PÚBLICAS E
EDUCAÇÃO
Introdução
Neste capítulo, você vai conhecer um documento que trouxe significativas
transformações ao campo educacional: a Declaração Mundial sobre
Educação para Todos, da UNESCO–ONU. Esse documento foi elaborado a
partir de uma conferência realizada em Jomtien, na Tailândia, de 5 a 9 de
março de 1990. No evento, países em desenvolvimento firmaram acordos
e apresentaram propostas. Além disso, foi organizada uma mobilização
para o cumprimento das propostas. A ideia da Declaração é levar ao
reconhecimento das necessidades básicas de aprendizagem, assim como
do direito à educação. No fim no capítulo, você vai ver como essa decla-
ração influenciou as políticas públicas educacionais legislativas brasileiras.
A partir dessas ações afirmativas, você pode notar que as ideias, os valores
e os princípios voltados às necessidades básicas educacionais são contínuos.
Tais noções são formuladas e compartilhadas por meio de encontros, confe-
rências e seminários que se materializam na formulação de documentos. Além
disso, são reavaliadas e reafirmadas a partir das análises dos resultados e do
modo como os desdobramentos políticos, sociais e econômicos se refletem
nos resultados educacionais nacionais e internacionais.
O direito à educação
Hoje, o exercício da cidadania enfrenta desafios relacionados aos mais variados
aspectos e contextos. As transformações ocorridas no mundo contemporâneo
alteraram muitos cenários, tais como os educacionais. Apesar dessas mudanças,
permaneceu o consenso de que o direito à educação escolar é fundamental para
o desenvolvimento da cidadania. Esse é um princípio essencial para as políticas
públicas que têm como objetivo a participação democrática nos âmbitos sociais
e políticos, assim como no campo profissional. Existem diferentes documentos
internacionais que firmam o compromisso de assegurar esse direito. Um deles,
como você viu, é a Declaração de Jomtien.
Embora o direto à educação seja reconhecido, é necessária também uma
lei que assegure a sua instituição em âmbito nacional. É por meio do viés legal
que se dispõem deveres, limites, possibilidades e regras que impactam o dia
a dia dos indivíduos, ainda que não tenham conhecimento dessas normativas.
De acordo com Bobbio (1992, p. 79–80):
[...] — mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 milhões são
meninas, não têm acesso ao ensino primário;
— mais de 960 milhões de adultos — dois terços dos quais mulheres, são
analfabetos, e o analfabetismo funcional é um problema significativo em
todos os países industrializados ou em desenvolvimento;
— mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento
impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade
de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais; e
— mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos não conseguem
concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de concluí-lo, não conseguem
adquirir conhecimentos e habilidades essenciais (UNESCO, 1998, p. 1).
Artigo Objetivo
(Continua)
Declaração da UNESCO–ONU sobre a educação 7
(Continuação)
Artigo Objetivo
A partir dos artigos formulados, você pode ver como a UNESCO se po-
sicionou, por meio dessa Declaração, em relação aos diferentes aspectos que
devem ser pensados, repensados e reafirmados para que o acesso à educação
respeite as necessidades de diferentes contextos.
As próximas etapas dispostas na Declaração voltam-se para um plano de
ação para viabilizar as propostas discutidas por representantes governamen-
tais e não governamentais. Como você viu, tais representantes assumiram
compromissos no que tange ao cumprimento de metas e à realização de ações
diretas pelas quais cada país é responsável. As cooperações foram acordadas
por países que compartilham interesses e características. Além disso, estão
em jogo articulações de natureza bilateral e multilateral na reunião dos países
que fazem parte da UNESCO–ONU.
civil na “[...] criação de espaços para que todos os movimentos organizados, asso-
ciações de pais e ex-alunos, grupos de empresários e sindicatos possam contribuir
e desempenhar um papel ativo na melhoria da educação oferecida em todo o País”
(BRASIL, 1993, p. 44). A partir desse plano, também houve uma movimentação
para a desresponsabilização do Estado. Tal movimentação segue a tendência
econômica vigente, que ressignifica os papéis do governo no estabelecimento
de articulações com a sociedade civil (SILVA; CZERNISZ; PERRUDE, 2011).
Em continuidade às políticas públicas educacionais, em 1996 ocorreu a
promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que concebe
a educação como algo a ser considerado em diferentes espaços além do escolar.
Esses espaços incluem o ambiente familiar, os ambientes de trabalho e as
organizações. Além de estar presente no Plano Decenal (1993 a 2003) e na
LDB, a Declaração influenciou o Plano Nacional da Educação, com compro-
missos e metas a serem estabelecidos entre os anos de 2001 a 2010. A partir
dessa normativa, houve o incentivo de se promover uma gestão educacional
compartilhada e colaborativa, dando espaço para a comunidade educacional e
formando uma base de diálogo e solidariedade, minimizando a responsabilidade
do Estado no que tange à educação pública e transferindo-a para instituições
privadas e sociedade civil (SILVA; CZERNISZ; PERRUDE, 2011).
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 4. ed. São Paulo:
Cortez, 2008.
BOBBIO, N. A Era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BRASIL. Ministério da Educação. Educação para todos: avaliação da década. Brasília:
MEC, 2000. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/informacao-da-publicacao/-/
asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/document/id/485575>. Acesso em: 30 nov. 2018.
BRASIL. Plano decenal de educação (1993-2003). Brasília: MEC, 1993.
DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
SILVA, A. L. F.; CZERNISZ, E. C. da S.; PERRUDE, M. R. S. Orientações da Unesco para a
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dosdotrabalho.org/texto/gt1/orientacoes_da_unesco.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2018.
UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos: satisfação das necessida-
des básicas de aprendizagem. 1998. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/
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UNESCO. UNESCO no Brasil: consolidando compromissos. Brasília: UNESCO, 2004. Dispo-
nível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001374/137491POR.pdf>. Acesso
em: 29 nov. 2018.
Leitura recomendada
UNESCO. O que é? O que faz? 2007. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/
images/0014/001473/147330por.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2018.
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