A Santidade do Culto
REV. HERMISTEN MAIA PEREIRA DA COSTA
INTRODUÇÃO:
O Deus a quem adoramos é santo. A sua natureza e o Seu nome são santos! M a-
ria, jubilosa, canta: O Poderoso me fez grandes cousas. Santo é o seu nome (Lc
“ ”
1.49).
Jesus Cristo, na oração sacerdotal, diz: Pai Santo (Jo 17.11). O Santo de Deus,
“ ”
Que conhece de forma totalmente diferente ao Pai (Mt 11.27/Jo 17.25), que mantém
uma relação eterna dentro da economia trinitária, reconhece em Seu Pai eterno a
santidade e em Sua relação íntima e decisiva, realça esta perfeição de Deus: Pai
Santo!
Portanto, quando nos aproximamos de Deus, devemos buscar nEle a purificação
de nossa vida, o perdão de nossos pecados. Ele é santo, nós somos pecadores; há
uma distância qualitativa intransponível entre Deus e nós; no entant o, por Sua mise-
1
ricórdia em Cristo, podemos nos aproximar confiadamente, dizendo: Pai nosso . “ ”
Isto nos leva a pensar que devemos examinar as nossas petições e as motivações
que as cercam. Ousar íamos pedir qualquer coisa indiscriminadamente, ao “Pai san-
to”? Devemos purificar os nossos desejos para que as nossas petições reflitam um
coração transformado, que luta por uma santidade de vida... Nós temos por Pai um
Deus santo, puro, que não pode conviver com a imundícia do pecado. Um pedido
impuro, pecaminoso, é um atentado à Sua natureza santa.
A Sua Palavra que nos instrui é santa: Falou Deus na Sua santidade , diz o sal-
“ ”
mista (Sl 60.6). Quando oramos, o fazemos em nome de Jesus Cristo, aquele que é
Santo: Sumo sacerdote (...) santo, inculpável, sem mácula (Hb 7.26). Por isso, as
“ ”
nossas orações devem ser dirigidas pela Palavra de Deus; orar fora da Palavra é a l-
go extremamente perigoso: Nós oramos a um Deus santo, no nome do Filho que é
santo. Orar em nome de Jesus é dizer ao Pai que o Seu Filho eterno, o nosso irmão
mais velho, subscreveu o que estamos dizendo. Orar no nome de Jesus significa a
confiança única e exclusiva na suficiência de Seus méritos. A nossa oração não p o-
de ser uma diminuição da santidade de Cristo. Como bem compreendeu Pink, ao
escrever: Solicitar algo a Deus, em nome de Cristo, quer dizer solicitar-lhe al-
“
Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Cert e-
za Espiritual: Vol. 1), p. 23].
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 2
Este princípio é válido para todo o culto: Nós cult uamos a Deus por intermédio de
Jesus Cristo. O Pai, o Filho e o Espírito são santos.
ção que temos, sem exceção, provém do Senhor. As regiões celestiais (e)n toi=j
“ ”
3
e)pourani/oij = lit. “dos céus”, “celestiais”) indicam a procedência das bê nçãos. Elas
provêm de Deus, o Pai que habita os céus (Mt 6.9) e, para onde Ele mesmo nos l e-
vará (2Tm 4.18). Devemos estar atentos ao fato de que tudo que temos provém de
Deus, através d e Cristo, sendo comunicado pelo Espírito. De modo especial o texto
destaca algumas dessas bênçãos: a eleição (4 -5), a redenção (7), o selo do Espírito
(13-14). Portanto, é uma tentação muito grave, ou seja, avaliar alguém o
“
(e)pourani/oij) (Ef 2.6) juntamente com Cristo (Ef 1.20). Essa realidade é altamente
”
estimulante: cada bênção de Deus, o Seu cuidado mantenedor e pres ervador consti-
tui-se na administração de Sua graça, concedida em Cristo Jesus desde a eternid a-
de. Devemos então, considerar que, se desejamos refrear nossas paixões, de-
“
vemos recordar que todas as coisas nos têm sido dadas com o propósito de
que possamos conhecer e reconhecer o seu autor .5 ”
2
A.W. Pink, Deus é Soberano, São Paulo: FIEL., 1977, p. 134.
3
E)poura/nioj: Mt 18.35 (variante textual); Jo 3.12; 1Co 15.40,48,49; Ef 1.3,20; 2.6; 3.10; 6.12; Fp
2.10; 2Tm 4.18; Hb 3.1; 6.4; 8.5; 9.23; 11.16; 12.22.
4
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 17.14), p. 346.
5
João Calvino, A
Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Sé culo, 2000, p. 72.
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Tudo que temos é “em Cristo”. Vê-se então que a fé nos ensina que todo o
“
bem que nos é necessário e que em nós mesmos não existe está em Deus e
em Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, em quem o Senhor constituiu toda a
plenitude das Suas bênçãos e da Sua liberalidade .6 Neste texto, Ef 1.3-14, há
”
pelo menos doze referências diretas a Cristo, indicando a verdade de que, fora de
Cristo nada somos e nada temos; Ele é o fundamento da Igreja. Junt amente com os
dons celestiais, Cristo dá-se a Si mesmo por nós (Rm 8.32). A eleição tem um sent i-
do escatológico: é da eternidade para a eternidade em santificação: até que a nossa
7
salvação seja consumada na glorificação.
Paulo diz que Deus, o Pai, tem, através da história, manifestado as suas bênçãos
eternas para conosco – Paulo, os efésios e todos os santos em todos os tempos –
nas regiões celestiais em Cristo Jesus. Notemos aqui, que Deus é Pai do nosso “
O mesmo Espírito que nos abençoa, orienta -nos em nossa adoração, a fim de
que ofereçamos a Deus «hinos e cânticos espirituais» (Ef 5.19), conforme acentuou
Old: Os hinos e salmos que são cantados na adoração sãos músicas espiri-
“
tuais, isto é, elas são as músicas do Santo Espírito (Atos 4.25; Ef 5.19) .10 (Ver: Cl ”
3.16).
6
João Calvino, As Institutas, (1541), III.9.
7
Vd. J. Calvino, As Institutas, III.22.10.
8
Na Septuaginta, a única vez que a palavra é usada para referir -se ao homem é em Gênesis 24.31.
9
Ver: R.C.H. Lenski, The Interpretation of St. Paul´s Epistles to the Ephesians, Peabody, Massachu-
setts: Hendrickson Publishers, 1998, (Ef 1.3), p. 349.
10
Hughes Oliphant Old, Worship: That Is Reformed According to Scripture, Atlanta: John Knox Press,
1984, p. 6.
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dade a eternidade efetuando a nossa eleição. Os eleitos bendizem a Deus pelo que
Ele é e pelo que Ele fez por nós. A gratidão deve nortear o nosso relacionamento
com Deus. Não há um caminho mais direto (à gratidão), do que o de tirar-
“
Deus deve ser sempre o alvo de nossa adoração sincera, resultante de um cor a-
ção consciente e agradecido, que reconhece a Sua Glória e os Seus atos salvad ores
e abençoadores (2Ts 2.13/Ef 5.20). Comentando o Salmo 6, Calvino assim se e x-
pressa: Depois de Deus nos conceder gratuitamente todas as coisas, ele
“
nada requer em troca senão uma grata lembrança de seus benefícios .12 ”
Fomos eleitos por Deus na eternidade para que O adoremos. Portanto, no culto a
igreja vivencia o propósito de sua eleição: o fim principal do homem é glorificar a
Deus! A igreja é a comunidade de adoradores que se congrega para testemunhar
publicamente os atos graciosos de Deus.
pergunta com a qual todo o ser humano se deparará um dia. O homem foi criado p a-
ra se relacionar com o Seu Criador. Deus ao criar o homem conferiu-lhe uma identi-
dade própria que o distinguiria de toda a criação. Enquanto os outros seres criados
(peixes, aves, animais domésticos, animais selváticos, etc.) o foram conforme as s u-
as respectivas espécies. O homem, diferentemente, teve o seu modelo no próprio
Deus Criador – Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, confor-
“
me a nossa semelhança.... (Gn 1.26); e vos revistais do novo homem, criado se-
” “
gundo Deus.... (Ef 4.24) – sendo distinto assim, de toda a criação, partilha ndo com
”
Deus de uma identidade desconhecida por todas as outras criaturas, visto que so-
mente o homem foi criado “à imagem e semelhança de Deus ”. Somente o homem
pode partilhar de um relacionamento pessoal, voluntário e consciente com Deus. Por
isso, quando se trata de encontrar uma companheira para o homem com a qual ele
possa se relacionar de forma pessoal – já que não se encontra em todo o resto da
criação –, a solução é uma nova criação, tirada da costela de Adão e, tran sformada
13
por Deus em uma auxiliadora idônea, com a qual Adão se completará, passando a
haver uma “fusão interpessoal ”, “unidade essencial ”, constituindo-se os dois uma só
14 15
carne(Gn 2.20-24; Mc 10.8), unidos por Deus (Mt 19.6).
11
João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 73.
12
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 6.5), p. 129. Por sua vez, os ímpios e hipócritas
“
correm para Deus quando se vêem submersos em suas dificuldades; mas assim que se vêem
livres delas, olvidando seu libertador, se regozijam com frenética hilaridade [Jo ão Calvino, O
”
ticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. Então, o SE-
NHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas
e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a nu-
ma mulher e lha trouxe. E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha car-
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de si mesmo. Em outras palavras, como ser finito que é, ele não representa um
“
ponto de integração suficiente para si mesmo .18 Sem esse “ponto” o homem
”
grande público...
No entanto Deus existe e o homem foi criado à sua imagem e semelhança. No r e-
lato histórico da criação do hom em, encontramos o registro inspirado: "Também dis-
se Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.... ”
(Gn 1.26). Deus Se aconselha consigo mesmo e delibera. Aqui podemos ver a sin-
gularidade da criação do homem; em nenhum outro relato e ncontramos esta forma
19
relacional. Conforme acentua Bavinck (1854-1921), Ao chamar à existência as
“
ne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une
à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne (Gn 2.20-24).
”
Por isso, deixará o homem a seu pai e mãe e unir-se-á a sua mulher, e, com sua mulher, serão os
“
dois uma só carne. De modo que já não são dois, mas uma só carne (Mc 10.7-8).
”
15
.... o que Deus ajuntou não separe o homem (Mc 10.9).
“ ”
16
O objetivo do reino temporal é fazer que possamos adaptar-nos à companhia dos ho-
“
mens durante o tempo que nos cabe viver entre eles; estabelecer os nossos costumes em
termos de uma justiça civil; viver em harmonia uns com os outros; e promover e manter paz e
tranqüilidade comum. Reconheço que todas estas coisas seriam supérfluas, se o reino de
Deus, que ora se mantém em nós, anulasse a presente existência. Mas se é da vontade de
Deus que caminhemos na terra enquanto aspiramos à nossa verdadeira pátria, e se, ade-
mais, tais acessórios são necessários nessa viagem para lá, os que querem separá-los do
homem vão contra a sua natureza humana [João Calvino, As Institutas, (1541), IV.16].
”
17
S.A. Kierkegaard Desespero Humano, Doença Até à Morte, S ão Paulo: Abril Cultural (Os Pensado-
res, Vol. XXXI), 1974, p. 337.
18
F.A. Schaeffer, O Deus que Se Revela, São Paulo: Cultura C ristã, 2002, p. 39 -40.
19
Vd. Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p.
24.
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 6
outras criaturas, nós lemos simplesmente que Deus falou e essa fala de Deus
trouxe-as à existência. Mas quando Deus está prestes a criar o homem Ele
primeiro conferencia consigo mesmo e decide fazer o homem à Sua ima-
gem e semelhança. Isso indica que especialmente a criação do homem re-
pousa sobre a deliberação, sobre a sabedoria, bondade e onipotência de
Deus. (...) O conselho e a decisão de Deus são mais claramente manifestos
na criação do homem do que na criação de todas as outras criaturas .20 ”
Aqui temos o decreto Trinitário que antecede o tempo e, que agora, se executa hi s-
toricamente conforme o eternamente planejado.
21
O Façamos de Deus, conforme usado em Gênesis 1.26, indica que o homem
“ ”
foi criado após deliberação ou consulta, como explica Calvino: "Até aqui Deus tem
se apresentado simplesmente como comandante; agora, quando ele se a-
proxima do mais excelente de todas as suas obras, ele entra em consulta".22
O fato de Deus ter criado o homem após deliberação, tem dois objetivos na co n-
cepção de Calvino (1509 -1564): 1) nos ensinar que o próprio Deus se encarregou de
fazer algo grande e maravilhoso; 2) dirigir a nossa atenção para a dignidade de no s-
23
sa natureza. Assim, conclui ele: "Verdadeiramente existem muitas coisas nesta
natureza corrupta que pode induzir ao desprezo; mas se você corretamente
pesa todas as circunstâncias, o homem é, entre outras criaturas, uma certa
preeminente espécie da Divina sabedoria, justiça, e bondade, o qual é me-
recidamente chamado pelos antigos de microcosmos 'um mundo em minia-
tura . 24
’ ”
que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as suas obras são admi-
ráveis, e a minha alma o sabe muito bem (Sl 139.14).
”
É justamente pelo fato do homem ter a impressão pessoal de Deus no mais alto
grau é que ele necessita voltar -se para Deus. A nossa fome espiritual nada mais é
do que o revelar o nosso vazio e a necessidade de que ele seja preenchido com al-
go que ultrapassa as nossas possibilidades. Daí o vazio ser o tema recorrente da
20
Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4ª ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984,
p. 184.
21
he&A(an (na’aseh), qal, imperfeito.
22
John Calvin, Commentaries on The First Book of Moses Called Genesis, Grand Rapids, Michigan:
Eerdamans Publishing Co., 1996 (Reprinted), Vol. 1, p. 91.
23
Cf. John Calvin, Commentaries on The First Book of Moses Called Genesis, Vol. 1, p. 92. Cf. João
Calvino, As Institutas, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985, I.15.3.
24
John Calvin, Commentaries on The First Book of Moses Called Genesis, Vol. 1, p. 92. Comentando
Gênesis 5.1, Calvino diz que Moisés repetiu o que ele havia dito antes, porque a excelência e a
“
dignidade desse favor não poderia ser suficientemente celebrada. Foi sempre uma grande
coisa, que o principal lugar entre as criaturas foi dado ao homem [John Calvin, Commentari-
”
es on The First Book of Moses Called Genesis, Vol. 1, p. 227. Vd. J. Calvino, As Institutas, II.1.1].
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25
humanidade. Algo nos falta, somos como que um recipiente rachado que não con-
segue se completar; por isso, de certa forma podemos dizer que "o desejo é a
própria essência do homem".26 Mas, o trágico é que o que buscamos para nos
satisfazer nos escapa, a felicidade que procuramos torna-nos vezes sem conta ainda
mais frustrados. Aqui está algo desalentador: Parte da cruel ironia da existência
“
humana parece ser que as coisas que, em nossa opinião, iriam nos fazer feli-
zes, deixam de fazê-lo .27 "Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também
”
pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que
Deus fez desde o princípio até o fim" (Ec 3.11).
Com que me apresentarei ao Senhor? (Mq 6.6). Este texto se prop õe a respo n-
“ ”
28
phant Old.
29
Calvino.
25
Ver: Alister McGrath, O Deus Desconhecido: Em Busca da Reali zação Espiritual, São Paulo: Loyo-
la, 2001, p. 7.
26
B. Espinosa, Ética, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. XVII), 1973, I V.18. p. 244.
27
Alister McGrath, O Deus Desconhecido: Em Busca da Realização Espiritual, p. 9. Calvino (1509-
1564) comenta que .... enquanto todos os homens naturalmente desejam e correm após a fe-
“
licidade, vemos quão quanta determinação se entregam a seus pecados; sim, todos aque-
les que se afastam ao máximo da justiça, procurando satisfazer suas imundas concupiscên-
cias, se julgam felizes em virtude de alcançarem os desejos de seu coração [João Calvino, O
”
Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1 (Sl. 1.1), p. 51].
28
Hughes Oliphant Old, Worship: That Is Reformed According to Scripture, Atlanta: John Knox Press,
1984, p. 1.
29
João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 8.5), p. 207.
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30
O verbo zhte/w na sua forma indicativa, conforme aparece em Jo 4.23, aponta para a atividade
contínua e habitual de Deus.
31
Ver: Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, São Paulo: O Semeador, 1989, p. 46 -47;
John Frame, Em Espírito e em Verdade, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 33.
32
Este verbo (92 vezes no NT), quando empregado referindo-se à ação do Pai e do Filho, em suas
poucas apari ções, tem um sentido altamente significativo. a) Jesus, o Filho, busca não a sua glória,
mas a do Pai: Respondeu-lhes Jesus: O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou. Se
“
alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo
por mim mesmo. Quem fala por si mesmo está procurando (zhte/w) a sua própria glória; mas o que
procura (zhte/w) a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça (Jo 7.16-18);
”
Replicou Jesus: Eu não tenho demônio; pelo contrário, honro a meu Pai, e vós me desonrais. Eu não
“
procuro (zhte/w) a minha própria glória; há quem a busque (zhte/w) e julgue (Jo 8.49-50). b) O Fi-
”
lho busca fazer a vontade do Pai: Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço,
“
julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro (zhte/w) a minha própria vontade, e sim a daquele que
me enviou (Jo 5.30). c) O Filho veio buscar o perdido: Porque o Filho do Homem veio buscar
” “
(zhte/w) e salvar o perdido (Lc 19.10). Esta passagem faz eco à promessa de Deus que, através de
”
Ezequiel, dissera: “Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que encontra ovelhas dispersas,
assim buscarei as minhas ovelhas; livrá-las-ei de todos os lugares para onde foram espalhadas no dia
de nuvens e de escuridão. Tirá-las-ei dos povos, e as congregarei dos diversos países, e as introduzi-
rei na sua terra; apascentá-las-ei nos montes de Israel, junto às correntes e em t odos os lugares habi-
tados da terra. Apascentá-las-ei de bons pastos, e nos altos montes de Israel será a sua pastagem;
deitar-se-ão ali em boa pastagem e terão pastos bons nos montes de Israel. Eu mesmo apascentarei
as minhas ovelhas e as farei repousar, diz o SENHOR Deus. A perdida buscarei, a desgarrada torna-
rei a trazer, a quebrada ligarei e a enferma fortalecerei; mas a gorda e a forte destruirei; apascentá-
las-ei com justiça (Ez 34.12-16). Na Parábola da “Ovelha Perdida”, temos figura semelhante: Que
” “
vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes
as noventa e nove, indo procurar (zhte/w) a que se extraviou? (Mt 18.12). ”
No Antigo Testamento ao povo rebelde, distante de Deus, alheio à Aliança, Deus o conclama a
voltar-se para Ele com integridade de cora ção. Deus se deixaria achar: Buscar-me-eis e me achareis
“
quando me buscardes de todo o vosso coração (Jr 29.13/Dt 4.29; Is 55.6). Na reforma levada a efeito
”
por Asa – o terceiro Rei de Judá após a divisão das tribos de Israel. Asa g overnou durante 41 anos
(c. 910-869) –, houve esta busca sincera por Deus: Israel esteve por muito tempo sem o verdadeiro
“
Deus, sem sacerdote que o ensinasse e sem lei. Mas, quando, na sua angústia, eles voltaram ao
SENHOR, Deus de Israel, e o buscaram, foi por eles achado (2Cr 15.3-4). O Cronista fala de várias
”
pessoas das tribos de Israel que se juntaram a Judá com o propósito de buscar a Deus: Entraram em “
aliança de buscarem ao SENHOR, Deus de seus pais, de todo o coração e de toda a alma (2Cr ”
15.12). No Novo Testamento, Jesus Cristo ratifica o ensino do Antigo Testamento, estabelecendo a
prioridade do Reino e de sua justi ça: Buscai (zhte/w), pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua jus-
“
tiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mt 6.33). Temos também a promessa de enco n-
”
trar Aquele a quem buscamos: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai (zhte/w) e achareis; batei, e abrir-se-vos-
“
á. Pois todo o que pede recebe; o que busca ( zhte/w) encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe- á.” (Mt
7.7-8). No entanto, Jesus não se deixa enganar: Ele sabe da sinceridade de nosso coração e de no s-
sos verdadeiros desejos: Quando, pois, viu a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípu-
“
los, tomaram os barcos e partiram para Cafarnaum à sua procura. E, tendo-o encontrado no outro la-
do do mar, lhe perguntaram: Mestre, quando chegaste aqui? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em
verdade vos digo: vós me procurais, (zhte/w) não porque vistes sinais, mas porque comestes dos
pães e vos fartastes (Jo 6.24-26).
”
Paulo, considerando a liberdade crist ã em relação aos “rudimentos do mundo ”, exorta: “Portanto,
se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai ( zhte/w) as coisas lá do alto, onde Cristo vive,
assentado à direita de Deus” (Cl 3.1). De fato, como somos peregrinos neste mundo, buscamos in-
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33
(Jo 4.23). Deus não procura líderes, “facilitadores”, mestres ou discípulos, mas
sim, adoradores. Hendriksen corretamente assevera: Não no sentido em que e-
“
xistem pessoas que se tornaram esse tipo de adoradores, e que o Pai, por as-
sim dizer, os está procurando, mas sim, no sentido em que Ele procura seus
eleitos para que os tenha como tais adoradores. Sua busca é salvadora (cf.
Lc 19.10) 34 Deste modo, devemos enfatizar que a finalidade ou o propósito do
” “
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espi-
ritual nas regiões celestiais em Cristo (Ef 1.3).
”
tensamente a cidade eterna: “Na verdade, não temos aqui cidade permanent e, mas buscamos
(e)pizhte/w) a que há de vir ” (Hb 13.14).
Lucas relata que o proc ônsul Sérgio Paulo, que ouvia a Paulo e a Barnabé, tinha grande avidez
pela Palavra: “.... o procônsul Sérgio Paulo, que era homem inteligente. Este, tendo chamado Barn a-
bé e Saulo, diligenciava (e)pizhte/w) para ouvir a palavra de Deus” (At 13.7).
33
Vd. Confissão de Fé de Westminster , IX.3,4.
34
William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, (Jo 4.23), p. 226.
35
Terry L. Johnson, Adoração Reformada: A adoração que é de acordo com as Escrituras, S ão Pau-
lo: Puritanos, 2001, p. 23. Deus salva os homens para fazê-los adoradores (A.W. Tozer, O Po-
“ ”
com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez ”
(Jo 1.1-3). Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de to-
“
do aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego (Rm 1.16). .... a fé vem pela pregação, e a
” “
pregação, pela palavra de Cristo (Rm 10.17). Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela pala-
” “
vra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas (Tg 1.18). Portanto, des-
” “
pojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós im-
plantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma (Tg 1.21). Pois fostes regenerados não de
” “
semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente ”
(1Pe 1.23).
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Quando nos reunimos para cultuar a Deus, exercitamos o Sacerd ócio Univer sal
dos Crentes, que só se torna possível através do sacrifício expiatório de Jesus Cri sto
39
(Vejam-se: Hb 7.22-28; 9.11-14; 10.19-25 /Hb 6.19-20). Ele foi o nosso precursor à
40
presença de Deus (Jo 14.2 -3/Hb 6.17-20; Rm 5.2; Hb 4.16).
No culto público nós exercitamos o Sacerdócio Universal dos Crentes da seguinte
forma:
1) Falamos com Deus expressando a nossa fé por meio dos cânticos, das or a-
ções e dos Credos.
estações, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima (Hb 10.25). ”
39
Por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior aliança. Ora, aqueles são feitos sacerdo-
“
tes em maior número, porque são impedidos pela morte de continuar; este, no entanto, porque conti-
nua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por
ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Com efeito, nos convinha um sumo
sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do
que os céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifí-
cios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas,
quando a si mesmo se ofereceu. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à fraque-
za, mas a palavra do juramento, que foi posterior à lei, constitui o Filho, perfeito para sempre (Hb
”
7.22-28). Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o mai-
“
or e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de
sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez
por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de
uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito
mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, puri-
ficará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! (Hb 9.11-14). Tendo, pois,
” “
irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho
que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de
Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de
má consciência e lavado o corpo com água pura. Guardemos firme a confissão da esperança, sem
vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimu-
larmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes,
façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima (Hb 10.19-25).
”
40
Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade
“
do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é
impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar
mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do
véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre.... ”
(Hb 6.17-20). Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois
“
vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim
mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também (Jo 14.2-3).
”
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 11
servir a Deus. O culto nunca é uma atitude passiva, antes envolve o desejo de parti-
cipação. Temos um bom resumo do sentimento que deve nortear a nossa particip a-
ção no culto em Hb 10.22 -25. Por outro lado, como bem observou Warfield (1851-
1921): Nenhum homem pode excluir-se dos cultos regulares da comunidade
“
à qual pertence, sem sérios prejuízos para sua vida espiritual pessoal .41 E: ”
“.... nem o indivíduo mais santo pode se dar ao luxo de dispensar as formas
regulares de devoção, e que o culto público regular da igreja, apesar de to-
das as suas imperfeições e problemas localizados, é a provisão divina para o
sustento da alma .42 ”
4. DEFINIÇÃO DE CULTO:
O culto cristão é a expressão da alma que conhece a Deus e, que deseja dialogar
com o seu Criador; mesmo que este diálogo, por alguns instantes, consista num m o-
nólogo edificante no qual Deus nos fale através da Palavra. A seguinte definição e x-
pressa bem esta realidade: "Em essência o culto é um encontro de Deus com
Seu povo no qual se estabelece um diálogo: Deus fala à Sua Igreja através
de Sua Palavra e a Congregação expressa sua adoração ao Senhor medi-
ante as orações, oferendas e hinos".43
O grande teólogo de Princeton, B.B. Warfield (1851 -1921), em certa ocasião, f a-
lando sobre o preparo dos estudantes de teologia, fez uma advertência muito pert i-
nente àqueles que alegam frieza no culto e ausência de Deus: Se não há fogo no
“
púlpito, cabe a você acendê-lo nos bancos. Nenhum homem pode fracas-
sar em encontrar-se com Deus no santuário, se ele traz Deus consigo para ali.
Como é fácil transferir a culpa de nossos corações frios para os ombros de
nossos líderes religiosos! 44 ”
41
B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, São Paulo: Editora os Puritanos,
1999, p. 19.
42
William Robertson Nicoll. Apud B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, p. 25.
43
Víctor M.S. Garcia, Musica y Alabanza: In: Revista Teológica, México: Vol. IX, nº 31-32, 1978, p.
47.
44
B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, p. 23. Devemos entender por a-
“
queles que se apresentam diante dele no exerc ício de fé genuína, e não pela ocupação de um esp a-
ço em seu templo em sua aparência externa. Mas, além disso, ser escolhido e ser chamado a fim de
corrigir qualquer vã idéia de que às ovelhas do rebanho de Deus se permite vaguear ao s abor de sua
vontade, por certo tempo, sem serem trazidas ao rebanho. Esta é uma forma pela qual nossa graci o-
sa adoção se evidencia, a saber, que nos achegamos ao santuário sob a liderança do Espírito Sa nto.”
À frente: “Os hipócritas podem entrar lá, mas regressam vazios e insatisfeitos no tocante ao de sfruto
de alguma bênção espir itual” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 65.4), p. 612,613].
45
Vejam-se: John Calvin, “The Necessity of Reforming the Church, ” John Calvin Collection, [CD-
ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), p. 218-219; John Calvin, Sermons on 2 Samuel, Carlisle,
Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1992, p. 246.
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 12
inutilmente substitutiva –, pretensa qualidade das pessoas, brilho do coral, eloqüên-
cia do pregador, beleza do templo ou qualquer outra coisa que possamos apresen-
46
tar; na realidade a grandeza de nosso Culto está na santidade majestosa de Deus.
Nada é mais eloqüente do que a nossa obediência a Deus em nosso culto solene e
em nossa vida de culto.
são de nenhum préstimo; eles mesmos são testemunhas de que elas nada vêem,
nem entendem, para que eles sejam confundidos. Quem formaria um deus ou fundi-
ria uma imagem de escultura, que é de nenhum préstimo? Eis que todos os seus
seguidores ficariam confundidos, pois os mesmos artífices não passam de homens;
ajuntem-se todos e se apresentem, espantem-se e sejam, à uma, envergonhados.
(...) Nada sabem, nem entendem; porque se lhes grudaram os olhos, para que não
vejam, e o seu coração já não pode entender. Nenhum deles cai em si, já não há
conhecimento nem compreensão para dizer: Metade queimei e cozi pão sobre as
suas brasas, assei sobre elas carne e a comi; e faria eu do resto uma abominação?
Ajoelhar-me-ia eu diante de um pedaço de árvore? Tal homem se apascenta de cin-
za; o seu coração enganado o iludiu, de maneira que não pode livrar a sua alma,
nem dizer: Não é mentira aquilo em que confio? (Is 44.9-11; 18-20). Os nossos
”
deuses, criados criteriosamente por nossas mentes e fundidos habilmente pelos artí-
fices, nada podem fazer. No caso de Israel, os seus ídolos iriam com povo para o c a-
48 49
tiveiro. Bel se encurva, Nebo se abaixa; os ídolos são postos sobre os animais,
“
sobre as bestas; as cargas que costumáveis levar são canseira para as bestas já
cansadas (Is 46.1-2 Vd. Sl 135.15-17). Deus estabelece o contraste em si mesmo e
”
46
Ver: John Calvin, Calvin s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company,
’
3 Ouvi-me, ó casa de Jacó e todo o restante da casa de Israel; vós, a quem desde o nascimento
“
Estudemos agora, através das Escr ituras, o que Deus diz a respeito de Si mesmo,
para que possamos ter uma visão mais ampla do Deus que ador amos.
d) Ele está presente no Culto: Mt 18.20; 1Co 14.25; Ap 15.4. Adoramos não a
um Deus ausente, mas ao Deus que é vivo, fala conosco através de Sua Palavra e
está presente. O próprio nome Jesus significa “Deus conosc o” (Is 7.14; Mt 1.23).
Servimos a Deus pessoal e presente.
e) Ele não é indiferente ao nosso Culto: Deus não se agrada de todo culto que
supostamente Lhe é dirigido (Ex.: Is 1.13 -16; Am 5.21-27/Mt 6.5; Mq 6.6-8; Ml 1.7-
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 14
50
14; 2.13). Devemos prestar um culto agradável a Deus, com reverência e santo
temor (Hb 12.28; 13.16). Não podemos simplesmente nos apresentar dia nte de Deus
51
de qualquer jeito, oferecendo-Lhe algo que simplesmente nos pareça agradável.
No culto público não há lugar para frivolidade e superficialidade: Nós, pecadores, e s-
tamos, por graça, diante do Majestoso Senhor da Glória em adoração. "Na presen-
ça divina a única coisa que se destaca é a natureza santa de Deus e o nos-
so próprio pecado. Humilhamo-nos e com reverência o adoramos".52 “Nada
tende a produzir mais a devida reverência a Deus do que quando nos sen-
tamos em sua presença .53 O nosso Pai é justo (Jo 17.25). Ele não é alguém que
”
cios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que
o sacrificar, e o atender do que a gordura de carneiros (1Sm 15.22). (Vd. também:
”
Pv 21:3, Is 1:11-15). Um culto que vise a apenas cumprir externamente a lei de Deus
ou, obter favores de Deus, é profundamente desolador para o Senhor (Is 1.10-17;
29.13; Ml 1.10). A nossa adoração não tem nenhum valor intrínseco; por mais belo e
harmonioso que seja o nosso culto, se não proceder de um coração contrito diante
de Deus, de nada adiantará; Deus dele nã o se agradará. Deus é justo; não é subo r-
nável. Precisamos enfatizar que orar não é um substituto para a obediên-
“
50
“O tipo de Deus que agrada à maioria das pessoas hoje teria uma disposição fácil quanto à tol e-
rância de nossas ofensas. Ele seria amável, gentil, acomodat ício, e não possuiria nenhuma reação
violenta. Infelizmente, até mesmo na igreja parece que perdemos a visão da majestade de Deus. Há
tanta superficialidade e frivolidade entre n ós. Os profetas e os salmistas provavelmente diriam de nós
que não temos o temor de Deus perante nossos olhos. Na adora ção pública nosso hábito é nos se n-
tarmos de qualquer modo; n ão ajoelhamos hoje em dia, muito menos nos prostramos em humildade
na presença de Deus. É mais provável que batamos palmas de alegria do que nos en rubesçamos de
vergonha ou l ágrimas. Vamos à presença de Deus a fim de reivindicar seu patrocínio e am izade; não
nos ocorre que ele pode nos mandar embora. ” (John R.W. Stott, A Cruz de Cristo, Florida: Editora Vi-
da, 1991, p. 98).
51
Ver: John Frame, Em Espírito e em Verdade, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 66.
52
D. Martyn Lloyd-Jones, Do Temor à Fé, p. 72. [O culto] é um tempo de adoração somente
“
quando Deus está sendo exaltado enquanto as pessoas se humilham diante dele . (Peter ”
White, O Pastor Mestre, São Paulo: Editora Cultura Cri stã, 2003, p. 82).
53
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 66.3), p. 623.
54
Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: Fé para Hoje, S ão José dos Campos, SP.: Fiel,
nº 6, 2000, p. 26.
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 15
Não fazemos qualquer pedido a Deus. Pedimos aquilo que consideramos justo à luz
da Sua Palavra e, mesmo assim, submetemos os nossos pedidos ao escrutínio de
Deus (Sl 17.2), porque Deus vê com justiça.
a) São pessoas de fé: O culto a Deus começa por Deus que nos conduz à fé que
Ele mesmo gera, por graça, em nós (Ef 2.8). .... pois a misericórdia de Deus se
“
lhe antecipa, sendo chamado para que cresse. 57 Não podemos cultuar a ”
Deus sem fé. Culto sem fé é uma contradição de termos. O escritor de Hebreus,
considerando o sacrifício definitivo de Cristo, escreve: aproximemo-nos, com since-
“
Em outro lugar, o escritor de Hebreus diz: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais
excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a
aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois
de morto, ainda fala. Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi
achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testem u-
nho de haver agradado a Deus. De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, po r-
quanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que
se torna galardoador dos que o buscam” (Hb 11.4-6). “Pela fé, Abraão, quando po sto
à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que
acolheu alegremente as promessas” (Hb 11.17). Sem a genuína fé, procedente da
Palavra e direcionada para o Deus Trino, todos os nossos atos de culto são vazios e
55
James M. Boice, O Evangelho da Graça, p. 182.
56
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 3, (Sl 100.1-3), p. 549.
57
Agostinho, A Graça (II), São Paulo: Paulus, 1999, p. 193.
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 16
abomináveis a Deus.
b) São pessoas inteligentes: O culto não é puramente emocional; ele exige int e-
ligência, raciocínio. O homem no culto manif esta a sua fé de forma compreensiva,
usando as suas faculdades mentais. A transformação operada por Deus em nós e n-
volve o homem todo; quando cultuamos a Deus nos apresentamos diante dEle com
58
a integridade de nosso ser (Rm 12.1-2; 1Co 14.15; Hb 8.10; 10.16; 13.15).
“Quando ele [Deus] nos exorta a não sermos como os animais, sem inteli-
gência [Sl 32.9], demonstra-nos que concedeu ao homem inteligência para
louvar a Deus .59 ”
c) Têm uma visão espiritual: Aqueles que adoram a Deus não estão presos a-
penas aos elementos perceptíveis pelos sentidos mas, têm uma sensibilidade espir i-
tual. A verdadeira adoração vem do coração, sendo efetuada de forma consciente
60
para Deus (Cl 3.23). Por isso, o culto não pode estar restrito apenas a um lugar (Jo
4.10-24).
58
Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício
“
vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século,
mas transformai-vos pela renovação da vossa mente , para que experimenteis qual seja a boa, agra-
dável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1-2). Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também
” “
orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente ” (1Co 14.15). Por- “
que esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua
mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e
eles serão o meu povo (Hb 8.10). Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o
” “
Senhor: Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei (Hb 10.16). Por
” “
meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que
confessam o seu nome (Hb 13.15).
”
59
Agostinho, Comentário aos Salmos, Vol. III, (Sl 148.3), p. 1128.
60
“Tudo quanto fizerdes, fazei -o de todo o cora ção, como para o Senhor e não para homens ” (Cl
3.23).
61
James M. Boice, O Evangelho da Graça, p. 169.
62
Glorificar-te-ei, pois, entre os gentios, ó SENHOR, e cantarei louvores ao teu nome. É ele quem
“
dá grandes vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteri-
dade, para sempre (Sl 18.49-50). Firme está o meu coração, ó Deus! Cantarei e entoarei louvores
” “
de toda a minha alma. Despertai, saltério e harpa! Quero acordar a alva. Render-te-ei graças entre os
povos, ó SENHOR! Cantar-te-ei louvores entre as nações. Porque acima dos céus se eleva a tua mi-
sericórdia, e a tua fidelidade, para além das nuvens (Sl 108.1-4). “Por esta razão, também nós, de s-
”
de o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que trans bordeis de pleno co-
nhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de mo-
do digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno
conhecimento de Deus; sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a for ça da sua glória, em toda
a perseverança e longanimidade; com alegria, dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 17
64
paras os que Te buscam (Sl 9.10). Este testemunho de louvor resultante do co-
”
nhecimento de Deus é evidente em outros textos: Cantarei a Tua força; pela manhã
“
louvarei com alegria a Tua misericórdia; pois Tu me tens sido alto refúgio e proteção
no dia da minha angústia (Sl 59.16). Tu me tens sido refúgio e torre forte contra o
” “
inimigo (Sl 61.3). Bendito seja Deus, que não me rejeita a oração, nem aparta de
” “
mim a Sua graça (Sl 66.20). Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te per-
” “
turbas dentro em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a Ele, meu auxílio e
Deus meu (Sl 42.5).
”
É importante que se diga, que conhecer a Deus não significa crer que Ele vai f a-
zer isso ou aquilo conforme desejamos, antes, ter a certeza de que Ele cumprirá
sempre a Sua Palavra. Deus não tem compromissos com a nossa fé, mas, sim, com
a Sua Palavra e, conseqüentemente, com a fé que brota da Palavra. O que importa
neste caso não é o que pensamos, mas sim, o que Deus prometeu: Deus cumpre
sempre a Sua promessa, não necessariamente as nossas expectativas. Calvino
(1509-1564), enfatizou: Não devemos conceber que Deus será nosso liberta-
“
dor simplesmente porque nossa própria fantasia o sugere. É preciso crer que
ele fará isso só depois de graciosa e espontaneamente se nos oferecer neste
caráter. 65 Todavia, é importante ressaltar que não conhecemos tudo a respeito de
”
Deus e da Sua Palavra; mas devemos ter por certo, que o limite da fé está circuns-
crito pelos parâmetros das Escrituras (Dt 29.29). Ou seja: não podemos crer além do
que Deus nos revelou na Bíblia; fazer isto, não é ter fé, mas sim, especular sobre os
mistérios de Deus. Os discípulos no caminho de Emaús revelaram ao Senhor a sua
vos cabe da heran ça dos santos na luz. Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para
o reino do Filho do seu amor, no qual temos a reden ção, a remissão dos pecados ” (Cl 1.9-14). “Quan-
do, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito
tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e
de bezerros, mas pelo seu pr óprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo o b-
tido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, asperg i-
dos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purif icação da carne, muito mais o sangue de
Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, pur ificará a nossa
consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! ” (Hb 9.11-14).
63
João Calvino, Gálatas, (Gl 4.8), p. 127.
64
“Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do S ENHOR,
vamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já
este o terceiro dia desde que tais cousas sucederam (Lc 24.21). Jesus Cristo jamais
”
havia lhes prometido isso, pelo contrário; o caminho descrito por Cristo, envolvia o
sofrimento, a morte e a ressurreição (Mt 16.21). Há sempre o perigo de criarmos e x-
pectativas sobre Deus e tentar impingi-las a Ele. Depois de certo tempo de confusão,
já não distinguimos entre a Promessa de Deus e o que esperamos que Ele faça. É
comum pessoas ficarem revoltadas com a não concretização de suas esperanças
que brotaram de seus corações, não da Palavra. É fundamentalmente importante
que não tentemos ser “teólogos ” longe da Palavra. Tenhamos a humildade de a-
prender de Deus Quem é Ele e como deseja ser ador ado. É só quando o homem, “
mo, e jamais poderá desviar-se do que ele disser. 68 A Palavra deve ser sempre
”
o guia da nossa fé!. Nossa fé não tem que estar fundamentada no que nós
“
tenhamos pensado por nós mesmos, senão no que foi prometido por
Deus. 69 Por isso, devemos estar atentos à Palavra de Deus, para entendê -la e
”
70
praticá-la (Js 1.8; Sl 119.97; Fp 3.15-16; Tg 1.22-25). Calvino estudando o Salmo
42, quando o salmista em meio às aflições demonstra a sua fé no livramento de
Deus, comenta que esta certeza não é uma expectativa imaginária produzida
“
por uma mente fantasiosa; mas, confiando nas promessas de Deus, ele não
só se anima a nutrir sólida esperança, mas também se assegura de que re-
66
Artur Weiser, Os Salmos, São Paulo: Paulus, 19 94, p. 346.
67
Foi muito confortador ler posteriormente Calvino dizendo: “Deus não frustra a esperança que ele
mesmo produz em nossas mentes atrav és da sua Palavra, e que ele não costuma ser mais liberal em
prometer do que em ser fiel na concretização do q ue prometeu.” [João Calvino, O Livro dos Salmos,
Vol. 2, (Sl 48.8), p. 361].
68
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 62.11), p. 581.
69
Juan Calvino, Sermones Sobre a La Obra Salvadora de Crist o, Jenison, Michigan: TELL., 1988,
(Sermão n° 13), p. 15 6.
70
Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de
“
fazer segundo tudo quanto nele est á escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem -
sucedido“ (Js 1.8). “Quanto amo a tua lei! É a minha medit ação, todo o dia! ” (Sl 119.97). “Todos, pois,
que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto
Deus vos esclarecer á. Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos ” (Fp 3.15-16). “Tornai-
vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando -vos a vós mesmos. Porque, se
alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha -se ao homem que contempla, num espelho,
o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a
sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela pers e-
vera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem -aventurado no que reali-
zar” (Tg 1.22-25).
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 19
rado, deve estar situado dentro de nós, pois Deus é adorado espiritualmente
através da fé, de orações e de outros ofícios de piedade .72 Firme [}UK ” “
73 74 75
(kün)] está o meu coração [bÒl (lêbh)], ó Deus! [myiholE) (‘elõhïm)] ”, escreve Davi.
(Sl 108.1). O salmista está declarando que mesmo numa situação adversa o seu c o-
ração está firme no seu propósito; não vacila; está adequadamente preparado (ret i-
dão) (Cf. Sl 51.10). O seu coração não fica vagando ao sabor das circunstâncias. I s-
to porque Ele está firmado em Deus (Vd. Sl 112.7). Por outro lado, o povo de Israel
no Êxodo, não tinha um coração f irme para com Deus, por isso não foi fiel à aliança
(Sl 78.36,37). Davi continua: Cantarei e entoarei louvores de toda a minha alma
“
76
[dObfK (kãbôdh)] (Sl 108.1). A expressão “minha alma”, que literalmente significa
”
glória, é aqui usada de forma poética i ndicando aquilo que o homem tem de mais
77
nobre, sendo empregada de modo figurado para a sua alma ou coração . [Cf. Gn
“ ” “ ”
49.6; Sl 7.5; 30.12; 16.9 (dObfK), neste salmo sendo traduzido por “espírito ” (ARA);
“entranhas ” (BJ); “minha glória ” (ACR)]. Por isso, pode ser traduzido por Alma , “ ”
Espírito , “Coração”, “Língua” (Ex 4.10). Seja qual for a tradução, a idéia é de que o
“ ”
homem cultua a Deus com aquilo que ele tem de mais precioso; o que ele tem de
mais íntimo. A idéia do texto, é de cantar a Deus com a integridade do nosso ser.
(Vd. Rm 12.1-2). A integridade aqui descrita implica uma firmeza de propósito que
envolve todo o homem: Ele não se abala facilmente em seu propósito de louvar a
Deus de toda a sua alma. Os seus lábios são a expressão de sua alma agradecida.
Não há dubiedade no coração do salmista; ele não vacila; apesar das adversidades,
continua confiante. A instabilidade é um mal sinal. Não podemos condicionar o no s-
so louvor a situações aparentemente boas. Paulo e Silas na prisão de Filipos, ora- “
o seu coração é firme [}UK (kün)], confiante no Senhor (Sl 112.7). Essa firmeza de
”
71
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 42.5), p. 264.
72
João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, (Dn 3.2-7), p. 192.
73
FIRME [}UK (kün)] tem o sentido de prontidão (Sl 38.17); inabalável (Sl 51.10); forte
(Sl 10.17); ereto (Sl 9.7); firme (Sl 93.2; Sl 78.37/At 8.21); reto (Jó 42.8); seguro
(1Sm 23.23); estabelecido (Is 2.2), etc.
74
CORAÇÃO [bÒl (lêbh)]. Coração denota a personalidade integral do homem, envolvendo em oção,
pensamento e vontade.
75
DEUS [ myiholE)
(elõhïm)]. Este nome descreve o Deus forte, o Criador de todas as coisas (Gn 1.1;
Is 45.18; Jn 1.9); Soberano (Gn 24.3;1Rs 20.28; Sl 57.2; Is 37.16; 54.5); Juiz (Sl 50.6; 58.11); Majes-
toso (1Sm 6.20; Is 40.28; Jr 10.10); Salvador do Seu Povo (1Cr 16.35; Sl 18.46); Deus pr óximo do
Seu Povo (Gn 48.15; Dt 8.5; Sl 4.1; 43.2; 59.17; 116.5; Jr 23.23); Misericordioso (Sl 116.5; Is 30.18).
76
(“minha glória”. ACR).
77
William Gesenius, Gesenius Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 13ª ed. Grand Rapids,
’
78 e
rã’)] em mim, ó Deus [myiholE) (‘ lõhïm)], um coração puro, e renova [<adfx (i
hãdha-
79
xUr (r üah kün)]” (Sl 51.10). Oxalá
sh)] dentro em mim um espírito inabalável [}UK a ” “
sejam firmes [}UK (kün)] os meus passos, para que eu observe os teus preceitos (Sl ”
119.5). O consolo do salmista era: O Senhor firma [}UK (kün)] os passos do homem
“
Pela fé temos livre acesso a Deus com confiança (Hb 10.19). Paulo escrevera aos
efésios: Pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele (Ef
“ ”
3.12). Portanto, aproximemo-nos (Hb 10.22). O caminho percorrido por Cristo con-
“ ”
78
[)frfb (bhãrã’)] é um verbo sempre teológico, tendo sempre Deus como o sujeito da ação (Gn 1.1,27;
2.4; Ex 34.10; Is 48.7; 65.17; Jr 31.22), contrapondo-se tamb ém, aos deuses pagãos. (Ez 28.13, 15).
[W.H. Schmidt, )rb: In: Ernst Jenni & Claus Westermann, Diccionario Teologico Manual del Antiguo
Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, Vol. I, p. 489; Veja-se também: In: W. Foerster,
kti/zw: In: G. Kittel & G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Vol. III, p. 1005-
1028.]. Portanto, somente Deus pode criar em nós um coração assim. O verbo está no particípio, i n-
dicando uma oração para que Deus ininterruptamente crie no salmista um coração firme; crie e cont i-
nue criando um coração puro. [Ver: William Gesenius, Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament,
p. 138-139; Thomas E. McComiskey, )frfB: In: R. Laird Harris, ed. Theological Wordbook of the Old
Testament, 2ª ed. Chicago: Moody Press, 1981, Vol. 1, p. 127b; H.H. Esser, Criação: In: Colin Brown,
ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. I, p. 536; C.F. Keil &
F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (s.d.), Vol. 1,
(Gn 1.1), p. 47; G.L. Archer Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1974,
p. 208; William G.T. Shedd, Dogmatic Theology, 2ª ed. Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980,
Vol. I, p. 465-466; A.H. Strong, Systematic Theology, p. 374-376; Walter C. Kaiser Jr. Teologia do An-
tigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1980, p. 76; Millard J. Erickson, Christian Theology, 13 ª ed.
Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996, p. 369. Outras características do verbo e seu e m-
prego no AT., podem ser encontradas em W.H. Schmidt, )rb: In: Ernst Jenni & Claus Westermann,
Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento, Vol. I, p. 489-490].
79
<adf x (hãdhash) tem o sentido de “fazer novo”, “rejuvenescer ”, “renovar ”, “restaurar ”, cuja etimologia
aponta para a idéia de esculpir, talhar, polir, refinar, etc. No texto, parece qu e o novo é usado para
contrastar com o antigo. (Vd. 1Sm 11.14; 2Cr 15.8; 24.4,12; Is 42.9; 43.18-19; 61.4, etc.). Vd. mais
detalhes In: Hermisten M.P. Costa, Avivamento Bíblico, São Paulo: 1994, p. 2.
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 21
O escritor fala (Hb 10.22) de como devemos nos aproximar de Deus: qual deve
ser a nossa postura:
do sangue dos animais sacrificados. Nós somos purificados pelo sangue de Jesus
que nos purifica de todo o pecado. Devemos nos aproximar de Deus através de Cris-
to, limpos interior e espiritualmente.
4) Lavado com água pura : Esta expressão pode se referir à lavagem espiritual
“ ”
feita pelo Espírito Santo ou ao batismo, que é o sinal externo desta purificação. A “
Deus mostra ao povo que tudo Lhe pertence; Ele não precisa de nada; nada Lhe
82
falta; nada a ser suprido (Sl 50.9-13). O povo não estava pecando no aspecto r itual
80
F.F. Bruce, La Epistola a Los Hebreos, Grand Rapids/Buenos Aires: Nueva Criacion, 1987, (Hb
10.22), p. 254
81
“Invoca -me no dia da ang ústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás” (Sl 50.15)
82
“De tua casa não aceitarei novilhos, nem bodes, dos teus apriscos. Pois são meus todos os an i-
mais do bosque e as alimárias aos milhares sobre as montanhas. Conhe ço todas as aves dos mo n-
tes, e são meus todos os animais que pululam no campo. Se eu tivesse fome, não to diria, pois o
A Santidade do Culto – Rev. Hermisten – 03/04/08 – 22
83
ou na sistematicidade das ofertas (Sl 50.8). O que acontecia era uma compreen-
são errada de Deus e do Seu culto. Deus desejava um culto prestado por aqueles
que sentiam em seu íntimo a profunda necessidade de Deus e, portanto, de cultuá -
Lo. Ainda que não exclusivamente, o fato é que no l ivramento da angústia, o homem
não oferece apenas um culto formal, antes glorifica sinc eramente a Deus (Sl 50.15).
filhos dos homens! (Sl 66.5) (Ver: Sl 46.8). .... a desconsideração quase univer-
” “
sal leva os homens a negligenciarem os louvores a Deus. Por que é que tão
cegamente olvidam as operações de sua mão, senão justamente porque
nunca dirigem seriamente sua atenção para elas? Precisamos ser desperta-
dos para este tema .85 A desconsideração dos feitos de Deus é um ato de ingrat i-
”
dão: .... Quando Deus, em qualquer tempo, nos socorre em nossa adversi-
“
mundo é meu e quanto nele se contém. Acaso, como eu carne de touros? Ou bebo sangue de cabr i-
tos?” (Sl 50.9-13).
83
Não te repreendo pelos teus sacrifícios, nem pelos teus holocaustos continuamente perante mim ”
“
(Sl 50.8).
84
J.I. Packer, Entre os Gigantes de Deus: Uma visão puritana da vida cristã, p. 273.
85
João Calvino, O Livro dos Salmos, S ão Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 66.5), p. 624. Deus é
“
o autor de todo bem, segue-se que devemos receber tudo como vindo de Sua mão, e com
incessante ação de graças. Reconheçamos igualmente que não haverá nenhuma boa
maneira de fazer uso dos benefícios que generosa e abundantemente Ele derrama sobre
nós, se não Lhe estivermos dando constante louvor, com ações de graças [João Calvino, As
”
Institutas, (1541), III.9]. Assim também não deixemos passar nenhum tipo de prosperidade
“
que nos beneficie, ou que beneficie a outros, sem declarar a Deus, com louvor e ação de
graças, que reconhecemos que tal bênção provém do Seu poder e da Sua bondade [João ”
celebrar nossos livramentos com solenes reconhecimentos .86 Por outro lado, a ”
86
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 66.3), p. 630.