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PROCESSOS
EDUCACIONAIS NÃO
ESCOLARES
Introdução
Desde o início da sua história, a humanidade aprende nos mais variados
espaços e nas relações sociais que estabelece na família, na comunidade,
no trabalho e nas horas de lazer. Assim, com o passar do tempo — mais
precisamente, do século XVIII em diante —, surgiram as primeiras ini-
ciativas de escolarização, hoje denominadas como a educação formal.
A partir da década de 1990, com as reconfigurações sociais advin-
das da globalização e os seus efeitos econômicos, políticos e culturais,
reforçou-se a importância da participação de outros espaços, além da
escola, na formação do ser humano, emergindo daí o conceito da edu-
cação não formal. Hoje, essa modalidade de educação complementa
e reforça a atuação do Estado junto aos problemas sociais, bem como
promove ações provenientes de órgãos públicos, empresas privadas e
organizações da sociedade civil para permitir a adaptação dos indivíduos
às regras de mercado que se impõem.
Neste capítulo, você vai conhecer o histórico de surgimento e como
foram se organizando os espaços não formais de educação. Além disso,
vai conhecer e aprender a avaliar as práticas que são desenvolvidas
nesses locais.
2 O campo e as demandas da educação não formal
Foi isso que tornou a escola tão importante e imprescindível até os dias
de hoje. Conforme comenta Trilla i Bernet (2013, documento on-line), ao
referir-se à escola:
Esse fato, sabemos, não chegou a se consumar, uma vez que ainda hoje
discute-se e busca-se, por meio de políticas públicas educacionais, a inclusão
de todos no meio escolar. Nesse sentido, cabe questionar: todos aqueles que
ficaram fora da escola ao longo desses dois séculos, seja pelo gênero, pela idade,
por sua etnia, ou ainda por terem nascido com alguma deficiência (motora ou
intelectual), onde aprendiam os conceitos e adquiriam as habilidades neces-
sárias para a sua vida? A resposta está nos demais espaços de aprendizado,
organizados fora da escola para que esses grupos pudessem aprender, ou seja,
na educação que definimos como não formal.
A partir da década de 1990, com a chamada globalização da economia —
fenômeno que alterou os aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais
—, reforçada ainda pelas tecnologias digitais de informação e comunicação,
surgiram novas necessidades para a formação do homem, além daquelas ad-
quiridas na escola. Para marcar os aspectos que deram impulso ao surgimento,
à afirmação e expansão da educação não formal nessa época, veja a seguir
alguns dos elementos envolvidos (TRILLA I BERNET, 2013):
Às vezes, talvez você não perceba que a mídia, em seus formatos digitais e eletrônicos, é
na atualidade um espaço muito rico de opções da educação não formal. Nela podemos
nos apropriar de conhecimentos, desenvolvendo habilidades e nos tornando mais
competentes a partir deles. Além disso, vivenciamos várias atividades educacionais
que fazem um uso híbrido da presencialidade e da educação a distância por meio de
plataformas e ambientes virtuais de aprendizagem que também contribuem com a
nossa formação.
Eles são chamados de educação não formal, por exemplo, do treinamento dos
operários e dos trabalhadores rurais; do trabalho de alfabetização funcional;
treinamentos no trabalho para as tarefas e atribuições; serviços de extensão
universitária (extra-muros); cursos de atualização profissional; e programas
especiais para jovens. As atividades educacionais coletivas da educação formal
e não formal compreendem os esforços de organização total da educação de
uma nação, independentemente de como são financiadas ou administradas.
6 O campo e as demandas da educação não formal
o trabalho;
o lazer e a cultura;
a educação social;
a própria escola.
educação de rua;
reabilitação de usuários de drogas;
desenvolvimento pessoal e relações humanas.
[...] aprendizagem ao longo de toda a vida, de modo que representa ações que
prolongam os tempos e os espaços de formação e autoformação, com base
em necessidades contextuais dos sujeitos e das comunidades, atuando como
mecanismo catalisador da articulação de saberes diante de necessidades emer-
gentes nas esferas das sociabilidades humanas e do trabalho. Considerando
a noção de educação ao longo de toda a vida, propõe-se a ideia de que as
divisões tradicionais de tempos e espaços para educar e educar-se devem ser
superadas por meio da adoção de um paradigma dinâmico de educação, tida
como um processo que acompanha a vida das pessoas, preparando-as para
o seu exercício social, e como instrumento de potencialização de qualidades
que lhes permitam maior bem-estar global.
Convém demarcar que a definição de um espaço de educação não formal não ocorre
somente em função do local onde se estabelecem as ações, por serem fora da escola,
mas sim por haver uma finalidade pedagógica, isto é, uma intencionalidade de que
algo seja aprendido pelos sujeitos que ali se encontram. Assim, qualquer espaço
público, ou mesmo midiático, por exemplo, pode servir de cenário para que novas
aprendizagens venham a ser propostas.
nossa forma de ser e viver. Tais mudanças, com os seus discursos de ordem
econômica e política, propõem que a solução para todo e qualquer tipo
de problema social esteja na educação formal e na escolarização. Além
disso, a educação escolar traz consigo a promessa de uma vida melhor e
de sucesso profissional — entendido aqui não como realização pessoal,
e sim como um salário melhor, ou seja, aumento das possibilidades de
compra e de consumo.
Assim, no interior de uma sociedade hiperconsumista, que associa educação
formal com desenvolvimento e progresso, cada vez mais a escola se aproxima
e se converte em um modelo empresarial. Transformada em empresa, ela esta-
belece os diferenciais entre os seus públicos, incitando-os para a concorrência
e produzindo e reforçando desigualdades, dada a grande diferença entre as
escolas que compõem o sistema educacional brasileiro.
Poderíamos questionar então, a partir dessa constatação inicial, se a escola
estaria de fato contribuindo para a formação do ser humano, desenvolvendo a
sua cidadania, ou estaria prioritariamente servindo para formar para o mercado
de trabalho. Nesse sentido, a escola consegue contemplar todos os aspectos
necessários à nossa formação?
Ao problematizar sobre as mudanças ocorridas na educação formal nas
últimas décadas, sob a lógica do que define como transbordamento, Nóvoa
(2006) tem como ponto de análise as aprendizagens ali ocorridas. O autor
aponta ainda que “[...] ao olhar para muitos países, percebe-se o crescimento
de uma ‘escola a duas velocidades’, isto é, de uma escola centrada na aprendi-
zagem para os ricos e no acolhimento social para os pobres” (NÓVOA, 2006,
documento on-line).
O Brasil pode estar entre essas nações, uma vez que existe uma tendência
de que ocorra a situação descrita entre algumas escolas de redes públicas
estaduais e municipais e entre as escolas da iniciativa privada — ainda que isso
não ocorra de forma generalizada. Realizar essa discussão inicial é importante
para ressaltar o fato de que a escola já não é mais suficiente para prover todas
as aprendizagens de que necessitamos cotidianamente na sociedade educativa
na qual nos inserimos. Assim, dada também a diminuição do período de
tempo em que vivenciamos os processos da educação informal, na família e
junto aos amigos, cabe aos espaços de educação não formal suprirem essas
múltiplas demandas que se apresentam.
Nóvoa (2006) aponta três aspectos interessantes que precisariam ser con-
templados ao pensarmos em educação na contemporaneidade, que não con-
O campo e as demandas da educação não formal 11
mais aprendizagem;
mais sociedade;
mais comunicação.
A educação não formal, por sua vez, supõe também a intenção de estender a
educação e, por isso, a maioria da população que atinge é de pessoas menos
incluídas no sistema escolar convencional, ainda que não esteja dirigida a
determinados grupos de idade, sexo, classe social, habitat urbano ou rural
etc. Essas pessoas apresentam grande motivação intrínseca, sua adesão a
programas costuma ser voluntária e, sendo seus interesses e necessidades mais
claramente assumidos, podem seguir ou abandonar os programas conforme
entendam que estes satisfazem ou não suas expectativas.
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