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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL


Prof. Gilmar de Azevedo.
* As escrituras comentadas por um escritor.

-eRICO VERISSIMO
Nasceu em Cruz Alta em 17 de dezembro de 1905. Filho de Sebastião
Verissimo da Fonseca e Abegahy Lopes Verissimo. Casou-se com Mafalda Halfen Volpe e
tiveram dois filhos: Clarissa e Luís Fernando Veríssimo. Quando jovem estudou no colégio
Cruzeiro do Sul em Porto Alegre. De volta à cidade natal, trabalhou em banco e tornou-se
sócio de uma farmácia.
Desde cedo, dedicou-se a leituras, principalmente, de Shakesperare e
Machado de Assis, influenciando muito em suas obras.
Em 1930 estreou com Ladrão de Gado na Revista Globo, na qual
ingressou como redator. Foi, também, escriturário do departamento editorial da Livraria do
Globo. Em 1932, com a publicação de Fantoches (livro de contos) tornou-se profissional.

Em 1934, com Música ao Longe, ganhou o Prêmio Machado de Assis e em 1935, com

Caminhos Cruzados, conquistou o Prêmio Graça Aranha.


Foi, no entanto, com Olhai os Lírios do Campo que seu nome passou a
ser conhecido em todo o país. Em 1941, empenhou-se a divulgar a literatura e a cultura
brasileiras nos Estados Unidos da América, dando conferências e cursos nos mais diversos
países como México, Equador, Peru, Uruguai, Espanha, Portugal, Alemanha como diretor
do Departamento de Assuntos Culturais da OEA.
Até 1950 esteve ligado à Editora Globo como conselheiro literário. Erico foi o
primeiro brasileiro a viver exclusivamente com a literatura. Sua obra logo se espalhou pelo
mundo. No Brasil, foi várias vezes premiado: Jabuti (1966), Juca Prado (1967),
Personalidade Literária do Ano (1972), Prêmio Literário da Fundação Moinhos Santista
(1973) para o conjunto de sua obra.
Faleceu de enfarto em 28 de novembro de 1975 em Porto Alegre quando se
ocupava com seu segundo livro de memórias, Solo de Clarineta II.
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BIBLIOGRAFIA DE ERICO VERISSIMO:


Livros de viagem
Ficção
Fantoches, 1932;
Clarissa, 1933; Gato preto em campo de neve, 1941;
Caminhos Cruzados, 1934; A volta do gato escuro, 1946;
Música ao Longe, 1935; México, 1957;
Um lugar ao sol, 1936;
Israel em abril, 1969.
Olhai os lírios do campo, 1938;
Biografia e memórias
Saga, 1940;
Um certo Henrique Bertaso, 1972;
O resto é silêncio, 1943;
Solo de Clarineta I, 1973;
O continente, 1949;
O retrato, 1951; Solo de Clarineta II, 1976 ( obra póstuma

Noite, 1954; organizada por Flávio Loureiro Chaves);


O ataque, 1958;
O arquipélago Ie II, 1961; Literatura infantil e infanto-juvenil
O arquipélago III, 1962; A vida de Joana d’Arc, 1935;
O senhor embaixador, 1965; As aventuras do avião vermelho, 1936;
O prisioneiro, 1967; Os três porquinhos pobres, 1936;
Incidente em Anatares, 1971
Rosa Maria no castelo encantado,
.
1936;
Obras infantis e infanto-juvenis
Meu ABC, 1936;
As aventuras de Tibicuera, 1937;
O urso com música na barriga, 1938;
A vida do elefante Basílio, 1939;
Outra vez os três porquinhos, 1939;
Viagem à aurora do mundo, 1939;
Aventuras no mundo da higiene, 1939.
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BREVE HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA


Sílvio Romero, em 1888, publicou um Compêndio da Literatura Brasileira
até então; Em 1916, José Veríssimo também o fez. Em 1916, Ronald de Carvalho publicou
a Pequena História da Literatura Brasileira e em 1936, Nelson Werneck Sodré publicou a
História da Literatura Brasileira- seus Fundamentos Econômicos
Agora sai no Brasil esta Breve História da Literatura Brasileira, originária
de cursos sobre a Literatura Brasileira ministrados em janeiro e fevereiro de 1944 por Erico
Verissimo na Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Erico deu ao seus leitores norte-americanos uma idéia da marcha da
literatura em seu país. Conta que, para escrever sobre os últimos vinte anos (1920-1940)
da literatura no Brasil teve que confiar na memória que “é um território muito confuso,
cheia de armadilhas ocultas e inesperadas.” Suas conferências foram abrilhantadas por
anedotas ou histórias retiradas de algum romance, conto ou poema, o que caracteriza
Erico não como um crítico, mas um contador de histórias.
Erico Verissimo estava nos Estados Unidos como um exilado voluntário para
escapar ao clima opressivo do Estado Novo getulista. A sua Breve História permite uma
compreensão mais humana do Brasil porque “a melhor chave para a alma de um país são
as palavras de seus escritores.” Seu objetivo maior era reconstruir o espírito do povo
brasileiro através de sua literatura.
O livro é dividido em doze capítulos:
“Tão boa é a Terra”: parafraseando uma frase de Pero Vaz de Caminha, Erico situa o
nascimento de nossa dependência literária a Portugal no período da colonização. O autor
baseou-se na tese do arquipélago cultural de Viana Moog e nos textos de Ronald de
Carvalho em que a “verdadeira literatura colonial é a que provém de fontes populares
anônimas, detendo-se em Pedro Malazarte e nas lendas indígenas do jabuti.” Há, então, a
valorização das manifestações folclóricas, fazendo antes a história do povo do que das
elites.
“é dessa maTéria que as nações são feiTas”: fala sobre o barroco colonial, a
influência da estética neoclássica e da invasão holandesa. Analisa a obra de Gregório de
Matos, “a primeira voz nativa a ser ouvida na literatura brasileira”, fala da Prosopopéia e da
“raça danada de escritores cuja maior preocupação é apresentar cumprimentos às pessoas
do governo para delas obter todo o tipo de favores.” O autor dedica-se mais à defesa do
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folclore e das manifestações populares, mas não deixa de indicar a dependência


ideológica, como no caso do Pe. Antônio Vieira.
“Problemas da arcádia”: seguindo o mesmo esquema da História e Estética, Erico fala
da Província do Ouro e do deslocamento da vida intelectual da academia para a arcádia,
destacando Antônio José da Silva, o Judeu, que foi condenado pela Inquisição à fogueira.
“minha Terra Tem Palmeiras”: com a vinda de D.João VI fugindo de Napoleão, há o
processo de Independência e aí Erico compara a figura de D.Pedro I à de Pedro Malazarte,
conferindo um caráter de malandragem à Proclamação. Fala no Romantismo sobre a
“voluptuosidade do tédio”. Castro Alves é admirado pelo seu compromisso social, com suas
imagens ousadas, novas, referidas, que “antecipam a técnica dos simbolistas.”Na prosa, o
preferido é José de Alencar,” incomparável na Língua Portuguesa por sua ação e enredo,
seu colorido e pela limpidez e beleza de aquarela de sua escritura.” Erico impacienta-se
com a falta de masculinidade de focalização e dicção dos românticos, com exceção de
Castro Alves, José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida, pelo nacionalismo e pela
emancipação do povo.
“sim, mas sePenTes e escravos Também”: no segundo império, segundo o autor,
D.Pedro II é um vovozinho amante das ciências e das artes. Valoriza O Ateneu, de Raul
Pompéia, como um dos dez melhores livros de nossas letras. Em Machado de Assis, vê a
maestria no manejo da ironia e na agudeza psicológica, mas critica a sua filosofia cínica.
Erico Verissimo pensava que o universo literário é “uma espécie de porta-voz direto do
escritor, um lugar de exposição das suas idéias e experiências.”
“largas são as asas de Pégaso”: de forma positivista, opõe-se ao ideário que
resultou numa proclamação “operística” da República. Quanto ao Parnasianismo, elogia
Olavo Bilac erótico e o Simbolismo caboclo em Cruz e Sousa.
“o século era moço e cínico”: fala de Canudos e Os Sertões contrapondo-os aos
puristas com Rui Barbosa. Valoriza o regionalismo como uma literatura viril e acusadora
principalmente de Domingos Olímpio, Simões Lopes Neto, Monteiro Lobato e Graça
Aranha, condenando os estilistas da língua, cegos à significação humana.
“os movimenTados anos 20” : nessa década sublinha a atividade literária e intelectual de
Monteiro Lobato: “é legível, inteligente, comprometido com a transformação do país, um
agente e não mera testemunha da História”. Essa atribuição do escritor é também uma
defesa de Erico que atribui ao escritor uma função ética.
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“a Pedra o o caminho”: dedica-se à análise da Semana De Arte Moderna de 1922 que


se completa com “uma liTeraTura chega à maioridade”: dividindo o modernismo em
três momentos importantes: Oswald e Mário de Andrade socialistas erigindo a economia
como determinante da vida social: Jackson Figueiredo e Tristão de Athayde, cristãos que
examinam a presença de Deus na História; Plínio Salgado, fascista, cheio de presságios
funestos. Aqui, vê Macunaíma como um livro que foge das três tendências porque fornece
uma imagem total do país, fortemente enraizada na realidade do povo e da língua, dando
conta da heterogeneidade do país e narrado em “brasileiro”.
“enTre deus os oPrimidos”: faz uma avaliação positiva dos poetas, enfatizando o lirismo,
principalmente, o de Cecília Meirelles e Mário Quintana. Erico traduziu versos também de
Drummond, Bandeira, Bopp e Mário de Andrade. Como um bom leitor, Erico não
dissassocia o vínculo ético entre a autonomia da obra de arte e a realidade social. Na
década de 30, analise politicamente o Estado Novo e suas relações com a Alemanha,
“condenando radicalizações de esquerda ou de direita e reclama um conceito de
compromisso apartidário, sob pena de arruninar-se o fazer literário”.
“A colcha de retalho”: sob o prisma da vastidão territorial e da diversidade regional, Erico
vale-se novamente do arquipélago intelectual de Viana Moog para falar sobre o romance de
30, principalmente, de amigos pessoais como Jorge Amado, Oswald de Andrade, Dyonélio
Machado, Clarice Lispector (uma estreante) e Graciliano Ramos (“notável contador de
histórias. Seu estilo é seco, preciso e correto”). Diz o autor que o “historiador se torna
incapaz de operar a seleção e o arranjo dos fatos” devido a impossibilidade de conhecer de
antemão o final do período; já o poder do romancista sobre seus eventos “é que ele sabe
como dispô-lo porque tem algo em vista e o historiador não pode fazê-lo sem afastar-se, o
que, no caso em questão, seria impossível.”
Erico Verissimo diz que o brasileiro é boêmio e que valoriza mais o afeto que
o dinheiro e defende a democracia livre, com o máximo de liberdade individual e de bem-
estar social; defende, ainda, que a atividade literária, de pés fincados no chão nacional e de
mãos dadas às do homem comum, batalha pela paz e pela fraternidade. O escritor, para
Erico, deve cumprir uma tarefa social -” revelar ao leitor vicisssitudes do povo que motivam
a ação no campo da arte enlaçando literatura e História sem perder o caráter lingüístico
criativo daquela e a concretude vital desta.” Erico, também, vê com má-vontade os
momentos literários em que predominam o cultivo da forma, em detrimento da significação.
Por associar ao uso poético da linguagem e à exploração mimética das formas de relação
social, Erico está entre os inovadores da nossa história da literatura, intérprete da relação
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escritor-sociedade, compromissado na relação literatura e vida, na eficácia da relação


texto-leitor. Para Erico Verissimo, o texto literário é a mimese que desvela o real pelo prazer
da linguagem, não pode separar-se da vida da humanidade nem da História dos homens,
reinventa-a com uma nova ordenação, mais compreensível. “Assim,( por hipóteses
ficcionais que só existem enquanto linguagem ) conta o que teria acontecido com aqueles
que a História não registra, preenche lacunas produzidas pelo poder dos vencedores e é
desse modo que pode representar um país mais integramente do que um historiador
poderia fazê-lo.”

para erico verissimo:


1- Os brasileiros não são dotados de mentalidade científica; Não os agrada a
precisão matemática. São loucos por palavras, cores e imagens; por boêmia; confia demais
em Deus e acreditam mesmo que Ele é brasileiro. Durante mais de quatrocentos anos, os
brasileiros seguiram fórmulas artísticas européias, primeiro de Portugal e depois de Paris.
Agora, 1944, é importante que norte e sul-americanos se conheçam mutuamente, porque
os habitantes deste planeta estão no mesmo barco, “numa travessia muito muito incerta e
tempestuosa.” E para isso é importante ser compreensivo porque sê-lo é “ser tolerante, e a
tolerância é a base da amizade e da paz.”
No começo do século XVI, Portugal era um país poderoso de conquistadores
marítimos, e Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para as Índias, a terra mágica
de onde vinham a seda, o ouro, as pérolas...Em Portugal havia A Casa das Índias que era
tão rica que não tinha tempo de contar o dinheiro; a história de Portugal foi contada por
Camões em Os Lusíadas. Foi nessa época que “descobriram o Brasil”talvez porque os
portugueses ricos sentiam falta de um bom tempero forte para os seus pratos, então vieram
ao Brasil e encontraram nativos: “um bando de sujeitos cor de cobre, de malares salientes,
olhos rasgados e faces impenetráveis”, recebendo sem muito estardalhaço as contas
multicoloridas que aqueles homens engraçados de bigodes e de roupas esquisitas que lhes
davam em sinal de amizade. “Os índios de caras tristonhas levavam uma vida muito
primitiva.” O escrivão da frota escreveu uma carta a seu rei descrevendo as maravilhas e
belezas naturais da terra e as peculiaridades de sus habitantes. Portugal, depois da
ousada investigação de Américo Vespúcio, resolveu colonizar o Brasil e mandou para a
costa nordestina “navios carregados de funcionários do governo, nobres arruinados,
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artesãos, padres e soldados. Entre eles havia uma porção de velhacos, de aventureiros
ambiciosos e criminosos condenados ao exílio; não trouxeram mulheres e, então, começou
a miscigenação com as mulheres indígenas.”
Os primeiros a chegarem foram os judeus portugueses que fugiam da
Inquisição; fundaram muitos povoados e iniciaram a agricultura no Brasil. O país foi dividido
em capitanias que eram dadas a fidalgos arruinados como feudos para governá-las com
os seus capitães. Duas delas progrediram: Pernambuco e São Vicente porque os europeus
começaram a consumir o açúcar dos senhores de engenho. Foi preciso, então,
trabalhadores; os índios eram muito descansados e queriam viver livremente como antes.
Então, os senhores de engenho buscaram na África os negros: a escravidão causou horror,
desgraça e sofrimento porque os senhores pareciam não terem problemas morais.Os filhos
estudavam Direito em Portugal.
O cruzamento entre o português e o negro produziu o mulato: o do índio com
o negro, o cafuso; e do português com o índio, o mameluco. No Brasil, a Língua Portuguesa
se enriqueceu com palavras indígenas e com palavras africanas. Os jesuítas espanhóis
eram pacientes, bravos e resistiam a tudo; aprenderam a língua dos nativos e, às vezes,
enfrentavam os senhores de engenho intercedendo pelos pobres selvagens. Entre eles,
um jovem e pequeno que se chamava José de Anchieta: arriscava-se entre tribos e
canibais e escrevia doces e puros poemas à Virgem Maria, na praia. Era tão sincero, que,
com sangue frio e simplicidade de espírito escrevia poesia de caráter ingênuo em meio a
uma luta tão incrível.
Pero Vaz de Caminha escreveu o primeiro documento ao rei de Portugal, D.
Manuel. Foi uma carta, onde descreveu “a nudez das mulheres indígenas; é um misto de
condor e cinismo, zombaria e sinceridade.” Escreveu que nessa terra “em se plantando
tudo dá” Em se plantando -esse era o problema. “Os índios eram pachorrentos e Os
mestiços também.”
Os índios eram sensuais e descansados, imaginativos e brincalhões. Os
negros trouxeram para o cadinho a música lamentosa e o senso de ritmo de suas almas
sofridas, seu terror cósmico e todos os fantasmas da jângal africana. Os “escurinhos”
exerceram grande influência na sociedade colonial brasileira.”
A poesia popular tem duas tendências: uma melancólica, outra folgazã. As
palavras que se encontram na poesia brasileira são: destino, dor, amor, tristeza, azar,
sofrimento e lágrimas. Às vezes, a nota predominante nos versos populares do Brasil é de
alegria e irreverência. Um dos personagens mais pitorescos do folclore português e
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brasileiro é um camarada chamado Pedro Malazarte - nome que significa “arteiro,


maldoso”: “foi um patife eternamente jovem, famoso por suas aventuras picarescas; era um
vigarista, um piadista, um tremendo mentiroso e a maioria de sua histórias é impublicáveil.”
Cor e beleza poética são encontradas nas lendas indígenas como na dA Filha da Cobra
Grande, dO Belo Guerreiro, do Curupira, do Saci Pererê, nas Amazonas ( a de Iara, réplica
indígena da sereia). O herói verdadeiro das fábulas é o jabuti, uma tartaruga pequena:
quieto, vagaroso, com espírito de filósofo; toca flauta e alimenta um rancor permanente
contra a onça, mas vence porque é um cara esperto, ardiloso e nunca se apressa. Nas
fábulas indígenas a moral é a “glorificação da astúcia e da esperteza, e não a da força,
violência ou coragem física.” Hoje, a adoração brasileira aos heróis centra-se no boêmio, no
sujeito malandro. Nas piadas, o papagaio, um patife inato, é a versão animal do Pedro
Malazarte.

2- No início do séc. XVII, em Portugal, apareceu um livro chamado

Prosopopéia, de Bento Teixeira, imitação barata de Camões que louvava o governador


da capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho; o seu valor é cronológico,
apenas: foi o primeiro livro de um escritor nascido no Brasil, um representante de uma “raça
danada de escritores cuja maior preocupação é apresentar cumprimentos às pessoas do
governo a fim de obter delas toda sorte de favores.” Muitos apoiaram ditadores e caudilhos;
venderam suas penas ao diabo; prostituíram a literatura. A sociedade brasileira prosperou:
os barões ficavam mais e mais ricos, enquanto os servos continuavam mal pagos, mal
alimentados, mal vestidos. No Brasil havia filhos e netos de portugueses, mestiços, negros
e índios convertidos. Os negros católicos convertidos misturavam o catolicismo à umbanda
e transmitiam esta religião primitiva às crianças dos brancos. O centro era São Vicente de
onde partiam sujeitos anônimos, aventureiros implacáveis sem fé religiosa nem
preconceitos, cuja meta maior era descobrir ouro, prata, pedras preciosas e caçar índios
para vendê-los como escravos. esses homens audasiosos entravam na selva, escalavam
montanhas, fundavam povoações, seguiam o curso dos grandes rios; saíam em grupos
denominados bandeiras: eram os bandeirantes que foram pintados por poetas e
romancistas com cores patrióticas. “Talvez houvesse entre os bandeirantes uns poucos
homens de boa vontade, idealistas, mas a maioria era apenas de aventureios bravos e
rústicos, esporeados pela idéia de enriquecerem.”
De 1580 a 1640, Portugal esteve sob o domínio político da Espanha. Filhos
dos senhores de engenho estudavam Direito na Universidade de Coimbra. Por isso, nossa
literatura era completamente imitativa, seguindo poetas italianos, espanhóis e portugueses.
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O “idioma brasileiro”a essa altura já tinha cinco mil palavras a mais que o português
original. A cultura também era imitativa: Recife e Olinda vivia no luxo e dissipação da corte
de Lisboa.
Houve a invasão holandesa: saquearam a terra e o povo, enviando à Holanda
as riquezas que podiam. Mas o líder holandês Maurício de Nassau achava esta política
imprudente, ele tinha visão de futuro, era tolerante e lúcido, sabia que o melhor era
conquistar com gentilezas e medidas políticas sensatas. Portugueses, índios, negros,
aventureiros, mesmo contra o interesse português, lutaram e venceram os holandeses,
chamando-os de “filhos do demônio.”
Frei Vicente de Salvador escreveu uma história do Brasil na qual ventilou
anseio de liberdade e denunciou Portugual por planejar o roubo das riquezas do brasil. O
seu livro foi publicado no fim do século XVIII. Pe. Antônio Vieira foi um grande pregador
religioso, com seus sermões eloqüentes e com humor sarcástico, peças insuperáveis de
oratória. Mas era um político “ardiloso, indigno de confiança. Ao tempo do domínio
holandês tentou desencorajar os compatriotas de sua luta e convencer Portugal a aceitar o
invasor holandês.” Botelho de Oliveira escreveu A ilha de Maré, poemas com um longo
inventário das belezas naturais da Bahia.
Gregório de Matos Guerra foi a figura mais importante da literatura
brasileira no séc. XVII por sua qualidade combativa de seus escritos e à natureza peculiar
de seu espírito, mostrando as qualidades e defeitos da raça em formação. Como poeta era
tanto satírico quanto lírico e moralista. “Foi a primeira voz nativa a ser ouvida na literatura
brasileira, o primeiro escritor a usar alguma gíria nacional em sua poesia e a traduzir em
linguagem poética algo do sentimento do povo.(...) O jabuti, a pequena tartaruga das
fábulas indígenas, tocava flauta. Gregório tocava violão. A diferença entre entre
essas duas personagens incríveis é que o bichinho era calmo e amante da paz,
enquanto o tocador de violão era inquieto e rixento. As pessoas o chamavam de
“boca do inferno”Todos o temiam. Contudo, às vezes Gregório cessava de ironias,
agressão e pilherias e tornava-se lírico.” É o primeiro representante da alma
brasileira.
3- O preço do açúcar caiu e muitos donos de usinas faliram. De todas as
partes do país vastos contingentes humanos- brancos, mulatos, mestiços, mamelucos-
foram para as regiões do ouro, Minas Gerais - Vila Rica que possuía ao seu redor mais de
cem mil habitantes. A capital administrativa passou para o Rio de Janeiro. Em Vila Rica
houve concentração de capital que financiaria mais tarde enormes plantações de café e a
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indústria de São Paulo. A renascença provocou em todo o mundo a criação das academias
literárias. No Brasil, várias delas foram criadas.
A figura literária mais interessante da época foi Antônio José da Silva, o
Judeu. Ele viveu em Portugal, era satirista, escrevia peças teatrais encenadas em Lisboa:
suas comédias eram irônicas e denunciavam a nobreza portuguesa- era crítica social na
comédia de costume. Veio a Revolução Francesa e a “liberdade”. Os poetas voltaram-se
para o nobre selvagem, louvaram os pastores es sua vida rústica na simplicidade da
natureza. Voltaram tembém para a Grécia antiga cujos habitantes cultivam a música e a
poesia. Em Vila Rica, viveu um pobre homenzinho aleijado, Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho, que esculpia na pedra, com martelo e cinzel amarrados em seus pulsos já que
não tinha mãos, santos e anjos, deixando no rosto dessas imagens as marcas de sua alma
sofrida. Em Vila Rica havia ódio, fome de ouro e violência. Portugal mantinha soldados,
fiscais, coletores de impostos causando ódio nos brasileiros. Alguns poetas tinham lido os
enciclopedistas franceses e deixaram-se embalar por um sonho nobre: libertar seu país do
jogo português. Os poetas conspiraram, mas sem a ajuda do povo: perderam. Seu cabeça,
um bravo homem, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi condenado à morte.
Literariamente, apareceu a Escola Mineira: Santa Rita Durão que escreveu Caramuru,
poema narrativo enfadonho e convencional imitando Camões; o assunto era a História do
Brasil. Basílio da Gama escreveu a luta dos índios contra os portugueses nas missões
jesuíticas, O Uraguai, poema mais importante escrito durante todo o período colonial; não
seguir a estrutura camoniana. Cláudio M. da Costa com seus versos eram técnicos. Silva
Alvarenga, cujos versos são de transição para o Romantismo. Tomás Antônio Gonzaga
escreveu liras de amor à Maria Dorotéia de Seixas, por quem se apaixonou à primeira vista:
ele era o pastor Dirceu e ela a Marília; a obra, Marília de Dirceu. Poucos dias antes do
casamento, Tomás foi julgado e degredado para a África. “Seus versos são doces, singelos
e inspirados.” Tempos antes da conspiração apareceu um livro satírico anônimo - Cartas
Chilenas- poema retratando com sarcasmo feroz o governador da província. “Os escritores
do séc. XVIII começaram a tomar consciência do social e a olhar da janela de suas torres
de marfim para o povo e seus problemas.”
Um acontecimento vai transformar a vida do país, a vinda de dom João de
Portugal com sua corte inteira para o Rio de Janeiro porque fugiam de um sujeito baixote
que, naquela época, tentava conquistar o mundo, Napoleão Bonaparte.
4- No início do séc. XIX, Portugal estava em péssima situação. Napoleão
ornedou que invadisse o pa[is e aprisionasse a Família Real. D. João resolveu fugir para o
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Brasil com a corte inteira. Chegando ao país, D.João implantou a primeira imprensa - A
Imprensa Régia - uma corte de justiça, uma biblioteca pública, o Banco do Brasil. O
comércio floresceu e o dinheiro circulava com maior intensidade. A Imprensa Régia
publicou o primeiro de seus livros: Marília de Dirceu, de Tomás A. Gonzaga. Os escritores
brasileiros produziam ensaios e artigos referentes a problemas políticos, filosóficos e
econômicos. Muitos escritores, tendo seus jornais, publicavam textos prenunciando o
Romantismo, dando razão aos seus sentimentos e anseio de liberdade. Entre eles, Frei
José Bonifácio foi muito importante. Agora, as pessoas tornavam-se patrioltas.
Logo o rei D.João VI voltou à sua terra e deixou aqui seu filho, D. Pedro I
que era sentimental, impulsivo e romântico. O rei ordenou que D.Pedro voltasse a Portugal,
as ele não lhe obedeceu; no dia 7 de setembro de 1922, proclamou a Independência. O
império napoleôncio acabava e a burguesia descobria o Romantismo que abrigava todo
o tipo de alma e de sonho e afirmava que todos os homens eram bons.Os poetas e
prosadores tinham permissão para contar aos seus leitores tudo sobre seus sofrimentos,
dúvidas e paixões. Os primeiros poemas românticos a serem escritos pro um brasileiros
foram os que José Bonifácio enviou da Europa, onde se encontrava exilado. No entanto,
Gonçalves de Magalhães introduziu a escola com Suspiros Poéticos e Saudades.
O poeta mais significativo da primeira fase foi Gonçalves Dias. Sua Canção
do Exílio é um dos poemas mais populares do Romantismo brasileiro. O mais ingênuo de
todos foi Casimirio de Abreu. Fagundes Varela bebia demais. Os poetas apreciavam um
sentimento que mais tarde Machado de Assis descrevia como a “volúpia do aborrecimento.
A maior figura do Romantismo foi Castro Alves, o primeiro dos nossos poetas conscientes
do social. Ele não se ocupava só com a tristeza, com a amor. Tinha compreensão humana
e compaixão; voltava os olhos às feridas crônicas e fez de si o paladino do abolicionismo;
ele pode ser encarado como o elo entre o Romantismo e o Realismo: em vários de seus
poemas antecipou as reivindicações proletárias que viviam anos mais tarde.O Romance
iniciou no Brasil com Joaquim Manuel de Macedo que fez enredos simples e tolos, com
personagens sãos maus ou bons demais e os enredos têm sempre um final feliz. José de
Alencar tinha um talento notável. Escreveu Iracema, mas sua obra mais famosa foi O
Guarani. Bernardo Guimarães era um romancista sentimental e seu livro A escrava
Isaura é a única contribuição em prosa do Romantismo à causa da Abolição.
No Brasil, a “ovelha negra”da era romântica, no campo do romance, foi
Manuel Antônio de Almeida que escreveu Memórias de um sargento de milícias.
Nossos autores eram poucos e muito brilhantes. Certos representantes na Assembléia,
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proferiam discursos irados contra o imperador, acusando-o de se deixar conduzir por


políticos poetugueses.O imperador fechou a Assembléia, o povo se rebelou e ele abdicou e
foi morar na França. Uma regência composta de três estadistas começou uma campanha
de maioridade para D.Pedro II que, em 1840, e com ele o Brasil começou uma era longa e
paífica. O declino do Romantismo coincide com a chegada do Naturalismo. No ano em que
Flaubert publicou se Madame Bovary, o grande marco do Naturalismo, José de
Alencar entragava mais uma obra romântica. a reação realista começava com Castro
Alves.
5- “Olhem o seu retrato. Rosto bastante melancólico e pensativo, parecido
com um profeta bíblico ou a um conquistador. Mas não, deve ser um sábio, um artista, um
astrônomo ou um poeta. Talvez apenas um amável e quieto avô. Está escrito sob o quadro
“Dom Pedro II, Imperador do Brasil”. “ Um homem apaixonado pela arte, literatura e
ciência; aprecia ler e escrever poesias, e é amigo pessoal de Victor Hugo. O imperador foi o
“presidente”mais democrático de toda a América Latina; ele ficou alarmado com o modo
que os romancistas como Alencar e Macedo eram contra os que manchavam a língua
materna com tantas palavras indígenas e africanas, expressões populares e solecismos
brasileiros. D.Pedro II não herdara as paixões violentas e a falta de equilíbrio de seu pai;
deu ao país quase cinqüenta anos de progresso e paz interna.
Na Europa, a Revolução Industrial mudara as faces das coisas: as novas
descobertas e invenções científicas lançaram sua luz no reino das idéias filosóficas. A
nossa estrada de ferro veio somente trinta anos depois. Os nossos historiadores só viam a
parte boa da nação, não queriam mergulhar a fundo e ver a situação dos oprimidos,
populações negligenciadas dos sertões e os escravos. No entanto, havia um poeta que viu
os escravos sob a luz diferente, Castro Alves, que deu expressão poética ao sofrimento e
a miséria dos negros; seus poemas comoveram milhares de leitores e quando a campanha
abolicionista se iniciou, as pessoas estavam preparadas para apoiá-la. Dois partidos
dominavam a situação: o conservador (moderado) favorecia a monarquia e a tradição e era
sustentado pela nobreza que investia em escravos - o Imperador odiava a escravidão, mas
não assinava nenhum decreto porque temia a falência de fazendeiros, trazendo
perturbações econômicas à nação; o outro era o republicano: com a Grã-Bretanha aderindo
ao abolicionismo, enviando os seus navios para impedir o tráfico dos negros, os
mercadores cessaram e a escravidão continuou somente dentro do país; com a morte de
Castro Alves, os seus poemas ganhavam mais virilidade no coração das pessoas e
apareceram mais jovens tributos como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e José do
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Patrocínio, desfraldando a bandeira do abolicionismo e da república. O Brasil pagou alto


preço na Guerra do Paraguai. Os fazendeiros nordestinos preferiram pagar salários
diminutos aos negros a dar-lhes roupas e alimentos. A 13 de maio, a filha de D.Pedro II,
Princesa Isabel, assinou o decreto libertando todos os escravos do Brasil.
A Madame Bovary, de Flaubert, iniciava uma nova moda no romance,
substituindo a subjetividade empírica pela objetividade científica, combatendo o
egocentrismo demasiado dos românticos. Tobias Barreto foi o primeiro brasileiro a ler
em alemão e ergueu a voz ameaçando os tabus e crenças que ainda dominavam o país.
Os mitos teológicos deveriam ser substituídos pelas verdades científicas. Ele foi o primeiro
crítico a louvar O Mulato, de Aluísio de Azevedo, primeiro romance naturalista brasileiro.
O Cortiço, no mesmo autor, mostra a vida sórdida e mesquinha dos pobres em contraste
com o conforto da burguesia carioca. Júlio Ribeiro escreveu A Carne. Raul Pompéia
escreveu O Ateneu: experiência de um rapaz num internato. A vida de Pompéia foi
acossada pela dúvida e entrou na porta trágica do suicídio.
Joaquim Maria, mulato nascido no Rio, aos dezesseis anos escreveu seu
primeiro poema, “Para um um anjo.” Publicou seu romance Memórias Póstumas de Brás
Cubas aos trinta e seis anos. Era conhecido por todo o país como Machado de Assis e era
uma figura respeitada na literatura brasileira; jovens buscavam nele encorajamento.
Quando morreu, escreveram ensaios sobre sua vida e obra. Homem frio, sofria de uma
terrível doença, era epilético; tinha medo que desse um ataque em lugar público. Tinha
defeito vocal, mas compensava-o escrevendo com fluência e correção. Memórias
Póstumas de Brás Cubas, romance escrito em primeira pessoa, é uma história cínica e
muito irônica, não lágrimas na voz do autor, mas uma espécie de humor sadônico, um
sorriso “amarelo”. Em sua opinião, o homem não é uma unidade e sim “uma errata
pensante.” O seu romance mais humano foi D. Casmurro, onde o herói, Bentinho,
descobre que sua esposa o traiu, fica intrigado e transtornado, pois se conhecem desde a
infância. O conto O Enfermeiro, conta a história de um homem que cuida de um ancião por
muito tempo até que um dia, cego pela raiva, o mata e depois descobre que o velho o fizera
herdeiro. Quincas Borba traz um estupendo retrato de mulher, Sofia que engana Rubião
com suas falsas promessas de amor. Machado de Assis não participou da vida política da
época, não se importava com a vida política ou social. Faleceu em dezembro de 1908,
passou seus últimos dias sentado em uma poltrona, sentia fortes dores, mas procurava não
gemer ou reclamar para não perturbar os amigos que o visitavam. Poucos momentos antes
de morrer, disse a um amigo que “A vida é boa.” “Machado de Assis morreu como
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vivera: sereno, atencioso, odiando a idéia de ser um espetáculo ou um aborrecimento


e de causar problemas aos amigos. Até seu último instante foi fiel a sua falta de fé.
Era coerente, circunspecto e bravo. Nós, brasileiros, temos muito orgulho dele.”

6- Nenhuma revolução feita na época, como a Abolição e a República, foi


feita sem a ajuda do Exército e nenhuma decisão foi tomada sem o consentimento do
Exército que possuía grande força nos setores político e social.
Os parnasianos resolveram reagir contra os exageros sentimentais dos
românticos que escreviam versos de louras virgens e mortas. Criaram uma poesia digna e
viril, com recomendação a mais severa observação das leis da rima e do metro, com frieza
impassível e beleza calma. Machado de Assis e Luís Guimarães foram os precursores
dessa poesia. Raimundo Correia era um poeta meticuloso quanto à forma e se
interessava por idéias filosóficas, era pessimista. Para ele “Tudo é sofrimento.” Alberto de
Oliveira foi um dos mais surpreendentes técnicos do verso em Língua Portuguesa, mas
que os seus poemas não tinham graça, não atraíam porque eram muito arquitetados e
engenhosos. causava tortuosidade à primeira leitura; frases indiretas e poemas corretos
gramaticalmente, escolhia palavras acadêmicas de difícil compreensão. Olavo Bilac era
otimista, popular, fazia versos fluentes, seus poemas eram repletos de jovens virgens,
sentimentos, natureza e intenções sexuais em muitos poemas eróticos. Aníbal Teófilo
passou 13 anos fazendo um único soneto, A Cegonha.
O Simbolismo nasceu em 1880 em Paris sendo a reação espiritual contra a
impassibilidade fria dos parnasianos; os simbolistas amavam idéias e modos refinados de
expressão literária e artística, interessavam-se mais as paisagens interiores do que as
exteriores, utilizavam palavras indiretas.
Cruz e Sousa é considerado o poeta brasileiro mais importante: era negro e
possuía uma alma sofredora; mostrava em seus versos preocupação com as palavras
como “obscuro, sinistro, escuro, humildade, profundidade” que sugerem sombra, prisão,
coisas submersas, tristeza e morte. Às vezes, era quase incompreensível, mas possuía
uma sensibilidade excepcional. Alphonsus de Guimarães tinha um toque religioso e
místico, amava as rosas e flores em geral, as janelas ogivais das igrejas, o cheiro de
incenso e os anjos. Augusto dos Anjos era um homem fascinado pela ciência e saturado
dos filósofos monistas. Emílio de Menezes era um trocadilhista incorrigível e amigável
boêmio; era um hábil satirista cujos versos são verdadeiras obras de arte, cheios de
agudeza irreverente. No teatro. Arthur de Azevedo escreveu contos e peças humorísticas.
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Os críticos eram meio desajeitados: Sílvio Romero escreveu a monumental História da


Literatura Brasileira em cinco grossos volumes. É uma obra muito mal escrita e se torna
difícil lê-la. José Veríssimo era um mestre-escola que nunca perdeu o hábito de corrigir os
erros dos outros. Como crítico era bem intencionado e em geral bem informado. Mas sua
escrita não possuía encanto e seus pontos de vista careciam de perspectiva sociológica.
Capistrano de Abreu foi um dos mais excepcionais historiadores do período. Era
trabalhador, preciso, mas sem atrativo para o leitor comum; seus livros são antes um
tesouro de informações do que de idéias e de comentários elucidativos. Na vida intelectual,
Rui Barbosa foi uma figura eminente: baixo, magro, crânio enorme, bigode espetado; foi
advogado, jornalista e orador. Foi uma das maiores autoridades em Língua Portuguesa no
Brasil e quem a usou com maior eficácia, beleza e opulência. Realizou a histórica
conferência de Haia, tendo uma grande e marcante participação, pois representou o Brasil.
Todos se surpreendiam quando viam que aquele pequeno homem sabia falar outras dez
línguas. Retornando vitorioso da conferência, Rui Barbosa recebeu no Brasil o título de “A
Águia de Haia.”.

7- No mundo literário brasileiro, não se encontravam escritores reunidos em


escolas. Agora se viam indivíduos, autônomos, cada um com seus traços e tendências
peculiares. João do Rio, nome do cronista e contista Paulo Barreto, dizia que “a vida imita
a arte”ao invés da arte imitar a vida. Fazia-se agora crítica social à sociedade brasileira.
Lima Barreto foi um romancista muito interessante preocupado com o Rio de Janeiro,
principalmente com a vida suburbana. Osório Duque Estrada era professor, crítico e poeta,
autor da letra do Hino Nacional.
“Durante a última década do séc. XIX, um grupo de gente pobre e ignorante
se reuniu nos sertões do Brasil em torno de um homem conhecido por Antônio Conselheiro,
que, dizia-se, operava milagres. Eram pessoas analfabetas, subnutridas, roídas pelas
intempéries, com uma aspiração natural por uma vida mais afortunada.” Ele era um
messias, uma fonte de conselho. Fundaram um povoado, Canudos. O conselheiro fazia
seus sermões e dizia: “Abaixo a república!” O sertão foi infectado pela lenda do “santo”e a
cidade oferecia refúgio seguro para criminosos e fugitivos da justiça. Logo começaram a
assaltar estradas e cidades para construir templos. O “Profeta dos Sertões”pregava o fim
do mundo. Com medo dos conselheiristas, uma cidade próxima, Juazeiro, pediu proteção à
polícia: vieram cem policiais de trem e foram mortos pelos canudenses. “O que parecia um
simples caso de polícia se transformou numa verdadeira guerra.” Os soldados
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conseguiram, depois de muitas derrotas, derrotar a cidade bárbara, mas “Canudos não se
rendeu”.
Enquanto muitos literatos se mostravam despreocupados com os problemas
nacionais e Rui Barbosa dizia com orgulho que tinha achado quarenta sinônimos para a
palavra “prostituta”, Euclides da Cunha, em 1902, publicou Os Sertões: um estudo muito
sério e profundo do interior - sua fauna, flora, geografia, clima, geologia e etnologia - junto
com um relato honesto e vigoroso da campanha de Canudos. Seu impacto atordoou
críticos, políticos, militares, artistas, literatos e leitores comuns. Milhares liam Os Sertões;
muitos pulavam as duas primeiras partes - A Terra e O Homem- porque eram carregadas
de termos técnicos, mas se encantavam com a terceira: A Luta. Sua prosa era nervosa,
impaciente, quase feroz, mas por vezes adquire uma tranqüilidade disciplinada e até fria,
mas sempre precisa e correta. Os Sertões foi um marco importante porque inaugurou uma
nova era na literatura brasileira porque deu início a um tipo de literatura regional cujos
heróis eram gente do interior e cujas paisagens eram nativas, como “nativos eram, também,
seus problemas, conflitos e paixões.” Afonso Arinos escreveu um livro de contos chamado
Pelo Sertão; Coelho Neto, um chamado sertão e Domingos Olímpio, um romance
chamado Luzia Homem. No Rio Grande do Sul, apareceram Alcides Maia ( mais
acadêmico) e Simões Lopes Neto ( fiel à gente e à vida do campo onde seus contos e
lendas tinham uma beleza não sofisticada). Monteiro Lobato, em são Paulo, escreveu
contos sobre os caipiras e sua vida simples. Graça Aranha escreveu Canaã, o precursor
do romance de idéias no Brasil.
8- As primeiras décadas da história do Brasil produziu muitos escritores:
alguns muito bons e outros muito ruins. Contar histórias é sempre exagerar as coisas e as
pessoas para o bem de sua história. Depois da primeira grande guerra, muitos escritores
brasileiros se comportaram como se nada houvesse ocorrido na Europa e no mundo.
viviam num mundo de quimera. O regime republicano encontrara o país unificado e dotado
de ferrovias, escolas, academias, parques industriais e muitos melhoramentos. As
plantações de café em São Paulo prosperaram. O Brasil começou a fase urbana de sua
história. Havia muitos partidos políticos por todo o país, aumentando, também, a
burocracia. Os governantes pediam empréstimos ao exterior a juros muito altos. Havia
muitos afilhados e protegidos e seus prestígios eram calculados de acordo com suas
capacidades de distribuir favores. As eleições eram de quatro em quatro anos e quando o
presidente estava para deixar o cargo, nomeava seu próprio sucessor para continuar a
máquina de favores. Na teoria, o país possuía um regime democrático, mas as eleições em
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geral eram fraudadas e a vitória era impossível aos partidos de oposição. Três grandes
estados disputavam a supremacia: São Paulo - ricos e empreendedores-, Rio Grande do
Sul - camaradas durões- e Minas Gerais - políticos ardilosos. Havia tanto jogo político que
os líderes não tinham tempo para os reais problemas da nação. Ainda bem que o povo
brasileiro tem um excelente senso de humor, um olho aguçado para o cômico e certa
tolerância ao pessimismo. A atitude dos intelectuais brasileiros era de pessimismo; haviam
participado da guerra apenas pelos jornais.
Nessa época, vivia no Brasil, no interior de São Paulo plantando café, um
advogado que não gostava da profissão; baixo, irrequieto, de rosto osssudo e bronzeado,
sobrancelhas grossas e negras, olhos escuros e chispantes: era o José Bento Monteiro
Lobato. Um dia, preocupado com os incêndios no interior, escreveu uma carta para o jornal
O Estado de São Paulo. A carta foi tão recebida que tempos mais tarde deu origem ao um
famoso livro, Urupês. Nele há o retrato de um caipira, Jeca tatu, saudado por Rui Barbosa
como o “protótipo do homem brasileiro.” Um triste símbolo. Lobato dizia que o Jeca Tatu
era preguiçoso e apático só porque o governo não lhe concedia a mínima atenção. Jeca era
analfabeto; não tinha assistência médica - vivia como um proscrito. Jeca tatu era
impenetrável ao progresso e à evolução; estava sempre de cócoras, fumando seu
cachimbo de barro. Passaram a Independência, a Abolição e a república e ele de cócoras.
ele odiava o trabalho. Vendia na feira aquilo que a natureza derramava por conta na sua
chácara abandonada. Na época de eleição, vestia-se com o seu domingueiro e votava, no
governo. Lobato dizia: “Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na
realidade! Só ele não fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de tanta vida,
não vive...” Monteiro Lobato criou a Revista do Brasil e uma editora e ajudou muitos
escritores de sua época. Lobato tinha muito de humorista e não raro seu humor se tingia de
sarcasmo. Era franco e incisivo. Zombava dos políticos e nunca lhes dava confiança. Para
criticar, usava seu personagem, Mr. Slang, um inglês, que falava com seu jeito esquisito e
irônico.
9- Em 1922, alguns artistas e intelectuais mantiveram famosos encontros - A
Semana de Arte Moderna- onde poetas, prosadores, pintores e músicos decidiram
assentar as bases de uma nova arte, mais expressiva de seu país e de seu tempo. Diziam:
“(...) Somos filhos de uma terra nova e rica e devemos ser alegres e fortes!
Escrevamos uma literatura que seja brasileira de verdade, que cheire à nossa terra e
represente com maior fidelidade os sonhos de nosso povo!”. Mário de Andrade e
Oswald de Andrade foram os líderes. Esse era irriquieto, imaginativo, gaiato e ousado;
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escreveu o livro de poesia Pau Brasil. Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema
“No meio do caminho”, um clássico da escola modernista. A fase inicial do movimento foi
puramente destrutiva: contra os parnasianos, escreviam poemas sem metro e sem rima.
Conta a Academia Brasileira de Letras, criaram o movimento antropófago e diziam que
iriam devorar os quarenta membros da Academia. Os poetas e romancistas tinham
aprendido que “a língua é só um meio de expressão e não um fim em si mesma e que a
verdadeira poesia não depende unicamente da pura beleza das palavras.” Manuel
Bandeira aderiu à Semana e se tornou o “São Batista do Modernismo”com sua obra Ritmo
Dissoluto; Guilherme de Almeida assimilou bem as novas regras e Cassiano Ricardo
lançou Vamos caçar papagaios: uma espécie de tela selvagem, pintada em cores vivas e
exuberantes, cheia de animais e flores tropicais vermelhas. Jorge de Lima escreveu Essa
negra Fulô, um poema folclórico bem brasileiro. Graça Aranha, em 1924, rompeu com a
Academia chamando os colegas de um bando de velhos com mentes fossilizadas e que
suas idéias e seus gostos e padrões literários eram antiquados e gastos; bradou dizendo
que o mundo pertencia aos jovens e que a Academia tinha de mudar seus métodos ou
morrer: foi aplaudido pelos jovens convidados e carregado nos ombros. Igualmente o foi
Coelho Neto, porém pelos acadêmicos como um “símbolo vivo do passadismo.” Ronald de
Carvalho e Raul Bopp apareciam com vigor: o primeiro com Epigramas irônicos e o
segundo com Cobra Norato, poemas cósmicos e folclóricos sobre a selva amazônica.
Os artistas agora estavam cônscios de sua responsabilidade social. No
modernismo apareceram três direções: a primeira com os socialistas Mário e Oswald de
Andrade dando ênfase no fator econômico na vida social; a segunda com o neocatolicismo,
de centro, nas obras de Jackson Figueiredo e Tristão de Ataíde que diziam que a crise
estava na falta de fé e a terceira, de direita, de Plínio Salgado, criador do partido
Integralista.
Luís Carlos Prestes, um engenheiro militar, bom estudante e bom soldado,
baixo, magro, trigueiro e taciturno, de rosto bastante triste, mas sereno comandou uma
rebelião contra o governo brasileiro. O seu plano nacional fracassou, mas, em Santo
Ângelo começou uma marcha revolucionária do Rio Grande à Bahia, mais de oito mil
quilômetros. Ele era o “Cavaleiro da Esperança”. No final, perdeu e se exilou, enveredando
pelos ensinamentos do comunismo soviético. Em 1930, Getúlio Vargas tornou-se
presidente e convidou Prestes para ser seu companheiro, mas esse não aceitou porque
não era mudando a pessoa que tudo iria mudar. Com Getúlio, começou a República Nova :
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as pessoas estavam cheias de esperanças e alegrias, era uma era de liberdade e


democracia. Agora, quase todos revelavam consciência social.
10- Na década de 30, começou-se um balanço do Modernismo. Todos viram
um grande livro de Mário de Andrade - Macunaíma, herói sem nenhum caráter- um
“brasileiro de sangue indígena que é a epítome de algumas das qualidades e defeitos de
sua raça. É imaginativo, desinquieto, malicioso, sensual, cheio de truques, terno e bem-
humorado”. O livro é escrito em “brasileiro”língua de fato falada por pessoas comuns do
Brasil, pitorescamente rico e flexível, colorido e informal. Macunaíma é uma peça de
folclore muito preciosa. Os escritores de 30 começaram a se interessar pelos problemas
sociais e filosóficos de seu tempo. Gilberto Freyre, sociólogo, escreve informalmente, de
modo muito colorido a sua obra monumental Casa Grande e Senzala. Muitos seguem o
mesmo caminho: Afonso Arinos, Sérgio Buarque de Holanda, Anísio Teixeira, Azevedo
Amaral.
Mário de Andrade foi muito versátil, escrevendo sobre a arte, a música, a
literatura. Viana Moog diz que “os humoristas são os heróis nos períodos de declínio.” Os
colunistas interessam-se principalmente pelos homens e problemas de seu país e não raro
entram em tremendas discussões uns com os outros. Rubem Braga escreve O Conde e o
Passarinho, cheio de sentimentos fraternais, obras-primas de fantasia irônica. Oswald de
Andrade escreve peças sociais repletas de alegorias e humor.
11- A Literatura Brasileira é dividida entre Deus e os Oprimidos: Deus (
preocupados com os destinos da alma, com o pecado e com o sentido último da
existência, subjetivo, bastante metafísico, penetrando no reino do mistério) e os Oprimidos (
interesse pelas condições de vida das classes pobres e pela justiça social, objetivo,
positivamente físico, ocupado com o documento humano). Vinícius de Moraes escreve
poesia de alto nível, sem jamais perder o contato com as realidades do dia-a-dia. Os versos
de Carlos Drummond de Andrade são obras-primas de ironia e ele sabe como extrair
motivos para poesia de acontecimentos e pessoas corriqueiras. Mas Drummond, às vezes,
não seguia esses dois pólos, o que prova “ser mais fácil classificar borboletas que poetas.”
Manuel Bandeira reúne ternura e ironia em seus versos. Sofrendo de tuberculose, divertia-
se com ela. Augusto Frederico schmidt é corpulento, católico, culto e arguto. Sua alma é
um poço de impulsos contraditórios; é um homem ambicioso e um asceta, um anjo e um
demônio. Cecília Meirelles e Mário Quintana conseguem ser profundos com vocábulos
simples, combinam as palavras para dar-lhes uma força nova, um novo sentido. Quintana é
um boêmio quieto e tímido que vive num mundo de sua própria lavra. Tanto ele como
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Cecília gostam de cantar a respeito de meninos enfermos e pequenos reis. Seus poemas
estão cheios de representantes da fauna e flora do mar e da flora e da fauna dos céus.
É na literatura de ficção que os atuais problemas e os aspectos regional e
nacionais afloram. Os anos 30 foram muito conturbados com a revolução de 30, com a
Constitucionalista, com a luta do forte de Capacabana, com a luta entre os comunistas -
“Pão, Terra e Liberdade.”- e os integralistas - “Deus, Pátria e Família.” Em 1937, Getúlio
Vargas faria uma eleição para presidente. Todos se organizaram; um grupo lançou o
ficcionista José Américo de Almeida. Getúlio instituiu o Estado Novo dizendo que combatia
os comunistas e os integralistas. Esses tentaram o golpe e fracassaram. Começou a
ditadura e com ela a censura que é fatal para a literatura.
12- Tem-se dito que o verdadeiro romance brasileiro seria o que fosse capaz
de abranger toda a paisagem geográfica e humana nacional. Mas isso seria impossível em
um só escritor, mas é possível em vários. O Brasil tem suas peculiaridades regionais, é
uma concha de retalhos. A região amazônica é uma terra de pesadelo para além da
descrição. tem um tipo de beleza primitiva e trágica. A alma de seus habitantes oscila febril
entre dois horrores fascinantes: a selva e o rio. A natureza parece ser a personagem
central dos contos e romances do Amazonas. Viana Moog escreveu sobre O Ciclo do Ouro
Negro. É um escritor sofisticado, de mentalidade européia, que dá em prosa límpida suas
impressões de uma terra e povo primitivos.
O Nordeste [e uma região intrigante e expressiva do Brasil. Compreende
cerca de quatro estados da costa setentrional. É principalmente agrícola; o açúcar e o ciclo
da cana-de-açúcar e pelo seu ciclo se pode traçar em paralelo a história social dessa
região. Há em Pernambuco a cidade de Recife, “a Veneza brasileira.” E Olinda conta a
história dos colonizadores portugueses e dos invasores holandeses. Gilberto Freyre fala da
influência dos portugueses, do negro, dos índios na sociedade nordestina: o folclore, a
história, a arte, a culinária, a vida rural e urbana. José Lins do Rego traça um painel do ciclo
da cana-de-açúcar através de sua memória: seu estilo é muito pessoal; é um hábil escritor
que tem o poder de nos fazer acreditar em tudo o que conta. José Américo de Almeida, em
1928, publicou A Bagaceira, descrevendo pobres almas assoladas pela seca, que as faz
parecerem cadáveres ambulantes. Rachel de Queiroz, antes de completar 20 anos,
publicou O Quinze, sobre a seca de 19l5, livro destituído de intrigas e bastante seco. No
Nordeste tem-se no prefeito e chefe político da cidade o título de coronel; outra figura
importante é o pároco católico. Tem-se, também, a pobreza, a miséria, a fome, a injustiça, a
prostituição, a ganância, o ódio, a inveja, o amor. Graciliano Ramos, um dos mais sólidos
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e profundos escritores brasileiros, é uma pessoa sombria e amargurada que sofreu na


carne muita violência, injustiça e lento horror. É um notável contador de histórias com seu
estilo despojado, preciso e correto.
A Bahia é famosa por suas trezentas e sessenta e cinco lindas igrejas, a
maioria de estilo colonial português. Famosas também são suas canções, culinária,
coloridas mães-pretas. Jorge Amado escreve sobre a Bahia e não tem amor nem respeito
pela gramática; sua prosa é fluente, pitoresca e expressiva. Suas histórias se tingem de
uma espécie varonil de lirismo. Suas personagens em geral são gente rude, estivadores,
pescadores, fazendeiros, vagabundos, prostituas, bandidos e ele tem especial amor aos
negros.
Minas Gerais é a “Suiça brasileira”: são velhas cidades tradicionais, cheias de
memórias dos tempos das corridas do ouro e diamantes, românticas igrejas coloniais,
solares e fontes. Cyro dos Anjos, seguindo a melhor tradição de Machado de Assis,
escreveu O Amanuense Belmiro, seguindo o romance psicológico.
Os cariocas amam acima de tudo três coisas: o sol, o mar e o samba. São
eles próprios os detalhes mais coloridos e ricos da paisagem; o samba é a linguagem
natural. Marques Rebelo registrou a vida no Rio de Janeiro em A Estrela Sobe: a vida
tradicional da cidade, os homens e mulheres de escritório, os funcionários públicos
antiquados, os vadios, vendedores ambulantes, burgueses, compositores de samba,
cantores e dançarinos.
Em São Paulo, aparece Antônio Alcântara Machado, um excelente humorista,
hábil escritor, registrou a vida paulista com muita maestria.
O Rio Grande do Sul sempre foi o principal campo de batalha do país Viu
muita invasão estrangeira. Seus habitantes estão acostumados à guerra; é uma terra de
estâncias e vaqueiros e as atividades de sua gente são violentas. Os gaúchos são
impetuosos, um bocado gabolas, mais amigos muito leais. Diz-se que são incapazes de um
ato de traição. Nunca recorrem à emboscada. Gostam de combate singular e enfrentam o
inimigo face a face, tendo seu código de honra um forte matiz espanhol. Cyro Martins,
homem apaixonado pelo campo e um extraordinário psiquiatra, focalizou problemas sociais
num grupo muito recomendável de romances como Enquanto as águas correm, Mensagem
errante e Porteira fechada. Dyonélio Machado fez sucesso com Os Ratos, uma novela
sombria da vida cotidiana, cujo herói é um homem comum; seu estilo é preciso, minucioso
e algo destituído de cores.
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Os brasileiros são, em geral, pessoas caracteristicamente simples. Claro que


têm muitos de feitos, mas quando estiver dito e feito, se encontrará neles um resíduo de
virtudes. Para eles a amizade é a palavra mágica; o importante é não ser rico, mas ser
simpático. Tudo o que o Brasil precisa é resolver seus problemas mais sérios e mais
urgentes: o analfabetismo, a pobreza e a doença entre as classes mais baixas. Nos últimos
anos, os escritores brasileiros deixaram de ser meros malabaristas verbais, pisaram em
terra e deram as mãos ao homem comum nessa “cruzada universal por um mundo melhor
de paz, fraternidade e liberdade.”

VESTIBULAR DE VERÃO DA UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO


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* bREVE HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA, de Érico verssimo


* A FACA NO PEITO, de adélia prado

* IBIAMORÉ, o trem fantasma, DE rOBERTO bITTENCOUR mARTINS


* VIDEIRAS DE CRISTAL, de Luiz Antônio de assis brasil.

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