Esse caso foi o primeiro tratamento psicanalítico realizado por
Sigmundo Freud.
A história de Dora, redigida em dezembro de 1900 e janeiro
de 1901, foi publicada apenas 4 anos depois. Através do caso de Dora, Freud procurou provar a validade de suas teses sobre a neurose histérica, etiologia sexual, conflito psíquico, hereditariedade sifilítica, e também expor a natureza do tratamento psicanalítico. O caso Dora trata-se de uma história onde o seu pai trai a sua mãe com a esposa do amigo, conhecidos em uma temporada de férias. O marido da mulher apaixona-se por Dora e a corteja em sua casa de campo, localizada no lago de Garda. Assustada, Dora o rejeita, lhe dando um tapa na cara. Ela conta a cena para sua mãe, para que a mesma converse com o seu pai. O pai de Dora interroga o marido da amante, que nega o caso. Sendo assim, Phillip preocupado em proteger o seu romance extraconjugal, faz com que Dora passe por mentirosa, e a encaminha para Freud. Nascida em Viena, em uma família burguesa, Dora era a filha caçula de Phillip e katharina. Freud o descreve como um homem ativo e talentoso. "A personalidade dominante era do pai", disse Freud, tanto por sua inteligência e suas qualidades de caráter, quanto pelas circunstâncias de sua vida, que foram condicionais ao drama da patologia e infância de Dora. Phillip desfrutava de uma boa situação financeira e a filha o admirava. Em um certo momento, contraiu tuberculose e mudou de cidade junto à sua família.
Foram residir em Merano, onde conheceu o Sr. K, um
negociante menos abastado, casado com uma linda italiana, Sra K. A mesma sofria de distúrbios histéricos e sempre frequentava sanatórios.
Sra K tornou-se amante de Phillip em 1892, e também cuidou
dele, pois o mesmo sofreu um deslocamento de retina. Ainda nessa época, Phillip retornou para Viena e conheceu Freud através de uma consulta para tratar de paralisia e confusão mental de origem sifilítica. Katharina, mãe de Dora, pouco instruída e bem simples, sofria de dores abdominais, herdadas pela filha. Para Freud a mãe de Dora tinha uma psicose da dona de casa. Nunca se interessou pelos filhos, e desde a doença de Phillip, exibia sinais de uma psicose doméstica. " Sem mostrar nenhuma compreensão pelas aspiração dos filhos, ela se ocupava o dia inteiro." disse Freud. A relação de Dora e Katharina era sem afeto. A filha não dava atenção a mãe, e a criticava, sempre saia rapidamente de sua presença. Era uma governanta que cuidava de Dora. O irmão de Dora, Otto, fugia das brigas familiares, quando tinha que tomar decisões, sempre ficava ao lado da mãe. "Assim, a costumeira atração sexual havia aproximado pai e filha, de um lado, e mãe e filho, do outro." Freud. Da mesma forma do pai, Otto levou uma vida dupla com uma moça dez anos mais nova, enquanto era casado com uma mulher dez anos mais velha, mãe de 3 filhos. Em outubro de 1901 foi quando Dora visitou Freud pela primeira vez. Um tratamento que durou exatas onze semanas. Afetada por muitos distúrbios nervosos, dores de cabeça, tosses, afonia, depressão, pensamentos suicidas, ela havia sofrido uma grande afronta. Dora havia se passado como mentirosa pelo pai e pelo Sr. K, e ainda havia sido reprovada pela Sra. K, que suspeitava que ela lesse livros pornográficos. Ao encaminhar Dora para Freud, Phillip pensava que este lhe desse razão e que tratrasse das fantasias sexuais da moça.
Ao invés disso, Freud foi por um caminho diferente. Através dos
sonhos de Dora, ele reconstituiu a verdade inconsciente da trama.
O primeiro sonho: Uma casa estava em chamas. Papai estava ao
lado da minha cama e me acordou. Vesti-me rapidamente. Mamãe ainda queria salvar sua caixa de jóias, mas papai disse: ‘Não quero que eu e meus dois filhos nos queimemos por causa da sua caixa de jóias.’ Descemos a escada às pressas e, logo que me vi do lado de fora, acordei. O Primeiro sonho revelava que Dora se masturbava e que estava apaixonada pelo Sr. K. Por isso, havia pedido ao Phillip que a livrasse da tentação desse amor. Caixa de jóias: genital feminino Chamas: desejo sexual
Segundo sonho: Eu estava passeando por uma cidade que não
conhecia, vendo ruas e praças que me eram estranhas. Cheguei então a uma casa onde eu morava, fui até meu quarto e ali encontrei uma carta de mamãe. Dizia que, como eu saíra de casa sem o conhecimento de meus pais, ela não quisera escrever-me que papai estava doente. ‘Agora ele morreu e, se quiser, você pode vir.’ Fui então para a estação [Bahnhof] e perguntei umas cem vezes: ‘Onde fica a estação?’ Recebia sempre a resposta: ‘Cinco minutos.’ Vi depois à minha frente um bosque espesso no qual penetrei, e ali fiz a pergunta a um homem que encontrei. Disse-me: ‘Mais duas horas e meia.’ Pediu-me que o deixasse acompanhar-me. Recusei e fui sozinha. Vi a estação à minha frente e não conseguia alcançá-la. Aí me veio o sentimento habitual de angústia de quando, nos sonhos, não se consegue ir adiante. Depois, eu estava em casa; nesse meio tempo, tinha de ter viajado, mas nada sei sobre isso. Dirigi-me à portaria e perguntei ao porteiro por nossa casa. A criada abriu para mim e respondeu: ‘A mamãe e os outros já estão no cemitério’. Segundo sonho: Interpretação de que o sonho consistia em uma fantasia de defloração relacionado a genitália feminina. Freud apresentou uma hipótese: Bahnhof [“estação”] e Friedhof [“cemitério”], lembraram uma palavra de similar formação, “Vorhof” [“vestíbulo”], termo anatômico para designar uma região específica da genitália feminina. Dora não suportou a revelação feita por Freud, a qual mostrava seu desejo pelo Sr. K e resolveu interromper o tratamento. Freud a compreendeu e a deixou ir. Quando Phillip percebeu que o tratamento não estava favorecendo o seu lado, desinteressou pelo tratamento de Dora. Freud x Transferência Freud não soube empregar com Dora uma relação transferencial positiva. Na época, ele não sabia manejar a transferência na análise, fazendo com que Dora desistisse efetivamente do tratamento. Pontos importantes para discussão: Contribuição do caso para a histeria Para Freud se o paciente tem a percepção que os sintomas são de origem física/biológica não é sintoma da histeria. Na histeria há recalcamento do prazer e em situação prazerosa pode haver sensação de nojo ou desprazer. Como para Freud foi o caso da Dora com Sr.K. Importancia da interpretação dos sonhos para entender a estrutura psíquica do paciente. Simetria do inconsciente :sonhos, atos falhos, chiste. Expressão histéricas denunciam desejos da vida psicossexual
Etiologia da histeria é psicossexual e a teoria dele é universalista- valerá para todos.
Sonhos podem sair do campo de desconhecimento e com eles chegarmos em
pensamentos organizados pela interpretação analítica .
Sonhos ajudam a compreender os sintomas. Preencher as lacunas da memória, as pessoas
não lembram os motivos dos seus sofrimentos. Elucidar os sintomas: ter mais informações, compreender seus sintomas e levar a uma melhora.
No sonho se pode fugir do recalcamento.
SIGMUND, Freud. Um caso de histeria: três ensaios sobre sexualidade e outros trabalhos. Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Imago, 1901-1905.