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CAPÍTULO 7 - RESPONSABILIDADE FISCAL


2. MOTIVOS DA LRF
1. OS ANTECEDENTES
A par da necessidade de reformas em todo o aparelho
As mudanças ocorridas no modelo de gestão fiscal brasi- estatal brasileiro, a Administração Pública brasileira, então
leiro foram precedidas de regras de disciplina fiscal imple- caracterizada pela falta de planejamento, organização,
mentadas em outros países. transparência e controle, precisava de uma intervenção
a) Budget Enforcement Act – BEA (EUA, 1990): preponderantemente no sistema orçamentário e financeiro,
- contempla apenas o Governo Federal, cada unidade da enfrentar o arraigado desequilíbrio fiscal, consubstanciado
Federação tem suas regras; em gastos sistematicamente superiores às receitas arreca-
- o Congresso fixa metas de superávit e mecanismos de dadas.
controle de gastos e aplicações de regras adotadas pelo Tal contexto exige modificações na política econômica
BEA; do país, que podem ser manejadas por meio de três meca-
- sequestration: limitação de empenho para garantir limites nismos: a política fiscal, a política monetária e a política
e metas orçamentárias; cambial. Surge, então a LRF, que por ter viés puramente
- pay as you go: compensação orçamentária; orçamentário-financeiro, não enfrenta questões relaciona-
b) Tratado de Maastricht (União Européia, 1992): das à responsabilidade social, nem se ocupa diretamente
- definição de critérios para verificação da sustentação fi- com valores morais.
nanceira de cada governo, como em uma confederação;
- Estados-membros conduzem suas políticas com relativa 3. O REGIME DE GESTÃO FISCAL RESPONSÁVEL
independência, convergindo para critérios acordados; além
disso, os Estados- membros devem evitar déficits excessi- As disposições da Lei Complementar nº 101/00 (LRF)
vos; obrigam a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
- Uma comissão monitora o orçamento e o estoque da dí- cípios. Assim, estão compreendidos em tais esferas:
vida para identificar desvios: há metas e punições. a) Os Poderes Executivo, Legislativo (abrangendo os Tri-
- pelo pacto de estabilidade e crescimento de 1977, cada bunais de Contas) e Judiciário, além do Ministério Pú-
Estado-Membro é responsável por sua política orçamentá- blico;
ria, subordinada às disposições do Tratado; b) As respectivas administrações diretas, fundos, autar-
c) Fiscal Responsability Act (Nova Zelândia, 1994): quias, fundações e empresas estatais dependentes.
- Estado unitário e parlamentarista; Estão fora do alcance dessas regras apenas as gestões
- o Congresso fixa princípios e exige forte transparência do de empresas estatais não dependentes, ou seja, aquelas au-
Executivo, que tem liberdade para orçar e gastar; tossuficientes, tais como o Banco do Brasil e a Petrobrás.
- princípios de gestão fiscal responsável: reduzir o débito
total da Coroa(dívida pública) a níveis prudentes; O art. 1º, § 1º, LRF.
- alcançar e manter níveis de patrimônio líquido da Coroa
que a protejam contra fatores imprevistos; Art. 1º Esta Lei Complementar estabelece normas de
- gerenciar prudentemente os riscos fiscais da Coroa; finanças públicas voltadas para a responsabilidade na ges-
- difere dos programas anteriores porque não prevê metas tão fiscal, com amparo na Constituição.
fiscais; admite afastamento temporários, desde que com § 1º A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a
previsão de meios para retorno. ação planejada e transparente, em que se previnem riscos
e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das con-
O FMI elaborou, em 1998, o Código de Boas práticas tas públicas, mediante o cumprimento de metas de resulta-
para a Transparência Fiscal – Declaração de Princípios, dos entre receitas e despesas e a obediência a limites e
com as seguintes características: condições no que tange a renúncia de receita, geração de
a) Transparências dos atos: as funções de política e de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívi-
gestão devem ser bem definidas e divulgadas ao pú- das consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclu-
blico; sive por antecipação de receita, concessão de garantia e
b) Planejamento: a documentação orçamentária deve es- inscrição em Restos a Pagar.
pecificar os objetivos da política fiscal, a estrutura ma-
croeconômica, as políticas orçamentárias e os riscos O regime de Gestão Fiscal Responsável tem evidenci-
fiscais; ado o propósito de prevenir e corrigir desvios capazes de
c) Publicidade, prestação de contas e relatórios fiscais: afetar o equilíbrio das contas públicas. Assim posto o prin-
as informações orçamentárias devem facilitar suas cipal objetivo da LRF: estabelecer, no Brasil, o denominado
análise, havendo apresentação periódica. equilíbrio fiscal.
Tal documento foi revisto em 2001, resultando no “Manual Para alcançar tal desiderato, a Lei fixa os pressupostos
de transparência Fiscal”. do novo regime: planejamento, transparência e controle,
estabelecendo os seguintes mecanismos:
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- cumprimento de metas de resultados entre receitas e des- para efeitos de verificação do cumprimento dos limites de-
pesas; finidos na LRF será sempre anual”.
- obediência a limites e condições no que tange a: renúncia Para evitar duplicidades, a movimentação orçamentá-
de receita; geração de despesas com pessoal, da seguri- ria entre unidades gestoras da mesma unidade federativa,
dade social e outras; dívidas consolidadas e mobiliária; quer seja na forma de provisão – movimentação dentro do
operações de crédito, inclusive por antecipação de receita; mesmo órgão- quer seja na forma de destaque – movimen-
concessão de garantia; e inscrição em Restos a Pagar. tação entre órgãos diferentes -, não poderá ser efetivada
mediante empenho, evitando que o empenho a ser efetu-
Os pilares do regime de Gestão Fiscal Responsável ado na unidade que efetivamente realiza o gasto, no pro-
cessamento normal para pagamento da despesa, resulte
O regime está assentado quatro pilares: planejamento, em contabilização duplicada do mesmo dispêndio.
transparência, controle de contas públicas e responsabili-
zação. Regras de final do mandato
Dever de prestar contas de forma transparente é ine-
rente ao ato de administrar recurso alheio. Preocupado em preservar o equilíbrio fiscal, o regime
A responsabilização consiste na possibilidade de se de Gestão Fiscal Responsável estabeleceu freios aos dis-
imputar responsabilidade ao agente que não obedecer aos pêndios e mecanismos para proteção das finanças públicas
ditames legais, podendo ser aplicadas sanções pessoais em anos de eleição. Estabelece restrições e proibições:
ou sanções institucionais. - contrair obrigação de despesa, nos últimos 2 quadrimes-
tres de mandato, que não possa ser cumprida integral-
Definição de receita corrente líquida mente dentro dele, ou que tenham parcelas a serem pagas
no exercício seguinte, sem que haja suficiente disponibili-
A LRF define como receita corrente líquida o somatório dade de caixa para este efeito;
das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, in- - expedir ato de que resulte aumento da despesa com pes-
dustriais, agropecuárias, de serviços, transferências cor- soal nos 180 dias anteriores ao final do mandato do titular
rentes e outras receitas também correntes, deduzidos: do respectivo Poder ou órgão.
a) Na União, os valores transferidos aos Estados e Muni- - contratar operação de crédito por antecipação de receita
cípios por determinação constitucional ou legal, e a orçamentária no último ano de mandato do Presidente, Go-
contribuição social do trabalhador e contribuição social vernador ou Prefeito Municipal.
do empregador sobre a folha de salário, bem como a - contratar operações de crédito nos 120 dias anteriores ao
contribuição para o PIS/PASEP; final do mandato do Chefe do Poder Executivo do E, DF ou
b) Nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios M, excetuando-se da proibição o refinanciamento da dívida
por determinação constitucional; mobiliária e as operações de crédito autorizadas pelo Se-
c) Na União, no Estados e nos Municípios a contribuição nado Federal e pelo Ministério da Fazenda, em nome do
dos servidores para custeio do seu sistema de previ- Senado Federal, até120 dias antes do final do mandato do
dência e assistência social e as receitas provenientes Chefe do Poder Executivo.
da compensação financeira entre os diversos regime - se o montante da dívida exceder o limite no 1º quadrimes-
de previdência social, no caso de segurado que mudou tre do último ano do mandato do Chefe do Executivo, as
de regime. restrições respectivas incidirão imediatamente.

A LRF também dispõe que serão computados no cál- 4. GESTÃO RESPONSÁVEL DA RECEITA PÚBLICA
culo da receita corrente líquida o ICMS e a desoneração de
exportações, além do Fundeb. Além disso, não serão con- Para alcançar o equilíbrio nas contas públicas, o novo
siderados na receita corrente líquida do DF, dos Estados regime atua em duas frentes: ao lado da despesa, busca de
do Amapá e Roraima os recursos para atendimento das todas as formas conter sua expansão, sem a indicação da
despesas com o pessoal. origem de recursos correspondentes; na vertente receita,
OBS: Receitas correntes líquidas da União, Estados e DF, procura todos os modos de garantir a arrecadação da receita
e Municípios (olhem no livro- pgs. 440 e 441). necessária à realização da despesa a ser introduzida.
No tocante às receitas prevê: instituição, previsão e
Cálculo móvel da receita corrente líquida efetiva arrecadação de todos os tributos da competência
constitucional do ente da Federação; cumprimento das me-
A receita corrente líquida será apurada somando-se as tas estabelecidas para as receitas; e obediência a limites e
receitas arrecadadas o mês em referência e nos onze an- condições no que tange a renúncia de receita.
teriores, excluídas as duplicidades. a) Previsão e arrecadação dos tributos – é vedada a reali-
“A publicação dos demonstrativo fiscais poderá ser bi- zação de transferências voluntárias para o ente que não
mestral, quadrimestral ou semestral. Mas o cálculo da RCL observe esse dispositivo, no que se refere aos impostos. A
LRF procurou atacar a costumeira prática de superestimar
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as receitas que é o principal artifício utilizado para burlar A LRF determina que serão consideradas não autori-
todo o regramento jurídico do sistema orçamentário. Em ní- zadas, irregulares e lesivas ao patrimônio público a geração
vel federal, os principais parâmetros macroeconômicos uti- de despesa ou assunção de obrigação que não atendam:
lizados na projeção de receita são: taxa de câmbio, taxa de a) no caso de criação, expansão ou aperfeiçoamento de
inflação, juros nominais e PIB. ação governamental que acarrete aumento de despesa: es-
A LRF obriga o Poder Executivo a colocar à disposição timativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício
dos demais, no mínimo trinta dias antes do prazo final para que deva entrar em vigor e nos dois subseqüentes;
encaminhamento de suas propostas orçamentárias, os es- b) declaração do ordenador de despesa de que o aumento
tudos e as estimativas das receitas para o exercício subse- tem adequação orçamentária e financeira com a lei orça-
quente, inclusive da corrente líquida, e as respectivas me- mentária anual e compatibilidade com o PPA e com a LDO.
mórias de cálculo. O MP figura como mera unidade orça- Buscou o legislador forçar o prévio estudo de viabilidade
mentária, não como fiscal da lei. econômico-financeira ante a necessidade de se implemen-
A LRF estipula que a reestimativa de receita por parte tar uma nova ação governamental, expandir ou aperfeiçoar
do Poder Legislativo só será admitida se comprovado erro aquela já existente ou ainda antes de se criar ou aumentar
ou omissão de ordem técnica ou legal. a despesa continuada. Assim, objetiva-se salvaguardar o
Para que seja observada a Regra de Ouro, a LRF de- equilíbrio fiscal, maior objetivo da LRF, buscando também
termina que na formulação da lei de orçamento, o montante evitar o desperdício presente nas obras inacabadas ou em
previsto para as receitas de operações de crédito não po- prédios públicos construídos, mas que não funcionam –
derá ser superior ao das despesas de capital. “elefantes brancos”.
Até 30 dias após a publicação da lei orçamentária, as -Geração de despesa semelhante àquela imposta para
receitas previstas serão desdobradas, pelo Poder Execu- concessão de renúncia de receita: necessita de compensa-
tivo, em metas bimestrais de arrecadação. ção pela adoção de medidas que aumentem a receita tribu-
tária ou diminuam permanentemente outras despesas, de
Renúncia de receita modo a manter o equilíbrio fiscal.
- Expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental:
A renúncia de receita compreende anistia, remissão, projeto ou atividade preexistente, mas que está sendo sub-
subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em ca- metido a processo de reformulação ou reestruturação, com
ráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de o estabelecimento de novos ou diferentes objetivos, de pro-
base de cálculo que implique redução discriminada de tri- posta de qualificação dos serviços ou de metas diversas ou
butos ou de contribuições, e outros benefícios que corres- acrescidas, exigindo, por isso, aumento da dotação orça-
pondam a tratamento diferenciado. A concessão ou ampli- mentária respectiva.
ação do incentivo ou benefício de natureza tributária da A LRF adota outros meios de contenção da despesa:
qual recorra renúncia de receita: a) impõe limites e proibições para despesa com pessoal e
- deverá estar acompanhada de estimativa de pacto orça- com a seguridade social;
mentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vi- b) estabelece exigências para a realização de transferência
gência e nos dois seguintes; voluntária;
- atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a c) fixa condições para destinação de recursos públicos para
pelo menos uma das seguintes condições o setor privado;
- demonstração pelo proponente de que a renúncia foi consi- d) disciplina a inscrição de empenhos em Restos a Pagar
derada na estimativa da receita da lei orçamentária e de que em final de mandato.
não afetará as metas de resultados fiscais previstas as metas
de resultados fiscais previstas no anexo próprio da LDO; Criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação gover-
- estar acompanhada de medidas de compensação. namental
Tais normas não se aplicam:
- às alterações das alíquotas dos seguintes impostos: II, IE, - Diferença entre despesa obrigatória de caráter continuado
sobre operações de crédito, câmbio e seguro, IOF e IPI – e ação governamental: a despesa continuada será ação
prepondera a natureza extrafiscal de tais tributos. classificada necessariamente como atividade, enquanto a
- ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao ação governamental será classificada inicialmente como
dos respectivos custos de cobrança. projeto, mas seu custeio posterior configurará uma ativi-
dade.
5. GESTÃO RESPONSÁVEL DA DESPESA PÚBLICA A criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação go-
vernamental que acarrete aumento de despesa deverá ser
O regime de Gestão Fiscal Responsável, em prol do acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-fi-
equilíbrio fiscal, atua em duas frentes: procura conter a ex- nanceiro no exercício em que deva encontrar vigor e nos
pansão descontrolada da despesa e busca evitar a queda dois subseqüentes; e declaração do ordenador de des-
permanente da receita. pesa. Tal declaração é válida à medida que nele concentra
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a responsabilidade por eventuais burlas ao Regime de Ges- Despesas com o pessoal


tão Fiscal Responsável.
Tais normas não se aplicam no caso de despesa con- A CF determina que a despesa com pessoal ativo e
siderada irrelevante – princípio da razoabilidade ou materi- inativo da União, dos Estados, do DF e Municípios não po-
alidade, segundo a Ciência Contábil -. Em nível federal, derá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.
para esse efeito, tem sido considerada a despesa de valor Assim, a LRF definiu como despesa total com o pessoal o
enquadrável na hipótese de dispensa de licitação. somatório dos gastos do membro da Federação com quais-
Caso se frustre a estratégia governamental para alcan- quer espécies remuneratórias – inclusive encargos sociais
çar as metas fiscais, restará a implementação do mecanismo e as contribuições recolhidas pelo ente às entidades de pre-
de compensação, segundo o qual qualquer ato que provo- vidência -, tais como:
que aumento de despesas deve ser compensado através da a) vencimentos e vantagens, fixas e variáveis;
redução em outras despesas ou aumento de receitas. b) subsídios;
As exigências acima mencionadas constituem condi- c) proventos de aposentadoria, reformas e pensões;
ção prévia para: d) adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pes-
a) empenho e licitação de serviços, fornecimento de bens soais de qualquer natureza.
ou execução de obras; O cálculo da despesa total com pessoal alcança os paga-
b) desapropriação de imóveis urbanos. mentos de remuneração feitos a:
a) exercentes de mandatos eletivos;
Despesa obrigatória de caráter continuado b) ocupantes de cargos, funções ou empregos (civis e mili-
tares);
É a despesa corrente derivada de lei, medida provisó- c) membros de Poder.
ria ou ato administrativo normativo – o que ressalta sua na-
tureza obrigatória – que fixe para o ente a obrigação legal Tal despesa abrange todos os gastos com ativos, ina-
de sua execução por um período superior a dois anos – tivos e pensionistas, bem como os valores dos contratos de
caráter continuado. terceirização de mão de obra que se referem à substituição
Serão considerados não autorizados, irregulares e le- de servidores e empregados públicos.
sivos ao patrimônio público os atos que criarem ou aumen- - Terceirização de mão-de-obra: a LRF determina que os
tarem despesa obrigatória de caráter continuado quando: valores dos contratos de terceirização de mão de obra que
a) não estiverem instruídos com a estimativa do impacto se refiram à substituição de servidores e empregados pú-
orçamentário-financeiro no exercício que deva entrar em vi- blicos sejam contabilizados como Outras Despesas de
gor e nos dois subseqüentes. Ou Pessoal. Por outro lado, a referida lei trouxe regra transitó-
b) não demonstrarem a origem de recursos para seu cus- ria segundo a qual a Despesa com Serviço de Terceiros
teio. dos poderes e órgãos não poderá exceder percentual da
O ato será acompanhado de comprovação de que a receita corrente líquida, a do exercício anterior à entrada
despesa criada ou aumentada não afetará as metas de re- em vigor da lei até o término do terceiro exercício seguinte,
sultados fiscais previstas no Anexo Metas Fiscais, devendo ou seja, até 2003.
seus efeitos financeiros, nos períodos seguintes serem Serviços terceirizados como Outras Despesas de Pes-
compensados pelo aumento permanente de receita ou pela soal ou Despesas com serviços de Terceiros?
redução permanente de despesa, sendo que: Na primeira hipótese, tais gastos serão considerados
a) a comprovação conterá as premissas e metodologia de no cômputo da despesa total com o pessoal, ainda que a
cálculos utilizadas, sem prejuízo do exame de compatibili- contratação seja irregular; na outra não. A classificação em
dade da despesa com as demais normas do PPA e da LDO; Outras Despesas de Pessoal somente será aplicada nos
b) considera-se aumento permanente de receita o proveni- casos de contratação de pessoas jurídicas. Por outro lado,
ente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cál- quando se tratar de contrato com pessoa física, a despesa
culo, majoração ou criação de tributo ou contribuição; será lançada no seguinte elemento de despesa:
c) a despesa obrigatória de caráter continuado não será a) contratação por tempo indeterminado, configurando des-
executada antes da implementação das correspondentes pesa com pessoal;
medidas compensatórias. b) Despesa com serviços de terceiros – pessoa física: con-
A compensação do aumento de despesa com acrés- tratação de serviços de natureza eventual, prestados sem
cimo de arrecadação tributária só pode ocorrer através de vínculo empregatício. Muito comum no Brasil a utilização
tributos não vinculados (impostos), visto que os demais es- da classificação desta despesa, ainda que a prestação de
tão vinculados a uma atividade estatal específica, sob pena serviços seja permanente.
de desvio de finalidade. Apenas 3 tipos de situação de pessoas físicas pres-
As restrições impostas para criação ou aumento de tando serviços ao Estado, com vínculo empregatício e me-
despesa continuada não se aplicam às despesas destina- diante remuneração paga pelo erário: servidores estatutá-
das ao serviço da dívida ativa nem ao reajustamento de re- rios; empregados públicos; servidores temporários.
muneração de pessoal previsto na CF, art. 37, X. Para fins de apuração da despesa com pessoal, prevista
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no art. 18 da LRF, deverão ser incluídas despesas com: imediatamente anteriores ao da publicação da LRF.
a) relativas à contratação de pessoal por tempo determi- b) da polícia civil, polícia militar e do corpo de bombeiros
nado para atender a necessidade temporária de excepcio- militar do DF, bem como daquelas decorrentes da execu-
nal interesse público – contratação de pessoas físicas; ção de serviços públicos pelo DF, mediante assistência fi-
b) com serviços de terceiros quando caracterizarem substi- nanceira prestada pela União por meio de fundo próprio;
tuição de servidores e empregados públicos – contratação c) referente aos servidores públicos federais da Administração
de pessoa jurídica. Direta e Indireta, aos servidores municipais e aos integrantes
Na esfera federal, não se considera como substituição de da carreira policial militar dos ex-territórios federais do Amapá
servidores e empregados públicos os relativos a atividades e de Roraima que exerciam atividade até a data que estes fo-
que, simultaneamente ram transformados em Estados; aos policiais militares que te-
a) sejam acessórias, instrumentais ou complementares às nham sido admitidos por força de lei federal, custeados pela
atribuições legais do órgão ou entidade, na forma prevista União; e, ainda, aos servidores civis nesses Estados com vín-
em regulamento; culo funcional já reconhecido pela União, que constituirão qua-
b) não sejam inerentes a categorias funcionais abrangidas dro em extinção da Administração Federal.
pelo quadro de pessoal do órgão ou entidade, salvo ex- - nos Poderes Legislativo e Judiciário de cada esfera, os li-
pressa disposição legal em contrário, ou sejam relativas a mites serão repartidos entre seus órgãos de forma proporci-
cargo ou categoria extintos, total ou parcialmente; e onal à média das despesas com pessoal, em percentual da
c) não caracterizem relação direta de emprego. receita corrente líquida, verificadas nos 3 exercícios financei-
Ex: médico contratado para exames biométricos dos alunos ros imediatamente anteriores ao da publicação da LRF.
de uma escola pública.
Quando caracteriza substituição de servidores e em-  Repartição dos limites globais da despesa com
pregados públicos, a contratação terceirizada de serviços pessoal e a posição do STF: O STF, ao apreciar o pedido
pela Administração Pública afronta a ordem jurídico-consti- de medida cautelar na ADIN nº.2.238-5/DF, assentou que
tucional, mormente os princípios da moralidade, impessoa- o art. 169 da CF não veda que se faça uma distribuição
lidade e do concurso público. entre os Poderes dos limites de despesa com pessoal; ao
A despesa total com pessoal será apurada somando-se contrário, para tornar eficaz o limite, há de se dividir inter-
a realizada no mês em referência com as dos onze imedia- namente as responsabilidades. Na prática, o entendimento
tamente anteriores, adotando-se o regime de competência. firmado no Excelso Tribunal de que não poderão incidir as
- Limites (máximo, prudencial e de alerta): são estabeleci- denominadas sanções institucionais, em consequência do
dos pela LRF para a despesa com pessoal. descumprimento pelo MP e pelos Poderes Legislativo e Ju-
a) máximo: acima do qual o Poder ou órgão terá que reduzir diciário, considerados individualmente, do limite de gasto
o montante da despesa com pessoa, além de estar impe- com pessoal previsto na LRF, torna sem efeito o art. 20 da
dido de aumentá-la. LRF e restabelece a anterior forma de disciplinamento da
b) prudencial (95% do máximo): sendo alcançado, impli- matéria, que não produziu os efeitos desejados.
cará em proibição de aumento de despesa com pessoal;  Verificação do cumprimento dos limites: ocorrerá
c) de alerta (90% do máximo): quando constatado, o Poder por ocasião da elaboração e divulgação do relatório de
ou órgão será alertado pelo Tribunal de Contas. gestão fiscal, que será quadrimestral ou semestral (na hi-
Despesa total com pessoal – LRF, arts. 19 e20 pótese de Municípios com população inferior a 50.000 ha-
bitantes).
Esfera Legislativo Judiciário Executivo MP Total  Proibições providencias e prazos para cumpri-
Federal 2,5% 6% 40,9% 0,6% 50% mento dos limites: A LRF impõem obrigações e restrições
Estadual 3% 6% 49% 2% 60% para as unidades politicas que alcançarem o limite pruden-
Municipal 6% - 54% - 60% cial ou que estiverem acima do limite máximo; Aquelas que
atingirem o limite de alerta serão tao somete motivo de
Obs.: aviso pelo tribunal de contas
- no limite p/ despesa total com pessoal do Poder Legisla- -Despesa total com pessoal excedendo o limite prudencial:
tivo está incluída a despesa com pessoal do Tribunal de Ficará o poder ou órgão que tiver incorrido no excesso im-
Contas; nos Estados em que houver Tribunal de Contas do pedido de:
Município – PA, CE, BA e GO –, os percentuais serão de A) conceder vantagem, reajuste ou adequação de remune-
3,4% para o Poder Legislativo e de 48,6% para o Poder ração a qualquer tipo solvo os derivados de sentença judi-
Executivo; cial ou determinação legal ou contratual
- do limite estabelecido p/ despesa total com pessoal do P. B) Criar cargo emprego ou função
Executivo federal(40,9%), deve ser destacado 3% para as C) Alterar estrutura de carreira que implique em aumento
despesas com pessoal: de despesa
a) do P. Judiciário, do MP e Defensoria Pública do DF; os D) realizar provimento de cargo publico, admissão ou con-
limites p/ as despesas serão estabelecidos de forma pro- tratação de pessoal a qualquer tipo
porcional às respectivas médias, em percentual da receita E) efetuar contratação de hora extra
corrente líquida, verificadas nos 3 exercícios financeiros
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-Despesa total com pessoal excedendo limite máximo: Não será possível a aplicação simultânea dos artigos
Além das proibições previstas para a hipótese de ultrapas- supramencionados contra o mesmo agente: As condutas
sagem de limite prudencial, o percentual excedente terá descritas em tais dispositivos são dependentes umas das
que ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo outras representando verdadeiro encadeamento de fatos.
pelo menos 1/3 no primeiro adotando-se entre outras pro- Nesse caso aplica-se a sanção mais grave. É o principio da
videncias: consunção.
A)Redução em pelo menos 20% das despesas com cargos  O momento da ocorrência do fato gerador da obriga-
em comissão e funções de confiança ção de despesa
B) Exoneração dos servidores não estáveis - Artigo 42 LRF: considera-se contraída a obrigação no
C) Se essas medidas não forem suficientes, exoneração momento da formalização do contrato administrativo
dos servidores estáveis. ou instrumento congênere; NO caso de despesas rela-
tivas a prestação de serviços já existentes destinados
O STF suspendeu a eficácia do §segundo do artigo 23 da a manutenção da administração publica considerasse
LRF que faculta a redução temporária da jornada de trabalho como compromissada apenas as prestações cujo pa-
com adequação dos vencimentos a nova carga horaria. gamento deva-se verificar no exercício financeiro, ob-
No caso de calamidade publica, estado de defesa ou servado o cronograma pactuado. Entende-se que esse
de sitio, serão suspensas a contagem dos prazos e as dis- não é um bom critério, porque o ato de contrair obriga-
posições referentes ao enquadramento do poder ou órgão ção de despesa somente perfeito e acabado quando
no limite da despesa com pessoal; Na hipótese de cresci- ocorrer a liquidação da despesa.
mento real baixo ou negativo do PIB nacional, regional ou  Pagamento via despesa de exercícios anteriores: Na
estadual os prazos estabelecidos para enquadramento do situação do fornecedor de bens ou serviços que, de
poder ou órgão no limite da despesa com pessoal serão boa fé, negociou com ente da federação, a despesa
duplicados. será regularmente orçada e empenhada no exercício
subsequente à conta da rubrica Despesas de Exercí-
 Sanções institucionais para os casos de excesso de cios Anteriores
despesa total com pessoal: Não alcançada a redução
da despesa total com pessoal no prazo estabelecido, 6. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS E SEUS EFEITOS
e enquanto perdurar o excesso em relação ao limite NAS NORMAS DA LRF
máximo, o ente politico não poderá:
a) Receber transferências voluntárias Calamidade pública, estado de defesa ou de sítio
b) Obter garantia, direta ou indireta, de outro ente
c) Contratar operações de credito ressalvadas as desti- Enquanto perdurarem tais situações, serão suspensas
nadas ao refinanciamento da divida mobiliaria e as que a contagem dos prazos e as disposições referentes ao en-
visem à redução das despesas com pessoal quadramento do Poder ou órgão no limite da despesa com
pessoal e à recondução da dívida aos limites; serão dispen-
 Restos a Pagar de final de mandato o artigo 42 da LRF sados o atingimento dos resultados fiscais e a limitação de
veda ao gestor publico os 2 últimos quadrimestres do empenho, se verificado, ao final de um bimestre, que a re-
seu mandato, contrair obrigações de despesa que não alização da receita poderá não comportar o cumprimento
possam ser cumpridas integralmente dentro dele, ou das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas
que tenha parcelas a serem pagas no exercício se- no Anexo de Metas Fiscais, constante na lei de diretrizes
guinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa orçamentárias.
para este efeito. 7.6.2 – Crescimento real baixo ou negativo do PIB
 O CP passou a contar com o artigo 359-b, que proíbe Os prazos estabelecidos para enquadramento do Poder ou
que se ordene ou autorize a inscrição em restos a pa- órgão no limite da despesa com pessoal e para a recondu-
gar de despesa que não tenha sido previamente em- ção da dívida aos limites serão duplicados no caso de cres-
penhada ou que exceda limite estabelecido em lei, e cimento real baixo ou negativo do PIB nacional, regional ou
com o artigo 359-f que puni o fato de se deixar de or- estadual por período igual ou superior a 4 trimestres.
denar, de autorizar ou de promover o cancelamento do
montante de restos a pagar inscrito em valor superior 7. OS LIMITES DE DESPESA COM A CÂMARA MUNICIPAL
ao permitido em lei;
Aplica-se também o art. 359-C, onde fica proibido or- O ordenamento jurídico pátrio estabelece 5 limites de
denar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois gastos ao Poder Legislativo Municipal:
últimos quadrimestres do último ano do mandato ou le- a) um para a despesa total da Câmara de vereadores (CF,
gislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo art. 29-A)
exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga b) dois para a despesa com pessoal (CT, art. 29-A, §1º e
no exercício seguinte, que não tenha contrapartida su- LRF, art. 20, III, a)
ficiente de disponibilidade de caixa. c) dois para o pagamento de subsídio de vereador (CF,
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arts. 29, VI, e 29, VII) 31/12/2000.


Não há antinomia entre o limite da CF e o limite da LRF - Se a despesa a ser paga à conta de Despesas de Exer-
cícios Anteriores tiver sido gerada a partir de 01.01.2001, o
O limite para a despesa total da Câmara Municipal limite imposto pelo art. 29-A da CF para o na do pagamento
terá que ser observado.
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Munici- - Tratando-se de Restos a Pagar inscritos a partir de 2001,
pal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os o respectivo empenho deverá compor a despesa da Câ-
gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes mara, no ano da inscrição, para efeito de verificar se houve,
percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e ou não, obediência ao limite em estudo.
das transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. - Constitui crime de responsabilidade do prefeito: efetuar
158 e 159, efetivamente realizado no exercício anterior: repasse que supere o teto constitucional; não enviar o re-
I - 7% para Municípios com população de até 100.000 ha- passe até o dia cinte de cada mês; ou enviá-lo a menor em
bitantes; relação à proporção fixada pela lei orçamentária.
II - 6% para Municípios com população entre 100.000 e - Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câ-
300.000 habitantes; mara gastar mais de 70% da receita do Poder Legislativo
III - 5% para Municípios com população entre 300.001 e Municipal com folha de pagamento, incluído o gasto com o
500.000 habitantes; subsídio dos vereadores.
IV - 4,5% para Municípios com população entre 500.001 e
3.000.000 de habitantes; Limites para a despesa com pessoal da Câmara Municipal
V - 4% para Municípios com população entre 3.000.001 e
8.000.000 de habitantes; Limite imposto pela CF
VI - 3,5% para Municípios com população acima de A Câmara Municipal não gastará mais que 70% com a folha
8.000.001 habitantes. de pagamento.
§ 1o A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por A folha de pagamento contempla: o subsídio dos vereado-
cento de sua receita com folha de pagamento, incluído o res; a remuneração dos servidores efetivos e comissiona-
gasto com o subsídio de seus Vereadores. dos; e a mão de obra terceirizada decorrente da substitui-
§ 2o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Muni- ção de servidores e empregados.
cipal: As verbas indenizatórias e as verbas de gabinete não estão
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste ar- incluídas como folha de pagamento; devem obedecer ao
tigo; limite total da despesa do legislativo.
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou A inclusão da mão de obra terceirizada nesse limite serve
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei para evitar manobras para fugir do limite imposto.
Orçamentária. Não há pagamento aos membros do legislativo em razão
§ 3o Constitui crime de responsabilidade do Presidente da de convocação extraordinária.
Câmara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo. O mu- Limite disciplinado pela LRF: A despesa total com pessoal
nicípio deve calcular qual dos limites é o menor, para que da Câmara Municipal, em cada período de apuração, não
sejam respeitados os dois. poderá exceder a 6% da receita corrente líquida.

- A CF não fixa o teto, o limite máximo para os gastos totais Limites para pagamento do subsídio de vereador
com o Poder Legislativo Municipal. Quem deve estabelecer
o montante a ser repassado pelo Poder Executivo para a Deve prevalecer sempre o limite que for menor.
Câmara Municipal é a Lei Orçamentária Municipal, obser- - Limite em função do subsídio do Deputado Estadual:
vado o teto constitucional. Será estabelecido por lei específica de iniciativa da Câmara
- Esses percentuais incidirão sobre o somatório da receita Municipal, em cada legislatura para a subsequente. Será
tributária arrecadada com as transferências efetivamente fixado em parcela única.
recebidas no ano anterior. - Limite proporcional à receita do Município: O total com da
- A melhor interpretação para a expressão “receita tributá- despesa com a remuneração dos vereadores não poderá
ria” é a lógico-sistemática, isto é, a título de receita tributária ultrapassar o montante de 5% da receita do município. Na
devem ser computados tão somente os valores arrecada- receita que servirá como base de cálculo, não será levada
dos via cobrança de tributos não vinculados, ou seja, os em consideração as receitas de capital e as receitas oriun-
impostos (IPTU, ISS, ITBI). das de tributos vinculados.
- Ocorrendo pagamentos de despesas geradas até
31/12/2000 à conta de Despesas de Exercícios Anteriores, 8. GESTÃO PATRIMONIAL RESPONSÁVEL
e considerando que o regime de apropriação das despesas
é o de competência, tais pagamentos não estão sujeitos ao Em favor da preservação do patrimônio público, a LRF
limite imposto pelo art. 29-A da CF. Esse mesmo raciocínio prescreve que:
vale para pagamentos de Restos a Pagar inscritos até a) é vedada a aplicação da receita de capital derivada da
8

alienação de bens e direitos que integram o patrimônio pú- ter: comparativo com os limites de que trata a LRF; de-
blico para o financiamento da despesa corrente, salvo se monstrativos, no ultimo quadrimestre de exercício.
destinada por ei aos regimes de previdência social, geral e - Um marco importante da LRF foi a institucionalização do
próprio dos servidores públicos; orçamento participativo.
b) a lei orçamentária e as de créditos adicionais só incluirão
novos projetos após adequadamente atendidos os em an- 10. ESCRITURAÇÃO E FISCALIZAÇÃO
damento e contempladas as despesas de conservação do DAS CONTAS PÚBLICAS
patrimônio público, nos termos da lei de diretrizes orçamen-
tarias; - Além de obedecer às demais normas de contabilidade
c) é nulo de pleno direito ato de desapropriação de imóvel pública, a escrituração das contas públicas observará: a
urbano expedido sem prévia e justa indenização em di- disponibilidade de caixa constará em registro próprio; a
nheiro ou prévio depósito judicial do valor da indenização. despesa e a assunção de compromisso serão registradas
- A empresa controlada que firmar contrato de gestão em segundo o regime de competência; as demonstrações con-
que estabeleçam objetivos e metas de desempenho, na tábeis compreenderão as transações e operações de cada
forma da lei, disporá de autonomia gerencial, orçamentária órgão, fundo ou entidade da Administração Direta, autár-
e financeira, sem prejuízo da obrigação de compor o orça- quica e fundacional; as receitas e despesas previdenciárias
mento de investimento das empresas estatais. serão apresentadas em demonstrativos financeiros e orça-
mentários específicos; as operações de crédito, as inscri-
9. TRANSPARENCIA DA GESTÃO FISCAL ções em Restos a Pagar e as demais formas de financia-
mento ou assunção de compromissos junto a terceiros, de-
- O controle do cidadão sobre os gastos públicos deriva do verão ser escrituradas de modo a evidenciar o montante e
próprio Direito Natural. A sociedade tem o direito de pedir a variação da dívida pública no período; a demonstração
contas a todo agente público de sua administração. das variações patrimoniais dará destaque à origem e ao
- Os instrumentos de transparência da gestão fiscal estão destino dos recursos provenientes da alienação de ativos.
estabelecidos na LRF, são eles: o plano plurianual (plane- - O Poder Legislativo, diretamente ou com o auxílio dos
jamento de médio prazo elaborado pela Administração Pú- Tribunais de Contas, e o sistema de controle interno de
blica para os investimentos a serem realizados nos próxi- cada Poder e do Ministério Público, fiscalizarão o cumpri-
mos quatro anos); a lei de diretrizes orçamentárias (tem a mento das normas da LRF.
função de orientar a elaboração da lei orçamentária anual);
a lei orçamentária anual (deve guardar conformidade com 11. CONSELHO DE GESTÃO FISCAL
o PPA e a LDO); as prestações de contas e o respectivo
parecer prévio (consubstancia a opinião do Tribunal de O Conselho de Gestão Fiscal será constituído por repre-
Contas); o relatório resumido da execução orçamentária sentantes de todos os Poderes e esferas de governo, do
(representa um levantamento parcial do que já foi execu- Ministério Público e de entidades técnicas representativas
tado do projeto orçamentário para o ano em curso); o rela- da sociedade. Terá a incumbência de acompanhar e ava-
tório da gestão fiscal (instrumento de controle dos limites liar, de forma permanente, a política e a operacionalidade
de gastos, impostos pela LRF, no que tange à despesa com da gestão fiscal.
pessoal, endividamento público e concessão de garantias).
- A LRF preceitua que a transparência da gestão fiscal será 12. ACESSO À INFORMAÇÃO PÚBLICA
assegurada também mediante: incentivo à participação po-
pular e realização de audiências públicas; liberação ao Em favor do acesso à informação pública operam as se-
pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade em guintes normas constitucionais:
tempo real de informações sobre a execução orçamentária a)Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informa-
financeira; adoção de sistema integrado de administração ções de seu interesse particular, ou de interesse coletivo;
financeira e controle. b)A lei disciplinará as formas de participações do usuário
- Desde a edição do seu texto original, a CF determina ao na Administração Pública Direta e Indireta;
Poder Executivo que publique, até 30 dias após o encerra- c)Cabe à Administração Pública a gestão da documenta-
mento de cada bimestre, o relatório resumido da execução ção governamental e as providencias para franquear sua
orçamentária. A LRF diz que a publicação de tal relatório é consulta a quantos dela necessitem.
de responsabilidade do Chefe do Poder Executivo e que - A denominada Lei de Acesso à Informação Pública dis-
abrangerá todos os poderes e o Ministério Público. Será põe sobre os procedimentos a serem observados pela
composto de: balanço orçamentário; demonstrativo de exe- União, Estados, DF e Municípios.
cução das receitas e despesas. - O direito de acesso aos documentos ou às informações
- Ao final de cada quadrimestre, será emitido e assinado neles contidas. Utilizados como fundamento da tomada de
pelos titulares dos Poderes e órgãos de todos os entes fe- decisão e do ato administrativo, será assegurado com a
derados o relatório de gestão fiscal (RGF), que deverá con- edição do ato decisório respectivo.
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- É dever dos órgãos e entidades públicas promover a di-  Irá operacionalizar o controle de custos.
vulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas com-  EX: Configura grave irregularidade se o serviço de con-
petências, de informações de interesse coletivo ou geral tabilidade deixou de registrar ma das cotas do Fundo de
por eles produzidas ou custodiadas. Participação de determinado mês? R: Sim. Este fato tipifica
- O disposto na Lei de Acesso à Informação Pública não omissão de receita e indica que as despesas comprovadas
exclui as demais hipóteses legas de sigilo e de segredo de são insuficientes, na medida da receita omitida, para com-
justiça nem as hipóteses de segredo industrial decorrentes provar a boa aplicação dos recursos administrados. Confi-
de exploração direta de atividade econômica que tenha gura dano ao patrimônio público e cabe a imputação de dé-
qualquer vínculo com o Poder Público. bito contra o agente responsável.
- Considera-se informação sigilosa aquela submetida tem-  A fiscalização contábil se concretiza por intermé-
porariamente à restrição de acesso público em razão de dio da escrituração, dos balanços e da análise dos re-
sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e sultados econômicos e financeiros; e se interliga com as
do Estado. É dever do Estado controlar o acesso e divulga- outras modalidades de fiscalização, pois os fatos que com-
ção de informações dessa natureza produzidas por seus põem qualquer dessas atividades são igualmente controla-
órgãos e entidades, assegurando a sua proteção. dos pela Contabilidade.
- Considera-se informação pessoal aquela relacionada à
pessoa natural identificada ou identificável. O tratamento 1.2 FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA
de informação desse tipo deve ser feito de forma transpa-
rente e com respeito à intimidade, vida privada, honra e Tem por objeto o controle do fluxo de caixa e suas amplas
imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias repercussões.
individuais. Desse modo, aquele que obtiver acesso a infor- Compreende:
mação assim considerada será responsabilizado por seu a) a análise do preparo e concretização da programação
uso indevido. financeira e do cronograma de execução mensal de desem-
- Qualquer interessado poderá apresentar pedido de bolso;
acesso a informações aos órgãos e entidades públicas, por b) a verificação do cumprimento de metas fiscais, a obedi-
qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter a identifi- ência às regras da LDO quanto à limitação de movimenta-
cação do requerente e a especificação da informação re- ção financeira (contingenc. de despesas);
querida. c) o exame do controle dos Restos a Pagar, dos precató-
rios, das obrigações vencidas e vincendas, dos valores ar-
CAPÍTULO 8 - CONTROLE DA recadados e a arrecadar;
EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA d) a análise da projeção dos riscos fiscais;
e) a pesquisa sobre o cumprimento das normas referentes
O controle das contas públicas, intitulado controle à aplicação mínima de recursos na Educação e na saúde;
político-administrativo, prevê a fiscalização da gestão pú- f) a verificação da observância aos limites das despesas
blica em várias dimensões: contábil, financeira, orçamentá- com pessoal;
ria, operacional e patrimonial (5 dimensões), e sob múlti-  Ex: verificação do cumprimento do art. 42 da LRF, se-
plos aspectos: legalidade, legitimidade, economicidade, gundo o qual é vedado ao titular de Poder ou órgão público,
aplicação das subvenções e renúncia de receitas (5 tipos nos últimos 2 quadrimestres do mandato, contrair obriga-
de controle). Provém tal controle do art. 70, da CF. ção de despesa que não possa ser cumprida integralmente
dentro dele.
1. DIMENSÕES DA FISCALIZAÇÃO  Outro ex: ato de verificar se as disponibilidades de
caixa estão, ou não, depositadas em bancos oficiais.
1.1 FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL
1.3 FISCALIZAÇÃO ORÇAMENTÁRIA
 A contabilidade pública é o ramo da Ciência Contábil
que aplica na Administração Pública as técnicas de registro  Exercida sobre o sistema orçamentário; vai desde a
dos atos e fatos administrativos, apurando resultados e ela- concepção das leis orçamentárias (PPA, LDO e LOA), pas-
borando relatórios periódicos, levando em conta as normas sando pelas alterações sofridas por essas leis e chegando
de Direito Financeiro, os princípios gerais de finanças pú- até a execução do orçamento aprovado através da LOA.
blicas e os princípios de contabilidade. Ela estuda, registra,  Nessa atividade, deve ser averiguado o cumpri-
controla e demonstra o orçamento aprovado e acompanha mento de todas as regras e princípios que dão confor-
sua execução. midade ao sistema orçamentário.
 A LRF prevê que a LDO disporá sobre normas relativas  Ex: verificação de despesa sem prévia autorização em
ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos pro- lei. É uma irregularidade grave (crime ordenar despesa não
gramas financiados com recursos dos orçamentos. prevista em lei – art. 359-D, CP, tbm constitui ato de impro-
 É instrumento de gerenciamento e tomada de decisões bidade).
da eficiência do ente.
10

1.4 FISCALIZAÇÃO OPERACIONAL diante de transgressão da ordem jurídica, assinar prazo


para que o órgão ou entidade adote as providências neces-
 Ferramenta de controle da eficácia, eficiência e efetivi- sárias ao exato cumprimento da lei. Se não atendido, o Tri-
dade das políticas públicas levadas a feito pelos órgãos ou bunal sustará a execução do ato impugnado, comunicando
entidades públicas. a decisão ao Parlamento.
 Também denominada de auditoria de desempenho
(operacional). 2.2 CONTROLE DE LEGITIMIDADE
 Avaliar o desempenho das ações governamentais e in-
formar à sociedade sobre o real emprego dos recursos pú-  Legítimo é o que é justo ou moralmente justo.
blicos.  A vontade juridicamente positivada é o campo da lega-
 Mensuração da qualidade do gasto público lidade, já a vontade democraticamente expressa, positi-
 Eficácia: relação entre objetivos alcançados e objetivos vada ou não, situa-se no campo mais vasto da legitimidade.
propostos; avalia a capacidade de cumprir metas;  O controle da legitimidade do gasto público é a fiscali-
 Eficiência: relação entre custo e benefício; melhor utili- zação do atendimento da vontade popular.
zação dos recursos disponíveis; produtividade dos recur-  Os dispêndios serão tanto mais legítimos quanto mais
sos utilizados, resultando em economicidade; direcionados aos anseios da sociedade.
 Efetividade: eficácia + eficiência = maior grau de obje-  Instrumento para medir o grau de satisfação da comu-
tivos alcançados, com o menor custo. nidade é auditoria operacional (auditoria de desempenho).
 Com a EC 19/98 -> princípio da eficiência na gestão  A fiscalização da legitimidade da despesa pública é o
pública ganhou estatura constitucional. controle da concretização dos princípios da administração
pública: moralidade; impessoalidade; finalidade; dever de
1.5 FISCALIZAÇÃO PATRIMONIAL motivar; lógica do razoável; proporcionalidade; publicidade;
 Consiste no exame da situação, evolução, controle e eficiência; supremacia do interesse público
aproveitamento do patrimônio público. Com o auxílio dos  Controle jurisdicional se restringe ao exame da legali-
registros contábeis, os agentes de controle devem executar dade do ato administrativo; o controle político-administra-
inspeções com o objetivo de verificar os bens móveis e imó- tivo pode avaliar o mérito do ato administrativo.
veis que constituem o acervo público constantes do sumá-  Diante da constatação de ilegitimidade de gasto pú-
rio de investimentos, analisar as modificações do patrimô- blico, o TC deve:
nio público, bem como averigua o uso e fruição desses  Tratando-se de contas de governo, emitir parecer pré-
bens. vio pela desaprovação das contas;
 Cabe tbm examinar o cumprimento das normas da  Tratando-se de contas de gestão, proferir acórdão jul-
LRF referentes à gestão patrimonial: gado as contas irregulares, aplicando multa e imputando
a) as disponibilidades de caixa dos entes públicos devem débito ao responsável, caso caiba reparação de débito ao
ser depositadas em bancos oficiais; erário;
b) as disponibilidades de caixa dos regimes de previdência  Representar ao MP e à Justiça Eleitoral.
social ficarão depositadas em conta separada;  Na esfera judicial, vinculação da ilegitimidade da des-
c) é vedada a aplicação das disponibilidades de caixa dos pesa com a quebra dos princípios da AP, implica responsa-
entes públicos em títulos da dívida pública; empréstimos bilizar o mau gestor por ato de improbidade administrativa.
aos segurados e ao Poder Público;  Controle social
OBS: tem uma lista ‘irresumível’, que acho também irrele-  EX: prefeitura construiu rodoviária que ficou contramão
vante neste tópico (pág. 546-547) para a coletividade, dada sua disposição na planta da ci-
dade, caindo em abandono por causa do desuso. Obra ile-
2. TIPOS DE CONTROLE gítima. Outro ex: memoriais de personalidade célebres,
mas que só funcionam no dia da inauguração: o povo cen-
2.1 CONTROLE DE LEGALIDADE sura e desaprova esses desperdícios, denominando-os de
“elefantes brancos” ou “obras faraônicas”.
 Consiste na verificação da conformidade de cada ato
dos gestores públicos com a lei. Funda-se no princípio da 2.3 CONTROLE DE ECONOMICIDADE
legalidade.
 O procedimento prende-se, basicamente, ao exame da  É a verificação posterior da eficiência na gestão finan-
obediência aos preceitos que compõem o Dt Constitucio- ceira, operacional e patrimonial, através do exame da rela-
nal, o Administrativo, o Financeiro e o Previdenciário, ou ção custo/benefício.
seja, às normas que disciplinam a Administração Pública.  Nos casos de excesso de custo ou sobrepreço, o TC
 O TC pode apreciar a constitucionalidade das leis e deve imputar débito contra o responsável – o argumento de
dos atos do poder público (súmula 347, do STF). Desse que foi realizado regularmente o processo licitatório não
modo, concretizando o controle de legalidade, deve o TC, elide a responsabilidade do gestor, em razão do princípio
11

da supremacia do interesse público, decorrendo que nada da LRF;


obriga o agente governamental a contratar em desfavor do f) existência de previsão orçamentária de contrapartida, se
patrimônio público. exigida e quando em pecúnia (art. 35 da LDO), que poderá
 Há a possibilidade de o TC controlar sobre o ponto de ser feita mediante apresentação do orçamento para o exer-
vista da economicidade todos os incentivos ficais e finan- cício corrente ou declaração expressa de que solicitou cré-
ceiros concedidos na vertente da recita ou da despesa pú- dito adicional para o seu atendimento;
blica. g) apresentação de suas contas à Secretaria do Tesouro
Nacional ou entidade preposta nos prazos referidos no art.
2.4 CONTROLE DAS SUBVENÇÕES PÚBLICAS 51, §1o, incisos I e II, da LRF, observado o que dispõe o
art. 50 da LRF.
 Subvenções são valores que tenham sido transferidos  Convênio – transferência de recurso público; recursos
para entidades sem fins lucrativos ou empresas, mesmo da União; mútua cooperação.
que de direito privado, com ou sem finalidade lucrativa. De-  As parcelas do convênio serão liberadas em conformi-
vem estar também sob o controle interno e externo. dade com o plano aprovado, exceto nos seguintes casos,
 O sentido de subvenções deve ser amplo (subvenções em que ficarão retidas até o saneamento:
sociais, contribuições correntes, subvenções econômicas,  Quando não tiver havido comprovação da boa e regu-
os auxílios e as contribuições de capital). lar aplicação da parcela anteriormente recebida
 A celebração de convênio depende da aprovação pré-  Quando verificado desvio de finalidade, atrasos não
via do plano de trabalho proposto pela organização interes- justificados na execução do convênio, atos que atentem
sada, o qual deverá conter: contra os princípios administrativos; inadimplemento em re-
I - identificação do objeto a ser executado; lação a outras clausulas do contrato
II - metas a serem atingidas;  Quando o executor deixar de adotar as medidas sane-
III - etapas ou fases de execução; adoras
IV - plano de aplicação dos recursos financeiros;
V - cronograma de desembolso;  Prazo de 2 dias úteis, contados da liberação do re-
VI - previsão de início e fim da execução do objeto, bem curso, para notificar à câmara municipal, a qual tem a obri-
assim da conclusão das etapas ou fases programadas; gação de representar ao TCU quanto ao descumprimento
VII - se o ajuste compreender obra ou serviço de engenha- desses procedimentos.
ria, comprovação de que os recursos próprios para comple-  A prefeitura do município terá o prazo de 2 dias, con-
mentar a execução do objeto estão devidamente assegura- tados do recebimento, para informar partido, entidade e sin-
dos, salvo se o custo total do empreendimento recair sobre dicatos, da liberação.
a entidade ou órgão descentralizador.  Quando da conclusão, denúncia, rescisão ou extinção
do convênio, o saldo remanescente deverá ser devolvido
 Exigências para obtenção de transferência voluntária ao ente repassador no prazo de 30 dias contados do
(IN STN nº1/01): evento.
a) situação de regularidade quanto: ao pagamento de tribu-  Nos casos de convênios, subvenções, etc, mesmo ins-
tos, multas e demais encargos fiscais, cuja administração tituições privadas, quando contratarem com terceiros servi-
esteja a cargo do Ministério da Fazenda; ao pagamento das ços e compras, deverão licitar na forma da lei 8.666/93.
contribuições devidas ao sistema de seguridade social do  Os recursos transferidos voluntariamente só se incor-
País; ao depósito das parcelas devidas ao Fundo de garan- poram ao patrimônio do município após o julgamento das
tia do Tempo de Serviço – FGTS; e à prestação de contas contas do órgão/entidade repassador pelo TCU ou quando
de recursos anteriormente recebidos da União (art. 25, §1o, o TC emite julgamento da tomada de contas especial pela
inciso IV, alínea "a", da LRF); regularidade. Diferentemente do que ocorre com as trans-
b) cumprimento dos limites constitucionais relativos à apli- ferências compulsórias (FPM, FPE, FUNDEB...).
cação de recursos nas áreas de educação e saúde (art. 25,  É possível que se instaure processo licitatório antes da
§1o, inciso IV, alínea "b", da LRF, e art. 212 da Constitui- liberação do convênio, desde que exista previsão orçamen-
ção); tária; contudo, o contrato só poderá ser assinado após a
c) observância dos limites das dívidas consolidada e mobi- concretização da disponibilidade financeira.
liária, de operações de crédito, inclusive por antecipação de  Os recursos das contas específicas não podem ser
receita, de inscrição em restos a Pagar e de despesa total transferidos para a conta geral da entidade convenente.
com pessoal, mediante o Relatório de Gestão Fiscal, como
 Nos casos em que o recursos forem transferido a ins-
definido na alínea "d" deste artigo (art. 25, § 1o, inciso IV,
tituição filantrópica, deverá responder pelo mau uso do re-
alínea "c", da LRF);
curso, o dirigente desta instituição e solidariamente o admi-
d) publicação do Relatório de Gestão Fiscal, de que tratam
nistrador (gestor, ordenador de despesa pública), ao se
os arts. 54 e 55 da LRF, contendo:
omitir, deixando de instaurar a tomada de contas especial
e) publicação do Relatório Resumido da Execução Orça-
quando não houver prestação de contas ou quando cons-
mentária, observado, no seu formato, o disposto no art. 52
tatar irregularidades (entendimento do TCU).
12

 O ente que receber recursos federais via convênio,


prestará contas perante o órgão repassador e não ao TCU.  A Transparência, para potencializar o controle político-
 Nos termos do art. 71, CF, compete ao TC sustar os administrativo das renúncias da receita, é imposta pela or-
atos impugnados relacionados aos convênios, exceto nos dem jurídica pátria, através dos seguintes mecanismos:
casos de contratos, que a competência será do Congresso  No anexo de metas fiscais deverá constar a quantifica-
Nacional – a lei 8.666 não o condão para mudar essa com- ção da estimativa e compensação da renúncia de receita
petência, que está na CF.  A renúncia só poderá ser feita por lei específica
 É competência do TCU fiscalizar e julgar as contas  O projeto de LOA será acompanhado de demonstrativo
do ordenador de despesa estadual ou municipal, referentes regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, da
à aplicação dos recursos públicos federais; por simetria, o renúncia de receita
TCE tem competência para julgar as contas de prefeitos re-
ferentes a transferências feitas do Estado para Município. O planejamento na concessão de renúncias, para salva-
guardar o equilíbrio fiscal, decorre dos freios estabelecidos
2.5 CONTROLE DA RENÚNCIA DE DESPESA no art. 14 da LRF. Este determina que a concessão de in-
centivo ou benefício de natureza tributário da qual decorra
 Renúncia de receita é o benefício fiscal concedido a renúncia de receita deverá satisfazer os seguintes requisitos:
pessoa física ou jurídica, consubstanciado em dispensa (ou  Estar acompanhada de estimativa impacto orçamentá-
redução) de pagamento de tributo ou multa, tratamento di- rio-financeiro (nota de rodapé 70, p. 399)
ferenciado ou auxílio em dinheiro (subsídio), por meio de lei  Atender a LDO
específica. Por esse expediente, o Poder Público abre mão  Satisfazer a pelo menos uma dessas condições: de-
de parte das receitas que poderia arrecadar, ou incorre em monstrar que a renúncia foi considerada na estimativa de
despesas mediante auxílios financeiros, promovendo jus- receita da lei orçamentária e de que não afetará as metas
tiça fiscal, em face da capacidade contributiva do contribu- de resultados fiscais; ou estar acompanhada de medida de
inte, ou executando políticas econômicas, institucionais ou compensação (aumento de receita ou diminuição de des-
administrativas, através do fomento de determinados seto- pesa)
res da economia, do incentivo ao desenvolvimento de cer-
tas regiões do País ou do estímulo à competitividade de  A LRF submeteu apenas as isenções em caráter não
segmentos estratégicos do setor produtivo. geral (específicas) ao regime de concessão de renúncia de
 A LRF expressa que a renúncia compreende a anistia, receitas, não estando submetidas às condições retro.
remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isen-  Isenção geral – surge da lei; não depende do pedido
ção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modifi- do interessado ou de ato administrativo
cação de base de cálculo que implique redução discrimi-  Isenção específica – o interessado, ao requerer, deve
nada de tributos ou contribuições (benefícios tributários, ex- provar o preenchimento das condições e dos requisitos,
ceto os subsídios, que são benefícios financeiros). sendo efetivada, em cada caso, por despacho da autori-
 Conceitos: dade administrativa.
a) Isenção – de tributo não lançado; as isenções de  Deve haver sempre a respectiva compensação, quando
caráter geral não se incluem como renúncia de receita. houver a renúncia, pela adoção de medidas que aumentem
b) Anistia – não pagamento de crédito tributário relativo a receita tributária ou diminuam permanentemente outras
à penalidade pecuniária (multa) ainda não lançado despesas, de modo a manter o equilíbrio fiscal.
c) Remissão – não pagamento de crédito tributário já  A compensação por aumento da despesa tributária
lançado. deve atender ao princípio da anterioridade tributária; só
d) Subsídio – concessão de dinheiro pelo governo a pode ocorrer através de tributos não vinculados.
empresas, para lhes aumentar renda ou abaixar os  Os incentivos fiscais concedidos a empresas que ainda
preços, ou para estimular as exportações; caracteriza não entraram em atividade não carecem das medidas de
uma subvenção econômica. Pode tbm haver conces- compensação.
são diretamente ao consumidor.
 As restrições a concessão de renúncia não se aplicam
e) Crédito presumido – é o benefício fiscal típico da sis-
nos casos em que o valor a ser cobrado é inferior aos cus-
temática de débito e crédito dos impostos não cumula-
tos de cobrança.
tivos (quando é possível compensar com o que for de-
 OBS: a LRF estabelece que não serão necessárias
vido em casa operação com o montante cobrado nas
medidas de compensação quando o benefício fiscal se re-
anteriores).
ferir à alteração de alíquota de II, IE, IOF e IPI, pois preva-
f) Alíquota – é a razão do valor do tributo e a base tri-
leceu a função extra fiscal destes. Tais impostos podem ser
butada. Expressa em percentagem que o Estado exige
cobrados no mesmo exercício em que haja sido publicada
para si toda vez que se concretizar a tributação.
a lei que os instituiu ou aumentou, e antes de decorridos 90
g) Base de cálculo – é o valor sobre o qual incidirá a
dias, com exceção do IPI, que deve observar a anteriori-
alíquota.
dade nonagesimal.
13

 Questão: pode o ente da Federação, objetivando au- sável adote as providências necessárias ao exato cumpri-
mentar a arrecadação de tributo, estimular o seu pgto, me- mento da lei.
diante a redução do valor devido ao tributo, condicionada  Se for o caso, o TC declarará a ilegalidade do ato im-
ao seu recolhimento? R: sim. Pois irá estimular o cresci- pugnado e assinará prazo para que o ente público proceda
mento da arrecadação. Pode haver tbm prorrogação do a sua anulação, além de efetivar o apensamento do res-
prazo para pagamento, parcelamento de débito, entre ou- pectivo processo às contas anuais do gestor responsável.
tras medidas. O TC pode anular o ato ou determinar que a autoridade
competente proceda à anulação, sendo esta medida a mais
2.5.1 Guerra fiscal recomendável.
Na hipótese de descumprimento – multa; declarar o respon-
 Guerra fiscal é a competição exacerbada, mediante sável inabilitado para o exercício de cargo; representar ao
concessão de benefícios fiscais, que os entes da federação MP e ao parlamento
realizam com o objetivo de atrair para seus territórios novos  OBS: As Corte de Contas estaduais também podem
investimentos privados do setor industrial. adotar medidas cautelares, se estiver previsto nos seus Re-
 Os Estados mais pobres são prejudicados nesta gimentos Internos ou Leis Orgânicas.
guerra, pois os estados mais industrializados terão sempre  Se o ato sustado for um contrato, segue-se o seguinte
melhores condições em outros aspectos para oferecer, procedimento:
além de poder igualar-se nas condições de isenção de im-  O processo se inicia no TC, por iniciativa própria ou por
postos. provocação da Casa Legislativa.
 Importante salientar que, pela CF, em relação ao  Se verificada ilegalidade, será fixado prazo para que se
ICMS, a concessão ou revogação de incentivos e benefí- adotem as providências necessárias ao cumprimento da lei
cios fiscais só poderá ser aprovada pelos Estados e DF em  Se a ilegalidade persistir, o TC encaminha para o Le-
unanimidade, após prévia deliberação no âmbito do Con- gislativo
selho Nacional de Política Fazendária (este é tbm o enten-  O Legislativo adotará ou não o ato de sustação
dimento do STF).  O Legislativo solicitará ao Executivo as medidas cabíveis
 Etapas a serem seguidas na concessão de benefícios  Se o parlamento não decidir em 90 dias e o executivo
do ICMS: convênio pactuado no CONFAZ; em nível esta- não efetivar as medidas cabíveis, o TC decidirá a questão,
dual – incluir na LDO; fazer constar do Anexo de metas fis- sustando o contrato ou não.
cais; demonstrar o efeito sobre as receitas; aprovar lei es-
pecífica. 4. O CONTROLE EXERCIDO DIRETAMENTE
 A LRF, em combinação com as normas constitucionais PELO PODER LEGISLATIVO
preexistentes, pretende prover de racionalidade as conces-
sões de favores fiscais, mediante a exigência de planeja-  Os arts. 70 e 75 da CF deixam claro que o controle
mento e a transparência no procedimento de conceder be- externo da Administração Pública é tarefa atribuída ao Po-
nefício tributário, financeiro ou creditício. der Legislativo e ao TC. As atribuições de fiscalização e
controle afetas à Casa Legislativa podem ser efetivadas di-
3. EDIÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES retamente ou com o auxílio do TC.
PELO TRIBUNAL DE CONTAS  Procedimentos de controle exercidos diretamente pela
Casa Legislativa:
 Diante de transgressão da ordem jurídica, o TC deverá a) convocações de Ministro de Estado ou quaisquer titu-
fixar prazo para que o órgão adote as providencias neces- lares de órgãos subordinados à Presidência para presta-
sárias ao exato cumprimento da lei. Caso esta não o faça, rem, pessoalmente, informações sobre assunto previa-
o TC sustará a execução do ato impugnado, comunicando mente determinado;
ao Parlamento (art. 71, IX e X, CF). b) Os pedidos escritos de informações aos Ministros e ti-
 O STF entende que é possível a edição de medidas tulares retromencionados;
cautelares pelo TC nos casos em que houver temor de imi- c) As comissões parlamentares de inquérito, eu terão po-
nente ofensa à ordem jurídica, em prejuízo do erário ou de deres de investigação próprios das autoridades judiciais;
terceiro, e de perigo na demora. Tem tbm competência para d) A comissão de orçamento que, diante de indícios de
fiscalizar procedimentos de licitação, determinar a suspen- despesa não autorizada, ainda que sob a forma de investi-
são cautelar e examinar editais de licitação publicados. mentos não programados ou de subsídios não aprovados,
 Segundo o R.I do TCU, poderá o Tribunal, de ofício ou poderá solicitar à autoridade responsável que presente os
mediante provocação, adotar medida cautelar, com ou sem esclarecimentos necessários;
a prévia oitiva da parte, determinando, entre outras provi- e) A fiscalização e o controle dos atos do Poder Execu-
dências a suspensão do ato ou do procedimento impug- tivo, incluídos os da Administração Indireta;
nado, até que decida sobre o mérito da questão suscitada, f) A apreciação dos relatórios sobre a execução dos pla-
quando, se for o caso, assinará prazo para que o respon- nos de governo;
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g) A tomada de contas especial pela Câmara dos Deputa- pessoal ao respectivo limite, nos termos dos arts. 22 e 23;
dos, quando o Presidente da República não as apresentar d) providências tomadas, conforme o disposto no art. 31,
dentro de 60 dias após a abertura da sessão legislativa (2/04). para recondução dos montantes das dívidas consolidada e
mobiliária aos respectivos limites;
 Atribuições privativas do Senado Federal que se rela- e) destinação de recursos obtidos com a alienação de ati-
cionam com o Direito Financeiro: vos, tendo em vista as restrições constitucionais e as desta
a) autorizar operações externas de natureza financeira, de Lei Complementar;
interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos f) cumprimento do limite de gastos totais dos legislativos
Territórios e dos Municípios; municipais, quando houver.
b) fixar, por proposta do Presidente da República, limites
globais para o montante da dívida consolidada da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; CAPÍTULO 09 - CONTAS PÚBLICAS
c) dispor sobre limites globais e condições para as opera-
ções de crédito externo e interno da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e de- 1. TEORIA DA OBRIGAÇÃO DE PRESTAR CONTAS
mais entidades controladas pelo Poder Público federal;
d) dispor sobre limites e condições para a concessão de Essa teoria decorre da seguinte assertiva: “QUEM MO-
garantia da União em operações de crédito externo e in- VIMENTA RECURSOS ALHEIOS TEM NÃO APENAS A
terno; OBRIGAÇÃO, COMO TAMBÉM O DIREITO DE PRESTAR
e) estabelecer limites globais e condições para o montante CONTAS”. Pois não existe responsabilidade por adminis-
da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos tração de recurso alheio sem o respectivo dever de prestar
Municípios; contas.
Em resumo, pode-se dizer que a PRESTAÇÃO DE
O Congresso Nacional terá o compulsório auxílio CONTAS, que deve ser instruída com os documentos justi-
do TCU quando: ficativos, consiste na discriminação da universalidade das
a) julgar as contas prestadas anualmente pelo Presidente receitas e despesas, concernentes a uma administração de
da República bens, valores e interesses de outrem, em um determinado
b) demandar inspeções e auditorias de natureza contábil, período, efetivada por força de lei ou contrato. É obrigação
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas que emana do princípio universal de que todos aqueles que
unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Execu- administram bens alheios, ou os têm sob a sua guarda, têm
tivo e Judiciário, e demais entidades da Administração Di- o dever de acertar o resultado de sua gestão; é decorrência
reta e Indireta; natural do ato de gerir o que não é seu.
c) necessitar de informações sobre a fiscalização contá-
bil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e so- 2. ACCOUTABILITY
bre resultados de auditorias e inspeções realizadas;
d) quando não prestados pela autoridade governamental Em sentido estrito, o vocábulo está associado à ideia
responsável esclarecimentos, ou considerados estes insu- de obrigação dos agentes públicos de prestar contas aos
ficientes à comissão de orçamento do Congresso Nacional órgãos de controle e aos cidadãos, que financiam o Estado.
diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que Em sentido amplo, diz respeito ao dever do agente político
sob a forma de investimentos não programados ou de sub- de organizar, planejar, coordenar, executar e controlar as
sídios não aprovados, no prazo de cinco dias, caso em que ações governamentais de forma que atendam às expecta-
a comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento conclu- tivas e demandas da população. Não se limitaria apenas ao
sivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias. Entendendo o dever de prestar contas, mas contemplaria também a de-
Tribunal irregular a despesa, a Comissão, se julgar que o monstração, com total transparência, do que, como, onde,
gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à eco- o motivo e o valor do que foi feito (tudo isso estimula e ali-
nomia pública, proporá ao Congresso Nacional sua susta- menta a democracia participativa).
ção. Em suma, accountability é a responsabilidade polí-
e) exercer a competência para sustar contratos. tica, econômica e social das ações e decisões do admi-
f) A LRF dispõe que o Legislativo, diretamente ou com o nistrador público, possibilitando a aplicação de puni-
auxílio dos TC e o sistema de controle interno de cada Po- ções em eventual má conduta. Quanto mais avançado o
der e do MP, fiscalizarão o cumprimento das normas dessa estágio democrático, maior o interesse pela accountability.
Lei, com ênfase no que se refere a: Ela fica bem evidenciada no Direito brasileiro quando se
a) atingimento das metas estabelecidas na lei de diretrizes examina os pilares da Gestão Fiscal Responsável: planeja-
orçamentárias; mento, transparência, controle e responsabilização.
b) limites e condições para realização de operações de cré-
dito e inscrição em Restos a Pagar;
c) medidas adotadas para o retorno da despesa total com
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3. PRINCÍPIO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS NA CF/88 OBS³: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL (TCE), em regra,
é preparada e apresentada no Tribunal de Contas pela au-
Parágrafo único do art. 70 da CF/88: “Prestará contas toridade administrativa; agora caso a mencionada autori-
qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que dade competente não instaure a TCE, o Tribunal de Contas
UTILIZE, ARRECADE, GUARDE, GERENCIE, ADMINIS- da União poderá: a) ele próprio instaurar o processo de
TRE, dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a TCE; ou b) determinar que o responsável pelo órgão ou en-
União responda, ou que, em nome desta, assuma obriga- tidade pública o faça. (Julgamento das contas será sempre
ção de natureza pecuniária”. feito pelo Tribunal).
Embora o texto faça referência à administração de re- NOTA: Se o Tribunal, ao exercer a fiscalização, verificar a
cursos da União, ele é extensivo aos outros entes da Fede- ocorrência de desfalque, desvio de bens ou outra irregula-
ração. ridade que cause dano ao erário, ordenará de imediato a
conversão do processo em Tomada de Contas Especial.
OBS: o dever de prestar contas é intransferível, salvo a
atribuição de responsabilidade por reparação de dano 9.3.2.1. Reflexões
patrimonial (responsabilidade civil) aos sucessores he-
reditários do gestor público, até o limite do quinhão Um bom exemplo de tomada de contas pode ser obser-
transferido. “O dever de prestar contas não é penalidade, vado no art. 51, II, da CF, assim expresso: “Compete privati-
mas tão somente uma consequência da obrigação de natu- vamente à Câmara dos Dep. Proceder à tomada de contas
reza civil, a qual a morte não extingue como regra”. do Presidente da Rep., quando não apresentadas ao Cong.
Nacional dentro de 60dias após abertura da sessão legisla-
9.3.2. Prestação de contas, Tomada de contas e Tomada tiva” (há uma omissão no dever de prestar contas).
de contas especiais Ressalta Caldas Furtado que é necessário que se con-
centre na pessoa do gestor público o dever de preparar e
Há 3 procedimentos para preparação, apresentação, apresentar as contas referentes aos atos de sua responsa-
processamento e apreciação ou julgamento de contas pú- bilidade, em conformidade com a teoria geral da obrigação
blicas: de prestar contas, o que irá refletir a intima relação entre o
a) Prestação de Contas: prescreve que o encargo de pre- princípio da prestação de contas e os princípios republicano
parar e apresentar as contas é da própria pessoa, PF ou PJ, e democrático (quem administra a res publica deve pesso-
responsável pelos atos administrativos nela contemplados. almente prestar contas a quem a financia, o cidadão).
b) Tomada de Contas (ordinária): se distingue por prever, Assim, conclui o professor que o procedimento da to-
ordinariamente, que a preparação e a apresentação de mada de contas ordinária não foi recepcionado pela
contas ficará a cargo de pessoa diversa daquela que é a CF/88. Tem-se, portanto, que a CF vigente admite apenas
responsável pelos atos administrativos respectivos─ geral- 2 procedimentos: PRESTAÇÃO DE CONTAS E TOMADA
mente o responsável pela contabilidade analítica do ente DE CONTAS ESPECIAL.
público. Geralmente ocorre quando há uma omissão no de-
ver de prestar contas. 9.3.3. As contas anuais do Chefe do Executivo
c) Tomada de Contas Especial- TCE: se diferencia do
procedimento anterior por ser aplicado para resolver situa- As contas anuais são assim denominadas porque se
ções especiais, como: i) omissão no dever de prestar con- referem à execução do orçamento público, que tem dura-
tas; ii) não comprovação da aplicação dos recursos repas- ção anual. Diz a CF/88, no art. 84, XXIV, que compete pri-
sados mediante convênio, acordo, ajuste e outros simila- vativamente ao Presidente da República prestar, anual-
res; iii) ocorrência de desfalque ou desvio de dinheiros, mente, ao Congresso Nacional, dentro de 60 dias após a
bens ou valores públicos; iv) prática de qualquer ato ilegal, abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao
ilegítimo ou antieconômico que cause dano ao erário. (Lei exercício anterior. OBS: Por simetria, essa obrigação es-
Orgânica do TCU, art. 8º). tende-se aos Governadores e aos Prefeitos Municipais.
Portanto, quem presta contas é o Presidente da Repú-
OBS¹: Na esfera federal, o procedimento da TOMADA DE blica, o Governador, o Prefeito, e não a União, o Estado-
CONTAS (ordinária e especial) é utilizado para os casos membro ou o Município. Ou ainda, quem presta contas é
dos órgãos gestores da ADM. PÚB. DIRETA. Já o da o administrador, não a administração. É obrigação per-
PRESTAÇÃO DE CONTAS, quando se tratar de gestores sonalíssima, que só o devedor pode efetivar, não se admi-
das entidades da ADM. PÚB. INDIRETA. Resumindo: TO- tindo que tal prestação seja executada por terceira pessoa
MADA DE CONTAS => p/ órgão da Administração Púb. Di- (procurador, preposto, substituto, etc). Vale dizer que o Pre-
reta. PRESTAR CONTAS => p/ Adm. Púb. Indireta. feito responsável pelos recursos do Município que adminis-
OBS²: Prestar contas é um ato praticado pelo próprio tra é o único titular da respectiva prestação de contas (in-
agente; tomar contas, ao contrário, já implicava uma ação terpretação analógica à União e aos Estados). Registra-se
desenvolvida sobre uma situação e outro agente que não o que a apresentação das contas anuais pelo Prefeito Muni-
próprio tomador.
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cipal no Tribunal de Contas do Estado, não prejudica o de- 9.3.5. CF versus LRF
ver de prestar contas imediatamente na Câmara de Verea-
dores (art. 31, §3º, CF). Apesar do princípio do dever de prestar contar está bem
delineado na CF/88, a LRF desconhece completamente os
9.3.4. As contas de gestão de convênio arts. 70, p. único, e 71, I e II, da Lei Maior, confundindo
prestação de contas de pessoas físicas com contas de en-
Aqui União exige do Município a prestação de contas tidades, faz aglomeração indevida e desnecessária de
dos recursos transferidos voluntariamente, na forma esta- prestação de contas e etc.
belecida no convênio. A obrigação de prestar contas Afronta maior se verifica quando a LRF prevê emissão de
nasce diretamente do convênio e só indiretamente da “parecer prévio”, em contas prestadas pelos Presidentes
Lei Básica Federal (arts.70, p. único; 71, VI; 72, II, CF). CF dos órgãos dos Poderes Legislativos e Judiciário e do
impõe a qualquer pessoa jurídica de direito público que ge- Chefe do Ministério Público (art. 56, LRF), desrespeitando
rencie recursos da União o correspondente dever de pres- toda concepção constitucional dos regimes de contas pú-
tar contas (art. 70, parágrafo único); blicas, previstos no art. 71, I e II.
Na esfera federal, os Estados, DF e Município que Afirma C. Furtado que “não é certo que a intenção da LRF
receberem recursos da União, via convênio, prestarão tenha sido implantar um novo e adicional regime de presta-
contas perante órgão/entidade repassador dos recur- ção de contas, com o objetivo exclusivo de proteger a re-
sos, e não ao TCU. Havendo omissão no dever de prestar gularidade fiscal. Não á necessidade, nem poderia. (...) por-
contas, ou irregularidades na gestão do convênio─ esgota- que o sistema constitucional de prestação, fiscalização e
das as medidas administrativas cabíveis no âmbito in- julgamento de contas é um dos melhores e mais completos
terno─ será instaurada, diretamente ou através do conve- do mundo (...). A realidade é que o modelo constitucional
nente, a respectiva tomada de contas especial, que será não reclama aperfeiçoamento, mas, sim, efetividade”. O
remetida para julgamento do TCU. STF resolveu esse problema em 2007, ao apreciar a
O Prefeito, quando assina convênio, não age em nome ADIn nº 2238/37, e por unanimidade deferiu a medida
próprio, mas no do Município. Aqui a obrigação de prestar cautelar para suspender a validade do art. 56, caput, da
contas não é personalíssima. LC nº 101/00 (LRF).
Na prática, a União tem exigido do Município, conforme
o convênio, a prestação de contas dos recursos transferi- 4. OMISSÃO NO DEVER DE PRESTAR CONTAS
dos voluntariamente, ainda que ele já esteja sendo admi-
nistrado por outro prefeito. No entanto, quando do proces- Dos vários dispositivos legais que incidem no caso de
samento da tomada de contas─ diante da ausência ou não apresentação de contas pelo gestor público, seguem,
prestação insatisfatória de contas pelo Município─ será im- a título de exemplo, alguns que indicarão as várias prescri-
putada responsabilidade ao Prefeito culpado pela má apli- ções para a hipótese de inadimplência de prefeitos:
cação (que pode ser quem assinou o convênio ou quem o a) ato de improbidade- cominação: ressarcimento do
sucedeu), e o Município será inscrito no cadastro de ina- dano, perda da função pública, suspensão dos direitos po-
dimplentes pela União. Em suma, nos convênios o Muni- líticos de 3 a 5 anos, pagamento de multa de até 100X o
cípio e a pessoa física do administrador serão coobri- valor da remuneração, proibição de contratar com o Poder
gados em relação ao dever de prestar contas, e corres- Público por 3 anos;
ponsáveis com referência à aplicação dos recursos, b) crime comum- sujeito ao julgamento pelo Poder Judici-
perante a União. ário, independente de pronunciamento da Câmara de Ve-
readores;
NOTA: observa-se que o modelo de prestação de contas c) gera inelegibilidade- (Lei Complementar nº 64/90, art.
anual imposto aos gestores municipais perante os Tribu- 1º, I, g);
nais de Contas dos Estados é diverso do estabelecido entre d) instauração da respectiva tomada de contas especial
os Municípios e a União em face das transferências feitas pelo órgão competente;
mediante convênios (aqui a obrigação não é persona- e) intervenção do Estado em Município (art. 35, II, CF).
líssima, Município e Prefeito são coobrigados).
OBS¹: O Decreto-lei nº 201/67, art. 1º, VI, diz que é “dever
OBS: SÚMULA 230 do TCU: determina que compete ao do prefeito prestar contas anuais da Adm. Financeira do
prefeito sucessor apresentar as contas referentes aos re- município à Câmara de Vereadores (viabiliza a transpa-
cursos federais recebidos pelo antecessor, quando este rência fiscal), ou ao órgão que a Constituição Estadual in-
não o tiver feito. Quando não for possível, deverá instaurar dicar─ Tribunal de Contas (viabiliza o julgamento das
TCE (tomada de contas especial), sob pena de correspon- contas do governo).
sabilidade. OBS²: O pedido de intervenção do Estado no Município tem
se revelado o meio mais eficaz para compelir os Prefeitos
a cumprir o princípio da prestação de contas.
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5. CONSOLIDAÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS que prevê o julgamento político levado a efeito pelo Parla-
mento, mediante auxílio do Tribunal de Contas, que emitirá
Com a finalidade de viabilizar a consolidação das contas parecer prévio (art. 71, I, c/c art. 49, IX);
públicas todos os entes da Federação devem cumprir os pra- b) o que alcança as intituladas contas de gestão, presta-
zos e percurso das prestações de contas (LRF, art. 51): das ou tomadas, dos administradores de recursos públicos,
a) Municípios devem consolidar suas contas e encaminhá- que impõe o julgamento técnico realizado em caráter defi-
las ao Estado e à União até 30 de abril. b) Estados- con- nitivo pela Corte de Contas (art. 71, II, CF), que terá eficácia
solidar e encaminhar para União até 31 de maio; c) União- de título executivo quando imputar débito (reparação de
consolidar suas contas e de todos os entes da Federação dano) ou aplicar multa (punição).
e divulgá-las até 30 de junho.
OBS: o descumprimento desses prazos impedirá, até que 9.7.1. CONTAS DE GOVERNO (arts. 71, I e 49, IX, CF)
a situação seja regularizada, que o ente da Federação re-
ceba transferências voluntárias e contrate operações de É o meio pelo qual, anualmente, o chefe do Executivo
crédito (art. 51, §2º, LRF). expressa os resultados da atuação governamental no exer-
cício financeiro a que se referem. A missão constitucional
6. AS TRÊS DIMENSÕES DO do Tribunal de Contas é prestar auxílio ao Parlamento no
PROCESSO DE CONTAS PÚBLICAS julgamento político que exercerá sobre a gestão anual do
Chefe do Executivo. Esse auxílio será consubstanciado no
O processo de contas contempla 3 dimensões ou ver- parecer prévio, que deverá ser em elaborado 60, a contar
tentes, quais sejam: do recebimento das contas. O STJ, assim definiu as contas
a) Julgamento da gestão do administrador responsá- de governo: “são contas globais que demonstram o retrato
vel- tem NATUREZA POLÍTICA, é a mais importante das da situação das finanças da unidade federativa. Revelam o
três, tendo em vista que realiza o princípio republicano de cumprimento do orçamento, dos planos e programas go-
informar o povo de como estão sendo utilizados, se bem ou vernamentais, demonstram o nível de endividamento, etc”.
mal, os recursos financeiros. Os resultados gerais do exercício decorrentes dos atos
b) Punibilidade do gestor faltoso- tem NATUREZA SAN- de governo do Chefe do Executivo serão demonstrados em
CIONATÓRIA, decorre do reconhecimento, no julgamento BALANÇOS GERAIS. Por isso, comumente, a prestação
das contas, da irregularidade na gestão. de contas do governo é chamada de Balanços da Geral da
c) Reparação do prejuízo causado ao erário- tem NATU- União, Balanço Geral do Estado (e do DF), Balanço Geral
REZA INDENIZATÓRIA, dá-se em razão do reconheci- do Município.
mento, no julgamento das contas, da ocorrência do dano OBS¹: As contas de Governo, via de regra, são anuais, mas
causado ao erário e do nexo de causalidade entre os danos poderão ser por fim de gestão na transmissão de cargo de
e os atos praticados pelo gestor. Prefeito ou Governador.
- A dimensão política do processo explora a responsabili-
dade político-administrativa do agente público. Por isso, a Ao analisar as contas de governo, o que deve ser fo-
desaprovação nas contas atinge os direitos políticos. Na di- calizado não são os atos administrativos vistos isolada-
mensão sancionatória, o processo assemelha-se ao pro- mente, mas a conduta do administrador no exercício das
cesso penal, à medida que possibilita a aplicação de pena- funções públicas (planejamento, organização, direção e
lidades, como multa e inabilitação para contratar com a Ad- controle das políticas púb.). Importa, assim, a avaliação
ministração Púb. (por isso é aplicável os princípios do di- do desempenho do Chefe do Executivo, que se reflete
reito penal). Na dimensão indenizatória, opera a respon- no resultado da gestão orçamentária, financeira e patri-
sabilidade civil do administrador público e se concretiza monial.
quando o Tribunal, após julgar as contas apresentadas ou O Tribunal de Contas (TC), nesse ínterim, utiliza de um
tomadas, emite acórdão com imputação de débito ao res- importante meio para verificação da legitimidade do gestor
ponsável (tem natureza de título executivo extrajudicial). público, que é a AUDITORIA OPERACIONAL (moderna
OBS: O constituinte (CF, art. 37, §5º) não admite a prescri- ferramenta de controle da eficácia, eficiência e efetividade
ção da cobrança dos débitos imputados aos administrado- das políticas públicas. Tem a finalidade de avaliar o desem-
res públicos pelo Tribunal de Contas, pois são ordens para penho das ações governamentais e informar à sociedade
o ressarcimento do tesouro público. Essa cobrança alcança sobre o real emprego dos recursos públicos). O parecer
até mesmo os herdeiros do gestor ímprobo, alcançando os prévio do TC também aprecia recursos de convênio, infor-
valores recebidos na sucessão (art. 5º, XLV). mando ao Parlamento como o Chefe do Executivo adminis-
trou esses recursos.
7. OS REGIMES JURÍDICOS DE CONTAS PÚBLICAS As contas de governo também são chamadas de “con-
tas de resultados”, isso porque nelas é oferecido um qua-
Há 2 regimes jurídicos de contas públicas: dro indicativo do bom ou mau desempenho da administra-
a) o que abrange as denominadas contas de governo, ex- ção municipal no decorrer do exercício a que se referem as
clusivo para a gestão política do Chefe do Poder Executivo, contas apresentadas.
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9.7.1.1. Julgamento de gestão será examinado,separadamente,cada ato admi-


nistrativo.
O julgamento das contas de governo é eminentemente NOTA: As contas de gestão no Poder Judiciário serão
político, realizado pelo Parlamento, mediante auxílio do TC. apresentadas no âmbito: 1- da UNIÃO: pelo presidente do
Observa-se, assim, que o esse julgamento das é um ato STF e dos Tribunais Superiores; 2- dos ESTADOS: pelos
composto (manifestação do Tribunal de Contas e da Casa presidentes dos Tribunais de Justiça.
Legislativa, aqui como ato principal). É Casa Legislativa,
portanto, o juiz natural. Para instrumentalizar o julgamento 9.7.2.1. Julgamento
político os TC’s emitirão parecer prévio sobre as contas do
governo, que será: a) pela aprovação; b) pela aprovação O julgamento, das contas prestadas ou tomadas, dos
com ressalva; c) pela desaprovação; d) com abstenção de ordenadores de despesa é atribuído ao Tribunal de Contas,
opinião (esse ocorre na ausência de pressupostos de cons- e independe da interveniência do Poder Legislativo. É um
tituição, p.ex., com a morte do chefe do Executivo respon- julgamento essencialmente técnico. As contas serão julga-
sável). das: a) regulares; b)regulares com ressalva (quando evi-
Na Câmara Municipal, a manifestação do TC só dei- denciam improbidade ou outra falta formal sem dano ao
xará de prevalecer por decisão de 2/3 dos membros da Câ- erário); c) irregulares (omissão; ato ilegal, ilegítimo ou an-
mara (art.31,§2º,CF). No caso de parecer prévio sobre as tieconômico; dano ao erário; desfalque ou desvio de bens
contas do Governador e do Presidente da República, a de- ou valores públicos).
liberação da respectiva Casa Legislativa será tomada por OBS: CONTAS ILIQUIDÁVEIS- ocorrem quando caso for-
maioria simples de votos, presente a maioria absoluta. tuito ou de força maior, comprovadamente alheio à vontade
do responsável, tornar materialmente impossível o julga-
OBS: O TSE e STJ já decidiram que na ausência de jul- mento de mérito, ocorrendo consequentemente o arquiva-
gamento pela Câmara Municipal, prevalece o parecer mento (o prazo é de 5anos para o desarquivamento, caso
prévio do Tribunal de Contas. surja novos elementos).
No julgamento, o TC aplica as sanções previstas, assina
9.7.2. Contas de Gestão prazo para que o órgão/entidade adote providências e re-
presenta ao Poder competente sobre as irregularidades ou
São também chamadas de contas dos ordenadores de abusos apurados.
despesa, sua previsão está no art. 71, II, da CF (leitura im-
portante). O ordenador de despesa é qualquer autori- 9.7.4. Caso do prefeito ordenador de despesas
dade, cujos atos resultem emissão de empenho, auto-
rização de pagamento, suprimento ou dispêndio de re- Nos pequenos municípios onde o prefeito acumula as
cursos da Adm. Púb. Direta e Indireta (abrangendo as funções políticas e as de ordenador de despesa, ele se sub-
fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Po- mete, conforme o STJ, a duplo julgamento: um político pe-
der Público). rante o Parlamento (precedido de parecer prévio) e um téc-
OBS: O STF já decidiu que as Empresas Públicas, Socie- nico perante o Tribunal de Contas.
dades de Economia Mista e os CRM’s estão sujeitos à fis- NOTA: Em suma, nesses pequenos municípios, onde
calização do TCU. Já a OAB não está sujeita a esta fiscali- o prefeito acumula essas funções, a apreciação das con-
zação, haja vista não fazer parte da Adm. Indireta da União, tas de governo do Prefeito (aqui agindo como agente
é atividade tipicamente privada, é enquadrada como “autar- político) será consubstanciada no parecer prévio do
quia especial”. TC, que posteriormente será julgada pela Câmara Mu-
nicipal. Enquanto as contas de gestão do Prefeito (aqui
Aqui é o TCU (art.71,II,CF) que julga a prestação de como ordenador de despesa) serão julgadas apenas
contas (por simetria, essa competência se estende aos pelo TC (não há intervenção do Parlamento) mediante
TCE’s, bem como aos Tribunais de Contas do Município). a emissão de acórdão, que terá força de título execu-
As contas de gestão, que podem ser anuais ou não, di- tivo, caso haja a imputação de débito ou multa (art. 71,
ferentemente das contas de governo, que se consubstan- II, e §3º e art. 75, CF).
ciam nos Balanço Gerais do ente político, têm seu conteúdo
voltado para, no âmbito do órgão ou entidade administrada, OBSERVAÇÃO*: Um debate antigo na Justiça Eleito-
demonstrar: fluxo financeiro, créditos orçamentários consig- ral diz respeito justamente à situação em que o Chefe do
nados, licitações realizadas, fases da execução da despesa, Executivo municipal atua nessas duas searas. Em 1990,
despesas mediante adiantamentos, subvenções, auxílios e em um Recurso Especial Eleitoral, o TSE decidiu que era
contribuições, controle de gestão patrimonial, alienação de inelegível o prefeito que agindo como ordenador de des-
bens, obediência às normas de transparência fiscal. pesa tivesse suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Con-
Enquanto nas contas de governo, o TC analisará os tas, demonstrada cabalmente a improbidade administra-
macroefeitos da gestão pública, no julgamento das contas tiva. No entanto, em 2008, os Ministros do TSE ao julgarem
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dois Recursos Especiais Eleitorais, decidiram que cabe so- se que os TC’s tem função jurisdicional atípica quando
mente às Câmaras Municipais o julgamento das contas julgam as contas dos administradores públicos (art.
prestadas pelos Prefeitos, tendo como órgão auxiliar o Tri- 71,II,CF).
bunal de Contas do Município ou do Estado. Importa infor- OBS: O Poder Judiciário só pode anular as decisões das
mar, que o STF ao analisar a possibilidade de o julgamento Cortes de Contas por irregularidade formal grave ou mani-
do Prefeito ordenador de despesa produzir efeitos no Di- festa ilegalidade. Assim, quanto as contas dos administra-
reito Eleitoral, concluiu o Tribunal Excelso pela impossibili- dores, o judiciário apenas emite juízo de legalidade; en-
dade de o Prefeito, ainda que na condição de ordenador de quanto o juízo de valor será sempre emitido pelo TC, que
despesa, ser julgado pelo Tribunal de Contas do Estado. pode até mesmo apreciar constitucionalidade das leis e dos
Agora, com a edição da Lei da Ficha Limpa, está expressa- atos do Poder Público (vide Súmula 347, STF).
mente consignado que a inelegibilidade se aplica a todos
os ordenadores de despesas, sem exclusão dos mandatá- 9. QUEM JULGA AS CONTAS PRESTADAS PELOS
rios (Chefe do Executivo) que houverem agido nessa con- ADMINISTRADORES DOS TRIBUNAIS DE CONTAS?
dição, demonstrando a perfeita harmonia com o controle
externo idealizado pelo constituinte nos art. 71, I e II e art. Essa foi uma grande confusão que foi submetida à
75. – *esse tópico foi bastante abordado pelo professor, apreciação do STF. Em 2001, essa corte discutindo a cons-
que utilizou 6 páginas (p.118-124). titucionalidade de um dispositivo da Constituição Estadual
de Pernambuco, que atribuía competência para a Assem-
8. ATIVIDADE JURISDICIONAL bleia Legislativa julgar as contas do Tribunal de Contas, de-
DOS TRIBUNAIS DE CONTAS cidiu pela inconstitucionalidade de tal dispositivo, enten-
dendo que não caberiam as Assembleias Legislativas
Discussão: há ou não atividade jurisdicional exercida estaduais o controle externo de forma diametralmente
pelo TC, a teor do art. 71,II,CF? oposta ao modelo estabelecido na CF/88. Pois, na es-
José Afonso da Silva diz “que não se trata de função fera federal, segundo o art. 71,II,CF, cabe unicamente
jurisdicional, pois não julga pessoas nem dirime conflitos de ao TCU julgar as contas dos administradores e demais
interesses, mas apenas exerce um julgamento técnico de responsáveis pelos recursos públicos, a exceção ape-
contas”. José Cretella Júnior, no mesmo sentido, averba nas do art. 49,IX,CF.
que “nenhuma das tarefas ou atividades do TC configura No entanto, em 2004, a Suprema Corte mudou de en-
atividade jurisdicional, pois, não se vê no desempenho tendimento, admitindo que cabe ao Poder Legislativo julgar
dessa Corte de Contas, nem autor, nem réu, nem proposi- as contas dos administradores dos Tribunais de Contas. No
tura de ação, nem provocação para obter prestação jurisdi- voto, o Ministro Marco Aurélio argumentou que: se o TC é
cional, nem inércia inicial, nem existência de órgão inte- órgão auxiliar do Legislativo, a Casa Legislativa deve
grante do Poder Judiciário, nem julgamento contra a admi- arcar com a incumbência de julgar as contas dessa
nistração”. Corte de Contas, ante a ausência total de supervisão
Em contraposição, comentando a CF de 1967, Pontes quanto à atividade desenvolvida pelos seus adminis-
de Miranda assevera que: “desde 1934, a função de julgar tradores, uma vez que a Adm. Púb. como um todo está
contas estava, claríssima, no texto constitucional. Foi a sujeita à prestação de contas.
CF/34 que deu ao Tribunal de Contas caráter de corpo de CALDAS FURTADO- 1) rebate o argumento de que
julgamento”. Nessa linha, Castro Nunes ensina: “a jurisdi- dificilmente o julgamento do Tribunal de Contas dos
ção de contas é juízo constitucional das contas. A função é atos de seu próprio ordenador de despesa teria efetivi-
privativa do Tribunal instituído pela Constituição para julgar dade, vociferando que não é o órgão que presta contas,
das contas dos responsáveis por dinheiro ou bens públicos. mas, sim, o seu administrador, e, por isso, não há pro-
O judiciário não tem função no exame de tais contas, não priamente um autojulgamento, nem afronta o princípio
tem autoridade para apurar o alcance dos responsáveis, da imparcialidade, quando o TC julga as contas de seu
para os liberar. Essa função é ‘própria’ e ‘privativa’ do TC”. ordenador de despesas. 2) Rebate também o argu-
O STF tem firma jurisprudência no sentido de que mento trazido pelo Min. Marco Aurélio, dizendo que o
o julgamento das contas de responsáveis por haveres julgamento recíproco de contas oriundas do TC e do
públicos é de competência exclusiva das Cortes de Parlamento resultaria em dupla inefetividade. 3) Por úl-
Contas, salvo nulidade por irregularidade formal. Pois timo, vai de encontro ao argumento que alega que a
nesse caso, o Poder Judiciário poderá reclamar nulidade apresentação de contas do TC perante o Legislativo
das decisões das Cortes de Contas, cabendo a elas refazer tem assento no art. 71 da CF, quando o constituinte põe
o julgamento. a Instituição de Contas como órgão auxiliar do Parla-
Para CALDAS FURTADO, o Tribunal de Contas é mento, afirma o professor que ir por esse caminho é
juiz natural para julgar os processos de contas, salvo a confundir auxílio com subalternidade, afinal a própria
exceção do art. 49, IX, CF, porém não pertencem ao ju- CF dotou a Corte de Contas de autonomia própria dos
diciário e o processo de contas tem peculiaridades que tribunais judiciários (art. 73, CF).
o diferenciam do processo judicial comum. Assim, tem-
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OBS: Ao analisar o art. 71, §4º, CF, conclui o professor Cal-


das que o administrador do TCU, em sede de controle ex-
terno, está submetido a dupla fiscalização: uma pelo Con-
gresso Nacional, que recebe, trimestral e anualmente, rela-
tório de suas atividades (art. 71, §4º,CF), podendo, inclu-
sive, constituir CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito),
nos termos do art. 58, §3º, da Carta Republicana; outra pelo
próprio TCU. No entanto, ressalta-se que, tratando-se de
julgamento propriamente dito, pelas razões já expos-
tas, apenas o TCU tem aptidão pra fazê-lo.
-Conclui-se que o STF cometeu equívoco ao mudar seu en-
tendimento quanto ao órgão competente para julgar as con-
tas dos administradores das Cortes de Contas.

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