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Discussões acerca da construção da dissertação intitulada: A formação

do leitor infantil no século XIX: leituras indicadas em compêndios


escolares, jornais e leis

Jocilene Pereira Lima (UFPB/ Mestranda)


jocilenelima@yahoo.com.br
Orientadora: Profª. Drª. Maria Ester Vieira de Sousa
teca.vieiradesousa@gmail.com

A presente comunicação é oriunda de discussões acerca da história da leitura no


século XIX, especificamente dos textos destinados à formação do leitor no referido
século, foco de nossa dissertação de Mestrado, junto ao Programa de Pós-graduação em
Linguística da Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação da Professora Doutora
Maria Ester Vieira de Sousa.
A dissertação, intitulada A formação do leitor infantil no século XIX: leituras
indicadas em compêndios escolares, jornais e leis, tem como objetivo geral investigar
que textos, no século XIX, eram destinados para a formação dos leitores,
especificamente, para o público infantil. Delimitamos como recorte temporal a primeira
fase do século XIX, correspondendo ao período compreendido entre 1822 a 1831, e
início da segunda fase do período imperial.
Para tanto, elegemos como corpus os suportes que circularam no interior das
escolas, a exemplo, dos livros de leitura, e jornais da época, claramente identificados
com o público infantil. Nesse sentido, o corpus é constituído por: Compêndios
Didáticos: Tesouro de Meninos (1851) e Tesouro de Meninas (1846); Jornais: O
Mentor da Infância (Bahia, 7 nov. 9 dez. 1846, ns. 2-7,10, 12), O Recopilador, ou
Livraria dos Meninos (Bahia, 11 jul.1837/6 abr. 1838, ns. 1-17). A fim de melhor
precisar o contexto educacional e o discurso de formação da criança, recorreremos ao
discurso oficial, expresso em documentos, a exemplo da Lei de 15 de outubro de 1827,
do Discurso do Presidente da província paraibana (1850), da Coleção das Decisões do
Governo do Império do Brasil de 1833 e da Coleção das leis e decretos do Império do
Brasil desde a feliz época da sua Independência.
Compreendemos a leitura como prática social e cultural na perspectiva teorizada
por De Certeau (2011) e Chartier (1991, 1999, 2001), cuja história necessita ser pensada
a partir da relação entre texto/leitor/autor/suporte. Também associamos às nossas
discussões sobre leitura reflexões sugeridas por Manguel (1997), Darnton (2010), Abreu
(1999, 2001), Barbosa (2007), Zilberman e Lajolo (1998). Acerca da educação
brasileira e dos livros didáticos do século XIX, consideremos relevante citar os
trabalhos desenvolvidos por Galvão e Batista (2009) e Bittencourt (2004), dentre outros.
Para compreensão dos dispositivos linguísticos que permitem pensar a linguagem, e o
discurso, utilizamos Orlandi (2010) e Foucault (2002, 2008).

Considerando especificamente o nosso objeto de estudo, temos como


norteadores da pesquisa os seguintes questionamentos: Que textos aparecerem na
composição dos compêndios Tesouro de Meninas, Tesouro de Meninos e nos jornais O
Mentor da Infância, O Recopilador, ou Livraria dos Meninos? Como se configuram e
como podem ser caracterizados esses textos? Como se caracterizam os suportes que
carregam esses textos? Que leitor esses textos visam formar? Nos discursos oficiais da
época sobre a educação, como questões sobre a formação do leitor infantil eram
tratadas? A partir dessas perguntas de pesquisa, formulamos os seguintes objetivos
específicos: caracterizar a materialidade dos compêndios didáticos e jornais estudados,
enquanto suporte dos textos e corpus destinados a formação do leitor infantil; analisar
os textos dos compêndios didáticos e jornais a partir da perspectiva de leitura destinada
ao leitor infantil; investigar a relação entre os textos inseridos nos compêndios didáticos
e nos jornais e o discurso sobre a leitura para criança no âmbito escolar e não-escolar
brasileiro no século XIX; pesquisar a leitura institucionalizada para primeiras letras, ou
seja, aquelas determinada pelas leis e documentos oficiais; averiguar a repetição dos
discursos e textos acerca da formação de leitura.
O entrecruzamento das análises dos compêndios didáticos, dos jornais e das leis
nos permitirá uma visão mais acurada para falar acerca da história da leitura e da
formação do leitor no século XIX. Nessa perspectiva, acreditamos igualmente que os
suportes estudados possam nos ajudar a entender melhor o percurso de formação do
leitor no território brasileiro.
O desenvolvimento do tema da dissertação apresentada é decorrente de reflexões
ocorridas na Graduação em Letras (UFPB) durante dois anos consecutivos de
participação no Projeto de Iniciação Científica, financiado pelo CNPq: Uma História
da Leitura: os livros didáticos na Paraíba no Segundo Reinado, coordenado pela
Profª. Drª. Socorro de Fátima Pacífico Barbosa.
A continuação da investigação em nível de Mestrado, especificamente, tomando
como corpus compêndios didáticos, jornais da época e os discursos institucionalizados
estabelecidos para o ensino primário no século XIX, mostra-se pertinente, porque irá
contribuir para a compreensão do ensino da leitura, da língua e da literatura. Em outras
palavras, acreditamos que estudar a História da Leitura, dos textos que são dados a ler
nos compêndios didáticos, entrelaçando com o que se diz sobre a leitura em jornais, a
partir dos textos destinados à formação de leitor nesses suportes, e as leis e documentos
oficiais que marcam um discurso oficial sobre a formação do leitor nos farão
compreender a nossa história de leitura. Defendemos, portanto que, o corpus da
pesquisa possibilitará rastrear os caminhos da história da formação do leitor infantil no
século XIX.

6. REFERÊNCIAS

6.1. Corpus da pesquisa

Livros de Leitura

BEAUMONT, Madame Leprince, Thesouro de Meninas. Trad Joaquim Ignácio Frias,


Lisboa, 1846. Disponível em: http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/. Acesso
em 03 de maio de 2011.
BLANCHARD, Pedro. Thesouro de Meninos. Trad. Matheus José da Costa. 6.ed.
Lisboa, 1851. Disponível em: http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/ .Acesso
em 03 de maio de 2011.
BLANCHARD, Pedro. Thesouro de meninos, obra clássica dividida em tres partes,
moral, virtude e civilidade. Composta em Frances. 5.ed.Rio de Janeiro: Typ. Seignot
Plancher, 1832.
BLANCHARD, Pedro. Thesouro de meninos, obra classica dividida em tres partes,
moral, virtude e civilidade, composta em Frances, vertida em portuguez e offerecida a
mocidade estudiosa por Matheus Jose da Costa. Nova edição correcta. Pernambuco:
Typ. de Santos & Comp.,1881.
BLANCHARD, Pedro. Thesouro de meninos, obra classica dividida em tres partes,
moral, virtude e civilidade, composta em Frances, vertida em português e offerecida a
mocidade estudiosa por Matheus Jose da Costa. Nova edição. Rio de Janeiro:
Laemmert, 1902.

Fontes Documentais

Collecção das Decisões do Governo do Império do Brasil de 1833.


Collecção das leis e decretos do Império do Brasil desde a feliz época da sua
Independencia. Página: 97
Legislação Brazileira do Imperio do Brazil - 1808/01 a 1831/12. Páginas: 101 e 102.
PARAÍBA. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial da Paraíba
do Norte pelo excelentíssimo presidente da província, o coronel José Vicente de
Amorim Bezerra, na abertura da sessão ordinária em 2 de agosto de 1850. Paraíba,
Typ de José Rodrigues da Costa, 1850.

Jornais

O MENTOR DA INFÂNCIA. Bahia, 7 nov.-9 dez. 1846=ns. 2-7, 10, 12.


O RECOPILADOR, OU, LIVRARIA DOS MENINOS: jornal moral, instructivo e
miscellanico. Bahia, 11 jul. 1837-6 abr. 1838 =ns. 1-7

Sites

“Caminhos do romance”: http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/


“História de Leitura na Paraíba”: www.cchla.ufpb.br/leituranapb
“Jornais e Folhetins Literários na Paraíba no século XIX”:
http://www.cchla.ufpb.br/jornaisefolhetins/bibliografia.html
“Memórias da leitura”: http://www.unicamp.br/iel/memoria/

6.2 Bibliografia

ABREU, Márcia (Org.) Leitura, história e história da leitura. Campinas: Alb;


Mercado de Letras e Fapesp, 1999.
Autores e editores de compêndios e livros de leitura (1810-1910) de Bittencourt (2004).
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n3/a08v30n3.pdf. Acesso em: 02 de
maio de 2012.
BARBOSA, Socorro de Fátima P. Jornal e Literatura: a imprensa brasileira no século
XIX. Porto Alegre: Nova Prova, 2007.
Batista, Antonio Augusto Gomes. Livros escolares de leitura no Brasil: elementos
para uma história/ Antônio Gomes Batista, Ana Maria de Oliveira Galvão. –
Campinas, SP: Mercado de Letras, 2009.
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros. 2ª.ed. Brasília: Editora da UNB, 2001.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. 17.ed.Petrópolis:
Vozes, 2011.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 17ª. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
____. O que é um autor? Portugal: Vega; Passagens, 2002.
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São
Paulo: Ática, 1998.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 9ª
edição. São Paulo: Pontes Editores, 2010.
SILVA, Fabiana Sena da. A tradição da civilidade nos livros de leituras no Império
e na Primeira República. Tese de doutorado. Universidade Federal da Paraíba, 2008.
SOUSA, Maria Ester Vieira de e ASSIS, Maria Cristina (orgs). História de Pesquisas
em Leitura in: Pesquisa em Língua Portuguesa: da construção do objeto à perspectiva
analítica. João Pessoa: Editora da UFPB, 2011.

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