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POLÍTICAS

PÚBLICAS E
EDUCAÇÃO

Caroline Costa Nunes


Lima
Declaração da UNESCO–ONU
sobre a educação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as propostas da Declaração da UNESCO–ONU sobre a edu-


cação no que diz respeito às necessidades básicas de aprendizagem.
 Reconhecer o direito à educação a partir da Declaração da UNESCO–ONU.
 Analisar as influências da Declaração da UNESCO−ONU sobre a edu-
cação na legislação educacional brasileira.

Introdução
Neste capítulo, você vai conhecer um documento que trouxe significativas
transformações ao campo educacional: a Declaração Mundial sobre
Educação para Todos, da UNESCO–ONU. Esse documento foi elaborado a
partir de uma conferência realizada em Jomtien, na Tailândia, de 5 a 9 de
março de 1990. No evento, países em desenvolvimento firmaram acordos
e apresentaram propostas. Além disso, foi organizada uma mobilização
para o cumprimento das propostas. A ideia da Declaração é levar ao
reconhecimento das necessidades básicas de aprendizagem, assim como
do direito à educação. No fim no capítulo, você vai ver como essa decla-
ração influenciou as políticas públicas educacionais legislativas brasileiras.

A educação e as necessidades básicas


de aprendizagem
Você já deve ter ouvido falar da UNESCO em comerciais de televisão, divul-
gações em redes sociais e setores ligados à educação. Mas você sabe o que
é essa organização? A sigla UNESCO significa United Nation Educational,
Scientific and Cultural Organization (Organização para a Educação, a Ciência
e a Cultura das Nações Unidas). Ela é uma das agências internacionais mais in-
2 Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação

fluentes em países em desenvolvimento. Sua atribuição é orientar e recomendar


ações no âmbito das políticas públicas educacionais. Além disso, a UNESCO
tem como missão a promoção da paz e do respeito aos direitos humanos. As
suas relações com o Brasil surgiram em 1945, após o fim da segunda Guerra
Mundial. Desde o início, os trabalhos da agência por aqui buscam assegurar
princípios como a paz, a solidariedade e a justiça, relacionando-os com a
educação (SILVA; CZERNISZ; PERRUDE, 2011).
A atuação da UNESCO compreende a reflexão sobre temáticas fundamen-
tais para a humanidade. A agência busca desenvolver, a partir dessas análises,
princípios e valores (UNESCO, 2004). Essas reflexões buscam avaliar quais
consequências são reflexos de problemas mundiais, o que nem sempre explica
os fenômenos ocorridos no Brasil. Afinal, o contexto brasileiro apresenta
uma desigualdade social complexa que se arrasta por toda a história do País
(SILVA; CZERNISZ; PERRUDE, 2011).
A partir dos anos 1990, houve no Brasil a ressignificação dos papéis do
Estado. Isso ocorreu por meio da influência de políticas neoliberais e da presença
do terceiro setor em diferentes áreas, tais como as sociais e educacionais. De
acordo com Behring e Boschetti (2008, p. 6), o capitalismo, a partir da última
metade do século XIX, potencializou o predomínio do liberalismo adotando “[...]
o princípio do trabalho como mercadoria e sua regulação pelo livre mercado”.
Outra tendência que se configurou nesse cenário foram as articulações entre
diferentes nações. Os representantes dessas nações se reúnem para discutir os
problemas comuns que precisam ser enfrentados, assim como propostas de
políticas públicas que dão origem a documentos internacionais. Tais documen-
tos são implementados pelas nações participantes, que, ao refletirem sobre as
tendências econômicas globais, adotam medidas voltadas para o atendimento
compensatório das necessidades e demandas sociais. Um desses documentos
é a Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação, a Declaração Mundial
sobre Educação para Todos.
A formulação da Declaração se deu a partir da Conferência Mundial sobre
a Educação para Todos, realizada em Jomtien, Tailândia, de 5 a 9 de março
de 1990. A noção por trás do documento é a de que a educação é um direito
fundamental de todos os indivíduos. No que diz respeito às necessidades
básicas de aprendizagem, as seguintes propostas são apresentadas no art. 1º:

1. Cada pessoa — criança, jovem ou adulto — deve estar em condições de


aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas neces-
sidades básicas de aprendizagem. Essas necessidades compreendem tanto
os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita,
Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação 3

a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os conteúdos


básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitu-
des), necessários para que os seres humanos possam sobreviver, desenvolver
plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar
plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar deci-
sões fundamentadas e continuar aprendendo. A amplitude das necessidades
básicas de aprendizagem e a maneira de satisfazê-las variam segundo cada
país e cada cultura, e, inevitavelmente, mudam com o decorrer do tempo.
2. A satisfação dessas necessidades confere aos membros de uma sociedade a
possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver
a sua herança cultural, linguística e espiritual, de promover a educação de
outros, de defender a causa da justiça social, de proteger o meio ambiente e
de ser tolerante com os sistemas sociais, políticos e religiosos que difiram dos
seus, assegurando respeito aos valores humanistas e aos direitos humanos
comumente aceitos, bem como de trabalhar pela paz e pela solidariedade
internacionais em um mundo interdependente.
3. Outro objetivo, não menos fundamental, do desenvolvimento da educação.
é o enriquecimento dos valores culturais e morais comuns. É nesses valores
que os indivíduos e a sociedade encontram sua identidade e sua dignidade.
4. A educação básica é mais do que uma finalidade em si mesma. Ela é a base
para a aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes, sobre a qual
os países podem construir, sistematicamente, níveis e tipos mais adiantados
de educação e capacitação (UNESCO, 1998, p. 3).

Como você pode observar, a Declaração considera o papel e os caminhos


possíveis para a educação básica, tanto no que tange à aquisição de conhecimen-
tos, habilidades, valores e atitudes como à ampliação de espaços educativos e
ao envolvimento da sociedade civil no compartilhamento de responsabilidades
(SILVA; CZERNISZ; PERRUDE, 2011).
Uma década após a Declaração, um novo documento, chamado Educação,
um tesouro a descobrir, apresentou para a UNESCO um relatório da Comissão
Internacional sobre Educação para o século XXI. Nesse relatório, os países
reassumem os compromissos firmados posteriormente à implementação da
Declaração de 1990. A preocupação com as necessidades básicas de aprendi-
zagem tem relação com a compreensão de que as ações educativas se dão ao
longo de toda a vida, num processo contínuo, permanente:

[...] às vésperas do século XXI, as missões que cabem à educação e as múltiplas


formas que pode revestir fazem com que englobe todos os processos que levem
as pessoas, desde a infância até ao fim da vida, a um conhecimento dinâmico do
mundo, dos outros e de si mesmas [...]. É este continuum educativo, coextensivo
à vida e ampliado às dimensões da sociedade, que a Comissão entendeu designar
[...] pela expressão “educação ao longo de toda a vida” (DELORS, 2000, p. 104).
4 Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação

A partir dessas ações afirmativas, você pode notar que as ideias, os valores
e os princípios voltados às necessidades básicas educacionais são contínuos.
Tais noções são formuladas e compartilhadas por meio de encontros, confe-
rências e seminários que se materializam na formulação de documentos. Além
disso, são reavaliadas e reafirmadas a partir das análises dos resultados e do
modo como os desdobramentos políticos, sociais e econômicos se refletem
nos resultados educacionais nacionais e internacionais.

O direito à educação
Hoje, o exercício da cidadania enfrenta desafios relacionados aos mais variados
aspectos e contextos. As transformações ocorridas no mundo contemporâneo
alteraram muitos cenários, tais como os educacionais. Apesar dessas mudanças,
permaneceu o consenso de que o direito à educação escolar é fundamental para
o desenvolvimento da cidadania. Esse é um princípio essencial para as políticas
públicas que têm como objetivo a participação democrática nos âmbitos sociais
e políticos, assim como no campo profissional. Existem diferentes documentos
internacionais que firmam o compromisso de assegurar esse direito. Um deles,
como você viu, é a Declaração de Jomtien.
Embora o direto à educação seja reconhecido, é necessária também uma
lei que assegure a sua instituição em âmbito nacional. É por meio do viés legal
que se dispõem deveres, limites, possibilidades e regras que impactam o dia
a dia dos indivíduos, ainda que não tenham conhecimento dessas normativas.
De acordo com Bobbio (1992, p. 79–80):

[...] a existência de um direito, seja em sentido forte ou fraco, implica sempre


a existência de um sistema normativo, onde por “existência” deve entender-
-se tanto o mero fator exterior de um direito histórico ou vigente quanto o
reconhecimento de um conjunto de normas como guia da própria ação. A
figura do direito tem como correlato a figura da obrigação.

Assim, é fundamental que a legislação ampare o direito à educação para


todos, viabilizando mobilizações, lutas por condições de acesso e permanência
nos espaços escolares. A ideia é cumprir com a missão de democratizar a
educação, promovendo o desenvolvimento de indivíduos para a cidadania e
oferecendo a eles condições para se inserirem no mercado profissional.
Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação 5

A Declaração da UNESCO-ONU parte da noção de que o direito à edu-


cação, apesar de ser ter sido afirmado na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, não é exercido em diversas partes do mundo. Portanto, muitos países
enfrentam problemas graves e duradouros no campo educacional. Assim, na
abertura da Declaração, são revelados dados preocupantes. Veja:

[...] — mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 milhões são
meninas, não têm acesso ao ensino primário;
— mais de 960 milhões de adultos — dois terços dos quais mulheres, são
analfabetos, e o analfabetismo funcional é um problema significativo em
todos os países industrializados ou em desenvolvimento;
— mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento
impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade
de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais; e
— mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos não conseguem
concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de concluí-lo, não conseguem
adquirir conhecimentos e habilidades essenciais (UNESCO, 1998, p. 1).

Essas circunstâncias são consequências de problemas como o aumento


na dívida de alguns países, as desigualdades econômicas e sociais e os altos
índices de violências e guerras. Tudo isso, como você sabe, inibe os esforços
para que as necessidades básicas de aprendizagem e o direito à educação sejam
efetivamente assegurados.
Desse modo, a Declaração defende, a partir desses contextos, que mulhe-
res e homens de todas as idades e localidades tenham assegurado o direito
fundamental de acesso à educação. Isso amplia as possibilidades de conquis-
tas em um mundo em que há o favorecimento do progresso pessoal, social,
econômico e cultural fundado nas relações de cooperação entre os países que
fazem parte da ONU.
Por meio desse documento, a UNESCO também considera que o conhe-
cimento tradicional e o patrimônio cultural têm valor para a promoção do
desenvolvimento dos países. Ela reconhece ainda as dificuldades enfrentadas
pelo campo educacional desde sua base, considerando a necessidade de buscar
meios para que a qualidade avance, fortalecendo os níveis superiores, as
áreas científicas e tecnológicas. Para que o direito à educação seja efetivado,
o documento da UNESCO propõe alguns objetivos, como você pode ver no
Quadro 1, a seguir.
6 Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação

Quadro 1. Artigos da Declaração

Artigo Objetivo

1º Cada pessoa — criança, jovem ou adulto — deve estar em


condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas
para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem.

2º Lutar pela satisfação das necessidades básicas de aprendizagem


para todos exige mais do que a ratificação do compromisso pela
educação básica. É necessário um enfoque abrangente, capaz de
ir além dos níveis atuais de recursos, das estruturas institucionais,
dos currículos e dos sistemas convencionais de ensino, para
construir sobre a base do que há de melhor nas práticas correntes.

3º A educação básica deve ser proporcionada a


todas as crianças, jovens e adultos.

4º A tradução das oportunidades ampliadas de educação


em desenvolvimento efetivo — para o indivíduo ou
para a sociedade — dependerá, em última instância,
de, em razão dessas mesmas oportunidades, as pessoas
aprenderem de fato, ou seja, apreenderem conhecimentos
úteis, habilidades de raciocínio, aptidões e valores.

5º A diversidade, a complexidade e o caráter mutável das


necessidades básicas de aprendizagem das crianças,
jovens e adultos, exigem que se amplie e se redefina
continuamente o alcance da educação básica.

6º A aprendizagem não ocorre em situação de isolamento.


Portanto, as sociedades devem garantir a todos os
educandos assistência em nutrição, cuidados médicos e
o apoio físico e emocional essencial para que participem
ativamente de sua própria educação e dela se beneficiem.

7º As autoridades responsáveis pela educação aos níveis


nacional, estadual e municipal têm a obrigação prioritária de
proporcionar educação básica para todos. Não se pode, todavia,
esperar que elas supram a totalidade dos requisitos humanos,
financeiros e organizacionais necessários a esta tarefa.

8º Políticas de apoio nos setores social, cultural e econômico


são necessárias à concretização da plena provisão e utilização
da educação básica para a promoção individual e social.

(Continua)
Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação 7

(Continuação)

Quadro 1. Artigos da Declaração

Artigo Objetivo

9º Para que as necessidades básicas de aprendizagem para


todos sejam satisfeitas mediante ações de alcance muito
mais amplo, será essencial mobilizar atuais e novos recursos
financeiros e humanos, públicos, privados ou voluntários.

10º Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem


constitui-se numa responsabilidade comum e universal
a todos os povos, e implica solidariedade internacional
e relações econômicas honestas e equitativas, a fim
de corrigir as atuais disparidades econômicas.

Fonte: Adaptado de UNESCO (1998, p. 2–7).

A partir dos artigos formulados, você pode ver como a UNESCO se po-
sicionou, por meio dessa Declaração, em relação aos diferentes aspectos que
devem ser pensados, repensados e reafirmados para que o acesso à educação
respeite as necessidades de diferentes contextos.
As próximas etapas dispostas na Declaração voltam-se para um plano de
ação para viabilizar as propostas discutidas por representantes governamen-
tais e não governamentais. Como você viu, tais representantes assumiram
compromissos no que tange ao cumprimento de metas e à realização de ações
diretas pelas quais cada país é responsável. As cooperações foram acordadas
por países que compartilham interesses e características. Além disso, estão
em jogo articulações de natureza bilateral e multilateral na reunião dos países
que fazem parte da UNESCO–ONU.

A Declaração e a legislação educacional


brasileira
A Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien, na
Tailândia, em 1990, foi um dos eventos relacionados à educação que alcançou
maior nível de mobilização em um tempo curto. Essa conferência começou
a ser esboçada em 1985. Nesse ano, a Organização das Nações Unidas para
Educação, Ciência e Cultura, após organizar a sua 23ª reunião para discutir
o problema do crescimento dos índices de analfabetismo mundial, alertou as
8 Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação

Nações Unidas para que se pensasse em um processo mobilizador para o debate


dessa questão. Assim, os compromissos firmados têm como objetivo reduzir
as taxas de analfabetismo e também envolver a sociedade civil para combater
esse problema grave (BRASIL, 2000).
No período entre a preparação e a participação (1989/1990) nesse evento
de abrangência mundial, o Brasil passou por uma transição governamental.
Por essa razão, quem planejou e formulou as propostas para a conferência
não participou dela. Desse modo, a delegação que foi para Jontiem não fazia
parte do setor da sociedade civil e não se apropriou das discussões que resul-
taram nos documentos construídos para representar o País. Isso causou uma
descontinuidade e significou danos à participação brasileira (BRASIL, 2000).
Contudo, há relações entre a conferência e a legislação nacional relativa
à educação. A Declaração da UNESCO–ONU, construída por meio dessa
conferência, teve suas ideias e princípios multiplicados em diferentes encontros
e seminários. Esses eventos resultaram em documentos que se refletiram nas
políticas educacionais e na legislação brasileira. Em 1994, foi feito um acordo
nacional baseado em três eixos:

Um deles é o regime de colaboração. O Fundo de Manutenção e Desenvolvi-


mento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) acabou
dando conta em parte do regime de colaboração, sendo uma resposta positiva do
governo ao Plano Decenal de Educação para Todos. O segundo eixo assenta-se
nos parâmetros curriculares nacionais, e também foi colocado em prática. O
terceiro refere-se ao salário dos professores (BRASIL, 2000, documento on-line).

Além desses exemplos de relações entre a UNESCO e as políticas educa-


cionais brasileiras, há também a influência da organização em “[...] ideias e
concepções dos documentos orientadores das políticas educacionais, como o
Plano Decenal (1993), o Plano Nacional de Educação (2001) e a própria Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — LDBEN n. 9394/96” (SILVA;
CZERNISZ; PERRUDE, 2011, p. 8). A partir das concepções e recomendações
da UNESCO, foram debatidas e formuladas ações nacionais tendo como base
a Declaração Mundial de Educação para Todos.
O Plano Decenal criado em 1993 apresentou como proposta uma reforma sus-
tentada por uma inovação pedagógica que primasse pela colaboração da sociedade
Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação 9

civil na “[...] criação de espaços para que todos os movimentos organizados, asso-
ciações de pais e ex-alunos, grupos de empresários e sindicatos possam contribuir
e desempenhar um papel ativo na melhoria da educação oferecida em todo o País”
(BRASIL, 1993, p. 44). A partir desse plano, também houve uma movimentação
para a desresponsabilização do Estado. Tal movimentação segue a tendência
econômica vigente, que ressignifica os papéis do governo no estabelecimento
de articulações com a sociedade civil (SILVA; CZERNISZ; PERRUDE, 2011).
Em continuidade às políticas públicas educacionais, em 1996 ocorreu a
promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que concebe
a educação como algo a ser considerado em diferentes espaços além do escolar.
Esses espaços incluem o ambiente familiar, os ambientes de trabalho e as
organizações. Além de estar presente no Plano Decenal (1993 a 2003) e na
LDB, a Declaração influenciou o Plano Nacional da Educação, com compro-
missos e metas a serem estabelecidos entre os anos de 2001 a 2010. A partir
dessa normativa, houve o incentivo de se promover uma gestão educacional
compartilhada e colaborativa, dando espaço para a comunidade educacional e
formando uma base de diálogo e solidariedade, minimizando a responsabilidade
do Estado no que tange à educação pública e transferindo-a para instituições
privadas e sociedade civil (SILVA; CZERNISZ; PERRUDE, 2011).

Como você viu ao longo deste capítulo, os desafios propostos na Conferência de


Jomtien, em 1990, passaram a fazer parte do planejamento e da formulação de políticas
públicas que originaram grande parte da legislação educacional brasileira, em especial
aquela que abarca a educação básica. Entre os participantes desse evento internacional,
o Brasil foi um dos países que mais avançou nas últimas décadas. Os resultados dessas
relações de influência se deram por meio da continuidade das políticas, em um esforço
nacional. Nesse sentido, há um regime colaborativo entre as esferas governamentais
e a ampliação da participação de diferentes setores na formulação da legislação.
Entram em cena novos atores, tais como o terceiro setor e a sociedade civil, o que
representa uma mobilização para que o princípio de uma educação para todos se
torne cada vez mais efetivo.
10 Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação

BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 4. ed. São Paulo:
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nível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001374/137491POR.pdf>. Acesso
em: 29 nov. 2018.

Leitura recomendada
UNESCO. O que é? O que faz? 2007. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/
images/0014/001473/147330por.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2018.
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