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Introdução 1
Capítulo 1 - Política na era da informação 4
1.1 Debate político no ciberespaço 5
1.2 Um novo espaço para expressão dos atores políticos 6
1.3 Facebook: espaço de encontro 12
Capítulo 2 - A resistência das minorias 18
2.1 Um deputado polêmico na presidência da Comissão de Direitos Humanos 19
2.2 Jogo político elege Feliciano 25
2.3 Identidade de resistência no ciberespaço 27
2.3.1 Beijos para Feliciano e a atuação em rede 30
2.3.2 Feliciano não me representa: um meme político 33
Capítulo 3 - O olhar dos cidadãos 37
3.1 Como os usuários enxergam suas comunidades 38
3.1.1 Engajamento, alcance e influência 39
3.2 As motivações dos usuários 41
3.3 As repercussões das comunidades 44
Considerações finais 49
BIBLIOGRAFIA 52
APÊNDICE................................................................................................................................ 55
Introdução
1
por todo o País, grande parte deles organizado a partir de redes sociais como Twitter e
Facebook. A polêmica em torno da nomeação de Feliciano foi, em grande parte,
fundamentada por publicações consideradas racistas e homofóbicas que o pastor havia
realizado anteriormente acerca de gays e negros em seu perfil no Twitter. Após a
nomeação, o meme inspirado na frase “Marco Feliciano NÃO me representa” ganhou as
redes, e muitos protestos de movimentos sociais contrários ao pastor que saíram
efetivamente às ruas, em diferentes cidades do Brasil, foram organizados a partir de
debates em grupos fechados e páginas de eventos do Facebook.
Ou seja, a Internet, mesmo veículo que Marco Feliciano usou para divulgar suas
ideias - possivelmente para pessoas que têm algum tipo de interesse em suas opiniões,
uma vez que o seguem no Twitter - tem sido utilizada como instrumento de
engajamento por movimentos contrários à sua nomeação, demonstrando que os sites de
redes sociais se tornaram um palco profícuo e fundamental da discussão política
brasileira e exercício da cidadania.
Após a nomeação do pastor para o cargo na CDHM, multiplicaram-se no
Facebook comunidades e grupos de discussão que reúnem pessoas favoráveis e
contrárias aos posicionamentos do deputado Marco Feliciano. Entre elas estão as
comunidades “Feliciano não me representa” e “Beijos para Feliciano”, objetos do
estudo ora proposto e que se manifestam contrárias à permanência do pastor na
presidência da CDHM. Do outro lado, temos grupos e comunidades que apoiam o
pastor, caso da comunidade “Marcos Feliciano me representa, sim” e da fanpage oficial
de Marco Feliciano no Facebook, que existe desde 2012, antes da polêmica envolvendo
sua nomeação, e que já contabiliza mais de 217 mil curtidores
(https://www.facebook.com/PastorMarcoFeliciano).
A partir da polêmica envolvendo a nomeação do pastor Marco Feliciano para a
presidência da CDHM, nos propomos a analisar o papel do ciberespaço como novo
cenário para a realização do debate político e avaliar o seu impacto na disputa por poder
no cenário brasileiro. Autores como Manuel Castells e Pierre Lévy já investigam a
repercussão que a popularização das mídias digitais tem no campo político. Nesta
pesquisa, nos propomos a aliar a compreensão teórica com as opiniões dos atores que
interagem nas redes sociais na Internet. Queremos investigar, por meio de questionários
aplicados aos membros das comunidades “Beijos para Feliciano” e “Feliciano não me
representa”, como os próprios usuários enxergam e apreendem a resistência política que
se estabelece através dos sites de redes sociais. A partir da aplicação de questionários
2
estruturados na Escala de Likert, realizaremos uma análise qualitativa e quantitativa dos
objetivos e motivações de membros das comunidades citadas para, desta forma, tentar
contribuir para a compreensão do impacto do uso das redes sociais no cenário político
brasileiro. Recorreremos aos conceitos de identidade de resistência e identidade de
projeto explorados por Manuel Castells, uma vez que, no caso em estudo, as páginas de
web acabam assumindo um papel de defesa da causa do movimento LGBT – sigla para
Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais – grupo que acabou assumindo a linha de
frente na disputa pública com o deputado pastor.
Para a realização da pesquisa, recorremos aos estudos e conceitos apresentados
também por Pierre Lévy, Raquel Recuero, Denis de Mores, André Lemos, Wilson
Gomes e outros autores que já se debruçaram sobre as transformações que o
desenvolvimento da tecnologia da informação e os avanços da web provocaram na
formação de redes sociais na Internet, no exercício da cidadania e na ampliação dos
espaços disponíveis para o debate político.
3
Capítulo 1 - Política na era da informação
4
1.1 Debate político no ciberespaço
5
pessoas que se encontram no ciberespaço, impulsionadas por interesses comuns, e lá
interagem, estabelecem relações sociais e constroem um novo lugar para troca de
informações, conversação e ampliação de valores.
Com cada vez mais pessoas reunidas e a multiplicação das possibilidades de
interação proporcionadas pelos avanços da tecnologia da informação, o ciberespaço se
apresenta como mais um lugar em que a vida social, de fato, acontece. Da mesma forma
que abriga os encontros entre amigos em sites de redes sociais como o Facebook, os
debates sobre futebol em fóruns online ou diversas trocas econômicas, como a aquisição
da última música da Madonna no iTunes, o ciberespaço também assume o papel de
palco para o embate político de diferentes forças, agrupamentos, pessoas, partidos e
movimentos sociais:
É esta face do espaço de interação aberto pela Internet que nos interessa para a
realização do trabalho ora proposto.
6
veículos impressos, televisão ou rádio. Como destaca Lévy (2002), nos meios de
comunicação de massa da democracia moderna, quem decidia aquilo que iria transpor a
fronteira entre o privado e o público era o jornalista, que controlava o meio de
comunicação, ou aqueles que estavam por trás dele. No ciberespaço, é diferente:
7
“os cidadãos podem formar, e estão a formar, as suas próprias constelações políticas e
ideológicas, contornando as estruturas já estabelecidas, criando desta forma um campo
político flexível e adaptável” (CASTELLS, 2007, pg. 495).
O dado é que a presença de diferentes atores, com seus discursos em disputa por
atenção, faz do ciberespaço um lugar onde o cidadão ao mesmo tempo em que
influencia também encontra influências para a formação de sua opinião política.
Conforme explicita Gomes (2001), o cidadão usuário da internet passa a ter acesso a
uma diversidade de fontes, entre pessoas privadas, sociedade civil, governo e partidos
que estão, a todo momento, introduzindo insumos informativos na rede a respeito de
questões políticas. A imprensa tradicional continua a ser vista, lida e ouvida, mas,
agora, o cidadão tem muitas outras fontes de informação para considerar.
Gomes (2001) destaca três consequências que podem advir do tráfego da
opinião e da informação políticas que acontecem via Internet. Segundo o autor, a
disputa de discursos políticos que se dá no ciberespaço: a) reforça ou constitui vínculos
civis de concernimento e mobilizações em torno de temas e questões; b) pode diminuir
consideravelmente a invisibilidade de temas e debates no Parlamento para o cidadão que
está conectado à Internet, aumentando a possibilidade de acompanhamento das disputas
sobre a coisa pública; c) permite um tipo particular de engajamento, que não exige
mobilização plena e constante do cidadão, o que estaria mais de acordo com as formas
de cidadania contemporâneas, quais sejam, mais flexíveis e eventuais, menos
doutrinárias e sistêmicas.
No caso do embate político em análise nesta pesquisa, é importante, já neste
momento, traçar um paralelo com os aspectos destacados por Gomes. A nomeação do
deputado Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara dos Deputados ganhou repercussão tanto na mídia tradicional
como em sites de redes sociais como Facebook e Twitter desde que seu nome surgiu
como indicação do seu partido para o cargo, em fevereiro de 2013. Conforme
aprofundaremos no segundo capítulo deste trabalho, a resistência à nomeação do
deputado se fundamentou em declarações controversas que ele havia dado em sua conta
no Twitter, ainda em 2011, a respeito de gays e negros. Em uma de suas publicações,
Feliciano afirmou que "Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é
fato”. Em outro post, no mesmo dia, diria que "a podridão dos sentimentos dos
8
homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, a rejeição".1 Ocorre que a CDHM é uma
das comissões permanentes da Câmara dos Deputados voltada justamente para, entre
outras atribuições, cuidar de assuntos relacionados a minorias étnicas e sociais e
investigar denúncias de violações a direitos humanos (CÂMARA, 2013), o que inclui
ofensas a gays e negros. Diante dos fatos, a confirmação da nomeação do deputado
Feliciano para a presidência da Comissão gerou mobilizações não só nas ruas, com
passeatas em diferentes cidades do Brasil, como nos sites de redes sociais, com a
criação de comunidades e grupos no Facebook, por exemplo, para a reunião de pessoas
contrárias à nomeação, o que se coaduna com a primeira consequência apontada por
Gomes. Em uma contraofensiva, outros grupos e comunidades também foram criados
no mesmo Facebook para reunir pessoas que apoiavam a nomeação do deputado.
Convém destacar também que, no dia da eleição de Feliciano para a presidência,
em 7 de março de 2013, o assunto apareceu nos trending topics do Twitter, como um
dos mais comentados do dia, em diferentes momentos, segundo dados computados pela
ferramenta de métricas TrendStory (trendstory.com.br). Isso indica que, enquanto a
nomeação de Feliciano acontecia em Brasília, pessoas de diferentes locais do país
acompanhavam a evolução do caso, discordavam e concordavam de uma decisão que
veio da Câmara dos Deputados por meio de debates na Internet. Importante frisar que,
habitualmente, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara não transita no centro do
debate político nacional, mas o assunto, desde o início, despertou a atenção dos usuários
de populares sites de redes sociais e alcançou notoriedade não só no Twitter, como em
diversos outros sites como Tumblr, Instagram e Facebook, diminuindo assim a
invisibilidade do assunto, outra consequência que Gomes aponta como relacionada ao
embate político que ocorre na Internet.
http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/03/deputado-ve-podridao-em-gays-e-diz-que-africanos-sao-ama
ldicoados.html
9
Gráfico 1 – Gráfico do dia 7 de março de 2013 mostra os horários em que o termo “Marco Feliciano”
ocupou os Trending Topics do Brasil no Twitter. Fonte: TrendStory
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significados nas instituições e na prática da sociedade, defendendo ou propondo modos
específicos de vida. Neste aspecto, importante considerar que a resistência a Feliciano e
as mobilizações que brotaram da Internet contra a sua nomeação foram encampadas
especialmente pelo movimento LGBT - sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Transexuais - um movimento que luta para modificar as leis e a visão social acerca da
homossexualidade.
O segundo traço destacado por Castells (2003) como característica dos
movimentos sociais do nosso tempo é que eles precisam preencher o vazio deixado pela
crise das organizações herdadas da Era Industrial. De acordo com o teórico, nós
vivemos uma crise de legitimidade de partidos políticos, sindicatos, entidades da
sociedade civil organizada e do próprio Estado. Afundados em escândalos, os partidos
políticos foram reduzidos a lideranças personalizadas e induzidos a práticas ilícitas para
obtenção de fundos para suas campanhas, perdendo a confiança do público. Perdidos
em meio à burocracia e estrutura replicadas das grandes corporações, os sindicatos
sofrem com a imobilidade e a desconfiança dos cidadãos. As associações cívicas
formais também se mostram em franco declínio. Sem atratividade para a conquista de
novos adeptos, perdem força como instrumentos de engajamento social. Temos ainda a
crise do próprio Estado-nação, que perdeu boa parte do seu poder, diante de um cenário
dominado por fluxos globais, redes de riqueza, informação e poder
transorganizacionais. Neste cenário, as organizações formais, estruturadas e
permanentes estão sendo substituídas por coalizões frouxas, mobilizações
semiespontâneas.
Aqui, também, podemos apontar mais uma correlação entre a análise feita por
Castells e o movimento de resistência à nomeação do pastor Marco Feliciano para
presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Historicamente comandada por
partidos e parlamentares com discursos vinculados à defesa dos Direitos Humanos, com
11
forte prevalência do Partido dos Trabalhadores (PT) no seu comando, em 2013, a
presidência da Comissão foi entregue ao Partido Social Cristão (PSC), do deputado
Marco Feliciano, em razão de um acordo político realizado entre as lideranças dos
partidos que integram a Casa, conforme foi noticiado amplamente por diversos veículos
da imprensa nacional2. É possível considerar que as manifestações que tomaram ruas do
Brasil e sites na Internet contra a nomeação do deputado Feliciano demonstram uma
motivação dos integrantes dessa mobilização em defender seus interesses, uma vez que
os partidos que poderiam defendê-los não cumpriram com sua função.
O terceiro traço destacado por Castells (2003) como dos movimentos sociais que
emergem na Era da Informação está na busca dessas mobilizações pela obtenção de um
caráter global. Diante de um cenário em que o poder funciona em redes globais,
movimentos que querem gerar transformação social precisam pensar localmente e agir
globalmente.
Nossa abordagem nesta pesquisa lança luz sobre o momento em que esses
movimentos tão característicos da Era da Informação encontram em sites de redes
sociais como o Facebook uma plataforma para alavancar sua atuação. Por meio de
páginas e grupos, torna-se possível a coalização de diferentes pessoas em torno de uma
causa comum. Seja esta causa a defesa de direitos das mulheres, dos direitos dos
consumidores ou a saída de um deputado da presidência da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/1238710-pastor-pode-assumir-comissao-de-direitos-humanos-da-ca
mara.shtml e http://oglobo.globo.com/pais/feliciano-sobrou-comissao-de-direitos-humanos-8047260
ehttp://www.estadao.com.br/noticias/nacional,bancada-evangelica-da-camara-deve-presidir-comissao-de-
direitos-humanos,1002798,0.htm
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conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e
suas conexões (interações ou laços sociais)”. Neste ponto, é necessário esclarecer que,
muito antes do advento da comunicação mediada por computador, as pessoas já
formavam suas redes sociais, através de interações que estabeleciam entre si, com a
comunidade ao redor na sua vida cotidiana. O ciberespaço passa a ser mais um espaço
em que essas redes se formam.
Na Internet, os atores de uma rede social são os indivíduos que interagem no
ciberespaço por meio de suas páginas, perfis em sites e fóruns, nicknames, entre outros
formatos. Já as conexões consistem nos laços sociais que são formados por meio da
interação mediada pelo computador que ocorre entre esses atores.
Exposta esta breve conceituação, torna-se necessário apontar a distinção
fundamental existente entre redes sociais na Internet e sites de redes sociais. Ainda
segundo Recuero, os sites de redes sociais são os espaços destinados à expressão das
redes sociais na Internet. Estão enquadrados nesta classificação sites como Orkut,
Fotolog, Flickr, MySpace, Twitter e o Facebook, tratando-se este último de objeto da
pesquisa ora proposta. Estes sites dão condições e estímulos para que as interações
aconteçam, eles são os abrigos das redes sociais na Internet.
São as pessoas que atuam e estabelecem relações. Elas são os agentes, enquanto
que sites como o Facebook são sistemas que favorecem o encontro e a interação
desterritorializada entre esses atores.
Lançado em 2004, nos Estados Unidos, por estudantes da Universidade de
Harvard, o Facebook passou a contar com uma forte adesão dos brasileiros nos últimos
anos, chegando ao número de 76 milhões de cadastrados no País em junho de 2013,
segundo dados divulgados pelo escritório do Facebook no Brasil (SIBARAI, 2013). Os
brasileiros fazem parte de um total de 1,15 bilhão de pessoas que utilizam o site de rede
social em todo o mundo (FACEBOOK, 2013).
Ao definir sua missão, o Facebook afirma que: “As pessoas usam o Facebook
para ficar conectadas com amigos e familiares, para descobrir o que está acontecendo no
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mundo e para compartilhar e expressar o que importa para elas.” (FACEBOOK, 2013)
O site se estrutura por meio de perfis de usuários, páginas e grupos. Pessoas comuns
ingressam no site por meio da criação de uma conta individual, onde sinalizam seu
nome e e-mail e passam a contar com um perfil, que é sua representação para os outros
integrantes da rede, e diferentes funcionalidades que lhe permitem interagir com outros
usuários, como chats reservados, endossamento de publicações por meio do uso do
botão curtir, compartilhamento de conteúdos e a criação e uso de aplicativos, entre
diversos outros estímulos à interação entre os usuários.
As páginas, chamadas originalmente de fanpages, são os espaços do Facebook
reservados para empresas, organizações, instituições, marcas ou personalidades
conhecidas para que compartilhem suas histórias e se conectem com as pessoas, seus
fãs, apoiadores ou consumidores. Quando uma página não representa oficialmente uma
organização ou celebridade, ou tem por objetivo tratar sobre algum tema específico, ela
ganha o nome de “página de comunidade” ou “página de causa”. Existem páginas de
comunidades sobre os mais variados assuntos no Facebook, que vão desde times de
futebol até hábitos alimentares. As páginas de causa são destinadas à reunião de pessoas
vinculadas a algum movimento ou propósito. A política ganha representação nesses
espaços, com páginas de comunidades e páginas de causa voltadas para o encontro de
pessoas contrárias ou favoráveis a determinado partido político ou que queiram tratar de
assuntos relacionados ao movimento feminista, movimento gay, movimento de defesa
ambiental, entre tantos outros. No que diz respeito diretamente a esta pesquisa, tanto a
“Beijos para Feliciano” como a “Feliciano não me representa” são comunidades no
Facebook. São os administradores de cada comunidade que determinam o que será
publicado naquela página, os usuários do Facebook que ingressam nessas comunidades
podem interagir com o conteúdo disponibilizado pelos administradores daquele espaço,
curtindo links, imagens ou postagens, compartilhando no seu próprio perfil ou
utilizando as caixas de comentários, o que lhes possibilita interagir também com outros
usuários da comunidade.
Já os grupos no Facebook são espaços dentro do site destinados à interação de
pequenos grupos de usuários, para que as pessoas possam se comunicar sobre algum
interesse comum. Dentro de um grupo, todos os participantes podem publicar conteúdo,
não só o administrador. Entre outras funcionalidades, há a ferramenta para criação de
eventos. A página de evento dá a possibilidade de seu administrador convidar outros
perfis de usuários na rede social para um evento, com data e local estabelecido e
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possibilita que cada convidado também envie o convite para o perfil de outras pessoas,
criando um efeito cascata.
Todas essas funcionalidades e ferramentas oferecidas pelo Facebook fizeram
com o que o site tivesse participação no surgimento de algumas mobilizações de grande
repercussão e consequências em diferentes locais do mundo. Muitos analistas
(KANDIL, 2011; CASTELLS, 2011) e até veículos da mídia tradicional apontam uma
página no Facebook como importante ponto de partida para a mobilização que provocou
a renúncia do ditador egípcio Hosni Mubarak, acuado por manifestações que reuniram
milhares de pessoas na Praça Tahir, na cidade do Cairo, nos primeiros meses de 2011. A
participação do Facebook nesse movimento começa ainda em 2010, quando o violento
assassinato do jovem Khaled Said por policiais do regime de Hosni Mubarak motivou a
criação de um grupo no Facebook intitulado “We are all Khaled Said”. O jovem foi
espancado e morto porque teria divulgado um vídeo em que uma dupla de policiais
aparecia traficando drogas. O grupo no Facebook incentivava que seus participantes
utilizassem o espaço para denunciar outras violências e arbitrariedades cometidas pelo
regime. Meses depois, em janeiro de 2011, a página convocaria seus usuários, que já
ultrapassavam o número de 100 mil, a participarem de uma manifestação contra a
arbitrariedade policial, na Praça Tahir. Motivadas pela convocação da comunidade e
empolgadas com a queda, dias antes, do ditador Ben Ali, na Tunísia, cerca de 20 mil
egípcios foram para a praça (KANDIL, 2011). Os protestos persistiram pelos dias
seguintes, com cada vez mais pessoas. Era o início de um movimento que culminaria na
queda do ditador Mubarak, em 11 de fevereiro de 2011. Castells (2011) destaca que não
se pode afirmar que a revolução no Egito foi feita pela Internet, mas sem a Internet esta
revolução não teria acontecido. Havia insatisfação do povo egípcio e o desejo de
mudança, isso não foi criado pela Internet, mas, para Castells, as redes sociais como o
Facebook foram as plataformas de mobilização, coordenação, solidariedade e de
popularização do objetivo de derrubar Mubarak.
Outro movimento, de magnitude e objetivos diferentes daqueles que motivaram
a revolução no Egito, mas que também pode exemplificar o papel do Facebook na
mobilização de indivíduos em favor de uma causa é a Marcha das Vadias – Slut Walk,
no original em inglês –, um movimento contra a opressão das mulheres e pelo direito de
cada uma se vestir como desejar. A primeira marcha foi realizada na cidade de Toronto,
no Canadá, em abril de 2011, em resposta à declaração de um representante da polícia
local que, durante uma palestra, afirmou que “mulheres não devem se vestir como
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‘sluts’ para não serem vitimizadas”, ou seja, que mulheres não devem sair na rua
vestidas como “vadias” para não correrem o risco de serem estupradas (HELENE,
2013). Ofendidas com a fala do policial, um grupo de mulheres resolveu protestar e,
para isso, criou uma página de evento no Facebook convocando para a Slut Walk. Vários
perfis de usuários do Facebook aderiram ao convite e o resultado foi a reunião de 4 mil
pessoas na marcha do Canadá e a propagação do movimento por diferentes cidades do
mundo. No Brasil, a primeira marcha aconteceu em 4 de junho de 2011, também
organizada pelo Facebook, e segue sendo promovida em diversas cidades do país.
Recentemente, o Facebook também foi utilizado pelos organizadores do
Movimento Passe Livre (MPL), nas convocações para os protestos contra o aumento da
passagem de ônibus na cidade de São Paulo, que, posteriormente, culminaram nas
grandes mobilizações de junho de 2013, que levaram milhões de brasileiros para as ruas
3
por todo o País. Na página do MPL no Facebook que foram divulgados os eventos
informando quando e onde ocorreriam mobilizações na cidade de São Paulo.
FIGURA 1. Página do Movimento Passe Livre convoca manifestantes para mais um ato contra o aumento
da passagem.
3
(https://www.facebook.com/passelivresp)
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criação de páginas de eventos que convocaram atos em todo o país, e até em cidades do
exterior como Buenos Aires e São Francisco, contra a permanência do deputado na
presidência da Comissão.
FIGURA 2. Página de evento no Facebook para convocação de ato contra nomeação de Feliciano
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Capítulo 2 - A resistência das minorias
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2.1 Um deputado polêmico na presidência da Comissão de Direitos Humanos
19
como a de Direitos Humanos e Minorias, que tem um poder de interferência política
menor.
Mas, no início de 2013, a até então pouco visada Comissão de Direitos Humanos
passou a despertar grande repercussão não só no Congresso, como na mídia e na
sociedade em geral. Tudo começou quando o Partido Social Cristão (PSC) recebeu o
direito de apontar um nome para comandar a CDHM e sinalizou como uma de suas
possíveis indicações a do deputado federal Marco Antônio Feliciano. Parlamentar em
primeiro mandato, Marco Feliciano é também pastor evangélico, cantor gospel e
presidente fundador da igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, que tem
sede em Orlândia, sua cidade natal, localizada no interior de São Paulo. A igreja está
presente em outras onze cidades, nos estados de São Paulo e Minas Gerais
(CATEDRAL DO AVIVAMENTO, 2013).
Eleito quando somava 38 anos de idade, Feliciano envolveu-se em uma
polêmica com movimentos que atuam na defesa de minorias logo em seus primeiros
meses de mandato. Em 31 de março de 2011, o deputado utilizou a página de seu perfil
pessoal no Twitter para expressar sua opinião sobre os problemas sociais e econômicos
enfrentados pelo continente africano. O deputado afirmou que “A maldição q Noe lança
sobre seu neto, canaã, respinga sobre continente africano, dai a fome, pestes, doenças,
guerras étnicas!”. Questionado por usuários do Twitter sobre sua publicação, ele reitera
o posicionamento em um post posterior. Afirma Feliciano: “Africanos descendem de
ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato. O motivo da maldição é a polêmica”.
No mesmo dia, o pastor iniciaria polêmica com outra minoria, agora com o
público LGBT. Feliciano publicou, também em seu perfil no microblog, que “A
podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam ao ódio, ao crime, à rejeição”. Após
as publicações, o deputado foi acusado de ser racista e homofóbico por usuários do
Twitter e por movimentos que atuam na defesa de negros e gays. Ele foi destinatário,
inclusive, de uma nota de repúdio da Secretaria de Políticas para Mulheres (2011) do
governo federal.
20
FIGURA 3. Perfil de Marco Feliciano no Twitter em 2011 fala sobre maldição do continente africano.
Fonte: G1
21
porque "os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por
Noé", revivendo uma interpretação distorcida e racista da Bíblia, que
já foi usada no passado para justificar a escravidão dos negros? Como
pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um
deputado que se referiu à Aids como "o câncer gay"? Um deputado
que defende um projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de
Psicologia a aceitar supostas "terapias de reversão da
homossexualidade" anticientíficas e baseadas em preconceitos.
(WYLLYS, 2013)
22
A polêmica que ganhou os veículos de grande mídia repercutiria também na
Internet e chegaria às ruas. Ainda em 28 de fevereiro de 2013, quando o PSC sinalizou
o nome do pastor como possível indicação para ocupar o cargo, foi criada uma petição
online sobre o tema no site Avaaz, plataforma online que busca facilitar o engajamento
de pessoas em diferentes causas sociais e políticas. Direcionada aos deputados federais,
a petição requisita a “Imediata destituição do Pr. Marco Feliciano da Presidência da
Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal”. Em outubro de 2013, a petição
ainda permanecia no ar e contava com mais de 555 mil assinaturas.
23
Gráfico 2. #FelicianoPedepraSair nos Trending Topics do mundo, em 20 de março de 2013. Fonte:
TrendStory
http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/03/grupos-protestam-contra-deputado-pastor-e-renan-calheiros-
em-brasiliax.html e
5
https://www.facebook.com/events/496590727072330/
6
https://www.facebook.com/events/340454419387589/
24
mudanças na presidência da comissão e uma postura condizente com a
função - seja dada uma importante contribuição ao campo dos Direitos
Humanos no País. Para tanto, é fundamental que o clima de conflito e
mobilizações contrárias à nova presidência sejam dissipados. Por essa
razão, redigimos esta carta como um apelo, na esperança de que os
líderes das Igrejas considerem orientar seus fiéis que atuam como
parlamentares - que elegeram a nova composição da Comissão -, para
que atuem na resolução deste conflito (REDE FALE, 2013).
http://jeanwyllys.com.br/wp/manifesto-de-artistas-cobra-saida-de-marco-feliciano-da-presidencia-da-com
issao-de-direitos-humanos-e-minorias-da-camara-dos-deputados
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e dos Blocos Parlamentares que participam da Casa. Nesta composição, os partidos que
têm maior número de parlamentares têm preferência na escolha das comissões que
desejam liderar. Conforme esclarece Miranda (2010), de modo geral, é prerrogativa dos
líderes partidários nomear, assim como substituir, os membros de uma comissão. Já a
eleição do presidente de cada comissão se dá pelos votos de seus membros titulares. O
regimento não prevê uma indicação prévia de nomes para presidência por parte das
lideranças, entretanto, na prática, há participação ativa dos líderes nessa seleção.
26
Direitos Humanos, que caiu no colo do PSC. O PT disse que o PSC
não faria certo se me indicasse. Meu partido achou uma petulância
eles quererem mandar na indicação. E aí o partido analisou todo o meu
perfil (FELICIANO, 2013b).
9
https://www.facebook.com/jean.wyllys/posts/496442470403765
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orientação sexual como doença. Sob a liderança de Marco Feliciano, a CDHM aprovou,
em 18 de junho de 2013, o polêmico projeto, que ainda precisaria seguir outros trâmites
antes da votação em plenário, mas acabou arquivado na Câmara, em 02 de julho
(ODILLA; NUBLAT; FALCÃO, 2013). Antes do arquivamento, a militância LGBT foi
às ruas contra o projeto em diferentes cidades do Brasil, reunindo 4 mil pessoas em São
Paulo, em 21 de junho de 2013 (NOVAES, 2013), e mil pessoas no Rio de Janeiro, em
28 de junho de 2013 (SOUZA, 2013).
Em paralelo às manifestações de rua iniciadas ainda no mês de março, os sites de
redes sociais também acolheram a resistência à nomeação do deputado Marco Feliciano.
Duas comunidades sobre o tema se sobressaíram no Facebook: a comunidade “Beijos
para Feliciano”, que contabilizava 38.700 membros em setembro de 2013, e a
“Feliciano não me representa”, que contabilizava 24 mil membros no mesmo período.
Nestes espaços, os atores contrários à nomeação de Feliciano encontram um lugar para a
interação com pessoas que compartilham de um mesmo posicionamento em relação ao
deputado e são convidados a interagir com o envio de suas próprias contribuições para a
atualização das comunidades.
Apesar de a nomeação de Marco Feliciano ter gerado reações de diferentes
setores da sociedade, percebe-se um recrudescimento dessa resistência entre o
movimento LGBT, que acabou assumindo a linha de frente da trincheira contra o
deputado pastor. Esse protagonismo do movimento LGBT está refletido também nas
duas comunidades ora analisadas. A “Beijos para Feliciano” tem como proposta inicial
a divulgação de fotos de beijos entre casais homoafetivos como forma de manifestar a
sua defesa do amor livre. Já a “Feliciano não me representa” apesar de diversificar sua
atuação, não dando vasão somente à causa LGBT, expõe em sua descrição que teve
como inspiração para sua criação o projeto #eusougay, iniciativa virtual contra a
homofobia que, por meio de um blog, reuniu imagens de diferentes pessoas,
independente de sua orientação sexual, empunhando a frase #eusougay, como um
manifesto contra a violência e o preconceito que persegue esse público.
Castells (2003) destaca que, na sociedade em rede, os movimentos sociais e os
processos políticos usarão, cada vez mais, a Internet como um instrumento para
informar e mobilizar. Entendemos que as comunidades no Facebook Beijos para
Feliciano e Feliciano não me representa estão inseridas neste contexto, assumindo um
papel de representação da resistência de grupos minoritários dentro do embate político
que se formou em torno da decisão da Câmara de nomear um deputado notoriamente
28
contrário às demandas do movimento LGBT para a presidência de um órgão que
deveria acolher esse público.
Como já mencionado no primeiro capítulo e retomado agora, a causa LGBT e a
maneira como ela se expressa na Internet, não só nas comunidades analisadas como em
outras esferas, conectam-se com o exame de Castells sobre os movimentos sociais na
Era da Informação, que lutam para mudar os códigos de significado nas instituições e na
prática da sociedade a partir da defesa de suas identidades culturais. Em sua obra “O
Poder da Identidade” Castells (2007) propõe três formas e origens de construção de
identidade. De acordo com o autor, haveria a identidade legitimadora, que é fortalecida
pelas instituições dominantes da sociedade com o objetivo de expandir sua dominação
sobre os outros atores sociais; a identidade de resistência, criada por atores que se
encontram em posições desvalorizadas ou estigmatizadas pela lógica da dominação; e a
identidade de projeto, que se apresenta quando os atores sociais conseguem construir
uma nova identidade que redefine a sua posição na sociedade. Para o autor, nesta última
categoria encontra-se, por exemplo, o movimento feminista, que conseguiu romper com
as barreiras da identidade legitimadora do patriarcalismo para redefinir o espaço da
mulher na sociedade, transformando toda a estrutura social.
Nada impede que uma identidade que começa como resistência torne-se
identidade de projeto ou mesmo legitimadora, dependendo das evoluções e revoluções
sociais. Neste aspecto, convém classificar o movimento LGBT dentro da categoria de
identidade de resistência, uma vez que este grupo sofre perseguição e preconceito por
parte da sociedade e, para proteger-se, cria suas próprias trincheiras de resistência e
sobrevivência, com base em princípios diferentes dos que permeiam as instituições
sociais. Se a sociedade é baseada na família patriarcal, o movimento LGBT vai
justamente questionar esse modelo. De acordo com Castells (2007, pg.6), a construção
da identidade de resistência leva à formação de comunidades:
29
CDHM, sejam em comunidades no Facebook, hashtags no Twitter ou pichações nos
muros da cidade são manifestações dessa identidade de resistência construída. Para
Castells (2003; 2007), na Era da Informação, essa identidade de resistência é
fundamental para o processo de transformação social e o despertar de identidades de
projeto. Isto porque, com a falência das instituições herdadas da modernidade, a crise
dos partidos políticos, dos sindicatos e do próprio Estado, é na resistência comunal que
se poderia encontrar combustível para a transformação social.
Para resistir, a comunicação de valores e a mobilização são fundamentais. Esses
movimentos vão se formar então, em torno de sistemas de comunicação como a
Internet. Pois será por meio deles que conseguirão alcançar atores interessados em
aderir aos seus valores e, desta forma, atingir a consciência da sociedade como um todo.
(CASTELLS, 2003).
Neste contexto, as comunidades Beijos para Feliciano e Feliciano não me
representa são analisadas como possíveis instrumentos de expressão da identidade de
resistência do movimento LGBT, queremos compreender de que maneira esses espaços
assumem uma função de mobilização e conscientização no embate político que se
estabeleceu entre esses atores e a atuação não só do deputado Marco Feliciano, como da
Câmara dos Deputados, que, por meio de suas manobras políticas, encaminhou o
deputado para a presidência da CDHM. Diante do descaso da Câmara, enquanto
instituição, com os seus interesses, o movimento LGBT assume as rédeas da resistência,
“optam por estabelecer a sua autonomia na própria resistência comunitária enquanto não
têm força suficiente para tomar de assalto as instituições opressoras às quais se opõem”
(CASTELLS, 2007, pg. 501).
30
comunidade, e são postadas pelo administrador da página, mas algumas imagens
históricas ou publicadas na mídia tradicional também são utilizadas para alimentar o
espaço. Imagens de casais heterossexuais solidários à causa LGBT foram aceitas e
publicadas, mas são divulgadas em menor quantidade. Essas imagens de beijos, com
mensagens contrárias ao pastor Marco Feliciano, repassadas para a página por diferentes
membros podem ser entendidas como memes, conforme ainda aprofundaremos neste
trabalho.
31
da página Cartazes & Tirinhas LGBT (https://www.facebook.com/CartazesLgbt) que
convocava os usuários a enviarem e-mails para todos os deputados expressando a
contrariedade contra o polêmico projeto da “cura gay”. Neste aspecto, podemos resgatar
Moraes (2000), quando afirma que as ferramentas Web dão aos movimentos sociais a
possibilidade de intervir de forma ágil em assuntos específicos, o que lhes acentua a
visibilidade pública. Por meio da mobilização virtual de seus membros, a comunidade
“Beijos para Feliciano” buscou interferir nas esferas políticas de poder e, para alcançar
este objetivo, atuou em rede, multiplicando seu poder de alcance ao atuar em parceria
com outras comunidades.
32
comunidades virtuais por afinidades eletivas. Formam-se, assim,
coletivos em rede, por aproximações temáticas, anseios e práticas
comuns de cidadania. Eles compartilham ações sociopolíticas, tendo
em vista o fortalecimento dos laços comunitários e de uma ética por
interações, assentada em princípios de diálogo, de cooperação e de
participação (MORAES, 2000, pg. 154).
33
FIGURA 8. Comunidade Feliciano não me representa no Facebook
34
(Lévy) ou “conectivas” (Kerkhove). Essas só são possíveis, de agora
em diante, por recombinações.
35
FIGURA 9. Meme #FelicianoNaomeRepresenta
36
Capítulo 3 - O olhar dos cidadãos
37
3.1 Como os usuários enxergam suas comunidades
38
Os questionários foram aplicados em formato online. Os usuários tiveram acesso
às questões por meio do compartilhamento do link na página feito pelos administradores
das duas comunidades. Uma vez que cada comunidade tem estrutura, organização e
membros próprios, decidimos pela criação de dois questionários, que reproduzem
exatamente as mesmas questões e sentenças, mas cada um está endereçado a uma
comunidade específica. Para esta pesquisa, trabalhamos com amostras acidentais, uma
vez que o link do questionário ficou disponível para acesso de qualquer usuário da
Internet e a amostra foi sendo construída a medida que os membros das comunidades,
espontaneamente, atenderam ao convite para responder. Ambos os questionários
ficaram abertos para acesso por um período ininterrupto de sete dias, durante o mês de
setembro de 2013, a partir do momento em que seu link foi compartilhado em cada
página. Com este formato, recebemos 106 respostas no questionário destinado aos
membros da comunidade Feliciano não me representa e 219 respostas no questionário
destinado aos membros da comunidade Beijos para Feliciano.
Com base nas respostas compartilhadas por essa amostra, nos propomos a
avaliar as motivações dos usuários para integrar esses espaços e as repercussões que os
membros destas comunidades acreditam que essas páginas podem causar.
39
abordado neste estudo, grande parte das manifestações de rua realizadas contra a eleição
de Marco Feliciano foram organizadas por meio de páginas de eventos no Facebook. A
Internet foi ponto de encontro para as pessoas engajadas na causa, confirmando a
afirmação de Castells (2003) de que a crise das organizações de representação da Era
Industrial – como sindicatos, ONGs, etc – não impede as pessoas de continuarem se
organizando para a defesa de seus valores e interesses. Mas coalizões frouxas –
possibilitadas, por exemplo, por meio de um evento no Facebook – e semiespontâneas
serão a marca desses movimentos.
Também questionamos os participantes da pesquisa sobre a prática de
compartilhar publicações das comunidades analisadas em suas páginas pessoais no
Facebook. Na amostra de membros da comunidade Feliciano não me representa, a
maioria de 86% dos respondentes afirmou que compartilha publicações da comunidade,
propagando, assim, as ideias defendidas na página para sua rede de amigos. Na amostra
da comunidade Beijos para Feliciano um percentual de 84% também compartilha com
sua rede as publicações da página.
Neste ponto, vale resgatar a análise de Gomes (2001) sobre o impacto da Internet
na formação da opinião política pública. Segundo o autor, o avanço da comunicação
mediada por computador vai possibilitar a diminuição do poder de mediação do
jornalismo tradicional para a formação da opinião política ao mesmo tempo em que vai
favorecer o pluralismo de opiniões. O cidadão comum, que tinha na mídia tradicional
sua principal fonte de informação sobre os temas e debates relacionados à coisa pública
passa a ter acesso a outras influências, entre elas, publicações, ideias e campanhas
compartilhadas por páginas de Facebook, por exemplo.
Neste cenário, cada pessoa passa a ter novas ferramentas para exercer sua
cidadania individual e privada, influenciando na formação da opinião política das redes
sociais que integra. Ainda segundo Gomes, o cidadão vai encontrar na Internet uma
forma de escapar da dependência da mídia tradicional na competição pelo
estabelecimento das prioridades da agenda política, formação de climas de opinião e
40
mobilizações para pressionar o mundo da política. No caso da resistência à eleição de
Marco Feliciano, os sites de redes sociais não só possibilitaram a organização de
mobilizações como interferiram na agenda dos meios de comunicação tradicionais, que
passaram a buscar nas páginas de eventos do Facebook informações sobre as
mobilizações de rua contrárias ao deputado.
Gráfico 3. 84% dos usuários compartilham postagens da comunidade Beijos para Feliciano
41
membros de ambas as comunidades que compartilham em seus perfis pessoais
publicações feitas pelas duas páginas. Ao participarem das comunidades e
compartilharem as informações disponibilizadas nessas páginas, esses membros se
tornam mais uma fonte alternativa para formação da opinião política de sua rede de
amigos (GOMES, 2001). Ajudam a divulgar o movimento de resistência à eleição de
Marco Feliciano para a presidência da CDHM e podem influenciar seus amigos de sites
de redes sociais a também aderirem à causa.
Gráfico 4. 93% participam da comunidade Feliciano não me representa para manifestar seu
posicionamento político aos amigos
42
A liberdade de circulação de informação na Internet foi muito utilizada pelos
dois lados da disputa sobre a eleição de Marco Feliciano para a presidência da CDHM.
Assim como Marco Feliciano utilizou seus perfis no Twitter e Facebook para rebater as
críticas a ele, os resistentes à sua nomeação também recorreram a essas plataformas, o
que se demonstra pela criação de comunidades, eventos, memes políticos e o uso que o
deputado Jean Wyllys, principal opositor no Congresso a Marco Feliciano, fez de sua
fanpage para divulgar os bastidores da escolha do deputado pastor para a presidência da
CDHM e responsabilizar o PT pelo acontecimento, conforme já foi narrado nesta
pesquisa. O resultado do questionário demonstra que os membros de ambas as
comunidades detectaram e usufruíram do fluxo de informações possibilitado pela
Internet.
Gráfico 5. 87% dos membros da comunidade Beijos para Feliciano usam a página para obter e trocar
informações sobre o caso Feliciano.
43
Por causa da flexibilidade e do poder de comunicação da Internet, a
interação social on-line desempenha crescente papel na organização
social como um todo. As redes on-line, quando se estabilizam em sua
prática, podem formar comunidades, comunidades virtuais, diferentes
das físicas, mas não necessariamente menos intensas ou menos
eficazes na criação de laços e na mobilização (CASTELLS, 2003, pg.
109).
Gráfico 6. 85% dos membros da comunidade Feliciano não me representa utilizam a comunidade para
encontrar pessoas que compartilham de sua mesma opinião sobre o tema
44
Começamos analisando como os pesquisados avaliam o impacto que essas
comunidades podem causar fora do ciberespaço. Um total de 64% dos participantes da
comunidade Feliciano não me representa discordam ou discordam totalmente da
afirmação “A comunidade exerce ativismo político dentro do Facebook, sem causar
impacto fora da Internet”. Na comunidade “Beijos para Feliciano”, o percentual de
discordância foi parecido, chegando a 62%. Quando, em um tópico posterior do
questionário, a afirmação passa a ser “A comunidade é um espaço de mobilização de
pessoas contra a nomeação de Feliciano, que pode ter repercussão fora da Internet”
temos a concordância de 89% dos membros da comunidade “Beijos para Feliciano” e
92% de concordância dos membros da comunidade “Feliciano não me representa”.
Este posicionamento dos membros das comunidades analisadas se harmoniza
com as ideias de diferentes teóricos abordados neste trabalho (MORAES, 2002;
GOMES, 2001; CASTELLS, 2003; LÉVY, 2002) que defendem que a troca de ideias, o
fluxo de informações e o embate político que ocorrem no ciberespaço não estão
apartados do mundo real. A Internet é mais um lugar em que a disputa por ideias
acontece, não substitui os espaços já existentes, soma-se a eles, e atua em conexão com
a realidade social.
45
LGBT surtiu efeito importante quando o deputado pastor decidiu colocar em votação o
projeto conhecido como “cura gay”. O projeto até foi provado na comissão, mas, em
seguida, foi arquivado pela Câmara, principalmente em razão da pressão popular
alimentada e incentivada, em grande parte, por páginas na Internet.
46
negros, brancos, idosos, jovens, religiosos, ateus para, desta forma, ampliar o alcance da
mobilização.
Mesmo que, na percepção de seus membros, os memes divulgados pela
comunidade “Feliciano não me representa” não estejam diretamente vinculados à defesa
da causa LGBT, consideramos que o estímulo a esse formato de manifestação ajudou a
divulgar o movimento contrário à eleição do deputado pastor Marco Feliciano,
auxiliando, mesmo que não exclusivamente, o fortalecimento da resistência LGBT.
Gráfico 8. Para 66% dos participantes, os memes da comunidade Beijos para Feliciano ajudam a criar
simpatia às causas gays
47
93%. São estas páginas, pois, mais um espaço de liberdade da identidade sexual, que
auxiliam na construção do caminho que pode levar a uma transformação social.
48
Considerações finais
49
muito mais dinâmico e horizontal do que aquele concretizado por meio da atuação dos
veículos de mídia tradicionais.
Partindo da hipótese de que a Internet não só abre um novo fórum para o debate
como também gera repercussões nas esferas de decisões políticas, nos propusemos a
avaliar, por meio da análise do debate em torno da eleição de Marco Feliciano para a
CDHM, o impacto que a discussão realizada no ciberespaço pode alcançar nas
definições políticas e sua capacidade de impulsionar transformações da realidade
brasileira. Para tal abordagem, definimos como objeto do estudo o movimento
representado pela atuação das comunidades “Feliciano não me representa” e “Beijos
para Feliciano”, identificando-as como espaços de expressão da identidade de
resistência da comunidade LGBT, seguindo conceito aprofundado por Manuel Castells
(2003; 2007).
Para o estudo, aliamos a base teórica de autores como Manuel Castells, Pierre
Lèvy, Wilson Gomes e Raquel Recuero à análise dos resultados de um questionário
aplicado aos membros das duas comunidades estudadas, que tem por objetivo
identificar quais as motivações dos mesmos para permanecerem nas páginas e quais as
suas percepções sobre a repercussão que esses espaços podem causar no cenário
político. A análise nos permitiu concluir que os membros da comunidade encontram na
Internet um espaço para não só obter informações que influenciaram na formação de sua
opinião política como também divulgar ideias, de forma livre, ágil e barata, que podem
influenciar a opinião política de outros usuários que integram suas redes sociais sobre o
tema, o que se coaduna com a reflexão de Gomes (2001). Para a maioria destes
usuários, comunidades como a “Beijos para Feliciano” e a “Feliciano não me
representa” são espaços que facilitam o encontro com pessoas que compartilham de uma
mesma percepção sobre o tema, abrindo caminho para interações e a formação de novas
redes sociais.
A partir destes resultados, consideramos que a polêmica envolvendo a eleição de
Marco Feliciano só alcançou tamanha proporção no cenário político brasileiro por causa
do fluxo de informações possibilitado pela Internet, que facilitou a propagação das
ideias, a interação e a união de esforços de diversos atores, de diferentes regiões do país,
que compartilhavam de um mesmo desejo de impedir a eleição de Marco Feliciano para
a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Esta capacidade de promover encontros
da Internet foi muito requisitada para a realização das passeatas que foram às ruas de
50
diferentes cidades do Brasil, em sua grande parte organizadas por meio da ferramenta de
criação de eventos do Facebook.
Os memes identificados pela frase “Feliciano não me representa”, no caso da
comunidade de mesmo nome, e por imagens de beijos entre casais homoafetivos, caso
da “Beijos para Feliciano”, são manifestações que integram o cotidiano do ciberespaço,
habitualmente vinculados à piadas e brincadeiras, mas que adquirem seriedade e
objetivos políticos no episódio em análise, dando ao movimento LGBT um novo
instrumento para angariar simpatizantes à sua causa.
Por fim, espaços na Internet como as comunidades analisadas representam mais
um lugar de expressão da identidade de resistência do movimento LGBT, identidade
esta que busca combater a opressão que esse grupo social sofre por subverter a ordem
patriarcal preponderante na sociedade, conforme defende Castells (2007). A Internet
amplia os espaços de expressão da identidade de resistência LGBT, o que pode
incentivar o surgimento de uma identidade de projeto, que promova uma verdadeira
transformação social. Se não conseguiram derrubar Marco Feliciano da presidência da
CDGM, as páginas de Facebook contrárias à sua nomeação angariaram mais
simpatizantes à sua luta por igualdade.
51
BIBLIOGRAFIA
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GOMES, Wilson. Opinião política na internet: uma abordagem ética das questões
relativas a censura e liberdade de expressão na comunicação em rede. Apresentado
no X Encontro Anual da Compós, Brasília, 2001.
52
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http://www.redobra.ufba.br/wpcontent/uploads/2013/06/revista_redobra11_virtual.pdf#
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os quadrinhos. 2012. Disponível em
http://www.intercom.org.br/sis/2012/resumos/R7-1263-1.pdf
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http://redefale.blogspot.com.br/2013/03/carta-aberta-as-liderancas-das-igrejas.html
53
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Rio. G1, Agosto, 2013. Disponível em:
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/06/manifestantes-protestam-contra-cura
-gay-durante-mais-de-4-horas-no-rio.html
54
APÊNDICE A
Você está participando de uma pesquisa destinada a analisar o impacto dos sites de
redes sociais como o Facebook no exercício da cidadania. Os resultados serão
apresentados em Trabalho de Conclusão de Curso da pós-graduação em Gestão da
Comunicação em Mídias Digitais do Senac Lapa Scipião.
o Sim
o Não
* Required
Você participou de alguma manifestação de rua contra a nomeação do pastor
Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara? *
o Sim
o Não
o Sim
o Não
55
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
56
A comunidade "Beijos para Feliciano" divulga memes/imagens divertidas que
ajudam a criar simpatia às causas gays *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo Totalmente
Você está participando de uma pesquisa destinada a analisar o impacto dos sites de
redes sociais como o Facebook no exercício da cidadania. Os resultados serão
apresentados em Trabalho de Conclusão de Curso da pós-graduação em Gestão da
Comunicação em Mídias Digitais do Senac Lapa Scipião.
57
o Sim
o Não
* Required
Você participou de alguma manifestação de rua contra a nomeação do pastor
Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara? *
o Sim
o Não
o Sim
o Não
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
58
A comunidade "Feliciano não me representa" me possibilita encontrar pessoas
que compartilham da mesma opinião que eu sobre a nomeação do deputado
Marco Feliciano *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
59
o Concordo
o Concordo totalmente
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo Totalmente
sim 10 99%
5
nã 1 1%
o
60
sim 50 47%
nã 56 53%
o
sim 91 86%
nã 15 14%
o
Discordo totalmente 2 2%
Discordo 1 1%
Sem opinião 4 4%
Concordo 53 50%
61
A comunidade "Feliciano não me representa" me possibilita obter e trocar
informações sobre o caso Feliciano.
Discordo totalmente 0 0%
Discordo 0 0%
Sem opinião 2 2%
Concordo 53 50%
Discordo totalmente 0 0%
Discordo 4 4%
Concordo 50 47%
62
A comunidade "Feliciano não me representa" exerce ativismo político dentro do
Facebook, sem causar impacto fora da internet
Discordo 55 52%
Concordo 7 7%
Concordo totalmente 4 4%
Discordo totalmente 6 6%
Discordo 19 18%
Concordo 38 36%
63
A comunidade "Feliciano não me representa" é um espaço de mobilização de
pessoas contra a nomeação de Feliciano, que pode ter repercussão fora da
Internet
Discordo totalmente 0 0%
Discordo 2 2%
Sem opinião 6 6%
Concordo 62 58%
Discordo totalmente 1 1%
Discordo 9 8%
Sem opinião 6 6%
Concordo 49 46%
64
RESULTADO BEIJOS PARA FELICIANO
Sim 21 99%
7
Nã 2 1%
o
Sim 10 47%
3
Nã 116 53%
o
65
Você compartilha pelo seu perfil do Facebook postagens feitas na comunidade
"Beijos para Feliciano"?
Sim 18 84%
4
Nã 35 16%
o
Discordo totalmente 3 1%
Discordo 12 5%
Sem opinião 10 5%
Concordo 95 43%
66
A comunidade "Beijos para Feliciano" me possibilita obter e trocar informações
sobre o caso Feliciano.
Discordo totalmente 1 0%
Discordo 13 6%
Sem opinião 14 6%
Concordo 12 59%
9
Discordo totalmente 0 0%
Discordo 5 2%
Concordo 10 47%
4
67
A comunidade "Beijos para Feliciano" exerce ativismo político dentro do
Facebook, sem causar impacto fora da internet
Concordo 29 13%
Concordo totalmente 2 1%
Discordo totalmente 4 2%
Discordo 31 14%
Concordo 10 46%
0
68
A comunidade "Beijos para Feliciano" é um espaço de mobilização de pessoas
contra a nomeação de Feliciano, que pode ter repercussão fora da Internet
Discordo totalmente 1 0%
Discordo 9 4%
Sem opinião 14 6%
Concordo 12 56%
3
Discordo totalmente 0 0%
Discordo 7 3%
Sem opinião 8 4%
Concordo 95 43%
69