega de chorar! Vou tocar minha vida, seguir em frente. Só vou ter que
avisar para o meu coração que James não vai mais voltar. O melhor é tirá-lo à
força daqui de dentro, só tenho que descobrir como fazer isso.
Capítulo 9
Eu não deveria ter deixado as coisas irem tão longe. Tudo o que menos queria
era magoar a Lúcia. Eu a admiro e tenho um carinho por ela, mas ontem com ela
provocando-me daquele jeito não consegui resistir.
Tenho resistido a essa atração que sinto há um ano para que ela não se sentisse
usada e acabasse ferida a ponto de querer ir embora com minha filha. Porém,
ontem eu acabei sucumbindo aos seus encantos. Ela é linda e ficou provocando-
me, quem resistiria?
Depois que a euforia da luxúria passou, eu me senti péssimo. Ver em seus
olhos a esperança de algo que eu não poderia oferecer me deixou quebrado.
Lúcia é especial, afinal é a mãe da minha filha, mas é só isso.
Assim que ela sai com Jamile, fico ali pensando na burrada que eu fiz. Não
quero ficar longe da minha filha. Ela é meu tesouro, é tudo para mim. A única
que consegue despertar em mim um sentimento limpo e puro, sem que eu precise
dar nada em troca.
Eu a amo de um jeito imensurável. Seria capaz de tudo por ela, menos de
enganar Lúcia porque ela não merece.
***
Faz alguns dias que Lúcia procura um lugar para morar com a minha filha. A
mulher teimosa alugou um pequeno apartamento em um lugar de condições
precárias e disse que é só até conseguir um lugar melhor. O que pode ser um
pouco difícil já que o aluguel aqui na capital é muito caro.
Ela e Belinda estão saindo-se bem na empresa, mas o dinheiro que entra ainda
é capital de giro.
Tenho evitado sair com outras mulheres, pois sei dos seus sentimentos por
mim. Ela não tem culpa do que aconteceu. Como todos dizem que nós
estávamos apaixonados, eu me coloquei no lugar dela, pois não quero que sofra.
Só que não a amo.
Talvez Lúcia ir embora seja o melhor, mas e a minha filha? Só de pensar em
chegar em casa e não sentir o seu cheirinho gostoso por todos os lados, não ver
seus brinquedos espalhados pela casa, não a ter engatinhando e dando aqueles
passos trôpegos em minha direção assim que me vê. Isso me entristece. Preciso
convencer Lúcia a ficar, mas sem enganá-la. Só não sei como.
Chego ao quartel e Daniel vem logo falar comigo.
— E aí, James? Está tudo bem?
— Estou sim, por quê?
— Lúcia chegou lá em casa e estava péssima. Belinda e ela ficaram
conversando quando eu saí e Lúcia estava chorando. Cara, vocês precisam
resolver logo isso.
— Eu sei, mas como? Não quero me afastar da minha filha, cara! Só que para
ficar perto dela, Lúcia tem que ficar também e vejo que ela está sofrendo. —
Passo as mãos pelos meus cabelos em uma vã tentativa de clarear as ideias. —
Fiz uma coisa que não deveria e acabei a magoando.
Eu me sento rapidamente.
— Sabe que pode contar comigo, não sabe? — Daniel se senta perto de mim e
bate em meu ombro.
— Sei, mas esse assunto é muito delicado. Não sei como agir. Lúcia é uma
mulher extraordinária, forte, batalhadora.
— E linda! — completa meu amigo.
— Isso também. Mas só a vejo como mãe da minha filha.
— Não se sente atraído por ela? Porque vocês não se desgrudavam. Você
aproveitava qualquer oportunidade para estar com as mãos sobre ela.
— É claro que me sinto atraído por ela! Lúcia é um avião, mas…
— Mas…
— Eu não a amo! Sei que para vocês é estranho ouvir isso já que, pelo que
ouço, era louco por ela antes do acidente. Mas não a amo, cara. Essa atração
pode me fazer magoá-la por ser só isso, entende? — digo.
— Ou essa atração é sinal de que nem tudo foi esquecido.
— Como assim? — indago, com a testa franzida.
— James, se eu perdesse a memória, meu corpo reconheceria Belinda porque
o que nós temos é coisa de pele. É tão forte que não esta só aqui. — Ele aperta o
indicador na cabeça. — Está aqui… — Aponta para o coração. — E aqui. —
Passa a mão por seu braço. — Meu corpo reconhece tudo nela, seu cheiro, sua
voz, seu olhar. Cada gesto, cada sorriso, até mesmo a respiração dela quando
está dormindo. Talvez seu corpo só esteja mandando sinais para seu cérebro para
que se lembre dela…
— Desde quando você começou a falar assim todo meloso? — zombo.
— Desde que encontrei a mulher da minha vida e ela me deu o maior tesouro
que um homem pode ter: minha família. Pense nisso. — Ele me dá três tapas no
ombro e sai.
Será isso? Será que essa atração que sinto por Lúcia é mesmo meu corpo
fazendo-me lembrar que eu a amava? Não, não. Que idiotice! Daniel se tornou
um romântico depois que conheceu Belinda. Esse negócio de amor não é para
mim.
Durante um ano, não sai com mais ninguém, é por isso que fiquei suscetível
aos encantos de Lúcia. Por isso tenho que voltar a ser o James de antes e sair por
aí comendo umas bocetas diferentes. Preciso retomar minha vida, deixá-la como
sempre foi.
Talvez Lúcia tenha razão. É melhor que cada um vá morar em sua casa. Tudo
resolvido. Vamos decidir os meus dias para ver minha filha. Merda, não é isso
que quero, mas assim será melhor.
***
Chego em casa pela manhã e encontro Lúcia vestida, com suas malas prontas
perto da porta.
— James, já arrumei minhas coisas. Vou morar com minha irmã até que eu
consiga um apartamento que não fique muito longe do meu trabalho.
— Você tem certeza? — indago, receoso.
— Absoluta. Não se preocupe, os dias que você não estiver de serviço no
quartel, está livre para ficar com Jamile. Como sempre fizemos. A única
diferença é que terá que buscá-la.
— Se você já decidiu, vou respeitar isso.
Ela pega uma das malas e parece estar bem pesada.
— Eu te ajudo…
— Não! — Ela me empurra. — Não preciso de nada de você. Não quero que
se aproxime de mim. Quando falar comigo, será algo estritamente necessário.
Sobre a nossa filha. Eu vou seguir em frente com minha vida que estava parada
por você, mas isso acabou. Tchau, James.
Lúcia sai arrastando suas malas e depois volta para pegar nossa filha.
— Espera! Quero dar um beijo nela. — Seguro Jamile, que me encara com os
olhos verdes iguais aos meus. Eu a beijo e a devolvo para a mãe. — O papai vai
ter ver logo, meu amor.
Lúcia sai e fico aqui neste apartamento vazio e frio, que perdeu toda a graça,
toda a essência de lar.
Tomo um banho, coloco uma roupa e decido sair. Vou até um bar onde era
acostumado ir. Sento-me no balcão e começo a beber uma cerveja. Quem sabe o
álcool me entorpeça ao ponto de, quando chegar em casa, eu não sinta falta do
meu anjinho.
Já estou na quinta garrafa e não adianta, o aperto no meu peito não afrouxa.
Pelo contrário, só me asfixia cada vez mais.
— Oi, bonitão! — Uma loira muito bonita senta ao meu lado no balcão. —
Quer companhia?
Olho para ela, que tem belos cabelos lisos, usa maquiagem pesada e um
vestido vulgar demais para o meu gosto, mas é uma boceta disponível.
— Por que não? — digo.
Ela sorri, destacando os lábios vermelhos. O perfume enjoativo me deixa
tonto. Ou talvez sejam as cervejas. Conversamos e, muitos drinks depois, a loira
me convida para ir à sua casa. Aceito o convite, pois preciso tirar a prova de que
Lúcia não é a única que meu corpo deseja.
Daniel está errado! Posso ter qualquer mulher.
Nós chegamos à sua casa rapidamente. Entro e ela vai logo me agarrando e
beijando-me. Arranca minha roupa e se despe ao mesmo tempo.
— Vem, gostoso, vamos para o meu quarto.
A loira me arrasta até lá e vou aos tropeços devido ao nível de álcool em meu
sangue. Estou em sua cama, mas não consigo tirar Lúcia da minha cabeça, então
me levanto, coloco minhas roupas de qualquer jeito e simplesmente saio dali.
Ando cambaleando pelas ruas. Na verdade, eu não queria ter que voltar para casa
e encontrá-la vazia, sem o riso da minha princesa dentro dela.
Ando pelas ruas e a dor em minhas costas novamente me atinge. Nunca falei
para ninguém sobre isso. Se eu falar, vão me mandar fazer exames e consultas
aos médicos de novo e estou farto disso. Eles nunca conseguiram amenizar a
minha dor, então finjo que estou bem e tomo os remédios mais fortes que
encontro. Eles têm efeito por certo tempo, mas depois preciso aumentar as doses.
O problema são os efeitos colaterais que provocam em mim, como essa mudança
de humor.
Abro a porta de casa e sou atingido em cheio pelo cheirinho de pêssego que
minha querida princesa deixou. Ando até seu quarto e pego seu travesseirinho.
Levo comigo para a cama e deixo ao meu lado. Só assim consigo pegar no sono.
***
Já tem mais de um ano que Lúcia saiu de casa com minha filha. Tenho me
enfiado de cara no trabalho, dobro os turnos e, quando não estou no trabalho,
fico enclausurado em casa.
Minhas dores têm aumentado e os medicamentos já não fazem efeito. Minhas
preocupações só aumentam cada vez que venho até o apartamento de Lúcia e
vejo as condições precárias do prédio com fios expostos e nenhum extintor. Isso
foi a primeira coisa que notei quando vim aqui a primeira vez. Hoje, mais uma
vez, estou vindo para pegar minha filha porque é meu dia de ficar com ela.
Aproximo-me do prédio e sinto meu coração parar no peito ao ver uma
fumaça negra no céu. Como bombeiro experiente, já sei que se trata de um
incêndio de grandes proporções e logo a situação do apartamento de Lúcia me
vem à cabeça.
Meus temores se confirmam quando entro na rua onde se encontra o prédio.
— Merda! — Soco o volante e já pego meu telefone. — Aqui é o tenente
James Figueiroa. Tem um incêndio acontecendo na Rua das Laranjeiras, número
322.
Espero ansioso até que o caminhão chegue, o que acontece muito rápido.
— E aí, James? — Kléber me cumprimenta, me entrega as roupas antichamas
e eu me visto para entrar no prédio. Confirmo que o incêndio é no apartamento
de Lúcia.
— Que merda! Tem muito fogo aqui! — Kléber comenta ao ver o corredor
tomado pelas chamas.
— Temos que passar por aqui! Minha filha está dentro daquele apartamento
com Lúcia!
— Porra, cara, que lugar fodido é este que a Lúcia veio morar? — fala,
olhando por todos os lados, tentando encontrar um jeito de passarmos. — Aposto
que a culpa foi sua com essas mudanças de humor! Cara, se acontecer algo com
a Lúcia, você vai sentir remorso pelo resto da vida.
— Para com isso, Kléber! Não vai acontecer nada. Vamos correr até aquela
porta e tirar minha mulher e minha filha de lá!
Só agora me dei conta do quanto Lúcia é importante para mim… Mesmo sem
lembrar de quando nos conhecemos, eu acabei apaixonando-me por ela, mas fui
teimoso demais para aceitar esse sentimento. Agora corro o risco de perdê-la
sem nem ao menos ter vivido isso ao lado dela.
— Me dá o machado!
Começo a quebrar a porta e conseguimos entrar, mas tem muita fumaça.
— Lúcia! — chamo e meu coração acelera devido ao medo que sinto de não
as encontrar com vida. Procuro como um louco e as encontro no quarto. Jamile
chora muito e Lúcia está caída aos pés da cama, desacordada. — Meu Deus…
Kléber, aqui! — Ele chega logo em seguida.
— Vamos tirá-las logo daqui! — ele diz e vai logo pegando Jamile enquanto
eu levo Lúcia.
Assim que saímos, nossos colegas começam a apagar o incêndio. Levo Lúcia
para a ambulância junto com minha filha e sigo com elas até o hospital. Elas são
levadas para a emergência e são atendidas imediatamente.
Fico aqui na sala de espera com o coração na mão. Jamile aparentemente está
bem, o problema é Lúcia, que continua desacordada. Ando de um lado para o
outro enquanto Daniel e Kléber que estão aqui tentam me acalmar. É quando o
médico finalmente aparece.
— E então, doutor? Como elas estão? — pergunto, indo de encontro a ele.
— Estão bem, não se preocupe. A mãe da menina desmaiou devido à inalação
da fumaça, mas já está bem. A menina não sofreu nada e está em perfeito estado.
Vocês chegaram a tempo — fala e sinto um peso sendo retirado das minhas
costas.
— Posso vê-las? — pergunto, ansioso.
— Sim, me acompanhe, por favor.
Ando pelos corredores com a sensação de ter sido o culpado pelo que
aconteceu. Estou decidido a convencer Lúcia a voltar para casa pelo bem da
nossa filha. Talvez eu consiga reconquistá-la, apesar de achar quase impossível.
Ela está muito fria comigo. Nós falamos somente o necessário. Lúcia ainda está
muito magoada. Mas preciso tentar. Preciso mostrar a ela que me apaixonei
novamente.
Capítulo 10
Estamos no bar, muito animadas, bebendo nossos drinks. Belinda pede os dela
sem álcool, é claro. Rapidamente começamos uma conversa animada.
— Meninas, eu tomei uma decisão. Kléber e eu teremos um filho! — Roberta
fala, animada. — Já estamos juntos há dois anos, acho que chegou a hora. Vendo
todas vocês com seus filhos, meu relógio biológico começou a apitar.
— Mas o que meu irmão acha disso? — Larissa pergunta.
— Bem, ainda não falei isso para ele, mas hoje depois de um sexo gostoso,
vamos ter essa conversa.
— Só quero ver. Do jeito que ele fica apavorado só em ficar com os sobrinhos
— Larissa comenta.
— Eu acho que Kléber será um bom pai — Belinda diz.
— Você não vale, Bel, pois sempre pensa o melhor das pessoas — digo e bebo
um gole do meu drink enquanto algumas pessoas arriscando-se no karaokê.
— Lúcia, por que você não canta? Sua voz é linda! — Júlia me incentiva.
— É mesmo! Canta, canta, canta! — gritam em coro e acabam convencendo-
me.
O bar está cheio e fico um pouco receosa, mas não dou para trás e vou até o
pequeno palco. Escolho a música Os corações não são iguais da banda Roupa
Nova.
“Você tem o tempo que quiser. De você aceito o que vier, menos solidão.”
Enquanto eu canto, sinto a música em mim, pois ela retrata tudo o que estou
vivendo ao lado de James. Suas mudanças de humor estão acabando comigo.
Ao final da música, ouço os aplausos e até havia esquecido que estava
cantando aqui.
— Uau! Eu senti toda a emoção dessa música! — Bel comenta. — Você e
James ainda estão daquele jeito?
— É complicado, Bel! Uma hora ele me trata bem, outra hora é frio. Hora é
gentil, outra é um grosso.
— Será que ele não ficou com bipolaridade? — Roberta pergunta. — Eu já li
sobre isso. Acho que ele deve consultar um especialista.
— James é tão teimoso. Jamais aceitaria ir a um psiquiatra — digo
suspirando.
— Amiga, eu posso falar com o Dani. Quem sabe ele não o convence? — Bel
segura minha mão.
— OK. Mas agora vamos falar de outras coisas! Viemos aqui para nos
divertir. A música começou a tocar, vamos dançar — Larissa diz e nos puxa para
a pista de dança.
Por um tempo, esqueço-me dos meus problemas. Roberta pede mais drinks e
começo a estranhar porque Belinda começa a ficar muito soltinha.
— Bel, você está bem?
— Estou ótima! Me sinto muito leve! — responde com a voz arrastada.
— Merda! Quem serviu álcool para a Bel? — indago.
— Ops! Culpada! — Roberta diz.
— Ficou maluca? A Bel fica bêbada somente com o cheiro de álcool — falo
um pouco mais alto.
— Lúcia, deixa de ser quadrada! A Bel precisa relaxar. E depois, nem tinha
tanto álcool assim. Vem! Vamos nos divertir.
A certa altura da noite, eu já estou meio tonta. Quer dizer, não me aguento nas
próprias pernas. Agora estamos todas sentadas depois de pagar o maior mico
cantando no karaokê, falando bobagens e sobre nossas intimidades.
— Lúcia, me diz… O que o James tem que fez você ficar com ele todo esse
tempo? Mesmo ele sendo um babaca na maioria das vezes — Júlia pergunta. —
Para ter um avião como você em casa e não foder, ou ele é um babaca ou é gay!
— Uouu! — todas falam ao mesmo tempo em um alvoroço.
— Oh, amiga, com certeza James não é gay — respondo.
— Ah, isso é verdade! Esqueceu que o Dani e o James eram os maiores putos
de toda Florianópolis? Eu ainda tenho que andar com meu radar de piranhas
ligado sempre que Dani e eu saímos. Aquela mangueira vicia e elas a querem de
volta. Mas o Dani é só meu! E a mangueira também! — Bel comenta,
visivelmente afetada pelo álcool de sua bebida.
— O que te faz ter tanta certeza? — Larissa reforça a pergunta.
— Além de ele ter um pau enorme e saber usar muito bem? Vai por mim,
James não é gay. Se um gay sabe foder uma mulher como ele fez comigo, então
eu o quero mesmo assim. James era um safado, mas alguma coisa está
acontecendo. Só não sei o que é. Seria um desperdício ele ter um pau tão grande
e não gostar de usar em mulheres, principalmente em mim.
— Uouu! — falam novamente.
— Por falar em pau enorme… — Roberta entra na conversa. — Vou contar
uma coisa que nunca contei. — Todas nós prestamos atenção nela. — Kléber me
mata se souber que contei a vocês. Bem, quando eu o conheci era virgem. Isso
vocês sabem, pois eu já tinha contado. Acho que vocês se lembram de como
fiquei nervosa quando marcamos para transar a primeira vez, né?
— Eu lembro. Você até chorou, mas era compreensível depois do que você
passou — Bel fala.
— Pois bem, estávamos Kléber e eu no maior amasso no motel. Quando eu
senti o pau dele duro, de repente fiquei apavorada. O cara tem aquilo enorme! É
claro que disfarcei muito bem meu medo. Ele me fez um oral maravilhoso, me
deixou molhadinha, então relaxei. Mas quando tirou aquilo de dentro da cueca…
Pronto. Todo meu nervosismo voltou e comecei a chorar. Ele ficou todo
preocupado, achando que eu estava com medo por causa do que passei nas mãos
do Vito. Foi tão compreensivo e carinhoso. Só que eu falei para ele “Isso não
tem nada a ver com Vito, estou com medo desse seu pau enorme”.
Nós rimos enquanto ela conta, fazendo caretas como se estivesse relembrando
o momento.
— Neste momento, eu ainda estava chorando de desespero. Então ele me disse
“Ah mulher, o que quer que eu faça? Que corte um pedaço?” Quando ele disse
isso, eu tive um ataque de riso e lá se foi a nossa noite romântica. Acabei
perdendo a virgindade dentro do carro dele, infelizmente foi muito doloroso. Nós
tivemos que esperar uma semana para fazer sexo novamente.
— Eu não precisava ouvir isso do meu irmão — Larissa reclama.
— Falou a garota que vive me contando o quanto Fábio é gostoso e te faz
gritar de tesão no quarto — Belinda diz e todas caímos na gargalhada. — Eu
parei de tomar pílula! — Bel muda de assunto.
— Não me diga! Você quer engravidar, Bel? — Júlia pergunta.
— Sim! Daniel e eu já estamos tentando. Estou com trinta anos e Thiago e as
meninas já estão grandinhos. Depois que eu conseguir engravidar, o Dani vai
fazer uma vasectomia.
— Ele aceitou assim tão fácil? — Júlia pergunta.
— Foi a minha condição para engravidar novamente! Ele não teve opção —
fala Bel.
— Hoje à noite, eu terei múltiplos orgasmos! Ai do Kléber se não me fizer
gozar muitas vezes — comenta Roberta.
— Que bom para você que alguém te faz gozar, eu nem sei quanto tempo faz
que não tenho um orgasmo — falo e vejo James chegar acompanhado de Daniel
e Kléber.
Estou tão bêbada que falo alguma coisa para ele, mas nem eu mesma sei o que
digo. Só sinto quando ele me coloca no carro e apago completamente.
Acordo com alguém me chamando para tomar um banho. O meu pileque já
passou, mas finjo que ainda estou bêbada e decido provocá-lo. Se no outro dia
ele se arrepender, pelo menos posso colocar a culpa na bebida. Mas esta noite,
vou me aproveitar do corpo do meu loirão.
— Lúcia… Lúcia — chama de novo.
— Hum?
— Você precisa de um banho. — Eu levanto do sofá e ando até ele, parando
bem na sua frente.
— Eu preciso de você, Zames, não de um banho.
— Você não sabe o que está falando. — Ele se afasta.
— O que é, Zames? Não sou bonita? Desejável? Ou você virou gay? Me diz!
Eu estou indignada.
— Lúcia, eu não sou gay! — James solta o ar pesadamente.
— Então o que é? Você não sente nada por mim? — Ando pela sala. — Cada
cantinho desta casa é testemunha do quanto a gente transava. Está vendo esta
parede? — Escoro-me, fazendo uma pose. — Você já me fodeu aqui. Ali naquele
canto também. Sobre essa mesinha, nesse sofá, na mesa da cozinha, até na
varanda! No canto da sala. No banheiro? Muitas vezes.
— Para com isso, Lúcia…
— Por quê? O Zames certinho não quer saber o quanto ele era safado? —
Começo a rir da cara que ele faz. — Sabia que você me fodeu no meio do mato?
E eu adorei.
Ando lentamente em sua direção, abrindo o zíper do vestido. Quando chego
pertinho, estou só de calcinha e sapatos.
— Olhe para mim, James! Diga que não me deseja. Eu sei que me deseja.
Acha que não percebo seus olhares furtivos quando ando pela casa só de
camisola?
Seguro suas mãos e as deixo sobre meus seios. As minhas mãos deslizam por
seu peito e barriga, até segurar seu membro, que já está duro com toda a minha
provocação.
— Você pode negar o quanto quiser, mas isso aqui não nega. — Aperto seu
membro novamente.
Então, ele me pega de jeito e me beija. Segura na parte de trás das minhas
coxas enquanto envolvo seu corpo com as pernas.
— Faz amor comigo como antes, tenente! — peço, suplicante.
— Não sei como eu fazia antes, mas prometo que você vai gostar muito,
morena.
James me toma novamente em um beijo ardente, que me deixa sem ar. Só
percebo que ele me deitou na cama depois que nos separamos. Ele começa a se
despir, dando-me o vislumbre do corpo maravilhoso que sempre foi meu.
— Lúcia, Lúcia… Você não sabe há quanto tempo espero por isso… — James
fala com sua voz rouca, olhando-me de um jeito faminto.
Ainda que no dia seguinte ele se arrependa de novo, vou aproveitar cada
momento que ele estiver sobre mim. Quero sentir cada toque, cada carícia e cada
beijo sem pensar no amanhã.
— Vem, tenente, me faz gritar de prazer como você sempre fez.
Estendo meus braços e ele se encaixa sobre mim, beijando-me calidamente.
Suas mãos enormes passeiam por meu corpo e sinto minha pele arder por onde
seus dedos passam. Os beijos descem de minha boca para meu pescoço e seguem
para os seios, onde ele demora um pouco mais, mordendo, sugando e lambendo.
Desce um pouco mais, deixando beijos pelo meu estômago, ventre e chega na
parte do meu corpo que lateja por ele. Com sua língua, James começa a me
acariciar lentamente, em uma tortura erótica que me deixa delirante. Aumenta a
velocidade de seus movimentos e, com seus dedos ágeis, ele me leva a outro
nível de prazer. Explodo em um orgasmo intenso, gemendo alto neste quarto,
onde as paredes são testemunhas do momento maravilhoso que estou vivendo.
James levanta e me olha. Novamente vejo o desejo que via antes em seus
olhos.
— Faz tempo, minha nega, mas hoje vou me afogar no teu corpo.
Paira sobre mim, beijando-me e adorando meu corpo com suas mãos. Penetra-
me devagar e posso sentir cada centímetro dele invadindo-me. Somos um
encaixe perfeito, feitos um para o outro. James é meu homem, nunca haverá
outro.
Envolvo seu corpo com minhas pernas e braços, apertando-o contra mim.
Quanto mais dele eu sentir, melhor. Suas estocadas potentes e firmes me deixam
cada vez mais louca de tesão, desejando mais dele.
— James, você é tão gostoso… — falo entre beijos e mordidas.
— Ah Lúcia, assim você acaba comigo — diz ofegante em meu ouvido
enquanto continua a me amar. — Vem cá! Quero ver esse corpo em cima de mim
agora. — James deita e espera que eu me encaixe sobre ele, deslizando
lentamente, ouvindo-o gemer ao unir nossos corpos em um só. — Vai, gostosa,
quero ver você gozar em meu pau agora
Hum… Meu James safado está de volta! Adoooro!
É claro que eu aproveito ao máximo desse corpo, que mesmo aos trinta e oito
anos continua sarado. Cada gominho de sua barriga trincada, seu peito liso e
firme, que trato logo de lamber do jeito que ele sempre gostou. Suas mãos
deslizam por meus seios acariciando meus mamilos, estimulando-os com os
polegares. Ele desce por meu ventre até chegar ao meu ponto sensível, onde
começa a dedilhar, deixando-me na iminência de mais um orgasmo.
— Dessa vez vamos gozar juntos, minha nega…
Senta na cama e abraça meu corpo, parando com suas mãos enormes em
minhas nádegas, ajudando-me a me movimentar mais rápido. Juntos,
encontramos nosso prazer, gemendo alto ao fim do nosso ato de amor. James me
mantém em seus braços, beijando-me carinhosamente no pescoço.
— Eu te amo, Lúcia… — diz e quero muito acreditar que é verdade, mas não
consigo. Porém, hoje, vou fingir que o que ouvi é verdade e ficar assim em seus
braços, crendo que essa ilusão é real. Pelo menos por hoje. — Vem. Vamos
tomar um banho.
James me leva nos braços até o banheiro, liga o chuveiro e ensaboa meu corpo
delicadamente. Sinto todas as partes do meu corpo sob o seu toque, isso me
incendeia novamente.
— Você é linda, Lúcia. Linda… — Segura na parte de trás do meu pescoço e
me beija de um jeito verdadeiramente apaixonado. Imprensa-me na parede fria, o
contato de minha pele contra cerâmica me faz arrepiar. — Eu te quero de novo…
Ele nem precisava dizer, pois seu corpo já me deu provas disso.
— Você me tem, James, você me tem. Sou toda sua. — Enlaço-o com minhas
pernas enquanto ele invade meu corpo com força e paixão.
Mais uma vez, me entrego a ele sem reservas, sem receios e sem medos.
Quero ser toda dele, mesmo que só por hoje, mesmo que só por agora.
Minhas costas batem na parede cada vez que James empurra dentro de mim.
Não me importo. Tudo o que sinto é seu corpo junto ao meu, sua pele tocando a
minha, sua boca explorando cada cantinho da minha pele, ávido pelos meus
lábios.
Após mais esse ato de amor, nós nos secamos e vou para minha cama, já
esperando que ele se despeça e vá para o seu quarto, mas não é o que acontece.
James deita ao meu lado e me abraça, cobrindo-nos.
— Vamos dormir, meu amor, já está muito tarde — diz carinhosamente.
James me beija e me aconchego em seus braços, amando a sensação. Quero
aproveitar tudo isso de novo, sem preocupação. Repito para mim mesma: é só
por hoje.
Capítulo 13
Acordo e não encontro James na cama. Olho pela janela e vejo que ainda está
escuro. Merda! Eu sabia que ele não ficaria aqui comigo. Como fui tola! Assim
que penso, vejo a porta do meu banheiro entreaberta e sigo até lá.
Observo pela fresta e noto James aplicando uma injeção em si mesmo. Meu
coração dá um salto. James está usando drogas? Não, não. Isso só pode ser um
engano. Volto para a cama e me cubro. Noto quando ele abre a porta e finjo estar
dormindo. Ele me abraça e se aconchega a mim, mas não consigo mais pegar no
sono, então fico com os olhos abertos até que vejo clarear o dia.
— Por que você não dormiu? — James me pergunta assim que o dia
amanhece. — Achou que eu não ia perceber que ficou todo esse tempo
acordada?
— Perdi o sono… — falo ainda sem olhar para ele.
— Por quê? — Fico calada. — Olhe para mim, Lúcia. — Eu me viro e fico de
frente para ele. — Quero que saiba que o que aconteceu ontem foi muito bom.
Eu quis tanto isso aquilo.
— E não se arrependeu?
— Não. Eu sei que fui um idiota antes, mas quero te compensar por tudo.
Acho que minha memória não voltará. Quero começar a partir de agora com
você. Vamos começar nossa vida juntos, você, eu e nossa filha. Me perdoe por
ter sido um babaca todo esse tempo. — Lágrimas rolam por meu rosto e James
as seca, beijando-me em seguida. — Eu te amo. Antes que diga alguma coisa,
não é só por nossa filha. Eu te amo por quem você é. Com o tempo, percebi o
quanto é forte, batalhadora, inteligente, talentosa e muito linda!
— Só não quero me machucar, James — digo, ainda chorando.
— Eu não farei isso, prometo.
Quero acreditar, mas não posso evitar a desconfiança. Meu coração fica na
expectativa de suas mudanças de humor. Só que eu o amo tanto que quero que dê
certo. James é o único que existe para mim. Somente em seus braços eu sou
feliz.
Ontem a noite foi tão maravilhoso. Sentir seus braços fortes ao redor do meu
corpo, os beijos quentes e apaixonados, seu corpo pesando sobre o meu enquanto
ele me amava. Podem me condenar, mas quero isso demais. Meu amor é muito
maior que meu orgulho. Eu quero ser feliz, sei que só conseguirei isso com ele.
— Me dá uma chance, meu amor… Vou provar a você que mudei. Só peço
uma chance. Sei que podemos ser felizes juntos. Não há nada que eu queira mais
do que ter você em meus braços, morena. — James segura meus cabelos perto da
nuca e me beija. Desmancho-me nesses e lábios que tanto amo. — Vamos nos
dar uma chance…
— Tudo bem! — exclamo.
— Vem. Vamos levantar. Eu te ajudo a preparar o café da manhã. — Ele me
puxa da cama e me abraça novamente, cheirando meus cabelos.
Na cozinha, James me ajuda a cortar as frutas para o desjejum de nossa filha.
Até aí nenhuma novidade, ele sempre fez isso. A única diferença é que todo
momento ele me beija, me toca e sorri. Estou tentando não me iludir tanto, pois
hoje esse James está aqui, amanhã já não sei.
— Ei, o que é essa ruguinha de preocupação? — Aperta o indicador em minha
testa entre as sobrancelhas.
— Só pensando… — digo, distraída.
— Pensando no mico… Não, no King Kong, que você e as garotas passaram?
— pergunta, segurando uma risada.
— Como assim?
— Espera, eu tenho uma coisa para te mostrar… — Pega o celular e me
mostra um vídeo em que estamos cantando no karaokê, muito animadas e
realmente pagando o maior mico.
— Oh meu Deus! A Bel vai surtar quando vir isso!
— Bem, uma hora dessa ela já deve ter visto. Sem contar que ela vomitou em
cima do Daniel ontem — diz, soltando uma gargalhada.
— Não acredito! Ele deve ter ficado uma fera. A Bel não gosta de beber, mas
a Roberta colocou álcool no coquetel que ela estava bebendo.
— Dani não estava bravo, ele ama a Bel demais para isso. Eu também te amo,
até mesmo de pilequinho.
— Você me ama, Zames? — pergunto, fingindo-me de bêbada, e dou uma
gargalhada.
— Você não estava bêbada ontem, não é?
— Digamos que não tanto, mas um pouquinho para criar coragem de te dizer
umas coisas.
— Como dizer que eu te fodi no meio do mato e você adorou? Me mostrar
cada canto da casa onde transamos e me dizer que eu era um safado? — Ele se
aproxima e vejo outra vez aquele desejo em seus olhos.
James me segura bem apertado contra seu corpo e me beija, invadindo minha
boca com sua língua, descendo uma de suas mãos para minha bunda. Já posso
sentir seu membro ereto contra mim.
— Mamãe? — Jamile nos pega no maior amasso.
— Filha? Bom dia!
Eu tento sair daqui, mas James me mantém à sua frente e diz de um jeito
safado no meu ouvido:
— Não sai agora. Não é uma boa ideia.
— Bom dia! Papai, já cortou minhas frutinhas? Estou com fome.
— Claro, meu amor. Senta lá cadeira que já levo para você — responde todo
atencioso.
— Espera aí, já escovou os dentes e lavou o rosto? — pergunto a ela, que está
com os cabelos bagunçados, o rosto todo amassado e ainda com seu pijama, que
em algum momento James deve ter vestido nela.
— Ainda não — responde, dando um bocejo e esfregando as mãos nos olhos.
— Então vai logo enquanto o papai termina de preparar suas frutas. — Jamile
vai devagar até o banheiro. — Pegos no flagra!
Ele beija meu pescoço.
— James! Para com isso ou seu pau não vai abaixar — reclamo.
— É inevitável quando estou perto de você, nega…
— Você sempre me chamava assim — murmuro, abrindo um sorriso fraco.
— De nega? — Afirmo com a cabeça. — Mas você é minha nega!
Beija-me novamente.
— Vai logo terminar o café da manhã da Mili. — James ajeita sua ereção, lava
as mãos e continua a cortar as frutas para nossa filha.
Depois do café da manhã, ando até o quando para arrumar a cama quando
James entra no quarto um pouco depois que eu termino.
— Daniel convidou a gente para ir à praia. Vamos?
— Onde?
— Na Guarda do Embaú! Vamos? O dia está tão bonito. Nós almoçamos por
lá mesmo. Faz tempo que não levamos a Mili, sabe o quanto ela gosta do mar.
— Tudo bem! Vamos! — Ele me beija e vai até a porta, onde nossa filha nos
observa com os olhinhos brilhando.
— Gosto que o papai te encha de beijinhos — diz e corre para me abraçar.
Minha filha… Fruto do meu amor. Ela foi a razão para que James e eu
permanecêssemos perto um do outro. É por ela que essa segunda chance está
acontecendo.
***
— Estaciona ali, James! O carro do Dani está aqui também! Olha lá eles!
Avisto Bel, Dani e as crianças perto do carro enquanto nós descemos e vamos
até eles.
— Ei, pessoal, tudo bem? — James os cumprimenta e olho para Bel, que está
muito pálida.
— Bel, você está bem? — pergunto, preocupada.
— Estou me sentindo enjoada. Deve ser por causa de uma bebida que eu nem
queria beber ontem!
Nessa hora, Roberta e Kléber chegam.
— Ai, Bel, foi só um pouquinho! Não fica brava — Roberta se defende.
— Roberta, eu acho que estou grávida e você me serviu álcool ontem! —
Assim que ela fala, minha amiga olha para Daniel, que já está com o maior
sorriso do mundo no rosto.
— Verdade, baixinha? Já? Acertamos assim de primeira?
— Não tenho certeza ainda, mas estou com todos os sintomas. — Daniel a
gira nos braços.
— Não acredito que eu vou ser pai novamente! — Ele a beija ainda a girando
e a solta em seguida.
— Bel, isso é maravilhoso! — digo e a abraço.
— Parabéns! E me desculpe por ontem — Roberta diz sem graça.
— Tudo bem! Vamos logo…
— Ainda faltam o Fábio e a Larissa, e o Felipe com a Júlia. Olha eles
chegando. — Dani aponta para o outro lado.
— Gente! Eu tenho uma novidade! Felipe e eu estamos grávidos! — Júlia
fala, mal esperando que a gente a cumprimente.
— Pois Dani e eu também!
As duas se abraçam.
— Nosso bebê ainda é muito pequeno para darmos um irmãozinho a ele —
Fábio diz, segurando Arthur, o segundo filho de Larissa, nos braços. Ela teve um
filho daquele traste do Enrique, o Bernardo, mas Fábio ama como se fosse dele.
— Viu só, Kléber? O que eu disse? Eu quero um bebê! Vamos encomendar
um logo! — Roberta fala e Kléber fica pálido.
— Loirinha, estamos casados há pouco tempo…
— Eu quero um bebê! Você vai me dar um, ouviu? — Ela aponta para ele.
— Ouvi sim, meu amor. Faço qualquer coisa por você, até ter um filho tão
cedo!
— Obrigada, amor! — Roberta o beija e vem até onde estamos para nos
abraçar. Observo Kléber passando a mão no rosto, visivelmente nervoso.
Passamos uma tarde maravilhosa em família. Nem acredito que, finalmente,
somos isso. Uma grande família. As crianças se divertiram muito, nós deixamos
os homens cuidando delas enquanto aproveitamos o sol. Fazia tanto tempo que
não ficávamos assim, somente relaxando e curtindo o dia. Nós estamos sempre
atoladas de trabalho, quase não tiramos um tempo para a família.
James tem razão, nossa filha ama o mar e parece um peixe dentro da água. Foi
muito difícil tirá-la de lá até mesmo para que ela se alimentasse. James, como
sempre, estava muito atento e cuidou dela direitinho, passou o protetor a cada
duas horas, fez com que ela comesse e bebesse água também. Por isso fiquei
tranquila e pude realmente descansar.
***
Chegamos em casa exaustos. James parece um camarão de tão vermelho,
mesmo passando o protetor, ele acabou queimando-se demais.
— Você parece um tomate maduro! — Eu o abraço e o beijo. — Não está
doendo?
— Não, passei bastante protetor — diz com Jamile nos braços. Ela acabou
dormindo no carro. — Ela precisa de um banho, não pode dormir assim toda
cheia de areia.
— Vou encher a banheira. — Sigo até o banheiro e ele vem em seguida, já
despindo nossa filha do pequeno biquíni que ela usa. Assim que a deixa
delicadamente na banheira, Jamile acorda.
— Mamãe!
— Shii, calma, meu amor. É só um banho. — James dá o banho nela e eu
apenas observo o quanto ele é delicado e amoroso com nossa filha. — O que foi?
— Só estou vendo o quanto você é bom nisso! Olha só, ela dormiu
novamente.
— Eu a amo tanto. Sabe, quando você disse que esperava um filho meu, fiquei
muito irritado. Achei que eu tinha sido idiota e caído no golpe da barriga, mas
então ela nasceu. Meu coração foi completamente preenchido por um amor tão
grande, tudo o que eu queria era protegê-la. Viver para ela, por ela. É um amor
tão grande que faria tudo por ela…
— Até fingir que me ama para que ela fosse feliz? — pergunto. James tira
Mili da banheira e a envolve na toalha, levando-a para o quarto.
Seu silêncio me causa aflição.
Depois de pôr um pijama em nossa filha e deixá-la na cama, James me tira do
quarto e me dá um daqueles beijos que faz com que eu me derreta por inteiro.
— Já falei que quero você. Não estou fingindo. Lúcia, não vê e não sente o
quanto quero você? Isso aqui é para você por você. — Pega minha mão e a
coloca sobre sua ereção. — Me diga por onde quer começar…
— Começar o quê? — Estou ofegante e meu coração bate descompassado.
— Onde quer que eu te foda primeiro… Ali, naquele canto? — Aponta para
um canto qualquer na sala. — Ou naquela mesinha? Ou no sofá? Você tem tantas
lembranças nossas, quero tê-las também. Vamos começar por aqui mesmo, nesta
parede.
James ergue minha saída de praia e desamarra meu biquíni, que tem dois
lacinhos. Acaricia-me intimamente, fazendo-me arfar de ansiedade pelo que está
por vir.
— James… — É só o que consigo falar, pois ele me toma em um beijo
possessivo e escaldante, penetrando-me firme e forte.
— Primeira lembrança… — fala em meu ouvido enquanto me ama com
lascívia e paixão, deixando-me sem fôlego.
Desamarra a parte de cima do meu biquíni e se deleita em meus seios
enquanto agarro em seus cabelos. Ele novamente desliza dentro de mim, fazendo
delirar de prazer.
— Vamos fazer tudo o que você fez comigo antes. Quero ter isso gravado em
minha mente para sempre.
Apoio-me em seus ombros, onde cravo minhas unhas ao chegar no meu
clímax com James beijando-me para abafar meus gemidos. Em seguida, ele
chega ao orgasmo e ficamos assim, abraçados e ofegantes, com nossos corações
acelerados. Somente o som das nossas respirações é ouvido na sala. Eu tento
ficar em pé, mas minhas pernas estão bambas.
— Algum problema, morena? — pergunta com um sorriso presunçoso nos
lábios.
— Problema nenhum. Só preciso de um banho!
Ando cambaleando e ouço sua risada atrás de mim. James me segura nos
braços e me leva até o chuveiro.
— Eu também preciso de um banho! — diz, sorridente.
Se isso for um sonho, não quero acordar. Quero dormir para sempre. Meu
James está de volta! Mesmo sem se lembrar, ele está aqui. Meu coração começa
a ter esperanças novamente, de que, mesmo depois de anos, eu posso ser feliz
outra vez.
— Eu te amo, James… — sussurro.
— Também te amo, Lúcia.
Ele me beija e aqui, debaixo deste chuveiro, me dou conta de que meu loirão
realmente me ama. James não lembrou que me amava e sim se apaixonou por
mim outra vez. Ainda que não se lembre, conquistei novamente o seu coração.
Capítulo 14
Deixo Lúcia na cama e vou para o quarto de Jamile. Minha linda dorme
profundamente, também, depois do dia agitado que teve. Sinto sua temperatura
para ver se ela está bem. Quando Jamile era menor, eu acordava na madrugada
só para conferir se estava respirando. Tinha tanto medo de perdê-la, esse hábito
acabou ficando.
Só eu sei quanta aflição senti quando Lúcia se mudou com ela. Várias vezes
fui até a frente daquele prédio só para ficar observando até que as luzes fossem
apagadas. Não foram poucas as vezes em que dormi no carro. Ela é minha luz, o
meu anjinho. Por Jamile eu seria capaz de qualquer coisa. Minha filha é minha
continuação e só quando nasceu finalmente entendi o que minha mãe quis dizer.
Suas palavras nunca saíram da minha mente. “Tudo valeu a pena somente por
você, meu filho.”.
Esse é o maior amor do mundo, o amor por um filho.
— O que está fazendo? — Lúcia aparece na porta do quarto, esfregando os
olhos, usando uma camisola minúscula. Agora reparo de quem nossa filha puxou
isso.
— Só vim conferir se ela estava dormindo bem. — Ando até ela e a abraço,
sentindo seu cheiro bom. — Vamos voltar a dormir, pois amanhã temos que
trabalhar.
Seguimos juntos para a cama e, finalmente, me sinto em paz, mas eu gostaria
tanto de me lembrar dos momentos que vivemos juntos. Essa sensação de vazio
é muito incômoda, uma lacuna que parece que jamais será preenchida.
Infelizmente, só tenho que aprender a viver com isso. Por agora, vou viver o
momento. Estou feliz em finalmente admitir meus sentimentos, só é uma pena
que perdi tanto tempo lutando contra o amor que sinto por Lúcia.
As dores em minhas costas me deixavam com um humor péssimo, os
medicamentos que eu usava também não ajudavam muito. Na próxima semana,
sem falta, irei procurar um médico. Preciso resolver isso de uma vez.
— Ei, está tão pensativo.
— Só pensando que agora tudo parece certo com você e eu aqui nesta cama.
Eu a abraço e ela se aconchega, deixando o pandeirão bem em cima do meu
pau, que já está dando sinal de vida. Só que tenho que me acalmar, já fizemos
amor duas vezes antes de dormir, não quero que Lúcia se sinta pressionada por
mim. Então, só a abraço e tento dormir, o que é bem difícil com essa vontade
que estou dela.
***
Hoje é o dia da consulta que marquei para entregar meus exames. Uma
semana atrás, estive aqui e o médico me pediu uma bateria de exames. Agora
estou com todos eles em mãos e sigo até o consultório.
— Olá, James! Tudo bem? — O médico me cumprimenta. — Você pode
deixar esses exames aqui. — Eu o entrego. — E como tem se sentido com a
medicação que passei?
— Tenho me sentido bem. Sem mudanças de humor e sem dor.
— Mas isso é ótimo! — exclamo.
— Doutor, o único problema é que às vezes me sinto estranho. Minhas mãos
tremem e tenho sudorese.
— Isso é normal, seu corpo estava acostumado com os outros medicamentos.
Você está tendo crises de abstinência. Com o tempo, isso vai passar. Assim que
analisar seus exames, eu ligo para que venha pegar os resultados. Em hipótese
alguma volte com aqueles medicamentos. Caso sinta dor, me ligue que vou saber
o que fazer. Nada de se automedicar. Sabe que correu muitos riscos ao fazer isso,
não sabe?
— Sei sim. Eu me sinto péssimo por isso — falo.
— Basta não repetir o erro. Qualquer coisa me ligue.
— Obrigado, doutor.
Vou para casa do Daniel, onde a Lúcia está com Jamile. Ela está trabalhando
nos arranjos de flores de um casamento e fiquei de cuidar da nossa filha porque
as aulas ainda não começaram.
É finalzinho de janeiro e o Daniel está preparando uma festa surpresa para
Belinda. Todos sabem, menos ela, obviamente. Dia vinte e nove, completa trinta
anos e ele decidiu fazer isso. Vamos combinar tudo hoje, pois ela está atarefada
com os doces do casamento.
— E aí, cara? Onde estão as mulheres? — pergunto.
— Já estão lá na estufa. Você demorou — murmura e me olha com
desconfiança.
— Tinha umas coisas para resolver — respondo.
— Você anda muito misterioso, James. Só espero que não esteja fazendo
nenhuma tolice para perder a Lúcia novamente. Ainda mais agora que,
finalmente, se entenderam.
— Para, cara. Não tem nada errado. O pai já chegou?
— Já. Ele e dona Telma estão nos esperando. Jamile e Thiago estão lá sendo
mimados por eles.
Seguimos até a estufa e quase todo mundo está aqui, menos Fábio e Felipe,
que estão de serviço. As crianças passam correndo por mim, mas não vejo
Jamile.
— Ei, ela está na área de recreação — Lúcia fala, dando-me um beijo.
Após combinarmos todos os detalhes da festa, que será na fazenda, saímos e
notamos que Bel está na porta da cozinha, olhando para todo mundo,
desconfiada.
— O que todos vocês faziam aí na estufa?
— Nada, só estávamos conversando — Dani diz todo atrapalhado.
Acho que esta festa surpresa não vai ser tão surpresa assim. Ele não consegue
esconder nada dela.
— Hum. Sei… — diz e volta para cozinha.
— Droga! — Daniel fala.
— O que foi? — Júlia pergunta.
— Ela está desconfiada. Eu não consigo mentir para ela.
— Mas vai, Dani, não seja frouxo. Da outra vez você estragou tudo — Lúcia
comenta.
— Mas ela tem meios de tirar tudo de mim. Vocês não entendem — diz com
as mãos no rosto.
— E lá se foi novamente a festa surpresa — Larissa diz, indo para a cozinha.
— Ah, Dani, você chama a gente e sempre é o primeiro a estragar tudo. —
Lúcia volta para a estufa.
— O quê? Eu ainda nem disse nada. Por que estão agindo assim? — Tenta se
defender.
— Pai, já se preparem para a festa. Ela vai acontecer mesmo que a Bel
descubra tudo — digo, virando-me para meu pai Josué.
— Eu sei, meu filho. É assim todas as vezes. — Ele se volta para Daniel. —
Não fica assim, meu filho. Eu também nunca consegui esconder nada da Telma.
— Consola Daniel com dois tapas no ombro.
Eu só posso rir de mais uma tentativa frustrada de uma festa surpresa.
— Ei, mas ainda não contei nada! — Dani fala enquanto todos voltamos às
nossas atividades normais.
Jamile está na área de recreação com Thiago e as outras crianças e aproveito
para ir até lá.
— Papai! — Ela vem correndo para me abraçar e a ergo nos braços. Neste
momento, sinto uma dor muito forte nas costas. — O que você tem, papai?
— Nada, filha, você só está ficando pesada. — Deixo-a no chão e me sento
em um banco que encontro por aqui. Essa dor foi muito mais intensa que as
outras. A vontade de aplicar o medicamento antigo me vem, pois era o único que
agia imediatamente sobre a dor. Eu sempre ando com ele, mas resisto, pois o
médico me falou que é muito perigoso. Vejo minha filha olhando para mim
parecendo assustada e me esforço para sorrir. — Volte a brincar, meu amor. O
papai vai ficar aqui olhando vocês.
Ela me dá um beijo e volta a brincar.
— Está tudo bem, amor? — Ouço Lúcia atrás de mim.
— Sim, foi só um mau jeito que deu quando peguei a Jamile nos braços.
— Parece que alguém está ficando velho.
Ela senta sobre minhas pernas e me olha com seus grandes olhos castanhos.
Tenho que me tratar para aproveitar a família linda que Deus me deu.
— Velho? Como se atreve, morena? Hoje à noite, lá na nossa cama, vou te
mostrar o quão velho estou.
— Não me prometa o que não pode cumprir, loirão. Sabe que prometer para
pobre e dever para rico, são as piores coisas que pode fazer. Vou cobrar essa
promessa.
— Nem vai precisar, você vai ver. — Eu a beijo e noto nossa filha aparecendo
rapidamente ao nosso lado, olhando de um jeito sonhador enquanto bate palmas.
— Acho que temos uma plateia — Lúcia comenta e olho para as crianças que
estão encarando nós dois.
***
— Nega, minhas coisas não cabem no armário! Você ocupou todo o espaço.
— Olho dentro do guarda-roupa e me espanto com o monte de coisa que tem
aqui.
— Temos que comprar um armário maior! — observa.
— Maior? Mas onde vamos colocar? Este aqui já toma toda a parede! Você
tem muitas roupas!
— Ah não, James! O que quer? Que eu jogue fora minhas roupas lindas e
maravilhosas? — indaga.
— Não! Acho melhor comprarmos outro armário. Por enquanto minhas
roupas continuam no outro quarto. — Ela me abraça.
— Amanhã mesmo vou procurar um armário novo. É só liberar o cartão de
crédito na minha mão — diz, animada.
— Só quero ver o tamanho do rombo no meu bolso.
— Quem está reclamando do armário é você. Nada mais justo que pague por
um maior.
— Tudo bem! Pode gastar até meu último centavo, afinal tudo que tenho é seu
mesmo.
— Hum… Tudo mesmo? — Ela me dá aquele olhar maroto e me abraça. —
Sabe, a Jamile vai demorar a voltar da escola. Por que não aproveitamos essa
tarde para fazer algo muito, muito gostoso? — Eu a aperto nos braços e a beijo.
— Ei, diz para o seu garotão aí ir com calma! Eu estava falando de brigadeiro de
panela.
— Hã? Brigadeiro? Ah, nega, vai me deixar assim? — Mostro para ela meu
pau.
— Isso é uma tentação, mas agora quero o brigadeiro. É estranho, mas acordei
com uma vontade louca de comer. Quero morangos também. Temos morangos,
não é?
— Não. A Mili comeu os últimos hoje — murmuro.
— Vai comprar? Por favorzinho! Eu quero muito — implora.
— O que eu vou ganhar em troca?
— A minha eterna gratidão?
— Isso é bom, mas ainda é pouco. Quero mais… — Abro um sorriso
malicioso.
— Bem, posso pensar em algo bem melhor… E você vai gostar muito. —
Lúcia aperta meu pau e me beija, deixando-me ainda mais louco por ela. — Mas
primeiro meus morangos.
— Ah, Lúcia, como vou sair assim? — Ela apenas ri. Sua risada me faz ver
que fiz a melhor escolha, pois é o melhor som do mundo, que enche meu
coração de alegria.
Estamos juntos há dois meses e tudo está bem. Amo Lúcia, não tenho dúvidas
de que ela é a mulher da minha vida. Gostaria de lembrar tudo o que vivemos
naquele ano em que fizemos a Jamile, mas Deus não quis assim. Porém, temos
vivido cada dia intensamente, construindo novas e ótimas lembranças. Como a
do dia do aniversário de Belinda, que é claro não foi surpresa, porque o bocudo
do Dani contou a ela.
Estávamos na fazenda e foi muito divertido passar dois dias por lá. Lúcia e eu
fomos cavalgar e pedi a ela que me levasse ao lugar onde fizemos amor no mato,
porque ela fazia tanta questão de falar disso. Aperto os olhos e sorrio ao me
lembrar do dia.
— James, eu não sei chegar lá.
— Não tem problema, nós vamos até a cachoeira.
Deixamos os cavalos por ali e seguimos a pé.
— Está muito quente. Você não quer dar um mergulho? — Lúcia aceitou e
tiramos as roupas rapidamente.
— Ei, loirão, por que está me olhando assim?
— Porque vou fazer amor com você bem aqui.
Foi o que aconteceu. Nós nos amamos ali. Essa agora é uma das melhores
lembranças que eu poderia ter. Nem percebi que fiquei tempo demais parado em
frente aos morangos, só me lembrando daquele dia. Compro logo uma caixa com
as frutas e volto para casa. Sou recebido por um cheiro delicioso de chocolate.
— Hum… Que cheiro bom! — Beijo seu pescoço, aproveitando que ela está
com seus cabelos presos.
— Já está pronto, só vou deixar esfriar. Me dá os morangos. — Lúcia coloca
em uma tigela com água. — Que sensação estranha! Acho vou ter uma coisa se
não comer isso. Só fiquei assim quando estava grávida… da Mili. — Nós
olhamos por um tempo e rimos em seguida. — Será?
— Será? Mas já?
— Bem, temos feito amor sem prevenção nenhuma.
Eu a abraço e me sinto o homem mais feliz do mundo.
— Isso seria maravilhoso! Mais um filho, Lúcia.
Será que foi assim que me senti quando ela disse que estava grávida de
Jamile?
— Calma, James, ainda não sabemos…
— Mas pode ser! — exclamo.
— Minha menstruação está atrasada, meus seios estão maiores.
— Isso eu também percebi — murmuro com malícia.
— Claro que percebeu.
— Vou comprar um teste. — Viro-me para sair.
— Espera! Vamos comer primeiro. Quando formos pegar a Mili na escolinha,
nós compramos. — Ela começa a retirar os morangos da tigela. — Que
coincidência, da outra vez a Bel também estava grávida. Se estivermos
esperando mesmo um bebê, vai nascer dois meses depois do dela igual a Jamile
e as gêmeas.
Ela come o brigadeiro com os morangos e eu como só um pouco, pois não sou
muito de comer doces. Assim que Lúcia acaba de comer, corre para o banheiro e
vomita tudo.
— É… Não há mais dúvidas, estou grávida com certeza! — Ela escova os
dentes. — Vamos ter mais um filho, loirão. Está pronto para isso?
— Mais que pronto. Isso é maravilhoso. — Nós nos beijamos. — A Mili vai
ficar feliz por finalmente ter o irmãozinho que pediu.
— É verdade… — A campainha toca. — Quem será?
Nós vamos juntos abrir a porta.
— Rose? O que faz aqui? Ainda mais com a tia Deise e a Janaína!
Lúcia está mais branca que cera e percebo certo nervosismo em sua voz. Rose
eu conheço, pois é a irmã dela, mas essa tia Deise e Janaína não faço ideia. Lúcia
nunca me falou delas, pelo menos não que eu me lembre.
— Por que as trouxe aqui? — Lúcia fecha a cara e parece irritada.
— Lúcia, precisamos conversar… — Rose fala.
— Com você eu até falo, mas o que essas duas fazem aqui na minha casa?
Não tenho nada para falar com elas.
— Por favor, minha filha…
— Não me chame de filha! James, manda elas embora! — Lúcia me pede e
vai correndo para o quarto.
— Por favor, vão embora… Ela não quer falar com vocês.
Rose acena e vai embora com as mulheres.
— Meu amor, você está bem?
Eu a encontro deitada na cama e vou até lá a abraçar.
— Só me abraça, James!
Fico aqui com ela em meus braços sem dizer nada, pois sei que o que Lúcia
quer é apenas meu abraço.
Capítulo 15
Deixo Lúcia dormindo e vou até a escolinha pegar nossa filha. Na volta,
encontro Rose parada em frente ao prédio.
— James! Tudo bem?
— Tudo bem, Rose.
— Eu soube que você e a Lúcia se entenderam!
— Oi, tia! — Mili aparece e a abraça.
— Oi, meu amor! Estava morrendo de saudade!
— Eu também! — Jamile se vira para mim. — Papai, por que a tia Rose não
entra? Eu preciso fazer xixi.
— Tudo bem! Vamos logo, meu amor.
Mili vai correndo para o banheiro e Rose entra.
— James, eu não queria causar um constrangimento, mas elas insistiram e…
— Rose? Por que voltou? Elas estão com você? — Lúcia pergunta quando a
vê na sala.
— Não, minha irmã, elas já foram embora. — Minha nega solta o ar
pesadamente.
— Por que as trouxe? Agora elas sabem onde moro! Eu não queria vê-las
nunca mais! — Lúcia parece muito alterada.
— Fique calma, meu amor. Isso não fará bem para o bebê — digo, abraçando-
a.
— Bebê? Você está grávida? Oh, minha irmã, estou tão feliz por você!
Finalmente sua vida está entrando nos eixos. — Solto Lúcia do meu abraço e
Rose a aperta nos seus braços.
— E agora que estou tão feliz a tia Deise aparece com aquela nojenta da
Janaína.
— Eu sinto muito! Sei o quanto você sofreu e nunca vou me perdoar por ter te
deixado lá. Era jovem e imatura, mas pensava em você. Quando voltei, você já
não estava mais lá. Tia Deise não quis me dizer onde te encontrar.
— Não pense mais nisso, eu já te perdoei. Você também passou por muita
coisa. Se eu estivesse ao seu lado, minha vida não teria sido diferente do que
passei ao lado de tia Deise.
Ouço as duas conversando e não entendo nada. Será que Lúcia havia me
contado sobre sua vida? Quero saber tudo. Preciso conhecê-la novamente.
— Nunca vou me perdoar pelo que você passou! — Rose está chorando.
— Rose, o que você poderia fazer aos dezesseis anos? Com a sua idade, você
era menor que eu aos treze. Até hoje ainda é uma anã perto de mim.
— Só você para fazer graça com essas coisas — Rose diz e Lúcia a abraça. —
Elas me procuraram há dois dias. Tia Deise está passando por necessidades, ela
perdeu três filhos para o tráfico, a única que sobrou foi Janaína. Só que ela
também se envolveu com um traficante e agora está fugindo dele. Meu marido já
disse que não podemos abrigá-las. Sabe que tenho quatro filhos e pouco
dinheiro.
— O que quer que eu faça? Que as acolha em meu lar? Aquelas cobras?
Nunca! Eu nunca vou perdoar tia Deise. Ela me espancava! Eu era uma escrava
naquela casa! Quando eu contei a ela o que o marido dela me fez, disse a dona
Hilda que eu era uma oferecida, que a culpa era minha, que eu era apenas um
estorvo. Fiquei vagando por dias com sede e fome. Quer o quê? Que eu as
ajude? Esqueça tudo? Eu não posso.
Lúcia está muito agitada, andando de um lado para outro e gesticulando
muito. Eu aprendi a reconhecer os sinais de quando fica nervosa.
— Eu entendo! Quis apenas tentar… Vou para casa. Você já teve emoções
demais por hoje. Tchau, minha irmã. — Rose dá um beijo em Lúcia. — Tchau,
James. Cuida bem dela.
— Tchau, Rose. Pode deixar. Eu a acompanho até a porta.
Quando volto, Lúcia está sentada no sofá com o rosto entre as mãos.
— Meu amor, você está bem? — pergunto, aproximando-me dela.
— Só um pouco chateada. Essas lembranças são dolorosas demais. — Eu a
abraço. — Os maus tratos, a fome, o medo de levar uma surra sem nem saber o
motivo.
— Eu não sabia…
— Você sabia. Eu te contei, só não se lembra. Somos tão parecidos, James.
Você dizia que eu era a sua metade, que éramos o complemento um do outro.
— Eu tinha razão, você é o que me complementa.
— Mamãe, você está chorando? — Jamile vem até nós.
— Não, meu amor, são lágrimas de felicidade. Sabe por quê? — Lúcia a senta
em seu colo. — Lembra que você queria um irmãozinho?
— Sim, mamãe, mas eu quero uma irmãzinha — diz com o dedinho em riste.
— Bem, isso nós teremos que esperar para ver, mas o seu irmãozinho já está a
caminho. Ele já começou a crescer aqui dentro da mamãe.
Lúcia descansa a mão em seu ventre.
— Oba! Eu vou ganhar uma irmãzinha! Yupi! — Ela sai saltitando pela casa.
— Esqueça todas as suas tristezas do passado, pois agora é só felicidade.
Somos só eu, você e nossos filhos.
Eu a beijo com todo amor que sinto.
***
— James, anda logo! Estou atrasada. Ainda vamos pegar trânsito. Lúcia está
agitada porque hoje ela tem um casamento para organizar.
— Mamãe, onde está minha mochila? — Jamile entra no quarto com os
cabelos bagunçados e a roupa suja de achocolatado.
— Filha, olha seu estado! Hoje o dia começou bem! — Lúcia fala,
desanimada.
— Calma, meu amor, eu troco ela. Vem, filha!
Levo Mili para seu quarto e a troco.
— Desculpa, papai, aquele elástico estava fazendo doer minha cabecinha—
reclama, coçando o local em que antes estava um rabo de cavalo.
— Está bem. Não vamos prender o cabelo hoje. Eu gosto deles assim,
selvagens.
— Igual ao da mamãe.
— Sim. Quer saber de uma coisa? Eu amo passar as mãos nos cabelos dela e
sentir o perfume — digo e ela sorri.
— Será que minha irmãzinha terá os cabelos iguais aos da mamãe também?
— pergunta, curiosa.
— Eu espero que sim.
— Estão prontos? James, os cabelos dela! — Lúcia reclama.
— Amor, ela está reclamando que a cabeça dela dói.
— Tudo bem. Vamos logo, pois meu dia hoje será cheio.
No trabalho, Lúcia vai logo falar com Belinda. Eu fico na sala com Daniel.
Hoje é sábado e é dia de jogo, então combinamos com os rapazes de assistir
aqui. Mas nem me sento direito e já ouço os gritos de Lúcia vindos do escritório.
— EU VOU EMBORA AGORA MESMO! — Ela sai e pega a bolsa. Uma
senhora logo aparece atrás dela.
— Amiga, não faz isso! Eu não sabia… — Bel choraminga.
Então vejo que é a tia de Lúcia. Logo atrás aparece a prima dela, vindas do
escritório.
— Essas… Essas… Pessoas não podem estar no mesmo lugar que eu. Bel,
não dá!
— Mas Lúcia, minha filha, precisamos do emprego. Nem sabíamos que você
trabalhava aqui… — A tia de Lúcia tenta convencê-la.
— Não me chame de filha! E eu não trabalho aqui! Sou uma das donas! — As
duas fazem cara de espanto. — Quem diria, não é? A menina que era um
estorvo, que você adorava espancar sem motivos, hoje é dona do próprio
negócio. Veja só, você está pedindo emprego para mim. É uma pena que eu não
possa aceitar sua mão de obra! — Lúcia faz um gesto de descaso com a mão.
— Mas Lúcia, estamos passando fome! — A prima é quem fala agora.
— Eu passei fome! Não, não, passei muita fome. Via vocês comendo
enquanto meu estômago doía tanto que às vezes chorava baixinho. Ainda tinha
que lavar a louça que sujavam. Nunca vou perdoar vocês! — Lúcia sai em
direção ao nosso carro e eu a sigo.
— Nega! Você não pode ficar nervosa!
— O que elas querem? Me desestabilizar? Elas são más, James! Não desejam
meu bem. Eu vi isso nos olhos de Janaína quando disse que a empresa era
minha. Vi a inveja estampada ali. Quero as duas longe de mim, longe da nossa
família. Eu sinto que não devo deixá-las se aproximarem de mim. — Eu a abraço
e percebo o quanto está alterada. — Me leva daqui, por favor.
— Mas e o casamento?
— Os arranjos estão prontos, as meninas sabem o que fazer. Não estou me
sentindo bem.
— Tudo bem. Vou pegar a Mili. — Lúcia entra no carro e me espera enquanto
vou pegar nossa filha.
— Olha, papai, essa é a Janaína, minha prima. Ela se parece com a mamãe,
você não acha? — Na verdade, Janaína tem apenas os cabelos parecidos com os
de Lúcia. — Ela pode ir nos visitar lá em casa?
— Meu amor, a sua mãe está esperando no carro. — Pego em sua mão.
— James? Esse é o seu nome, não é? — Janaína segura em meu braço. —
Converse com Lúcia, por favor. O que aconteceu no passado já tem tanto tempo,
eu era uma criança. Mamãe já pagou caro por tudo. Perdeu três filhos e o traste
do meu pai ainda está na cadeia. Realmente precisamos desse emprego.
— Ouça, minha mulher está grávida. Não quero que passe nervoso.
— Por favor, eu não insistiria se não precisasse mesmo. Minha mãe está
doente, mas ainda assim insiste em trabalhar. — A prima de Lúcia começa a
chorar e me abraça. Não sei o que fazer. — Me perdoe, mas a nossa situação é
precária. Esse emprego seria a nossa salvação. Agora não sei o que fazer.
Jamile olha para mim com os olhinhos cheios de lágrimas ao ver a mulher
desmanchando-se.
— Não chora, querida. Tudo vai ficar bem — diz, tentando acalmar minha
filha.
— Eu vou falar com ela, mas não garanto nada.
— Obrigada! — Janaína me beija no rosto. — Me desculpe! Eu… acabei me
empolgando.
— Tudo bem. Agora preciso ir.
Volto para o carro com Mili e a prendo na cadeirinha. Nós chegamos em casa
rapidamente e Lúcia já corre até o banheiro
— Amor, isso é por causa do nervosismo. — Seguro seus cabelos enquanto
ela vomita.
— A mamãe está dodói? — Mili entra no banheiro e faz uma cara de
preocupada.
— Filha, vai lá para a sala, por favor. Daqui a pouco vamos lá, OK? — Ela me
obedece. Lúcia ainda está ainda vomitando e começa a suar frio. — Amor, acho
melhor irmos ao hospital. Sua pressão está caindo.
— Não precisa, já me sinto melhor. — Eu a ajudo a ficar de pé e ela escova os
dentes. — Eu nem pude contar a novidade para minha amiga. Aff! Aquelas
mulheres são duas cobras.
— Mamãe! A tia Bel tá aqui! — Jamile grita da sala.
— Você realmente achou que ela ficaria em casa? Vocês são como irmãs! —
digo ao ver a cara de surpresa de Lúcia.
— Vamos até a sala.
— Lúcia, minha amiga! Por que saiu daquele jeito? Eu jamais as contrataria
sem a sua aprovação! Juro que não sabia quem elas eram. As duas chegaram e
me contaram que estavam passando por necessidades, que precisavam do
emprego e como estamos precisando de pessoas para servir os convidados…
Mas a última palavra é sua. — Bel fala tudo de uma vez.
— Filha, vai para o seu quarto. Vamos ter uma conversa de adultos e você não
pode ouvir, tudo bem? — Lúcia diz.
— Sim, mamãe. — Jamile vai correndo para o quarto.
— Desculpe, Bel, mas você melhor do que ninguém sabe o quanto sofri.
— Mas foi há tanto tempo, Lúcia! E se elas se arrependeram?
— Isso nunca! Elas são más! Acreditem em mim, elas nunca vão mudar! —
Minha morena se exalta.
— Lúcia, sua prima falou comigo — comento.
— É o quê? Eu não acredito! Aquela falsa! Ela encostou em você? — Lúcia
aponta o dedo para mim.
— Bem, ela chorou e disse que estão passando necessidade, que precisam do
emprego. Disse também que, na época, era apenas uma criança e não sabia o que
fazia.
— É claro que ela se fez de santa! Ela tinha quinze anos, não era tão criança.
— Lúcia, você teve a sorte de encontrar a dona Hilda. A sua tia perdeu três
filhos, só lhe restou Janaína… — Bel ainda tenta comover Lúcia.
— É uma pena… Escute, Bel, não sou como você que perdoou o que Aurora
fez. Ela quis roubar Thiago, quase a fez perder suas meninas e, ainda assim, você
a perdoou. Sem falar na mãe do Daniel que te tratou tão mal. Você é uma
coração mole, mas eu não sou.
— Sim, tenho o coração mole! É por isso que sou tão feliz! Não deixo que as
tristezas e mágoas fiquem me corroendo por dentro. Meu coração só carrega
coisas boas. Agora que trago dentro de mim mais um pedacinho de Dani e meu,
quero que ele sinta só o amor dentro de mim.
De repente, Lúcia começa a chorar.
— Eu também estou grávida…
— Isso é uma ótima notícia. — Bel a abraça.
— Sei que vocês têm razão! Meu bebê só deve sentir amor vindo de mim, mas
aquelas duas me despertam os piores sentimentos. É inevitável.
— Amor, só faça aquilo que se sinta bem. — Sento-me ao seu lado e seguro
sua mão.
— O que me faria bem seria aquelas duas bem longe de mim, mas vocês têm
razão, elas estão passando necessidade. A única coisa que peço é que elas falem
comigo o menos possível.
— Posso contratá-las? — Bel pergunta.
— Sim… Só espero não me arrepender disso.
— Você está mostrando a elas o quanto é superior, que tem sentimentos
nobres.
— Bel, não começa com suas frases de livros de autoajuda! Contrata as cobras
e fica de olho para não ser picada. Saibam que só estou fazendo isso para que
elas saiam de uma vez da casa da Rose.
— Nós sabemos! Nunca pensamos que fez isso por bondade ou pena — Bel
completa. — E agora? O que acha de irmos? Temos um casamento para
organizar.
— Mas você estava vomitando… — digo.
— James, isso vai acontecer com frequência. É normal no início da gestação
— Lúcia explica.
— Teremos nossos bebês com pouco tempo de diferença, amiga! Isso é ótimo.
As duas se abraçam como as quase irmãs que são.
***
— Estou exausta! — Lúcia se joga no sofá. — Ainda bem que não precisei
ficar para a cerimônia, essa parte é com a Júlia, Larissa e a Roberta.
Tiro suas sapatilhas e faço uma massagem em seus pés que descansam sobre
minhas pernas
— Eu daria qualquer coisa por um banho de banheira.
— Qualquer coisa?
A ideia me anima.
— James, seu safado, está querendo se aproveitar de mim — fala, abrindo um
sorrisinho de malícia.
— Sempre que deixar, eu vou me aproveitar de você, morena!
Beijo seu pescoço e já sei onde faremos amor desta vez.
Capítulo 16
Bem, por enquanto, tia Deise e Janaína têm apenas trabalhado na empresa.
Evitam se aproximar de mim, assim como pedi. Porém, sei que não posso me
descuidar delas nem um segundo. Sinto que há algo errado e de maldoso no
olhar de Janaína.
Ainda me lembro das palavras de dona Hilda “Nunca se esqueça do lodo do
qual Deus te tirou.”. Hoje, essa lama insiste em rastejar novamente para minha
vida, mas eu não vou permitir.
Após mais um dia cansativo no trabalho, me despeço de todos, menos de tia
Deise e Janaína, e vou pegar Mili na escola. Acabo atrasando-me, pois o trânsito
está uma loucura. Telefono para a escola e as professoras deixam Mili esperando
por mim no pátio. Chego o mais rápido que consigo e vejo que a zeladora está
com ela.
— Meu amor! Me perdoe!
— Mamãe, você demorou! — Ela vem arrastando sua mochila de rodinhas
com uma tromba enorme no rosto. Como se parece com o pai!
— Ei! Mas o que é isso, mocinha? Se comporte melhor com sua mãe! —
Chamo sua atenção, pois um filho deve ser repreendido sempre que preciso. Isso
também foi dona Hilda quem me ensinou. Ela falou que, quando eu fosse mãe,
deveria ser amorosa, porém firme, pois um filho deve sempre respeitar os pais.
Sigo cada uma das lições que a senhora me ensinou. — Venha até aqui.
Mili vem com a cabeça baixa e eu me agacho para ficar na altura de seus
olhos.
— Olhe para mim! — Ela ergue seu olhar e me encara. — Jamile, sou sua
mãe e não uma amiguinha. Lembra o que eu disse?
— Sim… O papai e a mamãe me amam e devo respeitar vocês, pois esse é um
mandamento de Deus. É o único que contém promessa. — Repete as palavras
que lhe ensinamos. — Nunca devo esconder nada ou ficar brava com vocês.
— Isso mesmo. Então você acha certo fazer birra?
— Não… Desculpa. — Ela me abraça.
— Está tudo bem. Vamos para casa. — Olho em seu dedinho e nele há um
pequeno anel. — Que anel é esse, meu amor? — Ela esconde a mão atrás de si.
— Jamile, o que acabamos de falar? — Minha filha reluta em falar.
— Eu ganhei! — diz após um tempo.
— De quem?
— Do vovô!
— Seu avô Josué? Mas quando ele te deu? — pergunto.
— Não foi o vovô Josué! Foi o meu outro vovô.
De repente, meu coração dá um salto. O único avô que Jamile conhece é o
Josué.
— Meu amor, você não tem outro avô! Explica isso para mim.
— Tenho sim, mamãe! Ele se parece com o papai. Me disse que é meu
vovozinho, que sou muito linda e que me ama muito.
Oh meu Deus! Quem será essa pessoa?
— Quando o homem disse isso, minha linda? — pergunto com o coração
acelerado.
— Quando eu estava sentada ali esperando você chegar, mamãe. — Olho por
todos os lados a procura de quem quer que seja. Mas como vou saber se esse
homem se encontra por aqui se nem sei quem ele é?
— Entra no carro, meu amor… — Prendo-a na cadeirinha e ligo rapidamente
para James.
— Oi, amor. Algum problema? Você nunca me liga quando estou no trabalho.
— James, amor, pode vir para casa? É urgente.
Estou aflita demais. Quem será esse estranho que está rondando minha filha?
— O que aconteceu? É a Mili? Ela se machucou?
— Não, ela está bem.
— Então é o bebê? Você está sentindo dor? Chego logo em casa!
— James, não tem… James?
Desligou. Melhor assim, eu falo com ele em casa com mais calma. Chego
muito rápido e James já está aqui, ainda usando o uniforme de bombeiro.
— Ei, o que houve? — Ele se aproxima e me abraça. — Você parecia aflita.
— E estou!
— Papai! — Mili corre e o abraça.
— Minha princesa, como foi seu dia?
— Eu vi o vovô.
— Mas o pai está lá fazenda — James comenta.
— Não o vovô Josué, meu outro vovô.
Quando ouve isso, James fica sem cor.
— Quando você viu seu avô? — ele pergunta.
— Hoje lá na escola! Ele me deu este anel. Não é lindo?
— Tira agora! — James diz, segurando sua mãozinha e tentando puxar o anel
do dedo de nossa filha.
— Não! Eu não quero tirar! Ele é bonito. — Ela começa a chorar. — Foi meu
vovozinho que deu! Papai, está doendo. Ai, ai! Está doendo!
— James! James! — chamo, mas ele parece transtornado. — James, para! —
Seguro seu braço com força.
— Está machucando ela! Larga ela! — Ele a solta e Mili corre para o quarto.
— O que deu em você? Quase quebrou o dedo de nossa filha!
James anda pela sala, passando a mão entre os cabelos.
— Aquele desgraçado voltou! — diz, bravo.
— Quem?
— Meu pai!
— Eu achei que seu pai estivesse morto. — James olha para mim meio
desesperado.
— Para mim é como se estivesse. Ele é um maldito que desgraçou a vida da
minha mãe. Por culpa dele ela morreu tão jovem. — James senta no sofá e
esconde o rosto entre as mãos. — Como ele encontrou nossa filha? Não posso
permitir que ele chegue perto dela outra vez. Aquele homem é um assassino.
— Oh meu Deus, James! Por que você nunca me contou isso? Nossa filha
corre perigo?
— Não, vamos cuidar para que ele não se aproxime mais. Vem cá. — Ele me
abraça. — Não fique preocupada, vamos ficar atentos.
— Agora você deve falar com Mili. Não sei como explicar isso a ela.
— Vou até lá…
— Vou com você.
Quando abrimos a porta, vejo Mili deitada na cama olhando seu anel. Assim
que nos vê, esconde a mão embaixo de seu corpo e vira para o canto, dando as
costas para nós.
— Filha, podemos conversar? — James começa.
— Papai é mau! Machucou minha mãozinha.
— Me perdoe, meu amor… Eu nunca machucaria você. Olhe para mim. —
Ela vira e seus olhos estão cheios de lágrimas. — Você me perdoa?
— Posso ficar com meu anelzinho? — Jamile é esperta e sabe como dobrar o
pai.
— Pode sim, mas lembra o que falamos sobre falar com estranhos?
— Mas ele é meu vovozinho! Tinha uma foto com você pequenininho, papai.
A vovó Lucinda estava com ele. — Ela conhece a avó por uma fotografia que
James mantém na sala. — Os vovôs são bonzinhos, não são?
— Quero que me prometa que nunca mais vai falar com aquele homem. Ele
não é seu avô. Promete para o papai. — Nossa filha parece confusa.
— Por que, papai?
— Ele é um homem mau. Não podemos ficar perto dele. Por favor, promete,
filha.
— Tudo bem, papai, eu prometo.
— Obrigado, meu amor. Agora dá um abraço no papai.
Mili o abraça e James a leva até a sala. Enquanto preparo o jantar, Jamile vai
até o banheiro. Permaneço concentrada no que estou fazendo por um tempo.
— O jantar está quase pronto. Veja se a Mili já terminou o banho dela, James.
— Estou indo.
Logo os dois voltam e Mili está com a toalha na cabeça.
— Estou com fome! — fala, sentando à mesa. O anel ainda está em seu
dedinho e ela não para de olhar para ele. Percebo o quão desconfortável James
está com essa situação, mas dessa vez se controla.
Após pôr Mili na cama, James me beija e segue novamente para o quartel.
— Até amanhã.
Nós nos despedimos e eu vou dormir, porém demoro a pegar no sono, pois
não consigo tirar o que aconteceu essa tarde da minha cabeça.
***
Estou no trabalho e hoje é inevitável que eu me esbarre com tia Deise e
Janaína, pois teremos um casamento e elas trabalham servindo os convidados.
— Amiga, eu sei que você não queria estar perto delas, mas é o casamento
mais importante que já fizemos! É a filha do governador e preciso que tudo dê
certo. — Bel já vem se justificar.
— Como se eu não soubesse disso, Bel. Não fiquei assim. Acho que posso
aturar essas duas por algumas horas.
— Somos convidadas e eu já deixei Larissa a par de tudo. Qualquer coisa, ela
vai nos avisar.
— Ela não foi convidada também?
— Foi, mas como meu irmão vai estar de serviço, ela preferiu ir na condição
de organizadora. Roberta e Júlia também. Felipe e Kléber estarão trabalhando.
Eu contratei duas babás para ficar de olho em nossos pimpolhos.
— Ótimo, assim fico mais tranquila.
James e Daniel estão usando a farda oficial. Não é por nada não, mas meu
loirão fica lindo demais assim.
— Tudo certo! Vamos? — ele pergunta quando se aproxima.
— Sim, meu loirão. Tudo certo.
— Você está linda! — fala em meu ouvido. — Espero que essa festa não
demore muito. Não vejo a hora de foder você ainda nesse vestido.
Sinto meu corpo inteiro se arrepiar com suas palavras. Eu que não vejo a hora
de voltar para casa! Após a bela cerimônia, seguimos para a recepção, onde dou
de cara com Janaína servindo os convidados. Passo por ela sem olhar muito.
James e eu seguimos até a nossa mesa com Dani e Bel.
— Foi lindo, não foi?
— Ah Bel, você acha todos os casamentos lindos! — exclamo.
— Lúcia, eu amo casamentos. Por falar nisso… Quando vamos organizar o de
vocês? — dispara.
— Que bom que tocou no assunto — James fala, tirando uma caixinha do
bolso. — Creio que chegou a hora deste anel voltar para sua mão. Lúcia, quer se
casar comigo?
Estou tão emocionada e surpresa pelo momento que nem consigo responder.
— Você demorou tanto a pedir que a Lúcia não vai querer mais — Daniel
brinca.
— Imagina! É claro que sim! — Meu loirão encaixa o anel em meu dedo e o
beija.
— Agora sim tudo está no lugar! — diz.
Para mim só falta a memória dele voltar. James teve alguns flashes de
lembranças, mas diz que tudo é muito confuso. Talvez ele nunca lembre mesmo
e eu devo me conformar. Afinal, o que é um ano comparado a vida toda ao lado
dele? Pelo menos ele não perdeu a vida. As lembranças de um ano são um preço
muito pequeno por uma vida de felicidade com meu amor.
— Oun, amiga! Finalmente! — Bel me abraça e, neste momento, Janaína
aparece na nossa mesa.
— Meus parabéns, prima! Finalmente conseguiu amarrar o seu tenente. Na
primeira gravidez você não conseguiu, agora você fez direitinho.
— O que quer dizer com isso, Janaína? Acha que preciso de uma gravidez
para segurar James?
Já fico irritada.
— Imagina! Você entendeu errado! Só que Rose me disse que James falou
para você que não queria se casar, aí você engravidou e ele te pediu em
casamento. Depois, ele perdeu a memória e agora a história se repete. Filhos são
mesmo uma bênção. São capazes de unir aquilo que não tinha mais volta. —
Dizendo isso, a cobra sai.
— Eu não disse? Essa daí morre de inveja! Se ela passar perto de um pé de
arruda, a planta morre na hora. Está repreendido! — digo, indignada.
— Calma, amor, não vamos estragar nossa noite. Vem dançar. — James me
beija e seguimos para a pista de dança.
Após muitas músicas, que fazer meus pés doerem muito, decido parar.
— Bel, vamos ao banheiro?
— Por que vocês mulheres sempre vão acompanhadas ao banheiro? — Dani
pergunta.
— Solidariedade feminina — Bel responde e pega sua bolsa.
— Amiga, estou muito cansada! Essa gravidez está bem diferente das outras.
Sinto dores o tempo todo e um cansaço… Só penso em dormir. Vou convidar o
Dani para a gente ir para casa! — Bel fala, reclamona como sempre.
— Vamos, sua velha. Nem parece que só tem trinta anos — implico.
Saímos do banheiro e não é que dou de cara com James sentado na cadeira
com um pé feminino apoiado em sua perna? Não é um pé qualquer, é o de
Janaína. Ela está sentada na outra cadeira enquanto James a examina.
— Ah, mas eu vou matar aquela oferecida! Ela está querendo roubar meu
homem!
Enquanto ando, pareço uma locomotiva desgovernada. Quero estrangular
Janaína.
— Calma, amiga, está difícil andar com esse salto! — Bel me segue.
Ela me vê antes de James e se aproveita para levantar o vestido e se insinuar
para o meu tenente. É hoje que faço picadinho dela. E de James junto! Como ele
não percebe essas coisas?
— O que está acontecendo aqui hein, James?
Assim que pergunto, ele solta o pé de Janaína e fica em pé.
— Amor, ela torceu o tornozelo. Daniel foi pegar gelo.
— Hum! E você se ofereceu para segurar o pé dela e nem notou que o vestido
dela subiu?
— Amor, eu só quis ajudar… — Tenta se justificar.
— Ótimo! Então continua ajudando que eu vou dançar. Faz aí o seu trabalho
enquanto eu me divirto.
Ando, encontrando um cara qualquer no caminho, e o convido para dançar. Se
James pensa que vou aturá-lo ajudando a jararaca da minha prima, está muito
enganado.
Estou dançando uma música lenta e olho para James, que continua a cuidar do
tornozelo de Janaína enquanto Daniel o ajuda. Vejo quando olha para mim e
aproveito para provocá-lo. Abraço mais o jovem que dança comigo. Janaína faz
manha para chamar a atenção de James, que não tira os olhos de mim. Daniel
cochicha alguma coisa no ouvido dele, que arregala os olhos e anda em minha
direção.
— Lúcia, acho que já deu! Com licença, posso ter minha mulher de volta? —
pergunta ao moço, que rapidamente me solta.
— Já terminou de cuidar da cobra? Eu nem sabia que cobra tinha pé.
— Nega, para com isso! Só tenho olhos para você.
James tenta me abraçar, mas me esquivo e ando em direção à nossa mesa.
— Os olhos são para mim, mas as mãos estavam na perna da minha prima. Eu
também só tenho olhos para você, mas posso encontrar outras mãos para me
tocar também — provoco.
— Lúcia, nem pense nisso!
— Hum… Acho que já encontrei alguém que pode manter as mãos em mim e
não na minha prima! — Escolho um homem e sigo em sua direção, mas, de
repente, sinto meus pés saindo do chão e meu corpo sendo jogado sobre os
ombros de James. — James, me solta!
Soco suas costas, mas não adianta.
— Olha o vexame! — resmungo.
— Não ligo para vexame, só ligo para você! Agora mesmo vou te levar para
casa e mostrar o quanto só tenho olhos para você. E todo o resto do meu corpo
também. — Ele me deixa sobre meus pés e abre a porta do carro. — Entra.
— Não! Hoje vou dormir lá na Bel.
— Entra logo no carro, Lúcia…
— Já falei que não — resmungo.
— Se você não entrar, eu te levo sobre os ombros até nossa casa. Você escolhe
— fala e já vem para me agarrar.
— Está bom! Está bom! Mas só vou porque não quero mais passar vergonha.
Sento-me no banco e ele prende meu cinto, entrando no carro em seguida.
— Agora vou mostrar para você o quanto te amo. Garanto que nunca mais
você vai duvidar de mim…
Essa voz autoritária me derrete toda. Minha calcinha já era. Sei que vou amar
tudo o que está por vir o resto da noite.
Capítulo 17
Meu pai explicou a sua situação para Jake, que prometeu investigar junto com
Alessandro Baker o paradeiro de Gerson. Eles são bons nisso, então sei que tudo
vai dar certo.
Rose chega com Jamile.
— Mamãe! Que saudade! — Ela vem correndo e se joga nos braços de Lúcia.
— Meu amor, eu também estava com saudade. — Jamile vê meu pai e fica
olhando para ele sem sair do lugar. Eu sei que ela quer ir até o avô, mas como
me fez uma promessa está esperando que eu dê minha permissão.
— Filha, pode dar um abraço no seu avô… — digo.
— Verdade? — Ela anda bem devagar e seu olhar intercala entre meu pai e eu.
Quando finalmente chega, abraça o senhor, que chora muito enquanto sente o
cheiro dos cabelos de minha filha da mesma maneira que eu costumo fazer.
— Agora não vamos nos separar nunca mais, meu amor… — ele diz e Mili
seca as lágrimas dele com seus dedinhos gorduchos. Noto que em sua mão ainda
está o anel que ele lhe deu, mesmo ficando folgado no seu dedo, nossa filha não
o retira de maneira alguma.
Incrível como se apegou a ele em tão pouco tempo.
— Não chora, vovozinho. Agora tudo vai ficar bem. Não é mesmo, papai? —
Olha para mim.
— Sim, meu amor. Tudo ficará bem.
É o que eu espero.
Mili brinca com meu pai e Lúcia prepara o nosso jantar. Jake não quis ficar,
pois Bella, sua esposa, é muito brava e ciumenta. Eu conheço a peça. Os dois se
conhecem desde crianças, mas Bella é mais velha e isso a deixa bastante
insegura, apesar de Jake amá-la muito.
Depois do jantar, meu pai se despede e promete a Mili que virá mais vezes
para visitá-la. Depois de dar um banho nela, eu a levo para a cama e nossa
princesa dorme assim que começo a contar uma história.
— Ela finalmente dormiu.
Entro no quarto e Lúcia está olhando-se no espelho, medindo o tamanho de
seu ventre. Quero gravar essa cena em minha mente e nunca mais esquecer.
— Por que está me olhando assim? — Lúcia vira para mim e fico ainda mais
abismado em como está linda. Ter meu filho crescendo em seu ventre me faz
sentir ainda mais apaixonado por ela. Eu queria me lembrar, mas hoje tenho
certeza de que foi exatamente assim que me senti quando ela esperava Jamile.
— Só constatando o quanto amo você. Está linda grávida!
Ando até ela e a beijo.
— Estou enorme, isso sim! Só penso no dia que esse menino nascer, ele vai
pesar uns cinco quilos. Vai acabar comigo, James. Olhe para mim. Estou no
quinto mês e já estou uma bola! Minha barriga tinha esse tamanho quando eu
estava no oitavo mês de gestação de Jamile.
— Para com isso. Nosso filho vai ser lindo e você não está parecendo uma
bola, está linda.
— O que você quer, hein? — pergunta, desconfiada. — Tantos elogios de uma
vez… Isso está me soando chantagem.
— Mas o que é isso? — Beijo seu pescoço cheiroso. — Um homem não pode
elogiar a mulher amada? — Outro beijo. — Sem ter segundas intenções?
Eu a beijo novamente e ela já está derretendo-se em meus braços.
— De você espero segundas, terceiras e até mesmo quartas intenções. — Ela
envolve meu pescoço com os braços. — E quer saber de uma coisa? — Beija a
ponta do meu nariz. — Eu adoro isso em você.
Beijo-a e meu corpo reage imediatamente a ela. Todos os meus sentidos estão
acordados, porque ela é tudo para mim. É a luz dos meus olhos, o perfume
preferido do meu olfato. Sua voz é o som preferido da minha audição, a pele
suave e macia é a textura predileta dos meus dedos e o seu sabor é o melhor e
mais agradável ao meu paladar.
Quero amá-la bem devagar e com delicadeza, mas basta sentir o toque de sua
pele e o sabor dos seus lábios para que meu corpo fique ardendo de desejo e
tesão por ela. Aquilo que era para ser doce e delicado se torna tórrido e
escaldante.
Retiro sua camisola e posso ver seu ventre crescido. Eu a acaricio e sinto meu
filho se mexer. Meu coração se enche de ternura e me sinto ansioso para saber
logo como será o seu rostinho. Seu cabelo será como o meu ou como o de
Lúcia? E seus olhos? Serão castanhos ou verdes?
— James, ficou calado de repente…
— Estou imaginando como será nosso filho. Não vejo a hora de segurá-lo em
meus braços. Eu te amo ainda mais por você me dar mais esse presente.
— Sinto que ele vai parecer comigo, já que Jamile veio igual a você.
— Se for assim será muito bonito. Vai pegar muitas garotas!
— Você quer que seu filho seja um puto como você foi, seu safado!
Vira de costas e a visão dessa bunda linda me deixa ligado. Eu a abraço pelas
costas e esfrego meu pau para que ela perceba o quanto a desejo.
— Mas agora sou o seu safado! O seu puto. Estou louco para enfiar meu pau
nessa boceta gostosa. — Beijo seu pescoço, descendo minha mão por seu ventre
e pelo elástico de sua calcinha, sentindo seu calor e umidade. Lúcia arfa com o
contato da minha mão com sua boceta. — Toda molhadinha para mim, nega…
— Ai, James, com você me falando essas coisas… Quer que eu fique como?
— fala toda dengosa. Levo-a até a cama e a faço ficar de joelhos sobre a beirada.
Como sou sortudo por esse corpão lindo ser todo meu. Desço sua calcinha e
acaricio seu clitóris enquanto ela dá gemidos altos.
— Pronta para mim? — indago, esfregando meu pau em sua boceta molhada.
Tudo o que mais quero agora é sentir o seu calor. Deslizo dentro dela bem
devagar e ela Lúcia languidamente. Seguro firme em seus quadris e me
movimento, dentro e fora, bem devagar, sentindo toda a maciez que ela me
oferece.
— James, para de me torturar… — Olha por sobre os ombros e sei o que quer.
Seguro seus cabelos com uma das mãos e, com a outra, prendo seus quadris e
arremeto mais firme dentro dela. Agora nos amamos ardentemente. Quanto mais
a tenho, mais quero dela. Lúcia é o fogo que aquece meu corpo. Desejo-a como
nunca desejei ninguém. Quero dar sempre o melhor a ela.
Acaricio suas costas e vejo sua pele arrepiar, pois sei que ali é sua zona
erógena. Conheço cada parte de seu corpo, onde gosta de ser acariciada, beijada,
mordida. Sei cada som que emite na hora que estamos amando-nos.
Somente os sons dos nossos gemidos e dos nossos corpos chocando-se são
ouvidos no quarto. É um prazer puro e incandescente o que sinto com ela.
Deslizo a mão até seu clitóris e a acaricio mais uma vez até sentir que ela
finalmente teve seu orgasmo e só então me permito gozar. Como sempre, é
explosivo.
— Mulher gostosa da porra! — Ela ri ainda arfante depois de termos feito
amor. — Eu amo você, Lúcia.
— Eu também amo você, tenente…
— O que você quer? Acabar comigo me chamando de tenente com essa voz
melosa? Sabe o que faz comigo?
— Sei sim, mas você não está velho demais para isso, tenente? — provoca.
— Vou mostrar para você quem é o velho.
Eu a beijo e fazemos amor novamente.
***
— Cara, por que não contratou uma empresa que presta serviços de
mudanças? — Kléber começa com a choradeira. — Não acredito que estou aqui
em pleno sábado carregando caixas.
— Deixa de ser chorão! Só sabe reclamar! — Daniel lhe acerta um tapa na
cabeça. — São só algumas caixas.
— Algumas caixas? Já olhou lá dentro? Vamos passar o dia todo carregando
essas coisas! — continua reclamando.
— Espera! Deixa eu adivinhar… O Kléber está reclamando de ter que
trabalhar em pleno sábado de folga — Felipe fala enquanto entra no apartamento
acompanhado de Fábio.
— Mas é claro que esse bocudo está reclamando! Deixa de ser preguiçoso,
cara. Não é a toa que a mulher dele ainda não engravidou, do jeito que ele é.
Aposto que tem preguiça até de transar com ela.
— Só para vocês saberem, a Roberta está grávida. Essa hora ela deve estar
contando a novidade para as mulheres.
— Isso é que é novidade! Parabéns! — Fábio o abraça e nós fazemos o
mesmo logo em seguida.
— Quem sabe agora você entenda um pouco a gente, seu bundão — Daniel
diz, dando tapas em suas costas.
— Vou pegar umas cervejas para a gente comemorar — Fábio fala e já vai
saindo quando Daniel o chama.
— Volta aqui, cara! Só depois que carregarmos essas coisas para o caminhão.
***
— Obrigado, gente, sem a ajuda de vocês eu levaria horas carregando tudo
isso.
— Agora queremos a nossa cerveja! — Fábio diz, entrando para pegar uma
cerveja e volta correndo. — Precisamos levar a Bel para o hospital agora! O
bebê vai nascer!
Quando ouve isso, Daniel sai correndo e vamos atrás, encontrando Bel toda
suja de sangue na cozinha.
— Dani, ainda não está na hora! Faltam dois meses — diz, chorando muito.
— Calma, amor. Sabíamos que ele poderia nascer antes. Vamos para a
maternidade. — Daniel a segura nos braços e a leva até o carro. — Felipe, pode
passar lá em casa e pegar a mala que deixamos pronta? Está no nosso quarto.
— Claro que posso. Eu chego logo lá no hospital. Fique calma, minha irmã,
meu sobrinho só está com pressa de vir ao mundo. Vai dar tudo certo. — Ele
beija sua testa.
— Avisa a mamãe!
— Pode deixar. — Ele sai e Lúcia e eu seguimos até o hospital com eles.
Kléber e Roberta também vão. Assim como Fábio, Larissa e Júlia enquanto a
Rose fica com as crianças. Belinda é levada até a sala de cirurgia para uma
cesariana de emergência. Daniel entrou com ela e ficamos aqui nesta sala de
espera por horas sem notícias. Lúcia está muito aflita e não para quieta.
— Amor, fique calma… — Eu a abraço.
— Você viu aquele sangue todo, James? Estou preocupada com minha amiga.
Deus permita que tudo ocorra bem.
— Vai sim, amor. Vou pegar um suco para você. Sente aí.
Assim que volto, vejo Daniel andando em nossa direção.
— E então? — pergunto, ansioso.
— Ele nasceu! É tão pequenininho e frágil — Dani fala, chorando. — Ele foi
para a incubadora. O estado dele é crítico. A Bel ainda está sedada. Não sei se
vou conseguir falar para ela. E se meu filho mor…
— Não diz isso! Ele vai ficar bem e vai ser um garoto saudável. Você vai ver
— digo.
— O que foi? Por que está assim, Dani? — Lúcia se aproxima toda nervosa.
— Aconteceu alguma coisa com a minha amiga? Eu sabia! Aquele sangue todo
não é normal! Me diz, Daniel!
— Amor, fica calma…
— Calma uma ova! Fala logo! — Lúcia segura o colarinho de Daniel. —
Minha amiga morreu?— Mal pergunta e já começa a chorar.
— Não! Vira essa boca para lá! — Daniel exclama enquanto tira as mãos de
Lúcia de sua camisa.
— Então foi o bebê? Oh meu Deus! A Bel não vai aguentar… — Chora
novamente.
— A Bel e o bebê estão vivos! — ele diz e Lúcia solta o ar em sinal de alívio.
— Mas o estado do meu filho é crítico. Ele é muito fraquinho. O coraçãozinho
dele tem um defeito. As próximas horas são cruciais para a sobrevivência dele.
Ela põe a mão na boca, abafando o choro.
— Não! A Bel já sabe?
— Ainda está sedada, mas o médico falou que em duas horas acorda. Não sei
como dizer isso a ela.
— Temos que ser cuidadosos, sabe como ela é dramática — Lúcia diz.
— Lúcia, você fala como se não fosse — comento.
— Mas a Bel é muito mais. Dani, você tem que falar para ela de uma maneira
que não a assuste.
— Ei, o que estão falando baixinho aí? — Felipe vem em nossa direção, junto
com Fábio, as mulheres e a mãe e padrasto de Belinda também.
Daniel explica tudo e todos ficam aflitos pela vida do bebê.
— Meu netinho! — Dona Maura começa a chorar e é abraçada pelo esposo.
— Pai, mãe, que bom que vieram. Daniel e Belinda vão precisar de vocês. —
Eu os abraço.
— Sabem que sempre podem contar conosco — meu pai fala.
— Obrigado, capitão e dona Telma. — Dani senta em uma cadeira e ficamos
todos esperando que Bel acorde.
— Capitão Daniel Mendonça? Sua esposa acordou e quer vê-lo.
— Posso pedir uma coisa? — Ele olha para Lúcia e eu. — Venham comigo.
Vocês esperam do lado de fora, se ela ficar muito agitada aí a Lúcia entra. Ela a
ama como uma irmã e creio que saberá como ajudar.
Lúcia e eu o seguimos. Como ele pediu, ficamos do lado de fora enquanto
Daniel deixa a porta entreaberta.
— Dani, amor… Como está nosso bebê? Por que está com essa cara? Ele
morreu? — Ouvimos Bel perguntar.
— Fique calma, amor. O nosso Jônatas está vivo. Ele só está na incubadora.
Sabe né, como ele é prematuro…
— Se é só isso, por que essa cara?
— Bem, é que… Ele nasceu muito fraquinho e a saúde dele é frágil. — Bel
começa a chorar. — O coração dele tem um pequeno problema e…
— Meu bebê vai morrer? É isso o que quer me dizer? Porque se for, eu quero
que saia daqui. Ninguém vai me falar isso! Meu bebê vai sobreviver, entendeu?
Meu filho não vai morrer!
— Amor, acho que é bom você entrar — digo e Lúcia entra. Eu a sigo.
— Lúcia, ouviu isso? Daniel disse que meu filho tem um problema no
coração! Isso não pode ser! Amiga, você sabe o quanto esperei por ele, o quanto
eu o amo.
— Claro que sei, minha amada. Não fica assim. Seu bebê é forte. Lembra das
caramelos? Elas resistiram bravamente! Com Jônatas não será diferente. Lembre
do significado do nome que você escolheu. Jônatas quer dizer dado por Deus.
Seu bebê é um presente de Deus, e esses são os melhores. — Lúcia a abraça. —
Tudo vai dar certo.
Naquela noite, ficamos com Daniel e Belinda no hospital. A cada vez que o
médico aparecia para informar o progresso do bebê, eu sentia meu coração dar
um salto no peito. Imagina como Daniel e Belinda estavam.
Pelos próximos quinze dias, passamos a pior angústia que poderíamos ter
sentido. Jônatas precisou fazer uma cirurgia para correção do defeito em uma
válvula do seu coração. Aquelas horas de espera foram terríveis. Meu amigo
estava acabado e Bel nem se fala. Tentamos ficar calmos, pois estávamos ali para
ajudá-los.
Cinco longas horas depois, o médico finalmente nos avisou que a cirurgia foi
um sucesso, pois o defeito foi corrigido. Só que a saúde de Jônatas ainda
requeria cuidados, porém estamos otimistas.
Eu nunca pensei que me sentiria tão aliviado. Jônatas terá que ficar por mais
dois meses no hospital, mas pelo menos já sabemos que ele sobreviverá. Daniel
e Belinda finalmente podem respirar aliviados, pois o seu filho está fora de
perigo.
Acho que a minha cota de emoções está no fim depois de passar por tudo isso.
Capítulo 20
Hoje o avô de Mili, Johan, foi até a escola para pegá-la. Ela gosta muito dele e
o vovô Josué está ficando com um pouco de ciúmes. Os dois ficam disputando a
atenção dela.
Telma propôs que ele trabalhasse na fazenda, já que continua desempregado.
É difícil conseguir trabalho pelo fato de ele ser ex-presidiário.
Hoje é sexta e eles irão para a fazenda. Só estou esperando Johan chegar para
pegar as malas, pois um feriado vem aí e Mili está louca para passar uns dias lá.
James estará trabalhando, assim como eu. Sobrou tudo para mim, pois Bel está
dedicando-se inteiramente a Jônatas, que ainda está muito frágil e tem que ter
atenção vinte e quatro horas do dia.
Nós tivemos que contratar uma confeiteira para fazer os bolos de casamento.
Chamamos a mãe de Jake Baker, Diana, que era a dona da casa de chás O chá do
amor para nos ajudar a encontrar alguém.
Depois de uma conversa longa, nós nos tornamos sócias. As empresas agora
se tornaram uma só. Confesso que estou mais aliviada, pois elas tiraram um
fardo de burocracia das nossas costas. Agora só nos preocuparemos em realizar
as cerimônias. Elas organizavam chás de bebê, despedidas de solteira e o dia da
noiva. Enfim, uma empresa agora é o complemento da outra. Em algumas
ocasiões, a própria Diana vem fazer a preparação do bolo por enquanto que a Bel
não pode.
Meu bebê está desenvolvendo-se bem, a minha pressão estabilizou. Na última
ultrassonografia, vimos que ele já está pesando quatro quilos. Esse menino será
enorme. Ainda falta um mês para o seu nascimento. Se ele for igual à Jamile,
deve ganhar quase um quilo ainda. Estou pensando seriamente em fazer uma
cesariana, pois senão esse garoto vai me arrebentar.
— Mamãe! Mamãe! — Sou tirada dos meus devaneios por Mili, que entra
correndo na sala.
— Oi, meu amor…
— Vou trocar de roupa e já vamos para a fazenda. O vovô Johan e o vovô
Josué vão me levar. — Ela vai saltitando para o quarto.
— Cuidado com a escada, Jamile! — repreendo.
— Ela está muito empolgada com o feriado na fazenda! — Johan comenta. —
Como você está?
— Bem, na medida do possível. Esse menino está cada vez maior.
— Já te contei que James nasceu com quase cinco quilos?
— Agora já sei que ele também vai se parecer com o pai. No peso ao nascer
os dois já se parecem. — Nós dois rimos. — Sente-se! James já deve estar
chegando. Onde está Josué?
— Ele ficou na casa do Daniel, foi ver o pequenino.
— Ah sim! E como está o trabalho na fazenda?
— Estou gostando muito. Nem sabia que gostava tanto de cavalos —
responde.
— James também gosta muito. Jamile então…
— Vocês não tiveram notícias do bandido do Gerson? Já têm três meses e
ainda não o encontraram.
— Nem me fale! Não consigo mais andar sozinha sem ficar olhando por cima
dos ombros. Parece que a qualquer momento ele vai aparecer e… — Sinto um
aperto no peito e uma angústia toma conta de mim. — Acho que só terei paz
quando ele estiver morto.
— Não fique assim. Os Baker são muito competentes e logo vão encontrá-lo.
— Vovozinho, já estou pronta! — Mili vem até a sala com suas calças jeans e
um par de galochas.
— Você está linda, minha princesa — diz seu Johan.
— Não sou uma princesa! Sou uma amazona igual à Xena.
— Ela agora está assistindo essa série antiga e vive dizendo que é a Xena.
— Sim, meu amor, você pode ser o que quiser. — Ele a abraça.
— Ei, assim vou ficar com ciúmes! — James chega em casa.
— Papai! — Jamile corre e se joga em seus braços. — Veja! Estou parecida
com a Xena!
— Ainda achando que é uma amazona? — James beija sua testa e cheira seus
cabelos.
— Sim! O vovô disse que posso ser o que eu quiser! E quero ser a Xena.
— Então você será a Xena. — Ele a deixa no chão e vem me dar um beijo. —
Você está bem? Oi, pai.
— Sim, só um pouco cansada — respondo.
— Vamos logo, vovô, eu quero andar no meu cavalo logo! — Jamile puxa o
avô, impaciente.
— Calma, filha! Vem cá com o pai. — Ela se aproxima e senta em seu colo.
— Quero que prometa que vai se comportar. Nada de fazer travessuras.
— Eu prometo, papai — fala e liga o dedinho ao do pai. — Juro de mindinho.
— Tudo bem. Então podem ir. — Ela volta para perto do avô. — Cuida bem
dela!
— Com minha própria vida se for preciso. Até mais, meu filho. Até mais,
Lúcia.
— Até mais, pai — James responde e os dois se abraçam. Ele pode não ter me
dito, mas sei que se sente em paz estando bem com o pai.
— Ei, mocinha! Quero meu beijo — reclamo e Mili volta correndo. Beija
minha bochecha e depois minha barriga.
— Se comporta, irmãozinho. Eu volto logo! — Logo em seguida, segura a
mão do avô e sai.
Não sei o porquê, mas sinto um aperto no peito.
— O que foi? Que cara é essa? Está se sentindo mal? — James senta ao meu
lado no sofá e deixa sua mão sobre meu ventre. Nosso filho se movimenta na
hora como se soubesse que o pai está ali.
— Só senti uma angústia de repente. — Ele me abraça.
— O que é isso, amor? Não é a primeira vez que nossa filha vai passar uns
dias na fazenda sem a gente.
— Você tem razão. Devem ser meus hormônios de grávida — respondo e
James me beija.
— Vim só para dar tchau a nossa filha. Tenho que voltar ao quartel.
— Ah! Pensei que ficaríamos juntos! — reclamo.
— Eu volto amanhã! Fique com o celular ligado, pois vou mandar muitas
mensagens. — Ele me beija de novo e vai em direção à porta. Nossa, a visão
dessa bunda linda no seu uniforme. Ai, ele fica tão gostoso. Fiquei molhadinha
só de imaginar ele me fodendo usando sua farda. Mas eu que não vou passar
vontade, né?
— James! — chamo e ele vira para mim, ainda com a mão no trinco da porta.
— Você tem que voltar agora para o quartel? Não pode ficar mais meia hora
comigo?
— E como pretende gastar essa meia hora? — Cruza os braços e levanta uma
de suas sobrancelhas.
Merda! Que lindo!
— Eu posso pensar em algo. Garanto que você vai gostar muito… — Faço um
gesto com meu indicador, chamando-a para mim. — Sabe que as grávidas não
devem ser contrariadas, não sabe?
— Aham… Eu sei — Ele vem andando bem devagar, abrindo a camisa.
— Não! Quero você vestido.
— Hum… A senhora deseja ser comida por um bombeiro trajado hoje?
— Sim, por favor! Por favor!
— Aposto que já está toda molhadinha para mim, não é, Lúcia? — James
ergue meu vestido e sua mão já está em minha vagina, espalmada sobre a
calcinha. — Hum… Eu estava certo. Seu desejo é uma ordem. Como deseja que
eu a foda? De quatro, de conchinha ou você quer quicar em cima do meu pau?
— Ai, James, eu adoro quando você é safado. — Ele passa a mão pela parte
de trás do meu pescoço, parando em minha nuca, e me beija possessivamente.
Enfia sua língua em minha boca com vontade e desejo.
— Então, já decidiu? — pergunta, erguendo meu vestido e retirando-o por
minha cabeça.
— Eu quero de todos os jeitos… — Ele ri.
— Gulosa, hein? — Abre a calça e a desce até os joelhos junto com sua boxer.
Depois, acaricia seu membro pulsante, deixando-me ainda mais excitada. —
Então vamos começar com você sentando em meu pau, gostosa.
— É para já! — Subo sobre seu corpo, deixando uma perna de cada lado. Não
é tão fácil quanto parece, pois minha barriga atrapalha um pouco. James segura
seu pau enquanto me encaixo sobre ele. — Hum… Isso é tão bom!
Sinto-o me preencher com sua dureza e maciez e sou levada a outro plano. É
muito bom. Há alguns dias que não fazíamos amor, então estou faminta dele.
— Ah, gostosa… — Segura minha bunda com suas mãos espalmadas uma em
cada nádega e me ajuda com meus movimentos de sobe e desce. Apoio-me em
seus ombros e aumento a velocidade, quicando sobre ele, que toma um seio em
sua boca e massageia o outro, apertando o mamilo entre os dedos. — Goza,
nega. Goza bem gostoso.
Meu loirão me toma num beijo escaldante que me rouba todo o ar e realmente
tenho um orgasmo intenso que me deixa ofegante.
— Agora de quatro. — Vira-me sobre o sofá e fica atrás de mim. Adoro
quando ele me pega assim, tão firme. Segura meus quadris e me penetra de uma
vez só. Meus gemidos são altos, pois é impossível de segurá-los. James está
acabando comigo.
O som de sua pélvis batendo em minha bunda e meus gemidos loucos enchem
a sala e me excito ainda mais. É muito tesão, amor, paixão. Tudo junto em uma
foda maravilhosa de fim de tarde.
Meu homem fazendo amor comigo de maneira tão rude e selvagem assim…
Eu poderia pedir algo melhor?
Sua mão vai até minha vagina e acaricia meu clitóris e, em poucos segundos,
tenho mais um orgasmo fulminante, que quase me faz literalmente apagar. Não
demora muito para que meu tenente goze também.
— Porra, Lúcia! Assim você acaba comigo. — Beija minhas costas e se retira
de dentro de mim.
— Agora sim terei uma ótima noite de sono — digo e me viro, vendo-o
completamente suado e com seus cabelos bagunçados. Muito lindo! — Eu te
amo, tenente.
Deposito um beijo delicado em sua boca.
— Vamos tomar um banho. De conchinha fica para amanhã.
Ele toma um banho rápido. Quando saio, ainda de toalha, James já está
vestido com outra farda, fechando o cinto e com seus cabelos impecavelmente
penteados.
— Amor, agora preciso mesmo ir. Deixa o celular ligado e não se esquece de
ver se a bateria está carregada.
— OK, meu mandão. — Eu o beijo e mordo seu lábio inferior.
— Lúcia, eu preciso mesmo ir. Não me provoca.
— Mas estou apenas dando um beijo de boa noite no meu marido! — falo
com falsa inocência. Quero que ele vá trabalhar de pau duro para não ver a hora
de voltar para os meus braços, então deixo cair a toalha e tento esmagar meus
seios nele, mas minha barriga não permite. Droga! O meu plano de sedução deu
errado.
— Amor, acho melhor você parar com isso. Sei o que está tentando. Quer que
eu vá de pau duro para o trabalho só para ficar pensando em você o tempo todo,
não é? Saiba que conseguiu — fala em meu ouvido, deixando-me toda arrepiada,
e coloca a mão entre as minhas pernas. — Também posso jogar esse jogo, Lúcia.
Enfia dois dedos em mim, retirando-os e enfiando na boca.
— Até mais! — James me beija e sai, deixando-me latejando ainda mais por
ele.
Volto para o banheiro e tomo outro banho.
— Ah, James, você vai me pagar quando voltar! — falo sozinha enquanto
deixo a água morna cair sobre o meu corpo. Uma pena que não consigo tomar
banho frio.
Demoro um tempão para conseguir pegar no sono. Por sorte, James ficou a
todo momento mandando-me mensagens. Eram duas da manhã quando ele disse
que me deixaria dormir. Coisa que só consegui lá pelas quatro da manhã.
Acordo com o celular tocando.
— Alô?
— Amor? Poxa, vida, por que não respondeu minhas mensagens? Fiquei
preocupado!
— Hã? Não estou entendendo. Nós nos falamos até as duas da manhã, James.
Eu estava dormindo.
— Lúcia, são três da tarde! Não me diga que estava dormindo até agora?
Não acredito nele e olho a hora no celular. São três e quinze!
— Nossa! Quanto tempo eu dormi. Não fica nervoso, James, estava cansada.
Mas por que tanto desespero?
— A Mili caiu do cavalo e quebrou o braço. Estou aqui no hospital com meu
pai. O médico está a examinando.
— Meu Deus! Eu vou agora mesmo para aí.
— Não! Não precisa, pode deixar que eu cuido dela.
— Cuida dela uma ova! Acho mesmo que meu bebê quebra o braço e sua mãe
não estará ao seu lado? Nem pensar! Chego aí logo, logo.
Desligo sem dar chance para James argumentar. Depois de me vestir, desço a
escada e espero o táxi que chamei chegar. Espanto-me quando ouço a campainha
tocar. Corro para atender e dou de cara com minha prima Janaína parada na
porta. Ela não ficou muito contente depois que a mandei embora. Já estava
preparando-me para perguntar o que ela fazia ali quando, do nada, surge o
monstro do Gerson atrás dela.
— Oi, Lúcia. Sentiu saudade?
Capítulo 21
Merda! Não acredito! Até quando esses dois vão infernizar minha vida?
— Então, priminha, sentiu saudades? — Janaína pergunta, cínica como
sempre. Aquele monstro do seu pai está rindo atrás dela.
Tento fechar a porta, mas os dois a empurram e acabam entrando. Corro para
pegar meu celular, mas sou agarrada pelos cabelos e caio sentada do sofá. Por
sorte foi no sofá.
— Aonde a vadia pensa que vai? — Gerson pergunta, puxando meus cabelos,
fazendo minha cabeça inclinar para trás. Ele chega bem perto e lança esse bafo
horroroso em meu rosto. — Agora você não me escapa.
— Não faça nada com ela aqui! Temos que ser rápidos e levá-la logo —
Janaína diz para o pai.
— Traga as cordas. Vamos amarrá-la e fechar bem essa boca para que ela não
grite — diz o nojento.
— Eu não vou com vocês! — grito e Janaína me acerta um tapa no rosto.
— Cala a boca, vadia. Vamos ver se você vai continuar toda cheia de si
quando meu pai acabar com você. Eu não deveria, mas vou contar o que
planejei.
— Típico dos bandidos contar seu plano mirabolante. Acho que isso os faz
sentir mais confiantes, porém se lembre de que sempre acabam se dando mal. —
Tento ganhar tempo.
— Fique calada, Lúcia! — Ela anda até a mesinha de centro e joga meus
bibelôs de cristal no chão, quebrando-os em pedaços. — Ops! Me desculpe, mas
isso é horrível. Quando eu for a dona desta casa, vou mudar toda essa decoração
cafona.
A cobra senta na mesinha e fica de frente para mim.
— Agora vou contar o que planejei. É claro que vamos levar você daqui. Vou
deixar meu querido pai se aproveitar bastante do seu corpo. Não sei o que ele vai
fazer, já que você está feia para caramba com essa barriga enorme, mas… se é o
que ele quer.
Meu coração acelera devido ao pavor que começo a sentir. Gerson está
sorrindo, mostrando-me os dentes amarelos e nojentos. Meu Deus, não permita
isso, por favor. Inevitavelmente, lágrimas começam a rolar por meu rosto. James
está no hospital com minha filha, que deve estar chamando por mim, e nem
imagina o que está acontecendo.
— Isso mesmo, pode chorar porque o que te aguarda é muito ruim. — Janaína
levanta e anda pela sala, jogando todos os meus objetos decorativos pelo chão.
— Isso é feio. Isso é brega. Que horroroso. Você tem um mau gosto do cão. Mas
a nova decoração fica para depois. Agora que já te falei o que meu pai vai fazer
com você, vou dizer o que eu farei contigo. Depois que estiver acabada, vou
esperar que entre em trabalho de parto e esse bebezinho será o que vai me
aproximar de James. Quando eu chegar com o filho dele nos braços e disser que
fiz o que pude para te salvar, mas não consegui, vou chorar muito pela morte da
minha priminha. Vou apoiá-lo em tudo, cuidando do seu bebê como se fosse
meu. Assim não sairei do seu lado. Vou confortá-lo e ele vai acabar se
apaixonando por mim.
— Você é louca de pedra! — grito.
— Sou apenas uma mulher apaixonada. James é homem demais para você.
Ele deveria ser meu! Eu sim sou mulher para ele. — Janaína chega bem perto.
— Prepare-se para morrer, Lúcia. Para que meus planos deem certo, sua morte é
essencial.
Seca minhas lágrimas e beija meu rosto.
— Não fica triste. Eu vou cuidar muito bem do seu bebê como se tivesse saído
de dentro de mim. — Passa a mão por sua barriga e consigo ver o quanto ela está
desequilibrada. — Pode amarrá-la, pai. Vamos sair logo daqui.
Quando Gerson vai me amarrar, eu me levanto, pego um jarro de flores e lhe
acerto na cabeça. Ele cai e vejo sangue manchando meu tapete.
— Vagabunda! — Janaína me joga novamente no sofá. — Anda logo, seu
lerdo! Como consegue se deixar abater por uma mulher quase parindo? É um
idiota mesmo.
— Cale a boca, Janaína! Ela me pegou de surpresa. Eu ainda sou seu pai, olha
como fala comigo! — Ele levanta com as cordas na mão e limpa o sangue que
escorre por sua testa e rosto. — Vou me lembrar disso quando estiver em meus
braços.
Gerson prende as cordas, amarrando minhas pernas e braços. Nem adianta
tentar gritar, pois ninguém vai ouvir. Tudo o que me resta é chorar, pedindo a
Deus que ele me livre mais uma vez de um destino cruel.
Com um capuz, eles me deixam no escuro, sem saber para onde estamos indo.
Quando chegamos, vejo que estamos em um pequeno casebre de pescador sem
energia. Na verdade, não há nada aqui a não ser a parede de madeira velha,
apodrecida pela maresia, e um telhado feito com folhas de palmeira. Também
tem a mesa de madeira e a cadeira onde sou amarrada. Mais no canto, noto um
colchão velho jogado no assoalho de madeira, tem frestas enormes por onde
posso ver a areia debaixo da casa. Em certo momento, avisto um siri andando
por ali.
Onde fica esta casa?
James, amor, me encontra. Por favor…
— Eu vou sair! Vê se não faz nenhuma besteira. Não toca nela ainda. Quero
fazê-la sofrer um pouquinho. Hoje à noite ela será toda sua, mas ainda não —
Janaína fala para o pai. — E quanto a você… — Segura meu queixo. — Vá se
despedindo da vida, do seu amor, pois em breve ele será meu.
Vira as costas e sai, deixando-me sob a vigilância desse monstro. Ele está com
uma garrafa de bebida e bebe no gargalo. Está muito quente aqui e o nojento sua
em bicas. Percebo-o ficando nervoso e impaciente, andando de um lado para o
outro.
— Acho que não vou esperar Janaína voltar. Você vai ser minha, Lúcia.
Espero por isso desde que você ficava me provocando com aqueles shortinhos,
andando pela casa rebolando essa bunda.
— Você é louco! Eu era uma criança! Doente! Isso é o que você é! — grito.
— Se você tivesse sido boazinha nada disso estaria acontecendo. Uma pena
que essa sua barriga atrapalha um pouco, mas posso me divertir assim mesmo.
— Ele se aproxima da cadeira e solta o bafo de cachaça em meu rosto. Não
penso duas vezes antes de lhe acertar um chute no meio das pernas. — Ah, sua
vadia!
Ele se dobra sobre o corpo enquanto continua gritando.
— Você vai pagar caro por isso.
Gerson vem em minha direção, mas seu celular toca. Ele se afasta para
atender. Meu Deus, me ajuda! Não deixa nada acontecer comigo nem com meu
bebê. Ouço Gerson discutindo com a outra pessoa no celular, creio que seja
Janaína. Ele sai batendo a porta e fica um bom tempo sem entrar. Essa agonia
está matando-me. Preciso sair daqui, mas estou bem amarrada, não vejo como.
Já está escuro lá fora e Gerson entra, acendendo o lampião. Estou sendo
comida viva pelos pernilongos e vejo vários insetos entrando na casa. Afinal, à
noite é quando eles saem de seus esconderijos. Gerson fica do outro lado da
casa, debatendo-se e matando os pernilongos enquanto se estapeia quando
Janaína entra.
— Bem, bem, a primeira parte do meu plano já cumpri. Me fiz de arrependida
para o seu marido, que em breve será meu.
— Com certeza ele não acreditou! — exclamo.
— Ah, Lúcia, você não sabe o que uma carinha de inocente faz com os
homens. Eu achei que estava sendo seguida, mas não é que sou esperta e
despistei todos? Isso está sendo tão divertido. — Ela dá aquelas risadas sinistras
de maluca e vai falar com Gerson. — Seu idiota! Está bêbado? Ela poderia ter
fugido! Não consegue fazer nada direito. Não é a toa que ficou na cadeia tanto
tempo.
— Sua insolente! Agora vou fazer você calar a sua boca! — Ele saca uma
arma e aponta para ela.
— Guarda isso! Do jeito que está bêbado vai fazer besteira. — Janaína coloca
as duas mãos em frente ao corpo, mas tudo acontece muito rápido. Ouço um tiro
e ela cai no chão. Acho que está morta.
Um grito de puro horror sai da minha garganta. Agora estou realmente
apavorada. Se ele foi capaz de matar a própria filha, o que não será capaz de
fazer comigo?
— Você a matou?
— Essa garota insolente se achava muito esperta, mas eu não vou deixar que
ela estrague meus planos.
Antes que ele termine de falar, vejo Felipe derrubar a porta com um chute e
entrar no barraco. O lampião cai no chão e uma barreira de fogo se forma.
— James, me tira daqui! — grito quando vejo meu marido logo atrás.
— Já vou, amor! — Anda um pouco em minha direção, mas Gerson aponta a
arma para a sua cabeça.
— Você não vai a lugar algum! Se Lúcia não ficar comigo, com você ela
também não fica. Vocês deem o fora se não quiserem juntar os miolos dele com
uma pá aqui nesse chão — Gerson fala, completamente transtornado.
— Não! Deixa ele! — grito. As labaredas aumentam e começo a tossir devido
a fumaça. O calor aqui dentro se torna quase insuportável.
— Saiam! — Gerson grita ainda com a arma colada na nuca de James.
— Felipe, sai daqui, porra! — James fala.
Ele se afasta. Aproveitando a distração de Gerson com a movimentação dos
policiais, James se vira rapidamente e acerta um soco no nojento, que deixa a
arma cair. Eles estão lutando e meu marido acerta vários socos por todo o corpo
de Gerson. Ele também recebe alguns, mas finaliza com um no rosto do bêbado,
que cai. Meu loirão pula entre as chamas e chega em mim.
— Meu amor, tudo ficará bem agora! — Ele está desamarrando-me quando
ouço Janaína falando.
— Eu vou morrer, mas levo James comigo!
Olho para trás e ela está apontando a arma para nós. Felipe está distraído,
levando Gerson preso.
— Você não vai ficar com James, Lúcia. Vou matá-lo, me matar e te deixar
viva para que sofra bastante sem seu amor…
Ela engatilha a arma. Essa vaca não tinha morrido? Olho para seu abdome,
que está sangrando devido ao tiro.
— Janaína, me ouça… Pare com essa maluquice. Você precisa de um médico.
— James tenta convencê-la. Ela cambaleia, pois perdeu muito sangue.
— Não! Eu sei que vou morrer, mas vou levar você comigo, James! — Mira a
arma em direção a James, mas está trêmula e começa a tossir, jorrando sangue de
sua boca. — Adeus, James!
Fecho meus olhos e ouço um tiro. Não quero abrir os olhos. Não posso abri-
los. Meu amor morreu… O que vai ser de mim? Não, não, não… Começo a
chorar de desespero.
— Lúcia? — Ouço a voz de James. Ai meu Deus, ele morreu e o fantasma
dele já está aqui me assombrando. — Lúcia, amor? Abre os olhos.
Abro bem devagar, ainda com medo, e vejo James desamarrando-me.
— Vamos sair logo daqui! — Ele me segura nos braços e tenta achar uma
saída, mas a casa está tomada pelas chamas. Minha visão está turva e fico
confusa.
— James, amor, você não morreu? — Passo as mãos por seu rosto.
— Graças a Deus não. Vamos sair daqui deste inferno. Fica calma.
Comigo nos braços, ele começa a chutar as tábuas apodrecidas que formam a
parede da casa. James consegue abrir um espaço para que possamos sair. Assim
que somos vistos, o pessoal da polícia vem nos ajudar.
— Temos que levar Lúcia para o hospital — James fala com Felipe.
— Uma ambulância já está a caminho — Felipe diz. Atrás de nós uma
confusão se forma e dois tiros são ouvidos. — Merda!
Olhamos para o local e vejo Gerson morto.
— O cara pegou a arma do Túlio. Ele iria atirar! Não tive opção — Fábio fala.
— Agora é voltar e assinar a papelada. Dois mortos foi o saldo da noite. Mas
antes eles do que vocês — Felipe comenta, guardando sua arma no coldre.
A ambulância chega e me leva para o hospital. Para mim, o saldo da noite foi
que finalmente vou poder viver em paz com minha família. Gerson está morto.
Janaína está morta. A vida finalmente será normal.
— Está tão calada. — James está ao meu lado, segurando minha mão
enquanto seguimos rumo ao hospital.
— Eu te amo tanto… Quando achei que ela tinha atirado em você, eu senti
meu coração ser arrancado de dentro do meu peito. A dor foi dilacerante. James,
você é meu tudo. Promete que estaremos sempre juntos.
— Eu prometo, meu amor. Você também é meu tudo!
Ele me beija com carinho. Sentir o toque de seus lábios é tudo o que preciso
para saber que as coisas estão no lugar certo. Ao lado dele é o meu lugar. Eu sou
sua. Sempre serei sua. Desde aquele dia em que o vi naquele barzinho, meu
coração foi dele. Nunca mais quis pegá-lo de volta.
Capítulo 23
Depois que todos saem, agarro a mão de Lúcia e vejo Isabella fazer todos os
procedimentos para salvar sua vida. Eu sei muito bem o que acontece, minha
mulher está tendo uma eclâmpsia. A maioria das mulheres morre após ou
durante o parto devido à pressão sanguínea elevada.
— James, por favor, precisamos que saia. Sei que você é treinado para essas
emergências, mas neste momento o melhor é que se mantenha afastado — Bella
me diz.
— Não! Lúcia precisa de mim. Não vou abandoná-la. Não posso. Não quero
deixá-la. E se ela…
Não consigo formar as palavras, pois seria como aceitar. Não posso admitir
perdê-la. Um nó se forma em minha garganta e meu peito se aperta como se meu
coração tivesse diminuído de tamanho. Dói, dói muito.
— Ouça, meu filho… — Dona Maura também tenta me convencer enquanto
vejo Bella injetar algum tipo de droga em Lúcia. — Vá, fique com seus amigos.
Eles te darão a força que precisa. Faremos o possível para salvar sua esposa,
tenha certeza disso.
— Já falei que daqui eu não saio! — Seguro ainda mais forte na mão de
Lúcia.
— O coração está parando! Droga! Se afaste, James! — Bella me empurra e
começa a massagem cardíaca. — Vamos, Lúcia! Volta!
— Ainda sem pulso! — dona Maura fala, verificando o pulso de Lúcia. A
mim só resta ficar aqui presenciando a cena de horror que se forma em minha
frente. O coração dela parou. Não posso aceitar isso. Não vou perdê-la outra vez,
pois essa seria uma despedida para sempre dessa vez e eu não estou preparado
para isso.
Visto a minha armadura de homem duro. Eu já salvei tantas vidas e agora
estou com a mais importante de todas em minhas mãos. Corro para a sala de
emergência e pego o desfibrilador. Coloco em um carrinho e volto para a sala de
parto.
— Saiam da frente! — Bella e dona Maura se afastam. Ligo o parelho, espero
ele carregar e aplico um choque em Lúcia. Vejo seu corpo convulsionar devido à
descarga elétrica. Olho para o aparelho que monitora seus batimentos e nada. —
Afastem-se.
Aplico outro choque.
— Volta para mim, Lúcia! Volta, volta! Por favor! Por favor…
Agora, os segundos parecem horas. Olhar para aquele aparelho é agonizante.
Meu coração também para no peito diante da expectativa de ouvir o bip com o
coração de Lúcia batendo.
Após o que pareceu uma eternidade, ouvimos finalmente o som. Para mim,
neste momento, não pode existir outro mais bonito e mais reconfortante.
— Ela voltou! O pulso está normalizando! — Dona Maura verifica e só então
permito que o ar saia dos meus pulmões, sentindo meu coração também voltando
a bater no peito.
— Obrigado, Deus!
É tudo o que consigo dizer antes de cair de joelhos e chorar feito criança. Sem
Lúcia a vida seria escura, vazia. Eu me tornaria oco, pois o coração que bate
dentro do meu peito é ela. Como pode um homem viver sem seu coração? Saber
que minha vida continuaria, mas sem sentido, me fez perceber que sem ela eu
não sou nada. Eu só comecei a viver após conhecê-la, foi quando entendi que um
amor pode nos transformar.
Eu, que era aquele solteirão convicto, que vivia dizendo que nunca me casaria,
agora não vejo mais minha vida sem Lúcia. Sem meus filhos, sem a nossa casa,
nosso lar.
Novamente me vi apaixonado. Desta vez, sei do que estou falando, sei o que
estou sentindo. Não é porque alguém me contou e sim porque eu sei, pois sinto.
O amor dela me mudou da primeira vez. Depois, quando me esqueci, novamente
o amor me transformou. Não existe alternativa para mim. Creio que se minha
memória fosse apagada mil vezes, as mil vezes eu me apaixonaria por ela. Por
mais que minha cabeça teime em esquecer, meu coração a reconhece e a quer
para ele. Lúcia é a única dona dele. Nunca mais haverá outra.
Saio da sala de parto, onde deixei dona Maura e Bella realizando os
procedimentos pós-parto em Lúcia. Ainda estou chorando devido à emoção e a
agonia do momento passado. Bel é a primeira a vir ao meu encontro.
— James, por que está chorando? — Os olhos dela se enchem de lágrimas. —
Não, não me diga! Não posso ouvir isso. Nunca vou estar pronta para ouvir isso.
Minha amiga não! — Ela esconde o rosto entre as mãos, começando a chorar
copiosamente, e Daniel vem abraçá-la.
— Calma, Bel, a Lúcia está fora de perigo, mas nos quase a perdemos.
Felipe vem me abraçar.
— Que bom que tudo terminou bem, amigo! — diz.
***
Depois de vinte e quatro horas, Lúcia finalmente acorda.
— Amor? O que aconteceu? — sussurra.
— Eu quase te perdi! — Eu a abraço e choro muito com meu ouvido colado
em seu peito. Preciso ouvir seu coração batendo para ter certeza de que é
verdade. — Nunca pensei que sentiria tanto medo. Foi ainda pior do que quando
estávamos com aqueles malucos. Foi agonizante, a pior hora da minha vida. —
Levanto meu rosto e encaro seus belos olhos castanhos. — Eu te amo. Não
saberia viver sem você.
Ela passa a mão entre meus cabelos, afagando-os como sempre costuma fazer.
— Meu James, eu nem seria louca de te deixar sozinho com nossos filhos!
Ainda vai ter que me aturar por muito tempo. Chata, ciumenta, brava e
apaixonada por você.
Nós nos beijamos e nesse beijo selamos novamente o nosso amor.
— Olha quem está com fome!
Dona Maura entra, segurando nosso filho embrulhado em um cobertor azul.
Ela o entrega a Lúcia, que se emociona assim que vê seu rostinho.
— Oh James, ele é muito lindo!
— Sim, ele parece muito com você… — digo e Lúcia o segura com jeitinho
para que ele mame pela primeira vez.
É uma cena muito bonita de ver, minha mulher e meu filho. Com meu celular,
registro esse momento, pois quero guardá-lo para sempre.
— Mamãe, mamãe! — Jamile entra no quarto parecendo um furacão.
— Filha, vai com calma ou vai assustar seu irmãozinho. — Eu a seguro nos
braços e a levo até Lúcia. Nossa filha fica muito atenta à cena, assim como eu.
— Mamãe, isso não dói?
— Não, meu amor. Isso é natural para as mulheres que têm bebês. Deus nos
fez assim.
— Ele está com muita fome, não é? — Ela afaga os cabelos do irmão. —
Kauan, você é muito bonito. Parece com a mamãe.
— Sim, meu amor, seu irmão é tão bonito quanto sua mãe. — Meu coração
não cabe no peito tamanha a alegria que estou sentindo. Após quase perder a
mulher da minha vida, me vejo em uma cena de filme em que este é o momento
final e todos são felizes, porém esta é a minha vida. O final ainda está longe,
pois estamos só no começo da nossa felicidade.
— Ei, James, por que está tão pensativo? — Lúcia me olha. Esses olhos são a
minha luz.
— Só observando as três pessoas mais importantes da minha vida e
constatando o quanto sou feliz.
— Ai, já chega de tanto suspense! Quero ver minha amiga agora! — Bel entra
no quarto, muito afoita.
— Por favor, senhora, ainda não é o horário de visitas. — A recepcionista
tenta a impedir.
— Minha filha, eu vou ficar. Quero ver você me tirar daqui.
— Pode deixar, Mara — Bella intervém. — Ela é minha amiga, está tudo bem.
— Obrigada, Bella — Belinda agradece, segurando a mão da médica antes de
correr até a cama onde Lúcia está. — Ai meu Deus, esse bebe é lindo! E enorme!
Uau!
— Sim, ele é muito grande.
— Lúcia, esse garoto arrebentou você, não foi? Vai… Pode falar, sou sua
amiga.
— Bel, para com isso. Minha vagina ainda está normal.
— Isso só o James pode falar. E, por enquanto, ele não pode comprovar —
brinca ela.
— Bel, para com isso! Eu vou continuar apertadinha e muito gostosa.
— Se você diz… Mas olhando o tamanho da cabeça desse garoto, eu não
confiaria nisso.
— Para, sua louca! Ele é lindo, não é? — Lúcia fala, babando em nosso filho.
— Se o Dani estivesse aqui, diria que seu bebê parece um brigadeiro de
chocolate. Que vontade de morder!
— E por falar nele, onde está? — pergunto.
— Na fazenda, cuidando das crianças. Aliás, eu tenho que voltar porque está
quase na hora de Jônatas mamar. — Bel dá um beijo em Lúcia. — Amiga, eu
fiquei tão aflita! Pensei que iria perder você. — Ela começa a chorar. — Não faz
mais isso comigo.
— Tudo bem. Eu não faço. — As duas se abraçam. — Acha que eu te
deixaria? Quem tomaria conta de você, sua maluca? Quem te daria aqueles
conselhos ótimos? Se não fosse por mim, nem estaria com o Dani. Eu disse para
você dar para ele, lembra?
— Lembro! E eu dei! — Elas riem.
— O que a tia Bel deu para o tio Dani, mamãe? — Jamile que ainda está por
perto ouve e já fica curiosa.
— Ela deu um presente, meu amor. — Trato logo de falar.
— Eu também quero dar um presente para o Thiago. Posso, papai?
— Esse presente não, princesa — respondo rapidamente.
— Por que, papai? Se a tia Bel deu para o tio Dani, eu também quero dar para
o Thiago!
— Vamos mudar de assunto? Você disse que estava com sede. Quer tomar um
suco? — falo sem jeito. A expectativa da adolescência da minha filha nunca me
pareceu tão apavorante. Vou matar qualquer um que ousar se aproximar da
minha princesa.
— James, você está bem? Está suando… — Lúcia observa.
— Estou bem, foi só um pensamento que me passou pela cabeça. Não foi nada
agradável. — Meu celular toca. — Com licença, vou atender.
Afasto-me ao ver o nome de Jake na tela.
— Jake?
— Olá, James!
— O que aconteceu?
— Primeiro gostaria de te parabenizar, já soube que seu garoto nasceu. Bella
me contou sobre a grande confusão que foi por aí.
— Isso é verdade. Obrigado, cara.
— Mas infelizmente não é só isso. Bem, sabe a dona Deise, tia de Lúcia?
— Sim, o que tem ela?
— Eu arrumei um emprego para ela no interior. Era para cuidar de uma
senhora idosa. Mas hoje encontramos o corpo da senhora. Ela foi assassinada.
Só descobrimos porque os vizinhos reclamaram do mau cheiro, já estava morta
há dias.
— E suspeita de Deise?
— Infelizmente, tudo leva a crer que foi ela. Estamos fazendo busca para
encontrá-la. Uma das vizinhas disse que a viu agredindo a idosa. Até ligou para
a polícia, mas eles apenas fizeram uma visita e constataram estar tudo bem.
— Mais essa agora.
— Desculpe ser portador de más notícias, porém achei que você deveria
saber. Agora tenho que voltar ao trabalho. Qualquer notícia, me ligue. Fiquem
atentos.
— Obrigado! Vou ficar. Até mais. — Desligo o celular e tento parecer o mais
normal possível perto de Lúcia. Não quero que ela sofra com mais essa notícia.
Depois conto a ela.
— Quem era?
— Era Jake nos parabenizando pelo nascimento de Kauan. Por falar nele, está
na hora de ele ir para a cama. Veja, ele caiu no sono. — Ela me entrega meu
filho e o coloco no pequeno berço que fica ao lado da cama.
— Como estão as meninas, James?
— Roberta está na capital. Assim que ela saiu da sala de parto, a ambulância
neonatal chegou e levou as duas. Júlia está no quarto ao lado. Ela está bem. Na
verdade, todos estão bem, tanto as mães quanto os bebês.
— Fico feliz. Bel, amiga, você pode ir. Jônatas deve estar com fome. Logo eu
também vou para a fazenda.
— E você não sabe quem está aí fora louca para entrar. A dona Telma, seu
Josué, seu Johan e a Rose. Eu só entrei de metida que sou, mas eles estão só
esperando o horário de visitas.
— Eu já esperava por eles.
— Vou saindo, pois um bebê faminto me aguarda ansiosamente. Beijos. — As
duas se despedem.
Depois de finalmente dar o suco para Jamile, eu volto para o quarto, que agora
está lotado de gente. Todos estão babando em Kauan.
— Meu Deus, que coisa mais linda!
— Ai! Ele é tão fofo…
— Meu neto é muito robusto!
— E se parece muito com a mãe. Espera, ele está abrindo os olhos. Vejam!
São verdes iguais aos de James — meu pai Johan fala e corro para ver.
— Esse garoto vai arrasar muitos corações. Um negão dos olhos verdes.
Lúcia, esse vai dar trabalho — Rose comenta e todos riem.
— Parem com isso! Meu filho será um cavalheiro e saberá como tratar uma
mulher. — Lúcia estende os braços e meu pai entrega Kauan a ela.
— Mas vai ser pegador! — observo, orgulhoso.
Terminamos a tarde assim, entre risos e conversas com aqueles que amamos.
Só espero que essa alegria não seja passageira, pois sempre temos uma sombra
de perigo que nos persegue. Agora vem essa notícia da tia de Lúcia. Enquanto
não soubermos o que está acontecendo, não podemos ficar tranquilos. Quer
dizer, eu não posso, pois Lúcia ainda não sabe de nada. Espero adiar o máximo
possível para ter que contar a ela.
Capítulo 26
Já estamos na fazenda e todos não cansam de paparicar meu Kauan. Ele é tão
lindo e robusto com seus quase cinco quilos. É simplesmente o bebê mais
faminto do mundo. Ele não larga dos meus seios enquanto está acordado.
Telma me pediu para passar o resguardo por aqui mesmo. Rose foi quem não
gostou muito disso, muito menos Bel, que teve que voltar para a cidade para
cuidar dos negócios, já que Júlia e Roberta estão de licença maternidade
também.
Já estamos há quinze dias por aqui. James teve que voltar ao trabalho, mas
quando está de folga, fica por aqui comigo e Jamile, que agora vive reclamando
da coceira em seu braço. Johan lhe deu um pequeno graveto para que ela
enfiasse entre o braço e o gesso para que conseguisse aliviar a coceira.
Outro dia, perguntei a James de minha tia e ele desconversou. Quero muito
saber como ela está. Por mais que me tenha feito mal, sei que está sofrendo.
Perder todos os seus filhos é para enlouquecer qualquer um. Eu penso nela às
vezes, até peço que ela viva bem, já que sofreu tanto.
— Amor, olha só quem acordou! Eu já troquei suas fraldas, mas acho que ele
está com fome. — James vem até a sala onde estou assistindo um pouco de
televisão e me entrega Kauan.
— E quando ele não está com fome? Esse garoto vai acabar comigo. Ele me
suga dia e noite. Já viu o tamanho dos meus peitos? Estão enormes! Pareço essas
vacas leiteiras que têm aqui na fazenda.
— Amor, você está linda. Com esses peitões então… Não vejo a hora desse
resguardo acabar para cair de boca nessa belezura… — diz, olhando com desejo
para meus seios.
— Belezura, James? Você tem falado demais com os peões da fazenda.
Confesso que também estou louca para esse resguardo acabar, mas ainda tem
muitos dias.
— Vamos conseguir esperar… — fala sem muita certeza.
— É o que eu espero, James Figueiroa. — Ajeito Kauan em meus braços e lhe
dou o seio. Ele suga com força, pois está mesmo faminto.
— Viu só, ele estava com fome. — James acaricia seus cabelinhos
encaracolados e macios.
— Papai, papai! Olha só o que eu achei! — Jamile entra em casa segurando
uma cobra verde nas mãos.
— Menina, larga esse bicho! — grito para ela, Kauan se assusta e começa a
chorar.
— Mas o vovô disse que ela não é venenosa.
— Filha, dá a cobra aqui para o pai… — Ela entrega a James, que sai porta
afora e volta logo em seguida.
— Você matou ela? — Jamile faz beicinho e tem os olhinhos cheios de
lágrimas.
— Não, meu amor, eu a soltei lá fora. Agora vem cá. — James se senta no
sofá e bate a palma da mão na perna. Jamile anda bem devagar com a cabeça
baixa e senta no colo do pai. — Quero que me ouça com atenção. Não pode sair
por aí pegando os animais da fazenda, principalmente cobras e outros animais
perigosos.
— Eu vi a cobra e o vovô falou que ela não era venenosa, então fui lá e
peguei. Queria mostrar para você e para mamãe o quanto ela era bonita.
— Sei que não fez por mal. Aquela cobra não é venenosa, como seu avô falou,
mas e se você achar outra e pensar que não é e ela te morder? Já pensou sobre
isso? Você pode pensar que todas as cobras são iguais, mas não são. Entende o
perigo agora?
— Sim, papai… — Jamile fala, desanimada. — Eu não vou mais pegar
cobras.
— Nem aranhas, escorpiões, lagartos e formigas.
— Tudo bem, papai, já entendi! — Ela cruza os bracinhos e faz beiço.
— Está bem. Agora pode sair. — Mili desce do colo do pai e sai correndo.
— Filha, vai devagar! Vai acabar caindo — falo, mas nem sou ouvida. Não sei
de quem ela puxou essa coragem. Eu jamais pegaria uma cobra daquelas na mão.
Sinto calafrios só de pensar.
— Ela é mesmo diferente das outras meninas. Outro dia, estava com um sapo
enorme nas mãos.
— Credo! Eu não sabia disso. A Jamile deve ter puxado isso de você! Ai que
nojo!
— Exagerada. — Ele me beija e pega sua mochila. — Tenho que ir. Amanhã à
noite estou de volta. Eu te amo.
James beija a testa de nosso bebê e sai. Fico aqui amamentando Kauan, que
dorme logo em seguida. Eu o levo para o berço e vou ver onde Jamile está.
Encontro-a no pomar, tentando pegar algumas tangerinas subindo na árvore. Ela
não consegue, pois seu braço quebrado não permite, então vou até lá.
— Precisa de ajuda?
— Mamãe, você pode pegar uma fruta para mim? Quero aquela ali, bem
amarelinha. — Aponta para a fruta e eu a colho, dando a ela, que trata logo de
tirar a casca, sentando no banco para comer.
— Você lavou as mãos?
— Sim, naquela torneira ali.
— Chega de animais por hoje? — pergunto, retirando o elástico de seu cabelo
para prender novamente.
— Depois eu vou lá no galinheiro com o vovô. Tem pintinho nascendo e eu
quero ver. — Vejo-a separar os gomos da fruta e saboreá-la com vontade.
Agradeço a Deus por Ele ter me dado dois filhos tão lindos e saudáveis.
— Se sua tia Bel estivesse aqui, ela não chegaria nem perto do galinheiro.
— A tia Bel é uma medrosa, nem parece gente grande. Quem tem medo de
galinhas? Elas são tão bonitas.
— Verdade, amor, mas eu acho que você é que é corajosa demais. Promete
uma coisa para a mamãe… — Ela para de comer e me encara com seus belos
olhos verdes tão parecidos com os do pai. — Tome cuidado! Nunca esqueça o
que o papai falou. Nada de cobras, aranhas, escorpiões e outros animais
perigosos, por favor!
— Tudo bem. Eu já prometi para o papai — responde meio desanimada e
volta a comer a fruta.
Ficamos aqui até que ela termina de comer. Depois, Jamile me dá um beijo e
sai correndo para o galinheiro. Volto para casa e o cheirinho de comida faz meu
estômago roncar. Eu nem havia percebido que estava com fome até agora. Entro
na cozinha e Telma está preparando o jantar.
— Que cheiro maravilhoso!
— Estou preparando um cozido. Você precisa se alimentar bem. Por falar
nisso, já tomou suas vitaminas? — Faço uma cara de surpresa porque esqueci
totalmente. — Eu sabia! Tome!
Ela me entrega um copo de suco de laranja e os comprimidos.
— O que seria de mim sem você? Vou ajudar a descascar as batatas, estou
faminta. — Vou logo pegando a bacia com as batatas.
— Imagino! Kauan é um menino muito guloso.
Ela ri e, enquanto preparamos o jantar, ficamos ali jogando conversa fora.
***
Dou um banho em Jamile, que estava imunda depois de ajudar o avô no
galinheiro, e a levo para jantar.
— Tô com fome! — reclama.
— Se acalma que já vou te servir.
Jantamos e, depois que ela escova os dentes, eu a levo para a cama. Começo a
achar estranho que Kauan ainda não acordou para mamar. Faz mais de três horas
que o deixei no berço. Vou até meu quarto para verificar e ele não está dormindo
aqui. Sinto meu coração dar um salto no peito e saio correndo.
— Telma, você pegou Kauan do berço?
— Não, querida, nem entrei lá no quarto — ela responde.
— Meu Deus! Será que um dos avós o pegou?
Sinto minha visão escurecer e meus batimentos cardíacos aceleram.
— Calma, filha, pode ser que Josué o tenha pegado. Sabe como ele gosta de
ficar com o menino. — Ela tenta me acalmar, mas é inútil, pois bem neste
momento entram Josué e Johan na cozinha. Meu filho não está com nenhum
deles.
— Por que está chorando, filha? — Josué me pergunta.
— O menino não está no berço. Algum de vocês o pegou? — Telma
questiona.
— Não, estávamos no estábulo. Fomos para lá logo depois do jantar —
responde meu sogro.
— Onde está meu filho? Ele não pode ter sumido! Eu quero meu bebê! Ele
não pode ter evaporado. — Desespero-me. — Se isso for alguma brincadeira,
não tem graça!
— Lúcia, minha filha, você acha que brincaríamos com uma coisa dessas? —
Johan fala. — Vou ligar para James.
Sento-me, pois meus joelhos fraquejam e minhas pernas não me sustentam em
pé.
— Não posso imaginar o que pode ter acontecido. Eu o deixei no berço.
Meu coração aperta com a possibilidade de alguém ter roubado meu bebê.
Mas quem? Por quê?
***
Uma hora depois, James chega acompanhado de Daniel. Assim que o vejo,
corro para seus braços.
— Amor, alguém levou nosso menino! — falo aos prantos.
— Lúcia, quero que sente aqui. — Ele me leva para o sofá e estranhamente
sinto que sabe quem levou nosso bebê. — Escute, no dia que Kauan nasceu, Jake
me ligou. — Toma fôlego. — Me contou que sua tia teve um surto e matou
aquela senhora que ela cuidava.
Levanto-me indignada.
— E só agora você me conta? O que você tem na cabeça me escondendo uma
coisa dessas? — pergunto com o dedo em riste quase tocando seu rosto. — Se
acontecer alguma coisa com meu filho, eu nunca vou perdoar você. Entendeu,
James?
Parto para cima dele com tapas.
— Você não podia ter me escondido isso! NÃO PODIA! Aquela maluca
roubou nosso bebê.
Estou transtornada e ainda estou batendo em James, que não se defende, só
me deixa descarregar minha raiva nele. Até que fico exausta e caio de joelhos
com ele abraçando-me.
— Me perdoe, amor, eu não podia imaginar…
— Me solta! Eu quero meu filho de volta! Você me ouviu? Quero meu filho
de volta! Custe o que custar! ME OUVIU, JAMES FIGUEIROA? Quero meu
filho da volta! — Levanto do chão e ele continua de joelhos. — O que ainda faz
parado aí? O tempo está correndo. Vá buscar meu bebê. Só volte aqui com ele!
James tenta se aproximar de mim, mas não permito, então ele abaixa a cabeça
e sai porta afora com Daniel, Josué e Johan.
— Lúcia, você foi muito dura com ele…
— Dura? Telma, ele me escondeu algo muito grave. Minha tia surtou e
provavelmente sequestrou meu filho. Se ele tivesse me contado, eu tomaria mais
cuidado, teria mais atenção. Agora meu bebê está nas mãos daquela louca…
Começo a chorar outra vez. Sei que fui dura com ele, mas isso foi necessário.
James tem que entender de uma vez por todas que somos um casal e não pode
haver segredos entre nós.
— Eu te entendo. Ficaria assim também, mas ele está sofrendo tanto quanto
você.
— Eu sei, mas sinto essa sensação de impotência, esse vazio em meus braços.
Telma, por que essas coisas acontecem comigo? Nunca posso ter paz? — Ela me
abraça.
— Não sei o que dizer, minha filha. A única coisa que posso falar é que Deus
não nos dá um fardo mais pesado do que podemos carregar.
— Mas esse fardo está pesado demais. Não sei se tenho mais forças. Estou tão
cansada. Pede para Deus, diz para ele que não aguento mais…
Desta vez, eu choro desesperadamente, pois não sei se vou suportar perder
meu menino. Já estou andando de um lado para outro há mais de duas horas.
James ainda não me deu notícias. Desde que saiu, ele não ligou ou mandou uma
mensagem.
— Já tem tempo que saíram e não temos notícias. — Telma me entrega uma
xícara de chá. Como se alguma coisa fosse passar por minha garganta. Esse nó
enorme que tenho aqui mal deixa o ar passar, quem dirá um gole de chá.
— Dizem que não ter notícias é a melhor notícia. Se acalme, eles vão trazer
seu bebê.
— Lúcia, meu amor… — James entra na casa correndo.
— Cadê, cadê? Onde está meu bebê? — Desanimo ao ver seus braços vazios.
— Como ousa voltar sem meu filho?
Já vou logo brigando com ele.
— Escuta, amor! A doida da sua tia está aqui na fazenda!
— Aqui? Mas como? — Seco as lágrimas com as costas da mão e me
aproximo dele.
— Alguns empregados a viram passando com um bebê, mas não sabiam que
era nosso filho. Daniel e Felipe já estão procurando por ela, assim como Fábio e
Kléber. Nós vamos encontrá-lo. Só vim te avisar, pois deixei meu celular no
quartel. Agora vou procurar por Kauan. — James se vira para a porta, mas estaca
no meio da sala quando ouvimos uma canção de ninar.
Dorme, neném, que a Cuca vem pegar…
Ele se vira para mim, que também estou pasma, pois a cantiga vem da
varanda. É a voz da minha tia. Corremos ao mesmo tempo para a porta e damos
de cara com tia Deise sentada na cadeira de balanço, segurando Kauan nos
braços, que começa a chorar.
— Tia? — chamo. Ela olha para mim e vejo em seus olhos que está fora de si.
— Dalila! Veja, este é meu filho. O nome dele é Wesley. Ele é tão bonito! —
tia Deise fala com um sorriso nos lábios.
— Tia, eu sou a Lúcia, filha da Dalila. A senhora não lembra? — Fixa o olhar
em mim.
— Deixa de ser boba, Dalila, você não tem nenhuma filha. Esse é meu filho.
Venha, chegue perto, veja como ele é bonito. — Aproximo-me lentamente. —
Como ele é grande, não é? Mas é muito chorão.
— Ele deve estar com fome ou molhado. Por que não entra? Está frio aqui. Lá
dentro podemos trocar suas fraldas e ele pode mamar — falo com toda a calma
que consigo, mas por dentro estou despedaçando de desespero.
— Ah Dalila, Gerson vai ficar tão feliz quando ele souber que nosso bebê é
um menino, você não acha? — Levanta e entra na sala. James está falando com
alguém pelo telefone de Telma. Faço sinal para ele ficar afastado.
— É claro que ele vai ficar feliz, Deise. — Ela para de repente e vira para
mim.
— Você não é Dalila! Você é a Lúcia. Por sua culpa eu perdi tudo; meus
filhos, meu marido e minha casa. Tudo! Agora vou tirar seu filho de você
também. — Ela aperta Kauan em seus braços e ele chora ainda mais alto,
fazendo meu coração doer.
— Tia, por favor, me dá ele. Meu bebê não tem culpa de nada. — James está
andando bem de mansinho pelas costas de tia Deise e faz sinal para que eu
continue distraindo-a. — Veja como ele está chorando, não sente pena?
— Eu… sinto, mas você tem que pagar. — Ela está distraída, então James a
segura e eu corro para segurar Kauan. Pego meu bebê e tia Deise é imobilizada
por James. — Me solta! Me solta! Lúcia tem que pagar. Não é justo ela ser feliz
depois de me tirar tudo. Eu odeio você! Odeio você! — grita, completamente
louca e fora de si.
— Amor, leva nosso filho. Fica tranquila, pois vamos cuidar da sua tia.
— Corro para o quarto de Jamile e tranco a porta. Ela ainda dorme pesado.
Graças a Deus não presenciou nada disso.
Sento-me na beirada da cama e dou o seio para meu bebê. Logo Kauan se
acalma. Meu filho estava faminto. Beijo-o muito, sentindo meu coração aliviar
por estar finalmente em meus braços novamente. Só então me permito chorar. Só
que desta vez de alívio, de alegria e em agradecimento, pois agora meu filho está
em meus braços.
Capítulo 27
Já faz dois meses que tudo aconteceu. A tia de Lúcia foi internada em uma
clínica para doentes mentais. A própria Lúcia paga pelo tratamento. O médico
disse que ela teve uma crise psicótica e até hoje não se recuperou. Muitas vezes
eu vou até lá para ver como está seu progresso, porém tudo o que vejo é uma
mulher destruída. Ela fica sentada em uma cadeira de balanço, segurando uma
boneca e cantando canções de ninar. Lúcia nunca mais a viu, pois disse que
prefere manter distância.
Nosso filho cresce saudável sob os cuidados da irmã mais velha, que é tão
superprotetora quanto a mãe.
Hoje, finalmente, vamos realizar a cerimônia do nosso casamento. Depois de
tanto tempo, enfim vamos oficializar nossa união. Lúcia quis uma cerimônia no
campo, realizada no final da tarde como ela sempre sonhou.
Aqui de dentro do quarto, na casa da fazenda do meu pai Josué, olho para o
lugar decorado com flores do campo, o altar, as cadeiras e o tradicional tapete
vermelho estendido sobre a grama. Meus olhos se turvam pelas lágrimas que se
formam. Muitos diriam que homens não choram — eu mesmo pensava assim —,
mas isso mudou quando meu coração foi preenchido pelo amor mais puro e
intenso que já senti.
Um amor que nasceu, morreu e renasceu em meu coração. Tudo graças a ela
que nunca desistiu de mim. Mesmo nos momentos mais difíceis, nas horas mais
angustiantes, Lúcia esteve ao meu lado. Só partiu porque fui covarde demais
para admitir o que sentia por ela.
Hoje, estas lágrimas me mostram que quem chora é forte, pois não tem medo
de se arriscar e de sentir. Seco meu rosto e volto ao trabalho de fazer um nó na
minha gravata, o que não está sendo fácil diante de tanta emoção.
— Precisa de ajuda? — Daniel entra no quarto devidamente trajado com o
uniforme oficial do Corpo de Bombeiros.
— Você sempre chegando na hora certa! — Ele entra e fecha a porta.
— O que seria de você sem mim, meu irmão? Não consegue nem ao menos
fazer um nó na gravata. — Com uma destreza incrível, o nó é feito em questão
de segundos.
Viro-me para o espelho e ele me entrega o paletó. Olho para todas as
condecorações e vejo o quanto cresci dentro da minha carreira. Só que nada
disso teria sentido sem Lúcia ao meu lado.
— Está na hora. Preparado para dizer o seu “sim” definitivo? — Daniel me
questiona.
— Preparadíssimo! Ela é única. Lúcia é a mulher da minha vida. Pena que eu
não me lembre de como nos conhecemos. Parece que nunca vou lembrar.
— Você não precisa lembrar, só precisa sentir. Sinta o quanto ela te ama, que o
dia não começa sem um “bom dia” dela, que a comida só é gostosa porque ela
preparou com carinho. Sinta que a casa só tem graça porque você está sempre
ouvindo o som da risada dela. A vida não é a mesma sem ela ao seu lado. As
lembranças serão o que vocês construíram juntos; dois filhos lindos, que são o
resultado do amor dos dois. Isso é importante. Se você lembrar será bom, mas se
não lembrar, já tem lembranças lindas, pois a família é o bem mais precioso que
um homem pode ter. Seja feliz, meu irmão! — Daniel me abraça.
— Quem diria que um dia estaríamos nesta situação. Casados e com filhos?
Éramos os maiores putos de Florianópolis. Até perdi as contas de quantas
mulheres já tive. Só que nenhuma mexeu tanto comigo quanto ela.
— Eu te entendo muito bem. Minha vida mudou desde que a baixinha
apareceu na minha varanda. Foi instantâneo, como se eu tivesse encontrado algo
que faltava em mim. Não sei se me entende…
— Entendo, é como se tivesse esperado por ela a vida toda, como se tudo o
que vivi fosse para encontrá-la. É como se todas as experiências anteriores
fossem para chegar a este momento e nenhuma outra ocuparia este lugar.
— O destino nos prega peças. Eu que não queria ter família, fui pego de
surpresa por um amor de pai que mudou tudo. Você, que também não queria ser
pai, foi fisgado por aquela princesinha de cabelos rebeldes que faz o que quer de
você.
— Como se seus caramelos não fizessem você de gato e sapato — provoco.
— Isso é verdade. Eu faria qualquer coisa por elas, por todos eles.
— Lembra aquele dia que a Mili e as gêmeas fizeram a gente colocar uma saia
de bailarina e dançar com elas? — Daniel dá uma gargalhada.
— Como esquecer? A Belinda gravou tudo e mandou para Júlia, que mostrou
para Felipe e que espalhou para todo mundo. Eu faria tudo de novo. Minha
família é meu mundo.
— Eu digo o mesmo…
— Ei, vocês dois! — Meu pai Johan entra no quarto. — Filho, que emoção te
ver vestido assim. Sua mãe ficaria orgulhosa. — Seus olhos brilham com as
lágrimas formadas. Vou até ele e o abraço. Ele tira uma fotografia de seu bolso.
— Ela era tão bonita. Eu amava seus cabelos, pareciam raios de sol. Lucinda foi
o amor da minha vida. Quero que leve esta foto com você hoje, será como se ela
estivesse aqui conosco.
Retiro outra fotografia do meu bolso e mostro a ele.
— Ela já está aqui, pai. — Nós nos abraçamos e choramos, lembrando-nos
daquela que sempre nos amou e que nos deixou tão cedo.
— Vamos parar com isso — diz, secando as lágrimas. — Hoje é um dia feliz.
Vamos nos lembrar de Lucinda com carinho. A saudade sempre aperta o coração,
mas ela me deixou você, um pedacinho dela, o maior presente que poderia ter
me dado. A noiva já está pronta, vamos?
Termino de abotoar o paletó, respiro fundo e sigo até o altar montado no
jardim da fazenda. Ao meu lado está Daniel, que é meu padrinho, e meu pai.
Belinda vem correndo se posicionar ao lado de Daniel. Nossos amigos estão nas
cadeiras devidamente acomodados. Sem eles, este momento não seria o mesmo.
A mãe de Daniel, dona Cecília, está ao meu lado junto com meu pai. Senti
certo clima entre eles. Só não sei se isso dará certo, já que ela é toda metida e
meu pai um homem simples. Se bem que a vida nos presenteia com cada
surpresa, vai saber. Marta, a mãe de Belinda, está junto de Greco, rindo que nem
boba de Cecília. As duas se tornaram grandes amigas, assim como Telma.
Meus amigos Felipe, Fábio, Kléber e os colegas do quartel também estão
presentes com suas esposas, que estão com os braços ocupados com seus bebês.
Inevitavelmente, me vejo daqui a vinte anos no casamento de algum dos nossos
filhos, que serão todos amigos. Nós nos tornaremos uma grande família.
Então, lá no início do tapete, vejo uma princesa usando um lindo vestido
branco com um laço rosa e uma tiara, que ela insistiu em colocar, carregando
uma pequena cestinha enquanto joga pétalas de rosas no chão.
É a imagem mais bonita que já vi. Minha filha, minha princesa. Aquela que
foi o motivo de Lúcia e eu estarmos juntos hoje. Por ela enfrentamos tudo. Para
que ela fosse feliz, nós nos suportamos por um tempo e, graças a isso, o meu
amor por Lúcia novamente foi crescendo dentro de mim. Foi por esse pedacinho
de nós que nos demos uma segunda chance.
Ela chega ao altar e sorri para mim com dois dentinhos inferiores faltando,
mas é o sorriso mais lindo do mundo. Jamile se posiciona ao lado de Telma, que
fica no altar esperando por Josué, que está lá no início do tapete de braços dados
com meu amor.
Lúcia parece uma deusa vestida de branco. É um vestido simples, decorado
com pequenas flores. Na cabeça, usa uma linda guirlanda de flores, que
ornamenta seu cabelo. Linda, linda…
Os dois andam bem devagar ao som dos violinos que tocam Hallelujah
enquanto uma jovem canta com sua voz suave para não tirar a atenção da noiva.
Se bem que nem mesmo se todos os sinos do mundo tocassem, seriam capazes
de tirar a minha atenção dela. Daquele sorriso lindo que enche meu coração de
alegria.
Não posso segurar a emoção e deixo as lágrimas rolarem, lembrando-me de
cada momento que tivemos, de tudo o que passamos para estarmos aqui. Por
tantas vezes quase nos separamos, mas nosso amor superou todos os obstáculos.
Ela aperta o buquê de flores do campo nas mãos e percebo que seus olhos
estão marejados. Sei que, antes de chegar até aqui, minha nega já vai ter
derramado as lágrimas que está segurando.
Finalmente estamos face a face e seguro sua mão, beijando-a enquanto encaro
seus olhos. Eu me vejo refletido neles. Sei que ela me ama tanto quanto a amo.
Ficamos frente a frente com o pastor, que começa a cerimônia.
— Boa noite! — Ele nos cumprimenta, pois o sol já se pôs. — É com muita
alegria que estamos aqui reunidos para testemunhar a união de mais um casal
apaixonado, James e Lúcia. Eu os conheci no dia em que realizei a cerimônia de
Daniel e Belinda. Fui testemunha de tudo o que tiveram que enfrentar para ficar
juntos. Lúcia estava sempre na igreja, pedindo-me conselhos. Eu sempre dizia a
ela: siga seu coração. Foi o que ela fez, pois essa mulher ama James. Os dois têm
um amor é verdadeiro, intenso e forte. Vou ler uma passagem que li para ela no
momento mais crítico que vocês passaram, espero que sirva para todos os casais
presentes. Cantares, capítulo 8 versículos 6-7
“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque
o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas
são brasas de fogo, com veementes labaredas. As muitas águas não podem
apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de
sua casa pelo amor, certamente o desprezariam.”.
Enquanto o pastor fala, ela movimenta os lábios como se estivesse
declarando-se para mim. Muitas lágrimas caem de seus olhos.
Tudo foi dito. Entendi que o nosso amor é forte como a morte, pois ela é
inevitável, assim como nosso amor é inevitável.
— Lúcia, sei que tem algo a dizer a James— o pastor fala e ela segura minha
mão, olhando bem nos meus olhos, e diz:
— Eu sou do meu amado e meu amado é meu. Você é o amor da minha vida,
James. Sempre serei sua.
Eu a beijo levemente nos lábios.
— James, tem algo a dizer a Lúcia? — Ele me incentiva.
— Eu ensaiei um discurso, mas acabei esquecendo tudo. — Todos riem. —
Porém, não preciso de discursos escritos, nem palavras ensaiadas, para dizer o
que significa para mim. Nós temos um amor incondicional, maior que eu. Você é
o meu coração. Eu te amo, Lúcia, mas não é um te amo qualquer. É o maior eu te
amo do mundo, pois ninguém é tão bonita, tão corajosa e persistente quanto
você. Nem mesmo quando feri seu coração da forma mais covarde, não desistiu
de mim. Seu amor foi maior que sua mágoa, que sua dor. Hoje, só estamos aqui
porque foi forte por nós dois. Nunca vou me esquecer disso. Pelo menos não por
minha vontade. — Todos riem novamente. — Quero que saiba que, mesmo que
eu nunca lembre como te conheci, meu coração sempre te reconheceu como a
única dona dele. Será assim para sempre. Eu te amei antes e você me fez sentir
novamente amor por você, provando-me que esse sentimento é real e verdadeiro.
Eu te amo para sempre, Lúcia.
— Você estragou minha maquiagem! — fala, secando as lágrimas. — Mas
valeu a pena só para ouvir isso, tenente. — Ela me agarra e me beija sob os
aplausos e assovios de todos.
— Diante disso, só me resta dizer: eu os declaro marido e mulher— diz o
pastor e Mili puxa minha calça para chamar minha atenção.
— Papai, você esqueceu isso! — Jamile me entrega a caixinha com as
alianças que estavam com Daniel. Olho para ele, que pisca para mim. — Coloca
no dedo da mamãe!
— É claro, meu amor. — Pego as alianças e encaixo no dedo de Lúcia,
depositando um beijo sobre ela.
Lúcia também encaixa a minha aliança, repetindo o meu gesto de beijar o
anel.
— Agora sim pode beijar a mamãe! — fala e não penso duas vezes antes de
me inclinar e beijar minha esposa.
Meu tudo. Aquela que transformou minha vida. Lúcia me fez acreditar que
posso amar e ser amado. Mesmo minha mente tenha esquecido, novamente o
amor entrou em meu coração e me mudou.
Hoje, sou um homem melhor. Melhor porque ela nunca desistiu de mim.
Esse é só o começo de nossa história de amor…
Epílogo
Quem diria que faz dez anos que James e eu estamos casados. O
tempo passou tão depressa. Nossa querida Jamile já está completando
quinze anos e hoje estamos realizando sua festa. Tudo organizado por
mim e sua madrinha Belinda.
— Mãe, não estou conseguindo ajeitar essa tiara no meu cabelo, me
ajuda?
Jamile entra em meu quarto, linda, usando um vestido de princesa
que o pai fez questão de comprar. Ele mesmo foi com ela no ateliê
para escolher. Mili disse que o pai teve muita paciência enquanto ela
experimentava os vestidos até escolher esse.
— Vem cá, meu amor, deixa eu ver. — Arrumo a tiara e ela se olha
no enorme espelho que tem no meu quarto. Seus olhos verdes brilham
de felicidade, pois realiza o sonho de menina ao ter sua festa de
quinze anos. — Você está lindíssima, minha princesa. Parece que foi
ontem que te segurei em meus braços pela primeira vez. O tempo
passou muito rápido. Olhe para você! Está maior que eu. Tão linda…
Lágrimas se formam em meus olhos e eu tento impedi-las de cair.
— Não chora, mãe, vai estragar sua maquiagem e você está tão
linda! — Ela se vira para o espelho novamente e alisa a saia do
vestido. O corpete é lilás bem clarinho, todo trabalhado em pedraria, a
saia é da mesma cor de tule com detalhes em cristal Swarovski. —
Será que o Thiago vai gostar?
— Filha, ele vai amar. Por falar nele, já conversou com seu pai? —
Ela senta no banquinho que fica em frente ao espelho e bufa.
— Só me diz como! Não posso nem falar de meninos que o papai já
fica nervoso. Outro dia, ele estava limpando a arma e sabe o que ele
falou?
— Nem imagino — respondo.
Faço cara de paisagem, pois sei exatamente o que James falou.
Ouço a mesma coisa desde que Jamile ficou mocinha. Ah, esse dia foi
tão especial. James estava no trabalho e eu liguei para ele contando.
Quando chegou pela manhã, ele trouxe uma rosa e uma caixa de
chocolates, deixou no criado-mudo, pois nossa menina ainda dormia,
junto com um bilhete escrito “Você sempre será minha princesinha.”.
— Ele disse que agora eu já estou com quinze anos e sua arma ficou
guardada há muito tempo, que estava na hora de dar um uso para ela.
— Vira para mim ainda sentada no banquinho. — E se eu falar do
Thiago e o papai surtar?
Ando até a sua frente e me agacho.
— A verdade é sempre o melhor caminho. Diga a ele que vocês se
gostam. Thiago é afilhado dele. Quer alguém melhor para ser seu
namoradinho?
— Mãe, você também não acredita, não é? Thiago e eu vamos nos
casar assim que terminarmos a faculdade. A tia Bel também duvida.
Não sei porquê. — Mili se levanta e alisa a saia mais uma vez. —
Somos feitos um para o outro e vamos ficar juntos para sempre.
— Quem vai ficar junto para sempre? — James entra no quarto,
abotoando seu paletó. Agora ele também é capitão do Corpo de
Bombeiros, ainda está na ativa, assim como Daniel.
— Ninguém, papai, assunto de mulheres. — Jamile tenta
desconversar.
— Filha, creio que este é o momento de você contar tudo ao seu pai.
Enquanto falo, Jamile faz sinal com as mãos para que eu não fale
nada.
— Contar o quê? — Olho para ela, que está nervosíssima. —
Vamos, filha, sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe?
— Acho que isso não… — fala baixinho.
— Pai, pai! Eu também quero te contar uma coisa. Eu vi o Thiago
beijando a Mili ontem! — Kauan entra no meu quarto e fala de uma
vez.
— Ah, seu fofoqueiro, eu vou te matar! — Jamile sai correndo atrás
dele, mas o pai a segura pelo braço. — Mãe, você não vai fazer nada?
— Mamãe, não consigo fechar meu vestido! — Lucinda entra no
quarto tão linda com a réplica do vestido da irmã. Ela está agora com
nove anos e é parecidíssima com Jamile, só que não tem os olhos
verdes. — Por que o pai tá segurando a Mili?
— Seu irmão contou sobre o Thiago — falo.
— Mas é um fofoqueiro mesmo! Poxa, mãe, o Kauan é um
linguarudo. Dá um castigo nele. — Lucinda trata logo de defender a
irmã. — Papai, não briga com a Mili. Ela já é grande e pode ter um
namorado e o Thiago é tãããão bonzinho. Você não gosta dele? — fala
toda manhosa e sei que essa ela já ganhou, afinal James não resiste
àqueles olhinhos graúdos iguais aos do Gato de Botas.
James franze o cenho, mas ela continua.
— Paizinho, não briga com a Mili. Hoje é o niver dela. O tio Dani
não é seu melhor amigo? Qual o problema? — Cruza os braços e
encara James. Não consigo evitar sorrir.
— Filha, isso é assunto de gente grande. Vai lá para a sala e espere
com seu irmão — James fala em tom austero.
— Tudo bem! — Ela abaixa a cabeça, mas, antes de sair do quarto,
eu fecho seu vestido. Ela segura o braço do irmão. — Vem, seu dedo
duro. Agora a Mili vai levar um sermão.
Os dois saem do quarto. Mili fica encolhida em um canto do quarto
com os braços cruzados em frente ao corpo em clara posição de
defesa.
— Filha, quando ia me contar? — O tom de voz de James mostra o
quanto está decepcionado.
— Pai, eu…
— Desde quando eu não te dei chance de falar comigo sobre tudo?
Sempre estive presente, sempre conversamos sobre tudo. Por que
pensou que não poderia me contar sobre isso?
— Você é tão protetor e fica falando que meninos não entram aqui
em casa para me namorar. Sem falar que fica limpando a arma e
falando aquelas coisas. Fiquei com medo…
Ela começa a entrelaçar os dedos, como sempre faz quando está
nervosa.
— Com medo de mim?
— Não! Quer dizer, não sei…
James anda até ela e a abraça.
— Nunca tenha medo de me contar nada! Eu sou teu pai e te amo.
Sempre vou entender você, mesmo não concordando às vezes,
prometo que vou te entender.
— Então eu posso namorar o Thiago? — pergunta, esperançosa.
— É melhor deixar esse assunto para amanhã, pois hoje é dia de
festa. Vamos porque já está na hora da aniversariante chegar. — James
dá um beijo na testa de Mili e saímos.
No carro, temos que aguentar uma discussão entre Kauan e
Lucinda, que ainda falam sobre a fofoca que ele fez. Terei uma
conversa muito séria com ele sobre isso. Apesar da confusão,
agradeço a Deus até mesmo por esses momentos, pois ter o meus
filhos bem e com saúde não tem preço.
James olha para mim, sorrindo, com certeza também está pensando
o mesmo que eu. Pega minha mão e deposita um beijo.
Em minha mente, vem à lembrança do dia que descobri que estava
grávida de Lucinda. Kauan não tinha nem quatro meses. Fiquei
apavorada quando vi o resultado do teste. Porém, eu nunca vou me
esquecer do abraço de James acalmando-me, dizendo que tudo daria
certo, pois ele estaria ao meu lado.
Quando ela nasceu, demos a nossa princesa o nome da mãe de
James, pois Lucinda nasceu no dia do aniversário da avó. Como me
prometeu, James esteve ao meu lado em todos os momentos. Pediu
uma licença e ficou comigo, auxiliando-me nos cuidados com as
crianças. Meu homem, meu marido, meu companheiro, meu amor…
Olho para ele e vejo que tudo valeu a pena.
São dez anos de felicidade ao lado dele e dos nossos filhos.
Beijo sua mão e ficamos assim até o local do baile de Jamile.
Chegamos ao salão de festas e somos recepcionados por Bel e Dani,
juntamente com seus filhos, Suzana, Maria e Jônatas. Aqui, neste
mesmo salão, foi realizada a festa das meninas deles. Dani chorou
muito, é um manteiga derretida mesmo. Ficou lamentando-se, dizendo
que seus caramelos estavam abandonando-o, que não precisavam mais
dele. Eu ri muito dele nesse dia.
— Você está linda, Mili! — Maria vem cumprimentá-la.
— Esse vestido é maravilhoso! — Suzana também vem. Ela é bem
diferente da irmã. Enquanto Maria é calma e amável, Suzana é mais
agressiva e explosiva. São gêmeas somente na aparência, pois na
personalidade são muito diferentes.
Bel sofre muito com a rebeldia de Suzana. Eu tenho acompanhado o
sofrimento de minha amiga, pois Suzana com quinze anos é uma
garota problema. Está sempre arranjando confusão na escola. Os
outros são todos calmos e estudiosos, já ela parece que tem alguma
revolta dentro dela, o que faz Bel sofrer muito. Elas entram no salão e
percebo os olhos de Mili varrendo o lugar em busca de Thiago, que
não está aqui com o resto da família.
***