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Sumário

Introdução 1
Capítulo 1 - Política na era da informação 4
1.1 Debate político no ciberespaço 5
1.2 Um novo espaço para expressão dos atores políticos 6
1.3 Facebook: espaço de encontro 12
Capítulo 2 - A resistência das minorias 18
2.1 Um deputado polêmico na presidência da Comissão de Direitos Humanos 19
2.2 Jogo político elege Feliciano 25
2.3 Identidade de resistência no ciberespaço 27
2.3.1 Beijos para Feliciano e a atuação em rede 30
2.3.2 Feliciano não me representa: um meme político 33
Capítulo 3 - O olhar dos cidadãos 37
3.1 Como os usuários enxergam suas comunidades 38
3.1.1 Engajamento, alcance e influência 39
3.2 As motivações dos usuários 41
3.3 As repercussões das comunidades 44
Considerações finais 49
BIBLIOGRAFIA 52
APÊNDICE................................................................................................................................ 55
Introdução

Presenciamos um cenário de rápidas transformações, incentivadas por uma


verdadeira revolução de costumes provocada pelo advento de novas ferramentas
digitais. Vivemos na Era da Informação, em que o surgimento da comunicação mediada
por computador traz um novo tipo de poder para pessoas que estavam acostumadas a
consumir bem mais do que interagir. Na sociedade em rede que se ergue na atualidade,
receptores se transformam em emissores e as tecnologias digitais permitem não só o
compartilhamento como a ressignificação de informações.
Na Internet, é possível propagar suas próprias ideias, sem, como ressalta Pierre
Lèvy, depender da mediação dos veículos de comunicação da mídia tradicional. Fala-se
o que se deseja, de forma barata, rápida e com chances de alcançar uma ampla audiência
simpática à sua análise ou visão de mundo. A Internet propicia o encontro entre pessoas
que jamais teriam essa oportunidade fora do ciberespaço. A partir do avanço dos sites
de redes sociais, temos a possibilidade de reunir indivíduos que estão distantes
geograficamente, mas são aproximados pelo compartilhamento de interesses, ideias e
convicções semelhantes, através de um fórum, uma página de Facebook, um perfil no
Twitter ou no Instagram.
Este cenário, muito utilizado para o entretenimento, é propício também para a
organização e mobilização de movimentos sociais de resistência, que multiplicam seu
eco e envergadura nestes tempos em que não apenas alguns, mas muitos podem ter voz.
Com a popularização dos sites de redes sociais, acompanhamos a emersão de mais um
palco para a discussão política e exercício da cidadania. Um palco muito mais livre, que
potencializa o alcance das informações e é capaz de atrair grandes públicos em um
piscar de olhos. No Egito, a convocação para uma manifestação feita por uma
comunidade no Facebook foi ponto de partida para uma revolução que derrubou o
presidente do País. No Brasil, as campanhas nos sites de redes sociais pela saída de
Renan Calheiros, político que tem um histórico de denúncias relacionadas à prática de
corrupção, da presidência do Senado Federal já angariaram mais de 1,5 milhões de
assinaturas em petição online hospedada no site Avaaz (www.avaaz.com.br).
Em março de 2013, a eleição do pastor Marco Feliciano, deputado integrante da
bancada do Partido Social Cristão (PSC), para a presidência da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara Federal (CDHM) desencadeou uma série de protestos

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por todo o País, grande parte deles organizado a partir de redes sociais como Twitter e
Facebook. A polêmica em torno da nomeação de Feliciano foi, em grande parte,
fundamentada por publicações consideradas racistas e homofóbicas que o pastor havia
realizado anteriormente acerca de gays e negros em seu perfil no Twitter. Após a
nomeação, o meme inspirado na frase “Marco Feliciano NÃO me representa” ganhou as
redes, e muitos protestos de movimentos sociais contrários ao pastor que saíram
efetivamente às ruas, em diferentes cidades do Brasil, foram organizados a partir de
debates em grupos fechados e páginas de eventos do Facebook.
Ou seja, a Internet, mesmo veículo que Marco Feliciano usou para divulgar suas
ideias - possivelmente para pessoas que têm algum tipo de interesse em suas opiniões,
uma vez que o seguem no Twitter - tem sido utilizada como instrumento de
engajamento por movimentos contrários à sua nomeação, demonstrando que os sites de
redes sociais se tornaram um palco profícuo e fundamental da discussão política
brasileira e exercício da cidadania.
Após a nomeação do pastor para o cargo na CDHM, multiplicaram-se no
Facebook comunidades e grupos de discussão que reúnem pessoas favoráveis e
contrárias aos posicionamentos do deputado Marco Feliciano. Entre elas estão as
comunidades “Feliciano não me representa” e “Beijos para Feliciano”, objetos do
estudo ora proposto e que se manifestam contrárias à permanência do pastor na
presidência da CDHM. Do outro lado, temos grupos e comunidades que apoiam o
pastor, caso da comunidade “Marcos Feliciano me representa, sim” e da fanpage oficial
de Marco Feliciano no Facebook, que existe desde 2012, antes da polêmica envolvendo
sua nomeação, e que já contabiliza mais de 217 mil curtidores
(https://www.facebook.com/PastorMarcoFeliciano).
A partir da polêmica envolvendo a nomeação do pastor Marco Feliciano para a
presidência da CDHM, nos propomos a analisar o papel do ciberespaço como novo
cenário para a realização do debate político e avaliar o seu impacto na disputa por poder
no cenário brasileiro. Autores como Manuel Castells e Pierre Lévy já investigam a
repercussão que a popularização das mídias digitais tem no campo político. Nesta
pesquisa, nos propomos a aliar a compreensão teórica com as opiniões dos atores que
interagem nas redes sociais na Internet. Queremos investigar, por meio de questionários
aplicados aos membros das comunidades “Beijos para Feliciano” e “Feliciano não me
representa”, como os próprios usuários enxergam e apreendem a resistência política que
se estabelece através dos sites de redes sociais. A partir da aplicação de questionários

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estruturados na Escala de Likert, realizaremos uma análise qualitativa e quantitativa dos
objetivos e motivações de membros das comunidades citadas para, desta forma, tentar
contribuir para a compreensão do impacto do uso das redes sociais no cenário político
brasileiro. Recorreremos aos conceitos de identidade de resistência e identidade de
projeto explorados por Manuel Castells, uma vez que, no caso em estudo, as páginas de
web acabam assumindo um papel de defesa da causa do movimento LGBT – sigla para
Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais – grupo que acabou assumindo a linha de
frente na disputa pública com o deputado pastor.
Para a realização da pesquisa, recorremos aos estudos e conceitos apresentados
também por Pierre Lévy, Raquel Recuero, Denis de Mores, André Lemos, Wilson
Gomes e outros autores que já se debruçaram sobre as transformações que o
desenvolvimento da tecnologia da informação e os avanços da web provocaram na
formação de redes sociais na Internet, no exercício da cidadania e na ampliação dos
espaços disponíveis para o debate político.

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Capítulo 1 - Política na era da informação

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1.1 Debate político no ciberespaço

O fim do século XX marca o despertar de uma nova revolução, que viria a


transformar todos os domínios da experiência humana neste planeta. Como afirma
Castells (1999), o novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia
da informação, com avanços progressivos na área de microeletrônica, computação,
telecomunicações e radiodifusão e até da engenharia genética, revolucionou nosso modo
de interagir, trabalhar e conviver. Estamos, de acordo com o autor, presenciando um
momento histórico da mesma importância da Revolução Industrial do século XVIII,
com uma transformação nas bases materiais da nossa economia, sociedade e cultura.
Vivemos, pois, um tempo de rápidas e grandiosas mudanças, que interferem no
modo como nos relacionamos uns com os outros e com o mundo. A Internet nasce e
evolui como um personagem central neste cenário, potencializada pelo surgimento e
popularização da web, a partir de 1994, o que impulsionou a propagação, em diferentes
partes do mundo, da comunicação mediada por computador (CMC). Como destaca
Gomes (2001), neste modelo de comunicação que se desenvolve pela Internet, dois ou
mais indivíduos são ligados pela transmissão de dados através da rede de computadores,
e, sem dispor de grandes investimentos como os necessários para colocar um programa
de TV no ar, por exemplo, passam a gozar de um amplo poder de difusão de
informações. Neste cenário, a qualquer momento, qualquer sujeito pode se tornar
emissor, receptor e vice-versa, produzindo, distribuindo ou apenas repassando
informações para outras pessoas por intermédio da máquina.
Essa forma de comunicação que começou a se estabelecer efetivamente há cerca
de 20 anos vem dinamitando as barreiras geográficas e criando múltiplas dinâmicas de
relações. Por meio do computador, indivíduos das mais diferentes localidades, culturas e
credos passam a compartilhar um mesmo lugar virtual, o ciberespaço, um espaço de
comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores (LÈVY, 2000). Neste
cenário, novidades, ideias, imagens e sons circulam com incrível velocidade e alcance.
Conforme reforça Recuero (2009), o advento da comunicação mediada pelo
computador, muito mais do que apenas facilitar a comunicação entre os indivíduos
transforma profundamente as formas de organização, identidade e conversação da nossa
sociedade. A CMC vai possibilitar a formação de redes sociais na Internet, redes que
conectam não apenas computadores, mas pessoas. Por meio da Internet, torna-se
possível o surgimento de novas e diversificadas conexões entre grupos de atores. São

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pessoas que se encontram no ciberespaço, impulsionadas por interesses comuns, e lá
interagem, estabelecem relações sociais e constroem um novo lugar para troca de
informações, conversação e ampliação de valores.
Com cada vez mais pessoas reunidas e a multiplicação das possibilidades de
interação proporcionadas pelos avanços da tecnologia da informação, o ciberespaço se
apresenta como mais um lugar em que a vida social, de fato, acontece. Da mesma forma
que abriga os encontros entre amigos em sites de redes sociais como o Facebook, os
debates sobre futebol em fóruns online ou diversas trocas econômicas, como a aquisição
da última música da Madonna no iTunes, o ciberespaço também assume o papel de
palco para o embate político de diferentes forças, agrupamentos, pessoas, partidos e
movimentos sociais:

As sociedades mudam através de conflitos e são administradas por


políticos. Uma vez que a Internet está se tornando um meio essencial
de comunicação e organização em todas as esferas da atividade, é
óbvio que também os movimentos sociais e o processo político a
usam, e o farão cada vez mais, como um instrumento privilegiado para
atuar, informar, recrutar, organizar, dominar e contradominar.
(CASTELLS, 2003, pg. 114)

É esta face do espaço de interação aberto pela Internet que nos interessa para a
realização do trabalho ora proposto.

1.2 Um novo espaço para expressão dos atores políticos

Hoje, os sites de redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram reúnem


numerosos perfis e páginas de atores políticos que participam ativamente das disputas
políticas em nossa sociedade. Parlamentares, sindicatos, partidos, candidatos,
organizações não governamentais, movimentos sociais, governos e o cidadão comum
usufruem da estrutura de conexão proporcionada pela Internet para propagar suas ideias,
trocar informações, realizar sua auto-organização e converter mais pessoas às suas
convicções e posicionamentos, entre diversas outras finalidades.
Os atores políticos da atualidade gozam de uma liberdade de expressão e de um
fluxo de informações que não era conhecido antes da popularização da Internet, pois, no
contexto vigente, não estão submetidos às barreiras impostas pelos filtros ideológicos e
políticas editoriais que tradicionalmente guiam as divulgações do mass media, seja em

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veículos impressos, televisão ou rádio. Como destaca Lévy (2002), nos meios de
comunicação de massa da democracia moderna, quem decidia aquilo que iria transpor a
fronteira entre o privado e o público era o jornalista, que controlava o meio de
comunicação, ou aqueles que estavam por trás dele. No ciberespaço, é diferente:

São os próprios agentes, as pessoas, as empresas (e as de notícias


como qualquer outra), as instituições, os movimentos, os partidos, as
associações, os agrupamentos, as comunidades virtuais de toda a
espécie que decidem o que querem publicar na rede. Conforme
sugerimos mais acima, cada qual se torna, simultaneamente, o seu
próprio profissional de relações públicas e o seu próprio jornalista.
Toda a gente faz comunicação (LÉVY, op.cit, pg. 57).

Esta liberdade amplia o poder de atuação e alcance de discursos


contra-hegemônicos, abrindo espaço para um debate político muito mais plural e
diverso. De acordo com Moraes (2000), o caráter descentralizado da comunicação
mediada pelo computador já havia chamado a atenção dos movimentos sociais ainda em
meados da década de 1990, quando entidades como o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), o Greenpeace, o Fórum Nacional pela Democratização dos
Meios de Comunicação, entre outras organizações e movimentos, descobrem no
ciberespaço a possibilidade de difundir suas reivindicações.

A militância on line vem alargar a teia comunicacional planetária,


usufruindo de uma das singularidades do ciberespaço: a capacidade de
disponibilizar, em qualquer espaço-tempo, variadas atividades, formas
e expressões de vida. A cibercultura universaliza as visões de mundo
mais díspares, os modos de organização social mais contrastantes, as
ambições mais difusas, sem favorecer pensamentos únicos ou
domínios por coerção. Trata-se de um âmbito virtual de
conhecimentos múltiplos, que congrega forças, ímpetos e interesses
contraditórios. Com a peculiaridade fundamental — apontada por
Pierre Lévy — de universalizar sem totalizar. O ciberespaço
configura-se como um universal indeterminado, sem controles e
hierarquias aparentes, sem pontos fixos para a veiculação de
informações (MORAES, op.cit.).

E não é apenas a sociedade civil organizada que amplia suas possibilidades de


atuação política por meio do ciberespaço. A Internet dá oportunidade para que novos
grupos se formem e para que novas conexões amplifiquem a voz do cidadão comum.
Castells (2007) destaca que a comunicação eletrônica estimula as formas de
participação política e comunicação horizontal entre os cidadãos. Através da Internet,

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“os cidadãos podem formar, e estão a formar, as suas próprias constelações políticas e
ideológicas, contornando as estruturas já estabelecidas, criando desta forma um campo
político flexível e adaptável” (CASTELLS, 2007, pg. 495).
O dado é que a presença de diferentes atores, com seus discursos em disputa por
atenção, faz do ciberespaço um lugar onde o cidadão ao mesmo tempo em que
influencia também encontra influências para a formação de sua opinião política.
Conforme explicita Gomes (2001), o cidadão usuário da internet passa a ter acesso a
uma diversidade de fontes, entre pessoas privadas, sociedade civil, governo e partidos
que estão, a todo momento, introduzindo insumos informativos na rede a respeito de
questões políticas. A imprensa tradicional continua a ser vista, lida e ouvida, mas,
agora, o cidadão tem muitas outras fontes de informação para considerar.
Gomes (2001) destaca três consequências que podem advir do tráfego da
opinião e da informação políticas que acontecem via Internet. Segundo o autor, a
disputa de discursos políticos que se dá no ciberespaço: a) reforça ou constitui vínculos
civis de concernimento e mobilizações em torno de temas e questões; b) pode diminuir
consideravelmente a invisibilidade de temas e debates no Parlamento para o cidadão que
está conectado à Internet, aumentando a possibilidade de acompanhamento das disputas
sobre a coisa pública; c) permite um tipo particular de engajamento, que não exige
mobilização plena e constante do cidadão, o que estaria mais de acordo com as formas
de cidadania contemporâneas, quais sejam, mais flexíveis e eventuais, menos
doutrinárias e sistêmicas.
No caso do embate político em análise nesta pesquisa, é importante, já neste
momento, traçar um paralelo com os aspectos destacados por Gomes. A nomeação do
deputado Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara dos Deputados ganhou repercussão tanto na mídia tradicional
como em sites de redes sociais como Facebook e Twitter desde que seu nome surgiu
como indicação do seu partido para o cargo, em fevereiro de 2013. Conforme
aprofundaremos no segundo capítulo deste trabalho, a resistência à nomeação do
deputado se fundamentou em declarações controversas que ele havia dado em sua conta
no Twitter, ainda em 2011, a respeito de gays e negros. Em uma de suas publicações,
Feliciano afirmou que "Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é
fato”. Em outro post, no mesmo dia, diria que "a podridão dos sentimentos dos

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homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, a rejeição".1 Ocorre que a CDHM é uma
das comissões permanentes da Câmara dos Deputados voltada justamente para, entre
outras atribuições, cuidar de assuntos relacionados a minorias étnicas e sociais e
investigar denúncias de violações a direitos humanos (CÂMARA, 2013), o que inclui
ofensas a gays e negros. Diante dos fatos, a confirmação da nomeação do deputado
Feliciano para a presidência da Comissão gerou mobilizações não só nas ruas, com
passeatas em diferentes cidades do Brasil, como nos sites de redes sociais, com a
criação de comunidades e grupos no Facebook, por exemplo, para a reunião de pessoas
contrárias à nomeação, o que se coaduna com a primeira consequência apontada por
Gomes. Em uma contraofensiva, outros grupos e comunidades também foram criados
no mesmo Facebook para reunir pessoas que apoiavam a nomeação do deputado.
Convém destacar também que, no dia da eleição de Feliciano para a presidência,
em 7 de março de 2013, o assunto apareceu nos trending topics do Twitter, como um
dos mais comentados do dia, em diferentes momentos, segundo dados computados pela
ferramenta de métricas TrendStory (trendstory.com.br). Isso indica que, enquanto a
nomeação de Feliciano acontecia em Brasília, pessoas de diferentes locais do país
acompanhavam a evolução do caso, discordavam e concordavam de uma decisão que
veio da Câmara dos Deputados por meio de debates na Internet. Importante frisar que,
habitualmente, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara não transita no centro do
debate político nacional, mas o assunto, desde o início, despertou a atenção dos usuários
de populares sites de redes sociais e alcançou notoriedade não só no Twitter, como em
diversos outros sites como Tumblr, Instagram e Facebook, diminuindo assim a
invisibilidade do assunto, outra consequência que Gomes aponta como relacionada ao
embate político que ocorre na Internet.

http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/03/deputado-ve-podridao-em-gays-e-diz-que-africanos-sao-ama
ldicoados.html

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Gráfico 1 – Gráfico do dia 7 de março de 2013 mostra os horários em que o termo “Marco Feliciano”
ocupou os Trending Topics do Brasil no Twitter. Fonte: TrendStory

As mobilizações no Facebook contra a nomeação do pastor, com as diversas


comunidades e grupos que tratam sobre o tema, também apresentam traços da terceira
consequência observada por Gomes. Ao ingressar em uma comunidade contrária à
nomeação do pastor, o usuário demonstra seu posicionamento sobre o tema, mas pode
retornar à página somente quando desejar. Ao lado da comunidade contrária à nomeação
de Feliciano, o usuário do Facebook tem muitas outras, relacionadas a outros assuntos
que também contam com a sua mobilização, mesmo que eventual.
Vale destacar que os debates, discussões e a opinião política que circulam na
Internet não estão limitados ao ciberespaço. Este não é uma esfera divorciada dos
embates sociais concretos (MORAES, 2000). A Internet, com toda a sua agilidade e
enorme fluxo de informação, não vem substituir os outros espaços em que se discute a
coisa pública. O ciberespaço vai, na verdade, ampliar o leque de abrigos para essa
discussão e interagir, influenciando e sendo influenciado, com aqueles que já existiam
antes do seu surgimento.
Castells (2003) defende que, mais do que um instrumento, a Internet é um
componente indispensável do tipo de movimento social que emerge na Era da
Informação. Se as fábricas foram fundamentais para a organização do movimento
operário que marcou a Era Industrial, a Internet é fundamental para o movimento social
do nosso tempo. O autor vai estabelecer algumas características desses movimentos
sociais que surgem na Era da Informação: em primeiro lugar, eles são essencialmente
mobilizados em torno de valores culturais. Abraçam a luta para mudar os códigos de

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significados nas instituições e na prática da sociedade, defendendo ou propondo modos
específicos de vida. Neste aspecto, importante considerar que a resistência a Feliciano e
as mobilizações que brotaram da Internet contra a sua nomeação foram encampadas
especialmente pelo movimento LGBT - sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Transexuais - um movimento que luta para modificar as leis e a visão social acerca da
homossexualidade.
O segundo traço destacado por Castells (2003) como característica dos
movimentos sociais do nosso tempo é que eles precisam preencher o vazio deixado pela
crise das organizações herdadas da Era Industrial. De acordo com o teórico, nós
vivemos uma crise de legitimidade de partidos políticos, sindicatos, entidades da
sociedade civil organizada e do próprio Estado. Afundados em escândalos, os partidos
políticos foram reduzidos a lideranças personalizadas e induzidos a práticas ilícitas para
obtenção de fundos para suas campanhas, perdendo a confiança do público. Perdidos
em meio à burocracia e estrutura replicadas das grandes corporações, os sindicatos
sofrem com a imobilidade e a desconfiança dos cidadãos. As associações cívicas
formais também se mostram em franco declínio. Sem atratividade para a conquista de
novos adeptos, perdem força como instrumentos de engajamento social. Temos ainda a
crise do próprio Estado-nação, que perdeu boa parte do seu poder, diante de um cenário
dominado por fluxos globais, redes de riqueza, informação e poder
transorganizacionais. Neste cenário, as organizações formais, estruturadas e
permanentes estão sendo substituídas por coalizões frouxas, mobilizações
semiespontâneas.

Movimentos emocionais, muitas vezes desencadeados por um evento


de mídia, ou por uma crise de vulto, parecem muitas vezes ser fontes
mais importantes de mudança social que a rotina diária de ONGs
zelosas. A Internet torna-se um meio essencial de expressão e
organização para esses tipos de manifestação, que coincidem numa
dada hora e espaço, provocam seu impacto através do mundo da
mídia, e atuam sobre instituições e organizações (empresas, por
exemplo) por meio das repercussões de seu impacto sobre a opinião
pública. Esses movimentos pretendem conquistar poder sobre a mente,
não sobre o Estado (CASTELLS, op.cit., pg. 117). (grifo nosso).

Aqui, também, podemos apontar mais uma correlação entre a análise feita por
Castells e o movimento de resistência à nomeação do pastor Marco Feliciano para
presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Historicamente comandada por
partidos e parlamentares com discursos vinculados à defesa dos Direitos Humanos, com

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forte prevalência do Partido dos Trabalhadores (PT) no seu comando, em 2013, a
presidência da Comissão foi entregue ao Partido Social Cristão (PSC), do deputado
Marco Feliciano, em razão de um acordo político realizado entre as lideranças dos
partidos que integram a Casa, conforme foi noticiado amplamente por diversos veículos
da imprensa nacional2. É possível considerar que as manifestações que tomaram ruas do
Brasil e sites na Internet contra a nomeação do deputado Feliciano demonstram uma
motivação dos integrantes dessa mobilização em defender seus interesses, uma vez que
os partidos que poderiam defendê-los não cumpriram com sua função.
O terceiro traço destacado por Castells (2003) como dos movimentos sociais que
emergem na Era da Informação está na busca dessas mobilizações pela obtenção de um
caráter global. Diante de um cenário em que o poder funciona em redes globais,
movimentos que querem gerar transformação social precisam pensar localmente e agir
globalmente.
Nossa abordagem nesta pesquisa lança luz sobre o momento em que esses
movimentos tão característicos da Era da Informação encontram em sites de redes
sociais como o Facebook uma plataforma para alavancar sua atuação. Por meio de
páginas e grupos, torna-se possível a coalização de diferentes pessoas em torno de uma
causa comum. Seja esta causa a defesa de direitos das mulheres, dos direitos dos
consumidores ou a saída de um deputado da presidência da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara.

1.3 Facebook: espaço de encontro

Como já dito anteriormente, o advento da comunicação mediada por computador


causa grande impacto na forma como as pessoas se relacionam. A CMC trouxe mais um
impulso para a desterritorialização das relações sociais. Afinal, para interagir pela
Internet, não é necessário compartilhar de uma mesma localidade geográfica com o seu
interlocutor.
Por meio da CMC, torna-se possível o estabelecimento de redes sociais na
Internet. Como esclarece Recuero (2009): “Uma rede social é definida como um

http://www1.folha.uol.com.br/poder/1238710-pastor-pode-assumir-comissao-de-direitos-humanos-da-ca
mara.shtml e http://oglobo.globo.com/pais/feliciano-sobrou-comissao-de-direitos-humanos-8047260
ehttp://www.estadao.com.br/noticias/nacional,bancada-evangelica-da-camara-deve-presidir-comissao-de-
direitos-humanos,1002798,0.htm

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conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e
suas conexões (interações ou laços sociais)”. Neste ponto, é necessário esclarecer que,
muito antes do advento da comunicação mediada por computador, as pessoas já
formavam suas redes sociais, através de interações que estabeleciam entre si, com a
comunidade ao redor na sua vida cotidiana. O ciberespaço passa a ser mais um espaço
em que essas redes se formam.
Na Internet, os atores de uma rede social são os indivíduos que interagem no
ciberespaço por meio de suas páginas, perfis em sites e fóruns, nicknames, entre outros
formatos. Já as conexões consistem nos laços sociais que são formados por meio da
interação mediada pelo computador que ocorre entre esses atores.
Exposta esta breve conceituação, torna-se necessário apontar a distinção
fundamental existente entre redes sociais na Internet e sites de redes sociais. Ainda
segundo Recuero, os sites de redes sociais são os espaços destinados à expressão das
redes sociais na Internet. Estão enquadrados nesta classificação sites como Orkut,
Fotolog, Flickr, MySpace, Twitter e o Facebook, tratando-se este último de objeto da
pesquisa ora proposta. Estes sites dão condições e estímulos para que as interações
aconteçam, eles são os abrigos das redes sociais na Internet.

Embora os sites de redes sociais atuem como suporte para as


interações que constituirão as redes sociais, eles não são, por si, redes
sociais. Eles podem apresentá-las, auxiliar a percebê-las, mas é
importante salientar que são, em si, apenas sistemas. São os atores
sociais, que utilizam essas redes, que constituem essas redes.
(RECUERO, op.cit., pg. 103)

São as pessoas que atuam e estabelecem relações. Elas são os agentes, enquanto
que sites como o Facebook são sistemas que favorecem o encontro e a interação
desterritorializada entre esses atores.
Lançado em 2004, nos Estados Unidos, por estudantes da Universidade de
Harvard, o Facebook passou a contar com uma forte adesão dos brasileiros nos últimos
anos, chegando ao número de 76 milhões de cadastrados no País em junho de 2013,
segundo dados divulgados pelo escritório do Facebook no Brasil (SIBARAI, 2013). Os
brasileiros fazem parte de um total de 1,15 bilhão de pessoas que utilizam o site de rede
social em todo o mundo (FACEBOOK, 2013).
Ao definir sua missão, o Facebook afirma que: “As pessoas usam o Facebook
para ficar conectadas com amigos e familiares, para descobrir o que está acontecendo no

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mundo e para compartilhar e expressar o que importa para elas.” (FACEBOOK, 2013)
O site se estrutura por meio de perfis de usuários, páginas e grupos. Pessoas comuns
ingressam no site por meio da criação de uma conta individual, onde sinalizam seu
nome e e-mail e passam a contar com um perfil, que é sua representação para os outros
integrantes da rede, e diferentes funcionalidades que lhe permitem interagir com outros
usuários, como chats reservados, endossamento de publicações por meio do uso do
botão curtir, compartilhamento de conteúdos e a criação e uso de aplicativos, entre
diversos outros estímulos à interação entre os usuários.
As páginas, chamadas originalmente de fanpages, são os espaços do Facebook
reservados para empresas, organizações, instituições, marcas ou personalidades
conhecidas para que compartilhem suas histórias e se conectem com as pessoas, seus
fãs, apoiadores ou consumidores. Quando uma página não representa oficialmente uma
organização ou celebridade, ou tem por objetivo tratar sobre algum tema específico, ela
ganha o nome de “página de comunidade” ou “página de causa”. Existem páginas de
comunidades sobre os mais variados assuntos no Facebook, que vão desde times de
futebol até hábitos alimentares. As páginas de causa são destinadas à reunião de pessoas
vinculadas a algum movimento ou propósito. A política ganha representação nesses
espaços, com páginas de comunidades e páginas de causa voltadas para o encontro de
pessoas contrárias ou favoráveis a determinado partido político ou que queiram tratar de
assuntos relacionados ao movimento feminista, movimento gay, movimento de defesa
ambiental, entre tantos outros. No que diz respeito diretamente a esta pesquisa, tanto a
“Beijos para Feliciano” como a “Feliciano não me representa” são comunidades no
Facebook. São os administradores de cada comunidade que determinam o que será
publicado naquela página, os usuários do Facebook que ingressam nessas comunidades
podem interagir com o conteúdo disponibilizado pelos administradores daquele espaço,
curtindo links, imagens ou postagens, compartilhando no seu próprio perfil ou
utilizando as caixas de comentários, o que lhes possibilita interagir também com outros
usuários da comunidade.
Já os grupos no Facebook são espaços dentro do site destinados à interação de
pequenos grupos de usuários, para que as pessoas possam se comunicar sobre algum
interesse comum. Dentro de um grupo, todos os participantes podem publicar conteúdo,
não só o administrador. Entre outras funcionalidades, há a ferramenta para criação de
eventos. A página de evento dá a possibilidade de seu administrador convidar outros
perfis de usuários na rede social para um evento, com data e local estabelecido e

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possibilita que cada convidado também envie o convite para o perfil de outras pessoas,
criando um efeito cascata.
Todas essas funcionalidades e ferramentas oferecidas pelo Facebook fizeram
com o que o site tivesse participação no surgimento de algumas mobilizações de grande
repercussão e consequências em diferentes locais do mundo. Muitos analistas
(KANDIL, 2011; CASTELLS, 2011) e até veículos da mídia tradicional apontam uma
página no Facebook como importante ponto de partida para a mobilização que provocou
a renúncia do ditador egípcio Hosni Mubarak, acuado por manifestações que reuniram
milhares de pessoas na Praça Tahir, na cidade do Cairo, nos primeiros meses de 2011. A
participação do Facebook nesse movimento começa ainda em 2010, quando o violento
assassinato do jovem Khaled Said por policiais do regime de Hosni Mubarak motivou a
criação de um grupo no Facebook intitulado “We are all Khaled Said”. O jovem foi
espancado e morto porque teria divulgado um vídeo em que uma dupla de policiais
aparecia traficando drogas. O grupo no Facebook incentivava que seus participantes
utilizassem o espaço para denunciar outras violências e arbitrariedades cometidas pelo
regime. Meses depois, em janeiro de 2011, a página convocaria seus usuários, que já
ultrapassavam o número de 100 mil, a participarem de uma manifestação contra a
arbitrariedade policial, na Praça Tahir. Motivadas pela convocação da comunidade e
empolgadas com a queda, dias antes, do ditador Ben Ali, na Tunísia, cerca de 20 mil
egípcios foram para a praça (KANDIL, 2011). Os protestos persistiram pelos dias
seguintes, com cada vez mais pessoas. Era o início de um movimento que culminaria na
queda do ditador Mubarak, em 11 de fevereiro de 2011. Castells (2011) destaca que não
se pode afirmar que a revolução no Egito foi feita pela Internet, mas sem a Internet esta
revolução não teria acontecido. Havia insatisfação do povo egípcio e o desejo de
mudança, isso não foi criado pela Internet, mas, para Castells, as redes sociais como o
Facebook foram as plataformas de mobilização, coordenação, solidariedade e de
popularização do objetivo de derrubar Mubarak.
Outro movimento, de magnitude e objetivos diferentes daqueles que motivaram
a revolução no Egito, mas que também pode exemplificar o papel do Facebook na
mobilização de indivíduos em favor de uma causa é a Marcha das Vadias – Slut Walk,
no original em inglês –, um movimento contra a opressão das mulheres e pelo direito de
cada uma se vestir como desejar. A primeira marcha foi realizada na cidade de Toronto,
no Canadá, em abril de 2011, em resposta à declaração de um representante da polícia
local que, durante uma palestra, afirmou que “mulheres não devem se vestir como

15
‘sluts’ para não serem vitimizadas”, ou seja, que mulheres não devem sair na rua
vestidas como “vadias” para não correrem o risco de serem estupradas (HELENE,
2013). Ofendidas com a fala do policial, um grupo de mulheres resolveu protestar e,
para isso, criou uma página de evento no Facebook convocando para a Slut Walk. Vários
perfis de usuários do Facebook aderiram ao convite e o resultado foi a reunião de 4 mil
pessoas na marcha do Canadá e a propagação do movimento por diferentes cidades do
mundo. No Brasil, a primeira marcha aconteceu em 4 de junho de 2011, também
organizada pelo Facebook, e segue sendo promovida em diversas cidades do país.
Recentemente, o Facebook também foi utilizado pelos organizadores do
Movimento Passe Livre (MPL), nas convocações para os protestos contra o aumento da
passagem de ônibus na cidade de São Paulo, que, posteriormente, culminaram nas
grandes mobilizações de junho de 2013, que levaram milhões de brasileiros para as ruas
3
por todo o País. Na página do MPL no Facebook que foram divulgados os eventos
informando quando e onde ocorreriam mobilizações na cidade de São Paulo.

FIGURA 1. Página do Movimento Passe Livre convoca manifestantes para mais um ato contra o aumento
da passagem.

A nomeação do deputado Marco Feliciano para a presidência da CDHM também


gerou repercussões no Facebook. Mesmo após a confirmação da permanência dele no
cargo, uma busca no site de rede social aponta a existência, em setembro de 2013, de
mais de 70 grupos apoiando ou questionando a sua nomeação. Na época de sua eleição
para a função, em março de 2013, as ferramentas do Facebook foram utilizadas para

3
(https://www.facebook.com/passelivresp)

16
criação de páginas de eventos que convocaram atos em todo o país, e até em cidades do
exterior como Buenos Aires e São Francisco, contra a permanência do deputado na
presidência da Comissão.

FIGURA 2. Página de evento no Facebook para convocação de ato contra nomeação de Feliciano

Após a eleição do pastor, surgiram no site as páginas “Feliciano não me


representa” e a “Beijos para Feliciano”, as duas comunidades que mais reúnem perfis de
usuários contrários à nomeação de Marco Feliciano dentro do Facebook. O deputado
também não está alheio aos sites de redes sociais. Mantém perfil ativo no Twitter
(twitter.com/marcofeliciano), contabilizando mais de 256 mil seguidores, em setembro de
2013, e uma fanpage no Facebook (facebook.com/pastormarcofeliciano), que reúne
mais de 216 mil fãs do deputado, que além de pastor é apresentador de um programa de
TV.
Este embate, que se dá dentro do Facebook entre o pastor e os movimentos
contrários à sua nomeação, a resistência promovida pelas páginas “Feliciano não me
representa” e “Beijos para Feliciano”, as motivações de seus apoiadores e suas
repercussões no cenário político são os aspectos que nos propomos a aprofundar nesta
pesquisa.

17
Capítulo 2 - A resistência das minorias

18
2.1 Um deputado polêmico na presidência da Comissão de Direitos Humanos

Criada em 1995, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara é uma


das 21 comissões permanentes da Câmara dos Deputados. Cada comissão é um órgão
técnico constituído por deputados e deputadas com a função de discutir e votar
propostas de lei que são apresentadas à Câmara. As comissões emitem opiniões técnicas
sobre os assuntos, por meio de pareceres, antes que eles sejam levados ao plenário.
(CÂMARA, 2013). A composição dessas comissões é renovada a cada ano ou sessão
legislativa, o que significa que há uma alternância de parlamentares integrando o órgão
e ocupando a sua presidência.
A página da CDHM no site da Câmara especifica suas atribuições
constitucionais e regimentais:

Receber, avaliar e investigar denúncias de violações de direitos


humanos; discutir e votar propostas legislativas relativas à sua área
temática; fiscalizar e acompanhar a execução de programas
governamentais do setor; colaborar com entidades
não-governamentais; realizar pesquisas e estudos relativos à situação
dos direitos humanos no Brasil e no mundo, inclusive para efeito de
divulgação pública e fornecimento de subsídios para as demais
Comissões da Casa; além de cuidar dos assuntos referentes às
minorias étnicas e sociais, especialmente aos índios e às comunidades
indígenas, a preservação e proteção das culturas populares e étnicas do
País (CÂMARA, op.cit.).

Atuando na defesa, promoção e educação em direitos humanos, a CDHM recebe


uma média de 320 denúncias de violações de direitos humanos anualmente. A maioria
delas diz respeito a ofensas aos direitos de presos e detenções arbitrárias, seguida por
violência policial e violência no campo. Mas, nos últimos anos, a Comissão tem
percebido o crescimento de denúncias de violações atingindo grupos vulneráveis como
indígenas, migrantes, homossexuais e afrodescendentes (CÂMARA, op.cit.).
Entre as comissões permanentes, a CDHM não está no grupo das que
habitualmente chamam atenção da mídia ou despertam grande disputa por participação
entre os congressistas. Conforme esclarece Miranda (2010), há uma hierarquia no
sistema de comissões da Câmara, que se estrutura em torno da possibilidade de
conquista de visibilidade e poder político. Integrar a Comissão de Constituição e Justiça
ou a Comissão de Finanças e Tributação, que têm o poder de engavetar proposições, é
muito mais interessante para os parlamentares do que integrar comissões temáticas

19
como a de Direitos Humanos e Minorias, que tem um poder de interferência política
menor.
Mas, no início de 2013, a até então pouco visada Comissão de Direitos Humanos
passou a despertar grande repercussão não só no Congresso, como na mídia e na
sociedade em geral. Tudo começou quando o Partido Social Cristão (PSC) recebeu o
direito de apontar um nome para comandar a CDHM e sinalizou como uma de suas
possíveis indicações a do deputado federal Marco Antônio Feliciano. Parlamentar em
primeiro mandato, Marco Feliciano é também pastor evangélico, cantor gospel e
presidente fundador da igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, que tem
sede em Orlândia, sua cidade natal, localizada no interior de São Paulo. A igreja está
presente em outras onze cidades, nos estados de São Paulo e Minas Gerais
(CATEDRAL DO AVIVAMENTO, 2013).
Eleito quando somava 38 anos de idade, Feliciano envolveu-se em uma
polêmica com movimentos que atuam na defesa de minorias logo em seus primeiros
meses de mandato. Em 31 de março de 2011, o deputado utilizou a página de seu perfil
pessoal no Twitter para expressar sua opinião sobre os problemas sociais e econômicos
enfrentados pelo continente africano. O deputado afirmou que “A maldição q Noe lança
sobre seu neto, canaã, respinga sobre continente africano, dai a fome, pestes, doenças,
guerras étnicas!”. Questionado por usuários do Twitter sobre sua publicação, ele reitera
o posicionamento em um post posterior. Afirma Feliciano: “Africanos descendem de
ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato. O motivo da maldição é a polêmica”.
No mesmo dia, o pastor iniciaria polêmica com outra minoria, agora com o
público LGBT. Feliciano publicou, também em seu perfil no microblog, que “A
podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam ao ódio, ao crime, à rejeição”. Após
as publicações, o deputado foi acusado de ser racista e homofóbico por usuários do
Twitter e por movimentos que atuam na defesa de negros e gays. Ele foi destinatário,
inclusive, de uma nota de repúdio da Secretaria de Políticas para Mulheres (2011) do
governo federal.

20
FIGURA 3. Perfil de Marco Feliciano no Twitter em 2011 fala sobre maldição do continente africano.
Fonte: G1

À época, quando questionado por repórter do portal G1 sobre a polêmica


envolvendo suas postagens, o pastor declarou que suas afirmações sobre o continente
africano não seriam racistas, mas “puramente teológicas”. Sobre homossexuais,
Feliciano (2011) disse à mesma repórter que “Não prego o ódio, mas não aceito”. As
publicações feitas em 2011 continuaram repercutindo em 2013, culminando com o
envio, pelo procurador geral da República de um pedido de abertura de processo
criminal contra o deputado por discriminação de homossexuais no Supremo Tribunal
Federal (STF).
Quando, dois anos depois do desgaste com tantos setores da opinião pública, o
nome de Marco Feliciano surgiu como indicação do PSC para assumir a presidência da
CDHM, uma entidade que, entre outras atribuições, acolhe denúncias de ofensas contra
homossexuais e negros, a reação veio de diferentes lados. Deputado federal pelo Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL) e militante gay, Jean Wyllys publicou artigo no Jornal
Folha de S. Paulo em 06 de março de 2013, um dia antes da confirmação da eleição de
Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos, em que questiona a
nomeação com base nos posicionamentos polêmicos do pastor:

Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um


deputado que disse que o problema da África negra é "espiritual"

21
porque "os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por
Noé", revivendo uma interpretação distorcida e racista da Bíblia, que
já foi usada no passado para justificar a escravidão dos negros? Como
pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um
deputado que se referiu à Aids como "o câncer gay"? Um deputado
que defende um projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de
Psicologia a aceitar supostas "terapias de reversão da
homossexualidade" anticientíficas e baseadas em preconceitos.
(WYLLYS, 2013)

FIGURA 4. Feliciano fala sobre homossexualidade em seu perfil no Twitter

Na mesma ocasião, Marco Feliciano também teve artigo publicado no Jornal, em


que defende-se das acusações de movimentos contrários à sua eleição alegando a
existência de uma “ditadura gay”.

Sobre homossexuais, minha posição é mais tolerante do que se pode


imaginar. Como cristão, aprendi no Evangelho que somos todos
criaturas de Deus. Nunca me dirigi a nenhum grupo de pessoas com
desrespeito. Apenas ensino o que aprendi na Bíblia, que não aprova a
relação sexual nem o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.
Fora isso, a salvação está ao alcance de todos. Essa é a minha fé --só
prego o amor e o perdão. No entanto, esses militantes GLBTT rotulam
como homofóbica qualquer pessoa que discordar de suas posições.
Acusam de incitação à violência, o que qualquer pessoa isenta sabe
que não é verdade. Mas, jogada ao vento, essa mentira causa estragos
à imagem do acusado perante a opinião publica. Vivemos uma
ditadura gay (FELICIANO, 2013).

22
A polêmica que ganhou os veículos de grande mídia repercutiria também na
Internet e chegaria às ruas. Ainda em 28 de fevereiro de 2013, quando o PSC sinalizou
o nome do pastor como possível indicação para ocupar o cargo, foi criada uma petição
online sobre o tema no site Avaaz, plataforma online que busca facilitar o engajamento
de pessoas em diferentes causas sociais e políticas. Direcionada aos deputados federais,
a petição requisita a “Imediata destituição do Pr. Marco Feliciano da Presidência da
Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal”. Em outubro de 2013, a petição
ainda permanecia no ar e contava com mais de 555 mil assinaturas.

FIGURA 5. Petição online contra a nomeação de Feliciano. Fonte: Avaaz

Em 06 de março de 2013, um dia antes de sua eleição para a presidência da


comissão, o nome de Marco Feliciano surgia nos Trending Topics Brasil, como um dos
dez temas mais comentados do país no Twitter, rede social que possui mais de 30
milhões de perfis no Brasil de um total que supera os 200 milhões em todo o mundo.
Em 20 de março de 2013, ápice dos protestos contra a permanência do pastor na
presidência do órgão, a hashtag #FelicianoPedePraSair já figurava nos Trending Topics
do mundo, como um dos assuntos mais comentados do momento em toda a rede social,
conforme dados computados pela ferramenta de métricas TrendStory.

23
Gráfico 2. #FelicianoPedepraSair nos Trending Topics do mundo, em 20 de março de 2013. Fonte:
TrendStory

As manifestações contrárias a Feliciano transbordaram das páginas da web e


ganharam as ruas de diferentes cidades do Brasil. No fim de semana dos dias 9 e 10 de
março de 2013, várias passeatas foram para as ruas do país4, em sua maioria, reunindo
algumas centenas de pessoas em cada local. Muitas dessas manifestações foram
convocadas por meio de páginas de eventos no Facebook. O evento criado para 9 de
março em São Paulo lista links para convocações semelhantes em outras 12 cidades,
entre elas Buenos Aires e Londres.5 As manifestações seguiram pelo mês de março,
tanto que a página de eventos criada para a manifestação 16 de março em São Paulo, já
listava eventos convocados para outras 29 cidades, incluindo agora San Francisco e
Paris.6
Alguns setores da sociedade optaram por expor formalmente o seu repúdio à
nomeação do deputado Marco Feliciano. Em 11 de março, foi divulgada uma carta
aberta assinada por pastores e representantes de diferentes denominações da igreja
evangélica no Brasil. No documento, as lideranças evangélicas propõem a indicação de
um novo nome para a cadeira de presidente da CDHM.

A Igreja Evangélica brasileira experimenta um momento singular, com


a enorme responsabilidade de ter vários parlamentares atuando na
CDHM que foram apoiados oficialmente por diferentes
denominações, situação que abre a possibilidade de que - caso haja

http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/03/grupos-protestam-contra-deputado-pastor-e-renan-calheiros-
em-brasiliax.html e
5
https://www.facebook.com/events/496590727072330/
6
https://www.facebook.com/events/340454419387589/

24
mudanças na presidência da comissão e uma postura condizente com a
função - seja dada uma importante contribuição ao campo dos Direitos
Humanos no País. Para tanto, é fundamental que o clima de conflito e
mobilizações contrárias à nova presidência sejam dissipados. Por essa
razão, redigimos esta carta como um apelo, na esperança de que os
líderes das Igrejas considerem orientar seus fiéis que atuam como
parlamentares - que elegeram a nova composição da Comissão -, para
que atuem na resolução deste conflito (REDE FALE, 2013).

No Rio de Janeiro, artistas conhecidos no cenário cultural brasileiro, como


Caetano Veloso, Wagner Moura e Marieta Severo também assinaram manifesto contra a
nomeação do pastor direcionado ao presidente da Câmara dos Deputados, deputado
Henrique Alves, em 25 de março7. No Congresso, parlamentares contrários à nomeação
criaram a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos
(https://www.facebook.com/FrenteDireitosHumanos), na tentativa de fortalecer uma
instância paralela para a defesa dos direitos humanos e de rivalizar com o poder político
que Feliciano poderia exercer na presidência da comissão temática.
Mas, mesmo com toda a pressão midiática e popular, Marco Feliciano conseguiu
permanecer no cargo, com participação em todas as reuniões deliberativas realizadas na
Comissão desde a sua nomeação, conforme as atas que constam no site da CDHM.
Supõe considerar que sua permanência foi possível diante do jogo de trocas políticas e
acordos partidários que prevalece na Câmara de Deputados e no Congresso Nacional
como um todo.

2.2 Jogo político elege Feliciano

A indicação do deputado pastor Marco Feliciano para a presidência da Comissão


de Direitos Humanos e Minorias foi resultado de um acordo político entre lideranças
partidárias daquela Casa.
O Regimento Interno da Câmara dos Deputados (1989) estabelece que a
definição dos membros de cada comissão é feita pelo Colégio de Líderes, composto
pelos líderes dos partidos mais representativos da Câmara. Cada Líder indica quais
parlamentares do seu partido vão integrar quais comissões permanentes, respeitando-se
na distribuição de vagas, no que for possível, a representação proporcional dos partidos

http://jeanwyllys.com.br/wp/manifesto-de-artistas-cobra-saida-de-marco-feliciano-da-presidencia-da-com
issao-de-direitos-humanos-e-minorias-da-camara-dos-deputados

25
e dos Blocos Parlamentares que participam da Casa. Nesta composição, os partidos que
têm maior número de parlamentares têm preferência na escolha das comissões que
desejam liderar. Conforme esclarece Miranda (2010), de modo geral, é prerrogativa dos
líderes partidários nomear, assim como substituir, os membros de uma comissão. Já a
eleição do presidente de cada comissão se dá pelos votos de seus membros titulares. O
regimento não prevê uma indicação prévia de nomes para presidência por parte das
lideranças, entretanto, na prática, há participação ativa dos líderes nessa seleção.

Estudos sobre a constituição das comissões mostram que a regra da


proporcionalidade e os acordos entre as lideranças vigoram
efetivamente na distribuição das presidências nas duas Casas
legislativas. Esses acordos têm início, frequentemente, com a
formação de blocos de partidos antes da distribuição dos cargos, o que
permite a repartição das presidências das comissões mais valorizadas
entre os partidos do bloco majoritário (MIRANDA, op.cit., pg. 204).

No caso da eleição de Feliciano, o PT, partido que comanda o Poder Executivo e


detém a maior bancada da Câmara 8, foi acusado por movimentos contrários à
nomeação do pastor de ter facilitado o caminho para a eleição de Feliciano.
Historicamente vinculado à Comissão de Direitos Humanos e Minorias – foi um
deputado do partido, Nilmário Miranda, o primeiro a presidir a CDHM e o deputado
Domingos Dutra, também petista, era o presidente imediatamente anterior a Feliciano –,
o Partido dos Trabalhadores poderia optar por comandar a Comissão de Direitos
Humanos, mas abriu mão da comissão temática para presidir outros órgãos, quais sejam,
a Comissão de Seguridade Social e Família, a Comissão de Relações Exteriores e a
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, esta última, a maior da Casa e única
onde todos os projetos são analisados (CÂMARA, 2013).
Dentro do acordo de lideranças, a indicação do comando da CDHM coube então
ao PSC, partido com uma bancada de 14 deputados que integrava a base de apoio ao
Governo Federal. Foi o líder do PSC, o deputado André Moura, que indicou o deputado
pastor Marco Feliciano para a função. Em entrevista ao site do O Globo, em 06 de abril
de 2013, Marco Feliciano escancara o jogo político que o alçou ao posto de presidente
da CDHM:

O combinado aqui na Casa, o acertado com o governo, era que o nosso


partido ia ficar com outra comissão, a de Fiscalização. Era um acordo
com o PT e acordo nessa Casa se quebra. Sobrou a Comissão de
8
http://www.camara.gov.br/Internet/Deputado/bancada.asp

26
Direitos Humanos, que caiu no colo do PSC. O PT disse que o PSC
não faria certo se me indicasse. Meu partido achou uma petulância
eles quererem mandar na indicação. E aí o partido analisou todo o meu
perfil (FELICIANO, 2013b).

Político que tomou a frente do movimento contrário à nomeação de Marco


Feliciano na Câmara, o deputado Jean Wyllys responsabilizou diretamente o PT pela
indicação do deputado pastor Marco Feliciano em publicação feita em seu perfil no
Facebook, em 01 de março de 2013:

Já estava arrasado com o simples fato de a presidência da CDHM ter


ido para o PSC porque o PT abriu mão dela por interesses outros. Mas
ainda tinha esperança de que um quadro menos fundamentalista,
homofóbico e racista que Marco Feliciano fosse indicado. O fato de
Marco Feliciano estar na presidência da CDHM descaracteriza a
comissão, mata sua essência e compromete sua história. Sua chegada à
CDHM pode ser imputada, sim, ao PT, que abriu mão
deliberadamente da comissão e sequer articulou partido mais afim.
(WYLLYS, 2013, no Facebook)9.

O acordo partidário prevaleceu sobre todas as pressões e manteve Marco


Feliciano no cargo. Ele não ficou sozinho. Segunda maior bancada da Câmara, o PMDB
abriu mão das quatro cadeiras a que teria direito na CDHM, duas de titular e duas de
suplente, em favor de deputados do PSC, também seguindo o estabelecido no acordo de
lideranças. O PSC passou a acumular ainda a vice-presidência da Comissão, com a
deputada Antônia Lúcia.

2.3 Identidade de resistência no ciberespaço

Mesmo com a confirmação da permanência de Marco Feliciano na presidência


da CDHM, as mobilizações contrárias ao deputado prosseguiram. Ganharam novo
impulso durante as manifestações que tomaram as ruas do Brasil em junho de 2013,
mesmo mês em que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, já comandada por
Feliciano, colocou em votação o polêmico projeto de decreto legislativo 234/11, mais
conhecido como projeto da “cura gay”. O PDC 234/11, de autoria do deputado João
Campos, do PSDB, propunha a sustação do art. 3º e do art. 4º da Resolução do
Conselho Federal de Psicologia que proíbem os psicólogos de propor tratamento e cura
da homossexualidade, uma vez que a Organização Mundial de Saúde não classifica a

9
https://www.facebook.com/jean.wyllys/posts/496442470403765

27
orientação sexual como doença. Sob a liderança de Marco Feliciano, a CDHM aprovou,
em 18 de junho de 2013, o polêmico projeto, que ainda precisaria seguir outros trâmites
antes da votação em plenário, mas acabou arquivado na Câmara, em 02 de julho
(ODILLA; NUBLAT; FALCÃO, 2013). Antes do arquivamento, a militância LGBT foi
às ruas contra o projeto em diferentes cidades do Brasil, reunindo 4 mil pessoas em São
Paulo, em 21 de junho de 2013 (NOVAES, 2013), e mil pessoas no Rio de Janeiro, em
28 de junho de 2013 (SOUZA, 2013).
Em paralelo às manifestações de rua iniciadas ainda no mês de março, os sites de
redes sociais também acolheram a resistência à nomeação do deputado Marco Feliciano.
Duas comunidades sobre o tema se sobressaíram no Facebook: a comunidade “Beijos
para Feliciano”, que contabilizava 38.700 membros em setembro de 2013, e a
“Feliciano não me representa”, que contabilizava 24 mil membros no mesmo período.
Nestes espaços, os atores contrários à nomeação de Feliciano encontram um lugar para a
interação com pessoas que compartilham de um mesmo posicionamento em relação ao
deputado e são convidados a interagir com o envio de suas próprias contribuições para a
atualização das comunidades.
Apesar de a nomeação de Marco Feliciano ter gerado reações de diferentes
setores da sociedade, percebe-se um recrudescimento dessa resistência entre o
movimento LGBT, que acabou assumindo a linha de frente da trincheira contra o
deputado pastor. Esse protagonismo do movimento LGBT está refletido também nas
duas comunidades ora analisadas. A “Beijos para Feliciano” tem como proposta inicial
a divulgação de fotos de beijos entre casais homoafetivos como forma de manifestar a
sua defesa do amor livre. Já a “Feliciano não me representa” apesar de diversificar sua
atuação, não dando vasão somente à causa LGBT, expõe em sua descrição que teve
como inspiração para sua criação o projeto #eusougay, iniciativa virtual contra a
homofobia que, por meio de um blog, reuniu imagens de diferentes pessoas,
independente de sua orientação sexual, empunhando a frase #eusougay, como um
manifesto contra a violência e o preconceito que persegue esse público.
Castells (2003) destaca que, na sociedade em rede, os movimentos sociais e os
processos políticos usarão, cada vez mais, a Internet como um instrumento para
informar e mobilizar. Entendemos que as comunidades no Facebook Beijos para
Feliciano e Feliciano não me representa estão inseridas neste contexto, assumindo um
papel de representação da resistência de grupos minoritários dentro do embate político
que se formou em torno da decisão da Câmara de nomear um deputado notoriamente

28
contrário às demandas do movimento LGBT para a presidência de um órgão que
deveria acolher esse público.
Como já mencionado no primeiro capítulo e retomado agora, a causa LGBT e a
maneira como ela se expressa na Internet, não só nas comunidades analisadas como em
outras esferas, conectam-se com o exame de Castells sobre os movimentos sociais na
Era da Informação, que lutam para mudar os códigos de significado nas instituições e na
prática da sociedade a partir da defesa de suas identidades culturais. Em sua obra “O
Poder da Identidade” Castells (2007) propõe três formas e origens de construção de
identidade. De acordo com o autor, haveria a identidade legitimadora, que é fortalecida
pelas instituições dominantes da sociedade com o objetivo de expandir sua dominação
sobre os outros atores sociais; a identidade de resistência, criada por atores que se
encontram em posições desvalorizadas ou estigmatizadas pela lógica da dominação; e a
identidade de projeto, que se apresenta quando os atores sociais conseguem construir
uma nova identidade que redefine a sua posição na sociedade. Para o autor, nesta última
categoria encontra-se, por exemplo, o movimento feminista, que conseguiu romper com
as barreiras da identidade legitimadora do patriarcalismo para redefinir o espaço da
mulher na sociedade, transformando toda a estrutura social.
Nada impede que uma identidade que começa como resistência torne-se
identidade de projeto ou mesmo legitimadora, dependendo das evoluções e revoluções
sociais. Neste aspecto, convém classificar o movimento LGBT dentro da categoria de
identidade de resistência, uma vez que este grupo sofre perseguição e preconceito por
parte da sociedade e, para proteger-se, cria suas próprias trincheiras de resistência e
sobrevivência, com base em princípios diferentes dos que permeiam as instituições
sociais. Se a sociedade é baseada na família patriarcal, o movimento LGBT vai
justamente questionar esse modelo. De acordo com Castells (2007, pg.6), a construção
da identidade de resistência leva à formação de comunidades:

É provável que seja esse o tipo mais importante de construção de


identidade na nossa sociedade. Ela dá origem a formas de resistência
coletiva diante de uma opressão que, de contrário, não seria
suportável, em geral com base em identidades que, aparentemente,
foram definidas com clareza pela história, geografia ou biologia,
facilitando assim a “essência” dos limites da resistência.

Compreendemos, pois, que as mobilizações dos movimentos LGBT, sejam em


beijaços e passeatas contrárias à nomeação de um deputado para a presidência da

29
CDHM, sejam em comunidades no Facebook, hashtags no Twitter ou pichações nos
muros da cidade são manifestações dessa identidade de resistência construída. Para
Castells (2003; 2007), na Era da Informação, essa identidade de resistência é
fundamental para o processo de transformação social e o despertar de identidades de
projeto. Isto porque, com a falência das instituições herdadas da modernidade, a crise
dos partidos políticos, dos sindicatos e do próprio Estado, é na resistência comunal que
se poderia encontrar combustível para a transformação social.
Para resistir, a comunicação de valores e a mobilização são fundamentais. Esses
movimentos vão se formar então, em torno de sistemas de comunicação como a
Internet. Pois será por meio deles que conseguirão alcançar atores interessados em
aderir aos seus valores e, desta forma, atingir a consciência da sociedade como um todo.
(CASTELLS, 2003).
Neste contexto, as comunidades Beijos para Feliciano e Feliciano não me
representa são analisadas como possíveis instrumentos de expressão da identidade de
resistência do movimento LGBT, queremos compreender de que maneira esses espaços
assumem uma função de mobilização e conscientização no embate político que se
estabeleceu entre esses atores e a atuação não só do deputado Marco Feliciano, como da
Câmara dos Deputados, que, por meio de suas manobras políticas, encaminhou o
deputado para a presidência da CDHM. Diante do descaso da Câmara, enquanto
instituição, com os seus interesses, o movimento LGBT assume as rédeas da resistência,
“optam por estabelecer a sua autonomia na própria resistência comunitária enquanto não
têm força suficiente para tomar de assalto as instituições opressoras às quais se opõem”
(CASTELLS, 2007, pg. 501).

2.3.1 Beijos para Feliciano e a atuação em rede

A Beijos para Feliciano é a maior comunidade, no Facebook, especificamente


contrária aos posicionamentos do deputado pastor Marco Feliciano. Com mais de 38 mil
membros, a comunidade foi criada em 26 de março de 2013, mês da nomeação do
deputado para a presidência da CDHM e, a princípio, estabeleceu como foco de suas
postagens as divulgações de imagens de beijos entre casais homoafetivos, gays e
lésbicas, manifestando, desta forma, a defesa do amor livre. As imagens podem ser
enviadas pelos próprios membros, por meio de e-mail divulgado na descrição da

30
comunidade, e são postadas pelo administrador da página, mas algumas imagens
históricas ou publicadas na mídia tradicional também são utilizadas para alimentar o
espaço. Imagens de casais heterossexuais solidários à causa LGBT foram aceitas e
publicadas, mas são divulgadas em menor quantidade. Essas imagens de beijos, com
mensagens contrárias ao pastor Marco Feliciano, repassadas para a página por diferentes
membros podem ser entendidas como memes, conforme ainda aprofundaremos neste
trabalho.

FIGURA 6. Página da comunidade “Beijos para Feliciano” no Facebook

Com o passar do tempo, as fotos de casais divulgadas na comunidade passaram a


dividir cada vez mais espaço com notícias, campanhas e outras informações
relacionadas à causa LGBT em geral, não apenas vinculada às ações da Comissão de
Direitos Humanos ou ao pastor Marco Feliciano. Importante neste ponto destacar que a
comunidade “Beijos para Feliciano” não atua isoladamente. Enquanto peça integrante
de um site de redes sociais, a comunidade interage e age de forma conectada a outros
atores identificados com a defesa da causa LGBT. Exemplifica isto o fato de, em muitos
momentos, fotos de usuários empunhando a frase “Feliciano não me representa”,
mensagem símbolo da outra comunidade analisada nesta pesquisa, também tenham sido
publicadas na “Beijos para Feliciano”.
Durante a movimentação contrária à aprovação do PDC 234/11, a comunidade
do Facebook compartilhou campanhas lançadas por outras páginas, como a de autoria

31
da página Cartazes & Tirinhas LGBT (https://www.facebook.com/CartazesLgbt) que
convocava os usuários a enviarem e-mails para todos os deputados expressando a
contrariedade contra o polêmico projeto da “cura gay”. Neste aspecto, podemos resgatar
Moraes (2000), quando afirma que as ferramentas Web dão aos movimentos sociais a
possibilidade de intervir de forma ágil em assuntos específicos, o que lhes acentua a
visibilidade pública. Por meio da mobilização virtual de seus membros, a comunidade
“Beijos para Feliciano” buscou interferir nas esferas políticas de poder e, para alcançar
este objetivo, atuou em rede, multiplicando seu poder de alcance ao atuar em parceria
com outras comunidades.

FIGURA 7. Beijos para Feliciano compartilha campanha de outra comunidade

Moraes vai destacar como fator positivo do ambiente cooperativo, interativo e


descentralizado da Internet a possibilidade de constituição de comunidades virtuais por
afinidades eletivas, como ocorre no caso das comunidades que giram no entorno da
“Beijos para Feliciano” e da “Feliciano não me representa”, páginas diferentes, mas que
compartilham de uma mesma rede.

As ferramentas da Web podem propiciar aos movimentos sociais uma


intervenção ágil em assuntos específicos, acentuando lhes a
visibilidade pública. Outro fator positivo é a constituição de

32
comunidades virtuais por afinidades eletivas. Formam-se, assim,
coletivos em rede, por aproximações temáticas, anseios e práticas
comuns de cidadania. Eles compartilham ações sociopolíticas, tendo
em vista o fortalecimento dos laços comunitários e de uma ética por
interações, assentada em princípios de diálogo, de cooperação e de
participação (MORAES, 2000, pg. 154).

2.3.2 Feliciano não me representa: um meme político

Criada em 12 de março de 2013, semana seguinte à eleição de Marco Feliciano


para a presidência da CDHM, a comunidade do Facebook “Feliciano não me
representa” soma 24 mil membros e surgiu com o propósito expresso de promover o
encontro e a mobilização de pessoas contrárias à permanência do deputado no comando
do órgão. O texto manifesto que descreve a comunidade convoca a reunião de todas as
pessoas que discordam da eleição para a participação em uma campanha virtual.
“Vamos unir nossas vozes (e fotos) e fazer com que saibam de nossa insatisfação.
Vamos fazer com que saibam de nossa indignação. Vamos fazer com que saibam de
nosso poder”10.
A proposta detalhada na descrição da página é a seguinte: cada membro da
comunidade deveria tirar uma fotografia segurando um cartaz com a frase “Sou ______
e Feliciano não me representa”. O espaço vazio deveria ser preenchido com alguma
característica pessoal do usuário, seja física, política, emocional, de orientação sexual
ou naturalidade, entre outras. As fotos enviadas são publicadas na página da
comunidade, utilizando-se, desta forma, a estrutura do Facebook para dar visibilidade à
causa.
Santos (2012) destaca que o advento da Internet e dos sites de redes sociais
amplia a visibilidade pública não só das ações do Estado para os cidadãos – como
observamos ter acontecido com a rápida propagação da informação, entre os usuários de
sites de redes sociais, de que havia a possibilidade de eleição de Marco Feliciano para a
presidência da CDHM, antes mesmo da concretização do fato – como as tecnologias
digitais e os sites de redes sociais também têm a capacidade de ampliar a visibilidade
das demandas dos cidadãos para o Estado. De acordo com a autora, a diversidade dos
meios de comunicação e a interação possibilitada pela Internet contribuem
significativamente na inclusão de diferentes pontos de vista no embate político.
10
Disponível em
https://www.facebook.com/pages/Feliciano-n%C3%A3o-me-representa/460209444050282?fref=ts.

33
FIGURA 8. Comunidade Feliciano não me representa no Facebook

Uma das formas de construção dessa visibilidade se dá por meio da propagação


do assunto/questão em redes sociais na Internet formadas por múltiplos atores, que
atuam como diversos focos de emissão, diferentemente do que ocorria antes do advento
da comunicação mediada por computador, em que a divulgação e o alcance da
informação estavam muito vinculados à capacidade e aos interesses do empresariado
que controla os veículos de mídia tradicionais. Conforme define Jenkins (2009), na
sociedade interconectada não há separação entre produtores e consumidores. Com a
mudança cultural provocada pela propagação das tecnologias digitais, o indivíduo não
se contenta mais em apenas consumir um produto ou informação, ele quer fazer parte da
criação da obra, modificar, reinventar e compartilhar.
Neste contexto, Lemos (2005. p.4) trabalha o conceito de remix, processo de
criação coletiva que se impõe diante das já tão citadas mudanças culturais que correm
no nosso tempo:

Por remix compreendemos as possibilidades de apropriação, desvios e


criação livre (que começam com a música, com os DJ’s no hip hop e
os Sound Systems) a partir de outros formatos, modalidades ou
tecnologias, potencializados pelas características das ferramentas
digitais e pela dinâmica da sociedade contemporânea. Agora o lema da
cibercultura é “a informação quer ser livre”. E ela não pode ser
considerada uma commodite como laranjas ou bananas. Busca-se
assim, processos para criar e favorecer “inteligências coletivas”

34
(Lévy) ou “conectivas” (Kerkhove). Essas só são possíveis, de agora
em diante, por recombinações.

Esse processo de recombinação e criação colaborativa trazida pela cultura do


remix provoca o declínio do conceito de autoria. Na Era da Informação, não há um
único autor para uma obra, mas sim os resultados do esforço de uma inteligência que é
coletiva. É neste contexto que vemos a emergência e a propagação de memes na
Internet.
Recuero (2009) afirma que, originalmente, meme foi o nome dado a ideias
replicadas. O conceito é de autoria de Richard Dawkins, autor da área da Biologia que,
em estudo publicado ainda em 1976, promove a comparação entre a evolução cultural e
a evolução genética. Nesta comparação, o meme seria o gene da cultura, que se perpetua
através de seus replicadores, que são as pessoas. Memes são, pois, ideias passadas
adiante, compartilhadas com outros e, desta maneira, perpetuadas, não sem antes
sofrerem a influência daqueles que a apreendem e a repassam.
Na Internet, convencionou-se denominar memes os vídeos, personagens, frases
ou imagens criados, remixados e recombinados diversas vezes por diferentes autores, às
vezes de forma anônima, e que se espalham de maneira espontânea pela rede, com
variações, autorreferências e ressignificações (LUIZ, 2012). Com um característico
traço cômico, na comunidade “Feliciano não me representa” o meme adquire uma
faceta política. O discurso de resistência à nomeação do pastor ganha diferentes
formatos e é enriquecido pelas contribuições de diversos atores. Por meio do
compartilhamento e ressignificação espontâneas de seus membros, a comunidade
consegue divulgar seu posicionamento e ampliar a visibilidade de sua causa na esfera
pública.
Entendemos que o mesmo cenário se desenha para a comunidade “Beijos para
Feliciano” que, ao estimular o compartilhamento de fotos de casais homoafetivos nos
sites de redes sociais, não só incentiva a propagação da ideia, como dá maior
visibilidade à causa e, por meio de uma construção colaborativa, fortalecida pelas
interações dos atores de uma rede, reafirma a identidade de resistência do movimento
LGBT frente à opressão do sistema patriarcal dominante.

35
FIGURA 9. Meme #FelicianoNaomeRepresenta

Transformando sua reivindicação em meme, as comunidades Beijos para


Feliciano e Feliciano não me representa ampliam seu poder de alcance para muito além
dos membros cadastrados em suas páginas, conseguindo, por meio do
compartilhamento, atingir novos simpatizantes para sua causa.
A manifestação por meme é uma das formas que essas comunidades
encontraram para interferir no embate político que se estabelece no ciberespaço e fora
dele. Nosso estudo amplia o olhar para a forma como os membros dessas páginas
enxergam o poder de influência desses espaços virtuais em uma concreta transformação
da sociedade, considerando-se para a análise o fato de que, apesar das mobilizações
reais e virtuais que suscitou, a eleição de Marco Feliciano foi mantida pela Câmara dos
Deputados.

36
Capítulo 3 - O olhar dos cidadãos

37
3.1 Como os usuários enxergam suas comunidades

A partir do estudo bibliográfico que fundamenta a discussão aqui apresentada


sobre o uso político da Internet, nos propusemos a investigar a percepção das pessoas
envolvidas nessas trocas, interações, colaborações, ressignificações e mobilizações que
ocorrem no ciberespaço. Nosso objetivo é identificar e interpretar, por meio de uma
análise qualitativa e quantitativa dos resultados, como os membros das comunidades
Beijos para Feliciano e Feliciano não me representa enxergam e apreendem as
motivações e repercussões dessas duas comunidades no embate político que se
estabeleceu em torno da eleição do pastor Marco Feliciano para a presidência da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
Para concretizar nossa proposta, optamos pela aplicação de questionários
estruturados na Escala de Likert a uma amostra acidental da população analisada. Rea e
Parker (2000) esclarecem que a escala de Likert é uma escala de classificação que pode
ser de cinco, sete ou nove pontos, na qual a opinião do entrevistado é medida sobre uma
série que vai de altamente favorável a altamente desfavorável. O questionário
estruturado desta forma tem que oferecer igual número de possibilidades positivas e
negativas de resposta e uma categoria média ou neutra. Para este estudo, definimos,
com base em pesquisas bibliográficas, sete afirmações que resumem possíveis
motivações e repercussões das duas comunidades na disputa política em análise e
convidamos os membros das páginas a expressarem o seu grau de concordância ou
discordância com as sentenças, oferecendo para isso cinco alternativas, quais sejam:
discordo totalmente; discordo; sem opinião; concordo; concordo totalmente com a
afirmação. No mesmo questionário, ainda aplicamos três perguntas fechadas, apenas
com as opções sim e não, para a) reduzir a possibilidade de erro de amostragem, ao
requisitar a confirmação de que o participante da pesquisa era, efetivamente, membro de
uma das comunidades analisadas; b) identificar o nível de engajamento dos membros
das comunidades à causa, ao questionar aos participantes se eles extrapolaram o
ciberespaço e participaram de manifestações de rua contra a nomeação do deputado
Marco Feliciano; c) identificar o alcance das publicações da comunidade para a
formação da opinião política de outros atores não membros, ao questionar aos
participantes se eles compartilham as publicações da página com outras redes sociais
das quais fazem parte.

38
Os questionários foram aplicados em formato online. Os usuários tiveram acesso
às questões por meio do compartilhamento do link na página feito pelos administradores
das duas comunidades. Uma vez que cada comunidade tem estrutura, organização e
membros próprios, decidimos pela criação de dois questionários, que reproduzem
exatamente as mesmas questões e sentenças, mas cada um está endereçado a uma
comunidade específica. Para esta pesquisa, trabalhamos com amostras acidentais, uma
vez que o link do questionário ficou disponível para acesso de qualquer usuário da
Internet e a amostra foi sendo construída a medida que os membros das comunidades,
espontaneamente, atenderam ao convite para responder. Ambos os questionários
ficaram abertos para acesso por um período ininterrupto de sete dias, durante o mês de
setembro de 2013, a partir do momento em que seu link foi compartilhado em cada
página. Com este formato, recebemos 106 respostas no questionário destinado aos
membros da comunidade Feliciano não me representa e 219 respostas no questionário
destinado aos membros da comunidade Beijos para Feliciano.
Com base nas respostas compartilhadas por essa amostra, nos propomos a
avaliar as motivações dos usuários para integrar esses espaços e as repercussões que os
membros destas comunidades acreditam que essas páginas podem causar.

3.1.1 Engajamento, alcance e influência

Nos dois questionários, a primeira pergunta pedia uma confirmação de que o


participante da pesquisa era efetivamente um membro da comunidade analisada. No
questionário endereçado à comunidade Feliciano não me representa, apenas 01
participante, do total de 106, respondeu não ser integrante da comunidade. Já no
questionário destinado à comunidade Beijos para Feliciano, apenas 02 participantes, do
total de 219 respondentes, não integravam a comunidade. Um desvio de amostra que
não causa impacto significativo no resultado final da pesquisa.
Na sequência, os membros das duas comunidades foram questionados sobre a
sua participação em manifestações de rua contra a nomeação do deputado pastor Marco
Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Em ambos
os questionários, um percentual de 47% dos participantes da pesquisa afirmaram ter
comparecido a pelo menos alguma dessas mobilizações, demonstrando um maior nível
de comprometimento/engajamento com a causa. Convém destacar que, conforme já

39
abordado neste estudo, grande parte das manifestações de rua realizadas contra a eleição
de Marco Feliciano foram organizadas por meio de páginas de eventos no Facebook. A
Internet foi ponto de encontro para as pessoas engajadas na causa, confirmando a
afirmação de Castells (2003) de que a crise das organizações de representação da Era
Industrial – como sindicatos, ONGs, etc – não impede as pessoas de continuarem se
organizando para a defesa de seus valores e interesses. Mas coalizões frouxas –
possibilitadas, por exemplo, por meio de um evento no Facebook – e semiespontâneas
serão a marca desses movimentos.
Também questionamos os participantes da pesquisa sobre a prática de
compartilhar publicações das comunidades analisadas em suas páginas pessoais no
Facebook. Na amostra de membros da comunidade Feliciano não me representa, a
maioria de 86% dos respondentes afirmou que compartilha publicações da comunidade,
propagando, assim, as ideias defendidas na página para sua rede de amigos. Na amostra
da comunidade Beijos para Feliciano um percentual de 84% também compartilha com
sua rede as publicações da página.
Neste ponto, vale resgatar a análise de Gomes (2001) sobre o impacto da Internet
na formação da opinião política pública. Segundo o autor, o avanço da comunicação
mediada por computador vai possibilitar a diminuição do poder de mediação do
jornalismo tradicional para a formação da opinião política ao mesmo tempo em que vai
favorecer o pluralismo de opiniões. O cidadão comum, que tinha na mídia tradicional
sua principal fonte de informação sobre os temas e debates relacionados à coisa pública
passa a ter acesso a outras influências, entre elas, publicações, ideias e campanhas
compartilhadas por páginas de Facebook, por exemplo.

O cidadão usuário da internet passa a contar com um número


crescente de fontes alternativas (pessoas privadas, sociedade civil,
governo, partidos) de toda a natureza que introduzem todo o tempo
insumos informativos na rede a respeito das questões políticas. Isso
não significa apenas uma saudável quebra do monopólio do sistema
informativo dos media tradicionais, mas um igualmente vantajoso
pluralismo da opinião circulante (GOMES, op.cit., pg. 4).

Neste cenário, cada pessoa passa a ter novas ferramentas para exercer sua
cidadania individual e privada, influenciando na formação da opinião política das redes
sociais que integra. Ainda segundo Gomes, o cidadão vai encontrar na Internet uma
forma de escapar da dependência da mídia tradicional na competição pelo
estabelecimento das prioridades da agenda política, formação de climas de opinião e

40
mobilizações para pressionar o mundo da política. No caso da resistência à eleição de
Marco Feliciano, os sites de redes sociais não só possibilitaram a organização de
mobilizações como interferiram na agenda dos meios de comunicação tradicionais, que
passaram a buscar nas páginas de eventos do Facebook informações sobre as
mobilizações de rua contrárias ao deputado.

Gráfico 3. 84% dos usuários compartilham postagens da comunidade Beijos para Feliciano

3.2 As motivações dos usuários

Após identificar o alcance das publicações e o engajamento dos participantes da


pesquisa, o questionário apresentou uma sequência de afirmações e convidou os
participantes a expressarem seu grau de concordância ou discordância com cada uma
delas. Dentro desta estrutura, as três primeiras sentenças têm por objetivo investigar o
que motiva aqueles usuários a permanecerem membros das duas comunidades
analisadas. Os resultados mostram que, para a grande maioria dos participantes da
pesquisa, tanto a comunidade Beijos para Feliciano como a Feliciano não me
representa lhes dão a possibilidade de a) manifestar seu posicionamento político sobre o
tema para os amigos de Facebook; b) obter e trocar informações sobre o caso Feliciano;
c) encontrar pessoas que compartilham de uma mesma opinião sobre o assunto.
Um total de 93% dos participantes da pesquisa que integram a comunidade
Feliciano não me representa assinalaram que concordam ou concordam totalmente com
a afirmação “Participo da comunidade porque assim manifesto meu posicionamento
político sobre o assunto para meus amigos do Facebook”. No questionário para
membros da comunidade Beijos para Feliciano, o percentual de concordância com a
mesma sentença atingiu 88%. Esse resultado conecta-se com o alto percentual de

41
membros de ambas as comunidades que compartilham em seus perfis pessoais
publicações feitas pelas duas páginas. Ao participarem das comunidades e
compartilharem as informações disponibilizadas nessas páginas, esses membros se
tornam mais uma fonte alternativa para formação da opinião política de sua rede de
amigos (GOMES, 2001). Ajudam a divulgar o movimento de resistência à eleição de
Marco Feliciano para a presidência da CDHM e podem influenciar seus amigos de sites
de redes sociais a também aderirem à causa.

Gráfico 4. 93% participam da comunidade Feliciano não me representa para manifestar seu
posicionamento político aos amigos

Na sequência do questionário, os membros das duas comunidades tiveram que


indicar o seu grau de concordância ou discordância com a seguinte afirmação: "A
comunidade me possibilita obter e trocar informações sobre o caso Feliciano". 98% dos
membros da comunidade “Feliciano não me representa” assinalaram as opções
concordo ou concordo totalmente com a frase. No caso da comunidade “Beijos para
Feliciano”, esse percentual foi de 87%. O resultado acompanha a reflexão de Lèvy
(2002) quando defende que, com a Internet, os usuários têm a chance de romper a
dependência da mídia tradicional para obter e trocar ideias e informações. Para o autor,
este “poder dizer”, que a Internet proporciona, é uma das primeiras dimensões de uma
revolução ciberdemocrática que se avizinha.

Na rede, o cibercidadão pode descobrir um sem-número de ideias e de


propostas que nunca teria imaginado se não estivesse ligado. Além
disso, na Internet, as ideias são expressas por aqueles que as produzem
e pensam, não por jornalistas forçados a simplificar, senão a
caricaturar, por falta de tempo ou de competência. Por conseguinte, o
novo meio de comunicação é particularmente favorável a que se
ultrapasse o espaço público clássico (LÈVY, 2002, pg. 56).

42
A liberdade de circulação de informação na Internet foi muito utilizada pelos
dois lados da disputa sobre a eleição de Marco Feliciano para a presidência da CDHM.
Assim como Marco Feliciano utilizou seus perfis no Twitter e Facebook para rebater as
críticas a ele, os resistentes à sua nomeação também recorreram a essas plataformas, o
que se demonstra pela criação de comunidades, eventos, memes políticos e o uso que o
deputado Jean Wyllys, principal opositor no Congresso a Marco Feliciano, fez de sua
fanpage para divulgar os bastidores da escolha do deputado pastor para a presidência da
CDHM e responsabilizar o PT pelo acontecimento, conforme já foi narrado nesta
pesquisa. O resultado do questionário demonstra que os membros de ambas as
comunidades detectaram e usufruíram do fluxo de informações possibilitado pela
Internet.

Gráfico 5. 87% dos membros da comunidade Beijos para Feliciano usam a página para obter e trocar
informações sobre o caso Feliciano.

A próxima questão da pesquisa requisitava aos usuários que sinalizassem seu


nível de concordância ou discordância com a seguinte afirmação: “A comunidade me
possibilita encontrar pessoas que compartilham da mesma opinião que eu sobre a
nomeação do deputado Marco Feliciano”. Desta vez, 84% dos membros da comunidade
“Beijos para Feliciano” concordaram ou concordaram totalmente com a afirmação. Na
“Feliciano não me representa”, o percentual foi de 85%.
Neste ponto, convém resgatar a análise de Castells (2003) sobre a formação de
redes sociais incentivadas e suportadas pela Internet. Segundo o autor, cada vez mais as
pessoas estarão organizadas não só em redes sociais, mas em redes sociais mediadas por
computador. Cada indivíduo monta sua rede de relações com base em suas afinidades,
valores, interesses e projetos. Com o poder de alcance e comunicação da Internet, fica
mais fácil interagir com pessoas que compartilham de interesses comuns o que
impulsiona o surgimento de redes sociais.

43
Por causa da flexibilidade e do poder de comunicação da Internet, a
interação social on-line desempenha crescente papel na organização
social como um todo. As redes on-line, quando se estabilizam em sua
prática, podem formar comunidades, comunidades virtuais, diferentes
das físicas, mas não necessariamente menos intensas ou menos
eficazes na criação de laços e na mobilização (CASTELLS, 2003, pg.
109).

Os resultados do questionário não nos permitem afirmar que as páginas das


comunidades analisadas constituem por si só redes sociais, mas as respostas dos
membros demonstram que aquele espaço, ao reunir pessoas que compartilham de uma
causa e interesse político comum, amplia as possibilidades de interações e constituição
de laços entre seus membros, que, a partir disso, podem vir a constituir comunidades
virtuais.

Gráfico 6. 85% dos membros da comunidade Feliciano não me representa utilizam a comunidade para
encontrar pessoas que compartilham de sua mesma opinião sobre o tema

3.3 As repercussões das comunidades

Após a apresentação dos tópicos que buscavam identificar as motivações dos


usuários para ingressar e permanecer nas comunidades analisadas, o questionário partiu
para outra etapa, que objetiva compreender quais repercussões os membros dessas
comunidades acreditam que as páginas geram no debate político em que estão inseridas.
Os resultados mostram que a maioria dos participantes acredita que a) as comunidades
são espaços de mobilização que têm repercussão fora da Internet; b) os memes
compartilhados por essas páginas ajudam a criar simpatia à causa gay; c) as
comunidades são espaços de resistência contra o preconceito em geral da sociedade em
relação aos gays, o que, nesta pesquisa, vinculamos ao conceito de identidade de
resistência trabalhado por Castells (2007).

44
Começamos analisando como os pesquisados avaliam o impacto que essas
comunidades podem causar fora do ciberespaço. Um total de 64% dos participantes da
comunidade Feliciano não me representa discordam ou discordam totalmente da
afirmação “A comunidade exerce ativismo político dentro do Facebook, sem causar
impacto fora da Internet”. Na comunidade “Beijos para Feliciano”, o percentual de
discordância foi parecido, chegando a 62%. Quando, em um tópico posterior do
questionário, a afirmação passa a ser “A comunidade é um espaço de mobilização de
pessoas contra a nomeação de Feliciano, que pode ter repercussão fora da Internet”
temos a concordância de 89% dos membros da comunidade “Beijos para Feliciano” e
92% de concordância dos membros da comunidade “Feliciano não me representa”.
Este posicionamento dos membros das comunidades analisadas se harmoniza
com as ideias de diferentes teóricos abordados neste trabalho (MORAES, 2002;
GOMES, 2001; CASTELLS, 2003; LÉVY, 2002) que defendem que a troca de ideias, o
fluxo de informações e o embate político que ocorrem no ciberespaço não estão
apartados do mundo real. A Internet é mais um lugar em que a disputa por ideias
acontece, não substitui os espaços já existentes, soma-se a eles, e atua em conexão com
a realidade social.

A Internet encerra um potencial extraordinário para a expressão dos


direitos dos cidadãos e a comunicação de valores humanos.
Certamente não pode substituir a mudança social ou a reforma
política. Contudo, ao nivelar relativamente o terreno da manipulação
simbólica, e ao ampliar as fontes de comunicação, contribui de fato
para a democratização. A Internet põe as pessoas em contato numa
ágora pública, para expressar suas inquietações e partilhar suas
esperanças (CASTELLS, 2003, pg. 135).

No episódio em análise, é possível traçar muitos vínculos entre as ações no


ciberespaço e suas repercussões no debate acerca da eleição do deputado pastor Marco
Feliciano para a presidência da CDHM. Foi do Facebook que saíram as convocações
para manifestações de rua contrárias ao deputado. As duas comunidades analisadas são
nós importantes nessa rede de resistência ao propagar informações, convocações e
campanhas que auxiliam na mobilização de mais pessoas em torno da causa. A Internet
dá ferramentas que contribuem para o exercício da cidadania, mas ainda são as pessoas
e apenas elas os agentes de transformação. Poder-se-ia dizer que, no caso de Marco
Feliciano, a atuação das comunidades não foi bem sucedida, uma vez que o deputado
foi mantido no cargo. No entanto, pode-se considerar que a pressão do movimento

45
LGBT surtiu efeito importante quando o deputado pastor decidiu colocar em votação o
projeto conhecido como “cura gay”. O projeto até foi provado na comissão, mas, em
seguida, foi arquivado pela Câmara, principalmente em razão da pressão popular
alimentada e incentivada, em grande parte, por páginas na Internet.

Gráfico 7. 92% acreditam que comunidade tem repercussão fora da Internet

Como já abordado no segundo capítulo do presente trabalho, as duas


comunidades analisadas têm como prática a publicação de memes de Internet para
defender seus pontos de vista. Sobre este aspecto, medimos o nível de concordância ou
discordância dos participantes da pesquisa para a seguinte frase: “A comunidade
divulga memes/imagens divertidas que ajudam a criar simpatia às causas gays”. Na
comunidade “Beijos para Feliciano”, que estimula seus usuários a compartilharem
imagens de beijos entre casais homoafetivos, o percentual de concordância com a
afirmação foi de 66% dos participantes. Já na comunidade “Feliciano não me
representa”, o percentual foi de 46% e, na sequência, 30% assinalaram a opção “sem
opinião”. A diferença de percepção entre os usuários das duas comunidades, única
discrepância significativa nos resultados entre todos os tópicos que integram o
questionário, pode estar relacionada ao fato de a comunidade “Feliciano não me
representa” não estar diretamente vinculada à causa LGBT. Diferente da “Beijos para
Feliciano”, que tem na defesa do amor livre a sua maior motivação, a comunidade
“Feliciano não me representa” lançou um movimento que quer estimular a expressão de
diversas motivações que justifiquem a contrariedade com a eleição de Marco Feliciano.
“Vamos mostrar que somos muitos, diversos, plurais. E que os direitos humanos são
nossos”, afirma a comunidade na sua descrição. Ao incentivar a criação de memes
estruturados na fórmula “alguma característica pessoal + a frase Feliciano não me
representa”, a ideia é abrir espaço para todas as expressões, de heterossexuais, gays,

46
negros, brancos, idosos, jovens, religiosos, ateus para, desta forma, ampliar o alcance da
mobilização.
Mesmo que, na percepção de seus membros, os memes divulgados pela
comunidade “Feliciano não me representa” não estejam diretamente vinculados à defesa
da causa LGBT, consideramos que o estímulo a esse formato de manifestação ajudou a
divulgar o movimento contrário à eleição do deputado pastor Marco Feliciano,
auxiliando, mesmo que não exclusivamente, o fortalecimento da resistência LGBT.

Gráfico 8. Para 66% dos participantes, os memes da comunidade Beijos para Feliciano ajudam a criar
simpatia às causas gays

No último tópico do questionário, pedimos aos participantes que expressassem


seu grau de concordância ou discordância com a seguinte afirmativa: “A comunidade é
um espaço de resistência política contra o preconceito em geral da sociedade em relação
aos gays”. Nossa intenção com esse tópico era perceber se os usuários das duas
comunidades se identificavam com o conceito de identidade de resistência abordado por
Castells (2007). De acordo com o autor, na sociedade em rede, observamos o
surgimento de poderosas identidades de resistência, entre elas, grupos proativos que
buscam autonomia na resistência comunitária enquanto não conseguem promover uma
transformação social, que resulte na sua plena aceitação. Este seria o caso dos
movimentos de libertação sexual, que têm em bares e bairros – e também, porque não,
em páginas de Facebook – elementos essenciais de auto-reconhecimento e
fortalecimento. Compreendemos as comunidades “Beijos para Feliciano” e “Feliciano
não me representa” como alguns desses espaços, em que são fortalecidos valores da
resistência comunitária LGBT.
Os resultados do questionário aplicado aos membros das duas páginas reforçam
esse entendimento. Para 85% dos participantes da “Feliciano não me representa”, a
comunidade é um espaço de resistência contra o preconceito da sociedade em relação
aos gays. No caso da “Beijos para Feliciano”, o percentual de concordância chega a

47
93%. São estas páginas, pois, mais um espaço de liberdade da identidade sexual, que
auxiliam na construção do caminho que pode levar a uma transformação social.

As comunidades femininas e os espaços de liberdade da identidade


sexual projetam-se na sociedade, minando o patriarcalismo e
reconstruindo a família a partir de uma base nova e igualitária, que
implica o desaparecimento das relações marcadas pelo gênero nas
instituições sociais, em oposição ao capitalismo e ao Estado
patriarcais (CASTELLS, 2007, pg. 503).

Gráfico 9. Para 93%, comunidade Beijos para Feliciano é espaço de resistência.

Dessas identidades de resistência, que encontram na Internet mais um espaço de


florescimento e expressão, podem surgir identidades de projeto, capazes de provocar a
construção de uma nova estrutura social, onde o patriarcalismo é derrotado pelo poder
da identidade.

48
Considerações finais

Quando, após um acordo de lideranças partidárias, o Partido Social Cristão


decidiu indicar o nome do deputado pastor Marco Feliciano para ocupar a presidência
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, não seria
possível imaginar as proporções que o episódio tomaria.
Comissão temática pouco visada até então – a maioria dos parlamentares e
partidos está mais interessada em comissões com maior poder político, como a de
Constituição e Justiça – a CDHM ganhou as manchetes da mídia tradicional e a
audiência dos usuários de Internet graças à resistência que alguns movimentos sociais
fizeram à eleição de Marco Feliciano para comandar o órgão. Poucos dias após o nome
do pastor surgir como principal indicação do PSC para o cargo, já pipocavam nos sites
de redes sociais como Facebook e Twitter manifestações contrárias ao deputado. Foi
dentro deste contexto que surgiram as comunidades “Feliciano não me representa” e
“Beijos para Feliciano”, ambas criadas em março de 2013, mês da eleição do polêmico
parlamentar para a presidência da CDHM. As mobilizações saíram do virtual, ganharam
o mundo real com suas passeatas de rua e, em seus diversos formatos, online ou off-line,
conseguiram despertar a atenção de diversas parcelas da sociedade e pressionar a
Câmara dos Deputados.
A resistência a Feliciano foi impulsionada por afirmações consideradas racistas
e homofóbicas que o deputado pastor fez em seu perfil no Twitter ainda em 2011. O
ciberespaço, tão utilizado pelos movimentos contrários ao deputado para atacar a sua
eleição, havia sido ponto de partida para toda a polêmica envolvendo seu nome.
Atingindo pelas afirmações, o movimento LGBT assumiu a linha de frente na trincheira
de oposição ao parlamentar, organizou mobilizações a partir de páginas de eventos no
Facebook e recorreu ao uso de memes de Internet para propagar suas ideias a um
público cada vez mais amplo. Entendemos que este episódio demonstra o papel que o
ciberespaço adquire na Era da Informação como mais um lugar em que se discute a
coisa pública. A Internet abre uma nova esfera de debate e disputa, ágil e plural, em que
qualquer usuário goza da possibilidade de emitir ou receber informações, em um fluxo

49
muito mais dinâmico e horizontal do que aquele concretizado por meio da atuação dos
veículos de mídia tradicionais.
Partindo da hipótese de que a Internet não só abre um novo fórum para o debate
como também gera repercussões nas esferas de decisões políticas, nos propusemos a
avaliar, por meio da análise do debate em torno da eleição de Marco Feliciano para a
CDHM, o impacto que a discussão realizada no ciberespaço pode alcançar nas
definições políticas e sua capacidade de impulsionar transformações da realidade
brasileira. Para tal abordagem, definimos como objeto do estudo o movimento
representado pela atuação das comunidades “Feliciano não me representa” e “Beijos
para Feliciano”, identificando-as como espaços de expressão da identidade de
resistência da comunidade LGBT, seguindo conceito aprofundado por Manuel Castells
(2003; 2007).
Para o estudo, aliamos a base teórica de autores como Manuel Castells, Pierre
Lèvy, Wilson Gomes e Raquel Recuero à análise dos resultados de um questionário
aplicado aos membros das duas comunidades estudadas, que tem por objetivo
identificar quais as motivações dos mesmos para permanecerem nas páginas e quais as
suas percepções sobre a repercussão que esses espaços podem causar no cenário
político. A análise nos permitiu concluir que os membros da comunidade encontram na
Internet um espaço para não só obter informações que influenciaram na formação de sua
opinião política como também divulgar ideias, de forma livre, ágil e barata, que podem
influenciar a opinião política de outros usuários que integram suas redes sociais sobre o
tema, o que se coaduna com a reflexão de Gomes (2001). Para a maioria destes
usuários, comunidades como a “Beijos para Feliciano” e a “Feliciano não me
representa” são espaços que facilitam o encontro com pessoas que compartilham de uma
mesma percepção sobre o tema, abrindo caminho para interações e a formação de novas
redes sociais.
A partir destes resultados, consideramos que a polêmica envolvendo a eleição de
Marco Feliciano só alcançou tamanha proporção no cenário político brasileiro por causa
do fluxo de informações possibilitado pela Internet, que facilitou a propagação das
ideias, a interação e a união de esforços de diversos atores, de diferentes regiões do país,
que compartilhavam de um mesmo desejo de impedir a eleição de Marco Feliciano para
a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Esta capacidade de promover encontros
da Internet foi muito requisitada para a realização das passeatas que foram às ruas de

50
diferentes cidades do Brasil, em sua grande parte organizadas por meio da ferramenta de
criação de eventos do Facebook.
Os memes identificados pela frase “Feliciano não me representa”, no caso da
comunidade de mesmo nome, e por imagens de beijos entre casais homoafetivos, caso
da “Beijos para Feliciano”, são manifestações que integram o cotidiano do ciberespaço,
habitualmente vinculados à piadas e brincadeiras, mas que adquirem seriedade e
objetivos políticos no episódio em análise, dando ao movimento LGBT um novo
instrumento para angariar simpatizantes à sua causa.
Por fim, espaços na Internet como as comunidades analisadas representam mais
um lugar de expressão da identidade de resistência do movimento LGBT, identidade
esta que busca combater a opressão que esse grupo social sofre por subverter a ordem
patriarcal preponderante na sociedade, conforme defende Castells (2007). A Internet
amplia os espaços de expressão da identidade de resistência LGBT, o que pode
incentivar o surgimento de uma identidade de projeto, que promova uma verdadeira
transformação social. Se não conseguiram derrubar Marco Feliciano da presidência da
CDGM, as páginas de Facebook contrárias à sua nomeação angariaram mais
simpatizantes à sua luta por igualdade.

51
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http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdh
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-gay-durante-mais-de-4-horas-no-rio.html

WYLLYS, Jean. Cinismo Cruel. Folha de S. Paulo. 06 de março de 2013.

54
APÊNDICE A

Questionário aplicado às comunidades

Questionário destinado aos integrantes da comunidade do Facebook Beijos para


Feliciano

Você está participando de uma pesquisa destinada a analisar o impacto dos sites de
redes sociais como o Facebook no exercício da cidadania. Os resultados serão
apresentados em Trabalho de Conclusão de Curso da pós-graduação em Gestão da
Comunicação em Mídias Digitais do Senac Lapa Scipião.

Você integra a comunidade "Beijos para Feliciano" no Facebook? *

o Sim
o Não

* Required
Você participou de alguma manifestação de rua contra a nomeação do pastor
Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara? *

o Sim
o Não

Você compartilha pelo seu perfil do Facebook postagens feitas na comunidade


Beijos para Feliciano? *

o Sim
o Não

Participo da comunidade "Beijos para Feliciano" porque assim manifesto meu


posicionamento político sobre o assunto para meus amigos do Facebook *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

55
o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade "Beijos para Feliciano" me possibilita obter e trocar informações


sobre o caso Feliciano. *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade "Beijos para Feliciano" me possibilita encontrar pessoas que


compartilham da mesma opinião que eu sobre a nomeação do deputado Marco
Feliciano *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade Beijos para Feliciano exerce ativismo político dentro do


Facebook, sem causar impacto fora da internet *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

56
A comunidade "Beijos para Feliciano" divulga memes/imagens divertidas que
ajudam a criar simpatia às causas gays *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade "Beijos para Feliciano" é um espaço de mobilização de pessoas


contra a nomeação de Feliciano, que pode ter repercussão fora da Internet *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade "Beijos para Feliciano" é um espaço de resistência política contra


o preconceito em geral da sociedade em relação aos gays *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo Totalmente

Questionário destinado aos integrantes da comunidade do Facebook Feliciano não


me representa

Você está participando de uma pesquisa destinada a analisar o impacto dos sites de
redes sociais como o Facebook no exercício da cidadania. Os resultados serão
apresentados em Trabalho de Conclusão de Curso da pós-graduação em Gestão da
Comunicação em Mídias Digitais do Senac Lapa Scipião.

Você integra a comunidade "Feliciano não me representa" no Facebook? *

57
o Sim
o Não

* Required
Você participou de alguma manifestação de rua contra a nomeação do pastor
Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara? *

o Sim
o Não

Você compartilha pelo seu perfil do Facebook postagens feitas na comunidade


Feliciano não me representa? *

o Sim
o Não

Participo da comunidade "Feliciano não me representa" porque assim manifesto


meu posicionamento político sobre o assunto para meus amigos do Facebook *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade "Feliciano não me representa" me possibilita obter e trocar


informações sobre o caso Feliciano. *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

58
A comunidade "Feliciano não me representa" me possibilita encontrar pessoas
que compartilham da mesma opinião que eu sobre a nomeação do deputado
Marco Feliciano *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade “Feliciano não me representa” exerce ativismo político dentro do


Facebook, sem causar impacto fora da internet *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade "Feliciano não me representa" divulga memes/imagens divertidas


que ajudam a criar simpatia às causas gays *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade "Feliciano não me representa" é um espaço de mobilização de


pessoas contra a nomeação de Feliciano, que pode ter repercussão fora da
Internet *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião

59
o Concordo
o Concordo totalmente

A comunidade "Feliciano não me representa" é um espaço de resistência política


contra o preconceito em geral da sociedade em relação aos gays *
Expresse seu grau de concordância ou discordância com a afirmação acima

o Discordo totalmente
o Discordo
o Sem opinião
o Concordo
o Concordo Totalmente

RESULTADOS FELICIANO NÃO ME REPRESENTA

Você integra a comunidade "Feliciano não me representa" no Facebook?

sim 10 99%
5

nã 1 1%
o

Você participou de alguma manifestação de rua contra a nomeação do deputado


Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara?

60
sim 50 47%

nã 56 53%
o

Você compartilha pelo seu perfil do Facebook postagens feitas na comunidade


"Feliciano não me representa"?

sim 91 86%

nã 15 14%
o

Participo da comunidade "Feliciano não me representa" porque assim manifesto


meu posicionamento político sobre o assunto para meus amigos do Facebook

Discordo totalmente 2 2%

Discordo 1 1%

Sem opinião 4 4%

Concordo 53 50%

Concordo totalmente 46 43%

61
A comunidade "Feliciano não me representa" me possibilita obter e trocar
informações sobre o caso Feliciano.

Discordo totalmente 0 0%

Discordo 0 0%

Sem opinião 2 2%

Concordo 53 50%

Concordo totalmente 51 48%

A comunidade "Feliciano não me representa" me possibilita encontrar pessoas


que compartilham da mesma opinião que eu sobre a nomeação do deputado
Marco Feliciano

Discordo totalmente 0 0%

Discordo 4 4%

Sem opinião 12 11%

Concordo 50 47%

Concordo totalmente 40 38%

62
A comunidade "Feliciano não me representa" exerce ativismo político dentro do
Facebook, sem causar impacto fora da internet

Discordo totalmente 13 12%

Discordo 55 52%

Sem opinião 27 25%

Concordo 7 7%

Concordo totalmente 4 4%

A comunidade "Feliciano não me representa" divulga memes/imagens divertidas


que ajudam a criar simpatia às causas gays

Discordo totalmente 6 6%

Discordo 19 18%

Sem opinião 32 30%

Concordo 38 36%

Concordo totalmente 11 10%

63
A comunidade "Feliciano não me representa" é um espaço de mobilização de
pessoas contra a nomeação de Feliciano, que pode ter repercussão fora da
Internet

Discordo totalmente 0 0%

Discordo 2 2%

Sem opinião 6 6%

Concordo 62 58%

Concordo totalmente 36 34%

A comunidade "Feliciano não me representa" é um espaço de resistência


política contra o preconceito em geral da sociedade em relação aos gays

Discordo totalmente 1 1%

Discordo 9 8%

Sem opinião 6 6%

Concordo 49 46%

Concordo totalmente 41 39%

64
RESULTADO BEIJOS PARA FELICIANO

Você integra a comunidade "Beijos para Feliciano" no Facebook?

Sim 21 99%
7

Nã 2 1%
o

Você participou de alguma manifestação de rua contra a nomeação do deputado


Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara?

Sim 10 47%
3

Nã 116 53%
o

65
Você compartilha pelo seu perfil do Facebook postagens feitas na comunidade
"Beijos para Feliciano"?

Sim 18 84%
4

Nã 35 16%
o

Participo da comunidade "Beijos para Feliciano" porque assim manifesto meu


posicionamento político sobre o assunto para meus amigos do Facebook

Discordo totalmente 3 1%

Discordo 12 5%

Sem opinião 10 5%

Concordo 95 43%

Concordo totalmente 99 45%

66
A comunidade "Beijos para Feliciano" me possibilita obter e trocar informações
sobre o caso Feliciano.

Discordo totalmente 1 0%

Discordo 13 6%

Sem opinião 14 6%

Concordo 12 59%
9

Concordo totalmente 62 28%

A comunidade "Beijos para Feliciano" me possibilita encontrar pessoas que


compartilham da mesma opinião que eu sobre a nomeação do deputado Marco
Feliciano

Discordo totalmente 0 0%

Discordo 5 2%

Sem opinião 28 13%

Concordo 10 47%
4

Concordo totalmente 82 37%

67
A comunidade "Beijos para Feliciano" exerce ativismo político dentro do
Facebook, sem causar impacto fora da internet

Discordo totalmente 25 11%

Discordo 111 51%

Sem opinião 52 24%

Concordo 29 13%

Concordo totalmente 2 1%

A comunidade "Beijos para Feliciano" divulga memes/imagens divertidas que


ajudam a criar simpatia às causas gays

Discordo totalmente 4 2%

Discordo 31 14%

Sem opinião 40 18%

Concordo 10 46%
0

Concordo totalmente 44 20%

68
A comunidade "Beijos para Feliciano" é um espaço de mobilização de pessoas
contra a nomeação de Feliciano, que pode ter repercussão fora da Internet

Discordo totalmente 1 0%

Discordo 9 4%

Sem opinião 14 6%

Concordo 12 56%
3

Concordo totalmente 72 33%

A comunidade "Beijos para Feliciano" é um espaço de resistência política contra


o preconceito em geral da sociedade em relação aos gays

Discordo totalmente 0 0%

Discordo 7 3%

Sem opinião 8 4%

Concordo 95 43%

Concordo Totalmente 10 50%


9

69

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